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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ Curso de Direito ENFRENTAMENTO DA EPIDEMIA DE HIV COMO DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS DA POPULAÇÃO LGBT Devail Guterres da Silva Rio de Janeiro 2017 2 Devail Guterres da Silva ENFRENTAMENTO DA EPIDEMIA DE HIV COMO DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS DA POPULAÇÃO LGBT Artigo Científico Jurídico apresentado à Universidade Estácio de Sá, Curso de Direito, como requisito parcial para a conclusão da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso. Orientadora: Professora Mariana de Freitas Rasga Rio de Janeiro Campus Presidente Vargas 2017 3 Enfrentamento da Epidemia de HIV como Defesa dos Direitos Humanos da População LGBT Devail Guterres da Silva* RESUMO O objetivo deste trabalho e propor a efetivação de direitos humanos da população LGBT condizente com a realidade social e das necessidades primárias em suas especifidades, promovendo a qualidade de vida das pessoas vivendo com HIV e Aids, através da defesa dos direitos humanos fundamentais, da garantia de acesso à informação, da luta contra a discriminação e outras formas de exclusão social, pela edificação de uma sociedade mais solidária e socialmente justa. Visto que a violação de direitos fundamentais pelo Estado, afrontam os Diretos Humanos a que estamos formalmente submetidos, trazendo a discussão a baila, possibilitando a reformulação da discussão do tema no senso comum, assim como a ventilação de temas Constitucionais para além da bolha acadêmica. Para cumprir os objetivos da discussão e preciso verificar antecedentes e fatores históricos que impactaram a sociedade, e de que maneira a acadêmia aloca essas questões ao conteúdo pragmático. Ainda que a discussão do tema ainda permeie timidamente os programas do Estado, e que se submetem o ensino formal. A quantidade de violações, além dos homicídios diários, ainda que não registrados como de origem homofóbica e suas variáveis, e que mais impactam as características relevantes e que primam pela necessidade de reformulação temática. Verificou-se que a saúde como direito fundamental vem sendo negligenciada de forma estruturada, necessitando contenção nos meios sociais no combate a epidemia de HIV/AIDS. Desta forma, objetiva-se promover debate analítico sobre o tema Constitucional. Palavra-chave: Direitos Humanos; LGBT; HIV/AIDS; Constitucional SUMÁRIO 1. Introdução; 1.1 Justificativa; 2. Desigualdade e o Défice Democrático; 2.1 Desenvolvimento Humano; 3. Bem Jurídico Tutelado; 4. Discriminação e Intolerâncias Correlatas; 4.1 Feminicídio; 4.2 Racismo; 4.3 LGBTfobia; 5. Institucionaliação e Sistêmica do Ódio; 5.1 Legum Odio – Ódio Legislativo; 5.2 Sacrum Odio – Ódio Religioso; 5.3 Exsecutivam Odio – Ódio Executivo; 6. Estigma Social - Isolamento, Apartamento e Morte Civil; 7. O Protagonismo da Saúde LGBT nos Direitos Humanos; 8. O Direito no Combate a Epidemia; 9. Ações Propositivas e Enfrentamento; 10. Conclusão; 11. Referências Bibliográficas ________________________ *Graduando do Curso de Direito da Universidade Estácio de Sá 4 ENFRENTAMENTO DA EPIDEMIA DE HIV COMO DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS DA POPULAÇÃO LGBT Devail Guterres 1. INTRODUÇÃO Desassociar e apartar coletivos, elitizando e funcionalizando as necessidades humanas nos Direitos Humanos, hierarquizando conforme dogmas morais não é novidade. A constante necessidade de reafirmar, deslocar e alocar direitos fundamentais constitucionais fundamentais de habitação, saúde e educação de grupos, é entre outros o que motiva produção de ensaios como este. O deficit democrático1 causado pela desigualdade, amalgamado pela discriminação, inserido na econômica, estabelece entraves, apartando grupos do combate e nas pautas de discussões sobre violações dos Direitos Humanos, não pode em hipótese alguma prosperar, sob pena de estabelecer e fortalecer novas formas e meios para a manutenção de privilégios e ideocracias prejudiciais a igualdade e justiça social. A conservação do diálogo e ventilação dos temas permitem análise em especifidades, possibilitando economia processual que formam novas leis e que consequentemente oneram o erário, essas as quais sem a devida efetivação. Este canal, revisando a máquina sempre obsoleta de efetivação de democracia, ao contrastar o fenômeno da desigualdade de um a população diversa e sucateada de mínimos e básicos direitos, se contrapõe com uma estrutura cultural genocida normativa e regulamentada. A análise, além da experiência pessoal e acadêmica, propõe trilhas e prismas que devem integrar a dinâmica em favor de uma consciência humanitária no combate a LGBTfobia2, especificamente aos portadores de HIV/AIDS. ________________________ 1.Défice Democrático - Inicialmente termo utilizado por aqueles que defendem que as instituições da UE e os respetivos procedimentos de tomada de decisão carecem de legitimidade democrática e, devido à sua complexidade, parecem inacessíveis aos cidadãos. 2.Hostilidade em geral a um amplo espectro identitário de sexualidades, além do homossexualismo masculino. 