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Geologia e Paleontologia 2 CAPÍTULO I. ESTUDO DA TERRA I.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO DA TERRA I.2 CONSTITUIÇÃO INTERNA DA TERRA I.3. METEORITO I.4. DISTRIBUIÇÃO DOS ELEMENTOS NA CROSTA TERRESTRE I.5 CLASSIFICAÇÃO GEOQUÍMICA DOS ELEMENTOS CAPÍTULO II. DINÂMICA INTERNA II.1.VULCANISMO II.2. TERREMOTOS II.4. TSUNAMIS II.3. VULCANISMO E TERREMOTO NO BRASIL CAPÍTULO III. TEORIA DA TECTÔNICA DE PLACAS III.1. ORIGEM DAS PLACAS E DOS SEUS MOVIMENTOS III.2 FALHAS E DOBRAS III.3. ORIGEM DAS MONTANHAS CAPÍTULO V. MINERALOGIA V.1 CICLO GEOQUÍMICO V.2 TÉCNICAS DE ANÁLISE MINERALÓGICA E PETROGRÁFICA V.3 PROPRIEDADES DOS MINERAIS V.4. CRISTALOGRAFIA ESTRUTURAL E MORFOLOGIA DOS CRISTAIS V.4.1 Sistemas Cristalinos V.5. CLASSIFICAÇÃO QUÍMICA DOS MINERAIS V.6. PROPRIEDADES FÍSICAS V.7. PROPRIEDADES ÓPTICAS V.8. PROPRIEDADES QUÍMICAS V.9. ESQUEMA DE IDENTIFICAÇÃO MACROSCÓPICA CAPÍTULO VI. PETROGRAFIA VI.1 ROCHAS SEDIMENTARES VI.2 ROCHAS ÍGNEAS VI.3 ROCHAS METAMÓRFICAS CAPÍTULO VII. DINÂMICA EXTERNA VII.1 PROCESSOS VII.2 INTEMPERISMO VII.3 EROSÃO VII.4 TRANSPORTE VII.5 DEPOSIÇÃO CAPÍTULO IV. TEMPO GEOLÓGICO IV.1. MAGNITUDE DO TEMPO GEOLÓGICO IV.2. DATAÇÃO RADIOMÉTRICA (ABSOLUTA) IV.3. MÉTODO RADIOCARBÔNICO BIBLIOGRAFIA Geologia e Paleontologia 3 Capítulo I. ESTUDO DA TERRA A curiosidade natural do homem em desvendar os mistérios da natureza levou-o ao estudo da Terra. Perguntas tais como: de onde vem as lavas dos vulcões; o que causa os terremotos; como se formam as montanhas; de que modo se formaram os planetas e as estrelas, e muitas outras, sempre foram enigmas que o homem vem tentando decifrar. O principal fator que impulsiona o homem a melhor conhecer a Terra é o fato de ter que usar materiais extraídos do subsolo para atender as suas necessidades básicas. Na idade Média, acreditava-se que a Terra era o centro do Universo e que todos os outros astros, como o Sol, a Lua, os planetas e as estrelas giravam em torno dela. Com o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, o homem pôde comprovar que a Terra pertence ao um conjunto de planetas e outros astros, que giram em torno do Sol, formando o sistema solar. Descobriu- se também que a própria Terra se modifica através dos tempos. Por exemplo, áreas que hoje estão cobertas pelo mar, há 15 mil anos eram planícies costeiras, semelhante à baixada de Jacarepaguá; regiões que estavam submersas há milhões de anos, formam agora montanhas elevadas como os Alpes e os Andes. Lugares onde existiam exuberantes florestas estão hoje recobertas pelo gelo da Antártica ou transformaram-se em desertos, como o Saara. O material que atualmente constitui montanhas, como o Pão de Açúcar e o Corcovado, formou-se a centenas ou milhares de metros abaixo da superfície terrestre, há muito milhões de anos (SBG, 1987). Estas transformações são causadas por gigantescos movimentos que ocorrem continuamente no interior e na superfície da Terra. Por serem transformações muito lentas, o homem não pode acompanhá-las diretamente, pois ele só apareceu há cerca de dois milhões de anos. Isso quer dizer que, se toda a evolução da terra fosse feita em um ano, o homem só teria aparecido quando faltassem dois minutos para a meia-noite do último dia do ano. Além disso, o homem só tem acesso à camada mais superficial do nosso planeta. A distância da superfície até o centro da Terra mede 6.378 km - dois mil quilômetros a mais que a distância entre o Oiapoque e o Chuí, pontos localizados nos extremos norte e sul do Brasil - e a maior perfuração já feita só alcançou 10 km de profundidade. Então, como se pode saber o que existe dentro da Terra em tão grandes profundidades e como descobrir a idade de cada período da história da Terra? Isto é possível através do estudo das rochas, dos terremotos, dos vulcões, dos restos dos organismos preservados nas rochas e das propriedades físicas terrestres, tais como o magnetismo e a gravidade. As rochas são formadas por minerais, que por sua vez são constituídos por substâncias químicas que se cristalizam em condições especiais. O estudo dos minerais contidos em uma determinada rocha pode indicar onde e como ela se formou. Para medir o tempo geológico, utiliza-se elementos radioativos contidos em certos minerais (datação absoluta). Esses elementos são os relógios da Terra. Eles sofrem um tipo especial de transformação que se processa em ritmo uniforme, século após século, sem nunca se acelerar ou retardar. Por este processo chamado RADIOATIVIDADE, algumas substâncias se desintegram, transformando-se em outras. Medindo-se a quantidade dessas substâncias em uma rocha, pode-se saber a sua idade (Capítulo IV). Geologia e Paleontologia 4 A Terra atrai os corpos pelas forças magnética e gravitacional. Estas forças variam de local para local, devido as diferenças superficiais e profundas dos materiais que constituem a Terra. A análise dessas diferenças é outra forma de interpretar o que existe no subsolo terrestre (Tabela I.1). Todos esses estudos fazem parte da GEOLOGIA, a ciência que busca o conhecimento da origem, composição e evolução da Terra. Outras ciências da Terra como a GEOGRAFIA, a OCEANOGRAFIA e a METEOROLOGIA, ocupam-se de outros aspectos do nosso planeta (SBG, 1987). Tabela I.1. Dados numéricos da Terra. I.1 Origem e Evolução da Terra Estima-se que a formação do Sistema Solar teve início há seis bilhões de anos, quando uma enorme nuvem de gás que vagava pelo Universo começou a contrair. A poeira e os gases dessa nuvem se aglutinaram pela força da gravidade e, há 4,5 bilhões de anos, formaram várias esferas que giravam em torno de uma esfera maior, de gás incandescente, que deu origem ao Sol. As esferas menores formaram os planetas, dentre os quais a Terra. Devido à força da gravidade, os elementos químicos mais pesados como o ferro e o níquel, concentraram-se no seu centro enquanto os mais leves, como o silício, o alumínio e os gases, permaneceram na superfície. Estes gases foram, em seguida, varridos da superfície do planeta por ventos solares. Assim, foram separando-se camadas com propriedades químicas e físicas distintas no interior do Globo Terrestre. Há cerca de 4,4 a 4,0 bilhões de anos, formou-se o NÚCLEO - constituído principalmente por ferro e níquel no estado sólido, com raio de 3.700 km. Em torno do núcleo, formou-se uma camada - o MANTO - que possui 2.900 km de espessura, constituída de material em estado pastoso, com composição predominante de silício e magnésio (Figura I.1). Em torno de 4 bilhões de anos atrás, gases do manto separam-se, formando uma camada de ar ao redor da Terra - a ATMOSFERA. Finalmente, há aproximadamente 3,7 bilhões de anos, solidificou-se uma fina camada de rochas - a CROSTA. A crosta não é igual em todos os lugares. Debaixo dos Geologia e Paleontologia 5 oceanos, ela tem mais ou menos 7 km de espessura e é constituída por rochas de composição semelhante à do manto. Nos continentes, a espessura da crosta aumenta para 30-50 km, sendo composto por rochas formadas principalmente por silício e alumínio e, por isso, mais leves que as do fundo dos oceanos (SBG, 1987). I.2 Constituição Interna da Terra As informações das camadasinternas da Terra são obtidas a partir de informações diretas e indiretas. As observações da densidade e da gravidade do globo terrestre mostram que o interior e a crosta devem possuir uma constituição diferente. Observações sismológicas (comportamento das ondas sísmicas) e deduções baseadas em estudos de meteoritos indicam que a Terra é constituída de várias camadas. Figura I.1. Estrutura interna da Terra (Kearey e Vine, 1990). Medições geoquímicas elementares da massa, volume e momento de inércia da Terra indicam que a densidade de seus materiais cresce de fora para dentro, alcançando um valor da ordem de 13 g/cm3 perto do centro (Tabela I.1). As velocidades das ondas sísmicas dão-nos uma idéia detalhada quanto à distribuição dos materiais no interior. Assim haveria uma crosta com uma espessura média de 35 km sob os continentes e 7 km sob os oceanos; um manto que se estende à metade da distância até o centro; um núcleo líquido ocupando cerca de dois terços da distância restante e um núcleo interno sólido (Figura I.1). Geologia e Paleontologia 6 Tabela I.2. Tipos de ondas sísmicas e suas características. A natureza dos materiais de cada uma dessas regiões foram determinadas por medições de ondas sísmicas (Tabela I.2 e Figura I.2), devido as variações da densidade e das constantes elásticas. Devido às diferentes velocidades e percursos, os três tipos de ondas chegam a um sismógrafo em tempos diversos, os registros dessas ondas fornecem a localização do foco do terremoto e informações das camadas inferiores. Para restringir nossas suposições quanto a química do interior, precisamos de dados de outras fontes. Uma possível indicação provém do estudo dos meteoritos. Esses objetos que caem sobre a Terra a partir de órbitas solares são interpretados