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FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS DE CRUZEIRO JONATAN TAVARES FERREIRA A PERÍCIA NOS CASOS DE HOMICÍDIOS DE ACORDO COM O ORDENAMENTO PÁTRIO CRUZEIRO 2016 JONATAN TAVARES FERREIRA A PERÍCIA NOS CASOS DE HOMICÍDIOS DE ACORDO COMO ORDENAMENTO PÁTRIO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Humanas de Cruzeiro, em cumprimento à exigência parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito, sob orientação do Prof. Me. Márcio Godofredo Alvarenga. CRUZEIRO 2016 JONATAN TAVARES FERREIRA A PERÍCIA NOS CASOS DE HOMICÍDIOS DE ACORDO COM O ORDENAMENTO PÁTRIO Trabalho de Conclusão de Curso aprovado em _____ de ______________ de 2016, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito da Faculdade de Ciências Humanas de Cruzeiro, pelos professores: Banca Examinadora: ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________ Orientador: Prof. Esp./Me Márcio Godofredo de Alvarenga CRUZEIRO 2016 Aos meus queridos pais, Cátia e João Bosco, cujo ensinamento me foi dado em forma de valores e amor, o que para mim, basta. À minha linda e querida esposa Kele, aguentando firme enquanto estive discente, auxiliando na busca de algo melhor para nossa família. Aos meus filhos, Joao Miguel e Micael, razões de todo meu esforço e felicidade. AGRADECIMENTOS A Deus, que me concede a graça de a cada dia poder levantar e ir em busca de meus objetivos. Aos meus amigos, que tive o prazer de dividir as salas de aulas, sendo cada um especial para mim. Aos meus professores, cuja honra em aprender, mesmo que um pouco dos conhecimentos a mim passados, indelével. Ao ilustre e inteligentíssimo mestre, professor e orientador Márcio Godofredo de Alvarenga, pela suave maneira de me cativar desde o primeiro dia de aula. À Equipe do Instituto de Criminalística de Guaratinguetá, contribuindo para realização desta obra e por fazer parte da minha história. Aos senhores Ricardo, Vicente e Hildegrim; às senhora e senhorita Marislene e Denise, pela amizade e parceria construídas dentro de fora da Polícia Científica. A todos que, de maneira geral, contribuíram para que este trabalho fosse realizado. “Local de crime constitui um livro extremamente frágil e delicado, cujas páginas por terem a consistência da poeira, desfazem-se, não raro, ao simples toque de mãos imprudentes, inábeis ou negligentes, perdendo-se desse modo para sempre, os dados preciosos que ocultavam à espera da argucia dos peritos” (ESPÍNDULA, 2007, p. 3) RESUMO Apesar da imprecisão do momento em que nasce a perícia criminal, tem-se vários documentários e históricos que comprovam a necessidade desse trabalho, que vem ganhando força a cada dia, haja vista a necessidade de o Estado prestar contas ao seu povo. A história mostra que desde os primórdios da vida em sociedade, o bem maior a ser defendido é a vida, pois sem ela, não há que se falar em direito. Isto posto, vem como elemento essencial da justiça a perícia criminal, mesmo que distante do ideal em alguns países, inclusive o nosso, ainda sim responsável pela segurança da população e meio de serviço social, dando algo para que a população não se apavore diante do cenário da violência. Com o passar do tempo, a evolução dos crimes acompanhou adjunta à evolução humana, distanciando-se e muito da capacidade que o Estado possui para frear e combater os delitos. Ainda sim departamentos são criados para buscarem alcançar a harmonia entre todos, investimentos e estudos são postos em atas para parear e estabelecer a paz. A função do perito vem prevista nos códigos penal e processual penal, e este fato fez com que os Estados se organizassem e criassem um órgão tratando especificamente da polícia técnico-cientificamente, responsável pela elucidação de crimes a auxiliando o juiz em sua decisão. As atribuições dos profissionais forenses exigem um nível elevado de cultura, tornando a investidura no cargo policial complexa e concorrida. Contudo, as vicissitudes econômicas e políticas travam o sistema a ponto de não se conseguir sair do lugar. Eis o desafio que a unidade pericial tem, ainda mais se for interiorana, onde os repasses quase não chegam, fazendo uma equipe ser despejada de sua lotação. Palavras-chave: Homicídio. Local de Crime. Perícia Criminal. Perito. Polícia Científica, Medicina legal ABSTRACT Despite the vagueness of the moment he is born criminal expertise, it has several documentaries and stories that demonstrate the need for this work, which is gaining strength every day, given the need for the state accountable to its people. History shows that since the beginning of life in society, the greater good to be defended is life, for without it there is no need to talk about right. That said, is an essential element of justice to criminal expertise, even if far from ideal in some countries, including ours, yet so responsible for the security of the population and half of social service, giving something so that people do not panic before the scene of violence.Over time, the evolution of crimes accompanied adjunct to human evolution, distancing themselves and the ability of the state has to stop and combat crimes. Still departments are created to seek to achieve harmony among all, investments and studies are put in minutes to pair and establish peace. The expert function is provided for in the criminal code and criminal procedure, and this fact made the States to organize and create a body dealing specifically with the technical and scientific police, responsible for the elucidation of crimes to aiding the judge in his decision. The duties of legal professionals require a high level of culture, making the investiture in complex police office and busy. However, economic and political vicissitudes lock the system to the point of not being able to move. This is the challenge that the forensic units have even more if inland, where the transfers hardly arrive, even making a team to be evicted from her stocking. Key words: Murder. Crime Scene. Criminal Expertise. Expert. Cientific Police. Legal Medicine. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Instituto Nacional de Pericia Figura 2 - Policia Cientifica do Estado de São Paulo Figura 3 - Perita no Local do crime com presença de curiosos Figura 4 - Local do crime preservado Figura 5 - Posição da vítima Figura 6 - Indicação de ferimentos Figura 7 - Percurso da vítima Figura 8 - Motocicleta envolvida em acidente Figura 9 - Corpo debaixo do veículo Figura 10 - Corpo debaixo do veículoFigura 11 - Ponto de impacto em acidente ferroviário Figura 12 - Cérebro em acidente ferroviário Figura 13 - Objetos encontrados no local Figura 14 - Arma de fogo - Revolver Figura 15 - Arma de fogo - Pistola Figura 16 - Modelo de laudo - título Figura 17 - Modelo de Laudo - Preâmbulo Figura 18 - Modelo de laudo – histórico da ocorrência Figura 19 - Modelo de laudo – exame do local Figura 20 - Modelo de Laudo: Perinecropsia Figura 21 - Modelo de laudo: Dinâmica do evento LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ABC Associação Brasileira De Criminalística ABML Associação Brasileira de Medicina Legal APCF Associação Nacional De Peritos Criminais Federais CBC Companhia Brasileira de Cartuchos CECGP Centro de estudos constitucionais e de gestão pública CF Constituição Federal DF Distrito Federal CP Código Penal CPP Código De Processo Penal EPC Equipe de Pericia Criminalística GTA Guaratinguetá IC Instituto De Criminalística IGP Instituto Geral De Perícia IML Instituto Médico-Legal INC Instituto Nacional De Criminalística POP Procedimento Operacional Padrão SC Santa Catarina SP São Paulo SSP Secretaria de Segurança Pública SPTC Superintendência Da Policia Técnico-Cientifica SUMÁRIO INTRODUÇÃO...........................................................................................................12 1. PERÍCIA CRIMINAL E SUA ORIGEM.............................................................16 1.1. DO CONCEITO E SURGIMENTO...................................................................16 1.2. DA PERÍCIA CRIMINAL NO BRASIL...............................................................19 1.2.1. Função da Perícia............................................................................................21 1.2.2. Estrutura dos Órgãos de perícia no Brasil........................................................22 1.3. DO PERITO......................................................................................................24 1.3.1. Das atribuições do perito criminal....................................................................26 2. FORMAS E MÉTODOS DE PERÍCIA NOS CRIMES DE HOMICÍDIOS.........28 2.1. DOS EXAMES..................................................................................................28 2.2. DO LOCAL DO HOMICIDIO.............................................................................31 2.2.1. Do exame perinecroscópico.............................................................................35 2.2.2. Dos vestígios e indícios....................................................................................38 