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ANÁLISE DE PROJETOS E ORÇAMENTO EMPRESARIAL AULA 6 Prof. Clecio Steinthaler 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula iremos estudar a elaboração do orçamento de vendas, que representa a primeira etapa a ser desenvolvida no processo de elaboração de um orçamento empresarial. Destacaremos que os outros departamentos só poderão orçar seus custos após o departamento comercial elaborar suas estimativas de vendas, pois se o orçamento empresarial fosse um “trem”, o orçamento de vendas seria a “locomotiva”, ou seja, todos os outros vagões dependeriam dele. Vamos analisar de que forma os 4Ps do marketing (política de promoção, política de preço, política de produto e política de praça) influenciam a formação do preço de venda. Iremos analisar a formulação de um plano de produção, que objetiva mostrar, por meio de um relatório gerencial, como deve ser processada a produção para todos os produtos de uma indústria ou de empresa de área de serviços. Vamos descobrir que esse plano contempla a projeção dos custos e a projeção das despesas. Estudaremos os principais planos de produção, que são: produção constante, produção ao nível de vendas e produção por ciclos. Analisaremos também o orçamento de custos, em que aprenderemos a diferença entre custos, despesas, perdas e investimentos. Veremos ainda o orçamento das despesas e outros itens que não os gastos que estão ligados diretamente à produção, mas à estrutura administrativa e comercial da organização. Por fim, analisaremos como fazer a projeção do fluxo de caixa (que é o instrumento básico para execução do orçamento em curto e em médio prazo) e o fluxo de caixa da empresa, pois ele não indica apenas o total de pagamentos e recebimentos da empresa, mas serve de ponto de referência para a avaliação de desempenho estimada. Analisaremos os três métodos de elaboração do orçamento de caixa, a composição da Demonstração de Resultados do Exercício (DRE) e, por fim, um modelo de balanço patrimonial 3 CONTEXTUALIZANDO Cada vez mais as empresas necessitam de informações úteis, relevantes e oportunas para a tomada de decisão. Portanto, torna-se essencial que todas as organizações tenham um planejamento que direcione todos os esforços e recursos para o cumprimento de seus objetivos. Eis a importância do orçamento empresarial, que não é apenas mais um mecanismo utilizado pelas empresas para alcançar resultados propostos, mas sim uma importante ferramenta estratégica que permite a continuidade, a consolidação e o crescimento de uma organização no mercado em que atua. A prática revela que, sem o controle, o planejamento não se efetiva. Não é possível a organização ter a percepção de quão distante ela se apresenta do desempenho planejado. Dessa forma, o controle compreende uma atividade importante para as organizações que têm um processo de planejamento, pois busca por meio de padrões medir o desempenho dos processos e das atividades, para atingir o resultado econômico desejado. Nesse contexto, os indicadores econômicos são os direcionadores da empresa que consolidam e atestam que seu orçamento está correto. Agora, reflita um instante. Considere a empresa em que você trabalha, ou trabalhou, e responda: você conhece ou conheceu os resultados econômicos que a empresa havia estimado e de que forma eles estavam justificados em um orçamento de caixa? Quantas vezes imaginou que a redução de verbas para alguma atividade não era adequada, mas foi verificar se, no contexto orçamentário daquele momento, essa decisão não era a mais adequada? Se ficou em dúvida quanto à resposta para uma dessas perguntas, deixamos a seguinte proposta: vamos descobrir quais são os custos, as despesas e os investimentos que compõem um orçamento de caixa e qual a importância deles para fornecer subsídios que fundamentem decisões relativas ao processo orçamentário? 