como fragmentos de um planeta desaparecido, ou possivelmente, resíduos de material que compôs originariamente a Terra. A composição média dos meteoritos deve se assemelhar à composição média de toda a Terra. I.2 Meteoritos Os meteoritos são objetos que se movem no espaço e que atravessam a atmosfera e chegam a superfície da Terra sem serem totalmente vaporizados. Provavelmente, pertencem ao sistema solar e tem origem no cinturão de asteróides localizados entre as órbitas dos planetas Júpiter e Marte. O fenômeno causado pela queda de meteorito é popularmente conhecido como estrela cadente. A composição dos meteoritos é variável, num extremo estão os que são compostos predominantemente de ferro metálico com alguma porcentagem de níquel. Em outro estão os que consistem principalmente de silicatos e assemelhando-se em composição às rochas ultramáficas. Inclui na composição dos meteoritos, tanto silicatos como metal nativo e algumas a fases sulfetadas (troilita FeS). Entre os meteoritos distinguem-se 3 grupos: Sideritos: compostos de ferro metálico com + 8% de Ni; Assideritos ou aerólitos: compostos principalmente por silicatos e baixo teor de ferro; Litossideritos: composição intermediária. A Terra é constituída por uma série de camadas concêntricas de constituição química diferentes e, em estado físico distinto ao redor do núcleo, cada uma dessas camadas tem uma condutividade diferente. Como as velocidades das ondas sísmicas dependem das propriedades e das Geologia e Paleontologia 7 densidades dos materiais através dos quais passam as ondas, as mudanças de velocidade a diferentes profundidades são atribuídas a diferentes composições e densidades e, talvez, a diferentes estados, sobretudo no núcleo (Figura I.2). Os geofísicos reconheceram duas descontinuidades dividindo a Terra em três partes: Crosta: desde a superfície em direção ao centro, até a primeira descontinuidade (Mohorovicic, 30 -50 km). A crosta é dividida em crosta continental (mais espessa e menos densa) e crosta oceânica (menos espessa e mais densa); Manto: desde a base da crosta até a segunda descontinuidade (Wiechert-Gutemberg, 2.900 km); Núcleo: desde a descontinuidade do manto até o centro da Terra. A crosta continental é de composição granítica ou granodiorítica e a crosta oceânica é de composição basáltica, correspondendo ao SIAL (material rico em Si e Al) e ao SIMA (rico em Si e Mg), respectivamente (Tabela I.3). O manto é formado por material silicatado de olivina e piroxênio ou seus equivalentes de pressão e temperaturas altas. O núcleo ou siderosfera é constituído por ligas de ferro-níquel, possivelmente a parte exterior é líquida e a parte inferior é sólida. Para completar, deve-se adicionar a crosta, manto e núcleo, mais três zonas: a atmosfera, hidrosfera e biosfera. A atmosfera é o envoltório gasoso. A hidrosfera a camada descontínua de água, salgada ou doce (oceanos, lagos e rios). A biosfera é a totalidade da matéria orgânica distribuída através da hidrosfera, atmosfera e superfície da crosta. Embora importantes do ponto de vista geoquímico, a hidrosfera, biosfera e atmosfera contribuem com menos de 0,03% da massa total da Terra, a crosta 0,4%, o manto 67% e o núcleo 32%. Tabela I.3. Características da estrutura interna da Terra. I.4. Distribuição dos elementos na crosta terrestre A geoquímica mostra a importância dos elementos que constituem os minerais, cujos objetivos essenciais são: Geologia e Paleontologia 8 A determinação da abundância dos elementos na Terra; A repartição dos elementos nos minerais e nas rochas; Estabelecimento dos princípios que regem a abundância e distribuição dos elementos químicos. A crosta é composta de silicatos de alumínio, sódio, potássio, cálcio, magnésio e ferro. Em função do número de átomos o oxigênio ultrapassa 60% e forma mais de 90% do volume total ocupado pelos elementos. A Tabela I.4 mostra a repartição dos constituintes da crosta terrestre em porcentagem em peso de óxidos, em íons e nos minerais. Tabela I.4. Distribuição dos elementos na crosta terrestre. I.5 Classificação Geoquímica dos Elementos As diretrizes da geoquímica moderna tratam de mostrar onde se podem encontrar os elementos e em que condições. Ex.: Lantânio e potássio encontram-se juntos; telúrio e tântalo “fogem” um do outro. Alguns, embora presentes, estão dispersos como o rubídio no potássio e gálio no alumínio. Háfnio e selênio não são formadores de acumulações e às vezes, se acham tão dispersos na natureza que seu percentual na composição das rochas é ínfimo. Outros elementos como chumbo e ferro durante seu processo de deslocamento experimentam uma parada e formam combinações capazes de acumularem-se com facilidade (Antonello, 1995). A geoquímica estuda as leis da distribuição e migração dos elementos em condições geológicas definidas marcando seu percurso e exploração das jazidas minerais. Goldschmidt foi o primeiro a acentuar a importância da diferenciação geoquímica primária dos elementos, classificando-os da seguinte maneira: Siderófilos: com afinidade pelo ferro metálico; ex.: Cr, V, Co, Ni. Geologia e Paleontologia 9 Calcófilos ou sulfófilos: com afinidade pelo sulfeto, ex.: Pb, Zn, Cu, Ag, Hg, Bi, Sb, Se, Fe, S, As. Litófilos: com afinidade pelo silicato, ex.: O, Si, Al, Na, K, Ca, Mg. Atmófilos: com afinidade pela atmosfera, ex.: O, C, gases nobres, N. Alguns elementos mostram afinidade por mais de um grupo, pois a distribuição de qualquer elemento depende, em certo grau, da temperatura, pressão e ambiente químico, como um todo. Capítulo II. DINÂMICA INTERNA II.1. Vulcanismo Os vulcões são crateras ou fissuras na crosta terrestre através da qual o magma (rocha fundida que se origina em profundidade, abaixo da crosta), sobe até a superfície em forma de lava. Localizam-segeralmente ao longo dos limites das placas crustais; a maioria faz parte de um cinturão chamado “círculo de fogo”, que se estende ao longo das costas do oceano Pacífico. Os vulcões podem ser classificados de acordo com a frequência e violência de suas erupções. As erupções não explosivas, geralmente ocorrem onde as placas crustais se separam, ou seja, nas bordas de placas divergentes (ex. Cordilheira Mesoceânica). Estas erupções produzem lava basáltica (básica) móvel, que se espalha rapidamente por longas distâncias e forma cones relativamente achatados. As erupções mais violentas acontecem onde as placas colidem, bordas convergentes (ex. Andes). Essas erupções expelem lava riolítica (ácidas) viscosa e explosões repentinas de gases, cinzas e piroclastos (fragmentos de lava solidificada). A lava é pouco móvel, percorre distâncias curtas e dá origem a cones de vertentes íngremes. Alguns vulcões apresentam erupções de lava e cinza, que formam os cones compósitos. Os vulcões com erupções frequentes são descritos como ativos; os vulcões dormentes são os que raramente entram em erupção, e os que aparentemente cessam as erupções são considerados extintos. Além dos vulcões, outros aspectos associados às zonas vulcânicas são os gêiseres, fontes minerais quentes, fumarolas e poços de lama borbulhante. Plutonismo é o conjunto de processos magmáticos que ocorrem no interior do planeta e que geram intrusões de magma. Plúton é o corpo de rocha magmática consolidada no interior da crosta terrestre, a partir de uma câmara magmática. Designa-se de rocha encaixante a rocha invadida por um plúton. Figura II.1. Esquema de um vulcão. Geologia e Paleontologia 10 Os plútons podem ser de dois tipos: concordantes (“sill”, lacólito e facólito) e discordantes (“neck”, dique, batólito e "stock"). Material vulcânico: piroclastos: bomba, tufos, lapilli, cinza etc. gases: vapor d'água, CO2, H2S, HCl, SO2 etc. lavas: almofadadas, "aa" e cordadas. A viscosidade do magma é variável, dependendo essencialmente da sua temperatura e da composição química. Magma ácido, isto é, rico em sílica, é mais viscoso do que um magma básico, pouca sílica (Leinz e Amaral, 1987). Magma ácido – rico em sílica – mais viscoso Magma básico – pobre em sílica – mais fluido Tipos de vulcanismo: havaiano, peleano, estromboliano e pliniano O calor interno da Terra é associado ao calor remanescente da sua formação (Big Bang) e da desintegração de isótopos radiogênicos; p.ex., K40, Th232 e U238. O grau geotérmico refere-se a profundidade, em metros, para elevar-se a temperatura em 1°C. O valor médio é de 30 m, podendo existir grandes variações, dependendo da localização geográfica. II.2. Terremotos O terremoto, ou sismo é qualquer vibração na crosta e que tem origem no seu interior. Quando a vibração é relativamente intensa, o tremor de terra se torna perceptível aos nossos sentidos. Em um ano registram-se na superfície terrestre cerca de 100 mil terremotos. Destes, 90 mil possuem intensidade muito fraca, sendo quase imperceptíveis aos sentidos das pessoas; 9.000 são de intensidade fraca e os 1.000 restantes de intensidade média. Apenas 100 se revelam fortes, e só 10, aproximadamente, são catastróficos. Os terremotos