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APOSTILA Responsabilidade Civil Professor(a)............................. : Nilson Feliciano de Araujo Acadêmico............................... :Denilson Prestes Gadzinowski Turma....................................... :9ª Sala.......................................... :C03 RESPONSABILIDADE CIVIL Código Civil – Art. 927 a 954 MÓDULO I CONCEITO, EVOLUÇÃO E PRINCÍPIOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL 1. Introdução e evolução histórica A responsabilidade civil é um tema de suma importância para o conhecimento do direito, sendo um dos seus ramos mais relevantes, já que trata da recomposição dos danos causados em razão de inexecução contratual ou na ocorrência do ato ilícito. Abrange tanto o direito civil quanto o penal. Relaciona-se com todos os ramos do direito, estando inserido na essência da ciência jurídica, já que envolve a responsabilização pelo dano causado, seja qualquer que seja esse. É importante também o estudo e conhecimento da responsabilidade civil já que este tema é comumente objeto de questionamentos em todas as provas de conhecimento na área jurídica, sendo necessário o domínio, tanto para concursos quanto, principalmente, para o exercício de qualquer atividade que envolva a ciência do direito. Na sociedade moderna, prima-se pela chamada segurança jurídica e ordem social, fatores imprescindíveis para a existência do Estado Democrático de Direito e também para possibilitar o pleno exercício dos direitos, de modo a se ter a correta reparação sempre que alguém sofrer algum tipo de dano. A responsabilidade civil é fruto da evolução do Direito Romano, sendo que ao longo dos tempos sofreu transformações de forma a adequar-se as evoluções que experimentaram nossa sociedade. Quanto mais as relações sociais foram intensificando e tornando-se complexas, mais se sentiu a necessidade e a importância do instituto, e mais aplicabilidade teve a responsabilidade para a solução dos conflitos decorrentes da recomposição dos danos. Na fase primitiva da humanidade o homem agia por seus instintos para repelir ameaças ao seu patrimônio, reagindo de maneira imediata e brutal ao possível dano. Essa fase ficou conhecida como fase da vingança privada. O Código de Hamurabi (2.500 a.C), permitia que o lesado reagisse “legalmente” à ação sofrida, mesmo que de maneira proporcional entre o dano e aquela ação, cujo respaldo se encontrava na Lei de Talião: “olho por olho, dente por dente”. Em um momento seguinte o Estado passou a intervir na recomposição dos danos, vez que na vingança privada os excessos eram comuns, sendo necessária a imposição de certos limites, podendo o ofendido reagir dentro destes limites estabelecidos. A partir do aparecimento da retaliação por intermédio do Estado, é possível notar os primeiros resquícios da responsabilidade civil objetiva, na medida em que o lesado somente reagia ao dano sofrido sem nem mesmo haver comprovação da culpa do agente. win7 Note Prova dia 14/09/2013:nullnullnullnullTudo até Responsabilidade Civil do Estado!! win7 Accepted set by win7 2 Mais adiante foi adotada a composição, onde as próprias partes envolvidas pactuavam as condições da recomposição dos danos, o que geralmente se dava pelo pagamento em dinheiro. Este instituto teve origem na Lei das XII Tábuas, que ainda inspirou o surgimento de outras legislações. É neste momento que significativa alteração ou evolução na responsabilidade civil foi sentida, pois a recomposição o agente causador do dano não mais respondia com seu próprio corpo para o ressarcimento do dano, mas sim com seu patrimônio, situação quer perdura até os dias de hoje. Tem-se aí o ditado popular que a parte que mais dói no corpo humano é o bolso. A responsabilidade civil é um dos problemas centrais do direito privado neste século e continuará sendo um importante tema, ainda mais com a evolução social fruto tanto do desenvolvimento tecnológico como da globalização da economia. A evolução da responsabilidade civil acabou ensejando dois campos distintos: O exame da conduta do autor do dano e a responsabilidade civil dependiam de culpa, provada ou presumida; A garantia da segurança da vítima, com base nas teorias da responsabilidade objetiva, baseada no risco ou nas situações de profunda desigualdade existente entre quem causava o dano e a vítima da lesão. No Código Civil de 1916 a jurisprudência e a doutrina transformaram a necessidade de prova da culpa à qual se referia o art. 1.523, em presunção inicialmente juris tantum (admite prova em contrário) e posteriormente juris et jure, (não admite prova em contrário) ensejando, assim, uma responsabilidade objetiva. O atual Código Civil, de 2002, reconhece a responsabilidade civil objetiva em vários artigos, situação já corrente em muitos países. Isso decorre da enorme dificuldade nas relações atuais em se comprovar a culpa do agente causador do dano e com isso, impedir que se dê sua responsabilização e a consequente recomposição. 2. Conceito O termo “responsabilidade” advém do latim respondere, cujo significado traduz-se na obrigação de responsabilizar-se, estando intimamente ligado a obrigação, pois quem responsabiliza se obriga a alguma coisa, imposta de forma legal, em que há imposição de não se causar dano a outrem (obrigação de não fazer), ou imposta de forma contratual quando do seu inadimplemento. Vários são os conceitos da responsabilidade civil e todos eles de certa forma envolvem a violação de uma regra legal ou contratual e a necessidade da recomposição de eventuais danos decorrentes dessa ação ou omissão. Responsabilidade civil é a obrigação da pessoa física ou jurídica, ofensora de reparar o dano causado por conduta que viola um dever jurídico preexistente de não lesionar implícito ou expresso em lei. (Rui Stoco) É a situação de quem sofre as consequências da violação de uma norma, ou como a obrigação que incumbe a alguém de reparar o prejuízo causado a outrem, pela sua atuação ou em virtude de danos provocados por pessoas ou coisas dele dependentes. Trata-se, pois, de um mecanismo jurídico para sancionar violações prejudiciais de interesses alheios (Arnold Wald). 3 A aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causados a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal. (Maria Helena Diniz). 3. Funções A função primordial da responsabilidade civil é possibilitar a ordem pública e o convívio harmônico de modo que todo aquele que causar prejuízo a outro esteja obrigado a repará-lo. É a mantença da segurança jurídica, seja quanto ao patrimônio, quanto a moral. O objetivo é a recomposição dos danos e reestabelecimento da situação anterior ao dano. As funções d responsabilidade civil são: a) ressarcitória (para a vítima - material) b) compensatória (para a vítima – moral) c) punitiva (para o agressor) d) sociopreventiva (para terceiros) a) Função ressarcitória O objetivo desta função é fazer com que as coisas retornem à situação anterior à lesão. Tem o objetivo de garantir o direito do lesado à segurança dos bens que compõem seu patrimônio, por meio de uma reconstituição do valor do prejuízo. É a recomposição patrimonial que tem direito o ofendido, de modo que lhe seja restituído o patrimônio que não poderá sofrer diminuição em razão de dano praticado por alguém contra si. b) Função compensatória Há bens e direitos de um indivíduo que embora componham sua personalidade e patrimônio, não possuem uma valoração direta e assim não podem ser ressarcidos. É a lesão à intimidade, privacidade e imagem, ou o dano moral, como conhecemos. Na impossibilidade de ressarcimento ou reparação específica, a compensação vem no sentido reestabelecer o equilíbrio anteriormente existente, ou seja, substituir uma coisa que falta (o dano pelo dinheiro). O dinheiro em si não traz felicidade, mas ele funciona comoum meio de acesso aos mais variados bens de consumo, cujo acesso garante aos indivíduos sensações agradáveis, compensando de certa forma o abalo sofrido (WALD, 2011, p.38). Nos dizeres de Coco Chanel, “o que conta não são os quilates, mas o efeito." Na função compensatória, ao contrário da ressarcitória, o valor pago em dinheiro não é necessariamente equivalente ao dano, mas sim somente para neutralizar ou minimizar os efeitos deste. 