5 A confrontação de violações de direitos, forçam caminhos para uma nova ordem de igualdade social além dos meios de discussão e exercício de cidadania, reconhecendo o valor do estudo de origem comunitária e de espaços paraestatais, através da reflexão e do compromisso dos operadores de direito na promoção de conteúdo igualitário nas relações interpessoais na área da saúde e direitos. Embasado na proposta dos conceitos os quais a Saúde Pública, especialmente em AIDS3, devem interligar-se nos Direitos Humanos, objetivando a redução de danos, de forma pragmática para a epidemia do HIV4. O trabalho apresentado não é uma abordagem individual, representa antigas aspirações de uma coletividade vilipendiada, que paralelo ao movimento negro, esquivam-se de lâmpadas, linchamentos e escárnios diários de uma sociedade antidemocrática e genocida. A metodologia utilizada no presente artigo pauta-se em pesquisa bibliográfica e pesquisa narrativa, através de material que tratem da matéria, buscando dessa forma consubstanciar o mesmo, com a opinião de ilustres pesquisadores, visando corroborar a tese de Enfrentamento da Epidemia de HIV como Defesa de Direitos Humanos da População LGBT. A pesquisa narrativa, no campo acadêmico, inclui histórias de vida, autobiografias, relatos orais, depoimentos, vem sendo bastante difundida. Pesquisadores como Nóvoa (1993, 2000), Pineau (1993, 2006), Josso (2006), Goodson (2008), entre outros, têm apresentado trabalhos bastante significativos. Segundo Nóvoa: [...] a utilização contemporânea das abordagens (auto) biográficas é fruto da insatisfação das ciências sociais em relação ao tipo de saber produzido e da necessidade de uma renovação dos modos de conhecimento científico...a nova atenção concedida [para esse tipo de abordagem] no campo científico é a expressão de um movimento social mais amplo...encontramo-nos perante uma mutação cultural que, pouco a pouco, faz reaparecer os sujeitos face às estruturas e aos sistemas, a qualidade face à quantidade, a vivência face ao instituído. (NÓVOA, 1993: 18) ________________________ 3.Sigla em inglês de SIDA – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida 4.Sigla em inglês de VIH – Vírus da Imunodeficiência Humana 6 1.1 Justificativa Ao referenciar esta análise para a comunidade acadêmica e ao assumir a árdua defesa dos direitos humanos ante o senso comum, que repele de modo geral a garantia de direitos básicos, não é de longe tarefa fácil, tampouco atuar em questões tão básicasquanto necessárias. Instrumentalizar a democracia, ante os dispositivos de manutenção de poder5 que mencionou Michel Foucault, que visam manter sobre controle o indivíduo e mantê-los presos a padrões sociais, como lgbtfobia, racismo, ou machismo que perseguem grupos distintos, requer dedicação devocional para desestruturação de uma engenharia social que atua de modo a dar a impressão de que os esforços dispensados nos movimentos sociais e suas conquistas, são em vão e desproporcionais a máquina de manutenção de opressão. A coragem de se opor aos que se estabelecem através da opressão e da desigualdade, é que torna o profissional de direito que busca o seu sustento e à sua família em Advogado, se assim não faz não é advogado, imprimiu na história dos Direitos Humanos no Brasil o jurista Sobral Pinto. 2. DESIGUALDADE E O DÉFICE DEMOCRÁTICO A desigualdade social impede o crescimento do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), quem delata são os Relatórios do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), essa desigualdade é sustentada pelo défice democrático, fomentado por regimes ditatoriais que controlam 43% da população limitando liberdades cívicas e políticas, bem como organizações de governança no mundo, que representam os mais poderosos. Acentuando a desigualdade, que tem como exemplo, a expectativa de vida de um recém-nascido no Japão em relação ao do Afeganistão, ou como a realidade da ________________________ 5.Dispositivos de manutenção de poder - Um conjunto que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são os elementos do dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode tecer entre estes elementos (Foucault, 2000, p. 244). 7 baixa participação política da mulher, separando desta forma o IDH em gênero e binaridade, com mulheres trabalhando o dobro e recebendo a metade, o saldo democrático em alguns países impede que o desenvolvimento e o crescimento econômico sejam erradicados com a diminuição da pobreza. 2.1 Desenvolvimento Humano Apesar dos registros de progresso importantes no desenvolvimento humano, os ganhos não são distribuídos igualitariamente. Mulheres, grupos étnicos raciais e população LGBT avançam desigual e desproporcionalmente, como apontam estatísticas. Nesse mesmo diapasão, as razões por que alguns grupos foram deixados para trás no desenvolvimento humano, traz também as políticas e estratégias nacionais e globais necessárias para alcançar as populações atualmente excluídas, devendo-se portanto um alinhamento com mais justeza ao Princípio da Isonomia, conhecido também como Princípio da Igualdade, avatares da democracia e primordial dentro dos princípios constitucionais, consubstanciados no artigo 5º da Constituição Federal. Desta forma, detalhando estimativas, a coletividade LGBT, sem alternativa, são empurrados para a prostituição pela falta de oportunidades, sucumbindo os mais rechaçados e economicamente desprovidos, aprofundando drasticamente a vala da desigualdade. A superação do distanciamento é complexa, envolvendo formas e áreas distintas, mercado, sociedade civil, e reconhecer essa disparidade é fundamental para o isolamento da miséria, que se ancora em regimes de governo opressores e pseudo democráticos, que deveriam ter a principal função de proteção aos direitos humanos fundamentais, como saúde, proteção legal, habitação, emprego, e as oportunidades da vida política, econômica e cultural da sociedade. Alinhar esses elementos em um cabo de força constante, nunca foi tarefa fácil, ainda mais quando contrapostas por privilégios que se mantêm dessa diferença, parafraseando Pilar del Rio - Presidenta da Fundação Saramago sobre Direitos Humanos, que para corrigir um deficit democrático, entre outras demandas , 8 deve se legalizar o casamento igualitário, bem como aplicar-se a equidade do papel da mulher