4 TEMA 1 – ORÇAMENTO DE VENDAS Ao elaborar um orçamento, a primeira etapa a ser desenvolvida é a projeção das receitas operacionais, ou seja, o orçamento de vendas. Portanto, ele deve ser a primeira etapa no processo de elaboração de um orçamento empresarial. Os outros departamentos só poderão orçar efetivamente seus custos após o departamento comercial elaborar suas estimativas de vendas. Segundo Welch (1996), se o orçamento empresarial fosse um “trem”, o orçamento de vendas seria a “locomotiva”, ou seja, todos os outros vagões dependeriam dele. Para elaborar o orçamento de vendas, o departamento comercial precisa projetar, mensalmente, dois dados para cada um dos produtos ou serviços que comercializa: Ao se multiplicar tais dados, obtemos uma previsão da receita bruta de vendas (faturamento), para cada um dos produtos ou serviços. Ao se multiplicarem tais dados, obtemos uma previsão da receita bruta de vendas (faturamento), para cada um dos produtos ou serviços. Uma empresa pode obter receitas de outras fontes, as receitas chamadas não operacionais, como a renda de investimentos, de aplicações financeiras, ou a venda de algum ativo da empresa. Como o departamento de produção, ou o departamento de suprimentos, pode orçar o quanto produzir ou comprar sem saber o quanto será vendido?? 5 Receita operacional: proveniente das receitas com a operação da empresa, portanto: faturamento = receita operacional; Receita não operacional: proveniente de outras fontes, que não estejam ligadas diretamente à operação da empresa. Saiba mais Total de receitas orçamentárias = receita operacional + receita não operacional. Importante: se não houver um orçamento de vendas que represente a realidade da empresa, com projeções de vendas mensais realistas, todos os outros componentes do orçamento estarão comprometidos, e a empresa pode ter sérias consequências de gestão. Para um orçamento realista, devem-se considerar as condições internas e externas da empresa, ou seja, todas aquelas que irão influenciar de uma forma ou de outra o faturamento. A essas condições, em orçamento, chamamos de “condicionantes”. Existem diversos condicionantes que podem comprometer de forma negativa o orçamento de vendas. Esses princípios podem parecer óbvios, mas as empresas várias vezes passam por “gargalos” em sua linha de produção, que corroem de forma significativa sua margem de lucro unitária. Todos esses problemas podem estar relacionados a projeções erradas de vendas. Vejamos: Capacidade de produção limitada Falta de mão de obra Falta de capital para aumento de produção Políticas de crédito Fornecedores de matéria-prima Concorrência Condicionantes internos Condicionantes externos 6 Atenção: esses fatores são interligados a outro fator muito importante: o custo de capital, pois para atender a cada um deles, a empresa deverá ter disponibilidade em caixa, que irá comprometer a operação, ficando sem reserva financeira, ou então captar recursos externos, pagando um custo financeiro que não poderá ser repassado ao preço de vendas, pois poderá perder mercado. Outro condicionante importante e que merece uma análise individual é a política de marketing da organização, pois ela determinará de que forma, quando e como ocorrerá a expansão das vendas. Essa política apresenta quatro componentes principais, conhecidos como os 4Ps do marketing: 1.1 Política de promoção Nela serão definidos os produtos prioritários, as campanhas a seremfeitas, a política de inserção ou crescimento do mercado (ex.: compre 1, leve 2) e os veículos a serem utilizados (televisão, cinema, rádio, jornais, revistas etc.). Quanto maiores forem os recursos destinados e mais agressiva for essa política, maiores devem ser as quantidades projetadas de vendas. •Estimativa de volume de vendas superior ao que pode ser produzido. Gastos elevados com estoques •Fábrica operando acima de sua capacidade econômica. Maior custo de manutenção •Aumento de quadro de pessoal e custo de treinamento, para atender à expectativa de vendas. Custo elevado de mão de obra Promoção Preço Produto Praça 4 Ps do marketing 7 1.2 Política de preço É a que envolve a definição de linhas estratégicas da organização. Basicamente, podem ser utilizados dois métodos: O de custo de “dentro para fora”. O preço representa o custo final, acrescido de impostos, taxas e lucro. Concorrência de “fora para dentro”. O preço é ditado pelo mercado, uma vez que a organização pode sacrificar a rentabilidade de um produto, vendendo com margem reduzida, para alavancar a venda de outros, com margens maiores. Por exemplo, produto principal, que tem componentes e acessórios. Importância dessa análise no orçamento: no primeiro caso, poderá ser estimada uma produção linear, em todos os níveis de produto. No segundo caso, haverá uma produção principal de um item, em grande quantidade, e de outros em quantidades menores. 