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107 A importância da diversidade para as empresas: a diversidade como factor de competitividade empresarial Presidente do GRACE – Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial João Duarte dos Reis A questão da diversidade e da inclusão é transversal à sociedade e consequentemente a todas as formas de organização que nela existem. Um mundo global permite, e de alguma forma fomenta, a migração de conceitos, de tecnologia, de culturas, de inovação e, evidentemente, de pessoas. As sociedades são cada vez mais heterogéneas, são o que se poderá comparar a um imenso mosaico colorido e multifacetado e que necessita de algum tipo de cola que una todas as partes de forma harmoniosa. É necessário despirmo-nos de preconceitos, e encararmos as diferenças exactamente como são, diferenças, compreenden- do e tirando partido das vantagens que essas diferenças nos podem proporcionar. As empresas têm e terão um papel cada vez mais relevante na sociedade, em todos os domínios e neste em particular. Como estruturas organizadas capazes de estabelecer princípios de funcionamento claros, universais e humanamente responsáveis, serão forças para a disseminação desses princípios, adaptando-se assim aos mercados onde operam e às suas necessidades. 108 The matter of diversity and social cohesion is transversal to society and, consequently, to all forms of organizations existing within it. A global world allows, and in certain ways fosters, the migration of concepts, of technology, of cul- tures, of innovation and, of course, people. Societies are increasingly heterogeneous; they are what we might compare to an immense, coloured and multi-faceted mosaic that needs some type of glue that can join together all its parts in an harmonious way. We have to let go of prejudice and face the differences exactly for what they are – differences – understanding and tak- ing advantage of the benefits those differences can provide us. Companies have now, and will have in the future, an ever increasing role in society, in all domains and in this one in particular. As organized structures capable of setting up clear working principles, universal and humanly responsible, they will be leverage for the dissemination of those principles, thus adapting themselves to the markets in which they operate and to their needs. 109 1. Globalização Os desafios desencadeados pela globalização têm de ser encarados como um conjunto de novas oportunidades e de novos desafios, a favor das organizações e da humanidade. A diversidade e a inclusão são fenómenos emergentes que ganham maior protagonismo e importância pelo facto do mundo se ter transformado numa «aldeia global». Neste contexto, a diversidade e a inclusão devem ser observadas como valores estratégicos para a organização da sociedade do futuro. É aqui que se enquadra o valor da oportunidade. Seremos, certamente, mais competitivos se formos capa- zes de aproveitar esta nova realidade em bene- fício de todos. Numa sociedade existem pessoas e organiza- ções sendo que, como é óbvio, as organizações são feitas por pessoas. Uma das recentes reali- dades do mundo corporativo tem sido crescer por via de aquisições, fusões ou parcerias, o que se tem vindo a traduzir no aparecimento de me- ga-organizações transnacionais. Todos nós, no âmbito da nossa vida profissional ou pessoal, de uma forma ou de outra, já interagimos com pessoas de diferentes origens e com valores dis- tintos dos nossos. Já convivemos com a diferen- ça. No entanto, este inter-relacionamento sofre a interferência e é muitas vezes ameaçado, pelo ressurgimento de conflitos étnicos, religiosos e culturais. Assim sendo, os valores da diversida- de e da inclusão podem aqui ser utilizados como um instrumento de superação. As organizações, e as pessoas que delas fazem parte, serão cada vez mais globais, mas não trabalham em lugares abstractos. Muito pelo contrário, continuarão a realizar os seus negócios localmente, onde as pes- soas vivem e trabalham, isto é, serão sempre parte do problema e deverão igualmente ser parte da solução. Nesta perspectiva, a globalização exige diversidade e inclusão. 2. As mais-valias A diversidade e a inclusão devem ser defini- das como um instrumento estratégico no senti- do de potenciar o valor das organizações. Estas devem ambicionar ser o parceiro local de elei- ção como fornecedor e empregador, onde quer que estes operem. O desafio inerente será o de compreender a identidade cultural das pessoas e dos locais onde elas realizam os seus negócios, os seus valores, preocupações e desejos únicos. Uma cultura organizacional diversa e pluralis- ta favorece a adaptação a essas mudanças por impor a convivência de grupos com diferentes culturas e particularidades. É a demonstração prática e objectiva de que a adopção de políti- cas de promoção da diversidade confere maior flexibilidade à empresa, aumentando a capaci- dade desta para se adaptar a novas situações ao mesmo tempo que consegue atrair os melhores colaboradores. 