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Relatório Meio Geográfico

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS – FCL/AR – CAMPUS ARARAQUARA
Heloísa Falquete, Ludimila Vidal de Carvalho e Renata Nobre.
RELATÓRIO DE CAMPO – ANÁLISE DAS RUAS “NOVE DE JULHO” E “VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA” EM ARARAQUARA 
Trabalho final de Meio Geográfico Prof. Dr. Rafael Orsi
Araraquara, julho de 2017
RELATÓRIO DE CAMPO – ANÁLISE DAS RUAS “NOVE DE JULHO” E “VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA” EM ARARAQUARA 
INTRODUÇÃO
	Conforme Ana Fani Carlos, o sujeito cria e transforma o lugar, sendo este também resultado da acumulação de tempos, assim “A natureza social da identidade, do sentimento de pertencer ou de formas de apropriação do espaço que ela suscita, liga-se aos lugares habitados, marcados pela presença, criados pela historia fragmentaria feitas de resíduos e detritos, pela acumulação dos tempos” (A produção do não-lugar, p.22). 
	Levando em consideração que o lugar é produto do ser e acumulação de tempos, o caso de Araraquara não é diferente. Desse modo, este relatório tem como objetivo apresentar as peculiaridades das ruas “Nove de Julho” popularmente conhecida como “Rua 2” e sua transformação em Bulevar do Comércio no processo de revitalização, assim como apresentar a rua “Voluntários da Pátria” ou “Rua 5”, transformada em “museu a céu aberto” enquanto Bulevar dos Oitis.
	O trabalho de campo consistiu na caminhada, pela manhã do dia 08/06/2017, desde a Praça da Matriz, passando pela “Rua 2” e pela “Rua 5”, com o intuito de captar seus contrastes e complementos, o que foi bem sucedido no plano de revitalização dessas vias (Plano Municipal de 2004) ou o que possivelmente falhou. 
	Sendo assim, este presente relatório de campo, além de retratar os elementos físicos dessas ruas, também apresentará as impressões que o grupo teve em relação às vias, desenvolvendo, através dos conceitos estudados em sala de aula, a noção de lugar e de reconhecimento da população com o mesmo.
Uma breve história da cidade de “Araracoara” a “Morada do Sol”
	Para compreender a disposição de Araraquara nos dias atuais, basta saber quais elementos geográficos, econômicos, políticos e sociais constituíram sua formação enquanto cidade. Sendo assim, basta levantar dados importantes sobre sua história.
Com base nos registros históricos, o início da cidade de Araraquara é datado em meados de 1790 quando Pedro José Neto, natural do estado do Rio de Janeiro, mas que há décadas vivia na freguesia de Piedade da Borda do Campo, em Minas Gerais, mudando-se para Itú, e sendo perseguido politicamente, fugiu para os “Campos de Aracoara”. Ao lado de sua família construiu a Capela de São Bento, que acabaria se tornando, posteriormente, padroeiro da cidade. 
	Na região viviam as tribos indígenas Guaynases, sendo a partir desse povo que se originou o nome “Aracoara”, que na língua Tupi-guarani significa “morada do sol”. Pedro José Neto logo se dedicou em estabelecer a posse das regiões do Ouro, Rancho Queimado, Cruzes, Lageado, Cambuy, Bonfim e Monte Alegre. Sendo assim, em 22 de agosto de 1817, por meio do decreto real, foi fundada a freguesia de São Bento, contando com aproximadamente 300 habitantes. Dando continuidade ao crescimento da então vila, em 1832 obteve-se a elevação a categoria de município. Neste mesmo período, as plantações que existiam para a subsistência local passam a ser dedicadas ao plantio principal do café, e, secundariamente, ao plantio de laranja.
A plantação de café na região durante 1830 a 1855, por meio da mão de obra escrava, fez com que cerca de 1.000 dos 7 mil habitantes à época fossem escravos. A mão de obra escrava só seria substituída em 1884 com o advento da ferrovia, trazendo imigrantes, principalmente italianos, portugueses e espanhóis. Nesta época iniciou-se o auge da economia cafeeira na região.
Ainda antes da Proclamação da República (1889), obtém-se a elevação à categoria de Cidade, através da carta assinada por Pedro José Neto que concedia as Sesmarias de Terras para iniciar o plano de administração da então Cidade de Araraquara. 