não se distribuem uniformemente em toda a superfície da Terra, existem regiões onde o fenômeno é praticamente desconhecido, são as chamadas regiões assísmicas, como as áreas centrais do Canadá e dos Estados Unidos, a África (exceto a orla mediterrânea), a Arábia, a Ásia Central e a Austrália. As regiões mais intensamente atingidas por atividades sísmicas são aquelas localizadas nas bordas das placas tectônicas. Geologia e Paleontologia 11 As regiões mais intensamente atingidas por atividades sísmicas são aquelas localizadas nas bordas das placas tectônicas. Na Figura II.2 estão representados os epicentros dos terremotos mais intensos ao longo de um período de 6 anos. Observa-se que o território brasileiro está praticamente fora das regiões com maiores incidências de terremotos, isto é, devido a sua posição no interior da placa sul-americana. As principais causas dos terremotos são: desabamento interno, vulcanismo, acomodamento de rocha e tectonismo. Os terremotos por desabamento podem ser provocados por dissolução (cavernas) ou deslizamento de massas rochosas em virtude da ação da força da gravidade. Esses terremotos são em geral fracos e de pouco poder destrutivo, pelo menos em comparação com os de origem vulcânica e tectônica. Em regiões sujeitas a ocorrências vulcânicas, os terremotos produzidos por explosões internas decorrem, em geral, do escape violento de gases acumulados sob forte tensão e do magma. Os mais terríveis terremotos estão associados a causas tectônicas, que se desencadeiam quando uma porção dos materiais do interior da Terra, distendido ou comprimido e deformados por tensões acumuladas, atinge o ponto de ruptura, procurando um novo estado de equilíbrio. A intensidade dos terremotos é medida pela escala Richter, criada em 1935 pelo cientista americano Charles Francis Richter. O terremoto de maior intensidade já registrado marcou 8,6, mas, teoricamente não há limites. Lugares geométricos na crosta associados aos sismos: hipocentro - ponto no interior da crosta onde teve a origem do terremoto; epicentro - ponto na superfície da crosta, projeção do hipocentro ortogonal à superfície. Efeitos dos abalos sísmicos: maremotos, tsunamis e terremotos. Figura II.4. Localização do hipocentro. Geologia e Paleontologia 12 Figura II.5. Localização dos epicentros dos terremotos mais intensos (Kearey e Vine, 1990). II.4. Tsunamis Figura II.5. Formação dos tsunamis. II.3. Vulcanismo e Terremoto no Brasil Nas bordas de placas, o vulcanismo é um processo contínuo, pois, ao longo das cordilheiras submarinas que se estendem longitudinalmente no meio dos grandes oceanos, as chamadas dorsais médio-oceânicas, o magma emerge das profundezas da Terra, controlado pela fusão de material na parte superior do manto. Há dois tipos de crosta: continental, situada nos continentes e oceânica que constitui o assoalho dos mares. As placas tectônicas são formadas por crosta - continental e oceânica - e pela parte superior do manto. Nas zonas de colisão entre continentes, como no Himalaia, ou entre uma placa oceânica e outra continental, como nos Andes, a mais densa delas é empurrada sob a outra, rumo a parte profunda do manto - onde, em consequência das altas pressões e do calor, sofre fusão. Em sua ascensão, a massa fundida forma Geologia e Paleontologia 13 vulcões e grandes corpos de rochas ígneas abaixo da superfície. Nas áreas afastadas das bordas de placas, em contrapartida, o vulcanismo é fenômeno menos comum, embora não possa ser considerado inexistente. O território brasileiro situa-se no interior da grande placa tectônica conhecida como placa sulamericana. Na extremidade sul do continente, há ainda a plataforma patagônica. A região ativa da placa, com terremotos e vulcões, é a cadeia andina, situada a oeste dessas duas plataformas (Figura II.2). Figura II.6. Área atingida pelo sismo que teve o epicentro na região de JuJuy – Argentina. Há evidências da presença de vulcões no nosso território, que nem sempre teria sido, portanto, tão “estável”. E não foi uma presença discreta: os indícios de atividade vulcânicas no Brasil são incontáveis, seja num passado relativamente próximo, como na ilha de Trindade e em Fernando de Noronha, num passado remoto, caso de Poços de Caldas, entre muitos outros, ou ainda em tempos muito mais longínquos, caso de Crixás em Goiás (Carneiro eAlmeida, 1990). Durante o Mesozóico tiveram várias atividades vulcânicas no território brasileiro, principalmente de composição alcalina. As principais ocorrências de derrames localizam-se em Nova Iguaçu (RJ), Tanguá (RJ), Jacupiranga (SP), Anitápolis (SC), Serra Negra (SP), Itatiaia (RJ), Cabo Frio (RJ), entre outros. Vulcanismo de fissura de lava básica, toleíticas, ocorreu na bacia do Paraná, no fim do Jurássico e principalmente no período Cretáceo (120 - 130 milhões de anos). Esses derrames atingiram cerca de 1.200.000 km2 (Popp, 1995). A alteração da rocha basáltica deu origem ao solo denominado de terra- roxa que recobre grande parte da bacia do Paraná. Geologia e Paleontologia 14 Recentemente tem sido registrados vários abalos sísmicos de baixa intensidade no território brasileiro. No dia 12 de maio de 2000 vários estados brasileiras (Goiás, São Paulo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso) foram atingidas por terremoto de baixa intensidade, o sismo teve o seu epicentro localizado na região de Jujuy na Argentina (Figura II.6). Capítulo III. TEORIA DA TECTÔNICA DE PLACAS Em 1620 o inglês Sir Francis Bacon registrava a similaridade entre o contorno litorâneo da África ocidental e do leste da América do Sul. Em meados do século XIX surgia a tese de que os dois continentes possuíam um passado comum. O alemão Alfred Wegener formulou, em 1912, a Teoria da Deriva Continental, baseando-se em algumas evidências fósseis e semelhança entre as estruturas de relevo. Ele postulou a unidade das massas continentais no passado (Pangéia), que teriam depois se fragmentado e afastado umas das outras, conformando os continentes e bacias oceânicas atuais. A genialidade da intuição de Wegener decorre da ausência de meios científicos, na sua época, para a validação da idéia da deriva dos continentes. Entretanto, justamente esse fato transformou-o, por muito tempo, num incompreendido. A ausência de um mecanismo aceitável para justificar o movimento de massas continentais “sufocando” assoalhos oceânicos condenou a nova teoria à marginalidade. O arcabouço científico para a Teoria da Deriva Continental só iria se desenvolver muito mais tarde. O estudo detalhado do fundo dos oceanos, iniciando com o uso do sonar na Segunda Guerra Mundial e intensamente desenvolvido nas últimas décadas, finalmente forneceu uma explicação plausível para a “migração” das massas continentais (Magnoli e Araújo, 1997). A Terra está dividida em placas relativamente finas (podendo ou não conter continentes), cada qual comportando-se como uma unidade mais ou menos rígida, que movimenta-se uma em relação à outra. Sabe-se hoje em dia que os continentes se movem. Acredita-se que há muitos milhões de anos, todos estavam unidos em um único e gigantesco continente chamado PANGÉIA. Este teria se dividido em fragmentos, que são os continentes atuais. Foi o curioso encaixe de quebracabeça entre a costa leste do Brasil e a costa oeste da África que deu origem a esta teoria, chamada de DERIVA CONTINENTAL. Ao estudar o fundo do Oceano Atlântico descobriu-se uma enorme cadeia de montanhas submarinas, formada pela saída de magma do manto. Este material entra em contato com a água, solidifica-se e dá origem a um novo fundo submarino, à medida que os continentes africano e sulamericano se afastam. Este fenômeno é conhecido como EXPANSÃO DO FUNDO OCEÂNICO. Com a continuidade dos estudos, as teorias da Deriva Continental e da Expansão do Fundo Oceânico foram agrupadas em uma nova teoria, chamada TECTÔNICA DE PLACAS. Imagine os continentes sendo carregados sobre a crosta oceânica, como se fossem objetos em uma esteira rolante. É como se a superfície da Terra fosse dividida em placas que se movimentam em diversas direções, podendo chocar-se umas com as outras. Quando as placas se chocam, as rochas de bordas enrugam-se e rompem-se, originando terremotos, dobramentos e falhamentos. Geologia e Paleontologia 15 Embora a movimentação das placas seja muita lenta - da ordem de poucos centímetros por ano - essas dobras e falhas dão origem a grandes cadeias de montanhas como os Andes, os Alpes e os Himalaias. Outro fenômeno causado pelo movimento de placas é o vulcanismo, que pode originar-se pela saída de rochas fundidas - MAGMA - em regiões onde as placas se chocam ou se afastam. Quando o magma que atinge a superfície se acumula em redor do ponto de saída, formam-se os VULCÕES. Os terremotos no Brasil felizmente são muitos raros e de pequena intensidade e somente são encontrados restos de vulcões extintos. Isto ocorre devido ao fato do nosso país situar-se distante de zona de choque e de afastamento de placas. III.1. Origem