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CARNAVAL UMA FESTA DA IGUALDADE A tradição destas festas populares foi domesticada e assumida na cultura católica. Elas já se praticavam 3.000 anos antes de Cristo na Mesopotâmia. Era uma semana de festa em que se praticava a igualdade. Nessa semana de festa, a escrava era igual à senhora e o escravo igual ao senhor. A tradição do uso da burca tem origem nesse tempo em que as senhoras da classe elevada se tapavam para, nessa semana, não serem reconhecidas e não se sentirem tão envergonhadas. Na Idade Média o carnaval era o período em que as fronteiras sociais temporariamente se rompiam e, por alguns dias, nobres, burgueses e servos tornavam-se iguais, caindo numa alegria festiva. O riso era a vitória sobre o medo e sobre a intimidação autoritária. A festa significa a renovação de esperanças para um futuro melhor, numa realidade mais justa. naqueles quatro dias, o riso adquiria um caráter subversivo que atingia toda a população, desfigurava hierarquias e transportava a vida para uma utopia de liberdade e igualdade. Entretanto, a liberdade medieval oferecida pelo riso era um luxo que acabava com a Quarta-Feira de Cinzas. O mundo voltava a ser sério e todas as barreiras sociais e toda a dominação dos senhores eram restabelecidas com o fim da festa Há muito que se fazer para se alcançar a utopia da igualdade. Somos uma sociedade que dá privilégios à classe política. Somos também uma sociedade em que o abuso de poder é generalizado – que vai desde o estudante da Polícia Civil que quer dar “carteirada” para entrar em bar a filhos de ex-presidente que querem dar “carteirada” internacional, com passaporte diplomático. Isso não quer dizer que se deva “achar graça” dos desvios de conduta que ocorrem na vida pública brasileira. É preciso manter a capacidade de se indignar e de se mobilizar contra desmandos políticos. Mas é um excelente auxiliar contra a decepção e contra a vontade de desistir de se interessar por política. O homem até pode ser um animal político, como declarava Aristóteles, mas antes disso ele é um animal que sabe rir. Roberto DaMatta, antropólogo, em seu clássico "Carnavais, Malandros e Heróis", faz uma das mais belas análises do papel estrutural do carnaval brasileiro no constructo de nossa sociedade. Festas, longe de serem apenas diversão, reafirmam a estrutura hierárquica de uma sociedade. A inversão permitida pelo carnaval torna-se fundamental como tempo onde as regras sociais, rígidas e hierárquicas, são temporariamente suspensas. Pobre vira rico e rico vira pobre. Homem se veste de mulher. Tudo se paraliza, permitindo uma espécie de "novo fôlego" societário. Depois, tudo volta como antes, à velha normalidade hierarquizadora. É uma festa popular? Embora o carnaval seja uma festa para todos, acaba, por conta da apropriação da indústria cultural e dos meios de comunicação de massa, sendo transformado em um espetáculo. O carnaval brasileiro, segundo DaMatta (1984: 75) em seu livro O que faz o Brasil, Brasil?, possibilita o encontro dos grupos e das classes sociais, das diferentes etnias. Constitui-se numa festa para todos. A troca de papéis sociais é comum, a vida diária, de casa ao trabalho, de muitas pessoas é mudada. Se a sociedade segrega e uniformiza a festa de carnaval, para quem participa, cria “(..) um cenário e uma atmosfera social onde tudo pode ser trocado de lugar (...)”. O operário que em dias normais passa pelas ruas movimentadas vestindo seu simples uniforme e nem é notado, pode, no carnaval se fantasiar de um rei, aparecer na TV, ser reconhecido e admirado por um grande número de pessoas, pela sua destreza e agilidade de passos e coreografias ou simplesmente pela imagem que representa. “Mas que coisa milagrosa! [...] Carnaval, pois, é inversão porque é competição numa sociedade marcada pela hierarquia. É movimento numa sociedade que tem horror à mobilidade, sobretudo à mobilidade que permite trocar efetivamente de posição social [...] Por tudo isso, o carnaval é a possibilidade utópica de mudar de lugar, de trocar de posição na estrutura social. De realmente inverter o mundo em direção à alegria, à abundância, à liberdade e, sobretudo, à igualdade de todos perante a sociedade. Pena que tudo isso só sirva para revelar o seu justo e exato oposto...” (DaMatta, 2000:78). Fonte: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/livro_e_diretrizes/livro/sociologia/seed_socio_e_book.pdf
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