2.1. Para a organização Adaptação aos mercados Prevê-se que a maioria das empresas cresça substancialmente em tamanho e escala e que mui- to do potencial de crescimento esteja fora dos seus países de origem. Nesta economia cada vez mais globalizada, uma empresa que seja diversa e inclusiva estará sempre um passo à frente na compreensão dos mercados, porque os seus co- laboradores entendem e adaptam-se rapidamente a outras culturas e a outros costumes. Produtividade, competitividade e resultados financeiros Um ambiente diverso e inclusivo estimula a cooperação entre os profissionais da organiza- ção na persecução de objectivos comuns, crian- do as condições necessárias para que a produ- tividade aumente. Uma equipa diversa é muito mais forte que uma equipa homogénea porque tem mais competências, tem uma capacidade de análise mais ampla e, consequentemente, conse- gue definir estratégias de negócio mais consisten- tes, mais acertadas e, portanto, mais produtivas. Uma empresa produtiva é, muito provavelmente, uma empresa competitiva. Cada vez mais para se vencer tem de se ser competitivo. A aposta na di- versidade e na inclusão consolida a relação entre a produtividade e a competitividade e concorre para o bom desempenho financeiro das empre- sas. Os programas de diversidade organizacional são também um factor diferenciador na atracção de novos investidores e clientes. 110 Notoriedade da marca Uma organização é forte se tiver uma imagem positiva junto da comunidade onde desenvolve as suas operações. Neste ambiente, os serviços ou produtos da empresa são, naturalmente, pre- feridos e procurados. A publicidade em torno de uma prática discriminatória pode ser bastan- te negativa para a organização, afectando a sua imagem junto dos consumidores e da opinião pública. Por outro lado, se a diversidade e a in- clusão forem atributos característicos da empre- sa, esta pode agregar qualidades positivas à sua imagem no mercado e, consequentemente, con- seguir novos clientes, colaboradores e investido- res. Qualquer investidor procura rentabilizar os seus activos de uma forma segura, e uma orga- nização com uma boa imagem no mercado tem mais hipóteses que as demais. 2.2. Para os colaboradores Satisfação no trabalho As políticas de diversidade e de inclusão esti- mulam talentos e potenciam as capacidades indi- viduais. Este é o ambiente ideal para desenvolver o aparecimento de novas competências e para permitir que a empresa avalie e promova os seus colaboradores com base nas capacidades efecti- vas. Os vínculos dos colaboradores com a em- presa reforçam-se quer pela maior dedicação ao trabalho, quer pelo orgulho declarado de perten- cer àquela organização, de pertencerem ao que já alguémdenominou «força para o bem». Ao con- trário, um ambiente de discriminação pode afas- tar e/ou reprimir talentos, bem como compro- meter a capacidade da empresa para reconhecer adequadamente o desempenho de todos os seus colaboradores. Valorização pessoal A valorização de cada um é um dado muito sig- nificativo, e que se consegue rapidamente medir, quando o ambiente é diverso. De facto, o conví- vio com colaboradores que detêm competências diferentes das nossas acaba por ser uma mais-va- lia indirecta muito significativa. Os colaboradores acabam por integrar nas suas rotinas novos mo- dos de fazer as coisas, bem como apreender novos conhecimentos. Além disso ficam mais prepara- dos para actuar em outros palcos empresariais em qualquer país do mundo. 2.3. Para a comunidade A grande vantagem para a comunidade que in- corpora empresas diversas e inclusivas reside no facto de os seus elementos se sentirem mais con- fortados ao saberem que nunca serão excluídos, à partida. A integração profissional de minorias acaba por se traduzir num sentimento global de justiça. Uma sociedade mais justa é sempre um factor competitivo muito relevante com um re- torno muito positivo para as empresas que dela fazem parte. Nota final Pelo exposto anteriormente, que não foi mais do que o elencar das vantagens de que as orga- nizações beneficiam pelo facto de incorporarem a «Diversidade» no seu modelo de gestão, consi- deramos, e esperamos não ser os únicos a con- siderar, fundamental o papel do «Mundo Em- presarial» no «Mundo Real», também no que diz respeito a esta matéria. Ideal seria que este diálogo entre culturas fosse igualmente uma realidade na sociedade. Ideal seria que a Educação, a Cultura, a Arte, a Ciência e a Comunicação Social fossem condu- zidas neste sentido. Ideal seria que as organizações governamen- tais e não governamentais, trabalhassem nesse sentido. Ideal seria «Todos» trabalharmos nesse sen- tido. Porque ideal será o dia em que não se fale no assunto. É sinal de que estamos a viver num outro pa- tamar de civilização.
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