das placas e dos seus movimentos A convecção do magma na Astenosfera (envoltório plástico localizado no Manto Superior) produz plumas ascendentes quentes que, atingindo a parte superficial da Crosta, criam nova crosta oceânica (basalto). Para manter a área (e volume) da Terra constantes, é preciso que, em algum lugar, a crosta oceânica seja destruída (consumida); isto ocorre em zonas de subducção, onde a crosta oceânica afunda, por ser a mais densa, fechando a pluma descendente (mais fria) da célula de convecção da Astenosfera. Assim, os continentes (menos densos) migram, empurrados (e puxados) pela crosta oceânica (mais densa) (Figura III.1). Figura III.1. Esquema da Dorsal do Atlântico e a da placa sul-americana e seus limites (SalgadoLabouriau, 1994). Os movimentos entre as placas podem ser de três tipos: convergente (compressivo), divergente (distensivo) e transcorrente (Figuras III.2 III.3 e Tabela III.1). Figura III.2. Tipos de limites de placas tectônicas Geologia e Paleontologia 16 Figura III.1. Tipos de limites de placas tectônicas e suas principais características. Tabela III.1. Tipos de limites de placas tectônicas e suas principais características. Evidências da Teoria da Deriva Continental semelhança entre a fauna e flora fósseis encontrada em continentes separados; conformação dos continentes sulamericano e africano (Figura III.4); Geologia e Paleontologia 17 dados paleoclimáticos em desacordo com o Recente, registrados em rochas sedimentares em diversos continentes; continuidade de cadeias de montanhas entre dois continentes; semelhanças entre litologias recifes de corais fossilizados na Groenlândia e Canadá Figura III.4. Reconstituição do Gondwana (Kearey & Vine, 1990). Evidências da Teoria de Expansão do Fundo Oceânico sedimentos jovens e pouco espessos recobrindo a crosta oceânica; crosta oceânica mais velha é Triássica; simetria de idades da crosta oceânica a partir da cordilheira Mesoceânica; idade das ilhas vulcânicas do Pacífico. Os estudos do paleomagnetismo nas rochas basálticas que constituem a crosta oceânica, indicam que o polo magnético da Terra tem mudado de posição em relação aos continentes durante a história geológica. III.2 Falhas e Dobras O movimento contínuo das placas da crosta terrestre pode comprimir, esticar ou quebrar os estratos rochosos, deformado-os e produzindo falhas e dobras. Uma falha é uma fratura numa rocha, ao longo da qual ocorre deslocamento de um lado em relação ao outro. O movimento pode ser vertical, horizontal ou oblíquo (vertical e horizontal). Estas evidências de tectonismo podem ser claramente observadas nas rochas metamórficas que constituem grande parte do estado do Rio de Janeiro. As falhas ocorrem quando as rochas duras e rígidas, que tendem a quebrar-se e não a dobrar-se. As menores falhas ocorrem em cristais minerais individuais e são de tamanho microscópico, enquanto a maior delas - o Great Rift Valley (a Grande Fossa), na África - tem mais de 9 mil km decomprimento. O movimento ao longo das falhas geralmente causa terremotos, o exemplo típico deste movimento é a falha de Santo André, Califórnia - EUA. Dobra é a curvatura de uma camada rochosa causada por compressão, podem variar em tamanho, de uns poucos milímetros de comprimento às cadeias montanhosas dobradas com centenas de quilômetros de extensão. Além de falhas e dobras, outros aspectos associados com deformações das rochas são os boudins, os mullions e fraturas escalonadas (en échelon). Geologia e Paleontologia 18 As dobras ocorrem nas rochas elásticas, que tendem a dobrar-se mais do que quebrar-se. Os dois tipos principais de dobras são as anticlinais (os flancos convergem para cima) e as sinclinais (os flancos convergem para baixo) III.3. Origem das Montanhas Os processos envolvidos na formação das montanhas - a orogênese - ocorrem como resultado do movimento das placas crustais. Há três tipos principais de montanhas: as de origem vulcânica, as montanhas de dobramento e as montanhas por falhamento ou de blocos. A maioria das montanhas vulcânicas forma-se ao longo dos limites das placas, onde estas aproximam ou se separam, e a lava e os detritos são ejetados em direção à superfície terrestre. A acumulação de lava e material piroclástico pode formar uma montanha em torno da chaminé de um vulcão. As montanhas por dobramento se formam onde as placas se encontram e provocam o dobramento e o soerguimento das rochas. Onde a crosta oceânica se encontra com a crosta continental menos densa, a crosta oceânica é empurrada sob a crosta continental. A crosta continental é então dobrada pelo impacto e se formam montanhas de dobramento, como os Apalaches na América do Norte. As cadeias dobradas formam-se também quando encontram-se duas áreas de crosta continental. O Himalaia, por exemplo, começou a formar-se quando a Índia colidiu com a Ásia, dobrando os sedimentos e parte da crosta oceânica entre as duas placas. As montanhas por falhamento de blocos formam-se quando um bloco de rocha é soerguido entre duas falhas como resultado de compressão ou tensão na crosta terrestre. Com frequência, o movimento ao longo das falhas ocorre gradualmente durante milhões de anos. Contudo, duas placas podem deslizar bruscamente ao longo de uma linha de falha - a falha de Santo André, por exemplo, provocando terremotos. O tectonismo abrange dois tipos diferentes de movimentos: orogênese e epirogênese. Orogêneses são os processos de formação de grandes cadeias de montanhas, em áreas compressivas (choque placas) entre crosta continental/crosta continental ou crosta continental/crosta oceânica. Trata-se de Geologia e Paleontologia 19 deformações relativamente rápidas da crosta terrestre, geradas pela acomodação de placas tectônicas. São associadas a essas áreas: dobras, falhas inversas, vulcanismos, plutonismos, sismos etc. Epirogênese são processos de grande amplitude que afetam por igual extensas áreas continentais, podendo formar grandes arqueamentos, provocando elevações de certas áreas e depressões de outras. Os movimentos são lentos e predominantemente na vertical. "Rift" é processo de rompimento de antigos continentes, instalando novas áreas oceânicas: cordilheira Mesoceânica (crosta oceânica) e áreas distensivas (divergência de placas) dentro de crosta continental ou de crosta oceânica. Pangea - Antigo supercontinente, reunido no final do Carbonífero, composto pelo Gondwana e de outras massas continentais, que se desmembrou a partir do final do Triássico. Da massa oceânica circundante (Pantalassa) originaram- se os atuais oceanos Pacífico e Ártico, por contração, e o Atlântico Norte, pela separação entre a América do Norte, Gondwana e Eurásia, a partir do Jurássico. Uma menor massa marinha, o mar de Tétis, dispunha-se, semicerrado, a Leste do Pangea (a partir do qual originou-se, por compressão, o mar Mediterrâneo). Gondwana - Antigo continente, reunido no final do Proterozóico, composto pelas atuais América do Sul, África, Índia, Madagascar, Austrália e Antártica, que se desmembrou a partir do Cretáceo, originado os atuais continentes e os oceanos Índico, Antártico e Atlântico Sul. Capítulo V. MINERALOGIA A mineralogia estuda os minerais cientificamente envolvendo o conhecimento da estrutura interna, composição, propriedades físicas e químicas, modo de formação, ocorrência, associações e classificação. Atualmente existem cerca de 3.500 nomes de minerais. Novos minerais tem sido acrescentados a esta lista cada ano. São minerais que foram descobertos através de técnicas analíticas novas, tais como microanálise e microssonda eletrônica. Muitos minerais têm sido retirados das listas de minerais existentes pois métodos modernos de estudos mostraram que as substâncias consideradas como minerais individuais são associações ou misturas de minerais (Antonello, 1995). Mais ou menos 20 minerais mais comuns são responsáveis por mais de 95% de todos os minerais na crosta continental e oceânica. Eles estão contidos em quase todas rochas. Os silicatos são os mais abundantes. As características principais de qualquer mineral são sua estrutura cristalina e sua composição química, levando em consideração o conteúdo químico permitido pela substituição de átomos de um elemento pelos de outro numa dada estrutura. Por exemplo, o valor de muitos minerais, origina-se do fato de conterem um metal que é um constituinte acessório e não essencial. Ex.: tório na monazita, prata na tetraedrita. Nestes casos, um conhecimento do mecanismo pelos quais os constituintes chegaram a estar presentes, pode ser de grande significação econômica. Usamos uma vasta quantidade de minerais e produtos de minerais na nossa sociedade. Embora a maioria das pessoas não se dê conta, a mineração Geologia e Paleontologia 20 ou mais especificamente os produtos que ela gera, está presente em praticamente todas as etapas do seu cotidiano, do momento em que elas se levantam ao instante em que se deitam. Virtualmente tudo que usamos tem conexão forte com os