4 É de se destacar aqui forte corrente doutrinária e jurisprudencial no sentido que combatem a vulgarização e monetarização do dano moral, muitas vezes utilizado de forma banal e objetivando apenas o enriquecimento sem causa. Alguns autores defendem que o abalo moral experimentado pela vítima não deveria necessariamente ser recomposto de forma monetária, mas de outras possíveis que viessem a amenizar o sofrimento da vítima, como tratamento psicológico entre outros. c) Função punitiva É a responsabilidade como instrumento de punição ao agressor, agindo pedagogicamente no sentido de desmotiva-lo a reiterar a conduta. Tem a dupla finalidade de conscientizar o agressor de seu comportamento danoso através da aplicação de uma sanção que lhe diminua o patrimônio, como também o efeito pedagógico a terceiros com a punição do agressor. Nem sempre a punição com a diminuição patrimonial do agressor deve ser revertida integralmente à vítima. Em algumas situações, essa situação poderia gerar um enriquecimento desproporcional para a vítima. Assim, vale a prudência de se aplicar o parágrafo único do artigo 883 do Código Civil: Art. 883. Não terá direito à repetição aquele que deu alguma coisa para obter fim ilícito, imoral, ou proibido por lei. Parágrafo único. No caso deste artigo, o que se deu reverterá em favor de estabelecimento local de beneficência, a critério do juiz. Ocorre que em algumas situações a situação econômica do agressor é muito desproporcional à da vítima, situação em que deve se ter uma razoabilidade, principalmente na recomposição do dano moral, de forma que não gere um enriquecimento sem causa. d) Função sociopreventiva É pautada pelo princípio da prevenção ou da precaução, o qual estabelece um sistema jurídico baseado na prudência, criando um dever de segurança geral. Esta função é exercida pelo Estado, por meio de seus órgãos regulatórios, já que é uma obrigação de todos prevenir a ocorrência de danos e, na medida do possível, aumentar o nível de segurança dos indivíduos. (WALD, 2011, p. 65). No artigo 6º do Código do Consumidor existem dispositivos para a suspensão da publicidade enganosa e também proibição de comercialização de produtos perigosos. Art. 6º São direitos básicos do consumidor: I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; (.....) IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; (.....) 5 O Supremo Tribunal Federal assim se manifesta quanto a publicidade enganosa à luz da responsabilidade civil: EMENTA: INCONSTITUCIONALIDADE. Ação direta. Lei nº 12.420/99, do Estado do Paraná. Consumo. Comercialização de combustíveis no Estado. Consumidor. Direito de obter informações sobre a natureza, procedência e qualidade dos produtos. Proibição de revenda em postos com marca e identificação visual de outra distribuidora. Prevenção de publicidade enganosa. Sanções administrativas. Admissibilidade. Inexistência de ofensa aos arts. 22, incs. I, IV e XII, 170, incs. IV, 177, §§ 1º e 2º, e 238, todos da CF. Ação julgada improcedente. Aplicação dos arts. 24, incs. V e VIII, cc. § 2º, e 170, inc. V, da CF. É constitucional a Lei nº 12.420, de 13 de janeiro de 1999, do Estado do Paraná, que assegura ao consumidor o direito de obter informações sobre a natureza, procedência e qualidade de produtos combustíveis comercializados nos postos revendedores do Estado. (ADI 1980, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno, julgado em 16/04/2009, DJe-148 DIVULG 06-08-2009 PUBLIC 07-08-2009 EMENT VOL-02368-01 PP-00151 RTJ VOL-00211- PP-00052 LEXSTF v. 31, n. 368, 2009, p. 69-77 RSJADV jan./fev., 2010, p. 32-34) 4. Princípios da responsabilidade civil Princípios são proposições básicas que fundamentam e orientam uma ciência jurídica. No direito, para facilitar seu estudo, os temas estão divididos em várias áreas de conhecimento, tendo cada uma delas princípios específicos que, alicerceados nos princípios gerais do direito, dão os contornos básicos para compreensão, estudo e interpretação das normas jurídicas. Nos dizeres de Silvio Venosa, os princípios da responsabilidade civil buscam restaurar um equilíbrio patrimonial e moral violado. Não há em nenhum ramo do direito consenso quanto à nominação e tipos de princípios. Na responsabilidade civil da mesma forma. Assim enumeramos alguns dos princípios mais comuns que são dissertados por alguns autores e de forma geral geram certo consenso nos meios doutrinários e jurisprudenciais. a) Princípio da correspondência entre o risco e a vantagem O beneficiado por uma atividade deve arcar com os prejuízos dela decorrentes. Trata- se do princípio fundamental da teoria do risco-proveito. A maior dificuldade relativa a esse princípio, é estabelecer o que deve ser considerado benefício: apenas vantagens pecuniárias ou quaisquer vantagens? No limite, é possível considerar, que "todos os que agem livremente, por vontade própria, o fazem em seu próprio interesse", obtendo, portanto, um benefício. O princípio da correspondência entre risco e vantagem é especialmente convincente como fundamento da responsabilidade de profissionais, pois estes podem distribuir o risco entre seus clientes, igualmente beneficiários da manutenção da fonte de risco, por meio do preço. Exemplos: do transportador pelos danos causados; empregador por danos causados a empregados e a terceiros. 6 b) Princípio do risco extraordinário Toda atividade humana envolve riscos. Dirigir um automóvel, praticar um esporte, até andar a pé envolve o risco de sofrer danos. O próprio fato de ocorrer um acidente qualquer é a comprovação de que a atividade em questão envolvia algum risco. O ordenamento jurídico, ao regular a responsabilidade civil, define o modo como esses riscos deverão ser distribuídos. Ao estabelecer a responsabilidade subjetiva, o legislador atribui à vítima os riscos envolvidos em dada situação, a não ser que haja dolo ou culpa de quem deu causa ao dano. Ao estabelecer a responsabilidade objetiva, por outro lado, o direito desloca da vítima para uma outra pessoa o ônus de arcar com os riscos da situação. Uma justificativa para esse tratamento diferenciado dos riscos envolvidos nas mais diversas situações da vida é a ideia de risco extraordinário (besondere Gefahr, na doutrina alemã), isto é, um risco acima do normal. O caráter extraordinário do risco pode ser determinado pela grande probabilidade da ocorrência de danos, pelo valor elevado dos prejuízos potenciais ou pelo desconhecimento do potencial danoso da situação ou atividade regulada. c) Princípio da causa do risco A responsabilidade deve ser atribuída a quem deu causa ao dano, isto é, ao sujeito que mantém a fonte do risco. Esse princípio relaciona-se de modo íntimo com o princípio da prevenção, pois, normalmente, o sujeito que mantém a fonte de risco é quem a conhece melhor e está na melhor posição para evitar, na medida do possível, a ocorrência de danos. d) Princípio da prevenção De acordo com o princípio da prevenção, a responsabilidade se atribui ao sujeito em melhores condições para controlar e reduzir os riscos de dano. O sujeito que controla a fonte de risco pode, por meio de certas medidas, reduzir o risco ao nível mais baixo possível. A imposição de responsabilidade é um incentivopara que ele o faça. e) Princípio da distribuição dos danos De acordo com esse princípio, tendo em vista que uma das funções da responsabilidade é distribuir os danos, ela deve ser atribuída ao sujeito em melhores condições para repartir o prejuízo, de modo que um número maior de pessoas o suporte e seja diminuído o fardo individual. f) Princípio da equidade Segundo o princípio da equidade, a responsabilidade se atribui a quem tem as melhores condições de suportar o prejuízo do ponto de vista econômico. 7 Naturalmente, este princípio não é justificativa suficiente para a responsabilidade objetiva, se considerado isoladamente. No entanto, pode ser considerada uma justificativa complementar para a atribuição. Esses princípios servem de base para o entendimento e aplicação a responsabilidade civil, seja nas relações contratuais seja quando da prática do ato ilícito e possibilitam a melhor aplicabilidade da responsabilização e recomposição dos danos. RESPONSABILIDADE CIVIL MÓDULO II ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL 1. Introdução Ao se tratar a responsabilidade civil não há como deixar de se abordar os seus elementos essenciais, sem os quais não haverá qualquer responsabilização por evento danoso. A doutrina divide esses elementos em subjetivos e objetivos, sendo o primeiro referindo- se ao agente e a vítima, e o segundo a conduta, dano e nexo de causalidade. A culpa também deve ser considerada como um elemento essencial, porém somente com referência a responsabilidade civil subjetiva. Para a caracterização da responsabilidade civil é necessária a existência de uma série de elementos constitutivos de forma a legitimar a reparação dos danos experimentados pela vítima. Esses elementos também são doutrinariamente classificados em duas espécies: elementos essenciais e elementos especiais. a) Elementos essenciais: a conduta do agente (ação ou omissão do agente); o dano, oriundo da ação ou abstenção; o nexo de causalidade, que é o liame entre a conduta e o dano. b) Elementos especiais: a culpa o risco Solidariedade social 2. Conduta do agente - ação ou omissão Em relação à conduta humana, esta abarca apenas a ação ou omissão humana, já que apenas este pode ser capaz de adquirir direitos e deveres. O elemento básico caracterizador da responsabilidade civil é a conduta do agente ofensor, seja ela por ação ou omissão. Sem ela não se pode cogitar de responsabilização civil. A conduta é o comportamento físico e psíquico direcionado a prática de um ato ou a omissão em praticá-lo quando tinha uma obrigação de fazê-lo. Voluntariedade da conduta – É necessária para que haja a culpa, sendo esta uma condição para a responsabilização civil do agente, pois a vontade é elemento subjetivo da conduta. Consciência da conduta – Ao lado do elemento voluntariedade, a conduta para gerar