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Teoria Sexual e Psicanálise Joyce McDougall

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FUNDACÃn sÃo PAULO
COGDli,'.i-.,:':iI l-AçÃO
CENTRAL DE COPIAS
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coptnoonR cce
Ir." cópils,
06ì 
-o L
TBomn SEXUAL E
PSICANALISE-
Joycc McDougall
GostaÍia, em primeiro lugar, de refletir sobre o lugar da
sexualidade humana nas teoriâs psicânalíticas atualmen|e. Para
algumas escolas de pensamen(o, ela é lpÍêsen|ada como umâ
teorìâ de Íelircionamentos inter e intra-subjetivos com objetos
sìgnilicatrvos do mundo eilcÍno, Prru oulÍirs. é o concei(o de
um mundo psíquico intemo, povoado de Íelacionamenlos entíe
objetos intemos; outíos teóricos concebem a sexualidade como
compreendendo os conce;tos de ïênero nuclear e idenlidade
do papel sexual, além dâs relações entre os dois; pâía outros.
mais uma vez, a sexualidade apârece como uma (eoria dâ Prá-
tica analítica em si, denlro do rclacionamento lrans[erencial-
contÍatransferenctâ1.
Qualquer que seja o valor que se Possa dar a eslas dife_
renÌes perspectivas, todos estes conceitos concordam em consi-
derar o lr.rgar da sexualidade como um univer$o somato'psíqui'
co: a base lìbidinal de todas os sublimações e .Ias Pulsõet
tle virla e de mone - esteja isto manifesto nâ condução do pro-
cesso psicanalítico ou na Melapsicologia FÍeudiana.
)
t Tlad!çãode Carmcn Lucì! villaçâ dcCcqucilaCcsaí.
(
t2 loycEMcDouc^ll
Em meu úlrimo livro, Ás múhiplas faces de Eros, nãob.ls-
quei acÍescentat uma nova abordagem teórica às perspecÌivas
mencionadas acima, mâs simplesmente enfatìzaí a uníversati-
dade dâs pulsõel übidinais 
- 
e expiorar os mil e um disfarces arra-
vés dos quais nossa sexualidade se expressa. Seguindo esta li_
nna oe p€nsamento propus, nas primeiras linlÌas daquele Iivío, que
-a 
sexualidade human
Ws.
renrarel resumlÍ algumas das noções mais importanres do llvro:
Tomando como ponto inicial os primóÍdios da vida psíqui_
ca, sublinhei que o primeirc encontro sensual do bebê com o corpo
da mãe Já levanta uma série de conflrros psiqurcos, proroc.do"
pelo ìnevitável choque entre os impìllsos inremos do inlanr e as
restflções da fealìdade externa. Nesta fase da existência Dsíoui-
ca do bebè não se pode drstingurr os rmpul<o, eroricos dos rm-
puìsos sádicosì poderíamos, na verdâde, chamar esta fase de.,eÍad93q9f9 !!o". Além desta confusão, en.o,,tãìì;;ì;l
da mars uma indiscriminâção 
- 
aquela enr.e o corpo do bebê e
o seLr sefeocorpoeorefdoOutro A noção de Oírro. como
um Oojero c Lugir dilrinÌos de si mesmo\ e Je scu, própÍtos e\-
piìços, som€nte aparece mais ta.de, como resultado das inevirí-
vers frustrÂções que o pequeno ser humàno encontrará e que lhc
Jc\pr(Jrlo !enlrmcnros dÈ fújrJ. segutdo, de umJ formJ pÍinì.ri_
!a d( Jepressio. quc lodo recËm-nJs(rdo eÀperimcnlJ.
AssiÍn, não nos devemos surpreender ilo encontrar, duran-
te umr "' ugem rnrlitr.ir, rrr\os dJquilo quc poderitnìos d(no
mtn{ se.(rtotrdtdc Ltr(arrn. hr qurl difrcrlmenre je d;\(ingueÍr,
os seììnFan=tôs-?le rmo; do5 de odro. A rensjo que emtn, desrr
pnmitiva dicoromrr esrí desrinJdt I formJi um sub5trJlo vrÍtl
de todas as expressôes da sexualidade, erotisÍrìo e amor, no âoul(o
que este bebê será um dia.