minerais. Por vezes ele é usado em sua forma natural por ter propriedades valiosas. Ex.: diamante por sua beleza e pela sua extrema dureza. Em outras ocasiões, os minerais possuem componentes químicos de grande valor. Ex.: calcopirita (CuFeS2) consiste em 34% de cobre e o mineral é coletado para se recuperar este metal valioso (Antonello, 1995). Os minerais não são considerados meramente como objetos de beleza ou como fonte de material econômico. Eles podem ser “chaves” para o entendimento das condições nas quais eles e as rochas foram formadas. O estudo dos minerais pode indicar importantes informações sobre as condições físico-químicas de regiões da Terra que não são acessíveis a observação e mensuração direta (manto e núcleo). V.1 Ciclo Geoquímico A parte acessível ao exame direto do ciclo geoquímico é a superfície da Terra, onde os elementos migram. O ciclo geoquímico não é fechado nem material nem energeticamente. A partir do magma, o material original, que é uma mistura complexa de silicatos, óxidos e compostos voláteis, podendo ocupar espaços definidos e individualizados (câmara magmática), poderá haver a cristalização magmática, que é a separação dos minerais durante a sua formação e, a cristalização originando as rochas magmáticas. Através do intemperismo dos minerais primários e formação dos minerais secundários forma-se os sedimentos, que, através da diagênese formam as rochas sedimentares. As rochas sedimentares por ação da pressão e temperaturas variáveis darão origem a rochas metamórficas, que por transformação ultrametamórfica darão origem a rochas ígneas. Conceitos Mineral: é um elemento ou composto químico, resultantes de processosinorgânicos, de composição química e estrutural definida, encontrados naturalmente na crosta da Terra. Ex. diamante, quartzo e feldspato. Rocha: é um agregado natural formado de um ou mais minerais característicos. As rochas são classificadas segunda a sua origem em três tipos: ígnea ou magmática, metamórfica e sedimentar. Ex. granito, gnaisse, basalto e arenito. Minério: agregado de um ou mais minerais de interesse econômico, normalmente associado à ganga (sem valor econômico). A partir de um minério pode-se extrair, com proveito econômico, um ou mais metais ou substâncias úteis. Ex. itabirito (hematita e quartzo) obtém-se o ferro. Gema: nome empregado para todos os minerais ornamentais. Geologia e Paleontologia 21 Corpo geológico: são massas individualizadas de minerais agregados. Jazidas minerais: são corpos geológicos economicamente aproveitáveis de qualquer bem mineral. Mineralogia: estuda os minerais desde sua ocorrência até sua análise. Petrografia: estuda as rochas, sua constituição e classificação. Petrologia: estuda a gênese ou origem das rochas. Geoquímica: abrange o conhecimento da abundância dos elementos químicos na Terra, como sua distribuição e as leis que governam. V.2 Técnicas de análise mineralógica e petrográfica Alguns minerais e rochas podem ser identificados sem equipamento complicados, consistindo em observações diretas e testes simples. Porém, na maioria das vezes é necessário recorrer a técnicas analíticas especiais para identificar os minerais e as rochas. As principais técnicas analíticas utilizadas na identificação e classificação dos minerais e das rochas são as seguintes: difratometria de raios-X (DRX) microscopia ótica (luz transmitida e refletida) microscópio eletrônico de varredura – MEV análise química por via úmida ensaio de chama análise macroscópica (auxílio de lupas de mão com aumento de 10X a 20X). V.3 Propriedades dos Minerais As propriedades dos minerais são controladas pela sua composição e estrutura cristalina. A composição pode ser definida através de métodos de análises químicas. Uma vez que a composição foi definida, a fórmula química pode ser calculada pelo balanceamento do número de cátions e ânions. A determinação da estrutura do cristal é feita através de métodos de observação indireta, principalmente através da difratometria de raios-X (DRX). A DRX é uma das técnicas mais importantes na identificação dos minerais (Figura V.1), qualquer mineral pode ser identificado através desta técnica. Por causa, de propriedades facilmente determinadas, tais como, dureza e cor, são controladas pela composição e estrutura do cristal, em muitos casos é possível usar uma combinação de propriedades simples para identificar um mineral. As características mais usadas na identificação dos minerais são: cor, brilho, hábito (formato dos cristais), dureza, clivagem, fratura, densidade, magnetismo. V.4. Cristalografia estrutural e morfologia dos cristais Os cristais são corpos homogêneos, anisotrópicos (possui propriedades físicas e químicas diferentes em direções diferentes). Um corpo isotrópico, ao contrário, tem as mesmas propriedades em direções diferentes, por ex.: vidro. Quase todas as substâncias sólidas, não somente os minerais são cristalinos. Os corpos homogêneos podem ser isótropos ou anisotrópicos. Geologia e Paleontologia 22 As unidades da estrutura dos cristais são os átomos, os íons ou as moléculas que apresentam no espaço um arranjo tridimensional exato. Os intervalos entre estas unidades estruturais são de ordem de 1 angstrom . Um cristal é um arranjo tridimensional, periódico, de átomos, de íons ou de moléculas e pode ser definido como sólidos poliédricos limitado por faces planas que exprimem um arranjo interno. O arranjo das partículas representa- se por um retículo cristalino ou retículo espacial. Os planos situados em diferentes direções através dos pontos do retículo denominam-se planos reticulares (faces do cristal). A estrutura ordenada dos retículos dos cristais, nem sempre é refletida pela presença no cristal de uma forma cristalina distinta. São relativamente raros os cristais típicos, reconhecíveis exteriormente, pois a substância cristalina apresenta externamente sua estrutura interna. Pela forma externa os sólidos podem ser: Idiomórficos: possuem faces bem desenvolvidas e perfeitas; Subédricos ou hipidiomórficos: desenvolvimento parcial das fases; Anédricos ou xenorfícos: sem faces definidas; Substância amorfa: sem arranjo interno. O retículo espacial e consequentemente o cristal é formado pela repetição de unidades tridimensionais muito pequenas, as células unitárias, que por definição são as menores porções geométricas que se repete tridimensionalmente segundo direções preferencias de crescimento e desenvolvimento, dando origem ao cristal. São possíveis 14 tipos diferentes de células unitárias; são os retículos de Bravais, que são retículos de translação cuja unidade de translação de um ponto a outro é a distância. V.4.1 Sistemas Cristalinos Refere-se à forma na qual os átomos dos elementos químicos estão agrupados. Cada sistema cristalino é caracterizado por certo número de elementos de simetria (Figura V.3). Sistema cúbico: formado por um cubo. Os três eixos cristalográficos são iguais e perpendiculares entre si, de comprimentos iguais. Sistema hexagonal: formado por um prisma reto de base hexagonal regular. Os eixos cristalográficos são quatro: 3 horizontais iguais cortando-se em ângulos de 120o, e um quarto de comprimento diferente e perpendicular ao plano dos outros três. Sistema tetragonal: prisma reto de base quadrada. Os eixos cristalográficos são mutuamente perpendiculares; os dois horizontais são de comprimento igual, mas o eixo vertical é mais curto ou mais longo do que os outros dois. Sistema ortorrômbico: prisma reto de base retangular ou losangular. Os eixos cristalográficos são perpendiculares entre si e de comprimento diferente. Sistema monoclínico: prisma oblíquo de base retangular ou losangular. Os eixos cristalográficos são 3 desiguais, dois dos quais estão inclinados entre si Geologia e Paleontologia 23 formando um ângulo oblíquo, sendo o terceiro perpendicular ao plano dos outros dois. Sistema triclínico: prisma oblíquo de base paralelogrâmica. Três eixos cristalográficos desiguais, formando ângulos oblíquos. V.5. Classificação Química dos Minerais Na natureza, os minerais cristalizam-se a partir de soluções de composição complexa, sendo oferecidas, por conseguinte, amplas oportunidades para a substituição de um íon por outro. Resulta disto, que, praticamente, todos os minerais apresentam variação na sua composição química, conforme a localidade de procedência e entre uma e outra espécie. A composição química é a base para a classificação moderna dos minerais. De acordo com este esquema, dividem-se os minerais em classes dependendo do ânion ou grupo aniônico. A composição pode ser definida através de métodos de análises químicas. Elementos nativos: encontram-se como minerais sob forma não combinada no estado nativo. Ex. Au, Ag, Pt, Hg. Sulfetos: consistem em combinações de vários metais com o S-2. Ex.: Galena, PbS. Pirita - FeS2, cúbico, D=5,0 (Densidade), d=6 (dureza), cor dourada e traço preto. Sulfossais: os minerais compostos de Pb, Cu ou Ag em combinação com S, Sb, As ou Bi. Ex. Cu3AsS4. Óxidos: contém um metal em combinação com o O-2. Ex.: hematita Fe2O3; Quartzo - SiO2, hexagonal, D=2,65, d=7, cores variadas e fratura conchoidal. Hematita - Fe2O3, hexagonal, D=5,26, d=6, traço vermelho. Ilmenita - FeTiO3, hexagonal, D=4,7, d=5,5, traço cinza. Pirolusita - MnO2,tetragonal, D=4,75, d=2, traço preto. Hidróxidos: óxidos minerais contendo água ou hidroxila (OH-) como radical importante. Ex.: brucita Mg(OH)2. Haletos: cloretos, fluoretos, brometos e iodetos naturais. Ex.: fluorita CaF2, halita NaCl. Carbonatos: incluem os minerais com o radical (CO3)-2. Ex.: calcita CaCO3. Calcita - CaCO3, hexagonal, D=2,71, d=3, três clivagens perfeitas. Aragonita - CaCO3, ortorrômbico, D=2,95, d=3,5, duas clivagens perfeitas. Dolomita - (Ca,Mg)(CO3)2, hexagonal, D=2,85, d=3,5, três clivagens perfeitas. Nitratos: contém o radical NO3-1. Ex.: KNO3. Boratos: contém o radical BO3. Ex.: bórax Na2B4O7.10H2O. Fosfatos: contém o radical (PO4)-3. Ex.: apatita Ca5(F,Cl)(PO4)3, hexagonal, D=3,2, d=5, clivagem fraca. Geologia e Paleontologia 24 Sulfatos: contém o radical (SO4)-2. Ex.: barita BaSO4; Gipsita - CaSO4 2H2O, monoclínico, D=2,32, d=2, fratura fibrosa. Anidrita - CaSO4, ortorrômbico, D=2,98, d=3, três clivagens perfeitas. Tungstato: contém o radical WO4. Ex.: sheelita CaWO4. Silicatos: radical (SiO4)-4, formam a classe química máxima entre os minerais, contém vários elementos, dos quais os mais comuns são o Na, K, Ca, Mg, Al e Fe em combinação com Si e O formando estruturas químicas complexas. V.6. Propriedades Físicas As propriedades físicas dos minerais são determinadas pela composição química e estrutura cristalográfica. Hábito - é a forma externa do mineral. Os planos de um cristal são expressões externas exatas da organização interna dos átomos. Tipos de hábito: acicular, laminar, colunar, fibroso, botroidal, tabular, micáceo etc Geologia e Paleontologia 25 Clivagem - é a tendência de um mineral se quebrar ao longo de planos preferenciais. Clivagem perfeita ou boa (2 ou 3 direções), moderada, irregular etc. Tais planos são controlados pela estrutura cristalina e pelas ligações químicas. Ex. micas uma direção e K feldspato duas direções. Fratura - é a forma como um mineral quebra. Os principais tipos de fraturas: conchoidal (quartzo), plana e irregular. Dureza - resistência (relativa) que um mineral oferece ao ser riscado com outro mineral ou com um objeto qualquer. Esta associada à estrutura cristalina e ao arranjo dos átomos (ligações). A dureza de um mineral é uma propriedade importante e pode ser avaliada de acordo com a Escala de Dureza de Mohs (relativa) (Tabela V.1). Tenacidade - resistência que o mineral oferece à deformação. Termos utilizados para descrever a tenacidade dos minerais: quebradiço, maleável, dúctil, flexível etc. Magnetismo - é a propriedade de alguns minerais de serem atraídos pelo imã. Ex. magnetita e pirrotita. Densidade ou peso específico - é o peso de um mineral comparado com o peso do mesmo volume de água (adimensional). Minerais com átomos agrupados densamente apresentam densidades mais elevadas. Quartzo D = 2,65, calcita D =2,75, magnetita D = 5,2. Geologia e Paleontologia 26 V.7. Propriedades Ópticas Cor - é o comprimento de onda luminosa refletida ou transmitida; opaco, transparente e translúcido; idiocromático, alocromático, pleocroísmo, dicroísmo; iridescência, opalescência etc.; hialino, vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, violeta etc. Traço - é a cor do traço deixado pelo mineral após riscar a superfície de uma placa de porcelana. Ex. hematita (vermelho), pirita (preto) e quartzo (branco). Brilho - é a intensidade da reflexão da luz. O brilho do mineral pode ser vítreo, resinoso, sedoso, adamantino, metálico etc. V.8. Propriedades Químicas Polimorfismo - diferentes minerais com a mesma fórmula química, porém formas cristalinas diferentes. Calcita (CaCO3, hexagonal) e Aragonita (CaCO3, ortorrômbico). Isomorfismo - minerais de composição química diferente, porém análogas, com a mesma estrutura cristalina. Plagioclásios (Ca,Na-feldspatos, triclínicos). V.9. Esquema de Identificação Macroscópica Os minerais mais comuns podem ser identificados a partir da determinação das suas propriedades e posterior consulta a um manual de mineralogia. 1. Cristalização: sistema cristalino em que se enquadra a amostra. 2. Forma dos cristais: cubo, tetraedro, prisma hexagonal com terminação em pirâmide, octaedros, dodecaedro, etc., acrescentando se é euédrico, subédrico ou anédrico. 3. Hábito: cúbico (eqüidimensional), prismático, acicular, fibroso, micáceo, botroidal, etc. 4. Cor: examinar uma superfície recente em luz refletida. 5. Pleocroísmo: mudança de cor de acordo com a direção 6. Brilho: metálico, não metálico: vítreo, resinoso, sedoso, gorduroso, nacarado, adamantino e terroso. 7. Cor do traço: sempre sobre uma placa de porcelana não brilhante. 8. Clivagem: boa, nítida, fácil, regular ou ruim. Quantos planos de clivagem. 9. Fratura: existente ou não. 10. Dureza relativa: usar a escala de Mohs. 11. Diafaneidade (transparência do mineral): transparente, translúcido opaco. 12. Densidade relativa. 13. Magnetismo: atração por um imã de mão. 14. Presença de inclusões. 15. Alteração 16. Diagnóstico Geologia e Paleontologia 27 Tabela V.2 Guia para identificação mineralógica. Capítulo VI. PETROGRAFIA As rochas são agregados naturais formados de um ou mais minerais, que podem ser de um tipo (rocha monominerálica) ou de vários tipos (poliminerálica). A crosta terrestre é constituída essencialmente de rochas. São elas, juntamente com os fósseis, os elementos que os geólogos usam para decifrar os fenômenos geológicos atuais e do passado. A Petrografia ou petrologia é o ramo da ciência geológica dedicado ao estudo da constituição, textura, origem e classificação das rochas. Técnicas de reconhecimento petrográficas: análise macroscópica microscopia óptica e eletrônica análise geoquímica Quanto à origem (gênese), as rochas são distinguidas em ígneas ou magmáticas, rochas metamórficas e rochas sedimentares; dentro desses grupos, de forma geral, a textura e a composição mineral são os critérios para a identificação do tipo litológico. Geologia e Paleontologia 28 VI.1 Rochas sedimentares São rochas formadas a partir do material resultante da ação do intemperismo e da erosão de uma rocha qualquer que posteriormente será transportado e depositado em outro ambiente. As rochas sedimentares são importantes por estarem associadas à depósitos de carvão, petróleo, gás natural, alumínio, minério de ferro, matéria prima para a construção civil. A diagênese é o conjunto de processos físicos e químicos sofridos pelos sedimentos após sua deposição, e que resultam em litificação, como, p.ex., compactação, recristalização, dissolução, precipitação de minerais etc. Geologia e Paleontologia 29 VI.2 Rochas ígneas São formadas a partir da consolidação do magma em profundidade (rocha ígnea plutônica) ou em superfície (rocha ígnea vulcânica). Através da textura e da composição mineralógica de uma rocha magmática pode interpretar as condições em que a rocha se formou. As rochas magmáticas intrusivas ou plutônicas se formam quando o magma resfria lentamente, usualmente em profundidades de dezenas de quilômetros, os cristais separam-se do líquido fundido, formando rochas de granulação grossa (rochas faneríticas equigranular). As rochas magmáticas extrusivas são formadas quando o magma resfria rapidamente, normalmente próximo a superfície da terra, os cristais são extremamente pequenos e resulta uma rocha de granulação fina ou textura vítrea (rochas afaníticas). O magma é uma fusão silicatada, contendo gases e elementos voláteis, gerada em altas temperaturas no interior da Terra. Geologiae Paleontologia 30 Batólitos - são grandes corpos de rochas plutônicas que se formam em profundidade, podendo se ter mais 100 km2. Lacólito - são intrusões de rochas ígneas lentiformes, geralmente circulares ou subcirculares, concordantes as rochas encaixantes. Dique - intrusão de forma tabular discordante, preenchendo uma fenda aberta em outra rocha. Quando o dique é concordante com as rochas encaixantes chama-se sill. VI.3 Rochas Metamórficas As rochas metamórficas podem ser formadas a partir de rochas ígneas, sedimentares ou mesmo metamórficas, preexistentes, submetidas a novas condições de pressão e temperatura. Quando as rochas através de processos geológicos são submetidas a condições diferentes (temperatura e pressão) das quais foram formadas, ocorrem modificações denominadas de metamorfismo. Durante o metamorfismo ocorrem modificações nas composições químicas e/ou a estrutura cristalina dos minerais, sem haver fusão ou alteração na constituição química total da rocha (processo de equilíbrio físicoquímico no estado sólido, isoquímico). Podem ocorre tanto a recristalização dos minerais preexistentes como também a formação de novos minerais. Geologia e Paleontologia 31 Na classificação das rochas metamórficas utiliza-se o