2.2.3. Dos meios utilizados nos crimes de homicídios...............................................40 2.2.4. Veículos automotores e ferroviários.................................................................41 2.2.5. Da necropsia....................................................................................................45 2.3. ARMAS DE FOGO...........................................................................................47 2.3.1. Dos exames......................................................................................................49 2.4. DA RECONSTITUIÇÃO...................................................................................50 3. LAUDOS PERICIAIS.......................................................................................52 3.1. FUNÇÃO DO PARECER TÉCNICO................................................................52 3.1.1. Elaboração dos laudos ...................................................................................54 3.2 . LEGISLAÇÃO VIGENTE E OUTRAS DISPOSIÇÕES....................................57 3.3. EFICIÊNCIA DOS LAUDOS E EXPECTATIVA PARA O FURUTO................58 CONCLUSÃO.............................................................................................................60 REFERÊNCIAS..........................................................................................................62 12 INTRODUÇÃO A Constituição Federal de 1988 estabelece que a segurança pública em nosso país seja dever de Estado e será exercida pelas polícias. O artigo 144, IV, parágrafo terceiro, dita que “as policiais civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares”. Com a evolução das tecnologias e da própria sociedade, as polícias investigativas buscam manter a eficiência e atender à população com órgãos cada vez mais especializados em determinados tipos de crime. Surge então a Polícia Técnico-Científica. Embora não citada no parágrafo anterior, por não ter previsão na Carta Magna, a Polícia Cientifica é hoje a grande responsável pelo setor de perícias criminais, tendo como função cooperar com as polícias civis e militares na elucidação de um delito, indicando em laudos técnicos a possível autoria de um criminoso, ratificando se as substâncias analisadas configuram crime, como a análise de entorpecente, dentre outros. Subordina-se à Secretaria de Segurança Pública de cada Estado e hoje tenta caminhar por suas próprias pernas. Esta monografia possui como título a “Pericia Nos Crimes De Homicídio De Acordo Com O Ordenamento Pátrio”. Tem-se como temática o seguinte problema: Quais os objetivos e mecanismos utilizados pela perícia criminal quando dos tipos de homicídios aqui no Brasil? Tem-se a hipótese de elucidar as formas e tipos de procedimentos realizados na efetivação da perícia; - Preservação do local para colheita de objetos e coisas que poderão produzir provas, servindo de embasamento para a livre decisão do magistrado quando da materialidade ou não do crime, além do prazo para confecção do laudo. - Avaliar sua relação processual desde a época de 1832, onde fora instituída o primeiro código de processo criminal no Brasil, além de outras legislações pertinentes ao assunto. Defende-se também a ideia de como se proceder em tipos sortidos de homicídio; métodos e técnicas a serem aplicadas de acordo com cada caso e o cuidado quando do homicídio envolvendo policiais. 13 No decorrer do trabalho tentaremos resolver e explicar como são feitas as perícias nos casos de homicídio, seja ele o culposo e o doloso, abrangendo os locais dos crimes, os indícios e vestígios deixados pelo executor do delito, bem como os objetos utilizados na prática do mesmo, sendo eles armas de fogo, armas brancas e objetos que, de alguma forma, tenham servido como instrumento do tipo qualificado no artigo 121 do Código Penal. Não se tem exatamente um período específico de quando surgiu a perícia criminal no Brasil, mas há alguns escritores, relatos, artigos e monografias que versam sobre o assunto, além da previsão no código de processo criminal de 1832, onde reinava por este país a monarquia, que tratam da função do perito. Partindo do ponto de vista doutrinário, a criminalística pode ser conceituada como um sistema que se dedica à aplicação da faculdade de observação e de conhecimento científico que nos levem a descobrir, defender, pesar e interpretar os indícios de um delito, de molde a sermos conduzidos à descoberta do criminoso, possibilitando à justiça a aplicação da justa pena (ESPINDULA, 2002, p. 22). No Brasil, a origem da criminalística é confundida com a medicina legal,partindo-se das universidades e tornando-se uma atividade policial (GOMES, 1944, p.77). De fato, o que acontece hoje é que as duas disciplinas fazem parte da Superintendência da Policia Técnico-Científica (SPTC), cada uma com suas atribuições específicas, onde o SPTC-IML cuida das lesões e causa-morte em humanos e o SPTC-IC trata de tudo que envolva o crime em geral. O perito criminal, principal responsável pela elucidação, ratificação de um crime ou ato delitivo, é a pessoa dotada de conhecimentos técnicos e específicos acerca de sua função. É um cargo público que necessita de concurso, e, após aprovação nas etapas, vai para a Academia de Polícia para um treinamento específico. O presente trabalho tem por objetivo conscientizar a todos interessados no tema, que a perícia em si, juntamente com o perito, não tem o mesmo perfil dos grandes seriados como CSI, CRIMINAL MIND, onde tudo acontece tão rapidamente, os trabalhos estão sempre em conexão entre os setores, os tipos de técnicas e matérias utilizados são os mais avançados, e o perito é praticamente um paranormal. Ao contrário, aqui, muitas vezes não se tem nem material para um 14 determinado tipo de perícia, bem como os poucos profissionais envolvidos no exercício forense. Buscar-se-á também demonstrar como são elaborados os laudos, seguindo critérios específicos e atendendo requisitos das autoridades. Deverá ele ser simples e preciso, sendo facilmente interpretado e assimilado, fornecendo informações técnicas. No tocante à perícia e laudos periciais, há também previsões legais acerca de como se proceder em locais, quem deve estar presente na área do crime, aquém deva se reportar e como elaborar o laudo. Não obstante, dispõe sobre os prazos a serem seguidos e outras responsabilidades de ordem legal. Há também o surgimento da resolução SSP 40/15, que trata do envolvimento de policiais em homicídios, dispondo sobre a quem deva ser contatado e quem serão as autoridades presentes na cena do crime. Por fim, buscaremos a real conexão entre as leis e normas vigentes acerca da perícia criminal, haja vista que inúmeras situações causam entraves na maneira de como se proceder a perícia nos crimes, em especial os homicídios. Neste trabalho foram utilizadas referências bibliográficas, pesquisas em sítios oficiais de perícia criminal, bem como pesquisa de campo e depoimentos de profissionais da área de atuação. Divido em 3 (três) capítulos, tratamos no primeiro a origem da perícia criminal e sua chegada no Brasil, a função desempenhada para a sociedade e também o papel do perito dentro do contexto judiciário, pois será ele o peso na consciência dos magistrados quando de suas livres convicções. No segundo capítulo ordenamos as formas e métodos utilizados nos diversos tipos de exame pericial, em se tratando de homicídios. Aqui falamos das ciências biológica, física e química, sem deixar de lado o aspecto jurídico do tema. E por fim, discutimos acerca dos laudos periciais, partindo desde sua elaboração, o alinhamento com as leis em vigor no país, passando pelas dificuldades encontradas pelos profissionais diante do cenário econômico, as estruturas e investimentos na área técnica da polícia judiciária, e as expectativas de crescimento junto às evoluções tecnológicas. O presente trabalho possui tripla relevância: Pessoal, por ser a área em que atuo diretamente, como membro da Policia Técnico-Científica do estado de São Paulo; Social, propondo uma análise mais técnica e conceitual acerca do tema, 15 levando informações que divergem da realidade exposta nos meios de comunicações, e no que toca ao sentido Científico, o de contribuir para futuras pesquisas, haja vista que poucos discorreram até hoje sobre este assunto, e servir para orientações legais, pertinentes às autoridades policiais que trabalham em conjunto para solucionar os tipos de delitos previstos em lei. Como metodologia, esta pesquisa tem caráter de documentação indireta bibliográfica, documental e experimental, já que foi desenvolvida a partir de fontes já elaboradas como: livros devidamente referenciados na bibliografia, legislações pertinentes, em páginas eletrônicas oficiais e pesquisa de campo. Será realizada a leitura crítica interpretativa e apelativa, levantamentos de dados quantitativos, qualificativos e relativos das obras pertinentes ao enfrentamento do tema e à comprovação das hipóteses. O material documentado, bem como, as respectivas análises serão organizadas em relatório de pesquisa componente do estudo monográfico que se pretende construir. Fundamentou-se este trabalho em CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988; CÓDIGO PENAL (Decreto-lei 2848/40); CÓDIGO DE PROCESSO PENAL (Decreto- lei 3689/41); POP (MPF 2013); RESOLUÇÃO SSP 40/15 (MPSP/15), para as normas vigentes e procedimentos legais; ESPÍNDULA (2007,2009); TOCCHETO E ESPÍNDULA (2006,2009), para as técnicas e tipos de execução da atividade pericial; CODEÇO (1991); ORNELAS (2000) DÓREA (1995); IC-SPTC/SP; IC-SPTC/PR; IGP/SC, para evolução histórica do serviço perícia; BARBOSA (2007), para histórias envolvendo peritos empíricos; e FRANÇA (2008), CROCE E CROCE JUNIOR (1996), examinando a matéria de medicina legal. 