na sociedade, e lutar contra a opressão de gênero. Corroborando com a lógica democrática, os tribunais já se manifestam com a devida proteção de minorias sem representatividade, reconhecendo e efetuando a aplicação da isonomia, bem como a dignidade da pessoa humana no reconhecimento e qualificação da união estável homoafetiva como entidade familiar, como a exemplo: Supremo Tribunal Federal STF - AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO : RE 477554 MG União civil entre pessoas do mesmo sexo - Alta relevância social e jurídico-constitucional da questão pertinente às uniões homoafetivas - Legitimidade constitucional do reconhecimento e qualificação da união estável homoafetiva como entidade familiar: Posição consagrada na jurisprudência do supremo tribunal federal (ADPF 132/RJ e adi 4.277/DF) - O afeto como valor jurídico impregnado de natureza constitucional: A valorização desse novo paradigma como núcleo conformador do conceito de família - O direito à busca da felicidade, verdadeiro postulado constitucional implícito e expressão de uma ideia-força que deriva do princípio da essencial dignidade da pessoa humana - Alguns precedentes do supremo tribunal federal e da suprema corte americana sobre o direito fundamental à busca da felicidade - Princípios de Yogyakarta (2006)6: direito de qualquer pessoa de constituir família, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero - Direito do companheiro, na união estável homoafetiva, à percepção do benefício da pensão por morte de seu parceiro, desde que observados os requisitos do art.1723 do Código Civil - o art. 226, § 3º, da lei fundamental constitui típica norma de inclusão – A função contra majoritária do supremo tribunal federal no estado democrático de direito - A proteção das minorias analisada na perspectiva de uma concepção material de democracia constitucional - O dever constitucional do estado de impedir (e, até mesmo, de punir) qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais (CF, art. 5 ) A força normativa dos princípios constitucionais e o fortalecimento da jurisdição constitucional: Elementos que compõem o março doutrinário que confere suporte teórico ao neoconstitucionalismo - recurso de agravo improvido. Ninguém pode ser privado de seus direitos em razão de sua orientação sexual. ________________________ 6.Princípios sobre a aplicação da legislação internacional de direitos humanos em relação à orientação sexual e identidade de gênero. 9 3. BEM JURÍDICO TUTELADO No momento, a violação aos Direitos Humanos da população LGBT constitui vilipêndio as normas e princípios constitucionais de bens jurídicos de uma coletividade, do qual a premente necessidade e assegurar vidas ceifadas de formas diversas, de uma rede fascista, opressora e sistêmica. O reconhecimento da violação, se faz indispensável para a efetivação da democracia diante de minorias, e promovendo a tutela da pessoa humana, uma das metas do Estado Democrático de Direito7. No que tange a proteção dos direitos de LGBTs e outros direitos correlatos, estabelece-se a partir da luta pelos Direitos Civis8 que amparou os ideais de Stonewaal9, com lideranças trans negra e latina de Marsha Simpson e Sylvia Rivera escorada pelo Movimento Panteras Negras. De acordo com Toledo (1994, p. 15) “Bem em um sentido mais amplo, é tudo aquilo que nos apresenta como digno, útil, necessário valioso [...] Os bens são, pois, coisas reais, ou objeto ideal dotado de” valor “, isto é, coisasmateriais e objetos imateriais que além de ser o que são, valem”. Portanto, conforme supracitado, recomenda-se que a inclusão da abordagem seja realizada. Estabelecendo engendrarem científica, controle educacional e deontológico, órgãos controladores nas instituições, mormente o jurídico, e posteriormente garantias institucionais que fomentem penalidades administrativas perante os agentes. Diante do cíclico retrocesso das garantias constitucionais, e da difícil reparação e suas consequências, a comunidade acadêmica e científica, tem o dever de erradicar movimentos contrários a construção do mínimo democrático o qual não se limita apenas à práticas acima mencionadas. ________________________ 7.O Estado democrático de direito é um conceito que designa qualquer Estado que se aplica a garantir o respeito das liberdades civis, ou seja, o respeito pelos direitos humanos e pelas garantias fundamentais, através do estabelecimento de uma proteção jurídica. 8.Os direitos civis referem-se às liberdades individuais, como o direito de ir e vir, de dispor do próprio corpo, o direito à vida, à liberdade de expressão, à propriedade, à igualdade perante a lei, a não ser julgado fora de um processo regular, a não ter o lar violado. 9.A Rebelião de Stonewall foi uma série de violentas manifestações espontâneas de membros da comunidade LGBT contra uma invasão da polícia de Nova York que aconteceu nas primeiras horas da manhã de 28 de junho de 1969. 10 Destarte, a estabilidade e segurança jurídica, se faz mister para a manutenção da democracia como já referido, marcando cirurgicamente o bem jurídico tutelado, determinando quais os bens jurídicos protegidos, por intermédio de procedimentos mais funcionais no combate as violações direcionadas. Ainda que falemos sobre o reconhecimento das violações de forma individualizadas sobre grupos específicos, percebe-se que afetam diretamente o ser humano, ultrapassa a esfera individual e alcança a espécie humana e sua dignidade, identidade e integridade. 