1.3 Política de produto Sabemos que uma das maiores causas da falência de empresas é não poderem acompanhar os concorrentes em termos de desenvolvimento. Nesse enfoque, essa política é a que definirá a inclusão, modificação ou eliminação de produtos dentro de uma linha de produção. As consequências orçamentárias são: a. Previsão de redução de valores orçados em linhas que serão eliminadas; b. Previsão de expansão de valores orçados, em linhas que sofreram modificações. A justificativa da importância dessa política está no fato de que linhas de produtos que sofrem modificações tendem a ter suas vendas elevadas em um momento inicial; no segundo estágio, essas vendas se estabilizam. Portanto, o orçamento deve contemplar essas variações, para otimizar o emprego dos recursos financeiros da empresa. 8 1.4 Política de praça É a política que trata da distribuição dos produtos e dos custos envolvidos nessa operação. Sua missão é definir como serão operacionalizados os caminhos que levarão os produtos da empresa até os consumidores finais. Envolve decisões como frota de veículos, utilização de atacadistas ou armazéns próprios. Em todas essas decisões, haverá um componente financeiro a ser considerado. Resumindo: Quanto ao modelo de relatório, pode ser estruturado de diversas formas, e deve ser considerada sempre a necessidade de controle e informações desejadas da própria empresa. Quadro 1 – Exemplo TEMA 2 – PLANOS DE PRODUÇÃO Quando nos referimos ao plano de produção, não estamos falando necessariamente de uma indústria. Ele também existe no comércio e na área de serviços, em que recebe o nome de plano de operações. Reconhecer as tendências do mercado, em função dos condicionantes Apuração da tendência de vendas Projeção de vendas Projeção do faturamento operacional Meses Produtos Unid. Prod. Valor Unit. Total Unid. Prod. Valor Unit. Total Unid. Prod.Valor Unit. Total Item A 687 97,00R$ 66.639,00R$ 485 97,00R$ 47.045,00R$ 185 97,00R$ 17.945,00R$ Item B 1.641 105,00R$ 172.305,00R$ 3.270 105,00R$ 343.350,00R$ 1.340 105,00R$ 140.700,00R$ Item c 253 289,00R$ 73.117,00R$ 487 289,00R$ 140.743,00R$ 121 289,00R$ 34.969,00R$ Total 2.581 312.061,00R$ 4.242 531.138,00R$ 1.646 193.614,00R$ Janeiro Fevereiro Março 9 Vamos exemplificar. Imaginemos o caso de uma instituição de ensino, em que o departamento de operações é constituído pelos professores. Voltando ao plano de produção, ele representa a formalização da quantidade de unidades a serem produzidas em determinado período, para atender às vendas estimadas. Seu objetivo é mostrar, por meio de um relatório gerencial, como deve ser processada a produção, para todos os produtos de uma indústria ou de empresa de área de serviços. Vamos exemplificar. Imagine que você acabou de receber o orçamento de vendas, com as estimativas para cada período. Quais seriam os passos a seguir? A elaboração do plano de produção não é uma tarefa simples, pois Sanvicente e Santos (1983) destacam que “a elaboração de um plano de produção requer a conciliação de três aspectos”: 1º Passo •Definição do orçamento de produção, conhecido também como plano de produção 2º Passo •Projeção dos custos. Ex.: matéria-prima, mão de obra e custos indiretos 3º Passo •Projeção das despesas. Ex.: comerciais, administrativas, etc. 10 A elaboração de um plano de produção deve minimizar os pontos de atrito entre todos os departamentos envolvidos, pois cada um deles tem um interesse próprio. Segundo Carneiro (2011, p. 29), os atritos entre os departamentos podem ser resumidos como: Quadro 2 – Atritos entre departamentos Departamentos Condições ideais sugeridas para o plano de produção Comercial Apresentar um alto e diversificado estoque de produtos acabados, para atender ao mercado rapidamente Compras Adquirir volumes maiores de matérias-primas, para minimizar os gastos com aquisição Finanças Minimizar os estoques de matérias-primas e produtos acabados, para reduzir gastos com estocagem e melhorar o ciclo do caixa Recursos humanos Evitar oscilações no quadro de funcionários decorrentes de grandes variações nas quantidades fabricadas mensalmente Minimização dos custos de produção Minimização dos investimentos em estoques Atendimento ao orçamento de vendas 11 O tipo de plano de produção é fundamental para a elaboração orçamentária, pois ele será o regulador do consumo de matéria-prima e dos custos de fabricação. Vamos analisar os principais planos de produção. 