Uma vez que os impulsos só se !omam significativos e pas_
sàm a exisrir na diâde mãe-bebè. ouxlouer;,,"* ; I ;. ;.ì,ìi"Ëiffi"àë#ïfr #f, Íi llï j.l
ilti
futuro adulto, uma busca incessante pela ilusória fusão perdida.
TEotu^ SËiu^L E PsK^NÁLrsE ì3
A est eÌern busca sáo adicionadas fantasias de vampi-
rização, implosão e, mais tarde, angústia frente ao perigo de
peÍder o próprio sentimenro de idenridade subjetiva ou os limi,
tes corporais 
- 
tudo isto fo.ma uma pane integral do mundo
psíquico do inj&ntr. No entanto, quando a sexualidade adììha
é permeada por tais fantasias arcaicas, âs relações sexuars e
amorosas corÍem o risco de serem experieìci
ça de castração, aniquilação ou a própÍia ameaça de morÌe.
E evidente que tais terrores requererão mais soluções
desviantes, a fim de permitiÍ ao sujeito acesso aos relacio-
namentos sexuais e amorosos.
Assim, após a catastrófica descoberra da alteridade, ocor-
re a rgualmente Ìraumática descobe.ta da diferenca entre os
seros. No entanto. a e\(e respet(o, é Interessante nolur qra 
"pesquisa psicanâlítica mais recente demonstra clÀÍamente oue.
bem ântes da ctise ediptca, a descoberta pelr criança pequena
das diferenças sexuais anatômìcas (geÍÂlmen(e por volta dos
quinze meses) provoca considerável ansiedade nas criancas de
ambos os seÀos (conforme foì observado por Roiphe e Câtenson
num es(udo pioneiro sobre a gênese do sentimento de identidade
.exuxl ) As\im. uprendemos que lqurlo qUe njo sc prrece co-
mrSo -. longe de ser umr Íonre de rú.rçÃo ou invejr. provoclr âver-
são e revoltâ, tan(o nn menina como no menino, ípareceria cue
J5 !frJnçJs 5io fundJmentJlmente ricirljÌjl)
ChegJndo rgorr a cenr prrmililx e à\ vjniìs lunlasirs que
u sexLr troitdc pJrentrl esti çuteita a evociìr no, seus Íilho\ _
tÂnto â obs€rvação clínica coÃo as brincadei.as das cÍianças
confirmam qu€, àntes da fase psíquicâ fáìica-edipianÂ, esrâ cenÂ
é rmâginada em todas as formas de excitÀçã,o pré-genita!: tais
como fantasias de mútua devoração, ou de tfocas unnáfias, fecais
e anais-eróticas. Quando estes elementos fundamentais faâcas-
sam em serem tn@grâdos no erotismo adulto genital, requerem
soluçòes desvianles r frm de ÍeJllzar as relaçòes sexuais e Âmo-
rosas na idade âdulra.
Assim, na fase edípica, nas suas dimensõ€s tanto homos-
s€xual como heteÍossexuôI, as cíianças se vêem frente a múlti-
f
!E
rilil
-l
JaYcEMcDoucÂLL
plas fruskações e sonhos impossÍveis 
- 
em pa(icular, o desejo
de penencet a ambos os sexos e possuir os órgãos genitais tan-
lo da mãe quanto do pai (uma vez que eles geralmente simboli-
zam os pâls e seus dons mágicos). Então, acrescentado a estes
desejos invejosos está o desejo de possìrit sexualmente, ambos
os genitores. Esta fase psicossexual do desenvolvimento fica
multo mais complicada pelo fato de que a constelação edípica
homossexual t€m sempre um duplo objetivo: primeiro, o desejo
de ter e possuir seiualmeme o genitor do mermo sero e, se-
gundo, um desejo igualmente foíe de ser o genitor do sexo
oporro 
- 
uma dupla esperança que implica no desejo de possuiÍ
Ìoclas as prerrogativas e os poderes mágicos atribuídos na fan-
tasia a cadâ genitor Estes duplos objetivos sexuais, ambos com-
plementares e contraditórios. coexistem nos domínios
psicossexuais de toda criÂnça. AIém do mais, esÌes desejos per-
sistem no inconsciente de todo adulto conforme a observaÇão
clínicr confrmr 
- 
desde que â ivrdgemi psrcanalrrrca aure tem.