16 1. PERÍCIA CRIMINAL E SUA ORIGEM Neste capítulo será abordado a origem da perícia criminal no contexto de justiça, a introdução da perícia no brasil, sua função e estrutura no país, além da figura dos peritos criminais e suas funções como aquele profissional que possui habilidades especiais para desvendar casos que encabulam a mente do homem médio. Tem-se como destaque o início das atividades periciais, sendo o modo empírico o pioneiro na busca pela verdade dos fatos. Muitas são as histórias dos homens com técnicas especiais para a resolução de um problema, dentre eles os que possuem o faro para desvendar a origem de um delito. Também, neste capítulo, foram utilizadas as obras de Codeço (1991) e Dórea (1995), que examinam a origem da criminalística; De Plácido e Silva (2003), dispondo acerca da origem do termo “perícia”; Ornelas (2000), discorrendo sobre a importância da prova pericial; Barbosa (2006), tratando de histórias envolvendo pessoas com habilidades especiais, atuando como perito de maneira empírica. 1.1. DO CONCEITO E DO SURGIMENTO De acordo com o dicionário contemporâneo da língua Portuguesa- UNESP (2004, p. 1240), o termo perícia possui como sinônimos as palavras “sabedoria, prática, experiência, habilidade em alguma ciência ou arte”. De Plácido e Silva (2003, p.32) dispõe em seu livro que a palavra perícia, advém do latim peritia (habilidade, saber, destreza), e na linguagem jurídica, significa a diligência a ser realizada ou executada por peritos, a fim de que esclareçam ou se evidenciem determinados fatos. É medida que vem mostrar o fato, quando não haja meio de prova documental para tal, ou quando se quer esclarecer circunstâncias a respeito dele, mesmo que não se acham perfeitamente definidas. Englobam-se no termo perícia, os exames, as vistorias e as avaliações de um modo geral. E pelo fato de se haver necessidade de técnicas quando das diligências, necessita-se do técnico ou pessoas hábeis a examinar tal coisa, fato, etc. 17 Na esfera judicial, divide-se a perícia em duas partes, a cível e a criminal, onde a primeira trata dos conflitos judiciais na área patrimonial e/ou pecuniária. A segunda, objeto deste trabalho, trata da perícia criminal, responsável pelos exames em se tratando das infrações penais. Segundo o site oficial do Instituto de Criminalística do Estado doParaná (2015, P. 6), o termo “CRIMINALÍSTICA” aparece no meio do século passado com HANS GROSS, estudioso da disciplina jurídica. Foi juiz, promotor, além de lecionar a disciplina forense na Universidade de Graz em Praga, hoje pertencente à República Tcheca. Para ele, os métodos empregados nas investigações eram ineficientes, e que o magistrado deveria ter mais acesso a conteúdos que o ajudasse a decidir sobre determinado crime. Em seu conceito, a criminalística compreenderia não somente o estudo dos vestígios concretos, e materiais do crime – objeto da técnica policial – mas também o exame dos indícios abstratos, psicológicos do criminoso, na medida em que esta ciência pode ser distraída da psicologia geral, considerando que a investigação judiciária, para a descoberta do autor de um crime, utilizaria os primeiros e não poderia desprezar os outros. É o autor do primeiro manual de criminalística científica, “Die Kriminal Psychologie” (A Psicologia Criminal) – Manual para Juízes de Instrução. A criminalística é uma ciência aplicada que utiliza conceitos de outras ciências firmadas nos princípios da física, química, biologia, no bojo de métodos e normas específicas contidas nas legislações competentes ao assunto, principalmente o código de processo penal, resoluções e normas específicas. (BARBOSA, 2006, p. 78). Em nossa concepção, seria o estudo de todas as causas que envolvam o delito, pois quando se trata de exames, as matérias se correlacionam. Tem-se, por exemplo, o perito da rua, apreendendo material que será levado ao laboratório de análises, bem como a avaliação do médico legista. Não obstante, corre em paralelo o estudo da criminologia, que busca entender o porquê das disfunções morais, genéticas e sociais dentro homem. O fato é que todos esses elementos tentam, de alguma maneira, prestar esclarecimentos à sociedade e diminuir a prática delituosa. Alguns doutrinadores, como Codeço (1991, pg. 35) Dórea (2006, p. 21) e França (2008, p.06), dentre outros, dizem que a criminalística seria oriunda da medicina legal. Há quem diga que seria apenas uma confusão acerca do conceito, 18 pois a medicina legal trata tão somente de vestígios intrínsecos relativos ao crime, ou seja, nos humanos. A partir de 1908, em Lausanne, França, foi criado o primeiro Instituto de Polícia Científica. No decorrer do século, a criminalística foi sendo incorporada às forças policiais. Contudo, em estudos paralelos, encontramos relatos que, desde há muito, meados do século VI A.C., Daniel, profeta do antigo testamento, com astúcia e perícia, foi capaz de provar ao rei da babilônia, Ciro, que as oferendas prestadas ao ídolo Bel eram, na verdade, consumidas pelos sacerdotes e seus familiares. Daniel espalhou cinzas por todo o piso do templo, onde diariamente eram colocadas a as oferendas, e no dia seguinte, verificaram que, mesmo com a porta trancada, havia pegadas compatíveis com as dos sacerdotes e que as oferendas haviam sido consumidas. (INSTITUTO DE CRIMINALÍSTICA DO PARANÁ, 2015, p.2) Há também a história do princípio de Arquimedes, onde o rei Hierão de Siracusa mandou fazer uma coroa de ouro. Porém, quando a coroa foi entregue, ouviu boatos de que a mesma não era totalmente de ouro, mas sim fraudada pelo ourives. Para solucionar a dúvida, o rei pediu ao sábio Arquimedes que investigasse o fato. O sábio utilizou o princípio que se baseia no empuxo ou impulsão, colocando em uma bacia com água coroa. Verificou-se então que havia fraude, pois, o ouro não fazia imergir tanta água como a prata. (BARBOSA, 2006 pág. 141). Esses relatos esclarecem que, desde a antiguidade, já eram desenvolvidas técnicas e tipos de análises para solucionar delitos. Todavia, foi a partir do século XVI que se tem uma sistematização de dados, a formar um corpo de conhecimento estruturado. Inicia-se com os trabalhos de Ambroise Paré sobre ferimento por arma de fogo, datado de 1560, os quais foram seguidos por estudos de Paolo Zachias em 1651, este último, sendo considerado o Pai da Medicina Legal (CODEÇO, 1991, p. 100). De acordo com Codeço (1991), a criminalística e pericia criminal é filha da medicina legal. Cremos que, apesar de não conseguir distinguir com exatidão a precedência da medicina legal e relatar que esta é a mãe da criminalística, ousamos dizer que são espécies de estudos diferentes em conteúdo de forma e métodos utilizados, contudo, correlatas. 19 1.2. DA PERÍCIA CRIMINAL NO BRASIL Em nosso país, a origem da criminalística também tem intima relação com a medicina legal. Tem-se uma publicação nacional de medicina legal, ano de 1814, do autor Gonçalves Gomide, médico e Senador do Império: A enfermidade começou há anos, por dismenorragia proveniente da ação diminuída do sistema sanguíneo, de que se seguiram movimentos irritativos retrógrados do canal alimentar, como anorexia, vômitos, histéricos etc. Estes movimentos espasmódicos continuam quase sempre, porém com circunstâncias tão singulares e tão extraordinárias que merecem a maior atenção. I - A enferma não toma quase alimento, e nas sextas-feiras e sábados nada absolutamente. Segundo a ordem natural é impossível viver e conservar o vigor que apresenta e tacto fisionômico: deveria ter caído em tal debilidade, que extinguisse o princípio vital. [...] Desde a meia noite de quinta-feira a cada semana, há uns tempos para cá, todo o dia da semana, até a meia noite de sexta para sábado fica na postura de crucificada, assim se conserva com os músculos tão rijos e tão tensos, que ninguém pode tirar os membros da posição em que estão, nem apartar um pé que está como que encravado no outro; a cabeça inclinada ao lado esquerdo; um estado de insensibilidade, joelhos curvados, pulso natural e, de quando em quando, suspende-se a cabeça e braços, e pés simultaneamente; como aconteceu logo que a vimos comungar ontem, neste mesmo estado de insensibilidade. [...] Tudo o quanto fica referido atestamos unanimemente, e juramos aos Santos Evangelhos. Serra da Piedade, em dois de abril de mil oitocentos e