2.1 Produção constante Nesta sistemática de operação, a produção tem um nível constante durante todo o período, e a eventual falta ou excesso de produção seria compensado por uma pequena quantidade de estoque regulador. Gráfico 1 – Produção constante Fonte: Adaptado de Sanvicente e Santos (1983) Quadro 4 – Produção constante: vantagens e desvantagens Vantagens Desvantagens A estabilidade da produção deve resultar em baixa rotatividade da mão de obra, o que proporcionará um moral mais elevado do pessoal. Vem como um aperfeiçoamento das habilidades individuais e uma redução dos gastos com recrutamento, seleção e treinamento. Risco de obsolescência física ou técnica dos produtos e gastos mais altos para estocagem (espaço físico, seguros, funcionários etc.). Fonte: Padoveze (2009) 2.2 Produção ao nível de vendas Nesse processo, os estoques são mantidos em níveis mínimos, e a produção atende à área de vendas. 12 Gráfico 2 – Produção em nível de vendas Fonte: Adaptado de Sanvicente e Santos (1983) 2.2.1 Produção em nível de vendas: vantagens e desvantagens Quadro 5 – Produção em nível de vendas: vantagens e desvantagens Vantagens Desvantagens Risco menor de obsolescência física ou técnica dos produtos e gastos mais baixos para estocagem (espaço físico, seguros, funcionários). A alta rotatividade da mão de obra aumentaos gastos com recrutamento, seleção e treinamento. Haverá perda de vendas se a demanda aumentar de forma repentina, pois não haverá estoque de produtos para atendê-la. Fonte: Padoveze (2009) 2.3 Produção por ciclos É o processo de produção utilizado em linhas produtivas que têm mais de um produto. Em determinados períodos, é produzida toda a quantidade estimada para um produto. Logo em seguida, inicia-se a produção de outro item, e assim sucessivamente. A produção é “empurrada” pelas vendas 13 Gráfico 3 – Produção por ciclos Fonte: Adaptado de Sanvicente e Santos (1983) 2.3.1 Produção por ciclos: vantagens e desvantagens Quadro 6 – Produção por ciclos: vantagens e desvantagens Vantagens Desvantagens Minimização dos gastos com substituição de equipamentos e do tempo perdido com o ajustamento das máquinas para a fabricação de outros produtos. Risco maior de obsolescência física ou técnica dos produtos e gastos mais altos para estocagem (espaço, físico, seguros, funcionários, etc.). Fonte: Padoveze (2009) A elaboração teórica do plano de produção segue um modelo de relatório gerencial, contendo 12 “colunas”, representando os 12 meses do ano, e 4 “linhas”, contendo os seguintes dados: Vendas; Estoque inicial; Estoque final; Produção. Nesse relatório é preenchida a “linha vendas” com as previsões de vendas de cada produto (retiradas do orçamento de vendas). Em seguida a “linha produção” é completada com a quantidade mensal média de produtos a serem fabricados para atender à demanda estimada. O “estoque inicial” é preenchido com a quantidade de produtos acabados. 14 Quadro 7 – Exemplo TEMA 3 – ORÇAMENTO DOS CUSTOS Segundo Frezatti (2007), em uma organização, os gastos podem ser classificados em quatro categorias: 1. Custos: são os gastos ligados diretamente à produção e são subdivididos em três categorias – matéria-prima, mão de obra direta e custos indiretos de fabricação. 2. Despesas: são considerados como despesas todos os gastos não ligados diretamente à produção, mas estão vinculados à estrutura administrativa e comercial da empresa. São consideradas despesas: marketing, administração, etc. 3. Perdas: é o gasto que não gera benefício da receita, ou seja, não pode ser recuperado, representando um prejuízo para a empresa. Podem ser enquadrados nesse conceito: roubos, acidentes, inundações, alagamentos etc. 4. Investimentos: é todo gasto que trará um benefício futuro. Podem ser enquadrados nesse conceito as máquinas, os equipamentos e os veículos (uso da empresa), etc. Meses JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL Produto A Vendas Est. Final Est. Inicial Produção Meses JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL Produto B Vendas Est. Final Est. Inicial Produção Meses JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL Produto C Vendas Est. Final Est. Inicial Produção PLANO DE PRODUÇÃO PLANO DE PRODUÇÃO PLANO DE PRODUÇÃO 15 Quadro 8 – Categorização dos gastos Vamos tratar separadamente de cada item que compõe o orçamento de custos. 