po suficienre pìra pefmitir que tâis fantasias do desejo venham
à tona e âí encontÍem expressão verbôI,
A obígação de renunciar a esres objetivos instintuais bis-
sexuais requerem um pÍocesso de lulo que não é realizÀdo com
facilidade. Talvez urna das mais escandalosâs leridâs naÍcísiciìs
da humânidade 
- 
paÍa estes desejos megâlomaníacos da infân-
ciJ 
- 
seJa Iniligrdd pela ne(esridJde de rceit.rrmor nos:r
inexorÁv el tno nos s e xuaIìdat1e.
Então, pàralelamente à crise edípica, toda criança precisã
dar conta de se idenrificar como "mÂsculina" ou .,feminina". A
fim de estar em conformidadc com o sentido de idenlidÂde do
"gênero nuclear" dele ou dela, ele ou ela devem adquirir uma
identidade se\ual, i qual, como a idenodnde anarómi;r de crdÂ
um, não é conseguida sem luta. (Eu gostaria aqui de abrir urn
pârênleses paÍa mencionar que Freud 
- 
que estava constante,
mente preocupado com as dificuldades que enfrentavâ a meni-
ninha no caminho para chegar à feminilidade aduha, nos deixa
supor, pelo seu silêncio a este respeito, que a chetada à mascu,
Iinidade aduha é uma conquista feita sem esfo.ço_ (O que está
longe de ser o câso, como todo analista sabe!) ,t
T[oRrÀ S€xuÀr Ê PsrcÀNÁLtsE t5:_ AcÍescento que podemos seguramente propor que a reaÌ!
áção desÌas duas identidades fundamentais 
- 
por exemplo, nos_
sa identidade de gênero, assim como nosso senso de ideotidade
sexual 
- 
não são de foÍma alguma transmiÌidas por herancâ he-
redirária, mas pelas represenrações psÍquicÀs rmnsmilidas, em
primeÌro lugar, pelo discurso de nossos pals, Junramente com a
tmportante transmrssão pÍoveniente do inconsciente biDaÍenlal _
ao qual, mais tâÍde, é adicionado o irpa. do discurso ;ócio-cul_
tural do qual os pais são uma emanação.
As considerações acima me levaram à questão dos dese_!)l:*$!f!3!! !!tySls3lj_!!_t!fi'f!U. A homoisèrìãtidaaèÍiì-,I
márja da garotinha inclui seu desejo de possÌlir se,.uul^ent" suu \l
mãe, de penetral sua vagina, entrar em seu corpo e, algumas \]l
vezes, devorá-la, como ìlm meio de posse total de sua mã-e e de 
ì
seus podeÍes mágicos, num mundo do qual os homens estão ex-
cluÍdos. Mas as fantasias dela também incluem o desejo de ser
um homem como seu pai, de rer seus órgãos gen ars e. assrm,
vrr a possutr todo o pocleÍ e qualidades que ela lhe atribui, fa_
zendo nil vid,l de sua mìe o prpcldo Dti.
-t.r parafã'enÌi-iÈò e ie,.;me!inr como o parcerro se-
xual.de seu pÂi, fantasiândo incoíporar oml ou ânalmente o pê-
nrs do mesmo para que venha a possuir os órgãos geniuis de
seu p,ri€ seus privilégios, rornando,se desra Íormâ um nomem.
M15 este menininho tambéÍn scrá invadido pelo desejo de tomrìr
o lugilÍ cle sua máe nas felações sexuâis _ e o trabalho
psrcoterapêut,co com criançâs freqüenteÀente Íevela o desejo.