responsabilidade civil deve ser consciente. A consciência deve ser da conduta 2 em si, não do específico conteúdo jurídico desse ato, ou de suas eventuais consequências. Exemplo: motorista que faz sempre o mesmo trajeto e em razão do automatismo de sua conduta se distrai e provoca acidente. (WALD, GIANCOLLI, 2012, p. 81). As formas materiais da conduta são a ação e a omissão. A conduta por ação (comissiva) se concretiza por meios de movimentos corporais e é formada por atos que são o seguimento ou parcelas nas quais se decompõe a ação. A conduta omissiva decorre de uma decisão voluntária em atitude negativa e resulta de uma violação de um dever jurídico especial, onde a omissão em praticar o ato gera o dano. 3. Dano O dano é a subtração ou diminuição de um bem jurídico, qualquer que seja a sua natureza, quer se trate de um bem patrimonial, quer se trate de um bem integrante da própria personalidade da vítima, como a sua honra, a imagem, a liberdade. Do ponto de vista físico, dano é a alteração de uma situação favorável de um indivíduo ou grupo num determinado espaço de tempo. Do ponto de vista jurídico dano se dá em ração da inobservância de uma norma que gere lesão a outrem. Abstratamente resulta da violação de um valor jurídico protegido por uma norma. Concretamente dano é a perda ou deterioração de um bem pertencente à pessoa ofendida. O dano é a pedra angular para a configuração da responsabilidade civil. Sem dano não há falar em responsabilidade. Pode até haver o ato ilícito e a conduta do agente, aliado ao nexo de causalidade. Contudo, inexistindo dano não gera dever de reparação. Á única situação que mesmo não existindo dano há responsabilização é a constante no artigo 416 do Código Civil: Art. 416. Para exigir a pena convencional, não é necessário que o credor alegue prejuízo. Parágrafo único. Ainda que o prejuízo exceda ao previsto na cláusula penal, não pode o credor exigir indenização suplementar se assim não foi convencionado. Se o tiver sido, a pena vale como mínimo da indenização, competindo ao credor provar o prejuízo excedente. Também existem situações em que ocorre o chamado dano presumido, onde a própria lei presume de um dano, exonerando o lesado de provar sua existência, conforme constam nos artigos do Código Civil a seguir: Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional. Parágrafo único. Provado que os juros da mora não cobrem o prejuízo, e não havendo pena convencional, pode o juiz conceder ao credor indenização suplementar. 3 Art. 407. Ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros da mora que se contarão assim às dívidas em dinheiro, como às prestações de outra natureza, uma vez que lhes esteja fixado o valor pecuniário por sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre as partes. A regra geral é que todo o dano deva ser indenizado. a) Os requisitos para que o dano seja indenizado são: a) A violação de um interesse jurídico protegido – Diminuição ou destruição de um bem; b) Certeza – Deve ser concreta e não abstrato c) Subsistência – O dano deve existir quando de sua exigibilidade em juízo. d) Imediatidade – Decorre da interpretação do art. 403 do Código civil (As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional). Em relação à imediatidade, nem sempre as situações indenizáveis são só as imediatas. Também há o dano reflexo ou em ricochete, quando o prejuízo atinge extensivamente pessoa próxima, ligada diretamente à vítima. Tanto a doutrina quanto a jurisprudência entende cabíveis, como nessa jurisprudência do STJ: DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. LEGITIMIDADE ATIVA. PAIS DA VÍTIMA DIRETA. RECONHECIMENTO. DANO MORAL POR RICOCHETE. DEDUÇÃO. SEGURO DPVAT. INDENIZAÇÃO JUDICIAL. SÚMULA 246/STJ. IMPOSSIBILIDADE. VIOLAÇÃO DE SÚMULA. DESCABIMENTO. DENUNCIAÇÃO À LIDE. IMPOSSIBILDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ E 283/STF. (....) 2. Reconhece-se a legitimidade ativa dos pais de vítima direta para, conjuntamente com essa, pleitear a compensação por dano moral por ricochete, porquanto experimentaram, comprovadamente, os efeitos lesivos de forma indireta ou reflexa. Precedentes. 3. Recurso especial não provido. Processo REsp 1208949 / MG RECURSO ESPECIAL 2010/0152911-3 Relator(a) Ministra NANCY ANDRIGHI (1118) Órgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA Data do Julgamento 07/12/2010 Data da Publicação/Fonte DJe 15/12/2010 REVJMG vol. 195 p. 333 RECURSOS ESPECIAIS - RESPONSABILIDADE CIVIL - ALUNA BALEADA EM CAMPUS DE UNIVERSIDADE - DANOS MORAIS, MATERIAIS E ESTÉTICOS - ALEGAÇÃO DE DEFEITO NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO, CONSISTENTE EM GARANTIA DE SEGURANÇA NO CAMPUS RECONHECIDO COM FATOS FIRMADOS PELO TRIBUNAL DEORIGEM - FIXAÇÃO - DANOS MORAIS EM R$ 400.000,00 E ESTÉTICOS EM R$ 200.000,00 - RAZOABILIDADE, NO CASO - PENSIONAMENTO MENSAL - ATIVIDADE REMUNERADA NÃO COMPROVADA - SALÁRIO MÍNIMO - SOBREVIVÊNCIA DA VÍTIMA - PAGAMENTO EM PARCELA ÚNICA - INVIABILIDADE - DESPESAS MÉDICAS - DANOS MATERIAIS - NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO - JUROS MORATÓRIOS - 4 RESPONSABILIDADE CONTRATUAL - TERMO INICIAL - CITAÇÃO - DANOS MORAIS INDIRETOS OU REFLEXOS - PAIS E IRMÃOS DA VÍTIMA - LEGITIMIDADE - CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL - TRATAMENTO PSICOLÓGICO - APLICAÇÃO DA SÚMULA 7/STJ. 1.- Constitui defeito da prestação de serviço, gerando o dever de indenizar, a falta de providências garantidoras de segurança a estudante no campus, situado em região vizinha a população permeabilizada por delinquência, e tendo havido informações do conflagração próxima, com circulação de panfleto por marginais, fazendo antever violência na localidade, de modo que, considerando-se as circunstâncias específicas relevantes, do caso, tem-se, na hipótese, responsabilidade do fornecedor nos termos do artigo 14, § 1º do Código de defesa do Consumidor. 2.- A Corte só interfere em fixação de valores a título de danos morais que destoem da razoabilidade, o que não ocorre no presente caso, em que estudante, baleada no interior das dependência de universidade, resultou tetraplégica, com graves consequências também para seus familiares. 3.- A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que a pensão mensal deve ser fixada tomando-se por base a renda auferida pela vítima no momento da ocorrência do ato ilícito. No caso, não restou comprovado o exercício de atividade laborativa remunerada, razão pela qual a pensão deve ser fixada em valor em reais equivalente a um salário mínimo e paga mensalmente. 4.- No caso de sobrevivência da vítima, não é razoável o pagamento de pensionamento em parcela única, diante da possibilidade de enriquecimento ilícito, caso o beneficiário faleça antes de completar sessenta e cinco anos de idade. 5.- O ressarcimento de danos materiais decorrentes do custeio de tratamento médico depende de comprovação do prejuízo suportado. 6.- Os juros de mora, em casos de responsabilidade contratual, são contados a partir da citação, incidindo a correção monetária a partir da data do arbitramento do quantum indenizatório, conforme pacífica jurisprudência deste Tribunal. 7.- É devida, no caso, aos genitores e irmãos da vítima, indenização por dano moral por ricochete ou préjudice d'affection, eis que, ligados à vítima por laços afetivos, próximos e comprovadamente atingidos pela repercussão dos efeitos do evento danoso na esfera pessoal. 8.- Desnecessária a constituição de capital para a garantia de pagamento da pensão, dada a determinação de oferecimento de caução e de inclusão em folha de pagamento. 9.- Ultrapassar os fundamentos do Acórdão, afastando a condenação ao custeio de tratamento psicológico, demandaria, necessariamente, o revolvimento do acervo fático-probatório dos autos, incidindo, à espécie, o óbice da Súmula 7/STJ. 10.- Recurso Especial da ré provido em parte, tão-somente para afastar a constituição de capital, e Recurso Especial dos autores improvido. (REsp 876.448/RJ, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 17/06/2010, DJe 21/09/2010) Também se destaca que parte da doutrina entende que para a configuração do dano indenizável depende da legitimidade processual ativa do autor na propositura da ação indenizatória. 5 Neste sentido é a decisão do STJ: DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. LEGITIMIDADE PARA O AJUIZAMENTO DE AÇÃO INDENIZATÓRIA DE DANOS MORAIS POR MORTE. NOIVO. ILEGITIMIDADE ATIVA. NECESSÁRIA LIMITAÇÃO SUBJETIVA DOS AUTORIZADOS A RECLAMAR COMPENSAÇÃO. 1. Em tema de legitimidade para propositura de ação indenizatória em razão de morte, percebe-se que o espírito do ordenamento jurídico rechaça a legitimação daqueles que não fazem parte da "família" direta da vítima, sobretudo aqueles que não se inserem, nem hipoteticamente, na condição de herdeiro. Interpretação sistemática e teleológica dos arts. 12 e 948, inciso I, do Código Civil de 2002; art. 63 do Código de Processo Penal e art. 76 do Código Civil de 1916. 2. Assim, como regra - ficando expressamente ressalvadas eventuais particularidades de casos concretos -, a legitimação para a propositura de ação de indenização por dano moral em razão de morte deve mesmo alinhar-se, mutatis mutandis, à ordem de vocação hereditária, com as devidas adaptações. 