3.1 Orçamento de matéria-prima O orçamento de matéria-prima é um plano que especifica as quantidades de matéria-prima, inclusive tipo do material a ser adquirido, períodos, preços e unidades de negócios a serem atendidas. Sua construção só pode ocorrer depois que a área de fabricação estruturar e dimensionar a necessidade de seus materiais de consumo, podendo, então, repassar essas informações ao departamento de compras. Segundo Padoveze (2009), o processo de operação ocorre em duas fases: A área de compras adquire o material no momento certo e nas quantidades corretas, ao preço planejado; A quantidade deve ser o suficiente para suprir os estoques mínimos planejados. O orçamento de matéria-prima indica padrões de consumo entre a quantidade de cada matéria-prima e o volume físico de produção, bem como a mão de obra diretamente empregada. Conforme Padoveze (2009), além do orçamento de matéria-prima propriamente dito, o processo pode compreender outros três suborçamentos: Investimento Despesa Custo Perda Gasto 16 a. Orçamento de compras, que é destinado a escalonar os períodos de aquisição e de entrega e as quantidades necessárias e o custo do material, inclusive fretes e carretos. b. Orçamento de estoques de matérias-primas, que estabelece os níveis de estoques planejados em quantidade e custo unitário e custo total, sem poder esquecer que estoques muito elevados geram custos de armazenagem e risco de investimento, afetam o capital de giro e podem ensejar perda de oportunidades de ganhos financeiros; conquanto estoques muito baixos podem impossibilitar atendimento a pedidos extras. Quanto ao orçamento do custo das matérias-primas consumidas, indica o custo real da matéria-prima consumida, servindo de insumo para elaboração do próximo orçamento. É confundido, normalmente, com o próprio orçamento de matérias-primas. O orçamento de matéria-prima tem dois objetivos básicos: Controle: os custos de matéria-prima são custos diretos, devendo por isso considerarem-se no orçamento os custos e as atividades por unidades produtivas ou departamentos; Custeio de produção: os custos de matéria-prima são custos de fabricação, devendo ser identificados nos custos dos produtos acabados, por tipo de produto. c. Política de estocagem, que está vinculada à capacidade de armazenamento da empresa e segue dois sistemas básicos de controle: Reposição por quantidade fixa: sempre que um item do estoque atinge determinado limite, é disparada uma ordem de compra. Reposição por período fixo: as aquisições só ocorrem em datas predeterminadas, obedecendo a um cronograma que acompanha o orçamento de produção. 3.2 Orçamento de mão de obra direta Esse orçamento representa o custo da mão de obra empregada diretamente na produção. Seu cálculo consiste no cruzamento de duas informações básicas, para cada produto fabricado. 17 Número de horas-padrão é a determinação de número de horas médias necessárias para se produzir determinado produto. Custo da hora-padrão é o custo médio dos salários mais encargos sociais do pessoal da produção, expresso por horas. Atenção: vantagens adicionais, como refeição, transporte, moradia, etc. não devem fazer parte desse grupo, pois são despesas optativas da empresa e devem ser deduzidas do lucro da empresa. 3.3 Orçamento dos custos indiretos Esse orçamento embute os gastos gerados por outros departamentos, que não trabalham diretamente com a fabricação, mas fornecem serviços para vários setores da linha produtiva. Portanto, seu gasto deve ser rateado, de forma proporcional, entre todos os departamentos beneficiados pela sua atividade. Esse rateio é importante para compor de forma exata o valor dos custos diretos e indiretos de cada produto. Seu cálculo segue esta linha de raciocínio: a. Selecionar o vetor e a medida de valor, para medir o serviço prestado. Ex.: Se a atividade for manutenção, o vetor pode ser o “tempo” utilizado em cada departamento e a grandeza, o custo-hora do departamento de manutenção. b. Projetar a quantidade de serviços prestados para cada departamento beneficiado. Vamos contextualizar? Supondo que o departamento de manutenção seja composto de dois funcionários com um custo mensal de R$ 18.000,00 (salário e encargos), os quais, trabalhando durante8 horas por dia, atenderam ao setor de pintura por 2,5 horas, o setor de corte por 4 horas e o setor de funilaria por 1,5 hora. Como seria o rateio? Custo/hora do departamento de manutenção = R$ 81,82 (R$ 18.000,00 / 220 horas) Número de horas-padrão de trabalho por produto Custo da hora-padrão 18 Obs.: Foram consideradas 220 horas/mês, mas como as folgas são remuneradas, mas não trabalhadas – domingos, feriados