nome do tipo textural precedido da assembléia de minerais constituintes em ordem crescente de importância. Ex. estaurolita-granada-quartzo-xisto. Grau de Metamorfismo O metamorfismo pode ocorre com maior ou menor intensidade em função das temperaturas e pressões a que a rocha é submetida, o que, até certo ponto, é função também das profundidades em que o fenômeno ocorre. Metamorfismo regional ou de contato. Capítulo VII. DINÂMICA EXTERNA A dinâmica externa retrata todos os processos geológicos que, atuando sobre a parte mais superficial da Crosta, promovem o seu modelamento. A ação da água, dos ventos, do calor e do frio sobre as rochas provoca o seu desgaste e decomposição, causando o que se denomina de INTEMPERISMO. O intemperismo implica sempre na desintegração das rochas, que pode ser de vários modos, pelos agentes químicos, físicos e biológicos. Esta desintegração gera areias, lamas e seixos, também denominados SEDIMENTOS. O deslocamento desses sedimentos da rocha desintegrada é chamado de EROSÃO. O transporte desse material para as depressões da crosta, (oceanos, mares e lagos) pode ser realizado pela água (enxurradas, rios e Geologia e Paleontologia 32 geleiras) ou pelo vento, formando depósitos como as areias de praias e de rios, as dunas de desertos e as lamas de pântanos. Todo PROCESSO (ação) natural obtém-se, como PRODUTO (resultado da ação) uma modificação na paisagem superficial do planeta. Por exemplo, após uma intensa chuva (PROCESSO) muitas encostas de morros serão sulcadas por erosão (PRODUTO 1) e o material (solo ou rocha) removido será depositado em vales ou no sopé destes morros (PRODUTO 2) ou levado por rios. Em fim, processaram-se modificações na paisagem superficial. Este processo ocorre sem a interferência do homem, cuja ação pode acelera-lo. O homem influência no processo de denudação, principalmente devido ao desmatamento. Na Figura VII.1 é representada uma visão simplificada das fontes de energia dos processos externos que atuam na superfície da Terra Figura VII.1. Fontes de energia dos processos que atuam na superfície da Terra. VII.1 Processos Processos físicos: tensões (variação de temperatura, gravidade, etc.) e cinética (resultante da variação de velocidade de um corpo). Processos químicos: reações (hidrólise, redox, combinações, etc.), soluções/precipitações etc. Processos biológicos: atividade dos organismos gera relações de fenômenos Físicos e Químicos com o meio ambiente. A pressão do crescimento das raízes vegetais pode provocar a desagregação da rocha. O vento ao balançar a árvore contribui para afrouxar as rochas fendilhadas. Ação de animais como: minhocas, formigas, cupins, roedores, etc. Os processos geológicos responsáveis pela formação das rochas sedimentares podem ser reunidos em três grandes grupos: intemperismo, erosão, transporte e deposição. Geologia e Paleontologia 33 VII.2 Intemperismo Conjunto de processos físicos, químicos e biológicos, operantes na superfície terrestre que ocasionam a alteração dos minerais das rochas, graças a ação de agentes atmosféricos e biológicos. Processo espontâneo controlado pelas forças (energias) envolvidas nas ligações dos íons que fornam os cristais. O intemperismo é um dos processos mais importante para o desenvolvimento da vida sobre a Terra. Os nutrientes inorgânicos disponíveis no solo ou nas águas superficiais são obtidos a partir do intemperismo das rochas e dos minerais. Por quê ocorre intemperismo? É a resposta natural dos minerais das rochas à superfície do planeta, em virtude de mudanças nas condições físicas e químicas em que estes se formaram (altas pressões e temperaturas no interior da Terra). Processo espontâneo controlado pelas forças (energia) envolvidas nas ligações dos íons que formam os cristais. Processos Químicos A dissolução, além de ser um processo intempérico, também pode se constituir em um eficaz processo erosivo, quando envolve a remoção de apreciáveis massas rochosas. O exemplo mais evidente é a carstificação, que trata da dissolução de rochas carbonáticas formando cavernas, grutas, dolinas etc. Fatores condicionantes do tipo e intensidade do intemperismo clima (temperatura, precipitação) relevo (inclinação do terreno) constituição dos minerais (composição química) estrutura das rochas (porosidade, xistosidade, fraturas) tamanho das partículas. Temperatura A temperatura intervém na velocidade da decomposição química. Esta é mais rápida em climas quentes do que em climas temperados e frios. A pluviosidade elevada, associada a temperatura médias altas e cobertura vegetal exuberante, tem papel muito eficaz na decomposição das rochas, pelo aumento do teor em ácidos húmicos e gás carbônico. Intemperismo físico: fragmentação ou desagregação do material rochoso em partículas cada vez menores. Não há mudança mineralógica ou química. Rocha = minerais com diferentes coeficientes de dilatação térmica. As rochas no interior da crosta são submetidas a alta pressão, quando expostas às condições de superfície, há um alívio de pressão e consequentemente, expansão da parte rochosa atingida. O alívio de pressão leva ao desenvolvimento de diáclases, juntas e planos de fraturas na rocha. O intemperismo químico forma, predominantemente, argilo-minerais e hidróxidos de Fe e Al. Há mudança mineralógica. Reação química entre a rocha e soluções aquosas diversas. Oxidação X redução Dissolução X precipitação Hidrólise Combinação Hidrólise é a reação entre os íons H+ e OH- da água e os elementos (ou íons) do mineral. É importante lembrar que apesar do que se imagina a água não é um líquido de pH neutro. Oxidação é um Geologia e Paleontologia 34 processo de decomposição química que envolve perda de elétrons. Ex. a pirita (FeS2) se oxida em óxido de ferro hidratado. O intemperismo físico favorece o intemperismo químico criando condições de penetração de soluções através das fraturas e aumentando a superfície específica do material. O intemperismo biológico compõe-se de uma série de ações físicas e químicas dos organismos sobre o meio ambiente para a adaptação do meio à sua sobrevivência. Está relacionado com as reações químicas da matéria viva e com o comportamento dos organismos. VII.3 Erosão A erosão engloba um grupo complexo de processos geológicos pelo qual o produto final do intemperismo é removido por ação de um agente natural. A configuraçãomorfológica de uma paisagem pode ser devido a uma atividade construtiva (dunas, restingas, relevo vulcânico, deltas) ou destrutiva (mar, gelo, vento e rios). Se não fosse a instabilidade tectônica da crosta (dinâmica interna), há muito tempo já teriam desaparecidos todos os continentes. Em 25 milhões de anos (taxa atual de denudação) todos os continentes seriam arrasados ao nível do mar. O relevo terrestre é resultante dos processos englobado na dinâmica interna (vulcanismo, terremoto e movimentação das placas tectônicas) e os processos da dinâmica externa (intemperismo, erosão, transporte e deposição). Processos erosivos Processos gravitacionais: processos que envolvem deslocamento de massas (rocha, solo, regolito ou sedimento) sob ação da gravidade, buscando uma posição de menor energia potencial. Processos hidrodinâmicos: ação das ondas (abrasão marinha) ação de correntes (fluvial) ação de ventos (deflação) Agentes erosivos: chuva, rio, mar, vento, geleira e gravidade INTEMPERISMO + EROSÃO = DENUDAÇÃO Produtos da erosão: sedimentos Tipos de sedimentos Clástico, químico e organo-químico Clásticos: resultam da fragmentação de material rochoso e é transportado por um agente externo. Exemplo: areia, silte, argila, etc Geologia e Paleontologia 35 VII.4 Transporte O transporte e a deposição dos sedimentos são comandados pelas leis da hidrodinâmica. Três são os processos de transporte de partículas sedimentares em meio fluido: tração (arrasto, rolamento e saltação), suspensão e solução. O regime de transporte do sedimento depende, basicamente, do tamanho da partícula. tração e rolamento: areias, seixos, blocos e matacões suspensão: silte e argila - fluxo turbulento solução: íons - carga dissolvida VII.5 Deposição Acúmulo de sedimentos por processos físicos, químicos e organo- químicos (processos de sedimentação) Sedimentos químicos: resultam da precipitação de minerais de soluções concentradas. Características: cor, mineralogia e estruturas. Exemplos: calcário calcítico/ dolomítico, chert, gipso, itabirito, etc. Sedimentos organo-químicos: resultam do acúmulo de restos de organismos, os quais podem ter sido transportados. Características: cor e composição. Exemplos: coquinas, vazas (globigerina, radiolários, pterópodes e diatomáceas), recifes, espongólitos, estromatólitos, etc. Bacias sedimentares: São áreas deprimidas da crosta, capazes de acumular consideráveis espessuras de sedimentos e preservá-las por um bom tempo. As bacias sedimentares estão associadas a movimentos crustais que geram subsidência na crosta. Os movimento são controlados por eustasia, subsidência (tectônica) e aporte