3. Cumpre realçar que o direito à indenização, diante de peculiaridades do caso concreto, pode estar aberto aos mais diversificados arranjos familiares, devendo o juiz avaliar se as particularidades de cada família nuclear justificam o alargamento a outros sujeitos que nela se inserem, assim também, em cada hipótese a ser julgada, o prudente arbítrio do julgador avaliará o total da indenização para o núcleo familiar, sem excluir os diversos legitimados indicados. A mencionada válvula, que aponta para as múltiplas facetas que podem assumir essa realidade metamórfica chamada família, justifica precedentes desta Corte que conferiu legitimação ao sobrinho e à sogra da vítima fatal. 4. Encontra-se subjacente ao art. 944, caput e parágrafo único, do Código Civil de 2002, principiologia que, a par de reconhecer o direito à integral reparação, ameniza-o em havendo um dano irracional que escapa dos efeitos que se esperam do ato causador. O sistema de responsabilidade civil atual, deveras, rechaça indenizações ilimitadas que alcançam valores que, a pretexto de reparar integralmente vítimas de ato ilícito, revelam nítida desproporção entre a conduta do agente e os resultados ordinariamente dela esperados. E, a toda evidência, esse exagero ou desproporção da indenização estariam presentes caso não houvesse - além de uma limitação quantitativa da condenação - uma limitação subjetiva dos beneficiários. 5. Nessa linha de raciocínio, conceder legitimidade ampla e irrestrita a todos aqueles que, de alguma forma, suportaram a dor da perda de alguém - como um sem-número de pessoas que se encontram fora do núcleo familiar da vítima - significa impor ao obrigado um dever também ilimitado de reparar um dano cuja extensão será sempre desproporcional ao ato causador. Assim, o dano por ricochete a pessoas não pertencentes ao núcleo familiar da vítima direta da morte, de regra, deve ser considerado como não inserido nos desdobramentos lógicos e causais do ato, seja na responsabilidade por culpa, seja na objetiva, porque extrapolam os efeitos razoavelmente imputáveis à conduta do agente. 6. Por outro lado, conferir a via da ação indenizatória a sujeitos não inseridos no núcleo familiar da vítima acarretaria também uma diluição de valores, em evidente prejuízo daqueles que efetivamente fazem jus a uma compensação dos danos morais, como cônjuge/companheiro, descendentes e ascendentes. 7. Por essas razões, o noivo não possui legitimidade ativa para pleitear indenização por dano moral pela morte da noiva, sobretudo quando os pais da vítima já intentaram ação reparatória na qual lograram êxito, como no caso. 8. Recurso especial conhecido e provido. 6 (REsp 1076160/AM, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 10/04/2012, DJe 21/06/2012) b) Dano material ou patrimonial O dano moral ou patrimonial é todo o decréscimo patrimonial experimentado pela vítima em razão da lesão provocada pelo agressor. Sejam os presentes (dano emergente), sejam os futuros (lucro cessante). Abrange tudo que se perdeu e o que se deixou de ganhar. As perdas de danos são tratadas no Código Civil, Título IV – Do inadimplemento das obrigações, Capítulo III – Das perdas e danos, artigos 402 a 405, que se transcreve: Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual. Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional. Parágrafo único. Provado que os juros da mora não cobrem o prejuízo, e não havendo pena convencional, pode o juiz conceder ao credor indenização suplementar. Art. 405. Contam-se os juros de mora desde a citação inicial. Algumas jurisprudências do STJ sobre dano material: RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE RESPONSABILIDADE CIVIL - AQUISIÇÃO DE UNIDADE IMOBILIÁRIA EM CONSTRUÇÃO - ENTREGA DO IMÓVEL COM ATRASO - DEFEITOS NA CONSTRUÇÃO - DESCUMPRIMENTO DO CONTRATO PELO CONSTRUTOR - DANO MATERIAIS E MORAIS - COMPENSAÇÃO COM ANTECIPAÇÃO DA QUITAÇÃO DO DÉBITO TOTAL DO IMÓVEL - DECISÃO ULTRA PETITA - OCORRÊNCIA - RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO. 1.- Configura-se julgamento ultra petita quando o julgador decide a demanda além dos limites do pedido formulado petição inicial. 2.- Verificando-se a ocorrência de julgamento ultra petita, admite-se o decotamento do provimento judicial concedido em maior extensão do que o pedido formulado. 3.- Recurso Especial provido em parte para decote de condenação a fato não constante do pedido, bem como para decotar assim a condenação por danos morais. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ACIDENTE EM ESTABELECIMENTO COMERCIAL. AUTORA QUE SOFREU QUEDA EM SUPERMERCADO E QUEBROU O FÊMUR. CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE PENSÃO MENSAL, DANOS MORAIS E ESTETICOS. RECIBO DE QUITAÇÃO EXARADO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ E DA SÚMULA 83/STJ. 1. "A indenização do ato ilícito deve ser ampla, a modo de cobrir também os prejuízos estéticos. Hipótese em que, não tendo o autor limitado o pedido de ressarcimento, a condenação podia abranger os danos estéticos sem 7 necessidade de pedido expresso" (REsp 68.668/SP, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, SEGUNDA TURMA, DJ 04/03/1996) 2. A conclusão do Tribunal de Justiça Estadual - de que o recibo de quitação, conforme à intenção da autora no momento da emissão do referido documento, abarcou tão somente às verbas materiais despendidas com gastos imediatos e diretos após o acidente-decorreu da análise dos elementos fático- probatórios dos autos. Entender de forma diversa implicaria na necessária incursão na seara fática para reexame de provas, conduta vedada em sede de recurso especial, ante o óbice da Súmulas 7/STJ. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. c) Dano moral ou extrapatrimonial Como ressarcir a dor, a angústia, a sensação de perda? Como recompor a honra? A imagem de um indivíduo?? Discute-se ainda na doutrina a possibilidade de reparação do dano moral e algumas posições entendem não caber a indenização por uma série de razoes, dentre as quais destacamos: Ausência de direito violado pela ordem jurídica; incerteza da existência efetiva do dano; indeterminação do número de vitimas; Impossibilidade de rigorosa avaliação pecuniária dos danos morais; perigo do arbítrio judicial; descabimento da compensação da dor por dinheiro. Contudo, esses posicionamentos já foram superados pela doutrina e jurisprudência estando, agora também amparado pela constituição federal em seu artigo 5º: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (......) V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; (....) X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; Os danos morais ou extrapatrimoniais englobam outros aspectos da pessoa humana que não estão diretamente vinculados à sua dignidade. O dano moral envolve diversos graus de violação de direitos da personalidade, abrangendo todas as ofensas à pessoa, considerada esta em suas dimensões individual e social. Não se incluem no dano moral o mero dissabor ou irritação já que essas coisas fazem parte da vida e também da tolerância que se deve ter e é necessária no dia a dia. 8 d) Prova do dano moral A prova do dano moral é de difícil produção e as vezes até impossível, vez que o dano se opera no íntimo da pessoa e não é de fácil constatação. Alguns entendem que a prova do dano moral está relacionado à gravidade da ofensa e sua repercussão. Desta forma, provada a ofensa também já estaria demonstrado o dano extrapatrimonial, tratando-se de uma presunção. Além da gradação da ofensa e sua repercussão, também deve estar caracterizado a comprovação do abalo psicológico experimentado pela vítima. A fixação da indenização é feita por arbitramento levando-se em conta a condição da vítima e do agressor bem como a repercussão social. Além disso, atenderá as três funções: ressarcitória e compensatória (para a vítima), punitiva (para o agressor) e social (para terceiros). e) Transmissibilidade dos danos morais Duas situações se alinham à respeito da transmissibilidade do dano moral. A primeira que se a vítima do dano falece no curso da ação indenizatória, o herdeiro sucederá o morto no processo, por tratar-se de ação de natureza patrimonial, consoante entendimento do Superior Tribunal de Justiça. A segunda é quando a vítima do dano morre antes de intentar a ação, mas é possível reconhecer o dano moral pós morte. O que se extingue é a personalidade e não o dano já consumado, nem o direito a indenização. Os parentes da vítima têm legitimidade para postular postularem a proteção à imagem do morto: Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes. Neste sentido é a jurisprudência do STJ: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. AÇÃO PROPOSTA PELO OFENDIDO. FALECIMENTO DO TITULAR NO CURSO DA AÇÃO. LEGITIMIDADE DOS SUCESSORES. TRANSMISSIBILIDADE DO DIREITO. ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL CONSOLIDADO. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. A Corte Especial deste Tribunal firmou o entendimento de que, embora a violação moral atinja apenas o plexo de direitos subjetivos da vítima, o direito à respectiva indenização transmite-se com o falecimento do titular do direito, possuindo o espólio e os herdeiros legitimidade ativa ad causam para ajuizar ação indenizatória por danos morais, em virtude da ofensa moral suportada pelo de cujus (AgRg no EREsp. 978.651/SP, Rel. Min. FELIX FISCHER, DJe 10.02.11). 2. Agravo regimental desprovido. 9 (AgRg no AREsp 195.026/SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 27/11/2012, DJe 03/12/2012) f) Dano moral da pessoa jurídica Apesar de ter certa resistência por parte da doutrina e jurisprudência por entendem que a honra é um direito personalíssimo e próprio do ser humano, e assim não sendo possível reconhecer na pessoa jurídica, o dano moral da pessoa jurídica têm encontrado respaldo naqueles que defendem necessidadede preservação do nome e imagem da pessoa jurídica e a consequente reparação de qualquer dano que venha a ocorrer nessa linha. É o que tem decidido os tribunais, consoante jurisprudência colacionada: RESPONSABILIDADE CIVIL - Danos morais - pessoa jurídica - Ao adquirir personalidade, a pessoa jurídica faz jus à proteção legal e estatal à sua honra objetiva, considerada assim a reputação que goza em sua área de atuação. O dano moral puro é aquele em que a ofensa que lhe deu causa não traz reflexos patrimoniais, independendo, sua reparação, da existência de prejuízos econômicos oriundos do ataque irrogado. Recurso conhecido e improvido. TJDF - 3º Câm.; Ap. Cível nº 41.2 93/96 - DF; Rela. Desa. Nancy Andrighi; j. 4.11.96. RESPONSABILIDADE CIVIL - DANO MORAL - PESSOA JURÍDICA - ADMISSIBILIDADE - INSTITUIÇÃO FINANCEIRA QUE PROTESTA INDEVIDAMENTE TÍTULO CAMBIAL - FATO QUE ACARRETA CONSEQÜÊNCIAS DANOSAS DE ORDEM PATRIMONIAL À EMPRESA - OFENSA À HONRA OBJETIVA CARACTERIZADA - INDENIZAÇÃO DEVIDA - A honra objetiva da pessoa jurídica pode ser ofendida pelo protesto indevido de título cambial, cabendo indenização pelo dano extrapatrimonial daí decorrente. STJ - 4º T; Rec. Esp. nº 60.033-2 - Minas Gerais; Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar; j. 09.8.1995; O Superior Tribunal de Justiça admite a existência do dano moral da pessoa jurídica na súmula 227: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.” O código civil de 2002 pacificou por vez o entendimento em seu artigo 52: Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade. g) Dano estético O dano estético é a lesão à beleza física, ou seja, à harmonia das formas físicas de alguém. Contudo, em virtude da relatividade existente em torno do termo “belo”, ao examinar-se o dano estético deve-se direcionar para a modificação física sofrida pela pessoa em relação ao seu estado anterior. Existe uma dicotomia entre a definição do dano estético no âmbito civil e no âmbito penal. Naquele, o dano estético consiste em qualquer transformação, ofensa à harmonia física da pessoa. Há agora um desequilíbrio entre o passado e o presente, uma modificação para pior. No aspecto penal, o dano estético é configurado a partir de deformações graves, deixando a pessoa com aparência desfigurada. Não é qualquer hematoma que configura o tipo penal, ela deve ser de certa monta. 10 Além da lesão à integridade física, o dano estético, para ser indenizável, deve ser permanente ou de efeito prolongado. Ou seja, o incômodo deve ser permanente, um vexame constante. O dano estético é relativo ao sujeito que o sofreu. Assim, “uma cicatriz para um boxeador pode não ensejar dano algum, para uma mulher pode representar um dano extrapatrimonial, para uma atriz pode implicar um dano patrimonial e um dano extrapatrimonial”. Os fundamentos do dano estético estão nos artigos 6º e 196 da Constituição Federal apresentam, como direito fundamental da pessoa humana e direito social, a proteção da saúde, sendo positivado que “A saúde é direito de todos.” Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 64, de 2010) Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. O dano estético é sempre visível pois se concretiza na deformidade e também no constrangimento que a vítima experimenta em razão desta deformidade. Não há dúvidas também em relação a necessidade de reparação do dano estético, a teor do entendimento jurisprudencial dominante, podendo ser cumulativamente ou não à indenização por dano moral. Neste sentido têm julgado o Superior Tribunal de Justiça: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL E ESTÉTICO. CUMULAÇÃO. POSSIBILIDADE. SÚMULA N. 387/STJ. 1. É lícita a cumulação das indenizações por dano moral e por dano estético decorrentes de um mesmo fato, desde que passíveis de identificação autônoma, a teor do que dispõe a Súmula n. 387/STJ. 2. Agravo regimental desprovido. AgRg no REsp 1302727 / RS AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL2011/0132655-0. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA. T4 - QUARTA TURMA. Publicado no DJe 14/05/2013. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS E ESTÉTICOS. ACIDENTE DE VEÍCULO. RESPONSABILIDADE. INCAPACIDADE PARCIAL TEMPORÁRIA. FUNCIONÁRIO PÚBLICO. PENSÃO. CABIMENTO. (....) 4. O art. 950 do Código Civil não exige que tenha havido também a perda do emprego ou a redução dos rendimentos da vítima para que fique configurado o direito ao recebimento da pensão. O dever de indenizar decorre unicamente da perda temporária da capacidade laboral, que, na hipótese foi expressamente reconhecida pelo acórdão recorrido. 5. A indenização civil, diferentemente da previdenciária, busca o ressarcimento da lesão física causada, não propriamente a mera compensação sob a ótica econômica. (....) Processo REsp 1306395 / RJ. RE 2011/0211387-8. Relatora Ministra NANCY ANDRIGHI. Órgão Julgador T3. Data do Julgamento 04/12/2012. Data da Publicação/Fonte DJe 19/12/2012. 11 h) Dano à imagem O artigo 20 do Código Civil dá proteção ao direito de imagem. O uso indevido da imagem alheia ensejará dano patrimonial sempre eu for ela explorada comercialmente sem a autorização ou participação de seu titular. O dano extrapatrimonial se dará se a imagem for utilizada de forma humilhante, vexatória, desrespeitosa, acarretando dor, vergonha e sofrimento ao seu titular. Exemplo: exibir imagens de mulher despida sem sua autorização. O STJ assim têm decidido: RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. VEICULAÇÃO DE MATÉRIA JORNALÍSTICA. CONTEÚDO OFENSIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL. LIBERDADE DE IMPRENSA EXERCIDA DE MODO REGULAR, SEM ABUSOS OU EXCESSOS. 1. Discussão acerca da potencialidade ofensiva de matéria publicada em jornal de grande circulação, que aponta possível envolvimento ilícito de magistrado com ex-deputado ligado ao desabamento do edifício Palace II, no Rio de Janeiro. 2. É extemporâneo o recurso especial interposto antes do julgamento dos embargos de declaração, salvo se houver reiteração posterior, porquanto o prazo para recorrer só começa a fluir após a publicação do acórdão integrativo. 3. Inexiste ofensa ao art. 535 do Tribunal de origem pronuncia-se de forma clara e precisa sobre a questão posta nos autos. 4. A liberdade de informação deve estar atenta ao dever de veracidade, pois a falsidade dos dados divulgados manipula em vez de formar a opinião pública, bem como ao interesse público, pois nem toda informação verdadeira é relevante para o convívio em sociedade. 5. A honra e imagem dos cidadãos não são violados quando se divulgam informações verdadeiras e fidedignas a seu respeito e que, além disso, são do interesse público. 6. O veículo de comunicação exime-se de culpa quando busca fontes fidedignas, quando exerce atividade investigativa, ouve as diversas partes interessadas e afasta quaisquer dúvidas sérias quanto à veracidade do que divulgará. 7. Ainda que posteriormente o magistrado tenha sido absolvido das acusações, o fato é que, conforme apontado na sentença de primeiro grau, quando a reportagem foi veiculada, as investigações mencionadas estavam em andamento. 8. A diligência que se deve exigir da imprensa, de verificar a informação antes de divulgá-la, não pode chegar ao ponto de que notícias não possam ser veiculadas até que haja certeza plena e absoluta da sua veracidade. O processo de divulgação de informações satisfaz verdadeiro interesse público, devendoser célere e eficaz, razão pela qual não se coaduna com rigorismos próprios de um procedimento judicial, no qual se exige cognição plena e exauriente acerca dos fatos analisados. 9. Não houve, por conseguinte, ilicitude na conduta da recorrente, tendo o acórdão recorrido violado os arts. 186 e 927 do CC/02 quando a condenou ao pagamento de compensação por danos morais ao magistrado. (....) 