etc., alguns autores sugerem o cálculo pelo período de horas efetivamente trabalhadas. Voltando ao cálculo. Custo/hora do departamento de manutenção = R$ 81,81 x 8 horas/dia = R$ 654,48 Rateando o custo total/dia: Custo/hora do departamento de manutenção = R$ 81,82 Custo setor de pintura = 2,5 horas/dia X R$ 81,82 = R$ 204,52 por dia Custo/hora do corte = 4 horas/dia X R$ 81,82 = R$ 327,24 por dia Custo/hora da funilaria = 1,5 hora/dia X R$ 81,82 = R$ 122,71 por dia Quanto à elaboração do orçamento de matéria-prima, seu cálculo deve refletir o consumo de matéria-prima por unidade a ser produzida. Por exemplo: uma chapa de aço, com 3 metros, custa R$ 500,00 e permite o corte para se fazerem 20 peças de determinado produto. Portanto, o custo unitário dessa matéria-prima será: R$ 500,00 / 20 unidades = R$ 25,00 por unidade. As sobras de corte serão consideradas perdas, e seu possível reaproveitamento será um retorno adicional. Havendo mais de uma matéria-prima por produto, o raciocínio deve ser o mesmo. Quadro 9 – Exemplo de orçamento de matéria-prima 19 Quadro 10 – Orçamento de custos indiretos Finalmente, temos o orçamento da mão de obra direta (MOD), que se refere ao planejamento, e o controle de mão de obra direta necessária, que diz respeito à produção. Esse orçamento quantifica os tipos de mão de obra, as quantidades de horas de trabalho necessárias e os valores de cada tipo de mão de obra. Sua finalidade é mensurar a quantidade da força de trabalho empregada e seus custos. Em seu cálculo devem ser considerados: Número real de horas trabalhadas; Número-padrão de horas; Número de horas correspondente à produção efetivamente realizada. Quadro 11 – Exemplo de orçamento de mão de obra direta 20 TEMA 4 – ORÇAMENTO DAS DESPESAS E DE OUTROS ITENS Sabemos que despesas são gastos que não estão ligados diretamente à produção, mas são ligados à estrutura administrativa e comercial da organização. Welsch (1996) destaca dois tipos de gastos a serem considerados quando se elabora o orçamento: As despesas comerciais devem ser divididas em dois grupos, sendo o primeiro grupo o das despesas de vendas, representadas pelo instrumento que deve relacionar os valores a serem gastos com a comercialização dos produtos, com a quantidade efetivamente vendida. São aquelas predominantemente variáveis Estão vinculadas ao volume de vendas da empresa Despesas comerciais São aquelas que, em sua maioria, são consideradas fixas Estão vinculadas à área administrativa: salários, telefone, limpeza, portaria etc. Despesas administrativ as Caracterizados como aqueles que se pode reduzir. Ex.: rotas alternativas; comissões sobre vendas etc. São aqueles que não se tem autonomia para redução. Ex.: pisos salariais; adicionais de salários estabelecidos por convenção coletiva. G a s to s c o n tr o lá v e is G a s to s n ã o c o n tro lá v e is 21 Trata-se de um processo de mensurar o quanto que cada real gasto em vendas representa de aumento efetivo no faturamento. São constituídas pelos valores gastos em salários, comissões, encargos sociais, propaganda, despesas de viagens etc. O outro grupo são as despesas de distribuição, que são aquelas que se referem exclusivamente ao sistema de distribuição, incluindo pessoal, veículos, etc. Saiba mais Os custos de vendas constituem uma parcela expressiva dos custos totais. Por isso sua administração deve ser rigorosa. As despesas administrativas são aquelas que representam todos os custos necessários para a gestão empresarial, logicamente excluídas as despesas operacionais e de vendas. Normalmente, tais despesas são fixas, pois representam custos mensais, como aluguéis e condomínios, salários e encargos sociais, comunicações, etc. Recomenda-se que esses custos tenham seus valores expressos, além da forma numérica convencional, na forma percentual em relação ao faturamento, pois em alguns casos as despesas administrativas tornam-se tão expressivas que inviabilizam a competitividade da empresa, especialmente quando não são detectadas, ficando “escondidas” no orçamento. Os departamentos que compõem o custo das despesas administrativas são os departamentos de recursos humanos, o financeiro e o administrativo. Existe um terceiro grupo de despesas que não foi considerado ainda, mas também é muito importante na elaboração do orçamento. Trata-se das despesas de outros itens – que são as saídas de caixa, que ainda não foram orçadas, pois são despesas acessórias, mas que podem comprometer o programa orçamentário. São elas: 1. Despesas financeiras de empréstimos; 2. Despesas com clientes insolventes; 3. Contribuições e doações. A despesa com clientes insolventes é estipulada tendo por base uma média histórica, que na contabilidade é chamada de provisão de devedores duvidosos, sendo sempre um percentual sobre o faturamento. 