Buscar

Direito Constitucional - Santo Graal Vitaminado - OK

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 652 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 652 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 652 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Felipe Motta e César Augusto da Cunha Morais Camelo
DIREITO CONSTITUCIONAL e METODOLOGIA
SUMÁRIO
Ponto 1.a. Constitucionalismo: trajetória histórica. Constitucionalismo liberal e social. Constitucionalismo britânico, francês e norte-americano. 7
Ponto 1.b. Poder Legislativo. Organização. Atribuições do Congresso Nacional. Competências do Senado e da Câmara. Legislativo e soberania popular. A crise da representação política. 17
Ponto 1.c. Ministério Público: História e princípios constitucionais. Organização. As funções constitucionais do Ministério Público. 26
Ponto 2.a. Constituição e Cosmopolitismo. O papel do direito comparado e das normas e jurisprudência internacionais na interpretação da Constituição. 42
Ponto 2.b. Poder Executivo. Histórico. Presidencialismo e Parlamentarismo. Presidencialismo de coalizão. Presidente da República: estatuto. Competências. Poder normativo autônomo, delegado e regulamentar. Ministros de Estado. 47
Ponto 2.c. Hermenêutica e Teorias da argumentação jurídica. 56
Ponto 3.a. Divisão de poderes. Conceito e objetivos. História. Independência e harmonia entre poderes. Mecanismos de freio e contrapesos. 61
Ponto 3.b. Poder Judiciário: organização e competência. Normas constitucionais respeitantes à magistratura. O ativismo judicial e seus limites no Estado Democrático de Direito. (ponto com adição do ativismo judicial). 65
Ponto 3.c. Estado-membro. Competência. Autonomia. Bens. 98
Ponto 4.a. Direitos sociais: enunciação, garantias e efetividade. Princípio da proibição do retrocesso. Mínimo existencial e reserva do possível. 103
Ponto 4.b. Normas constitucionais. Definição. Estrutura. Classificações. Princípios e regras. Preâmbulo. Efeitos das normas da Constituição brasileira de 1988. 109
Ponto 4.c. Lacunas e Integração do Direito: analogia, costumes e equidade. 116
Ponto 5.a. Poder constituinte originário. Titularidade e características. 119
Ponto 5.b. Supremo Tribunal Federal: organização e competência. Jurisdição constitucional. 123
Ponto 5.c. Município: criação, competência, autonomia. Regiões metropolitanas. 126
Ponto 6.a. Poder constituinte derivado. Limitações à reforma constitucional. Cláusulas pétreas expressas e implícitas. As mutações constitucionais. 129
Ponto 6.b. Federalismo. Concepções e características. Classificações. Sistema de repartição de competência. Direito comparado. 136
Ponto 6.c. Direitos fundamentais. Concepções. Características. Dimensões Objetiva e Subjetiva. Eficácia vertical e horizontal. 141
Ponto 7.a. Processo legislativo. Emenda constitucional, lei complementar, lei ordinária, lei delegada, medida provisória, decreto legislativo e resolução. O processo de incorporação dos tratados internacionais. Devido processo legislativo. 158
Ponto 7.b. União Federal: competência e bens. 171
Ponto 7.c. Os Princípios gerais de direito. 173
Ponto 8.a. Poder constituinte estadual: autonomia e limitações. 175
Ponto 8.b. Política agrária na Constituição. Desapropriação para reforma agrária. 178
Ponto 8.c. Defesa do Estado e das instituições democráticas. Estado de defesa. Estado de sítio. Papel Constitucional das Forças Armadas. 184
Ponto 9.a. Comunicação social. A imprensa na Constituição. Liberdades públicas, acesso à informação e pluralismo. 186
Ponto 9.b - Norma jurídica e enunciado normativo. Características da norma jurídica. 190
Ponto 9.c. Segurança Pública na Constituição. O papel das instituições policiais. 193
Ponto 10.a. Interpretação constitucional. Métodos e princípios de hermenêutica constitucional. 196
Ponto 10.b. Nacionalidade brasileira. Condição jurídica do estrangeiro. 202
Ponto 10.c. Intervenção federal nos Estados e intervenção estadual nos Municípios. 211
Ponto 11.a. Liberalismo igualitário, comunitarismo, procedimentalismo e republicanismo. Suas projeções no domínio constitucional. 215
Ponto 11.b. Princípios constitucionais sobre a Administração Pública. 232
Ponto 11.c. Colisão entre normas constitucionais. Ponderação e juízo de adequação. Princípios da Proporcionalidade e da Razoabilidade. 239
Ponto 12.a. Controle de constitucionalidade: evolução histórica do sistema brasileiro. Direito comparado. Legitimidade democrática. 242
Ponto 12.b - Critérios clássicos de resolução de antinomias jurídicas. 261
Ponto 12.c - Princípios constitucionais do trabalho. Os direitos fundamentais do trabalhador. 263
Ponto 13.a. Direito Constitucional Intertemporal. Teoria da recepção. Disposições constitucionais transitórias. 266
Ponto 13.b. Regime constitucional da propriedade. Função socioambiental da propriedade. Desapropriação e requisição. 269
Ponto 13.c. Princípio da isonomia. Ações afirmativas. Igualdade e diferença. Teoria do impacto desproporcional. Direito à adaptação razoável. 272
Ponto 14.a. Democracia. Conceito. História. Fundamentos. Democracia representativa e participativa. Teorias deliberativa e agregativa da democracia. Instrumentos de democracia direta na Constituição de 1988. 278
Ponto 14.b. Previdência social e assistência social. 284
Ponto 14.c. A evolução do constitucionalismo brasileiro: constituições de 1824, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967, 1969. A ditadura militar e os atos institucionais. A assembleia constituinte de 1987/88. 287
Ponto 15.a. Controle jurisdicional e social das políticas públicas. Serviços de relevância pública. O papel do Ministério Público. 299
Ponto 15.b. Direitos Políticos. O papel da cidadania na concretização da Constituição 303
Ponto 15.c. Regime constitucional dos parlamentares. Imunidades e incompatibilidades parlamentares. 305
Ponto 16.a. Direito fundamental à educação. A educação na Constituição Federal. 312
Ponto 16.b. Os princípios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade. 319
Ponto 16.c. O controle concreto de constitucionalidade. O Recurso Extraordinário. 324
Ponto 17.a. Proteção constitucional à família, a criança, ao adolescente e ao idoso. 334
Ponto 17.b. A metodologia jurídica no tempo. A Escola da Exegese. Jurisprudência dos conceitos, jurisprudência dos interesses e jurisprudência dos valores. O realismo jurídico. Neoformalismo. O póspositivismo jurídico. 341
Ponto 17.c. Igualdade de gênero. Direitos sexuais e reprodutivos. 348
Ponto 18.a: Orçamento público: controle social, político e jurisdicional. 352
Ponto 18.b: Direitos das pessoas portadoras de deficiência. A Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo. 358
Ponto 18.c: Controle abstrato de constitucionalidade: Ação Direta de Inconstitucionalidade, Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão, Ação Declaratória de Constitucionalidade e Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental. 363
Ponto 19.a. Liberdade de expressão, religiosa e de associação. O princípio da laicidade estatal. Os direitos civis na Constituição de 1988. 463
Ponto 19.b. Direitos das comunidades remanescentes de quilombos e de comunidades tradicionais. 476
Ponto 19.c. Direito à saúde. Sistema Único de Saúde na Constituição. Controle social. O direito de acesso às prestações sanitárias. 481
Ponto 20.a. Finanças públicas na Constituição. Normas orçamentárias na Constituição. 489
Ponto 20.b. Índios na Constituição. Competência. Ocupação tradicional. Procedimento para reconhecimento e demarcação dos territórios indígenas. Usufruto. 498
Ponto 20.c. Limites dos direitos fundamentais. Teorias interna e externa. Núcleo essencial e proporcionalidade. Os "limites dos limites". 523
Ponto 21.a. Conselho Nacional do Ministério Público. História, composição, competência e funcionamento. 527
Ponto 21.b. Interpretação jurídica. Métodos e critérios interpretação. 533
Ponto 21.c: Ordem constitucional econômica. Princípios constitucionais da ordem econômica. Intervenção estatal direta e indireta na economia. Regime constitucional dos serviços públicos. Monopólios federais e seu regime constitucional. 540
Ponto 22.a. O papel das pré-compreensões no Direito. Interpretação,moralidade positiva e moralidade crítica. 551
Ponto 22.b. Efeitos da declaração de inconstitucionalidade. Técnicas decisórias na jurisdição constitucional. 554
Ponto 22.c. Direito fundamental à moradia e à alimentação. 559
Ponto 23.a. Direitos fundamentais culturais. Multiculturalismo e interculturalidade. Direito à diferença e ao reconhecimento. 562
Ponto 23.b. Súmula vinculante. Legitimidade e críticas. Mecanismos de distinção. 578
Ponto 23.c. Direitos fundamentais processuais: acesso à justiça, devido processo legal, contraditório, ampla defesa, vedação de uso de provas ilícitas, juiz natural e duração razoável do processo. 589
Ponto 24.a. Neoconstitucionalismo. Constitucionalização do Direito e judicialização da política. 607
Ponto 24.b. Estatuto constitucional dos agentes políticos. Limites constitucionais da investigação parlamentar. Crimes de responsabilidade. Controle social, político e jurisdictional do exercício do poder. O princípio republicano. 614
Ponto 24.c. As funções essenciais à Justiça: Advocacia privada e pública. Representação judicial e consultoria jurídica da União, dos Estados e do Distrito Federal. A Defensoria Pública. 623
Ponto 25.a. Pluralismo jurídico. As fontes normativas não estatais. 628
Ponto 25.b. Inconstitucionalidade por omissão. Ação direta e Mandado de injunção. 630
Ponto 25.c. Conselho Nacional de Justiça. História, composição, competência e funcionamento. 636
Ponto 1.a. Constitucionalismo: trajetória histórica. Constitucionalismo liberal e social. Constitucionalismo britânico, francês e norte-americano.