catorze. Antonio Pedro de Sousa e Manuel Quintão da Silva. (CECGP, 2015, p.1) A partir de 1832, temos a concretização da perícia criminal em nosso país, e isso ocorreu com o Código de Processo Criminal, onde citava em seu quarto capítulo, nos artigos 134 e 135 a figura do perito, senão vejamos, in verbis: Art. 134. Formar-se-ha auto de corpo de delicto, quando este deixa vestigios que podem ser ocularmente examinados; não existindo porémvestigios, formar-se-ha o dito auto por duas testemunhas, que deponham da existencia do facto, e suas circumstancias. Art. 135. Este exame será feito por peritos, que tenham conhecimento do objecto, e na sua falta por pessoas de bom senso, nomeadas pelo Juiz de Paz, e por elle juramentadas, para examinarem e descreverem com verdade quanto observarem; e avaliarem o damno resultante do delicto; salvo qualquer juizo definitivo a este respeito. A perícia criminal, como já citada, era realizada desde há muito, bem como o perito, apesar de não possuir o título para tal. Mas somente em 1832 é que 20 conseguimos visualizar a função deste, razão pela qual é denominada o marco para criminalística brasileira. Em 1877, dá-se início em uma importante fase da medicina legal brasileira, com a entrada de Agostinho José de Souza Lima para a faculdade de medicina do Rio de Janeiro. Nesse contexto, está a criação do ensino prático de medicina legal, desenvolvendo a parte do laboratório; inauguração do primeiro curso prático de tanatologia forense no necrotério da polícia da capital federal, em 1881. Correndo-se os anos, surge a figura deRaimundo Nina Rodrigues, baiano, responsável pela evolução técnico-cientifica e dispondo sobre a identificação própria da medicina legal em nosso país. Ele considerava que os problemas médico-legais e de criminologia brasileira eram distintos da Europa, haja vista as condições físicas, psíquicas e sociais de nosso Estado eram totalmente diferentes. Em corrente favorável às descobertas de Nina Rodrigues, surgem Afrânio Peixoto, Oscar Freire, Flamínio Fávero, dentre outros. (França, 2008, p. 27). Nesse período, Oscar Freire consegue um acordo entre o governo da Bahia e a faculdade de medicina. Não demora muito Freire funda a Polícia Científica em Salvador. Posteriormente, Flamínio Fávero toma a frente e dirige o instituto por mais de 30 anos. (ABML, 2015, p.3) Em 1949 foi inaugurado um novo instituto médico-legal no Rio de Janeiro, o instituto Afrânio Peixoto, responsável por grandes avanços na área da perícia criminal em todo o país. Porém, as funções dos Médicos-Legistas e peritos ainda se confundiam, pois além dos exames intrínsecos (nas pessoas), os legistas também atuavam em locais de crimes, bem como na realização de análises em objetos e substancias. (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2015, p.2) Com o advento do Código de Processo Penal, Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941, em vigor desde então, a perícia criminal é tratada como instrumento de suma importância nas investigações criminais, bem como responsável por gerar prova material acerca de um crime, indicando indícios de autoria, ratificando um ato delitivo, além de auxiliar o juiz em sua convicção. Posteriormente, surgiram várias legislações que cuidam dos setores de perícia, além de resoluções especificas sobre um determinado tipo de diligência, normas de procedimentos, pareceres e etc. 21 1.2.1. Função da perícia De acordo com Ornelas (2000, pg.76), aos Institutos de Criminalística, dirigidos por Peritos Criminais, compete a realização de exames periciais, pesquisas e experiências no campo da Criminalística (química forense, informática, engenharia, reconstituições, balística, documentoscopia, disparo de arma de fogo, armas brancas, objetos em geral, ambiental, fonética etc.), levantamentos topofotográficos e sinistros envolvendo patrimônio público. Têm por atribuição auxiliar a Justiça, fornecendo provas técnicas sobre locais, coisas, objetos, instrumentos e pessoas, para a instrução de processos criminais. A perícia tem a função de identificar e examinar os elementos da prova, para futuramente serem levados ao processo. A perícia criminal é materializada por intermédio do exame pericial, que pode acontecer, tanto no período do inquérito policial, quanto na fase processual penal, mas para que isso aconteça, é necessário a figura do perito criminal, dotado de habilidades e competência para exercer a atividade forense. É ele quem ratificará ou não se, o objeto da análise constitui ato delitivo. Como vimos, em Ornelas (2000, pg. 131) ”a função primordial da prova pericial é a de transformar os fatos relativos à lide, de natureza técnica ou científica, em verdade formal, em certeza jurídica”. O Código de Processo Penal estabelece as normas acerca da realização de perícia, os prazos nele contidos, sob pena de serem nulas as provas utilizadas no curso do inquérito policial, bem como nas fases processuais. Assim vejamos referidos artigos, in verbis: Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Art.160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que examinarem, e responderão aos quesitos formulados. Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos. [...] Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos: III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes: b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no Art. 167; 22 A prova pericial será aderida ao processo penal, ainda que levantada no inquérito policial, não havendo a necessidade repetição do exame pericial durante o processo penal, quando houver sido realizado no inquérito policial inquisitivo, salvo em algumas exceções, onde é realizada segunda perícia. Não obstante, há a previsão no artigo 181 do CPP que dispõe, in verbis: Art.181. No caso de observância de formalidades, ou no caso de omissões, obscuridades ou contradições, a autoridade judiciaria mandara suprir a formalidade, complementar ou esclarecer o laudo. Parágrafo único. A autoridade poderá também ordenar que se proceda a novo exame, por outros peritos, se julgar conveniente. Porém, muitos trabalhos executados pelos peritos, seus auxiliares, bem como as policias envolvidos em um crime, são desprezados pelas autoridades, haja vista que inúmeros são os arquivamentos dos casos sem ao menos gerarem inquérito, seja pelo lapso temporal, seja por não conseguir encontrar as partes, seja porque não há indícios do delito ou porque uma das partes não acionou à justiça, em se tratando de queixa ou representação. 1.2.2. Estrutura dos órgãos de perícia no Brasil As estruturas administrativas da perícia nacional seguem conforme às esferas de competência e jurisdição, sendo divididas então em federal e estadual. Segundo o site da associação nacional de peritos criminais federais - APCF (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PERITOS CRIMINAIS FEDERAIS, 2012, p.1), o Instituto de Criminalística foi instalado em Brasília no ano de 1960, juntamente com a mudança da capital. O IC (Instituto de Criminalística) fazia parte do DFSP (Departamento Federal de Segurança Pública), localizado no Rio de Janeiro e com âmbito regional. Em 1960, com a transferência da capital, a DRPB (Departamento Regional de Polícia de Brasília) foi extinta e substituída pela DFSP, que passou a, oficialmente, ter âmbito nacional. O então IC transformou-se em INC (Instituto Nacional de Criminalística). Abaixo, segue ilustração do Instituto Nacional de Criminalística, órgão máximo da Polícia Científica quando de competência Federal, atualmente situada em Brasília, Distrito Federal. Vejamos: 23 Figura 1 – Mostra o Instituto Nacional de Criminalística. Fonte: APCF (2015, p.1) No estado de são Paulo, conforme o site oficial da Superintendência da Policia Cientifica (SPTC/SP, 2015), em dezembro de 1924 foi criado o primeiro Instituto de Criminalística (IC), também chamado de Polícia Técnica, sob a lei 2034, tendo a denominação de Delegacia de Técnica Policial. Transpassados dois anos, passou a ser chamada de Laboratório de Polícia Técnica. Em 1951 foi transformado em Instituto de Polícia Técnica, passando a ter seções especializadas. Pela Lei n. 6.290, de 21 de dezembro de 1988, o IC passou a ser chamado de “Instituto de criminalística Dr. Eduardo de Brito Alvarenga. ” Com a criação da Superintendência Da Polícia Técnico-Científica (SPTC). Em 1998, o Instituto de Criminalística (IC) tornou-se um dos dois órgãos subordinados à SPTC, ao lado do Instituto Médico Legal (IML). Figura 2 – Logotipo da Polícia Científica do Estado de São Paulo. Fonte SPTC/SP (2015, p.1) 24 Não se restringindo somente ao DF e SP, em cada unidade da Federação existem os institutos de criminalística e os institutos médico-legais. As sedes destes órgãos são nas capitais, havendo nas principais regiões, divisões, núcleo ou setores de criminalística e medicina legal, com o intuito de atender aosmunicípios vizinhos, geralmente interior de cada estado. (ESPINDULA, 2007, pg. 74) De acordo com a Superintendência da Policia Técnico-Cientifica do estado de São Paulo (2015, p.5), na região do Vale do Paraíba, há o Núcleo de Perícia Criminal, instalado no município de São José dos Campos, haja vista que é considerada a metrópole do Vale do Paraíba. Quanto aos setores, os munícipios de Guaratinguetá e Cruzeiro são responsáveis por mais 15 municípios que as envolvem. São eles: Roseira, Potim, Aparecida, Cunha, Cachoeira Paulista, Lorena, Canas e Piquete (EPC- Guaratinguetá) e Silveiras, São Jose do barreiro, Areias, Lavrinhas, Queluz e Bananal (EPC- Cruzeiro). Uma importante observação a se fazer é que, em se tratando de alguns tipos de pericias, nossos setores não possuem equipamentos hábeis e eficazes, ficando a cargo do Núcleo (SJC) a realização dos procedimentos técnicos, pois este tem uma estrutura mais ampla e comporta diversas atribuições competentes à sua função. Os tipos de solicitações mais comuns enviadas ao núcleo são os exames de grafotecnia, documentoscopia, análise em gravações em mídias, confronto balístico e materiais que necessitem de laboratórios específicos como a biologia e física. 