por prÍtc do mcnininho. de quc o p3i coloque um bebé eÍn reu
próprio espâço intemo. Ele sonha também ser pene(râdo pelo pai
c0mo ,magtna que sua mãe seja. e tem fantasiâs de genetrar seu
pJi, dü mesma formd. l5ro. ìs vezes, rnclui umu írniasiâ de cas-
rÍar o pat, 
_E evroente que 
€stes pÍocessos de incorporação idenlifica-
tóÍia implicam, para ambos os sexos, uma medidâ de destruicão
do_outro, com o rÌsco concomitanle de provocar sentimentos de
çtll!@cleprcssão. E, eotão, quase inevitável que uma constela-
ção de emoções complexas seja inserida nesles desejos bissexuÂis
universais, e que os desejos mobilizados Pela homossexualidade
primária de ambos os sexos suportarão a maÍca de uma ferida
narcísica, corendo o aisco de seÍem infilt(ados por sentimentos
de inveja e agressividade em relação aos pais. Assim, está clâ-
ro qrìe os comPonentes homossexuais da sexualidade humana
corÍem o risco de serem marçados por afetos poderosos e
conflitantes, tanto positivos como negativos,
É claro que se pode aplicar estas mesmas reflexões âos
componentes heteÍossexoais da psicossexualidade, uma vez que
é evidente que a eles não faham, de forma aÌguma, senllmentos
de ódio, inveja e destru(ividade; só que estes encontram menos
obstáculos do que os denvados dos desejos homossexuals, por
causa do discurso social predominantemente heterossexual_ um
fator que é enfalizado por muitos analisandos 8a}J € lésbicas
Isto me faz Íelembrar uma memóda Íecontada por um ana-
lisando gd) numa sessão Íecente. Um homem, por vol(â de seus
lrinta e cinco ânos, um artista de sucesso que assume sem
dificuldade sua orientaçáo sexual, tinha vindo Para análise por
cuusa de múltiplas fobias, incluindo umi constJnte preocupaçáo
com sua aperèncrc, Ele relembrou recenlemenle sua primerrr eì-
pefiência de fumar maconha, quando !inha dezesseis anos. Con-
vidâdo por alguns coìegas de colé8io para curtir est nova ex-
periência, depois de fumâr suâ parte, foi subitamente invadido
poÍ uma sensação de que todo o seu coÍpo e seu ser tinham fi-
cado monstíuososì seu terrol ert tal que ele deixou seus amiSos
precipitadamente e correu, de um bar a outro, procurando suâ
imagem num espelho para ver se tinha se transformado em um
monstro. Ainda se lembrava com horroÍ de se olhar em um es'
pelho após outro, paÍa veÍ se podìa se reconhecet Ele pergun-
tou numa sessão se esla era a indicâção de um núcleo psicólico,
e eu perguntei, por minha vez, se ele achÂva que a ìmagem
monstruosa" poderia eslar âssociada a seus medos sobre a te-
velação de sua homossexualidade. Ele então contou, pela primei
ía vez, como ficava peÍturbado, ao longo de toda sua adoles'
cência, pela conslante preocupação com fanlasias e desejos ho-
mossexuais e a convicção de que, se suâ família ou seus ami-
H
ffi
'.tì
I
Teu SExu& E Psrc^NÁlsE t1
- gos soubessem, teria que se suicidar. Podíâmos agora entender
[lúÊlhor seu persistente terror em Íelação à própria aparência, seu
r;medo de descobrir câncer de pele, eczemas e alerqias similaíes.
'e,islo também me permiriu 
^rroai* a"taa t.oor"-s aoa u, ,aiiÌé:ìsto também me permitiu associ:r estes rerrores com um re-i;çente pesadelo no qual ele havia rocado uma pessoâ doente e
i i:ôntraÍra lepra. Esta emocionante sessão mostra, de forma exem,
:: plar, a angústia que alguns analisandos homossexuais experimen-
, lam na infância e adolescência.
ì -'.r: Os desejos hoÍnossexìrais pÍimários, em todas as crianças,
na sua versão dual 
- 
quer dizer, o desejo de possuir o genitor do
mesmo sexo e o desejo de ser o genito. do sexo oposto _. tam_
bém demandam solìrções na sexualidade do adulro que esrá oor
vir Existem, é claío. inumeríveis crminhos potenciais através
dos quals esta corrente libidinal ìlniversal pode encontrar expres_
são, e assim ser integrada na organização psicossexual. Embora
esÌes rmpulsos possam dar origem ao sofriÍnento neufóÌico ou à
ansiedade psicórica, eles podem também, simDles e tão oronÌa_
mente, se transformar num f,iloÍ de ennquecimento psÍquico O
substrato bissexual dos seres humanos serye não somente Dara
enriquecer e estabilizar os relacionamenlos amororor a ao"i",.
como Ìâmbém fomece um dos elementos aptos â es(imular a ati_
vidade criâtiva 
- 
embora precise ser admi(ido que esta mesmô
drmensão pode ser fonte de bloqueios criativos, se os deseios
br:srrruais rnconsrrentes forem fonte de conflito ou interdrçio.