A disputa entre republicanos e monarquistas instalada na sede política à época não se restringia somente à cidade do Rio de Janeiro. Araraquara é um nítido exemplo de jogos de interesses políticos, assim como reflexo do advento do coronelismo - fenômeno político brasileiro em que as relações de poder se confundem com as relações pessoais, criando, assim, uma fidelidade pessoal na pessoa do senhor – aquele que transfere sua autoridade local em prestígio político. 
	Essa questão levou ao episódio histórico da cidade de Araraquara, o linchamento dos Britto. Os poderes políticos araraquarenses estavam divididos em dois grupos distintos: o coronel Joaquim Duarte Pinto Ferras representava os monarquistas e o coronel Antônio Joaquim de Carvalho, os republicanos, ambos ligados à produção cafeeira. Com a proclamação da República, em 1889, há a ascensão do coronel Carvalho.
	Em oposição à política dos coronéis e a ascensão de Carvalho, Rosendo de Souza Britto, de origem sergipana, jornalista, publicava publicamente suas críticas no jornal local. Em meio a uma discussão no quadrangular da Praça da Matriz, iniciou-se uma discussão entre o coronel Carvalho, Rosendo e seu tio, o farmacêutico Manoel Joaquim de Souza Brito. Como contam, para defender-se das ameaças do coronel, Rosendo acaba atirando e matando o mesmo. Este episódio levou à prisão dos Brito.
	Após a missa de sétimo dia do coronel Carvalho, no dia 07 de fevereiro de 1897, a delegacia (situada na época ao lado da praça da Matriz) é invadia e os Brito linchados e mortos. Este episódio marca a história da cidade de Araraquara e de como viria a se desenvolver desde então. Ao lado do cenário de três assassinatos, se situa a Rua Nove de Julho, popularmente conhecida como “Rua 2” um dos objetos de estudo deste trabalho, que viria a se tornar centro comercial araraquarense. 
	A história de Araraquara não é somente de suma importância para a compreensão de sua atualidade, mas também para a compreensão de sua estrutura física. Como exemplo de parte de sua história natural preservada pode-se observar o “Bulevar dos Oitis”, que será retratada ao longo deste relatório.
Definindo o lugar
Para começar uma possível análise, consideremos as discussões sobre o que define o lugar segundo Ana Fani Carlos:
[...] o lugar é a base da reprodução da vida e pode ser analisado pela tríade habitante - identidade - lugar. A cidade, por exemplo, produz-se e revela-se no plano da vida e do indivíduo. Este plano é aquele do local. As relações que os indivíduos mantém com os espaços habitados se exprimem todos os dias nos modos do uso, nas condições mais banais, no secundário, no acidental. É o espaço passível de ser sentido, pensado, apropriado e vivido através do corpo. CARLOS, Ana Fani. A produção do Não-lugar (2007).
A autora aponta a apropriação do espaço como essencial para as interações do indivíduo. A atividade corpórea, ou seja, as vivências através do corpo que caracterizam a existência e as relações com a realidade. Neste sentido, pode-se pensar todo tipo de interação do homem com os elementos do seu cotidiano e da sociedade que está inserido, e como isso dá significação às formas utilizadas. Em outras palavras, todos os espaços vão adquirindo significado a medida que o homem os insere em seu dia-a-dia e se relaciona com eles, o bairro onde mora, a rua onde trabalha, a praça em que passeia, etc..
Ainda que o processo histórico (toda a carga histórica, emocional, estrutura de poder relacionados a determinado local) seja importante para a identidade do espaço no geral, a maneira como o indivíduo se relaciona com o meio diz mais respeito às suas vivências atuais.
Com o planejamento do espaço urbano, há certa manipulação da significação do lugar e coloca-se umamaneira imposta de visão e interação. “O espaço é construído em função de um tempo e de uma lógica que impõe comportamentos, modos de uso, o tempo e duração do uso.” (Carlos, p19). Logo, observando o planejamento de uma cidade, ou de segmentos específicos dentro de uma cidade (como veremos adiante neste trabalho), levantam-se questões: qual a lógica da construção de determinado espaço? Como isso afeta ou rege a interação do indivíduo com o mundo a sua volta?