Obras consultadas: BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 24ª ed., 2009. BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo. 3.ª Ed., 2012. SARMENTO, Daniel. SOUZA NETO, Cláudio de. Direito Constitucional: teoria, história e métodos de trabalho, 2012. CALABRICH, Bruno. PELELLA, Eduardo e outros. Questões Discursivas do Concurso de Procurador da República 18º ao 25º - Respondidas e Comentadas. Salvador: Juspodium, 2013. CHEKER, Monique e outros. Comentários às Questões Objetivas do Concurso de Procurador da República 22º ao 26º. Salvador: Juspodium, 2013. FILHO, Roberval Rocha Ferreira. VIEIRA, Albino Carlos Martins. Súmulas do STJ Organizadas por assunto, Anotadas e Comentadas. Salvador: Juspodium, 2013. FILHO, Roberval Rocha Ferreira. VIEIRA, Albino Carlos Martins. COSTA, Mauro José Gomes. Súmulas do STF Organizadas por assunto, Anotadas e Comentadas. Salvador: Juspodium, 2013. CAVALCANTE. Márcio André Lopes. Principais Julgados do STF e STJ Comentados 2012. Manaus: Dizer o direito, 2013. CAVALCANTE. Márcio André Lopes. Principais Julgados do STF e STJ Comentados 2012. Manaus: Dizer o direito, 2014.
Conceito: “constitucionalismo” significa, em síntese, limitação do poder (respeito a valores básicos e direitos fundamentais, separação dos poderes, respeito ao devido processo legal). Consoante Karl Loewenstein: “a história do constitucionalismo é a busca do homem político pela limitação do poder arbitrário”.
Histórico: Segundo Barroso, o termo constitucionalismo data de pouco mais de 200 anos, sendo associado aos processos revolucionários norte-americano e Francês, em oposição ao Absolutismo. Todavia, as ideias centrais do constitucionalismo remontam à antiguidade clássica, no ambiente da polis grega, por volta do século V a.C.
Nas palavras de Sarmento: “A ideia de Constituição, tal como a conhecemos hoje, é produto da Modernidade, sendo tributária do Iluminismo e das revoluções burguesas dos séculos XVII e XVIII, ocorridas na Inglaterra, nos Estados Unidos e na França. Ela está profundamente associada ao constitucionalismo moderno, que preconiza a limitação jurídica do poder político, em favor dos direitos dos governados.”
Sarmento divide, didaticamente, a evolução história do constitucionalismo da seguinte forma: 1) Constitucionalismo antigo e medieval; 2) Constitucionalismo Moderno; 3) Constitucionalismo pós-moderno. Por sua vez, o Constitucionalismo Moderno foi construído sob três versões (inglesa; francesa; norte-americana). Ademais, no Constitucionalismo Moderno, além do estudo das 3 versões, destacam-se 2 fases (fase do Estado liberal-burguês e fase do Estado Social). Na contextualização temporal, é preciso ter em mente que as três versões acima mencionadas (inglesa; francesa e norte-americana) instauraram-se no seio do Estado Liberal-burguês e desenvolveram-se com a transição para a fase do Estado Social, de modo que é possível distinguir duas fases: constitucionalismo moderno do Estado Liberal-burguês e constitucionalismo moderno do Estado Social. Por fim, um novo modelo de constitucionalismo tem despontado: o constitucionalismo pós-moderno. Vejamos cada um deles:
1) Constitucionalismo antigo e o medieval: remonta ao período da antiguidade clássica até final do século XVIII, quando surgem as primeiras constituições escritas, com predominância do jusnaturalismo. As experiências mais importantes na antiguidade são: a) Hebreus: era Teocrático, influenciado pela religião, os dogmas religiosos atuavam como limites ao poder do soberano. b) Grécia: vivenciou a democracia direta, com o início da racionalização do poder. Havia um regime político que se preocupava com a limitação do poder das autoridades e com a contenção do arbítrio. Contudo, esta limitação visava antes a busca do bem comum do que a garantia de liberdades individuais. A liberdade, no pensamento grego, cingia-se ao direito de tomar parte nas deliberações públicas da cidade-Estado, não envolvendo qualquer pretensão a não interferência estatal na esfera pessoal. Não se cogitava na proteção de direitos individuais contra os governantes, pois se partia da premissa de que as pessoas deveriam servir à comunidade política, não lhe podendo antepor direitos de qualquer natureza. Tal concepção se fundava numa visão organicista da comunidade política: o cidadão não era considerado em sua dignidade individual, mas apenas como parte integrante do corpo social. O cidadão virtuoso era o que melhor se adequava aos padrões sociais, não o que se distinguia como indivíduo. A liberdade individual não era objeto da especial valoração inerente ao constitucionalismo moderno. c) Roma: Para Ihering, “Nenhum outro Estado foi capaz de conceber a ideia de liberdade de uma forma tão digna e justa quanto o direito romano”. Em Roma já despontava a valorização da esfera individual e da propriedade, concomitante à sofisticação do direito privado romano e ao reconhecimento de direitos civis ao cidadão de Roma (direito ao casamento, à celebração de negócios jurídicos, à elaboração de testamento e à postulação em juízo). Ademais, algumas instituições do período republicano romano já prenunciavam a concepção moderna de separação dos poderes, notadamente a sua repartição por instituições como o Consulado, o Senado e a Assembleia, representativas de estamentos diferentes da sociedade, de forma a propiciar o equilíbrio entre eles. Tratava-se da ideia de governo misto, advogada por pensadores como Políbio e Cícero. Apesar disso, não se cogitava de um constitucionalismo em sentido moderno (como fórmula de limitação do poder político em favor da liberdade dos governados); d) Idade Média, iniciada com a queda do Império Romano, correspondeu a um período caracterizado pelo amplo pluralismo político. Não havia qualquer instituição que detivesse o monopólio do uso legítimo da força, da produção de normas ou da prestação jurisdicional. O poder político fragmentara-se por múltiplas instituições, como a Igreja, os reis, os senhores feudais, as cidades, as corporações de ofício e o Imperador.
2) Constitucionalismo moderno:  surgiu no final do século XVIII, como forma de superação do Estado Absolutista, sustentando a limitação jurídica do poder do Estado em favor da liberdade individual. Características históricas foram essenciais para o surgimento do constitucionalismo moderno, como a ascensão da burguesia como classe hegemônica; o fim da unidade religiosa na Europa,com a Reforma Protestante; e a cristalização de concepções de mundo racionalistas e antropocêntricas, legadas pelo Iluminismo. Sob as vozes do Iluminismo, a sociedade deixa o caráter organicista e passa a centrar-se na figura do indivíduo, concebido como um ser racional, titular de direitos, cuja dignidade independia do lugar que ocupasse no corpo coletivo. Evolui-se para o reconhecimento de direitos universais, pertencentes a todos. A sociedade não mais era concebida como um organismo social, formado por órgãos que exerciam funções determinadas (clero, nobres, vassalos). Ela passa a ser concebida como um conjunto de indivíduos, uma sociedade “atomizada” formada por unidades iguais entre si. Em harmonia com essa visão, desenvolveram-se as teorias de contrato social, que passaram a justificar a existência do Estado em nome dos interesses dos indivíduos. John Locke sustentava a ideia de que, ao celebrar o contrato social, as pessoas alienam para o Estado apenas uma parcela da liberdade irrestrita de que desfrutavam no Estado da Natureza, preservando determinados direitos naturais, que todos os governantes devem ser obrigados a respeitar. Esse jusnaturalismo difere daquele que predominara na Antiguidade e na Idade Média por não se basear na vontade divina, nem em imposições extraídas da Natureza, mas em princípios acessíveis à razão humana, e por conferir primazia aos direitos individuais. O constitucionalismo moderno assenta-se em 3 pilares: a contenção do poder dos governantes, por meio da separação de poderes; a garantia de direitos individuais, concebidos como direitos negativos oponíveis ao Estado; e a necessidade de legitimação do governo pelo consentimento dos governados, pela via da democracia representativa. O constitucionalismo moderno conheceu três versões mais influentes: a inglesa, a francesa e a norte-americana.
2.1. O modelo inglês de constitucionalismo: Como na Inglaterra não chegou a haver propriamente absolutismo, a história do constitucionalismo adquire um perfil próprio. Desde o final da Idade Média, o poder real encontrava-se limitado por determinados costumes e pactos estamentais, como a Magna Carta de 1215, mas o constitucionalismo inglês só tem início a partir da Revolução Gloriosa de 1968, quando foi deposta a dinastia dos Stuarts e foi assentado o princípio da supremacia política do Parlamento inglês, em um regime pautado pelo respeito aos direitos individuais. No curso do século XVII, foram editados três documentos constitucionais de grande importância: a Petition of Rights, de 1628; o Habeas Corpus Act, de 1679; e o Bill of Rights, de 1689, que garantiam importantes liberdades para os súditos ingleses, impondo limites à Coroa e transferindo poder ao Parlamento. A ideia central do constitucionalismo inglês é a de respeito às tradições constitucionais, não havendo um texto constitucional único que os consolide e organize. Inexiste, portanto, uma Constituição escrita na Grã-Bretanha. A ideia do exercício do poder constituinte, por meio de ruptura com o passado, com a refundação do Estado e da ordem jurídica, é estranha ao modelo constitucional inglês, que se assenta no respeito às tradições imemoriais. Nesse sentido, o constitucionalismo britânico é historicista, já que baseia a Constituição e os direitos fundamentais nas tradições históricas do povo inglês. Desenvolveu-se na Inglaterra o princípio constitucional de soberania do Parlamento, segundo o qual o Poder Legislativo pode editar norma com qualquer conteúdo. Não há a possibilidade de invalidação das suas decisões por outro órgão. Contudo, há na Inglaterra contemporânea uma tendência à alteração deste modelo de soberania irrestrita do Parlamento, pelo menos em matéria de direitos fundamentais. A mais importante expressão desta inflexão foi a aprovação, em 1998, do Humans Rights Act, que possibilitou ao Judiciário britânico a declaração de incompatibilidade de leis editadas pelo Legislativo com os direitos previstos naquele estatuto. Tal declaração não acarreta a invalidação da lei, mas cria um relevante fato político, gerando forte pressão para a revogação da norma violadora de direitos humanos.