4. DISCRIMINAÇÃO E INTOLERÂNCIAS CORRELATAS 4.1 FEMINICÍDIO Com a colocação no ranking mundial que oscila entre a sétima e quinta maior na taxa de feminicídio, e segundo últimos dados Organização Mundial de Saúde (OMS), e com o número de assassinatos de mulheres negras ascendendo 54% , passando de 1.864 para 2.875 até 2013, nos mantemos até hoje estagnados nessa infeliz e vergonhosa colocação. Alvos de machismo, racismo, etnocentrismo, lesbofobia e por outras formas de desigualdades que se manifestam, a deflagração de conflitos com base em gênero e os ciclos de violência, culminam com as mortes violentas de mulheres. Segundo Stela Meneghel10, pós-doutora em medicina de Porto Alegre com especialização em saúde pública e gênero e professora da UFRS, essa violência, que tem como objetivo controlar as mulheres, com processos de colonização. Feminicídios são a síntese da crueldade, e marcado pela impossibilidade de defesa, tortura e mutilações no corpo e na alma, fomentado pela omissão e impunidade proporcionada pelo poder público que arma de certeza de impunidade os algozes agressores. ________________________ 10. Stela Nazareth Meneghel-Médica -Coordenadora da Comissão de Graduação, Coordenadora substituta do Programa de Pós Graduação e membro da Escola de enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Dossiê Violência Contra Mulheres. 11 Baseadas no gênero, os episódios que estão por trás da violência, acalentados culturalmente, vão desde a posse sobre a mulher, controle sobre seu corpo, desejo, limitação da emancipação profissional, econômica e manifestações de desprezo e ódio pela mulher e por sua condição identitária. Conforme preconiza, a violência que também ocasionam em óbitos, visa o adestramento para que se estabeleça a posição de inferioridade, portanto, o feminicídio não é pontual e menos ainda acaso, é política socioeconômica de fomentação ao genocídio. 4.2 RACISMO Nesse mesmo infeliz liame, de exploração de uma espécie pela própria, a ideologia de supremacia racial que visa afirmação de raças puras, tenta justificar-se para mantença de uma hegemonia política e social, afirmando sobreposição de direitos nem que para isso usem fenótipos estigmatizados de um grupo. Ainda nesse sentido, estabelece-se uma ordem piramidal que impõe através da estruturação de direitos e garantias sobre os demais, usando-se pra isso uma natureza econômica da escravidão, no caso do Brasil, que apesar de abolida ainda subsisti estruturando a riqueza construída no massacre de negros e índios. A religião católica, que apoia a tese de paganismo, a ausência da alma, consciência e inteligência de negros, índios (silvícolas), muçulmanos (sarracenos), entre outros, para usufruir da exploração e dominação econômica, nunca poupou nenhum grupo contrário aos seus interesses eclesiásticos, como documentado historicamente na bula pontifícia Dum Diversas onde o Papa Nicolau V expressamente reconhece o direito dos reis da Espanha e Portugal, de conquistar quaisquer “pagãos” e mantê-los sob “servidão perpétua”. Tal posicionamento teria sido confirmado também por papas posteriores (Calisto III, em 1456, Sixto VI, em 1481, e Leão X, em 1514). O mesmo Nicolau V, em 1455, emitiria a bula Romanus Pontifex, estendendo esse direito a outras nações católicas do continente, ou seja homologava a ideologia de supremacia. 12 Baseado no darwinismo seleção e evolução das espécies, ideologias se apoiaram na teoria, como o nazismo e o kardecismo, este último como introdutor da ideologia de cunho religioso, de codinome Kardec, cujo verdadeiro nome era Hypolite Léon Dénizard Rivail – Educador 1804/1869 fundador do espiritismo moderno, teorizam essa sobreposição, para justificar a dominação de espécie sobre a mesma, como pode-se encontrar o seguinte texto, escandalosamente racista, do fundador do espiritismo moderno: "[...]O progresso não foi, pois, uniforme em toda a espécie humana; as raças mais inteligentes naturalmente progrediram mais que as outras, sem contar que os Espíritos, recentemente nascidos na vida espiritual, vindo a se encarnar sobre a Terra desde que chegaram em primeiro lugar, tornam mais sensíveis a diferença do progresso(sic!). Com efeito, seria impossível atribuir a mesma antiguidade de criação aos selvagens que mal se distinguem dos macacos, que aos chineses, e ainda menos aos europeus civilizados" (Allan Kardec, A Gênese, ed. cit. p. 187) Típica estruturação de cultura exploratória que tentam justificar-se, que no caso tal sustentação, serviu ao Império Colonial Francês e seu conjunto de Colônias estabelecido na América, Ásia, África e Oceania, que desde o ano de 1534 até 1980 pilharam grande parte da civilização. No Brasil, encabeçando esse deficit, a conta negativa atribuída aos negros, que ao passo dos tempos amarga o extermínio da juventude negra em escala assustadora na periferia, seguido no fronte da população carcerária de maioria de pele escura, como a nova nau condutora da escravidão e poderio, ainda que se tente imprimir o mito da democracia racial propagada pela ditadura militar. O espaço imposto e cerceado, resultante do racismo secular de 400 anos de escravidão e controle da população afrodescendente, em comunidades aonde há pouca adesão em cargos públicos ou ascensão social, estampa os contrastes mais marcantes da nossa miserabilidade, conforme menciona Angela Davis, 72, ícone da luta pelos Direitos Civis nos EUA, em entrevista a Folha de São Paulo concedida a jornalistaEleonora de Lucena em 24/09/2016 São Paulo: “[...]Brasil e EUA ainda são assombrados pelo fracasso em abolir completamente a escravidão. A violência policial e a política de encarceramento em massa expressam o racismo estrutural e estão na base da desigualdade racial.” 