Ao observar as estruturas e modificações de duas ruas principais do centro dá cidade de Araraquara (SP), pode-se notar as diferenças entre como os cidadãos lidam com um espaço de maior enfoque cultural e tradicional (Rua 5) e outro onde a questão principal além do fluxo de pessoas é o fluxo de capital: a rua do comércio. Para além de como a cidade se desenvolveu naturalmente pela passagem do tempo e das gerações, existiram algumas inserções propositais promovidas pelas prefeituras vigentes do município durante as quase duas últimas décadas.
Plano Diretor e Revitalização
 O Plano Diretor de Desenvolvimento e Política Urbana Ambiental é “um instrumento básico da política urbana a ser executada pelo município” e integra o processo de planejamento municipal, que orienta as diretrizes orçamentárias anuais em relação às prioridades no desenvolvimento da cidade. Embasado por lei federal, que faz os municípios elaborarem os planos de acordo com as necessidades locais, prevê a realização de audiências públicas para que as prioridades sejam realmente a demanda dos cidadãos.
Em Araraquara, conforme a Lei n 1.0257/01 do Estatuto dá Cidade, o plano diretor estabelece e institui os procedimentos normativos para a política de desenvolvimento urbano ambiental do município, visando a distribuição espacial dá população e das atividades econômicas do município.
O Bulevar dos Oitis como soma dos tempos e da história.
A Rua Voluntários da Pátria, também conhecida como “Rua 5” ou Bulevar dos Oitis é uma das ruas mais antigas da cidade e fruto de um projeto iniciado no ano de 1911, em que 400 mudas de Oitis vieram da cidade do Rio de Janeiro para Araraquara, encomendadas pelo então prefeito Major Dario de Carvalho Filho, e foram plantadas nas ruas São Bento (3) e na Voluntários da Pátria (5). O plantio se constituiu em uma homenagem aos 30 combatentes araraquarenses que participaram da guerra do Paraguai (1864-1870). As árvores que ainda existem na Voluntários constituem a história viva de Araraquara, tombadas pelo Patrimônio Histórico do município.
Levando em consideração o peso histórico que a rua carrega, a Lei Municipal n. 3.556, de 1988, considerou os oitis da Rua Voluntários da Pátria, do trecho das Avenidas Djalma Dutra até José Bonifácio “de preservação permanente”, ou seja, é de capacidade da administração da cidade manter as árvores, assim como evitar que sejam deterioradas. A preservação das áreas verdes, em geral, fez com que Araraquara já fosse a terceira cidade mais arborizada do Brasil, mantendo-se também entre os melhores índices de desenvolvimento humano. 
Ao lado da preservação histórica dos Oitis, há também a preservação da rua de paralelepípedos. O processo de revitalização da rua iniciou-se em 2004, pretendendo tornar a rua um “museu a céu aberto”.
Entretendo, pode-se observar que o processo de revitalização modificou não somente a estrutura física da “Rua 5”, mas também as percepções que a mesma causa, assim como as relações comerciais e sociais. Conforme a leitura de Milton Santos (1996), a paisagem é o conjunto de objetos reais-concretos, fruto de objetos do passado e do presente, nitidamente observada no Bulevar dos Oitis.
 […] A paisagem é testemunha da sucessão dos meios de trabalho, um histórico acumulado. O espaço humano é a síntese, sempre provisória e sempre renovada, das contradições e da dialética social. SANTOS, Milton. O Espaço Geográfico: um híbrido. In: A Natureza do Espaço (página 107-108)
A questão comercial na rua 2.
	Ao longo da caminhada pela “Rua 2” durante o trabalho de campo, foi possível detectar o grande número de lojas populares. Também conhecida como “Bulevar do comércio”, no processo de revitalização foi readequada para uma possível fixação do capital na área central da cidade.
 Porém, pode-se constatar que a tentativa foi falha, uma vez que outros centros comerciais adquiriam importância e estão dispersos pela área da cidade. Ainda assim, a criação do Shopping Jaraguá também influenciou para a fuga do capital, já que nele estão concentradas lojas que ofertam produtos em valor superior às lojas da “Rua 2”. Deslocando, também, a importância que o Shopping Lupo influenciava na área, até então único shopping center da cidade.