Antes de deixar esle brevc levantamento da evoÌução da
sexualidâde humÂna, gostaria de abrjr um parênÌeses íelaciona-
oo às cÍranças que esúo destin.Ìdas a buscü a tÍansexualizâcão
na rdiÌde adulta. A pesquisa psicanalítica majs recenÌe (tal como
a desenvolvida poí Ceccârelli) nos leva a enLcnoer que. na mÂlo_Írâ doç casos, este desejo não é a expressão de um deseio
p\lcótico. como Jlguns colegas tèm sugendo. O deselo rranse\ual
rcomo aquele de rodas as crianças) é a determinaeáo de esmr Ì
em conformidflde com o desejo da mãc (e, trequeniemente. do \
pai também) e, conseqüentemente, tars indivÍduos irão procurar.
ao longo de roda a inmncia e adolescência, os meios oeios ouais
uma íeaÌribuição sexual possa ser rcalizâda, a fim de interpretar
iro
FI
o sexo anatômico em conformidade com a persistente convic-
ção de pertencer psiquicamente âo sexo oposto. Esta determi-
nação é basicamente a expressão do profundo desejo de existir
como um ser sexual aos olhos da mãe. Uma questão de sobre-
vivência psíquical Nós nao nascemos "homem" ou "mulher", mas
nos tomamos "homem" ou "mulher" de acordo com o que for
autorizado pelos medos e desejos de nossos pais e peÌo discurso
familiâr.
Em suma, a fim de obter uma vida sexual e amorosa satis-
fatórias. muitos indivíduos. lenÌando se conforma! ao incons-
ciente parental, juntamente com as ateÍroÍizantes e arcaicas fan-
tasias pré-genitais e bissexuais, encontram-se obrigados a invenur
os meios pelos quais os angustiantes sentimentos de caslração,
aniquilação, identidade se\ual confusa, vaz ro e morle Intenor pos-
sam seÍ transformados atmvés de criações erótlcas,
Seria o rótulo "perversao" adequado para descíever eslas
engenhosas e in(íincadas invençôes da confusa e atlit cÍiança
escondida no interioa do âdulto? Eu me recordo vìvidamenle que,
durrnte meus anos de formação psicanaìítica, todas estas soluçõ€s,
incluindo as homossexualidades, e|amdefìnidas por nossos pro-
fesqoÍes como "desvios do (entio chdm.ìdo) ato se\url norm.ìI.
e ourrsouer desresìÈÌì6ìiãiiiÌÌldlEÌFhFfie,t'r"ri"úi.íÃo
um pet'/enão.\e-rrlal praticada poí vm perveÌsa No entanto,
oconceiÌode'desvio" inevitâvelmente implicauma'norma 
-
a noçào de um impulso com quâlidades pré-foamâdrs e meios
de expÍessão que, claramente, não existem nos seres huÍnÂnos.
Ainda lembro da minha surpresa, como aJovem e inexpe-
riente analista que eu erar ao escutar um analisÂndo que
recontava ter feito amor na noite anterioÍ e que tinha sido Íazoa-
velmente bem-sucedido, Somente alguns meses depois, soube
que, a fim de chegaÍ a este "Íazoável sucesso" comparatìvo, ele
t€ve que atar seu parceiro à cama com cordas. ou pediu a seu
âmaote para chicoteá-lo nas nádegas ou urinar sobre ele, a fim
de atingir o prazer orgástico.