13 E segue apontando de forma descritiva a evolução sistêmica, em que a economia possibilita a performance da opressão, quando não alterando seus personagens: “[…] Ao longo da história do capitalismo, desdes a sua era de formação, a do comércio de escravos africanos, até o período atual do capitalismo global, o racismo desempenhou um papel significativo. Mas supor que ele é simplesmente uma criação da classe trabalhadora é simplificar uma relação que é muito mais complexa […] O aumento da desigualdade racial, sustentado pelo encarceramento em massa e pela violência do estado simbioticamente relacionados com a violência íntima[...]” Não menos bestial e aterrorizador, o massacre da população indígena preencheu de sangue , vísceras, ouro, prata e gemas preciosas a pilhagem europeia, passando por vários massacres invisíveis, e persistindo na contemporaneidade como envenenamento em massa de açúcar com arsênio (H3AsO4)11 composto letal, como denuncia o relatório Figueiredo, que foi encomendado pelo Ministro do Interior em 1967 e causou um clamor internacional depois que revelou crimes contra a população indígena do Brasil nas mãos de latifundiários poderosos e do próprio departamento do governo para assuntos indígenas. O documento de mais de 7.000 páginas, compilado pelo Procurador Jader de Figueiredo Correia, detalhou o assassinato em massa, tortura, escravidão, guerra química, estupro, roubo de terras e negligência institucional travada contra a população indígena do Brasil. O Massacre dos Cinta Larga, a exemplo de Genocídio- Lei Nº 2.889/56, também conhecido como o Massacre do Paralelo 1112, é a primeira denúncia internacional de genocídio de grupos indígenas, habitantes das terras que se estendem do leste de Rondônia (RO) ao noroeste do Mato Grosso (MT), que no município de Aripuanã/ Mato Grosso em 1963, quando do início da exploração petrolífera americana na Amazônia, que com requinte de crueldade que nenhum ________________________ 11.Arsênio Elemento químico, semimetal pesado que causam gangrenas e câncer de pele, e se ingeridos levam a óbito. 12.Primeira denúncia internacional do Brasil de prática de genocídio, de destruição de uma etnia indígena,em 1963. 14 bárbaro poderia imaginar, crianças forma penduradas ponta a cabeça, estupradas e rasgadas ao meio com facão no meio das pernas, mortas com tiros certeiros na cabeça, atrocidades que faziam parte do processo de desocupação de terras indígenas articuladas por conglomerado petrolífero, setores de inteligência americana e governos locais (1961/1964) e acobertadas pelo Ministério Público da época. Homens armados matam rotineiramente índios com a consciência que há pouco risco de serem julgados e punidos, com a finalidade de remover entraves a sanha capitalista e fomentar economia de ruralistas. 4.3 LGBTFOBIA Ao desembarcarem no Brasil em 1500, os portugueses encontram muitos índios e índias praticantes do “abominável pecado da sodomia”, mapeando tais costumes, no interesse de demonstrar que tal manifestação era comum em sociedades indígenas brasileiras, sem que houvessem estigmas sobre essas pessoas por parte de seu grupo, contudo, a eurocentrada repulsa se estabelece, instaurando pena de morte através de Carta Régia (1532), e recebendo homossexuais deportados de Lisboa para Pernambuco, e também do Porto a lésbica Isabel Antônio para Salvador (BA) , da mesma forma os Tupinambás, afeiçoados ao pecado nefando (Tratado Descritivo do Brasil – 1587) foram exterminados pelo higienismo homofóbico colonizador. Institucionalizado o massacre na colônia até o presente, constata-se que o extermínio perdura com o fundamentalismo religioso das bancadas, estruturado na sociedade. “A homofobia é como o racismo, o antissemitismo e outras formas de intolerância na medida em que procura desumanizar um grande grupo de pessoas, negar a sua humanidade, dignidade e personalidade.” (Relatório Anistia Internacional 2016) A Lgbtfobia desde 1991 é considerada pela Anistia Internacional como violação dos Direitos Humanos, não diferem da misoginia, racismo ou xenofobia, ao contrário a das outras violações, esta são negligenciadas por governos em relação a regulamentação do crime de homofobia. 15 Apesar dos direitos humanos preverem proteção a “tod@s” (gênero neutro), sem diferenciação, as situações em que se encontram não são iguais, o que carece análise e resultado específico para o combate das violações que os atingem. O Relatório de Assassinatos LGBT no Brasil de 2016, elaborado pelo Grupo Gay da Bahia aponta que o ano foi fechado com mais de aproximadamente 340 mortes, maior número registrado nos últimos anos. O crescimento tem como causa, a abordagem das informações com mais organização de dados em contrapartida do reacionarismo conservador em maior escala e o maior número de conscientização da comunidade em relação a identidade política, o que nos deixa com maior exposição ao risco, aumentando a taxa de homicídio. Ocorrendo em vias públicas, as causas variam de tiros, facadas, asfixias, espancamento, informações estas reconhecida pela Secretaria de Direitos Humanos conforme relata o pesquisador/administrador Eduardo Michels https://homofobiamata.wordpress.com, que mantém um banco de dados deste genocídio de LGBT: “[...]a subnotificação destes crimes é notória, indicando que tais números representam apenas a ponta de um iceberg de violência e sangue, já que nosso banco de dados é construído a partir de notícias de jornal e internet. Infelizmente são raríssimas as informações enviadas pelas mais de trezentas Ongs LGBT brasileiras. A realidade deve certamente ultrapassar em muito tais estimativas, sobretudo nos últimos anos, quando policiais e delegados cada vez mais, sem provas e sem base teórica, descartam preconceituosamente a presença de homofobia em muitos desses “homocídios”. Além de serem dados absurdos porém reais, ao mesmo tempo que mais matam, e o que tem a maior clientela para profissionais de sexo trans. No país inteiro, existem 1,4 milhão pessoas trans, e 90% delas vivem do mercado do sexo, por causa da exclusão e do preconceito que sofrem no mercado de trabalho formal, em casa e nas escolas. Desta forma, desigualdades e iniquidades aglutinam uma cadeia diversificada de discriminação, tendo gênero e raça como posições controladas pelo regime heteronormativo masculino e branco, fortalecidas por condições institucionais e sistêmicas, individuais e coletivas. 