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Abolicionismo x Minimalismo

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ABOLICIONISMO
O abolicionismo penal é uma teoria criminológica relacionada à descriminalização, ou seja, a retirada de determinadas condutas de leis penais; e a despenalização, extinção da pena quando da prática de determinadas condutas. Trata-se de um novo método de se pensar o direito penal, uma vez que se questiona o verdadeiro significado das punições e das instituições, com o objetivo de construir outras formas de liberdade e justiça.
O nascimento do abolicionismo remonta ao final da Segunda Guerra Mundial, como reação humanista à precedente fase tecnicista. Mas foi nas décadas de 60 e 70 que o movimento abolicionista ganhou força, devido às teorias sociológicas que se afirmavam na época e se dividiam em tendências diversas. As críticas abolicionistas foram inspiradoras de manifestações e revoltas estudantis e juvenis por toda a Europa Ocidental. O objetivo vislumbrado era buscar uma solução para a violência que não fosse baseada em violência, pacificar os conflitos sociais através de modelos de atuação que pressupõem o princípio do acordo indivíduo-indivíduo, privilegiando o diálogo e substituindo a disciplina. 
 O sistema penal é encarado, em si mesmo, como um problema social, um “mal social” que mais cria problemas que resolve, devendo ser por isso abolido, dando vida às comunidades, às instituições e aos homens. não existiu uma dita essência para o abolicionismo ou mesmo uma teoria única que abarcasse os aspectos de todas as variantes do movimento. O ponto coincidente que se pode distinguir em toda essa diversidade é exatamente a busca, comum a todas as variantes, de caminhos e objeto da abolição, isto é, a extensão, os métodos, as táticas e os conseqüentes impactos sociais.
A perspectiva deslegitimadora abolicionista, nas suas diversas correntes, baseia-se em algumas críticas centrais contra o sistema penal. Uma delas é o descrédito que atribui à prevenção geral, afirmando que o direito penal é incapaz de motivar comportamentos subjetivos a fim de evitar os delitos, uma vez que, a despeito da incriminação, diversos crimes – como o tráfico ilícito de entorpecentes, por exemplo – continuam a se repetir sistematicamente.
A prevenção especial é, igualmente, posta em xeque pelos abolicionistas. A prisão, local onde pretensamente se operaria a ressocialização e a reintegração dos infratores ao meio social, ao contrário, dessocializa, desumaniza e estigmatiza os apenados, relevelando-se sim como um verdadeiro fator criminógeno.
Critica-se o sistema penal, ainda, por ser arbitrariamente seletivo, pois, assentado sobre uma estrutura social profundamente desigual, angaria sua “clientela” entre os mais miseráveis, reproduzindo, assim, a injustiça e desigualdade sociais.
Aliado a isso, critica-se o fato de que o sistema criminaliza um número muito superior de condutas do que o que está capacitado para efetivamente lidar, o que sobrecarrega os órgãos incumbidos da repressão criminal e impede que, de fato, funcione. Ademais, o sistema penal somente atua num número muito reduzido de casos, devido às “cifras ocultas” da criminalidade – a soma de crimes praticados no cotidiano e que não são registrados ou sequer chegam ao conhecimento do sistema – o que torna regra a imunização e não a criminalização.
Critica-se também o fato de o sistema penal estereotipar tanto a vítima quanto o delinqüente, tratando todos da mesma maneira, como se todas as vítimas possuíssem as mesmas necessidades e reações, ignorando por completo as singularidades das pessoas. A respeito da vítima, afirma Christie3, ela é, no processo penal, duplamente perdedora, primeiro frente ao infrator e, depois, diante do Estado, que a exclui de qualquer participação em seu próprio conflito, uma vez que este é levado a cabo por profissionais. Freqüentemente acusado de romântico ao abordar o problema da criminalidade, o movimento abolicionista foi duramente criticado porque mesmo numa sociedade em que não houvesse delinqüência, um modelo de auto-regulação social espontânea seria um modelo normativo irremediavelmente utópico, assentado sobre pressupostos ilusórios de uma sociedade boa e de um Estado bom, o que representaria, certamente, uma regressão no que concerne aos meios de controle social.
MINIMALISMO
O minimalismo toma por base as mesmas críticas que os abolicionistas levantam contra o sistema penal, diferindo destes por apregoar a necessidade do direito penal, embora reduzido sua incidência a um mínimo necessário, restrita a um núcleo absolutamente essencial de condutas particularmente danosas.