	O presente trabalho de campo foi realizado no dia 08/06, começo de mês, auxiliando na movimentação intensa na Rua Nove de Julho, influenciada também pelo clima (ausência de chuvas). A disposição arquitetônica será analisada ao longo deste trabalho, mas vale ressaltar a arquitetura antiga ainda presente, sobreposta pelas propagandas das lojas – lojas estas populares (Pernambucanas, Magazine Luíza, lojas de roupa em que o preço máximo chega ser R$29,90, entre outros produtos ofertados por baixo custo). 
	Além do mais, ao longo do Bulevar do Comércio foi possível constatar um grande número de “trabalhadores livres”, vendedores ambulantes e, inclusive, a presença de hippies expondo seus trabalhos no calçadão do Shopping Lupo. 
	Pode-se dizer que o bulevar do comércio é uma das principais ruas de Araraquara, não somente pela sua movimentação econômica, mas também pelas relações sociais que ela estabelece, decorrente do fluxo constante de pessoas. É por esta rua que a maior parte dos ônibus que saem do terminal rodoviário de Araraquara passa, concentrando também vários pontos de ônibus com destinos diversos.
O contraste visível: o comércio do bulevar dos Oitis
	Em contraste ao bulevar do comércio, o “museu a céu aberto” da Rua Voluntários da Pátria expõe um quadro diferente em diversos aspectos. Inicialmente, o fluxo de pessoas e carros é bem restrito, não apresentando a “confusão”, e a sensação de “correria” trazia pelo congestionamento na Rua 2. 
	Paralelamente, o Bulevar dos Oitis também não apresenta tantos comércios populares, pelo contrário, foram encontradas lojas que fornecem roupas e acessórios de grife. Ainda assim, o cenário das lanchonetes com promoções da Rua 2 é substituído por restaurantes que, aproveitando das rugosidades, criam um ambiente mais restrito, selecionando o público alvo por conta do alto custo dos serviços oferecidos. 
	Em decorrência da proximidade com o Hospital Municipal, a rua Voluntários da Pátria conta, ainda, com grande número de consultórios médicos. Somando, por fim, todos os seus serviços ofertados, pode-se notar certo caráter excludente do local, já que o alto custo possa ser um dos quesitos que explicam o menor fluxo de pessoas. 
	Apesar da ligação história, o que Augé colocaria como “lugares de memória” da população com a “Rua 5”, cabe questionar se a pós-modernidade, com o capitalismo predatório, não se apropriou dessa ligação histórica para alargar seus limites e passar a transformar o “lugar de memória” em um “não-lugar”. 
Se um lugar pode se definir como identitário, relacional e histórico, um lugar que não pode se definir como identitário, nem como relacional, nem como histórico definirá um não lugar. A hipótese aqui defendida é que a supermodernidade é produtora de não lugares, isto é, de espaços que não são em si lugres antropológicos e que, contrariamente à modernidade baudelairiana, não integram os lugares antigos. AUGÉ, Marc. Dos lugares aos não lugares. In: Não lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade.(página 73).
Esta suposição consiste em elementos básicos: 1) a especulação imobiliária que tomou conta da rua com edifícios sofisticados, 2) o grande número de casas vazias (talvez relacionado com a especulação imobiliária), 3) a utilização dos aspectos históricos para justificar o elevado custo dos serviçosoferecidos.
Rugosidades - as marcas do tempo no espaço
As marcas do tempo estão presentes nos dois trechos das ruas analisadas. Essas marcas, - as quais podemos denominar rugosidades - ainda que semelhantes, em alguns aspectos, nas duas ruas, tiveram ressignificações distintas em seus processos de revitalização. 
A rugosidade, conceito defendido por Milton Santos (1996, pág. 140), como o que "fica do passado como forma, espaço construído, paisagem, o que resta do processo de supressão, acumulação, superposição, com que as coisas se substituem e acumulam e todos os lugares" são marcas de outro tempo deixadas no espaço, que se mantiveram e habitam o tempo atual. Essas rugosidades podem ter pouco ou muito impacto na forma com que as pessoas utilizam os espaços em diferente momentos do tempo, apresentando problemáticas para a dinâmica das formas de uso do espaço, assim como podem também ser aproveitadas e resinificadas ou até passarem um tanto despercebidas.