sedimentar (clima). As bacias sedimentares são preenchidas por sedimentos clásticos químicos e biogênicos. Ambientes de sedimentação rios, lagos, desertos, praias, mares etc. Tipos de deposição física: por perda da energia do agente transportador química: por saturação de soluções (precipitação) organo-química (biológica): acúmulo de restos de organismos (fósseis) Capítulo IV. TEMPO GEOLÓGICO Entende-se por tempo geológico o tempo decorrido desde o final da fase de formação da Terra até os nossos dias. Antes da descoberta dos métodos de datação absoluta (radiometria) o tempo geológico foi dividido em intervalos diversos que, em ordem decrescente de importância hierárquica, receberam a qualificação eras, períodos, épocas e idades. Essas subdivisões ainda se mantêm, só que agora se conhece a amplitude cronológica absoluta das mesmas. Elas constituem unidades geocronológicas, cada uma das quais recebe uma designação particular (Tabela IV.1). Em 1669 Nicolau Steno chegou a conclusão que as rochas se superpunham em ordem cronológica (Lei da Superposição) e que elas estavam originalmente em camadas horizontais. Numa seqüência de camadas, a camada de cima é mais jovem que a camada situada imediatamente abaixo. Em 1815 William Smith reconheceu que os fósseis são instrumentos confiáveis para datar as rochas (sedimentares) e distinguir um estrato do outro. Esta descoberta possibilitou a correlação de rochas de mesma idade e que se Geologia e Paleontologia 36 encontravam em localidades distantes, além de servir como apoio para elaboração dos primeiros mapas paleontológicos. Com base nos fósseis e na extinção de uma espécie ou de um conjunto de espécies, foi possível definir as idades geológicas e colocá-las, pela Lei da Superposição, em ordem cronológica (Salgado-Labouriau, 1994). Esta seqüência cronológica constitui a Escala de Tempo Geológica (Tabela IV.1). Tabela IV.1. Escala de tempo geológico. A definição de cada unidade estratigráfica e sua cronologia surgiram aos poucos, com o estudo de muitos geólogos, trabalhando independentemente desde o final do século XVIII até meados do século XIX. Cada período geológico foi caracterizado depois de muitas observações, muito estudo, e foi colocado na escala geológica após várias tentativas. As subdivisões dos períodos ainda estão em estudos e são reexaminados cada vez que se criam novos métodos de observação (SalgadoLabouriau, 1994). A escala geológica é sempre representada na seqüência estratigráfica, a qual obedece à ordem da superposição inicial dos estratos. Esta ordem implica necessariamente numa medida de tempo - o tempo necessário para a deposição daquele estrato. Em uma seqüência estratigráfica o estrato mais antigo está na base da escala e é seguido pelos os outros que se vão superpondo no espaço e no tempo até chegar ao mais recente, o qual fica em cima de todos (tempo relativo). Todas as vezes em que as condições ambientais são semelhantes, mesmo que ocorram em épocas diferentes da escala geológica, elas produzem rochas sedimentares semelhantes. Entretanto, os fósseis, contidos em rochas semelhantes, mas de épocas distantes, são totalmente diferentes por causa do processo de evolução dos organismos. Para cada período, época ou outra unidade de tempo, existe um conjunto de fósseis característico. Geologia e Paleontologia 37 Geologia e Paleontologia 38 IV.1. Magnitude do Tempo Geológico Mesmo hoje a quantidade real de tempo geológico decorrido, visto que é tremendamente grande, significa pouco, sem qualquer base de comparação. Para este fim, tem sido inventados numerosos esquemas nos quais, eventos geológicos chaves são localizados proporcionalmente, em unidades de comprimento ou tempo atuais, de modo a tornar o tempo geológico um tanto mais compreensível. Comprimam-se, por exemplo, todos 4,5 bilhões de anos de tempo geológico em um só ano. Nesta escala, as rochas mais antigas reconhecidas datam de março. Os seres vivos apareceram inicialmente nos mares, em maio. As plantas e animais terrestres surgiram no final de novembro e os pântanos, amplamente espalhados que formaram os depósitos de carvão pensilvanianos, floresceram durante cerca de quatro dias no início de dezembro. Os dinossauros dominaram nos meados de dezembro, mas desapareceram no dia 26, mais ou menos na época que as montanhas rochosas se elevaram inicialmente. Criaturas humanóides apareceram em algum momento na noite de 31 de dezembro, e as recentes capas de gelo continentais começaram a regredir da área dos Grandes Lagos e do norte da Europa a cerca de 1 minuto e 15 segundos antes da meia noite do dia 31. Roma governou o mundo ocidental por 5 segundos, das 11h.59m.45 seg. até 11h.59m.50seg.. Colombo descobriu a América 3 segundos antes da meia noite, e a ciência da geologia nasceu com os escritos de James Hutton exatamente há pouco mais que 1 segundo antes do final de nosso movimento ano dos anos (Eicher, 1982). IV.2. Datação Radiométrica (Absoluta) Muitos tipos de átomos que ocorrem na natureza possuemnúcleos que se desintegram espontaneamente para um estado de menor energia. Estes átomos são denominados radioativos, e o processo de sua desintegração é chamado radioatividade. Um tipo específico de átomo, que é caracterizado por um número atômico particular e um número de massa particular, é denominado nuclídeo. O número atômico é o número de prótons do núcleo e este número determina o elemento. O número de massa é a soma dos prótons e neutrons do núcleo. Os nuclídeos, possuindo o mesmo número atômico mas número de massa diferente, são chamados isótopos de um dado elemento. Na desintegração radioativa, o núcleo atômico emite uma partícula alfa ou uma partícula beta, ou captura um elétron. Ele pode simultaneamente emitir raios gama, radiação eletromagnética mais energética do que raios-X. Quando um átomo radioativo “pai” se desintegra, ele se transforma em outro tipo de átomo denominado “filho”. Na desintegração alfa, o núcleo do átomo pai perde 2 prótons e 2 neutrons; o número de massa decresce de 4 e o número atômico de 2. Na desintegração beta, o núcleo emite um elétron de alta velocidade, um dos seus neutrons se transforma em um próton e o número atômico aumenta de um. Na captura de elétrons, um próton do núcleo captura um elétron orbital e se transforma em um neutron, e o número atômico decresce de um. A desintegração beta e a captura de elétrons não mudam o número de massa. Geologia e Paleontologia 39 Tabela IV.3. Meia vida dos isótopos mais usados em datações radiométricas (Modificado de SalgadoLabouriau, 1994). IV.3. Método Radiocarbônico O carbono - 14 (C-14) é um isótopo radiativo que ocorre normalmente na atmosfera e nos seres vivos. A sua meia-vida é de cerca de 5.730 anos (Tabela IV.2), o que significa que este método só pode ser utilizado para o Quaternário Tardio. O carbono - 14 apresenta uma peculiaridade muito especial. Ele está sendo criado continuamente na parte alta da atmosfera, a cerca de 15 km acima da superfície da Terra. Átomos de nitrogênio - 14 (N-14) são bombardeados constantemente por raios cósmicos nesta altitude, o que faz com que cada núcleo absorva um neutron, emita um próton e se transforme em carbono - 14. Este carbono recém criado é imediatamente incorporado ao gás carbônico (CO2) atmosférico e é assimilado no ciclo de carbono dos seres vivos. Eventualmente, o C-14 decai novamente a N-14. Na década de 50 W. Libby criou o método de datação por radiocarbono. Pelo processo de fotossíntese as plantas removem o gás carbônico da atmosfera. Como C-12, C-13 e C-14 estão em equilíbrio, a atmosfera, o mar, as plantas e os animais vivos têm estes isótopos em equilíbrio dinâmico. Quando um organismo morre, ele para de absorver CO2 e lentamente a proporção de C-14 diminui no corpo por decaimento radioativo. O método de datação criado por Libby, não mede a quantidade de isótopo estável produzido pelo decaimento radioativo, como as técnicas com isótopos de longa-vida. O que se mede é a quantidade de C-14 que restou na matéria orgânica morta (Salgado- Labouriau, 1994). Como o C-14 tem meia-vida muito curta, a datação máxima possível fica geralmente entre 25 e 30 mil anos A.P., dependendo do método empregado na detecção do C-14 residual e da quantidade da amostra. Somente em casos especiais, quando é possível conseguir uma grande quantidade de matéria orgânica para datar (pelo menos 1 kg de sedimento úmido), a datação pela Geologia e Paleontologia 40 radiação emitida pode se estender até o limite do método (entre cerca de 70 - 75 mil anos). Tabela IV.4. Série de decaimento do urânio (238U e 235U). BIBLIOGRAFIA BORGHI, L.A. e RIOS NETTO,A., 1995. Apostila de Geologia e Paleontologia. FRJ/DEGEO COURTNEY, F.M. & TRUDGILL, S.T., 1984. The soil: an introduction to soil study. Edward Arnold. 123 p. EICHER, D.L., 1982. Tempo Geológico. Série de Textos Básicos de Geociências. Editora Edgard Blücher Ltda. 172p. GUERRA, A.T. e BAPTISTA, C., 1994. 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