Sendo a pena a intervenção mais radical na liberdade do indivíduo que o ordenamento jurídico permite ao Estado5, a visão minimalista impõe que não se deva recorrer ao direito penal e sua gravíssima sanção se existir a possibilidade de garantir proteção suficiente por meio de outros instrumentos jurídicos não-penais
A adoção da idéia da mínima intervenção penal como guia para uma política penal, afirma Alessandro Baratta6, pretende ser uma resposta à questão acerca dos requisitos mínimos a respeito dos direitos humanos na lei penal. O conceito de direitos humanos assume, nesse caso, uma dupla função: uma função negativa, no que toca aos limites da intervenção penal; e uma função positiva, a respeito da definição do objeto, possível, porém não necessário, da tutela por meio do direito penal. Para o autor, tal conceito de direitos humanos, em sua dupla função, é o fundamento mais adequado para a estratégia da mínima intervenção penal e para sua articulação programática no quadro de uma política alternativa do controle social.
Relacionadas à intervenção mínima se encontram duas características do Direito Penal, quais sejam a fragmentariedade e a subsidiariedade.
A fragmentariedade espelha o fato de, entre as mais diversas condutas, o Direito Penal tipificar apenas uma parcela delas como crime, opondo-se a uma visão onicompreensiva da tutela penal; ela impõe uma seleção, seja dos bens jurídicos ofendidos a serem protegidos, seja das formas de ofensa.
Já a subsidiariedade pressupõe a fragmentariedade, derivando de sua consideração como remédio sancionador extremo, o qual deve ser ministrado somente quando outro se revele ineficiente. A utilização do Direito Penal, nas ocasiões em que outros meios ou procedimentos bastem para a preservação ou reinstauração da ordem jurídica, não possui legitimidade social e contraria os fins do direito.
Assim como em relação ao abolicionismo, Vera Regina Pereira de Andrade7 distingue entre uma dimensão teorética e outra pragmática do minimalismo. Enquanto perspectiva teórica, o minimalismo se apresenta profundamente heterogêneo, havendo aqueles que são meios para o abolicionismo, aqueles que são diferentes de minimalismos como fins em si mesmos e ainda aqueles minimalismos reformistas.
Pode-se citar, entre os modelos teóricos mais notáveis do minimalismo, todos com fundamentações diversas, o do italiano Alessandro Baratta, de base interacionista-materialista; o do penalista argentino Eugenio Raúl Zaffaroni, de base interacionista, foucaudiana e latino-americanista; e o do italiano Luigi Ferrajoli, de base liberal iluminista.
Já o minimalismo em sua dimensão pragmática ou como reforma penal designa um movimento que, no embalo do princípio da intervenção mínima, do uso da prisão como última ratio e da busca de penas que lhes sejam alternativas, desenvolveu-se desde a década 80 do século XX e, no Brasil, a partir da reforma penal e penitenciária de 1984, com marcos como a introdução das penas alternativas (Leis 7.209 e 7.210/84), a edição da atual lei das penas alternativas (Lei 9.714/98) e a implantação dos juizados especiais criminais estaduais (Lei 9.099/95) para tratar dos crimes de menor potencial ofensivo.
Tais reformas têm operado no sentido de uma eficácia invertida, do ponto de vista do sistema penal, contribuindo, paradoxalmente, para ampliar o controle social e relegitimar o sistema penal.
CONCLUSÃO
A partir da década de 70 do século XX, o abolicionismo e minimalismo passaram a ocuparo cenário do controle social e das políticas criminais nas sociedades capitalistas. O contexto em que emergem é o da deslegitimação dos sistemas penais, e, como resposta a ela, o abolicionismo propõe a extinção do sistema penal por completo, substituindo-o por formas alternativas de resolução de conflitos, enquanto o minimalismo defende, associado ou não à utopia abolicionista, sua máxima contração.
Nada obstante a diversidade que ambos os movimentos apresentam no plano teórico, no campo prático, partindo de críticas a situações patentes do cotidiano do sistema penal, o abolicionismo e o minimalismo oferecem ferramentas úteis ao aprimoramento do sistema e à defesa da sociedade, no que concerne à contenção da violência e proteção dos direitos humanos.
Nada obstante o inegável sucesso desses movimentos, sobretudo no âmbito acadêmico e, por vezes, nos planejamentos reformistas do sistema, nota-se que no Brasil, devido às fortes pressões populares contra a disseminada criminalidade, a realidade legislativa não espelha respaldo semelhante.

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