16 Ainda, a percepção intersecccionalizada13 possibilita a elucidação e compreensão da engenharia homofóbica,racista e machista. A interface na vida de minorias nas diversas estruturas de poder é a consequência de diferentes formas de dominação ou de discriminação e seus fenômenos. 5. INSTITUCIONALIZAÇÃO E SISTÊMICA DO ÓDIO 5.1 LEGUM ODIO – Ódio Legislativo São inúmeras as configurações que instrumentalizam o horror ao grupo LGBT, desde o poder legislativo, que tenta criminalizar a transmissão do HIV – PL198/15 - Pompeo de Mattos (PDT/RS), até um projeto de listagem pública que expõe a condição sorológica do portador doHIV – PL 2204/09 Jorge Babu (PT/RJ) bem como o Pedido de Decreto Legislativo (PDC) para sustar o ato da ex-presidenta Dilma, que reconheceu os nomes sociais de transexuais e travestis no serviço público (Projeto de Decreto Legislativo de 2016), conforme abaixo: “Susta o Decreto nº 8.727, de 28 de abril de 2016, que “Dispõe sobre o uso do nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de pessoas travestis e transexuais no âmbito da administração pública federal direta, autárquica e fundacional.”(Do Sr. João Campos, Evandro Gussi, Paulo Freire, Diego Garcia, Gilberto Nascimento, Flavinho, Geovania de Sá, Pr. Eurico, Ronaldo Nogueira, Marco Feliciano, Givaldo Carimbão, Prof. Victório Galli, Eros Biondini, Carlos Andrade, Missionário José Olímpio, Ezequiel Teixeira, Elizeu Dionizio, Anderson Ferreira, Marcelo Aguiar, Alan Rick, Ronaldo Fonseca, Marcos Rogério, Sóstenes Cavalcante, Tia Eron, Jony Marcos, Rosângela Gomes, Carlos Gomes, Silas Câmara) ________________________ 13.Interseccionalidade é um conceito sociológico que estuda as interações nas vidas das minorias, entre diversas estruturas de poder , a Interseccionalidade é a consequência de diferentes formas de dominação ou de discriminação, foi batizado desta maneira por Kimberlé Williams Crenshaw -Advogada e Feminista (1959) 17 Concorrendo ao pior argumento de retrocesso, a aplicação da teoria pseudonaturalista de padrões de família para enquadramento constitucional, a campanha de ódio a família parental14 – Em Favor da Preservação da Espécie Humana -“Deus fez macho e fêmea” (Gênese 1:27), atrelado ao fundamentalismo religioso estabelecido no poder legislativo que veremos adiante. 5.2 SACRUM ODIO – Ódio Religioso Nessa perspectiva, a abordagem é feita pelos mesmos espectros contornados de sacralidade em segmentos diversos, inclusive nas Religiões de Matriz Africana 15, como uma recente campanha em rede social que viralizou de incitação ao ódio aos afeminados inseridos neste grupo, que os desqualificavam para o transe espiritual, que mencionava: “Você é gay , seu Orixá não!”, numa néscia tentativa de apartamento social entre os próprios infelizes apartados. A oposição as campanhas de prevenção a propagação da epidemia como os da igreja católica opondo-se ao uso de preservativo, em alguns países por is só, seriam afronta a saúde pública. 5.3 EXSECUTIVAM ODIO – Ódio Executivo A oposição do poder executivo na aplicação dos diretos humanos e ampliação do discurso de ódio é tão comum a ponto de albarroar o STF, hoje sete leis municipais questionam a aplicação da discussão do tema gênero no programa curricular de ensino, com fundamentação dos pedidos extremamente religiosa que estimulam a violência, sofrimento, marginalização e evasão escolar de LGBTs, colocações classificadas pelo anterior Procurador da República Rodrigo Janot - ADPF 460, 462, 465, 466 e 467, in verbis: “[...]É obscurantista, porque almeja proscrever o próprio debate sobre uma realidade humana”. (Rodrigo Janot) ________________________ 14.Maria Berenice Dias (2008, p.49), em seu livro Manual de Direito das Famílias exemplifica essa possibilidade de formação familiar. 15.Religiões de matriz africana são as religiões cuja essência teológica e filosófica é oriunda das religiões tradicionais africanas 18 A fim de facilitar a visualização a estruturação nessa vertente, a exemplo, a prática de exclusão de profissionais da área de educação, com a inclusão da pauta gênero nas escolas através do PNE (Plano Nacional de Educação - Lei 13.005/14), aprovado pelo Congresso Nacional, sinaliza algumas da muitas exclusões de profissionais de educação como oposição ao Plano, conforme informa o blog da Ativista - Educadora Faiza Khalida: “A PRÁTICA SISTEMÁTICA E TRANSFÓBICA DA DEMISSÃO DE PROFESSORAS TRANSEXUAIS E O PRECONCEITO NO MERCADO DE TRABALHO. TRANSFOBIA NAS ESCOLAS E NA EDUCAÇÃO PÚBLICA E PARTICULAR. Luíza Coppieters, Camila Godoi, Vitória Bacon, Laysa Carolina Machado, Sangita, Nicolly Bueno, "Natiely", Dávila Medeiros, Mayte Pradocampos, Herbe de Sousa, Mara Michele, Thalia Agnys e Faiza Khálida foram algumas professoras transgêneras, transexuais ou travestis que foram demitidas, perseguidas com relatórios difamatórios, desviadas de função, desprezadas, devolvidas, agredidas, discriminadas, rejeitadas, difamadas, julgadas, condenadas, que sofreram desgastes emocionais, bullying, chacotas, assédio, constrangimento ou que passaram a ter problemas de saúde como depressão e síndrome do pânico por causa do preconceito às suas identidades de gênero.” Faiza Khalida – faizakhalida.blogspot.com.br 6. ESTIGMA SOCIAL - Isolamento, Apartamento e Morte Civil O estigma associado as epidemias e enraizado ao longo dos tempos , desde a antiguidade, é apresentado em trabalhos historiográficos, tais como o trabalho intitulado O Estigma da Lepra - A Experiência de Exclusão de Maria Inês Rauter Mancuso, que analisa o depoimento de uma interna na década de 1940, em um sanatório de Aymorés-Bauru - Instituto Lauro de Souza Lima (ILSL) · Bauru -SP. A tentativa de minimizar os danos do estigma atribuidos a epidemias, se repetem em duvidosa eficácia, a decretação da proibição do termo “lepra” para Hanseníase com o decreto de n° 165 de 14/05/76, e posteriormente do termo “aidético” pelo decreto da ex-presidenta Dilma Rousseff, reagem como termos paleativos porque não acompanham um trabalho de educação em saúde no sentido de mudar, na coletividade, o comportamento e as atitudes em relação a epidemia e as pessoas por ela atingidas. 