De fato, eu iria descobrir que a maioria dos meus aoali-
sandos que haviam, se assim posso fala(, reinventado a .ena
TEoRr^ SExuaL E psrc^NllrsÊ Ì9
--, 
Gostâria de eníatizar nestc ponto a contratrans[erência quepod! ocorref,quândo se encara âs práticas sexuajs desviântes
::.^:.:lnll de umr n.,rurezr.rJJpri,rivü A nJrurerd porjmoffuuü s(,\utlto.rde idul(r nio prcci,r seÍ rclembradr, Nossos an;rlr_llloos o€rcrevem uma vJfledüde rnfinita de cenlflos eíótlcos,
obJetos lerichislas.e disfôrces, 
,ogos sadomrsoqursrfls. e assim
Por dlante. lsto tudo é visto como áreas privadas ae suas viaas
:i.:::ï: lu: *0"1,:enrüdJs como compursr\.as ou ,ndrspen_lavels meros de grâlificação sexual Se alguns de nos.o" 
"na_rsanoos podem somente obter uma troca erórlca sdrisfatória a(r.l-ves oe cenaflos tetichistas ou sadomasoquisras. embota nó\pldéssemos desojar-lhes uma vida amorosà ,nenos Íestnta, nãoÌemos nenhuma razãojnsrifrcada pard desejar que estes IndrvÍduos
aDanoonem suâs práticas sexuais simplesmenre porque nos per_
mrfimos Julgar eslas sexualtdades não_oíodu\Js como stntoma_Urds. Â malofla dos indlviduos erleri-nentJ ,(u) Jros erotlLos e
formas ìe sexualidade e 
"*olho, o;j';t"ir';;;;'ieË#;:::porlanto, 
.erradas_ 
Assim, uos pou"os, fui 
"h"g"ndo à conclusão
f urvruuo pooe someìte serconsjderada como um problema clíni_
I co em busca de solução, se chegar a um nível em que a serua-\ Iidade do analisando crie corflrrJe sofrimenro psrqurco.
-^_-Tl-,as únicas prediteções ,"-J, i,i" 
"ï'qï"rin*.i"como perveÍsas estão limitadas a certas formas de'relaciona-
mento ao outto 
- 
paíicularmente, rtos_sexuais qúe nìio levan:ffi
necíotttra.{treqüentemente precedida por assassinato do paÍ_cerro esco_lhrdo, Como vocêsjl deveÍn ter percebrdo, estes atos
;ï;""'àj,L;;.".*,e os mesmos que são condenados peta
20
escolhas objetais como €stando em conformidade coíí seus pró'
,rìr" a"t.iá., 
".1.. .r"s 
julSados ou nào por outros como "per-
veÍsos . Reitelo a noção de que as Prefetèncias sexuals somen(e
se romam um problema que pede análise quando não estáo de
u"Jo 
"orn 
o 
"u 
ia"a ao indivíduo em questão' sendo assim fonte
de sofÍimento PsÍquico.
com rclaçã; às orientações homossexuais' existem muitas
.u,r". 
".*oiii"çõ". p.ou.ni"nt"t 
de uma conlratransferência
i"t .oss"^iitu,.u.ludu por alguns analistas os quais corÍem o
risco de ficarem surdos à escuta e âo entendimento das neces-
,il"i.. ao pu.'"n," to mesmo Émbém deveÍia ser dito de uma
contratransierência'homossexista" evidenciada por alguns ana-
lisras Âdyr e lésbicas ) QuaisqLrer que sejam as Predileções Pes'
.."i. ã" *"fit,", não 5e pode de forma alguma decrdir que
onoii.onao, ho.o.t"tuais irao se beneficiâí se se tomaíem he-
t"aoaa"*uoia - ou vice-velsâ É verdade que um certo númerc
de pacientes gays e lésbicas descobrem' ao longo de sua "via-
eeÁ;' onotitl.ã, lue .ao "heleÍossexuais latentes 
" 
e que' até en'
,"ão.,"raor", inconscientes haviam ìomâdo os reiacionamentos
heteíoss€x!aìs imPossíveis, Mâs islo representâ umâ Pequena
minorrai a maiori dos homossexuÂis, sejam eles homens ou m-u-