2.2. O modelo francês de constitucionalismo: Tem como marco inicial a Revolução Francesa, iniciada em 1789, sendo a constituição escrita substanciada em 1791. Sob a perspectiva da teoria constitucional, a vontade de ruptura com o passado se expressou na teoria do poder constituinte, elaborada originariamente pelo Abade Emanuel Joseph Sieyès, em sua célebre obra Qu’est-ce que le Tier État?. Por essa teoria, o poder constituinte exprimiria a soberania da Nação, estando completamente desvencilhado de quaisquer limites impostos pelas instituições e pelo ordenamento do passado. Ele fundaria nova ordem jurídica, criando novos órgãos e poderes — os poderes constituídos — que a ele estariam vinculados. OBS.: destaca-se que o fundamento utilizado foi a “soberania da Nação”, que difere da “soberania do povo”. Para Sieyés, a detentora do poder era a nação, e não o conjunto dos nacionais. Sendo a Nação a detentora do poder e sendo essa uma concepção etérea/ideal, a resposta para a aparente incoerência entre a “igualdade” defendida e a exclusão dos iguais pelo voto censitário e masculino era justificada pelo argumento de que só podem exercer direitos políticos, na perspectiva liberal, aqueles que compõem o melhor da Nação (homens mais instruídos, de melhor condição social, reuniriam as condições que lhes permitiriam expressar, por meio do seu voto, a vontade da Nação).
A Constituição deveria corresponder a uma “lei” escrita, não se confundindo com um repositório de tradições imemoriais, ao contrário da fórmula inglesa. Ela pode romper com o passado e dirigir o futuro da Nação, inspirando-se em valores universais centrados no indivíduo. O protagonista do processo constitucional no modelo constitucional francês é o Poder Legislativo, que teoricamente encarna a soberania e é visto como um garantidor mais confiável dos direitos do que o Poder Judiciário. Isto levou, na prática, a que a Constituição acabasse desempenhando o papel de proclamação política, que deveria inspirar a atuação legislativa, mas não de autêntica norma jurídica, que pudesse ser invocada pelos litigantes nos tribunais. Tal pensamento vem sendo superado. Foi aprovada em 2008 (regulamentada em 2010), na França, a chamada “Questão Prioritária de Constitucionalidade”, permitindo que as partes aleguem incidentalmente a inconstitucionalidade de lei, por ofensa a direitos e liberdades fundamentais garantidos pela Constituição francesa, no âmbito de processos judiciais e administrativos. A questão deve ser encaminhada à Corte de Cassação ou ao Conselho de Estado que, por sua vez, podem provocar o Conselho Constitucional.
2.3. O modelo constitucional norte-americano: O fato de a colonização dos Estados Unidos ter sido realizada em boa parte por imigrantes que escapavam da perseguição religiosa na Europa contribuiu decisivamente para que se enraizassem na cultura política norte-americana ideias como a necessidade de limitação do poder dos governantes e de proteção das minorias diante do arbítrio das maiorias. A Constituição dos Estados Unidos foi aprovada pela Convenção da Filadélfia, em 1787, e depois ratificada pelo povo dos estados norte-americanos, vigorando desde então. Inovou ao instituir o presidencialismo e o sistema de freios e contrapesos, associado à separação de poderes. A plasticidade das cláusulas constitucionais mais importantes abriu a possibilidade de atualização daquela Constituição pela via interpretativa, para adaptá-la às novas demandas e valores que emergiam. O modelo constitucional dos Estados Unidos representa a tentativa de conciliação entre dois vetores. De um lado, o vetor democrático, de autogoverno do povo, captado pelas palavras que abrem o preâmbulo da Carta americana (We, the People of the United States...). Do outro, o vetor liberal, preocupado com a contenção do poder das maiorias para defesa de direitos das minorias. Uma ideia essencialdo constitucionalismo estadunidense, derivada da sua matriz liberal, é a concepção de que a Constituição é norma jurídica que, como tal, pode e deve ser invocada pelo Poder Judiciário na resolução de conflitos, mesmo quando isto implique em restrição ao poder das maiorias no Legislativo ou no Executivo. Desenvolveu-se no direito norte-americano a noção de que os juízes, ao decidirem conflitos, podem reconhecer a invalidade de leis que contrariem a Constituição, deixando de aplicá-las ao caso concreto. Esta posição, sustentada por Hamilton no Federalista nº 78, foi formulada na jurisprudência da Suprema Corte pelo Juiz John Marshall, no célebre julgamento do caso Marbury v. Madison, em 1803. Em suma, no modelo constitucional dos Estados Unidos, a supremacia da Constituição não é apenas uma proclamação política, como na tradição constitucional francesa, mas um princípio jurídico judicialmente tutelado. O modelo não é livre de críticas. O controle judicial de constitucionalidade das leis (judicial review) sofre até hoje contestações nos Estados Unidos, sendo frequentemente apontado como um instituto antidemocrático, por transferir aos juízes, que não são eleitos, o poder de derrubar decisões tomadas pelos representantes do povo, com base nas suas interpretações pessoais sobre cláusulas constitucionais muitas vezes vagas, que se sujeitam a diversas leituras. Contudo, a jurisdição constitucional não apenas criou profundas raízes no Direito Constitucional daquele país, como também acabou se disseminando por todo o mundo, sobretudo a partir da segunda metade do século XX.
Fases do Constitucionalismo Moderno:
2.1) Constitucionalismo liberal-burguês: baseou-se na ideia de que a proteção dos direitos fundamentais dependia, basicamente, da limitação dos poderes do Estado. Naquele modelo, os direitos fundamentais eram concebidos como direitos negativos, que impunham apenas abstenções aos poderes políticos. O Estado era visto como o principal adversário dos direitos, o que justificava a sua estrita limitação, em prol da liberdade individual. Tal limitação era perseguida também por meio da técnica da separação dos poderes, que visava a evitar o arbítrio e favorecer a moderação na ação estatal. Na Economia Política era defendido o Estado mínimo, que confiava na “mão invisível do mercado” para promover o bem comum. O Estado deveria limitar-se a velar pela segurança das pessoas e proteger a propriedade, não lhe competindo intervir nas relações travadas no âmbito social, nas quais se supunha que indivíduos formalmente iguais perseguiriam os seus interesses privados, celebrando negócios jurídicos. Ele combateu os privilégios estamentais do Antigo Regime e a concepção organicista de sociedade. Porém, ignorava a opressão que se manifestava no âmbito das relações sociais e econômicas, existindo uma nítida contradição entre o discurso e a prática do constitucionalismo liberal-burguês no que tange à igualdade. A ideia de liberdade alentada pelo constitucionalismo liberal-burguês era muito mais identificada à autonomia privada do indivíduo, compreendida como ação livre de interferências estatais, do que à autonomia pública do cidadão, associada à soberania popular e à democracia. Além disso, a liberdade era concebida em termos estritamente formais, como ausência de constrangimentos externos, impostos pelo Estado à ação dos indivíduos. Ademais, o foco centrava-se mais sobre as liberdades econômicas do que sobre as liberdades existenciais.
2.2) Constitucionalismo Social: No final do século XIX e início do século XX, a extrema exploração da classe trabalhadora tornou-se insustentável. Na Europa Ocidental, a industrialização acentuara dramaticamente o quadro de exploração humana, que o Estado absenteísta não tinha como equacionar. A pressão social dos trabalhadores e de outros grupos excluídos, aliada ao temor da burguesia diante dos riscos e ameaças de rupturas revolucionárias inspiradas no ideário da esquerda, levaram a uma progressiva mudança nos papéis do Estado, que ensejou a cristalização de um novo modelo de constitucionalismo. Fica evidente que a suavização do capitalismo foi uma clara posição estratégica para evitar uma revolução da classe operária. Sobre o contexto, Lênin afirmou que preferia o capitalismo selvagem ao estado do bem estar social, pois este tirava a energia necessária para a eclosão de uma revolução. No plano das ideias, despontavam o pensamento marxismo, o socialismo utópico e a doutrina social da Igreja Católica. A progressiva extensão do direito de voto a parcelas da população até então excluídas do sufrágio também contribuiu para a mudança de cenário. A democratização política, ao romper a hegemonia absoluta da burguesia no Parlamento, abrira espaço também para a democratização social. De mero garantidor das regras que deveriam disciplinar as disputas travadas no mercado, o Estado foi se convertendo num ator significativamente mais importante dentro da arena econômica, exercendo diretamente muitas atividades de produção de bens e serviços, como a realização de grandes obras públicas. No plano teórico, a sua atuação passa a ser justificada também pela necessidade de promoção da igualdade material, por meio de políticas públicas redistributivas e do fornecimento de prestações materiais para as camadas mais pobres da sociedade, em áreas como saúde, educação e previdência social. A proteção da propriedade privada é flexibilizada, passando a estar condicionada ao cumprimento da sua função social. É relativizada a garantia da autonomia negocial, diante da necessidade de intervenção estatal em favor das partes mais débeis das relações sociais. Há uma mudança, ainda, na leitura dos direitos, sendo desenvolvida a teoria da eficácia horizontal dos direitos fundamentais. Emergem os direitos de segunda geração, prestacionais, para efetivação da igualdade material. Sobre o discurso da igualdade formal, Anatole Frances escreve: “A majestosa igualdade das leis, que proíbe tanto o rico como o pobre de dormir sob as pontes, de mendigar nas ruas e de roubar pão.” A mudança no perfil do Estado refletiu-se também na sua engenharia institucional: a separação de poderes foi flexibilizada. A separação dos poderes estática, vigente no constitucionalismo liberal-burguês dá espaço à separação de poderes dinâmica, que se atenta para além da liberdade, para a efetividade, possibilitando uma atuação mais forte dos poderes públicos na seara social e econômica. O arranjo federalista também muda: as complexas tarefas assumidas pelo Estado não são exequíveis por um federalismo formal. É necessário o desenvolvimento de um federalismo cooperativo, com a participação de todos os entes federados.