19 Lazaretto-Leprosário-Colônia, em que grau a mudança de nomeclatura pode alterar o funcionamento efetivo de uma instituição de concentração compulsória ou o termo designado aos internos? O letreiro da entrada do campo de concentração nazista de Schutzita, com os dizeres "Arbeit macht frei" ("O trabalho liberta", em alemão), nunca foi tão aterrador. Era eminente no início da epidemia do HIV/AIDS o óbito, seguido do diagnóstico, o que com o avanço das pesquisas sobre a patologia e conseguinte a inovação no tratamento que inibe a replicação do vírus, aumentou a sobrevida e diminuiu o terror da infecção e seus efeitos sobre o sistema imunológico, possibilitando o controle da doença. Diante de comprovada relação do estigma social sofrido pela populção LGBT portadores de HIV/AIDS, em que a condição representa coeficiente estressante acarretando em imunologia depressiva, tornando-se mais vulneráveis ao vírus do HIV e outras doenças oportunistas. Logo, percebe-se a relevância da abordagem dos profissionais de Direito que atuam na defesa de direitos constitucionais, não somente para os afetados pela epidemia, mas para toda estrutura social, salientando a demanda das violações e empenho na abordagem nas pautas de Direitos mais democráticas. A relação intermitente entre preconceito e HIV, experimentada pela população marginalizada e cerne da infeliz associação, que impossibilita parte do tratamento e mantém o avanço da epidemia. Por sua vez, o estigma na sua forma internalizada, tem efeito igualmente potencializador da perda de qualidade de vida, sobre o equilíbrio psicológico das pessoas vivendo com HIV, afetando a capacidade de viver positivamente, limitando a gerência de suas vidas. 7. PROTAGONISMO DA SAÚDE LGBT EM DIREITOS HUMANOS Somente a discriminação por orientação sexual e por identidade de gênero já afetam a definição social da sáude da população LGBT, o sofrimento e adoecimento que resultam do preconceito e o estigma socialem que estão expostos, são 20 entraves para a garantia mínima de saúde. Nesse cenário abjeto, o portador do HIV/AIDS, prima pela inserção da garantia desse direito básico, num desafio em busca o direito a saúde, em um quadro em que uma cada oito pessoas vivendo com HIV tem negados o direto aos serviços básicos de saúde por causa do estigma e da discriminação. Numa discussão restrita a área jurídica, as limitações da legislação, afastam a construção de uma cidadania cotidiana, que somente será erguido apartir do enfrentamento que requer uma demanda fracionada, entendendo os segmentos vivenciados de seus agentes. O que se dará somente a partir de um inventário de revindicação que viabilize e atenda as demandas das violações, no contato dos cidadãos com a patologia, analisando os serviços que estes usufruem o até mesmo se submetem, bem como as condições sócio-econômicas, que desafiam a efetivação mínima do direito à saúde. A Conferencia Nacional de Saúde indica que a definição de direito a saúde, deverá ser definida apartir de cada momento de grupos especificados, e suas necessidades. As recomendações da 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1987, apontaram neste sentido, ao estabelecer que o conceito de saúde deverá ser definido em cada momento histórico e a partir de cada luta social travada no contexto local. Isto é, cada sociedade deverá definir em cada tempo, a partir de sua conjuntura econômica, social e cultural, o que significa para uma determinada população ter saúde, com reflexos no significado desse direito. Ao mesmo tempo, a CNS delimitou, a partir das experiências cotidianas dos diferentes atores sociais naquele momento histórico em 1987, o que significava saúde e direito à saúde. Em seu sentido mais abrangente, a saúde é a resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio-ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso e serviços de saúde. A saúde não é um conceito abstrato, define-se no contexto histórico de determinada sociedade, e num dado momento de seu desenvolvimento, devendo ser efetivado para a população, que em suas lutas cotidianas são renegadas. 21 Direito à saúde significa a garantia, pelo Estado, de condições dignas de vida e de acesso universal e igualitário às ações e serviços de promoção, proteção e recuperação de saúde, em todos os seus níveis, levando ao desenvolvimento pleno do ser humano em sua individualidade (CNS - 1987). O aumento de casos de sífilis, não se trata de obra do acaso, sem falar outras Infecções Sexualmente Transmitidas (IST), já que o HIV não é o único e alarmante em crescimento, a falta de informação não onera a sáude apenas de LGBT, de uma forma democrática é um problema que afeta a todos. Em um sistema educacional aonde são retirados de seus planos – Plano Nacional de Educação (PNE – 2014), debate sobre gênero e orientação sexual que possibilitariam o freamento do aumento do estigma causado pela desinformação além da própria epidêmia, aonde uma plataforma política tem como meta suprimir as palavras gênero, identidade e orientação sexual, legisla reacionareamente contra projetos de lei que detém o tema. Em contrapartida, o que mantém, e que impede o retrocesso total dos direitos adquiridos são ações de grupos para estatais que atuam aguerridamente no enfretamento da epidemia. 