12 REsp 1297567 / RJ. RE 2011/0262188-2. Relator(a) Ministra NANCY ANDRIGHI Órgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA Data do Julgamento23/04/2013 Data da Publicação/Fonte DJe 02/05/2013. i) Dano de chance perdida Fruto da realidade jurídica atual e do complexo de probabilidades em conflitos de fenômenos sociais, o dano e chance perdida é a reparação de eventual dano com base na probabilidade. Não é toda qualquer perda de chance que permite a caracterização dessa espécie de dano, mas uma chance séria e real, que proporcione ao lesado efetivas condições pessoais de recorrer à situação futura esperada. O dano acontece quando o lesante paralisa esse processo aleatório fazendo com que a vítima perca a probabilidade de um evento favorável. Quanto ao dano decorrente da chance perdida, assim têm decidido o STJ: RESPONSABILIDADE CIVIL. RECURSO ESPECIAL. DANO MORAL. PERDA DE PRAZO POR ADVOGADO. TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE. DECISÃO DENEGATÓRIA DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO ESPECIAL NA QUESTÃO PRINCIPAL QUE ANALISOU AS PRÓPRIAS RAZÕES RECURSAIS, SUPERANDO A ALEGAÇÃO DE INTEMPESTIVIDADE. DANO MORAL INEXISTENTE. 1. É difícil antever, no âmbito da responsabilidade contratual do advogado, um vínculo claro entre a alegada negligência do profissional e a diminuição patrimonial do cliente, pois o que está em jogo, no processo judicial de conhecimento, são apenas chances e incertezas que devem ser aclaradas em juízo de cognição. 2. Em caso de responsabilidade de profissionais da advocacia por condutas apontadas como negligentes, e diante do aspecto relativo à incerteza da vantagem não experimentada, as demandas que invocam a teoria da "perda de uma chance" devem ser solucionadas a partir de detida análise acerca das reais possibilidades de êxito do postulante, eventualmente perdidas em razão da desídia do causídico. Precedentes. 3. O fato de o advogado ter perdido o prazo para contestar ou interpor recurso - como no caso em apreço -, não enseja sua automática responsabilização civil com base na teoria da perda de uma chance, fazendo-se absolutamente necessária a ponderação acerca da probabilidade - que se supõe real - que a parte teria de se sagrar vitoriosa ou de ter a sua pretensão atendida. 4. No caso em julgamento, contratado o recorrido para a interposição de recurso especial na demanda anterior, verifica-se que, não obstante a perda do prazo, o agravo de instrumento intentado contra a decisão denegatória de admissibilidade do segundo recurso especial propiciou o efetivo reexame das razões que motivaram a inadmissibilidade do primeiro, consoante se dessume da decisão de fls. 130-134, corroborada pelo acórdão recorrido (fl. 235), o que tem o condão de descaracterizar a perda da possibilidade de apreciação do recurso pelo Tribunal Superior. 5. Recurso especial não provido. (REsp 993.936/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 27/03/2012, DJe 23/04/2012) DIREITO CIVIL. CÂNCER. TRATAMENTO INADEQUADO. REDUÇÃO DAS POSSIBILIDADES DE CURA. ÓBITO. IMPUTAÇÃO DE CULPA AO MÉDICO. 13 POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA TEORIA DA RESPONSABILIDADE CIVIL PELA PERDA DE UMA CHANCE. REDUÇÃO PROPORCIONAL DA INDENIZAÇÃO. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO. 1. O STJ vem enfrentando diversas hipóteses de responsabilidade civil pela perda de uma chance em sua versão tradicional, na qual o agente frustra à vítima uma oportunidade de ganho. Nessas situações, há certeza quanto ao causador do dano e incerteza quanto à respectiva extensão, o que torna aplicável o critério de ponderação característico da referida teoria para a fixação do montante da indenização a ser fixada. Precedentes. 2. Nas hipóteses em que se discute erro médico, a incerteza não está no dano experimentado, notadamente nas situações em que a vítima vem a óbito. A incerteza está na participação do médico nesse resultado, à medida que, em princípio, o dano é causado por força da doença, e não pela falha de tratamento. 3. Conquanto seja viva a controvérsia, sobretudo no direito francês, acerca da aplicabilidade da teoria da responsabilidade civil pela perda de uma chance nas situações de erro médico, é forçoso reconhecer sua aplicabilidade. Basta, nesse sentido, notar que a chance, em si, pode ser considerado um bem autônomo, cuja violação pode dar lugar à indenização de seu equivalente econômico, a exemplo do que se defende no direito americano. Prescinde-se, assim, da difícil sustentação da teoria da causalidade proporcional. 4. Admitida a indenização pela chance perdida, o valor do bem deve ser calculado em uma proporção sobre o prejuízo final experimentado pela vítima. A chance, contudo, jamais pode alcançar o valor do bem perdido. É necessária uma redução proporcional. 5. Recurso especial conhecido e provido em parte, para o fim de reduzir a indenização fixada. (REsp 1254141/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/12/2012, DJe 20/02/2013) 4. Nexo de causalidade O nexo de causalidade é o liame ou ligação da conduta humana em relação ao dano provocado. É um vínculo, da causa e seu efeito, relacionando a conduta com o seu resultado, diretamente ou como sua consequência previsível. O nexo causal é um elemento de ligação entre uma conduta ou uma situação determinada, e o resultado, através do qual é possível concluir quem é o indivíduo responsável pelo dano, ou seja, aquele do qual se imputa o dever de indenizar. A ausência de qualquer dos elementos caracterizadores da responsabilidade civil (conduta, nexo causal e dano), impossibilita a caracterização da própria responsabilidade, portanto, imprescindível para que se possa indenizar a vítima, a presença do dano, no sentido de haver prova da efetiva diminuição do patrimônio. Neste sentido, dispõe o Código Civil: Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 14 Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Art. 188. Não constituem atos ilícitos: I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo. Atente-se apenas, quanto aos elementos da responsabilidade civil, que o elemento culpa nem sempre é imprescindível para a caracterização da responsabilidade. Isso se dá na responsabilidade civil objetiva, a teor do art. 927, parágrafo único do CC, onde por disposição legal ou atividade de risco o causador do dano obriga-se a indenizar, bastando que haja a ação humana e o dano. Jurisprudência do STJ: ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. OMISSÃO. SUBJETIVA. NEXO DE CAUSALIDADE. REEXAME DE FATOS E PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. 1.Inexiste violação do art. 535 do CPC quando a prestação jurisdicional é dada na medida da pretensão deduzida, com enfrentamento e resolução das questões abordadas no recurso. 2. A responsabilidade civil do Estado por condutas omissivas é subjetiva, sendo necessário, dessa forma, comprovar a negligência na atuação estatal, o dano e o nexo causal entre ambos. 3. Hipótese em que, conforme se extrai do acórdão recorrido, ficou demonstrado a existência de nexo causal entre a conduta do Estado e o dano, o que caracteriza o ato ilícito, devendo o autor ser indenizado pelos danos suportados. Rever tal posicionamento requer, necessariamente, o reexame de fatos e provas, o que é vedado ao STJ por esbarrar no óbice da Súmula 7/STJ. Agravo regimental improvido. (AgRg no AREsp 302.747/SE, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/04/2013, DJe 25/04/2013) a) Causalidade múltipla É quando várias circunstâncias concorrem para o evento danoso e tem-se que precisar qual dentre elas é a causa real do resultado. A causalidade múltipla ou concurso de causas permite a distinção de várias figuras, cuja aplicação e efeito não se confundem. São elas: a) Causas complementares – (Causalidade conjunta ou concausas): Verificam-se quando uma lesão decorre de duas ou mais causas, cuja ausência de apenas uma delas implicará no desaparecimento integral do efeito lesivo. 15 Exemplo: A agride B que tem uma patologia cardíaca. Em razão da agressão B sofre um infarto e morre. A responderá pelo resultado mais grave (morte) independentemente de ter ou não conhecimento da concausa antecedente (patologia crônica). b) Causas cumulativas – ocorre quando cada uma das causas do evento danoso teria, de forma isolada, determinado a produção do resultado de forma idêntica. Exemplo: Dois indivíduos, ignorando um o que o outro fazia, atiram em outra pessoa que passa: os dois tiros atingem a vítima no coração de modo que ela morreria com qualquer dos tiros. A responsabilidade é pelo todo. c) Causas alternativas – Ocorre quando não é possível definir, com um grau absoluto de certeza, qual dos vários atos causou o dano. b) Interrupção do nexo causal A interrupção do nexo causal ou causalidade interrompida, ocorre quando um determinado fato altera os efeitos de um outro, cujo processo causal estava em andamento. É o cruzamento de duas séries causais. Exige os seguintes elementos para configuração: Interrupção de uma série causal por outra antes da ocorrência do dano – Gera a discussão se é falta de causalidade ou causalidade interrompida. A vítima deve provar o nexo de causalidade e o ofensor terá o ônus de provar a interrupção da primeira série causal, de forma a eximir-se da responsabilização. Independência da segunda série causal – Se não houver relação entre o primeiro e o segundo fato não, ou se houver apenas uma relação de mera condicionalidade, pode ocorrer a interrupção do nexo causal. Contudo, se entre o primeiro e o segundo fato existir uma relação de necessariedade de modo que o segundo fato seja consequência necessária do primeiro, não há falar em interrupção do nexo causal. Eficácia exclusiva da segunda série na verificação do evento danoso – É necessário que o segundo fato tenha provocado o efeito independentemente do primeiro, de forma que só a eficácia causal do segundo fato tenha operado o dano. Ressalta-se que o intervalo temporal não influi na interrupção da causalidade, não importando se o intervalo de tempo entre os fatos é grande ou se um ocorreu em seguida do outro. c) Causa virtual É o fato, real ou hipotético, que tenderia a produzir certo dano, se este não fosse causado por outro fato (causa real). Exemplo: A envenenar o cão de B e depois, logo em seguida, abate o cão com um tiro, a agressão do tiro não deixa de ser a causa real da morte do animal, inobstante esta fosse acontecer mais tarde por causa do envenenamento. O que interessa para o direito não é o dano abstrato, mas o concreto. 