É preciso, aqui, diferenciar o Estado Social do Constitucionalismo Social: A necessidade de construção de um Estado mais forte, para atender às crescentes demandas sociais, foi utilizada como pretexto para aniquilação dos direitos individuais e das franquias democráticas. Este fenômeno foi intenso nas décadas de 1930 e 1940, com a instauração de regimes totalitários (Alemanha e Itália), ou autoritários (Brasil, no Estado Novo). Nestas situações, pode-se falar em Estado Social, mas não em constitucionalismo social. O constitucionalismo social não renega os elementos positivos do liberalismo (preocupação com os direitos individuais e com a limitação do poder), mas pugna por conciliá-los com a busca da justiça social e do bem-estar coletivo.
Houve 2 fórmulas diferentes de recepção do Estado Social no âmbito do constitucionalismo democrático: 1ª) Exemplificada pela evolução do Direito Constitucional norte-americano a partir dos anos 30, os valores de justiça social e de igualdade material não foram formalmente incorporados à Constituição. Essa, no entanto, deixou de ser interpretada como um bloqueio à introdução de políticas estatais de intervenção na economia e de proteção dos grupos sociais mais vulneráveis. 2ª) Ilustrada pelas constituições mexicana, de 1917, e a alemã, de Weimar, de 1919. Elas não se limitam a tratar da estruturado Estado e da definição de direitos negativos, pois se imiscuem na disciplina de temas como a economia, as relações de trabalho e a família; moradia, saúde e previdência social. A maior parte das constituições elaboradas a partir da segunda metade do século passado seguiu, com maior ou menor sucesso, dita fórmula.
É inegável que o constitucionalismo social enfrenta crise desde as décadas finais do século passado, relacionada aos retrocessos que ocorreram no Welfare State. A globalização econômica reduziu a capacidade dos Estados de formular e implementar políticas públicas para atender aos seus problemas sociais e econômicos, sob a influência do pensamento neoliberal, que preconiza a redução do tamanho do Estado, a desregulação econômica e a restrição dos gastos sociais. A população envelheceu e cresceu, demandando maiores gastos com previdência social, saúde e educação. A partir da década de 80, começam a se tornar hegemônicas propostas de retorno ao modelo de Estado que praticamente não intervinha na esfera econômica. Sob o estímulo da globalização da economia, se inicia um processo de reforma do Estado que alcança escala mundial. Reduzem-se as barreiras alfandegárias e não alfandegárias ao comércio internacional e ao fluxo de capitais. Os Estados diminuem ou eliminam a proteção que reservavam à empresa nacional. Desterritorializa-se o processo produtivo. A nova dinâmica da produção global estimula os Estados a flexibilizarem suas relações de trabalho, com o intuito de atrair investimento produtivo e de alcançar maior competitividade no mercado global. Ameaçados pela inflação, que leva à necessidade de redução dos gastos públicos, os Estados privatizam suas empresas e extinguem monopólios públicos. A atuação direta do Estado na economia é significativamente reduzida.
No que toca aos direitos sociais, o fim do constitucionalismo social seria moralmente inaceitável em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, caracterizados por grande injustiça social e desigualdade material.
Sobre a transição do constitucionalismo liberal para o social, Carlos Ayres Britto sustenta, na ADI 4246, que: “Naquela assentada, ainda deixei explícito ser a Defensoria Pública uma instituição especificamente voltada para a implementação de políticas públicas de assistência jurídica, assim no campo administrativo como no judicial. Pelo que, sob este último prisma, se revela como instrumento de democratização do acesso às instâncias judiciárias, de modo a efetivar o valor constitucional da universalização da justiça (inciso XXXV do art. 5º da CF/88). Fazendo de tal acesso um direito que se desfruta às expensas do estado, de sorte a se postarem (as defensorias) como um luminoso ponto de interseção do constitucionalismo liberal com o social. Vale dizer, a Defensoria Pública faz com que um clássico direito individual de acesso à Justiça se mescle com um moderno direito social; isto é, os mais pobres a compensar a sua inferioridade econômica com a superioridade jurídica de um gratuito bater às portas do Poder Judiciário ou da própria Administração Pública. O que já se traduz na concreta possibilidade de gozo do fundamental direito de ser parte processual, ora no âmbito dos processos administrativos, ora nos processos de natureza judicial. [...] Numa frase, aparelhar as defensorias públicas é servir, sim, ao desígnio constitucional de universalizar e aperfeiçoar a própria jurisdição como atividade básica do Estado e função específica do Poder Judiciário.”
3. Constitucionalismo pós-moderno: Até meados do século XX, no modelo hegemônico na Europa continental e em outros países filiados ao sistema jurídico romano-germânico, a regulação da vida social gravitava em torno das leis editadas pelos parlamentos, com destaque para os códigos, sob a premissa de que o Legislativo, que encarnava a vontade da Nação, tinha legitimidade para criar o Direito, mas não o Poder Judiciário, ao qual cabia tão somente aplicar aos casos concretos as normas anteriormente ditadas pelos parlamentos. Até então, a imensa maioria dos países não contava com mecanismos de controle judicial de constitucionalidade das leis, que eram vistos como institutos antidemocráticos, por permitirem um “governo de juízes”. Mesmo em alguns países em que existia a jurisdição constitucional — como o Brasil, em que ela foi implantada em 1890 e incorporada à Constituição de 1891 — o controle de constitucionalidade não desempenhava um papel relevante na cena política ou no dia a dia dos tribunais. Tal quadro começou a se alterar ao final da II Guerra Mundial na Europa, mediante as gravíssimas violações de direitos humanos perpetradas pelo nazismo, que demonstraram a importância de criação de mecanismos de garantia de direitos que fossem subtraídos pelas maiorias de ocasião. Na Alemanha, a Lei Fundamental de 1949, instituiu diversos mecanismos de controle de constitucionalidade e criou um Tribunal Constitucional Federal, que se instalou em 1951 e passou a exercer um papel cada vez mais importante na vida alemã. Na Itália, a Constituição de 1947 instituiu uma Corte Constitucional, que começou a funcionar em 1956. Na própria França, berço de um modelo de constitucionalismo avesso à jurisdição constitucional, o cenário se modificou substancialmente sob a égide da atual Constituição de 1958, que instituiu um modelo de controle de constitucionalidade originalmente apenas preventivo, confiado ao Conselho Constitucional, e hoje envolve também o controle repressivo. Na década de 70, Portugal e Espanha se redemocratizaram, libertando-se de governos autoritários, e adotaram constituições de caráter mais normativo, garantidas por meio da jurisdição constitucional.
Nesse contexto, “Uma das características marcantes do constitucionalismo contemporâneo reside na judicialização da política, verdadeira consequência do modelo constitucional adotado em diversos países ocidentais, e que deflui diretamente do constitucionalismo democrático construído, principalmente, a partir da segunda metade do século XX: Na ponta oposta, a emergência do constitucionalismo democrático no segundo pós-guerra, reforçada pela redemocratização, nos anos 70, do mundo ibérico europeu e americano, trazendo consigo a universalização do judicial review e afirmação das leis fundamentais que impõem limites à regra da maioria, é percebida como uma ampliação do conceito de soberania, abrindo para os cidadãos novos lugares de representação de sua vontade, a exemplo do que ocorre quando provocam o Judiciário para exercer o controle das leis. (VIANNA, Luiz Werneck. BURGOS, Marcelo. Revolução processual do direito e democracia progressiva. – extraído do Manual prático de Direitos Humanos Internacionais).
O que se observa atualmente é uma tendência global à adoção do modelo de constitucionalismo em que as constituições são vistas como normas jurídicas autênticas, que podem ser invocadas perante o Poder Judiciário e ocasionar a invalidação de leis ou outros atos normativos. E, muitas destas novas constituições que contemplam a jurisdição constitucional são inspiradas pelo ideário do Estado Social. A conjugação do constitucionalismo social com o reconhecimento do caráter normativo e judicialmente sindicável dos preceitos constitucionais gerou efeitos significativos do ponto de vista da importância da Constituição no sistema jurídico — ela assumiu uma centralidade outrora inexistente —, bem como da partilha de poder no âmbito do aparelho estatal, com grande fortalecimento do Poder Judiciário, e, sobretudo, das cortes constitucionais e supremas cortes, muitas vezes em detrimento das instâncias políticas majoritárias. Sobre o tema, ver item 24.a (Neoconstitucionalismo).