Na cidade de Araraquara percebemos que a arquitetura por vezes apresenta rugosidade através da estética arquitetônica do período colonial que se manteve mesmo com o passar do tempo. Esse aspecto pode ser fortemente observado tanto na rua 2 como na rua 5, em questão. Presente com recorrência em casas e estabelecimentos; e nas calçadas e ruas, no caso da rua 5. Porém, também percebemos que cada rua lida de diferentes formas com essa rugosidade. 
Na Rua Nove de Julho, os imóveis que ainda possuem a arquitetura do período da formação da área, não possuem o destaque como podemos observar na rua 5 - esclareceremos à seguir. A estética antiga acaba por ser ofuscada pelo grande número de letreiros e "banners" publicitários, que muitas vezes até cobrem os detalhes arquitetônicos presentes nas faixadas.
Já na rua 5, percebemos uma preocupação em aproveitar esta estética. Essa preocupação se dá através de pinturas que destacam sobreposições de contornos de janelas, portas e detalhes típicos do período colonial e se expande em adereços, que mesmo inserido postumamente, acompanham a mesma estética, como postes de luzes, luminárias e bancos. Essa preocupação pode também ser observada na preservação dos paralelepípedos na rua, que segue essa tendência mais antiga e que cria, ao mesmo tempo, um certo afastamento de automóveis, que ao contrário da rua dois, onde circulam muitos carros e até ônibus, diminuem a concentração do tráfego, tornando o convívio mais agradável, quando comparada com a rua 2.
Ao mesmo tempo em que as duas ruas foram resinificadas a partir do plano diretor exposto anteriormente neste texto, percebemos através dessa análise que cada uma, em seu propósito comercial, possuem um diferente público alvo e que sua estética se molda fortemente a partir de sua intencionalidade, servindo como atrativo para esse público. 
A Rua Nove de Julho apresenta uma grande poluição visual com fins publicitários apelativos. Sua estética segue majoritariamente o intuito de atrair as pessoas para dentro das lojas através de promoções e preços mais acessíveis. É necessário que haja um grande contingente de clientes para que seus propósitos financeiros sejam alcançados, já que os clientes buscam, na maioria das vezes produtos a um preço mais acessível ou com oportunidade de parcelamento. Sendo assim, não é interessante que se mantenha as pessoas no local além do tempo de comprar e sair. Por isso a preocupação maior está em convencer as pessoas que passam por lá rapidamente a entrarem nas lojas, comprarem e saírem para darem lugar à outras(os) clientes.
No Bulevar dos Oitis percebemos que a intenção é atingir um grupo mais elitizado, que não busca somente uma mercadoria, mas uma mercadoria diferenciada, assim como serviços e momentos agradáveis de passeio ao ar livre. 
A preocupação estética da rua cria uma atmosfera interessante e agradável, acompanhada pelas árvores, que mantém um clima mais ameno e com espaços mais convidativos, como os banquinhos, que são mais recorrentes do que na rua 2, estão em espaços mais alargados da calçada e estão em meios a plantas ornamentais. Há também o museu a céu aberto, que são pedras com fósseis e placas explicativas, presentes em alguns espaços da calçada, sendo uma extensão do MAPA (Museu de Arqueologia e Paleontologia de Araraquara) localizado nesta mesma rua. 
A identificação com o lugar
A interação das pessoas que passam, trabalham ou vivem nas duas ruas em questão é inquestionavelmente afetada pela intensa atividade comercial desenvolvida nas duas ruas analisadas. Ainda assim, encontramos pontos de interação das pessoas com o espaço. A partir dessa questão e do conceito de lugar desenvolvido pela autora Ana Fani Carlos, 2007, em que define o lugar como sendo 
[...] a base da reprodução da vida e pode ser analisado pela tríade habitante - identidade - lugar. A cidade, por exemplo, produz-se e revela-se no plano da vida e do indivíduo. Este plano é aquele do local. As relações que os indivíduos mantém com os espaços habitados se exprimem todos os dias nos modos do uso, nas condições mais banais, no secundário, no acidental. É o espaço passível de ser sentido, pensado, apropriado e vivido através do corpo. CARLOS, Ana Fani. A produção do Não-lugar, 2007. 
Defendemos então como se dão os lugares, mesmo com intensa produção de não-lugares - nas duas ruas.