lheíes, não têm o menoÍ desejo de ÍenÌlnciar à sua orrenEçao
sexuaì 
- 
não mais do que  médiâ dos helerossexüiìls cles€Jiìrla
se toÍna. homossexual - e nós só podemos aProvar' desle Ponto
de vista, ao reconhecer que as predileções sexuais de cadâ um
e suas escolhas objelais são um substíalo vitÂl' não somenle para
seu própno sentimento de identidade sexual como tambem 
para
sua identidade subjeÌiva
Neo-sexualidades
Flnalmente, chego ao que (enho chamâdo de neo-sexuali-
dades". Este termo não é um conceito' mas é um determlnaoo
modo de escuiar nossos analisandos' quando descrevem e ex_
ploÍam suas vidas sexuais Depois de uma longa cogitação so-
&5
t*!q
.;i
TEORIÀ SEXU^L E PSIC^NIÈISE ]l
l;i: :bre o significado subjacente aos atos e escoÌhas que são
iii:. ldislinguÍveis daquilo que podeÍia ser chamado da "normâ" ho_
.mossexual, ou da "norma" heterossexual, finalmente entendi qüe
Jesfes cenanos Incomuns serviam não somente para consertar frâ-
; injLras nos senrimenros de ideotidade subjetiva e sexual, mâs tam_
i_ :bém para proteger seus objetos intemos de s€ntimentos de ódio
'inconscientee destrutividade (em pane Iigados a impulsos orais
,e anals nao.etâbomdos. caracterísÌicos dos impulsos libdinals in_
fanris incorpoÍaljvos 
€ ex-corporativos). õraças à milagrosa
descoberta da cÍiação neo,sexual, aquilo que anteriormente pa_
recÉ sem sentldo, se toma significativo e um senso de vitalida-
de psíquica prevalece, mesmo que somente de forma ponfual,
soore os senhmentos de morte inteÍior. Estes mesmos conflitos
poderiam ter encontrado soluções menos felizes, exDrcssando-
se de formas psicóticas e psicoplticas. Apesrr da uÍgèncra, da
compulsividade e dos afelos carregados.de angústiâ. que tào
rrequentemente âcompanh3m estes cenários incomìlns, aí €xis.
te um objetivo de autocurir face aos ameaçador€s conflitos neu_
róticos ou psicóticos, o que nos leva à conclusão de oue a
eroÌização ê um caminho poderoso para superar o rrauma psí_
qurco do início da vida, pe.mitindo que Eros rriunfe sobre
I nân tos,
Resumindo as considcraçôes feitâs acima, poderíamos di_
rer què nco-seÀua,s , sejÂm d€ oírenlrçio homòssexual ou he.
lerossexuâ1, foram obrigados a reinventar o erotismo sexual e
as felações de amor, e que  obrigâção de criar rais soluç6es
eslá freqúenrcmente ligada às transmtssòej parentais silencio.
sas ou,Is comunicações errôneas relacionadas à identidade se_
x!al, à sexualidade aduha e às noções sobre quâl seria a subs_
tância da "feminilidade" e da..masculinidade". Alsumas vezes
estas lransmissões parenÌajs {e freqüen(emente transgemcionais)
revam d conclusão de que toda sexualidade estÁ para semoreproibida. A consrrução desras novas cenas prim,ti*s represàn-
tâ, então, a melhor solução que a criança do passado foì capaz
qe encontrar Iace ao medo, à confusão e à dor mental, lisadas
a cada ÍmFero Iibidin3l. cuja fonre oÍi8inal esrí no inconscienre
12
I
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biDaÍental. Também fica claro que as soluções encontradas len_
dern a durar Por toda a vida.