16 d) Desenvolvimento doutrinário do nexo causal As teorias surgidas para resolver o problema do nexo causal podem ser reunidas em vários grupos, sendo: Teoria da equivalência dos antecedentes – Também conhecida como teoria objetiva da causalidade ou da conditio sine qua non. Para esta teoria causa é a soma de todas as condições tomadas em conjunto, positivas e negativas. Teoria da causa direta e imediata – Também conhecida como teoria do nexo causal direto e imediato, exige para a imputação de responsabilidade uma relação de causa e efeito, direta e imediata ao dano (nexo causal necessário). Teoria da causa próxima – Baseada na relação de causalidade com o evento mais recente. Teoria da causa eficiente e teoria da causa preponderante – Por essa teoria interessa apenas o acontecimento que estabeleceu a relação causal de maior grau de eficiência no resultado; Teoria da causalidade adequada – Examina a adequação da causa em função da possibilidade e probabilidade de determinado resultado vir a ocorrer, à luz da experiência comum. Teoria do escopo da norma jurídica violada – Nessa teoria o julgador, ao avaliar a função da norma violada, determina se o evento danoso recai em seu âmbito de proteção. Sem essa relação não há nexo causal. Prevalece no STF a teoria da causalidade direta ou imediata. 5. Dolo e a Culpa A atuação dos indivíduos na sociedade deve ser pautada por um padrão de conduta do qual não pode resultar lesão a bens jurídicos alheios. A inobservância de esse dever de cuidado torna a conduta culposa ou dolosa. Dolo e culpa são institutos similares já que ambos se relacionam a uma atuação voluntária e reprovável de um determinado agente. No dolo a conduta nasce ilícita, porquanto a vontade se dirige a concretização de um resultado antijurídico. Na culpa a conduta torna-se ilícita na medida em que se desvia dos padrões social ou tecnicamente adequados, consistindo no erro de conduta em face do comportamento do homem normal. Os elementos da conduta culposa são: Conduta voluntária com resultado lesivo involuntário; previsão ou previsibilidade; e falta de cuidado, cautela, diligência ou atenção. A culpa é a não observância de um dever que o agente podia conhecer. Em termos de responsabilidade civil. A culpa stricto sensu ou propriamente dita, por sua vez, diz respeito à vontade do agente que é dirigida ao fato causador da lesão, mas o resultado não é querido pelo agente. 17 É a falta de diligência na observância da norma de conduta, isto é, o desprezo, por parte do agente, do esforço necessário para observá-la, com resultado, não objetivado, mas previsível . É a omissão da diligência exigível do agente. A mera culpa (ou culpa em sentido estrito), portanto, pode ser definida como a violação de um dever jurídico por negligência, imprudência ou imperícia. Ela pode consistir numa ação ou numa omissão. Negligência se relaciona com a desídia. É a falta de cuidado por conduta omissiva. Imprudência está ligada à temeridade, ou seja, é a afoiteza no agir. É a falta de cautela por conduta comissiva. A imperícia, é a falta de habilidade. Em outras palavras, decorre da falta de habilidade no exercício de atividade técnica. A culpa ainda pode ser graduada em razão da gravidade da conduta. Apesar do Código Civil não fazer qualquer menção sobre o tema, tanto doutrina quanto jurisprudência têm se utilizado dos graus de culpa no momento da fixação da indenização, especialmente no dano moral. Assim decidiu o STJ: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. TRANSPORTE AÉREO. CARGA EXTRAVIADA. ACÓRDÃO RECORRIDO: CULPA GRAVE DA TRANSPORTADORA. INDENIZAÇÃO PLENA. LIMITAÇÃO DA RESPONSABILIDADE. REEXAME DE PROVAS. 1. O Tribunal de origem afastou a indenização tarifada e aplicou a indenização plena sob o entendimento de que ficou comprovada a culpa grave da transportadora, equiparando-a ao dolo. Conclusão em sentido diverso demandariao reexame do suporte fático-probatório. Incidência da Súmula n° 7/STJ. 2. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp 186.192/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 21/03/2013, DJe 26/03/2013) a) Espécies de culpa A culpa pode ser classificada da seguinte forma: Em função da natureza do dever violado culpa contratual (CC, art. 389); culpa extracontratual ou aquiliana (CC, arts. 186 e 927). Quanto à sua graduação grave: quando resulta de dolo ou de negligência crassa; leve: quando a conduta se desenvolve sem a atenção normalmente devida; levíssima: quando o fato só teria sido evitado mediante cautelas extraordinárias. O Código Civil, de regra, não faz distinção entre os graus de culpa. 18 No direito civil, em regra, responde-se até por culpa levíssima, por se ter em vista a extensão do dano e não o grau da culpa. Existem casos, porém em que o grau da culpa influi na própria existência da responsabilidade. Assim, o empregador só responde por indenização comum em caso de culpa grave; no transporte gratuito a responsabilidade deve limitar-se aos prejuízos resultantes de culpa grave; a pena de sonegados só se aplica a herdeiro que tiver agido com dolo, etc. Nos danos morais, o grau da culpa pode influir no “quantum” indenizatório arbitrado, por não se tratar propriamente de um ressarcimento, mas de uma compensação satisfatória, como veremos adiante. Dispõe o Código Civil: Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização. Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano. Relativamente aos modos de sua apreciação culpa in concreto (com base na personalidade do agente); culpa in abstracto (com base na conduta do bom pai de família ou do bom profissional). Quanto às formas da conduta culposa culpa in committendo (ou in faciendo) em virtude do ato; culpa in omittendo em virtude de omissão. Quanto ao conteúdo da conduta culposa culpa in elegendo (na escolha da pessoa); culpa in vigilando (na vigilância ou controle que se deve exercer sobre outrem em virtude da lei ou do contrato; culpa in custodiendo (falta de adequada guarda do animal ou da coisa). b) Teorias da culpa Teoria da culpa anterior - Esta teoria tem como base as causas que arrastam o agente ao estado de incapacidade. Teoria da culpa desconhecida ou do risco assumido - Na impossibilidade de se determinar a ocorrência de uma conduta culposa, desenvolveu-se a teoria da culpa desconhecida para garantir a responsabilização de um determinado agente e a indenização da vitima, com base no risco criado. Teoria da culpa coletiva - A culpa coletiva resulta de uma situação criada por todos os componentes do grupo. Culpa presumida - Trata-se de uma inversão do ônus da prova da culpa. A culpa presumida representou um estágio de evolução anterior ao desenvolvimento da seven Selecionar 19 reponsabilidade civil objetiva. Pode admitir (presunção juris tantum) ou não (presunção juris et de jure), prova em contrário. Culpa concorrente - Fala-se culpa concorrente quando, paralelamente à conduta do agente causador do dano, há também conduta culposa da vítima, de modo de que o evento danoso decorre do comportamento culposo de ambos, devendo cada um arcar com uma parte do prejuízo causado. Jurisprudência do STJ: AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO (ART. 544 DO CPC) – RESPONSABILIDADE CIVIL - AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS E MATERIAIS - ART. 535 DO CPC - SÚMULA 284/STF - EXPLOSÃO DE BOTIJÃO DE GÁS - FALHA NO DEVER DE INFORMAÇÃO - NÃO-CARACTERIZADA A CULPA EXCLUSIVA OU CONCORRENTE DO CONSUMIDOR - REEXAME - SÚMULA 7/STJ - VIOLAÇÃO DE SÚMULA - IMPOSSIBILIDADE - INSURGÊNCIA DA RÉ. 1. Nos casos em que a arguição é genérica, não se conhece do recurso especial pela alegada violação do artigo 535 do CPC. 2. Revela-se impossível o exame da tese fundada na existência de culpa exclusiva ou concorrente da vítima, para concluir em sentido diverso ao do acórdão do Tribunal de origem, porque demandaria a reanálise de fatos e provas, providência vedada a esta Corte em sede de recurso especial, nos termos da Súmula 7/STJ. 3. Alega a recorrente ter havido errônea valoração da prova quando, na verdade, pretende um novo exame da conclusão a que chegou o acórdão, quanto à existência do dever de indenizar. Incidência da Súmula 7/STJ. 4. Agravo regimental não provido. Processo AgRg no AREsp 124776 / PE - Relator(a) Ministro MARCO BUZZI Culpa na guarda (da coisa ou do animal) - A teoria da culpa na guarda (da coisa ou do animal) atribui responsabilidade aos titulares de animais e coisas que causarem dano a outrem. 