1.3. DO PERITO Como já visto, a figura do perito surge com o início da criminalística, mesmo sem haver conceito para tal função ou alguma previsão. Tem-se Hans Gross como o primeiro perito, propriamente dito no período entre 1890 a 1915, ano de sua morte. Não obstante, há vários relatos, como já citados anteriormente, de que outras pessoas tenham exercido o papel de perito em algum tipo de situação. Embora não seja descrita a figura do perito criminal, tem-se a previsão no capítulo II do Código de Processo Penal, onde fala sobre as perícias, senão vejamos, in verbis: Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior. 25 O mesmo artigo também trata do perito não oficial, ou seja, aquele que não pertence à polícia-cientifica, mas quem tem a função de auxiliar nas investigações, elaborando laudos, e emitindo pareceres técnicos, in verbis: § 1o Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame. § 2o Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo. Hodiernamente, o perito criminal é dotado de habilidades técnicas, além de possuir curso superior (exigência para o cargo) e fazer parte de um seleto grupo de policiais-científicos. Para ingressar no cargo, é necessário prestar concurso público, e ao concluir todas as etapas eliminatórias, entrará para a Academia de Polícia, sendo treinado e capacitado para os tipos de exercícios competentes à sua função. Em 17 de setembro de 2009 foi sancionada a lei nº 12.030, estabelecendo normas gerais para as perícias oficiais de natureza criminal. Em seu primeiro artigo, trata da função do perito criminal, fazendo com que seja efetivado na legislação pátria o exercício da atividade forense. No segundo, é assegurada autonomia técnica, científica e funcional, exigido concurso público, com formação acadêmica específica, para o provimento do cargo de perito oficial. Mister se faz esclarecer que o perito não é nenhum ser paranormal, sendo capaz de desvendar os crimes somente com sua habilidade investigativa, nem apontar o autor do delito com objetos constados no local do crime. Ao contrário do que se vê nos seriados de investigação criminal, CSI, CRIMINAL MIND, dentre outros do gênero, o perito trabalha com elementos que podem servir de prova material, depois de uma análise minuciosa, formando ele um parecer, seja positivo ou negativo acerca da coisa ou objeto. Essa ratificação ou não acerca do fato delitivo servirá de instrumento comprobatório para as autoridades darem seguimento em suas investigações, bem como auxiliará o juiz a decidir, em se tratando de decisão e sentença. Cabe lembrar que o juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte (Código de Processo Penal, art.182). Contudo, a atividade pericial exercida pelo profissional competente auxilia e muito na elucidação de um caso. 26 1.3.1. Das atribuições do perito criminal Como profissional dotado de habilidades intelectuais e técnicas capazes de satisfazer o interesse judiciário, o perito criminal, quando da investidura no cargo, deve utilizar seus conhecimentos, também, para as suas diversas atribuições, estas que por sinal não são poucas. No dizer de Espíndula (2007, p. 37): O perito criminal é um “profissional concursado, a serviço do estado onde atua, analisando locais e materiais oriundos de crimes e contravenções penais tipificadas em nosso ordenamento jurídico; auxiliando na busca pela realidade dos fatos e autoria do delito. ” De acordo com os últimos editais da Policia Federal e da Polícia Civil do estado de São Paulo, ambos do ano de 2013, os peritos tem como principal função as seguintes atribuições: Supervisionar, coordenar, controlar, orientar e executar perícias criminais em geral; Planejar, dirigir e coordenar as atividades científicas; Fornecer elementos esclarecedores para a instrução de inquéritos policiais e processos criminais; Promover o trabalho especializado de investigação e pesquisa policial; Executar atividades técnico-científicas de nível superior de análises e pesquisas na área forense; Proceder a levantamentos topográficos e fotográficos e a exames periciais, laboratoriais, odonto-legais, químico-legais e microbalísticos; Emitir parecer sobre trabalhos criminalísticos; Produzir laudos periciais; Elaborar estudos estatísticos dos crimes em relação à criminalística; Praticar atos necessários aos procedimentos das perícias policiais criminais; Executar as atividades de identificação humana, relevantes para os procedimentos pré-processuais judiciais; Desempenhar atividades periciais relacionadas às atribuições legalmente reservadas às classes profissionais a que pertencem; Portar e manusear armas de fogo, bem como executar outras tarefas que lhe forem atribuídas; Realizar exames periciais em locais de infração penal; Efetuar exames em locais de incêndio, desabamentos, explosões, sabotagem e terrorismo; Realizar exames em instrumentos utilizados, ou presumivelmente utilizados, na prática de infrações penais, proceder pesquisas de interesse do serviço; Coletar dados e informações necessárias à complementação dos exames periciais, dentre outros. Importante ressaltar que as atividades desenvolvidas pelos profissionais forenses são condicionadas a cada estado e tipos de unidades, pois em se tratando 27 de regiões, estruturas, funções, algumas funções serão efetuadas por oficiais administrativos, servidores públicos que exercem atividades burocráticas, administrativas, e, não raro, atuam como verdadeiros peritos. (SPTC/SP,2015 p.2) Por fim, a função do perito é buscar a verdade através de suas análises e pesquisas, sem a prerrogativa de suspeitar, nem dispor sobre o que pensa sobre o assunto, haja vista que ratifica ou não a materialidade do delito. Deve tentar desvendá-los utilizando todos os tipos de técnicas e métodos disponíveis.28 2. FORMAS E MÉTODOS DE PERICIA UTILIZADOS EM HOMICÍDIOS O presente capítulo abordará as formas e métodos utilizados pelos peritos quando do homicídio, dispondo sobre os locais do crime, os meios utilizados para a prática do mesmo, bem como os objetos que podem servir de provado delito, partindo desde as armas de fogo, armas brancas e objetos que possam servir de instrumento na conduta delitiva. Contudo, o objetivo da perícia criminal, de uma forma geral, apenas ratifica ou não a prática delitiva, deixando a responsabilidade de pesar ao acusado, se sua conduta foi dolosa ou não, seja para os advogados, promotores e magistrados. Ainda, neste capítulo, destaca-se o objetivo de inserir o leitor na esfera da perícia criminal em se tratando de homicídios, abordando o seu conceito, formas e métodos a serem utilizados pelo profissional quando do seu exercício laboral. Foram utilizadas como pesquisas, as obras de Croce e Croce Júnior (2003), para conceitualizar o crime de homicídio; Tocccheto e Espíndula (2009), sobre tipos de perícias e procedimentos específicos em determinados campos; Espíndula (2007), tratando de vestígios em locais de crime; Dórea (2011), para apreensão em objetos em locais de crime; IC/SC (2011), para exames em arma de fogo; Código de Processo Penal (Decreto-Lei 3689/1941), quando da previsão legal do local de homicídio e exame de corpo de delito; Resolução SSP 40/15, que trata da preservação de local quando do envolvimento de policiais em crimes de homicídio; Código Penal (Decreto-Lei 2848/1940), quando da figuras tipificadas no artigo 121; e Pacto de San José da Costa Rica (1969), quando desobriga o acusado a produzir provas contra si; e Mirabete (2002), para dispor sobre a reconstituição delitiva; e Capez (2003), para o exercício da reconstituição do crime. 