Além dos desejos e ansiedades dos pais' fíeqüentemente
também descobrimos uma série de eventos traumáticos na in-
iãn"i", fti.tO;^ a" utoso sexual, o desaPilrecim€nto súbito de
um cenitoÍ devido ao abandono ou à morte' ou' novamenler ex_
periãncias de hospitalização Pelas quais a cnança teve que pas-
sar. Em relação a este úlümo aspecto' me recordo de algumas
o.a,i.^t."*uuia bastante comuns hoje em dia' tais como o
li"r.ins, no qu"t ut *"1é inseíido na Slande do Énis no clitófls'
'no u.üi*o, no, ,"i0, ou no peito Robeí Stoller' renomado pes-
quisador no campo dos desvios sexuais, ao expressa! o deseJo
áe melhor entenàer os desvios de oÍdem masoquiso mars re-
centes. foi convidado a falaf para os membros de um Clube ex-
cìusivoèm Los Angeles Este era composto por homens e mu-
it'"i", qu. uut"o"Ã parc€iros para práticas 's e M" Muitos
dos meàbros doclube ioram bastante cooperaiivos com Stoller'
aceitando discutiÍ longamente sobrc suas príticas sexuaìs e o qlle
oensavam sobÍe suas inclinações eróticâs- Para seu espanlo'
!toì1", up.end"u que um número considerável dÂqueles por
exemplo, adeptos do piercing tinham, na infânciâ sido hospltall-
"raoJ 
po, p.ioao. a" tempo consìdeÍáveis poí causà de doen_
ço, qua ot"oçouoa seriamentc suas vidas e tinham tldo enì
ionseqüência, que se submeter â ìnjeções contÍnuas e À oulros
trotorn'"nto, Ootororot u fim de se salvarem- Scpârados dos pais'
D3ra muitas destas crlrnçis' o médico ou d enlermeila com a
aguìhr, representrurÍn um.r figura parental freqüentemente
Aã.onurunao gÍande lfeição Pelds trrefas que frziam E\pli-
cavam às crianças que as âgulhas eram necessârras parâ 
que
melhorassem iogo e fossem paía casa Esla observaçào
íeveladora parece deÍnonstrar que a capacidade cle erollzar.ex_
periências úrroríficas ou loÍ!ìrrantes Pode ter sâlvo estas c an-
ças de resultados mais trágicos como' Por exemplo' 
umâ exPlo-
são psicódca.
A capacidade de erotizar exPeriências insupoíáveis me traz
à lembrança dois analisandos que dernonstravâm esla estraté-
il
TEoRh SEX!ÀL E PsìcaNÁusE zi
gia: o píimeifo caso era sobre um tâleotoso autor fÍancês qu€
buscou análise por causa de um bloqueio criativo, e, após um
ano de trabalho aÌÌalítico intensivo, revelou, pela primeira vez, que
precrsava procurar parceiÍas sexuaìs que ac€itassem, durante o
ato sexual, apertar seu pescoço quase a ponto de estrÀngulá-lo,
. 
mas que um pouquinho antes de perder a consciênci4 ele dava
um sinal à namorada para p:uaÍ o estrangulamento, e este mes-
mo gesto era suficiente para provocar uma ejaculação. Na len-
ta reconstÍução de sua infância, recontou memólias de extrema
aísiedade e sufocação devido a akques de asrÍÌa que ocoÍriam
Íegularmenle, quando enÌão sua adorada mãe o segurava. Ela
fÍeqüentemente deitava-se sobre ele, a firn ue superar os ara-
ques d€ asma, Reconstrüindo o qu€ ele interpreÌou como o de_
sejo de sua mãe de se fundir com ele, pôde perceber a similari-
dade com este cenário eÍótico. Um dia anunciou: ..Sim. de fato.
é exatamente o mesmo s€ntimento excitante e próximo da mor_
te que eu vivia continuamente com minha mãe _ mas a gíande
difefenç.r é quc et sou uqueLe que errà no co^ondo íor, eu
quem comônda a sufocação e sou eu que a fÂz pârâr quando â
excitaçÌo e o terror ficam muito fortes.
O outro caso é o de uma psiclui:rtra de apÍoximadâmen(e
qLrJíent anos que tinhr sido uma criança conslânlemen(c
supercstrmuìada dcvido a jogos sexuilis, Ào longo de toda a sira
infância, instigados tiìnto poÍ seu pai como por seu irmão mais
velho. Na sua pÍocuÍa por um Àmanle câpaz de satisfazê-la em
slriìs demandas sexuais, rcclamava que todos caíam no sono de-
poiri do sexo, enquânto que elâ, emboíâ experimentasse um clí-
màx orgástlco em todâs as ocxsiões, pe.manecia desesperada,
mcnte desejosâ de mais g.atificação de modo que, por sua ina_
bilidade para dormir por causâ de suâ esperâ frustrâda, acorda-
va seus amanres e lmploÍava por uma continuÂção do sexo, Em,
ooÍa sentlsse que sua sexualidade eía, de uma certa maneira,
adictiva, elÂ, como o meu outro paciente, também disse que suas
condições eróricas eram sâtisfarórias desde que agora fosse ela
a controlaÍ a demanda cons!ânte de estimulação sexual.

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