6. Risco Os novos problemas da relação entre o homem e a máquina que surgiram na sociedade contemporânea culminaram com o desenvolvimento da ideia do risco para a tutela de situações desemparadas pela noção clássica de responsabilidade civil baseada na culpa. Conceitualmente o risco é um perigo, é probabilidade de dano. A ideia de risco tem relação direta com o desenvolvimento industrial do século XIX e as novas tecnologias do século XX. Muitas teorias foram desenvolvidas para explicar a dimensão e amplitude jurídica do risco. Todas têm como base comum a existência de uma atividade que traz ínsita a noção de perigo de produzir danos. O risco proveito - Por essa teoria o dano deve ser reparado pelo agente imputável por uma atividade que dela retira algum proveito ou vantagem. O risco profissional - Essa teoria sustenta que o dever de indenizar tem lugar sempre que o fato prejudicial é uma decorrência da atividade ou profissão do agente do dano. 20 O risco criado - Por esta teoria aquele que, em razão de sua atividade, cria um perigo, está sujeito à reparação do dano que causar, salvo prova de haver adotado todas as medidas idôneas a evita-lo. O risco integral - Pela teoria do risco integral o dever de indenizar se faz da simples ocorrência do dano. O risco do empreendimento - Nessa teoria aquele que se disponha a exercer alguma atividade no mercado de consumo tem o dever de responder pelos eventuais vícios ou defeitos dos bens e serviços fornecidos. O risco do desenvolvimento - O risco do desenvolvimento é aquele que não pode ser cientificamente conhecido no momento do lançamento do produto no mercado, vindo a ser descoberto somente após um certo período de uso do produto ou do serviço. O art. 927, caput, estabelece a culpa como fundamento básico da responsabilidade. De acordo com o parágrafo único, a atividade de risco no Código Civil é aquela habitual, reiterada, organizada de forma profissional ou empresarial para realizar fins econômicos, que causa ou pode casar danos a terceiros. Dispõe o Código Civil: Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. De acordo com o art. 931 do Código Civil, a empresa e o empresário individual respondem objetivamente (independentemente de culpa) pelos danos causados pelos produtos que colocam em circulação, haja ou não operação de consumo. Dispõe o art. 931 do CC: Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação. 7. Imputabilidade A imputabilidade é a capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento. É a capacidade que o homem adquireprogressivamente, com o desenvolvimento físico e mental. Portanto, são imputáveis aqueles que têm consciência (da ilicitude do fato) e vontade (possibilidade de escolher entre praticar ou não o ato). A imputabilidade é considerada como um dos elementos da culpabilidade, juntamente com a exigibilidade de conduta diversa e o conhecimento potencial da ilicitude. A culpabilidade, de acordo com a teoria finalista, é o juízo de reprovação que incide sobre aquele que praticou o fato típico e ilícito. E suma, a imputabilidade é a capacidade que a pessoa tem de poder ser responsabilizada por uma ação ou omissão ilícita, seja na área penal com penas de restrição de direitos ou de liberdade, seja na área civil de recomposição de danos. 21 O Código civil define em seus primeiros artigos a capacidade: Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial. Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; II - pelo casamento; III - pelo exercício de emprego público efetivo; IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva. RESPONSABILIDADE CIVIL MÓDULO III ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL Em linhas gerais, a responsabilidade civil é a obrigação de reparar o dano que uma pessoa causa a outra por ato ilícito. No Código Civil a responsabilidade civil advém da prática de um ato ilícito por uma pessoa, consiste na violação ao direito alheio e na provação de prejuízo, mesmo que meramente moral, por meio de uma ação, omissão voluntária, negligência ou imperícia. Caracteriza-se também pelo descumprimento de um contrato, ou por uma ação ou omissão extracontratual. Também comete ato ilícito o titular de direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pela razoabilidade, boa fé ou bons costumes. No Código de Defesa do Consumidor a responsabilidade civil consiste na reparação do dano pela ocorrência dos acidentes de consumo, ocorrendo quando o fornecimento de produtos ou serviços nocivos à saúde ou a reparação pode ocorrer pela entrega ou prestação de serviços defeituosos. No direito, a teoria da responsabilidade civil procura determinar o liame ou a ligação de uma pessoa e o dano sofrido por outrem por fato próprio ou por fato de pessoas ou coisas a ela vinculadas, e, em que medida está obrigada a repará-lo. Dois são os fundamentos da responsabilização do agente: a) de um lado, a culpa, baseada na teoria subjetiva ou teoria da culpa; b) de outro lado o risco, fundamentado pela teoria objetiva ou teoria do risco, comum a ambos os códigos. A doutrina tem sedimentado entendimento em relação aos tipos de responsabilidade, de forma a através do detalhamento, poder melhor estudar e compreender este instituto. Muitas são as subdivisões da responsabilidade. Trazemos aqui algumas que têm sido abordadas pela maioria dos autores que tratam do tema. a) A responsabilidade moral diz respeito à consciência ou a relação do homem com deus. Opera-se no foro íntimo e interno da pessoa. Relaciona-se com o pecado e a má ação. Não gera, necessariamente, danos a terceiros. (José de Aguiar Dias) b) A responsabilidade jurídica é a regulamentação pela lei ou contrato da responsabilidade moral. c) Responsabilidade penal objetiva a apuração de ilícito penal e sua responsabilização. É a sociedade que tem interesse na condenação, por isso é de ordem pública porque envolve o interesse do Estado. d) A responsabilidade civil é de cunho privado onde se busca a reparação de um dano causado por inexecução contratual ou em virtude de ato ilícito. 2 e) Responsabilidade contratual advém das obrigações assumidas por força de contrato. f) A responsabilidade extracontratual ou aquiliana é a derivada de lei ou ato ilícito. g) Responsabilidade subjetiva é a que depende da comprovação da culpa ou dolo do agente causador do dano para que se possa buscar sua responsabilização. Esta é a regra geral no direito. h) Responsabilidade objetiva fundada na teoria do risco (CC, art. 927, parágrafo único) é aquela pela qual independentemente de dolo ou culpa do causador do dano, a responsabilização se dá pela atividade de risco acentuado, independentemente de haver dolo ou culpa. i) Responsabilidade solidária quando mais de uma pessoa é responsável pelo adimplemento da obrigação e ambos são chamados a responder pelo todo. j) Responsabilidade subsidiária é quando há um responsável principal pela obrigação e um segundo responsável (co-devedor). Não havendo o adimplemento da obrigação pelo primeiro o segundo poderá ser chamado a reparar o dano. Considerando que objetivamos estudar responsabilidade civil, direcionaremos a analisar os quatro últimos tipos de responsabilidade é objeto de nossa disciplina e estaremos abordando com mais aprofundamento nos módulos que se seguem a este, ou seja, a responsabilidade objetiva e subjetiva, a contratual e extracontratual. 1. Responsabilidade subjetiva e objetiva A divisão do estudo da responsabilidade civil em espécies possui um cunho eminentemente dogmático embora geralmente tenha efeitos práticos. Seu conceito em si é uno. Tendo em vista o discorrido acerca da responsabilidade civil, adentraremos nas suas ramificações baseadas nas teorias da culpa e do risco que determina quando a responsabilidade pelo dano a outrem causado será objetiva ou subjetiva. A responsabilidade objetiva não precede do elemento culpa para se configurar, ou mesmo sua presunção, na medida em que é calcada na teoria do risco, elencada pelo parágrafo único do art. 927 do Código Civil brasileiro (BRASIL, 2009b), que tem como fundamento o risco apresentado na atividade exercida pelo autor do dano e não num ato ou comportamento isolado. De acordo com o Diniz (2002) “[...] todo aquele que desenvolve atividade lícita que possa gerar perigo para outrem deverá responder pelo risco, exonerando-se o lesado da prova da culpa do lesante. A vítima deverá apenas provar o nexo causal, não se admitindo qualquer escusa subjetiva do imputado.” A responsabilidade objetiva dispensa o ônus da prova da culpa por quem gerou de que gerou o dano pelo lesado, pois a atividade desenvolvida pelo autor do dano por si só, gera risco à vida em sociedade, caso em que a incumbência de se provar algo recai sobre o autor do dano e não sobre aquele que experimentou do evento danoso. No que tange à responsabilidade subjetiva (fixado pelo caput do art.
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