Para finalizar, além da história do constitucionalismo, é preciso pontuar para onde ele caminha. O constitucionalismo moderno foi erigido a partir de um pressuposto fático, que hoje já não se verifica plenamente o Estado nacional soberano, detentor do monopólio da produção de normas, da jurisdição e do uso legítimo da força no âmbito do seu território,que não reconhece qualquer poder superior ao seu. O Estado continua sendo o principal ator político no mundo contemporâneo. Porém, com a globalização, atualmente, o Estado nacional perdeu em parte a capacidade que tinha para controlar os fatores econômicos, políticos, sociais e culturais que atuam no interior das suas fronteiras, pois esses são cada vez mais influenciados por elementos externos, sobre os quais os poderes públicos não exercem quase nenhuma influência. No mundo contemporâneo, os Estados nacionais, sozinhos, não conseguem enfrentar alguns dos principais problemas com que se deparam em áreas como a economia, o meio ambiente e a criminalidade. Em paralelo, surgem novas entidades internacionais ou supranacionais, no plano global ou regional, que exercem um poder cada vez maior e tensionam a soberania estatal e a supremacia constitucional. Ao lado disso, se desenvolve na sociedade global, desde o final da II Guerra Mundial, um “cosmopolitismo ético”, que cobra dos Estados mais respeito aos direitos humanos, não aceitando a invocação da soberania ou de particularismos culturais como escusa para as mais graves violações à dignidade humana.
Nesse cenário, surgem fontes normativas e instâncias de resolução de conflitos alheias ao Estado, que não se subordinam ao Direito estatal, inclusive ao emanado da Constituição. O constitucionalismo em rede ou multinível toma o lugar da tradicional pirâmide Kelseniana; a emergência do Direito Comunitário, sobretudo no contexto europeu; o fortalecimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos; e a difusão global de uma lex mercatoria, composta por práticas aceitas pelos agentes do comércio internacional, que se situam às margens dos ordenamentos estatais; o conflito entre o universalismo dos direitos fundamentais e o respeito às diferenças culturais, são exemplos de questões colocadas à frente do constitucionalismo. Para que o constitucionalismo estatal não se torne autista, Marcelo Neves sustenta o transconstitucionalismo para manutenção do diálogo constitucional entre diferentes esferas, permitindo que as respectivas imperfeições e incompletudes sejam percebidas e eventualmente corrigidas. Esses são alguns dos desafios a serem enfrentados pelo constitucionalismo pós-moderno.
Ponto extra: O problema da legitimidade intergeracional 
 Problema tormentoso surge da questão da legitimidade intergeracional, ou seja, do fato de uma geração adotar decisões vinculativas para as outras que a sucederão, principalmente no que pertine às cláusulas pétreas, cuja superação, como é cediço, só é possível através de uma ruptura da ordem jurídica. No entanto, o constitucionalismo democrático, além de valorar positivamente o fato de a Constituição ser dotada de supremacia, procura atribuir a importância devida às deliberações populares e às decisões da maioria dos representantes do povo. Contudo, registre-se que cada geração tem o direito de viver de acordo com seus valores, de forma que, cabe ao poder constituinte difuso, ou seja, a mutação constitucional deve ser a ferramenta para interpretar de forma a combinar com a realidade vigente.
Questões Objetivas
MPF\26 – Para o neoconstitucionalismo, todas as disposições constitucionais são normas jurídicas e a Constituição, além de estar em posição formalmente superior sobre o restante da ordem jurídica, determina a compreensão e interpretação de todos os ramos do direito – assertiva correta.
MPF\26 – A Constituição brasileira de 1988 enquadra-se na categoria das constituições dirigentes, porque, além de estabelecer a estrutura básica do Estado e de garantir direitos fundamentais, impõe ao Estado diretrizes e objetivos principalmente tendentes a promover a justiça social, a igualdade substantiva e a liberdade real - assertiva correta.
MPF\27 - O pós-positivismo contesta a separação entre Direito, Moral e Política, negando a especificidade do objeto de cada um desses domínios – assertiva incorreta.
LEITURA COMPLEMENTAR: BARROSO, Luís Roberto. “Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito. O triunfo tardio do Direito Constitucional no Brasil.” (artigo salvo no Dropbox, pasta n. 29).
BARROSO, Luís Roberto. “Constituição, democracia e supremacia judicial: Direito e política no Brasil contemporâneo”. (artigo salvo no Dropbox, pasta n. 29).
�
Ponto 1.b. Poder Legislativo. Organização. Atribuições do Congresso Nacional. Competências do Senado e da Câmara. Legislativo e soberania popular. A crise da representação política.
Obras consultadas: Resumos do 25º, do 26º e 27º CPR; LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado, 16ª Ed, 2012. BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 24ª ed, 2009. FERREIRA MENDES, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 7ª ed, 2012. CALABRICH, Bruno. PELELLA, Eduardo e outros. Questões Discursivas do Concurso de Procurador da República 18º ao 25º - Respondidas e Comentadas. Salvador: Juspodium, 2013. CHEKER, Monique e outros. Comentários às Questões Objetivas do Concurso de Procurador da República 22º ao 26º. Salvador: Juspodium, 2013. FILHO, Roberval Rocha Ferreira. VIEIRA, Albino Carlos Martins. Súmulas do STJ Organizadas por assunto, Anotadas e Comentadas. Salvador: Juspodium, 2013. FILHO, Roberval Rocha Ferreira. VIEIRA, Albino Carlos Martins. COSTA, Mauro José Gomes. Súmulas do STF Organizadas por assunto, Anotadas e Comentadas. Salvador: Juspodium, 2013. CAVALCANTE. Márcio André Lopes. Principais Julgados do STF e STJ Comentados 2012. Manaus: Dizer o direito, 2013. CAVALCANTE. Márcio André Lopes. Principais Julgados do STF e STJ Comentados 2012. Manaus: Dizer o direito, 2014.
Legislação básica: Art. 44, 46, 48 e inciso, 49 e incisos, 51 e incisos, 58 e incisos, CRFB/88.
a) Organização: O Legislativo da União é bicameral, exercido pelo Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado). Nas demais unidades da federação, o legislativo é unicameral (Assembleia legislativa e Câmara de Vereadores). Trata-se de bicameralismo federativo (princípio da participação na manutenção do equilíbrio federativo) e bicameralismo de equilíbrio ou de equivalência, pois não existe hierarquia entre Câmara e Senado.
A Câmara dos deputados representa o povo. Cada unidade federativa tem entre 8 e 70 Deputados, conforme a população (LC 78/93). Os territórios terão 4. A escolha é pelo sistema proporcional. O mandato dos deputados é de 4 anos. Idade mínima de 21 anos.
O Senado representa os Estados e o DF, cada um com 3 Senadores. Idade mínima é de 35 anos.  São escolhidos pelo sistema majoritário, e cada chapa deverá ter um cabeça e 2 suplentes.  O mandato é de 8 anos, renovados a cada 4 anos, na proporção de 1/3 e 2/3.
Mesa: órgão de direção de um colegiado, encarregada pela condução dos trabalhos legislativos e administrativos. Mesa da Câmara dos Deputados; Mesa do Senado Federal; Mesa do Congresso Nacional. O mandato é de 2 anos, vedada a reeleição para o mesmo cargo. Essa não é uma norma de reprodução obrigatória para Estados e Municípios, consoante decidido na ADI 792/RJ.
O Legislativo desempenha precipuamente 2 atribuições: a) fiscalizar; b) inovar a ordem jurídica. A fiscalização é feita através de: 1ª) Fiscalização Econômico-Financeira (arts. 70 a 75), auxiliada pelo Tribunal de Contas; 2ª) Fiscalização Político-Administrativa, exercida pelas Comissões.
Comissões (art. 58) 1) Comissão Temática ou Material: A organização está prevista no RI. A mais importante é a Comissão de Constituição e Justiça - CCJ. Todo PL, obrigatoriamente, passa por ela, que faz o controle preventivo através de parecer sobre a constitucionalidade do PL. Se for incompatível, inadequado, inconstitucional, é arquivado. O parecer não é meramente opinativo, com possibilidade de recurso previsto no RI. Depois de analisado pela CCJ, o PL é endereçado à comissão temática respectiva. Esta é dotada da delegação interna ou imprópria: poder (art. 58, §2º, I) para aprovar PL, independentemente da manifestação do Plenário.
2) Comissão Representativa: Art. 58, § 4º. É mista,pois composta por deputados e senadores.
3) Comissão Parlamentar de Inquérito: art. 58, § 3º; Lei 1579/52; Lei 10001/00, Regimentos Internos. Aplica-se o princípio da representação proporcional partidária (art. 58, § 1º).
I) CPI PODE: a.1) Notificar testemunhas e determinar a sua condução coercitiva (convidado ou investigado); OBS: 1) Membro do MP pode ser convocado perante CPI na condição de investigado em razão de fatos relativos ao exercício funcional, mas não está obrigado a responder perguntas sobre fato sobre o qual tenha se manifestado no exercício de suas atribuições. 2) Índio não pode ser obrigado a depor em CPI, pois conduzi-lo coercitivamente significa a sua retirada do seu habitat (remoção forçada de sua terra), o que é vedado pela CR; a.2) pode prender em flagrante, mas não pode prender o investigado por falso testemunho pois ele não é testemunha; a.3) pode realizar perícias, exames, vistorias; a.4) pode afastar o sigilo bancário e fiscal, mas é necessário fundamentação (RE 389.808). OBS: CPI municipal não pode afastar o sigilo fiscal e bancário, pois não há Judiciário municipal. CPI estadual pode.