Os bancos presentes nas duas ruas, já mencionados anteriormente, sugerem um espaço onde as pessoas podem parar, sentar, pensar e sentir o lugar e as pessoas que por ali passam e/ou estão. A partir deles, se faz a relação com lugar, não apenas passando rapidamente, mas parando para descansar, observando a paisagem e até conversando com outras pessoas. Na rua 5 encontramos ainda a Praça da Independência, antigo campo de execução de escravo, configura hoje um espaço de lazer com intensa vegetação composta pelos oitis na parte da rua 5 e também por babaçus e paus-brasis.
A arte presente na rua 5 através da grande recorrência de pichações, imprime nos muros a identificação de jovens que por ali passam. Dialogando com o lugar, com os observadores e também entre si. Esses diálogos resultam na/da interação das pessoas através do lugar. 
Na rua 2 não é comum esse tipo de arte, porém é frequente a ocorrência de música alta, que além de chamar a atenção dos transeuntes para as vitrines das lojas, cria uma relação das pessoas que ali trabalham ou passam, a partir da seleção da música e da interação (ou não) de cada pessoa. Gerando impressões e sensações.
A imagem enquanto expressão textual
Bulevar dos Oitis, mantando as árvores tombadas pelo Município de Araraquara. Para a preservação do patrimônio histórico, como mencionado anteriormente, foi optado manter também a rua de paralelepípedos. 
Se a ligação histórica da população o torna um “lugar”, o avanço da supermodernidade (AUGÉ, 1992) produz “não-lugares”, isso devido ao avanço do capitalismo, sobrepondo os valores temporais entre o local e a população
Arte urbana presente na “Rua 5” através da grande recorrência de pichações, imprime nos muros a identificação de jovens que por ali passam. Dialogando com o lugar, com os observadores e também entre si. Esses diálogos resultam na/da interação das pessoas através do lugar.
Na Rua Nove de Julho, os imóveis que ainda possuem a arquitetura do período não possuem o destaque como podemos observar na rua 5. Ao conntrário, é escondida pelas fachadas das lojas.
CONCLUSÃO
Portanto, pode-se concluir que o tempo imprime elementos de acordo com a cultura e atuação das pessoas nos espaços. Esses elementos muitas vezes persistem no tempo e são resinificados de acordo com as mudanças nas necessidades da população que habitam esses espaços, ou, como colocados em questão, essas mudanças podem provir de intenções econômicas e politica. 
Porém um plano diretor nem sempre será efetivado da forma que foi planejado, como pudemos observar. Isso ocorre, pois as cidades seguem rumos que, apesar de possuírem direções pré-estabelecidas, também possuem sua espontaneidade que porvezes contrariará essas direções.
A revitalização (datada de 2004) da Rua Nove de Julho com o intuito de prender ali o capital funcionou em partes, pois há ainda a circulação econômica em outros centros comerciais em postos diversos da cidade, sendo a fuga do capital acentuada com a inauguração do Shopping Jaraguá, com caráter distinto das lojas populares contidas no “Bulevar do Comércio”.
Já ao que diz respeito à rua “Voluntários da Pátria”, pode-se perceber que, apesar dos laços históricos da população com o local de mais de 100 anos do plantio das árvores, a rua assume um nítido contraste em relação a “Rua 2”, seja no custo dos serviços oferecidos, ou no fluxo de carros e de pessoas. 
A revitalização modificou não somente as características físicas dos dois locais, mas também as relações sociais e econômicas. Sendo a paisagem uma somatória de tempos e dessas relações (Milton Santos, 1996), essa modificação modificou essas paisagens em sua concepção mais ampla e complexa.
Referências bibliográficas:
FRANÇOSO, Luís Michel. Linchaquara – O assassinato dos Brito.
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. 4. ed. 4. reimpr. - São Paulo, 2008
CARLOS, Ana Fani. A Produção do Não-lugar. In: A produção do lugar no/do mundo. São Paulo: FFLCH, 2007.
AUGÉ, Marc. Dos lugares aos não lugares. In: Não lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade.
Sites auxiliares:
http://g1.globo.com/sp/araraquara-regiao/noticia/2012/06/araraquara-sp-e-cidade-da-regiao-com-mais-arvores-aponta-ibge.html
http://www.araraquara.sp.gov.br/araraquara/historia/
http://aracoara.blogspot.com.br/p/historia_02.html

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