2.1. DOS EXAMES Quando se fala em exames, tratamos de tudo o que possa ser objeto de perícia, seja no local demonstrado no subitem acima, sejam os objetos relacionados com as atividades criminosas, como também na própria vítima. Não menos importante são os vestígios e indícios encontrados pelo perito na cena do homicídio, cabendo ao nobre expert considera-los ou não. 29 Quando feito pelo perito do local, chama-se Perinecropsia. E, em se tratando de Necropsia, este será feito pelo médico legista. Ambos terão tópicos especiais neste capítulo. No conceito dos doutrinadores Croce e Croce Junior (2003, p.327), “Homicídio é a morte voluntária ou involuntária de alguém realizada por outrem”. Todavia, quando falamos em homicídio, estamos dispondo sobre o homicídio em sentido lato, abrangendo tanto o tipo doloso, quando há intenção de produzir o resultado, assumindo o risco, quanto o culposo, quando não há a intenção de produzir o resultando, não assumindo a responsabilidade. Esse tipo de crime está previsto no artigo 121 do código penal. Geralmente, essa conclusão se dá nas reconstituições, onde são reproduzidas a maneira como foi efetuado o crime, as condições climáticas, o lugar e objeto do delito, bem como as testemunhas oculares. Porém, essa modalidade de perícia não constitui regra, haja vista que ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo. (Art. 5ºCF, LXIII; Art. 8º, §2º, alínea g do Pacto De San José Da Costa Rica - 1969). É também uma das formas de perícias a ser tratada neste capítulo. Na visão de Tocccheto e Espíndula (2009, p. 13), na área de crimes contra a vida, existe apenas um tipo de perícia, que é a perícia de local. Para eles, há um subtipo, que pertence ao local, sendo eles, por exemplo, locais de tentativas de homicídio, encontro de cadáver, suicídio e etc. Os objetos encontrados na cena do homicídio, logo que os peritos findarem suas diligências, serão recolhidos pelos policiais, que após a solicitação do delegado atuante no caso, serão enviados para o IC com intuito de auxiliarem na busca pela verdade do fato. Tudo o que for de importância para investigação será recolhido e enviado ao Instituto de Criminalística (IC). Não que seja regra o perito que fez o local do crime seja quem faça os exames em laboratório, mas é de conveniência que se faça, pois ele está a par do assunto em questão, o que poderá ajudar na elaboração do laudo. Em se tratando de vestígios ou indícios, estes serão levados ao laboratório de análises químicas e/ou biológicas, onde será avaliado o DNA dos envolvidos no crime, bem como o uso do luminol, responsável por revelar manchas de sangue. 30 Já no que tange à (s) vítima (s), quando do local de homicídio ou morte suspeita, haverá o exame perinecroscópico. De acordo com o artigo 164 do CPP, nele serão registradas todas as lesões encontradas na vítima, além das fotografias no exato local de onde encontrado o corpo. Posteriormente esta (s) será (ão) levada (s) ao IML, para uma análise mais profunda, quando da necessidade de se constatar a causa-mortis. Aparentemente, é menos trabalhoso falar da pessoa do que tratar de vários objetos apreendidos na cena do crime. Contudo, há vários tipos de lesões, cabendo ao médico classificá-las de acordo com cada tipo de instrumento utilizado na prática do crime. Para Tocchetto e Espíndula (2009) alguns procedimentos devem ser tidos como regra, pois levarão, de um modo ou de outro, a uma completa visão do local atendido, bem como trará lembranças de como se começou a análise do lugar. Abaixo, citamos alguns dos procedimentos e serem executados pelos profissionais, segundo o nobre autor: A. Procedimento anterior ao exame: Anotação do endereço e fato; Preparação do material rotineiramente utilizado no exame; Reconhecimento do tipo de solicitação (natureza do exame); Anotação do horário de solicitação de exame; [...] B. Exame preliminar da cena do crime: Entrevista com o primeiro policial do local do fato, visando à tomada de informações relativas ao histórico; Escolha do tipo de padrão a ser utilizado na busca de vestígios (em linha, em grade, em espiral, quadrantes, etc; Formulação dos objetivos dos exames (o que é para ser encontrado); [...] C. Fotografias da cena do crime: Ilustrar as reais condições de isolamento do local, no momento exato da chegada da equipe pericial, sobretudo quando se percebe o descumprimento das regras para o isolamento de locais e preservação das evidencias e a inadequabilidade do perímetro utilizado. (TOCCCHETO E ESPÍNDULA, 2009, p.14) Contudo, mesmo seguindo as orientações contidas em doutrinas e experiências com colegas do campo, o perito deve elaborar seu próprio roteiro, ajustando as orientações já expostas, juntamente com suas convicções, o que lhe trará mais confiabilidade na atividade executada, mormente àqueles que acreditam em intuição e sensibilidade, sem deixar de lado, obviamente, sua técnica e astúcia. Não podemos desconsiderar que há pessoas com habilidades especiais, como sensibilidade e outras singularidades, o que pode ser usado como auxilio extra em sua investigação e possível conclusão. 31 2.2. DO LOCAL DO HOMCÍDIO O exercício pericial de local homicídio é imprescindível para apuração do crime, onde o perito acionado deverá identificar a vítima, o local e tipo do ferimento, se foi de arma de fogo ou arma branca, instrumentos utilizados como tal, ou locais onde houve morte oriunda de acidente de trânsito ou linha férrea. O dicionário UNESP (DO PORTUGUÊS COMPEMPORÃNEO,2004, p.721), diz que Homicídio é a ação de matar alguém, um termo que deriva do latim “Homicidium”, referindo-se à morte de um ser humano causada por outrem. O código penal pátrio, em seu artigo 121 tipifica o homicídio em 3 (três) figuras, sendoa primeira o “homicídio simples”, a segunda “homicídio qualificado” e a terceira, o “homicídio culposo”. Esse tipo de classificação altera substancialmente o crime, que embora seja o mesmo, difere e muito quando da aplicação da pena e suas progressões caso condenação. Trata-se de um crime de origem universal, onde desde os primórdios as penalidades para esse tipo de delito são as mais severas. Tanto a Constituição Federal de 1988, bem como a de Portugal, inserem a proteção do Direito à vida como um dos seus direitos e garantias. O sujeito ativo desse tipo de crime será sempre uma pessoa física, pois é a única capaz de levar outra a óbito. A legislação pátria não concebe em suas normas que uma pessoa jurídica, haja vista a impossibilidade de esta ferir fisicamente alguém. Espíndula (2007, p. 3) expõe a definição do local de crime: Local de crime constitui um livro extremamente frágil e delicado, cujas páginas por terem a consistência da poeira, desfazem-se, não raro, ao simples toque de mãos imprudentes, inábeis ou negligentes, perdendo-se desse modo para sempre, os dados preciosos que ocultavam à espera da argucia dos peritos. O Código Penal, em seu artigo sexto, in verbis: Art. 6º considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Mister se faz a preservação do local para que se tenha uma melhor análise quando dos vestígios e indícios da autoria do crime, como objetos deixados nas 32 imediações, digitais para comparação genética, solados de calçados dentre outros. A previsão legal está no artigo sexto e no cento e sessenta e nove do Código de Processo Penal, vejamos, in verbis: Art. 6º “Logo que tiver conhecimento da pratica da infração penal, a autoridade policial deverá: I- Dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estrado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais. O artigo 169 da lei supra, in verbis: Art.169. “Para efeito de exame de local onde houver sido praticada a infração, a autoridade providenciara imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esquema elucidativos” O isolamento do local é a primeira providência a ser tomada, e é responsabilidade dos policiais e peritos. Hoje também com a presença do promotor, quando há homicídios envolvendo policiais, seja no polo ativo, como no passivo, conforme a Resolução SSP 40/15, que devem saber da importância da preservação do local, sob pena de os exames serem inexatos, além da infração penal prevista no Código Penal, imposta àquele que infringir seu dispositivo, in verbis: Art. 166 – alterar, sem licença de autoridade competente, o aspecto de local especialmente protegido por lei Pena- detenção de um mês a um ano e multa. Há uma divisão na região do fato, tratando-se do local imediato e mediato, onde o primeiro é onde está o cadáver e a maioria dos vestígios observados em uma primeira visualização. O segundo é a área ao redor do local imediato, onde passam haver vestígios ou indícios de que houve naquela região o crime. Por muitas vezes, o local do crime abrange não somente as autoridades, mas também curiosos acerca do acontecido, familiares da (s) vitima (s), e talvez, o próprio autor do fato, razão pela qual os peritos e policiais que estão envolvidos, devam estar devidamente aparados com equipamentos que salvem-guardem suas integridades físicas, além de preparo para as diversas condições do local. A seguir, tem-se ilustração de como pode ser perigoso ao perito executar sua atividade quando se tem curiosos perto da cena do suposto crime, haja vista que não se sabe quem são e o que estão pretendendo no local. Ali pode estar escondido 33 o próprio autor, bem como envolvidos com a intenção de causar desatenção ao perito e policiais envolvidos. Vejamos: Figura 3 – Mostra a Perita no local do crime com presença de vários curiosos. Fonte: IC/GTA (2015) Para este tipo de exame é necessário