II) CPI NÃO PODE (reserva de Jurisdição): b.1) afastar sigilo de comunicações telefônicas. art. 5.º, XII. A CPI não pode decretar a interceptação, mas pode requisitar quebra de dados telefônicos; b.2) expedir mandado de prisão; b.3) expedir mandado de busca e apreensão. Não pode proibir que o cidadão deixe o território nacional; determinar a apreensão de passaporte.
Requisitos para constituição da CPI: i) 1/3, no mínimo, de deputados e/ou senadores. ii) Fato determinado (especificar e circunscrever o objeto da investigação, ter relevância pública e estar dentre as atribuições da Casa). iii) Prazo certo.  Não existe CPI permanente (princípio da segurança jurídica). Preenchidos os requisitos, o parlamentar tem direito líquido e certo à CPI .  Término dos trabalhos: Elabora-se um relatório, que é votado pela CPI. Pode ser remetido ao MP para que promova as ações cabíveis. Também pode apresentar PL. Obs: Pode haver participação de membro do MP acompanhando os trabalhos da CPI, designado pelo PGR/PGJ.
b) Atribuições do Congresso Nacional. Competência do Senado e da Câmara: O art. 48 da CR traz as atribuições do Congresso, com a necessidade de sanção presidencial. Já o art. 49 descreve competências exclusivas do Congresso. Via de regra, estas são exercidas mediante decreto legislativo ou resoluções. O art. 51 prevê competências privativas da Câmara que, via de regra, são exercidas por resolução. A Competência privativa do Senado está prevista no art. 52.
c) Legislativo e soberania popular: Bodin, em 1576, teorizou Soberania (poder acima dos demais, centralizado nas mãos do Rei).  No século XVIII, o constitucionalismo conduziu à separação entre Estado e Monarca, passando a soberania a ser só do Estado. Em 1762, Rosseau adjetiva o conceito: Soberania Popular. Para Kelsen, “a soberania é qualidade do poder do Estado, sendo absoluta, já que nenhuma outra manifestação pode se contrapor à vontade estatal”. Suas características são: Una; indivisível; inalienável; imprescritível.
d) Crise da representação política: Para Bobbio, a democracia é um método, um conjunto de regras de procedimentos para que decisões políticas sejam tomadas. Nas democracias ocidentais, é possível identificar as assembleias parlamentares, periodicamente eleitas, como expressão concreta da Representação política. Esta é um fenômeno complexo, cujo núcleo consiste num processo de escolha dos governantes e de controle sobre sua ação através de eleições competitivas. É um conceito multidimensional que abarca o fenômeno da seleção de lideranças, de delegação de soberania popular, de controle, de participação indireta e de questionamento político. Atualmente, a democracia representativa encontra-se na penumbra, diante da quebra global da confiança, marcada pela corrupção, descrédito quanto à capacidade das instituições e dos agentes políticos de agir de modo funcionalmente adequado. A crise da representação política no Brasil se insere no interior de um quadro mais amplo e que reflete, de forma quase planetarizada, os mesmos problemas da (1) diminuição da participação eleitoral, (2) declínio da relação de identificação entre representantes e representados e (3) o aumento das taxas de alienação eleitoral conjugado com o crescimento do processo de exclusão social; para alguns autores ainda há as questões relativas à crise da democracia e o declínio da importância dos partidos políticos nas democracias contemporâneas. Concomitantemente, é verificada uma crescente crise de representatividade, legitimidade e funcionalidade no âmbito do Legislativo, alimentando o Judiciário na direção do ativismo judicial, em nome da Constituição, com a prolação de decisões que suprem omissões e, por vezes, inovam na ordem jurídica, com caráter normativo geral. (BARROSO, Luís Roberto. “Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática. Salvo na pasta 29 do Dropbox). Sobre o déficit democrático das instituições representativas, SARMENTO afirma: “Em que pese a universalização do direito de voto alcançada ao longo do século XX, hoje uma série de fatores - que vão da influência do poder econômico nas eleições, até a apatia e distanciamento do cidadão em relação à res publica - tende a segregar os representantes dos representados, minando a crença de que os primeiros vocalizariam na esfera política a vontade dos segundos.  O problema é universal, mas, no Brasil, há componentes que o agravam de forma exponencial, abalando profundamente a credibilidade das instituições de representação  popular.  [...]. Neste quadro preocupante, a objeção democrática contra o ativismo judicial se arrefece, sobretudo quando o Judiciário passa a agir em favor de causas “simpáticas” aos anseios  populares, como a proteção dos direitos sociais.” (A proteção judicial dos direitos sociais. Salvo na Pasta 29 do Dropbox).
Ponto extra – perda do mandato
Perda do mandato em caso de condenação criminal de Deputado Federal ou Senador 
Se uma pessoa perde ou tem suspensos seus direitos políticos, a consequência disso é que ela perderá o mandato eletivo que ocupa, já que o pleno exercício dos direitos políticos é uma condição de elegibilidade (art. 14, § 3º, II, da CF/88). 
A CRFB/88 determina que o indivíduo que sofre condenação criminal transitada em julgado fica com seus direitos políticos suspensos enquanto durarem os efeitos da condenação (art. 15, III). 
A condenação criminal transitada em julgado NÃO é suficiente, por si só, para acarretar a perda do mandato eletivo de Deputado Federal ou de Senador. 
O STF, ao condenar um Parlamentar federal, NÃO poderá determinar a perda do mandato eletivo. Ao ocorrer o trânsito em julgado da condenação, se o réu ainda estiver no cargo, o STF deverá oficiar à Mesa Diretiva da Câmara ou do Senado Federal para que tais Casas deliberem acerca da perda ou não do mandato, nos termos do § 2º do art. 55 da CRFB/88. 
O Código Penal prevê que a pessoa condenada criminalmente perderá o cargo, função pública ou mandato eletivo que ocupe nos seguintes casos: 
Art. 92. São também efeitos da condenação: 
I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: 
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública; 
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos. 
 Ex: se um Prefeito é condenado criminalmente a 2 anos de detenção pela prática de um crime contra a Administração Pública, no próprio acórdão já deverá constar a determinação, fundamentada, de que ele perderá o mandato eletivo. Vale ressaltar que, para Prefeito, por exemplo, não é necessária nenhuma outra providência adicional, além da determinação na decisão condenatória. Assim, em caso de condenação criminal transitada em julgado, haverá a perda imediata do mandatoeletivo no caso de Vereadores, Prefeitos, Governadores e Presidente da República. 
 Além da previsão expressa no Código Penal, a perda do mandato eletivo encontra justificativa na CF/88. Isso porque, para a pessoa exercer um mandato eletivo, ela precisa estar no pleno gozo de seus direitos políticos e o indivíduo condenado criminalmente fica com seus direitos políticos suspensos enquanto durarem os efeitos da condenação. Tal conclusão está prevista expressamente no art. 15, III c/c art. 14, § 3º, II: 
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: 
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; 
Art. 14 (...) 
§ 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei: 
II - o pleno exercício dos direitos políticos; 
A grande controvérsia que se debate atualmente reside no caso de condenação criminal de Deputados Federais e Senadores. A discussão jurídica é a seguinte: A condenação criminal transitada em julgado é suficiente, por si só, para acarretar a perda do mandato eletivo de Deputado Federal ou de Senador? O STF, ao condenar um Parlamentar federal, poderá determinar a perda do mandato eletivo?
1ª corrente: NÃO. Quem decide se haverá a perda é a Câmara ou o Senado. 
Para a primeira corrente, a regra acima explicada não se aplica no caso de Deputados Federais e Senadores. Isso porque, segundo defendem, no caso desses parlamentares há uma norma específica que excepciona a regra geral. 
Trata-se do art. 55, VI e § 2º da CF/88: 
Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador: 
VI - que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado. 
 § 2º - Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será DECIDIDA pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por voto secreto e maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa. 
Logo, para esta primeira corrente, mesmo o Deputado Federal ou o Senador tendo sido condenado criminalmente, com sentença judicial transitada em julgado, ele somente perderá o mandato se assim DECIDIR a maioria absoluta da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, por meio de votação secreta, assegurada ampla defesa.
Obs: Tese defendida por: Min. Ricardo Lewandowski, Min. Rosa Weber, Min. Dias Toffoli, Min. Cármen Lúcia, Min. Teori Zavaski, Min. Roberto Barroso.
O STF adotou esta corrente no julgamento do Senador Ivo Cassol (AP 565/RO, rel.Min. Cármen Lúcia, 7 e 8.8.2013).
2ª corrente: SIM. A Câmara ou o Senado irá apenas formalizar a perda que já foi decretada.
Para a segunda corrente, o § 2º do art. 55 da CF/88 não precisa ser aplicado em todos os casos nos quais o Deputado ou Senador tenha sido condenado criminalmente, mas apenas nas hipóteses em que a decisão condenatória não tenha decretado a perda do mandato parlamentar por não estarem presentes os requisitos legais do art. 92, I, do CP ou se foi proferida anteriormente à expedição do diploma, com o trânsito em julgado em momento posterior. 
Em outras palavras: 
Se a decisão condenatória NÃO determinou a perda do mandato eletivo, nos termos do art. 92, I, do CP: a perda do mandato somente poderá ocorrer se a maioria absoluta da Câmara ou do Senado assim votar (aplica-se o art. 55, § 2º da CF/88); 
Se a decisão condenatória DETERMINOU a perda do mandato eletivo, nos termos do art. 92, I, do CP: a perda do mandato ocorrerá sem necessidade de votação pela Câmara ou Senado (não se aplica o art. 55, § 2º). 