8. O DIREITO NO COMBATE DA EPIDEMIA A abordagem de direitos humanos para portadores HIV/AIDS, se faz mister na afirmação dos princípios democráticos da carta magna a serem resgatados dioturnamente, para além dos interesses políticos dos programas de saúde pública, ineficientes, precários e sucateados. Enfatizar os direitos violados do grupo LGBT vivendo com HIV, propõe erradicação além do estigma, traz a consicientização de seus direitos capacitando para atuarem em casos de violação. A remoção de entraves aos direitos básicos, no caso saúde, é fundamental para a supressão da epidemia. Perceber esse prisma nas abordagens de direitos e garantias constitucionais, esta inserido nas atribuições da advocacia, portanto interpelar os direitos básicos de grupos excluidos é de fato contribuir para o estreitamento das desigualdades e amadurecimento da cultura jurídica. 22 9. AÇÕES PROPOSITIVAS E ENFRENTAMENTO Diante da análise das interfaces da opressão,evidenciamos indicadores a serem visualizados e monitorados no processo de enfrentemento das violações de direitos de portadores de HIV na população LGBT e controle epidêmico. Importante assinalar que as definições referenciadas neste estudo fundamenta-se no pressuposto central de que a eliminação e combate a epidêmia requer propostas em Direitos Humanos parte das iniciativas, ações e políticas. A seguir propomos um elenco de procedimentos a partir da perspectiva estudada, a fim de agirem de forma a diminuir a retaliação do direito a saúde, quais sejam: PROCEDIMENTOS PARA COMBATE A VIOLAÇÃO DO DIREITO A SAÚDE RESPOSTA AÇÃO INDICADORES Qualidade dos serviços: *competência cultural13,racial, e de identidade de gênero (Enfermagem Cultural) •capacidade de comunicação •conhecimentos •enfrentamento a preconceito e estereótipos Efetivação de políticas públicas singularizadas segundo grupos de gênero e identidades; Ampliação de gestão voltada para a participação e resolutiva Ampliação da capacidade indutora e reguladora dos mecanismos de promoção da igualdade de gênero e intolerâncias correlatas. Fixação de ações afirmativas para ampliação da diversidade de identidade de gênero; Amplificar treinamentos para a capacidade institucional de diálogo e acolhimento da diversidade para o enfrentamento a HomoLesboTransfobia; Desenvolvimento de processos de avaliação periódica da competência e iniquidades institucional para enfrentamento; Posicionamento dos mecanismos de enfrentamento e eliminação das iniquidades de gênero na hierarquia de órgãos superiores; Percentual de participação nas ações afirmativas e outros estímulos à contratação de diferentes profissionais LGBT nas áreas de conflito; Localização dos mecanismos de enfrentamento a eliminação das iniquidades de gênero no organograma institucional. 13. Competência Cultural, é um conjunto de comportamentos harmoniosos, atitudes e políticas que reúnem-se em um sistema, agência ou no meio de profissionais que capacita trabalho eficaz em situações interculturais. 23 10. CONCLUSÃO Obstacularizar o direito a saúde do portador de HIV é parte da estruturação da LGBTfobia, a política do ódio, não necessariamente declarada, inserido nas estruturas sociais, erguidas através de hediondo instrumentação legal, impede o exercício de cidadania e direitos de pessoas. A luta contra esse ódio, estampado com a morte diária de Travestis e Transexuais que segundo dados da ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) até o momento em se publicava a informação, era de aproximadamente 114 óbitos no início do ano de 2017, requer esforço coletivo em setores diversos, em que inclua econômia, política, e demais vertentes. Algumas ações afirmativas, como a inclusão do nome social no ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio, permitindo a acessibilidade e evitando o constrangimento e a violação da dignidade da pessoa, são avatares que devemos seguir, apesar da morosidade e oposição que se enfrentam nessas ações afirmativas. Direcionar caminhos igualitários dinamizando a redução de danos em gruposvulneráveis, através do enfrentamento rotineiro de profissionais e agentes de áreas diversas, devem ser metas traçadas e operacionalizadas, habitualizando a sociedade ao debate, inteirando forças para aplicação da diminuição da operacionalização do ódio. Nítida e clara e a relação entre violação de direitos de grupos em desvantagem em relação a sáude, especificamente aos infectados pelo HIV e outras doenças, que apesar de avanços obtidos no combate a epidemia com parco investimento e precária promoção de direitos humanos, proporciona o avanço da epidemia. O antognonismo a ser enfretado por parte de gestores é descomunal, diante da iminente necessidade de efetivação de direitos, dessa forma urge que o Plano Nacional, coopere de forma eficiênte para compelir o avanço da doença e do preconceito, já que esta e outras ações dos direitos humanos LGBT são, absolutamente relacionados com o fomento do combate contra a AIDS. 24 11. REFERÊNCIA BIBLIOGRAFIA AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO : RE 477554 MG. Disponível em: https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/20623277/agreg-no-recurso-extraordinario- re-477554-mg-stf. Acesso em 31 de outubro de 2017 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. DEBELAK, C.; DIAS, L. ; GARCIA, M. 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