que o profissional responsável tenha o cuidado de relatar todos os dados referente a situação atual do local, inclusive relatando em seu laudo quaisquer alterações que possam influenciar em sua conclusão. Deve ainda relatar quanto ao desalinho ou não do ambiente e vestes da vítima, configurando-se agressões físicas efetivadas por seu agressor. (ESPÍNDULA, 2007, p.13) E para haver esse tipo de constatação, surge a figura do Fotógrafo Pericial, responsável por registrar através de sua lente, todo o tipo de indicio, vestígio que o perito indicar. Este por sua vez, imprescindível no local do crime, haja vista que está presente em nosso CPP. É um cargo público, sendo intitulado como policial técnico- científico, por fazer parte da estrutura da polícia científica. Os artigos 164 e 165 do código de processo penal dispõem, in verbis: 34 Art.164-Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem encontrados, bem como, na medida do possível, todas as lesões externas e vestígios deixados no local. Art.165- Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando possível, juntarão ao laudo do exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente rubricados. Não somente fotógrafo, mas também motorista, que acompanha o perito nas atividades, o profissional técnico responsável pela fotografação da vítima, local e objetos que tenham relação com crime, possui carreira policial investida através de concurso público e complementa a equipe pericial. Nota-se que seria impossível um trabalho completo exercido somente por um profissional, haja vista que uma fotografia permanece inalterada nos dias de hoje, auxiliando e muito o perito na elaboração do laudo. Garcia fala que a fotografia é o mais perfeito dos processos de levantamento de local de crime, por tratar-se de uma “reconstituição permanente da ocorrência, que ira permitir sempre que necessário, consultas sobre o fato” (GARCIA, 2002, p.326). Em se tratando de homicídio envolvendo policiais, seja no polo ativo quanto no passivo, no dia 24 de maço de 2015, inseriu-se no âmbito das normas legais a resolução SSP 40/15, orientando como devem ser tomadas algumas providências quanto ao local do crime, a quem deva se portar e solicitar presença. Segue um trecho da norma citada: Artigo 1º – O procedimento previsto na presente resolução será adotado nas seguintes hipóteses: I – Homicídio consumado de policiais civis, militares, integrantes da Polícia Técnico-científica, agentes penitenciários, guardas civis municipais e agentes da Fundação CASA, no exercício da função ou em decorrência dela; II – Morte decorrente de intervenção policial estando ou não o agente em serviço. [...] Artigo 3º. O Ministério Público será imediatamente comunicado das ocorrências, para que, se entender cabível, determine o comparecimento de um Promotor de Justiça ao local dos fatos. O perito e o fotógrafo terminam seus trabalhos no local do crime de homicídio quando se exaurirem todas as possibilidades de exames, momento em que ele autorizará à Autoridade Policial a remover a interdição do sítio do delito. A autoridade Policial, entretanto, poderá optar por manter o local isolado, quando a interdição se mostrar imprescindível para os trabalhos preliminares de investigação. 35 Os objetos taxados como importantes para elucidação do crime, também serão recolhidos pelos policiais, que após a solicitação do delegado, serão enviados ao instituto de criminalística, e posteriormente,analisados. A fim de instrução, em 2013, o Ministério da Justiça lançou no programa Brasil mais Seguro, o Procedimento Operacional Padrão (POP), um estudo técnico que trata de todos os procedimentos que envolvam a perícia, onde inserimos neste capítulo, especificamente nos procedimentos em locais de crime de homicídio, armas de fogo e necropsia. Este manual de procedimentos elaborados pelo Ministério da Justiça tem o fito de harmonizar e tentar se chegar a um padrão de serviço, onde haja integração entre os profissionais da área, bem com servir de material de estudo para os cursos de formação de peritos criminais nas academias de polícia do país. 2.2.1. Do exame perinecroscópico Talvez a principal atividade do perito, em se tratando de crime de homicídio, seja o exame realizado na vítima, denominado exame perinecroscópico. Este representa o exame efetuado pelo Perito na superfície corporal da vítima, que visa identificar o número e localização das lesões produzidas na mesma, pelos instrumentos que podem ser utilizados. Tem a finalidade de correlacionar a tudo quanto for material de exame recolhido no local. Ele procura no corpo da vítima lesões que indiquem sua possível causa de falecimento, bem como identificar se ali foi o local exato de sua morte, ou somente se foi deixado pelos autores. Durante os exames perinecroscópicos podem ser estudados os seguintes elementos: Tipos de ferimentos: escoriações, fraturas, luxações, equimoses, contusões, perfurações, incisões, hematomas, etc; Número de ferimentos: a determinação do número de ferimentos apresentados pela vítima, fornecerá ao Perito a possibilidade de verificar o número de golpes sofridos pela mesma, ou, em se tratando de arma de fogo, o número de disparos efetivados. É preciso considerar, para essa determinação, quando se tratam de feridas transfixantes, os casos em que o projétil após sua saída, volta a 36 penetrar no corpo da vítima, podendo um só disparo produzir, ao mesmo tempo, até quatro ferimentos (entrada-saída-entrada-saída); Localização dos ferimentos: a designação pormenorizada da região do corpo onde foram encontrados os ferimentos vai fornecer ao Perito a possibilidade da determinação da posição do agente em relação à vítima. Assim poderia estar o agente localizado pela frente, pelas costas ou em outras posições, o que dependerá, evidentemente, da localização da lesão. Há também de se considerar, para essa análise, a distinção entre os ferimentos de entrada e saída De acordo com Tocccheto e Espíndula, o exame do cadáver a ser feito no local. Vejamos alguns procedimentos a serem executados pelo expert: Análise visual do cadáver, sem movimentá-lo; Descrição da posição em que o corpo foi encontrado (previsão legal no art. 164 do CPP); Descrição da vítima, incluindo sexo, cor, fase cronológica (criança, jovem,[.....]); Identificação de possíveis sinais de luta; Verificação de evidencias diretamente no corpo, tais como manchas de sangue, resíduos originados por disparo de arma de fogo, agressor etc.; Avaliação detalhada das mãos para constatar ou não a presença de resíduos de disparo (exame residuográfico);Observação e anotações de sinais característicos capazes de individualizar a pessoa, como tatuagens, as quais devem ser fotografadas, especialmente quando a vítima não é bem diagnosticada (também se identificam hoje, que algumas tatuagens pertencem a facções criminosas ( TOCCHETO E ESPÍNDULA, 2009, p. 17 e 18) No entanto, há situações em que não há possibilidade de identificar a pessoa dependendo do tipo de lesão que lhe foi atacada, restando recorrer ao auxílio de documentos que possam estar presentes como carteira de identidade, carteira nacional de habilitação, dentre outros. Na mesma esteira, orienta-se também examinar as vestes, conforme Tocchetto e Espíndula (2007, p. 18), como a descrição da disposição geral; Análise de todas as vestes (inclusive roupas íntimas, calçados, etc.); Identificação de orifícios, rasgamentos, descosturados, identificação da natureza das manchas e descrição da sua morfologia, dentre outros. Dispomos de algumas figuras para exemplificação quando do perito no local do crime: 37 Figura 4 – Mostra o local preservado com a presença do corpo da vítima, bem como as marcas de projétil perfurando o portão e projétil encontrado na cena do crime. Fonte: IC/GTA (2015) Figura 5 – Mostra o cadáver na posição em que foi encontrada; identifica o sexo da vítima, bem como os ferimentos. Fonte: IC/GTA (2015) 38 Figura 6 – Mostra identificação de tatuagem e ferimentos do tipo punctório, produzido por projétil de arma de fogo. Fonte: IC/GTA (2015) Importante dizer que, em se tratando de homicídio envolvendo acidente de trânsito, dependendo de como encontrar o corpo da (s) vítima (s), o somente o exame externo será suficiente, conforme previsto no art. 162, parágrafo único, CPP) 2.2.2. Dos vestígios e indícios O Código de processo penal, em seu artigo 239 dispõe que “considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstancias”. Vestígio, de acordo com dicionário Aurélio (“Do Português Contemporâneo”, 2004), em sua página 1426 (um mil quatrocentos e vinte e seis), significa sinal ou marca que tenha relação com a ocorrência criminal. Daí a importante missão que o perito tem em tentar encontrar esses dois elementos na cena do crime, pois nem sempre contará o corpo da vítima para fazer o exame perinecroscópico. 