 
O procedimento estabelecido no art. 55 da CF disciplinaria circunstâncias em que a perda de mandato eletivo parlamentar poderia ser decretada com base em juízo político. No entanto, esse procedimento não é aplicável quando a aludida perda foi determinada em decisão do Poder Judiciário como efeito irreversível da sentença condenatória. 
A deliberação da Casa Legislativa, prevista no art. 55, § 2º, da CF, possui efeito meramente declaratório, sem que possa ser revista ou tornada sem efeito a decisão condenatória final proferida pelo STF.
Logo, para esta segunda corrente, se o Deputado Federal ou o Senador foi condenado criminalmente, com sentença judicial transitada em julgado, o STF poderá determinar a perda do mandato eletivo, nos termos do art. 92, I, do CP. 
Nessa hipótese, não será necessária votação pela respectiva Casa (não se aplica o art. 55, § 2º da CF/88). 
A condenação já tem o condão de acarretar a perda do mandato. 
Defendida por: Min. Joaquim Barbosa, Min. Luiz Fux, Min. Gilmar Mendes, Min. Marco Aurélio, Min. Celso de Mello.
O STF adotou esta corrente no julgamento do “Mensalão” (AP 470/MG, rel. Min. 
Joaquim Barbosa, 10 e 13.12.2012).
Obs1: como se observa acima, houve uma mudança de entendimento do STF. Isso ocorreu em virtude do ingresso de dois novos Ministros na Corte (Teori Zavaski e Luis Roberto Barroso) que votaram no sentido de que não há perda automática, devendo haver deliberação da Câmara ou do Senado. 
 
Obs2: o tema ainda não está consolidado porque o próprio Min. Luis Roberto Barroso (que havia adotado a primeira corrente acima) proferiu, em 02/09/2013, decisão monocrática recente na qual acena com a possibilidade de ser construída uma terceira posição (MS 32.326/DF). Segundo essa decisão liminar, que ainda não foi submetida ao Plenário, em caso de condenação de Deputado Federal ou Senador, a Casa Legislativa irá decidir sobre a perda ou não do mandato, nos termos do § 2º do art. 55 da CRFB/88. No entanto, para o Min. Barroso, se o regime de cumprimento da pena for o fechado e a quantidade da pena superior ao mandato, a Casa Legislativa, obrigatoriamente, deverá determinar a perda desse mandato, considerando que as condições do regime fechado são logicamente incompatíveis com o exercício do mandato parlamentar. Veja a ementa da decisão do Min. Barroso: (...) 1. A Constituição prevê, como regra geral, que cabe a cada uma das Casas do Congresso Nacional, respectivamente, a decisão sobre a perda do mandato de Deputado ou Senador que sofrer condenação criminal transitada em julgado. 
 Esta regra geral, no entanto, não se aplica em caso de condenação em regime inicial fechado, que deva perdurar por tempo superior ao prazo remanescente do mandato parlamentar. Em tal situação, a perda do mandato se dá automaticamente, por força da impossibilidade jurídica e fática de seu exercício. 
Como consequência, quando se tratar de Deputado cujo prazo de prisão em regime fechado exceda o período que falta para a conclusão de seu mandato, a perda se dá como resultado direto e inexorável da condenação, sendo a decisão da Câmara dos Deputados vinculada e declaratória. (...) 
 
Obs3: existe uma PEC tramitando para alterar o § 2º do art. 55 da CF/88 (determinando a perda automática em caso de determinadas condenações criminais), tendo ela já sido aprovada no Senado e encaminhada à apreciação da Câmara dos Deputados (PEC 18/2013).
Vejamos agora o caso concreto julgado pelo STF na AP 565/RO, noticiada neste Informativo. 
O STF condenou o Senador Ivo Cassol (RO) pela prática do crime descrito no art. 90 da Lei 8.666/93 à pena de 4 anos, 8 meses e 26 dias de detenção em regime inicial semiaberto. 
Discutiu-se se o STF poderia determinar expressamente a perda do cargo quanto ao 
réu/Senador. A maioria dos Ministros entendeu que NÃO. 
Decidiu-se que compete ao Senado Federal deliberar sobre a eventual perda do mandato parlamentar do Senador, nos termos do art. 55, VI e §2º da CF/88.
 
Ao ocorrer o trânsito em julgado da condenação, se o réu ainda estiver no cargo, o STF deverá oficiar à Mesa Diretiva da Câmara ou do Senado Federal para que tais Casas deliberem acerca da perda ou não do mandato.
INFORMATIVO
STF
a) CPI estadual e quebra de sigilo fiscal.
Em conclusão de julgamento, o Plenário, em virtude da perda superveniente de objeto, assentou o prejuízo de pedido formulado emação cível originária, processada segundo o rito do mandado de segurança. A ação havia sido ajuizada pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro – Alerj contra ato coator do Chefe da Superintendência Regional da Receita Federal na 7ª Região Fiscal. Na espécie, questionava-se decisão da mencionada autoridade, que, com base no dever do sigilo fiscal, negara pedido de transferência de dados fiscais relativos aos principais investigados em comissão parlamentar de inquérito - CPI, criada pela autora, destinada a apurar a ação de milícias no referido Estado-membro — v. Informativo 578. Na presente assentada, em voto-vista, o Ministro Dias Toffoli julgou prejudicado o pedido diante do encerramento das atividades da mencionada CPI. Não obstante, ressalvou seu entendimento quanto à possibilidade de CPI estadual obter informações dessa ordem, desde que observado o âmbito de poder e das competências que um Estado-membro teria. O Ministro Joaquim Barbosa, relator e Presidente, reajustou seu voto no sentido do prejuízo. ACO 1271/RJ, rel. Min. Joaquim Barbosa, 12.2.2014. Plenário. (Informativo 735).
Questões objetivas
MPF\27 - A soberania popular ser exercida, inclusive, nos termos da lei complementar, mediante plebiscito, referendo e iniciativa popular, sendo da competência exclusiva da Câmara dos deputados, composta por representantes do povo, autorizar referendo, plebiscito e a iniciativa popular - assertiva incorreta.
MPF\27 - A soberania popular ser exercida, inclusive, nos termos da lei complementar, mediante plebiscito, referendo e iniciativa popular, sendo esta admitida somente para elaboração de leis federais – assertiva incorreta.
Súmulas STF
Súmula vinculante 3 - Nos processos perante o tribunal de contas da união asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão.
Súmula 6 - A revogação ou anulação, pelo poder executivo, de aposentadoria, ou qualquer outro ato aprovado pelo tribunal de contas, não produz efeitos antes de aprovada por aquele tribunal, ressalvada a competência revisora do judiciário.
Súmula 347 - o tribunal de contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do poder público.
Súmula 653 - no tribunal de contas estadual, composto por sete conselheiros, quatro devem ser escolhidos pela assembléia legislativa e três pelo chefe do poder executivo estadual, cabendo a este indicar um dentre auditores e outro dentre membros do ministério público, e um terceiro a sua livre escolha.
 
�
Ponto 1.c. Ministério Público: História e princípios constitucionais. Organização. As funções constitucionais do Ministério Público.
Obras consultadas: Resumos do 25º e do 26º CPR; BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 24ª ed, 2009.  FERREIRA MENDES, Gilmar.Curso de Direito Constitucional. 7ª ed., 2012. SANTINI, Valter Foleto. O Ministério Público na Investigação Criminal. 2. ed., 2007; MAZZILLI, Hugo Nigro. Introdução ao Ministério Público, 8ª ed., 2012. Resumo do Manual do Procurador da República. CALABRICH, Bruno. PELELLA, Eduardo e outros. Questões Discursivas do Concurso de Procurador da República 18º ao 25º - Respondidas e Comentadas. Salvador: Juspodium, 2013. CHEKER, Monique e outros. Comentários às Questões Objetivas do Concurso de Procurador da República 22º ao 26º. Salvador: Juspodium, 2013. FILHO, Roberval Rocha Ferreira. VIEIRA, Albino Carlos Martins. Súmulas do STJ Organizadas por assunto, Anotadas e Comentadas. Salvador: Juspodium, 2013. FILHO, Roberval Rocha Ferreira. VIEIRA, Albino Carlos Martins. COSTA, Mauro José Gomes. Súmulas do STF Organizadas por assunto, Anotadas e Comentadas. Salvador: Juspodium, 2013. CAVALCANTE. Márcio André Lopes. Principais Julgados do STF e STJ Comentados 2012. Manaus: Dizer o direito, 2013. CAVALCANTE. Márcio André Lopes. Principais Julgados do STF e STJ Comentados 2012. Manaus: Dizer o direito, 2014.
Legislação básica: Art. 127 a 132 da CRFB/88; LC n.º: 75/93 e Lei n.º: 8.625/93.
a) História - A história do Ministério Público não é muito clara. Tem-se relatos do seu surgimento no Egito há mais de 4000 anos a.C, na figura dos Magiais, funcionários do real poder. Na Grécia antiga, aponta-se o Temósteta ou Tesmoteta, cuja missão era a de denunciar os delitos à Assembléia do Povo ou Senado, para que este designasse um acusador. Contudo, há quem acredite que a origem dessa instituição se acha no direito francês, nas ordenanças de 25 de março de 1302, de Felipe IV, o Belo, que impôs aos seus procuradores o mesmo juramento dos Juízes, proibindo-lhes o patrocínio de negócios que não fosse o do rei. Na Idade Média, especificamente na França, os Procuradores, a princípio, eram denominados Advogados do Rei, com atribuições em ações civis, na defesa dos desprotegidos e hipossuficientes. No Brasil, no período colonial, o MP funcionava na fazenda pública e na promoção de ação penal, época em que deixou de ser privada e passou a ser pública. A institucionalização do MP em uma Constituição só ocorreu em 1934, que detalhadamente previu a organização do MPU, no Distrito Federal e nos Territórios, através de leis federais, bem como a instituição do Ministério Público nos Estados, mediante leis locais. Com o CPP de 1941, o MP conquistou o poder de requisição de inquérito policial e de diligências, recebeu como regra, a titularidade na promoção da APP, embora ainda se permitisse o procedimento judicialiforme (art. 26 do CPP), abolido pela CR/88. O período áureo do MP começou com a Lei 7347/85. Até então, o MP desempenhava basicamente funções na seara criminal. Com a CR/88 foi-lhe atribuída a função de proteger o patrimônio público e social, meio ambiente e outros interesses difusos e coletivos.