39 Quando do local do crime em casos de homicídio, mesmo com a presença do cadáver, mister se faz a busca por indícios e vestígios que auxiliem o perito, e principalmente a polícia judiciária, pois com as análises feitas pelos laboratórios de perícia criminal, poder-se-á, talvez, chegar ao autor do delito. São os casos de encontro de projéteis e outros objetos que possam ser utilizados de maneira eficaz na prática do delito. Muito comuns são os vestígios de sangue nos locais de crimes de homicídios, pois como relata em seu livro, Espíndula (2007, pág. 25), “ a morte nesses casos, geralmente não é instantânea, onde a vítima, mesmo ferida, pode deslocar-se desordenadamente pela cena, repousando em local distinto de onde se deram os ferimentos”. Tão importante quanto o exame realizado no corpo da vítima, a identificação de indícios e vestígios gera expectativa para o possível desvendamento do caso, bem como auxilia na busca pelo autor do ato criminoso. Muito se vê autoridades policiais relatando que através dessas pistas, conseguiram lograr êxito em concluir a investigação e identificando o executor do crime. Não obstante, necessário se faz para dar respostas a quem de direito, e concretizar o trabalho árduo da equipe policial, tão necessário a população. Figura 7 – Mostra o caminho que a vítima percorreu até sua queda ao solo. Fonte: IC/GTA (2015) 40 2.2.3. Dos meios utilizados nos crimes de homicídios Quando se fala em crime de homicídio, a primeira coisa que se pensa é a maneira pela qual a vítima fora atacada, se foi sob o emprego da arma de fogo, armas brancas, luta corporal, veículos automotores, linhas férreas, enforcamento, sufocamento, asfixia e outras situações onde possam lhe causar o óbito. De acordo com Croce e Croce Júnior (2003. p.174 a 302), as formas que podem ser empregadas nos crimes de homicídio são: energia de ordens mecânica; física; química; bioquímica e biodinâmica. Em se tratando da origem mecânica, conforme Croce e Croce Júnior(2003, p.174), são instrumentos mecânicos “aqueles atuam sobre o corpo e que modificam parcial ou completamente o seu estado de repouso ou de movimento”. Quanto à classificação dos instrumentos mecânicos, estes se dividem em cortantes, contundentes, cortocontundentes, perfurantes e Pérfurocortantes e Pérfurocontundentes. Vejamos, conforme Croce e Coce Júnior (2003): CORTANTE: Age por meio de gume afiado. Exemplo: faca, bisturi, navalha, lamina, etc. Produzem lesões no pescoço chamadas argorjamento, degolamento e decapitação. CONTUNDENTE: Causam contusão, podem ser por meios mecânicos e químicos. Possui muita pressão. Exemplo: explosão, atropelamento, objetos que causem contusões, socos, chutes, etc. CORTOCONTUNDENTE: São aqueles que atingem a pele, cortando e contundindo músculos e tecidos, órgãos e ossos. Exemplo: foice, facão, motosserra, rodas de trem. PERFURANTES E PÉRFUROCORTANTES: Agem por percussão e pressão ao mesmo tempo. Produzem lesões em forma de pontos na pele. Exemplo: Baioneta, faca. PÉRFUROCONTUNDENTES: É o caso típico do projétil de arma de fogo. Também produzem ferimentos com aspecto de pontos na pele de vítima. Exemplo: Projétil de arma de fogo, baioneta, estilete, prego. (CROCE E CROCE JÚNIOR, 2003, p.174) Quando os meios empregados forem através de elementos físicos, o mais comum é a temperatura. Os casos de homicídios mais comuns nessa modalidade, são quando da queimadura, onde as lesões resultam de um alto grau de calor onde o corpo humano não suporta. Já na origem química, os mais comuns são os casos de envenenamento. Agora, quando dispomos sobre os elementos físico-químicos, os mais comuns são os casos de asfixia, estrangulamento e sufocamento. 41 Partindo para os elementos de bioquímica, trata-se de elementos essenciais que o corpo humano precisa para se manter em perfeito funcionamento. Temo um exemplo deste tipo, quando deixamos de alimentar alguém, razão pela qual ela falece de inanição. Mais comum nas regiões africanas. Migrando para a ordem biodinâmica, o mais comum é o caso de choque, ocasião em que será tratado no subitem a seguir. 2.2.4. Veículos automotores e ferroviários Há também local de homicídio envolvendo veículos automotores, além daqueles em vias férreas, os chamados acidentes de trânsito com vítima fatal e acidente ferroviário com vítima fatal. No que se refere à presença dos Peritos em locais de Acidente de Trânsito com vítima fatal, de acordo com Tocccheto e Espíndula (2007, p. 39), é relevante o estudo cuidadoso em toda estrutura externa do veículo a ser periciado, verificando inicialmente a existência ou não de possíveis pontos de impactos, sejam eles por perfuração de projéteis, inclusive nos exames das lesões existentes no corpo da vítima, sejam por colisão, abalroamento ou choque. Não menos comum, é o caso envolvendo motocicletas, onde, por vezes, motoqueiros, para desviarem de diversos obstáculos, como animais atravessando a pista, objetos alheios e até mesmo pessoas, acabam sofrendo queda, e fatalmente, veículos de grande e médio porte passam por cima, causando enorme estrago sem seus corpos. As figuras abaixo ilustram os locais com os veículos e corpos das vítimas, vejamos: Figura 8 – Mostra o estado da motocicleta. Fonte: IC/GTA (2015) 42 Figura 9 – Mostra o corpo embaixo da carreta. Fonte: IC/GTA (2015) Figura 10 – Mostra o corpo debaixo do veículo. Fonte: IC/GTA (2015) 43 Esse tipo de local, chamado de local de morte violenta, não raro acontece, todavia, ainda causa choque aos profissionais atuantes, uma vez que se deparam com a figura semelhante à tua aos pedaços. Ossos do ofício Agora, no que tange à linha férrea, conforme Espíndula (2007, p. 42), resta ao perito somente proceder de acordo com a lei, pois não há o que se fazer, a não ser que o maquinista, sabendo que atropelou alguém, pare o trem a esperar até a chegada das autoridades para explanar o ocorrido. Figura 11 – Mostra o possivel ponto de impacto entre a locomotiva e a vítima. Fonte: IC/GTA (2015) Figura 12 - Mostra a cérebro da vítima, onde possivelmente ocorreu o atropelamento. Fonte: IC/GTA (2015) 44 Figura 13 - Mostra objetos pertencentes à vítima. Nota-se que esta tomava sortidos tipos de medicamentos e que podem ajudar a elucidar o acidente. Fonte: IC/GTA /2015) Após os procedimentos iniciais, passa-se ao levantamento do local, fazendo o croqui e anotando todas as medidas necessárias, indicando as localizações de veículos, vítima, sistema de frenagens, iluminação, condições dos pneus, as sinalizações verticais e horizontais, além de especificar o tipo de pavimentação da via, as condições climáticas antes e no momento dos exames, etc. Segundo Garcia (2002), uma perícia completa de levantamento de local necessita especificamente de fases a saber: Isolamento, observações previas ou exame do local, fotografia, desenho ou croqui, coleta e embalagem de evidencias, transporte de evidencias, exame das evidencias em laboratório, avaliação e interpretação, redação e laudo. (GARCIA, 2002, p.324) Como já mencionado, o nobre doutor, além de utilizar toda sua astúcia, habilidade, técnica e feeling para se tentar chegar a um entendimento, deve contar com a colaboração de seu auxiliar, seja ele o fotógrafo pericial, bem como das disponibilidades laboratoriais e outros suportes que possam lhe contribuir para a solução do caso. 45 2.2.5. Da necropsia Seu conceito parte do exame minucioso feito no corpo de uma pessoa morta, buscando encontrar o momento e a causa de sua morte. É um exame feito pelo médico-legista, na parte interna do cadáver. O artigo 162 do CPP dispõe sobre o assunto, in verbis: Art.162. A autopsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidencia dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no auto. Sua função é fundamentar em laudo pericial, as causas que motivaram a morte da vítima e, quando possível, estabelecer sua causa jurídica, a identificação do morto, o tempo de morte e algo mais que possa contribuir no interesse de esclarecer algo em favor da justiça. Seu objetivo é determinar a causa da morte, a sua data, o instrumento ou meio que a provocou. Contudo, quando falamos em mortes violentas, o art. 162, parágrafo único do CPP, senão vejamos, in verbis: Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastara o simples exame externo do cadáver, quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a verificação de alguma circunstância relevante. É de bastante aceitação o exame realizado pelo perito no local do crime de homicídio, ficando o médico-legista isento de elaborar seu laudo, como contido no parágrafo único do artigo 162 do CPP. Porém, às vezes acabam por acontecer situações inusitadas, como por exemplo, um caso verídico, onde a vítima, ao ser analisada no local de sua morte, deu-se a entender que a razão do óbito seria oriunda de uma transfixação de objetos perfurantes, mas, ao ser encaminhada para o IML, constatou-se que a causa-mortis, na verdade, advinha de uma lesão causada por disparo de arma de fogo, onde o projétil atingiu artéria femoral, causando-lhe o perecimento. A constatação do homicídio é decorrente da ação de mecanismos externos (agentes vulnerantes) que atingem o indivíduo, produzindo a sua morte, e ela que tem interesse médico-legal. Conforme Manual de Medicina Legal (Croce e Croce 46
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