Histórico nas Constituições: 1) 1891: citava tão somente que o PGR seria designado entre os membros do Supremo Tribunal Federal. 2) 1934: dizia que o MP era um órgão de cooperação nas atividades governamentais e a escolha do PGR exigia aprovação do Senado; criou  impedimentos ao exercício do cargo e garantias aos Procuradores. 3) 1937: somente disse que o PGR seria chefe do MPF. 4) 1946 – o MP ganhou um título autônomo na Constituição, e impôs investidura no cargo através de concurso público. 5) 1967 – foi inserido no Capítulo do Judiciário e a EC 1/69 colocou-o entre os órgãos do Executivo. 6) 1988 – atribuiu ao MP funções essenciais, concedendo-lhe autonomia administrativa, financeira e independência funcional.
b) Princípios constitucionais: O art. 127 da Constituição. Estes princípios sinalizam de forma expressa a nova roupagem constitucional do MP, apresentando-se como instituição autônoma não só topograficamente. O MP detém autonomia institucional, quer do ponto de vista institucional, como do ponto de vista administrativo.
1) Princípio da Unidade: no instante em que um membro do MP fala, ele se manifesta em nome da instituição. Só existe um MP. Por isso, ele não representa, mas presenta, a instituição, pois é a própria instituição no exercício de suas funções. O MP deve ser observado como uma instituição única e seus membros integram um só órgão sob a direção de um Procurador Geral.
2) Princípio da Indivisibilidade: é corolário do princípio da unidade e encontra limites na independência funcional. Os membros do MP podem ser substituídos por outros no exercício da mesma função sem que tenhamos um óbice na atividade desenvolvida. Não se vinculam aos processos em que atuam, podendo ser substituído, pois falam em nome da instituição.
3)Membros do MP agem com independência funcional: o MP é órgão constitucional independente, a serviço do cidadão. Se o constituinte lhe atribuiu tantas incumbências e lhe conferiu poderes e prerrogativas, fê-lo com a expectativa de que a instituição seja realmente instrumento do povo na defesa de seus direitos, até mesmo contra o Poder Público. Nessecontexto, a independência se insere para garantir a consecução da finalidade da instituição. O MP detém também autonomia administrativa e autonomia financeira (arts. 127, §2º e 168, §3º).
c) Organização: O MPU divide-se em 4 vertentes: MPF, MPT, MPM, MPDFT. Há 26 Ministérios Públicos Estaduais.
Proibição do exercício de atividade político-partidária: O art. 29 do ADCT apresenta norma de transição, estabelecendo que os membros que ingressaram antes da CR/88 poderiam optar pelo regime anterior, no qual o MP poderia exercer atividade político-partidária. Há 2 correntes: 1a. NÃO: proibição absoluta. 2a. SIM: com fundamento no artigo 29, § 3o, ADCT, (HUGO NIGRO MAZZILI e ALEXANDRE DE MORAES).
STF: “o direito à opção pelo regime anterior à CF/88 foi assegurado ao membro do MP admitido antes da promulgação da Constituição, apenas. A demora na aprovação e promulgação da lei complementar relativa ao MP não gerou direito de opção aos membros do MP admitidos já no novo regime instituído pela CF/88, com garantias e vedações próprias da magistratura”.
Tribunal de contas: Art. 130 da CF. A Lei 8443/92 cria MP especial para o TCU. O STF, na ADI 789/DF, manifestou-se que esse MP é destituído de autonomia administrativa e financeira. E mais: não dispõe de nenhuma autonomia institucional, já que se encontra na intimidade da corte de contas. Os membros têm prerrogativas, mas os órgãos não têm uma instituição própria. Deve existir um concurso específico para o cargo de MP do Tribunal de Contas, mas quem organiza é o próprio TC. Esse MP ingressa na estrutura do próprio tribunal.
e) Funções constitucionais do MP: Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; na APP encontram-se as raízes históricas da instituição MP. É através dela que exerce uma parcela direta de soberania do Estado. Segundo MAZZILLI, “o Ministério Público dá a palavra final do Estado soberano não quando acusa, mas quando deixa de acusar. [...] Longe de ser um simples acusador público, obrigado a processar a qualquer preço, o Ministério Público acabou constituindo hoje o primeiro fator da imparcialidade judicial dos julgamentos, já que assegura, com sua iniciativa, o princípio da inércia da jurisdição penal.” (p. 134)
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia; O MP é um ouvidor geral da coletividade, zelando pelos direitos constitucionais do povo. Recebe dos cofres públicos para a proteção do interesse público até mesmo contra o próprio Poder Público. Mais que um defensor do povo, o MP tem a função de “levar às barras dos tribunais os responsáveis pela violação” (MAZZILLI, 140).
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; O STJ admite que o MP interponha ACP para a defesa de direitos individuais homogêneos quando os interesses defendidos tenham forte conotação social ou repercussão no interesse público. Nesse sentido, o seguinte julgado da Corte Especial:
ERESP 114908/SP; EMBARGOS DE DIVERGENCIA NO RECURSO ESPECIAL 1999/0110356-8, DJ 20/05/2002, Rel. Min. ELIANA CALMON, Corte Especial: PROCESSO CIVIL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - MINISTÉRIO PÚBLICO - LEGITIMIDADE. 1. O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL está legitimado a recorrer à instância especial nas ações ajuizadas pelo MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. 2. O MP está legitimado a defender direitos individuais homogêneos, quando tais direitos têm repercussão no interesse público. 3. Questão referente a contrato de locação, formulado como contrato de adesão pelas empresas locadoras, com exigência da Taxa Imobiliária para inquilinos, é de interesse público pela repercussão das locações na sociedade. 4. Embargos de divergência conhecidos e recebidos.
A interpretação sistemática da Constituição torna claro que o MP poderá propor ACP não só para a defesa de interesses transindividuais (difusos, coletivos, ou individuais homogêneos), como também para defesa de interesses sociais e individuais indisponíveis (MAZZILLI, 142).
IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição; legitimidade do PGR (art. 103, VI e § 2º). No âmbito estadual, a legitimidade recai sobre o PGJ. (ver Lei 12562/11).
V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas; A “disputa sobre direitos indígenas” é matéria de competência dos juízes federais, que alcança questões de interesse global dos indígenas (ver itens 19.b e 20.a).
VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva; No caso de investigação acerca do desvio de verbas públicas, o STF decidiu, no MS 21729, pela possibilidade de pedido de informações acobertadas pelo sigilo bancário diretamente pelo MP ao Banco do Brasil. Segundo Alexandre de Moraes, ao erigir o MP como garantidor e fiscalizador da separação de poderes e, consequentemente, dos mecanismos de controle estatais (CF, art. 129, II), o legislador constituinte conferiu à Instituição função de resguardo ao status constitucional do cidadão, armando-o de funções, garantias e prerrogativas que possibilitassem o exercício daquelas e a defesa destes. Incorporou-se em nosso ordenamento, portanto, a pacífica doutrina constitucional norte-americana sobre a teoria dos poderes implícitos, pela qual no exercício de sua missão constitucional enumerada, o órgão executivo deveria dispor de todas as funções necessárias, ainda que implícitas, desde que não expressamente limitadas, consagrando-se, dessa forma, é aplicável ao MP o reconhecimento de competências genéricas implícitas que possibilitem o exercício de sua função constitucional.
VII – exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo anterior; Resolução n. 20 do CNMP; art. 9º da LC 75/93. É o conjunto de normas que regula a fiscalização exercida pelo MP em relação à polícia, na prevenção, apuração, investigação de fatos tidos como criminosos, na preservação dos direitos e garantias constitucionais dos presos que estejam sob custódia da autoridade policial e na fiscalização do cumprimento das determinações judiciais. Esse controle externo decorre do sistema de freios e contrapesos inerente ao regime democrático e não acarreta qualquer subordinação dos organismos policiais ao MP. Existem duas formas de controle externo: a) controle difuso (É aquele exercido por promotores com atribuição criminal, realizado através: Controle das ocorrências policiais; Verificação de prazos de IP; Verificação da qualidade dos IP; Verificação de bens apreendidos; Controle da proposta de medidas cautelares, como o pedido de prisão; b) controle concentrado (É aquele exercido pelo órgão do MP com atribuições específicas para o controle externo da atividade policial. Medidas a serem adotadas: Ação de improbidade administrativa; ACP na defesa de interesses difusos; Requisições; Recomendações; Termo de ajustamento de conduta; Visitas às unidades prisionais; Comunicações de prisões em flagrante).
VIII – requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais; Ver abaixo o tema “investigação pelo Ministério Público”.
IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas. Trata-se de norma de encerramento, possibilitando o acréscimo de funções ao MP, desde que compatíveis com suas finalidades institucionais, ao mesmo tempo em que veda-lhe a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas. Com isso, é

Outros materiais