22 As outras despesas apresentam uma característica de valores fixos, mas recomenda-se que também sejam comparadas percentualmente em relação ao faturamento. Não há uma planilha-padrão para seu controle, podendo ser utilizado um modelo que melhor se adapte à organização. Segue um dos vários modelos existentes: Quadro 12 – Exemplo de orçamento de outros itens relevantes TEMA 5 – PROJEÇÃO DE RESULTADOS E ORÇAMENTO DE CAIXA É o instrumento básico para execução do orçamento em curto e em médio prazo e do fluxo de caixa da empresa. Ela não indica apenas o total de pagamentos e recebimentos da empresa, mas serve de ponto de referência para a avaliação de desempenho estimada. Suas projeções permitem a avaliação de todo o processo de planejamento orçamentário, pois se as projeções indicarem que o planejamento apresenta resultado positivo, a alta gestão poderá aprová-lo com segurança. Mas, ao contrário, se essas projeções indicarem resultados desfavoráveis, haverá tempo hábil para determinar alterações de metas. Essas alterações podem incluir desde a revisão dos planos iniciais, redução de despesas, revisão de custos, formação de preço de venda até a redução de participação no mercado, determinando o fechamento de mercados regionais. Portanto, o principal objetivo do orçamento de caixa é dimensionar se haverá ou não recursos disponíveis para suprir as necessidades de caixa da empresa. Assim, a empresa pode alterar seu planejamento, adotando diversas alternativas, conjugadas ou não, e elaborar novo orçamento, revendo seus principais componentes, como: 23 a. Despesas de vendas (política de marketing e propaganda). b. Formação de preços (redução ou aumento, conforme o caso). c. Redução de custos, verificando qual o mais adequado para redução, se custos diretos ou indiretos. d. Composição dos itens (tipos de bens ou serviços) a serem vendidos. e. Revisão do nível de estoque de bens ou de matéria-prima. f. Aporte de capitais próprios ou de terceiros. Portanto, o orçamento de fluxo decaixa, além de ser uma peça orçamentária que consiste em estimar os ingressos e as saídas de recursos, permite que a empresa possa: Detectar antecipadamente as carências ou o excesso de recursos; Planejar pagamentos; Quantificar os recursos disponíveis para investimentos; Antecipar análise e cálculo para seleção de linha de crédito; Manter nível mínimo de caixa, para capital de giro; Projetar resgates de aplicações financeiras; Adequar corretamente as datas de recebimentos e pagamentos evitando desencaixas. Da mesma forma, o descontrole do fluxo de caixa orçamentário pode ocasionar nas empresas: Expansão descontrolada de vendas (maiores compras). Insuficiência de capital próprio, obrigando a utilização constante de capital de terceiros, ampliação exagerado do prazo de vendas, para fazer caixa. Descontrole entre os prazos de recebimentos e de pagamentos. Altos custos financeiros pelo fluxo irregular de caixa. Sua estrutura teórica é composta de: 1. Orçamento das entradas de caixa; 2. Orçamento das saídas de caixa; 3. Projeção do fluxo de caixa. Seguem os modelos esquemáticos de cada um: 24 Quadro 13 – Orçamento das entradas de caixa Quadro 14 – Orçamento das saídas de caixa Quadro 15 – Modelo do fluxo de caixa Existem três métodos de elaboração do orçamento de caixa, sendo que dois são mais comumente utilizados: 1. Método direto Trata-se do método mais simples e fácil de ser utilizado. Consiste na projeção das entradas e das saídas de caixa da empresa, tendo por padrão os 25 orçamentos elaborados. É o método utilizado pela maioria das pequenas e médias empresas. 2. Método do lucro ajustado É feito com base no resultado econômico da empresa. Consiste em primeiro projetar todo o plano de operações da empresa, para apurar o lucro ou prejuízo líquido da atividade econômica. O lucro ou prejuízo apurados será o ponto inicial para o cálculo do orçamento de caixa, tendo por base as estimativas da Demonstração do Resultado do Exercício. 3. Método da diferença do capital de giro Constituído de duas etapas: a. A primeira é calcular a variação do capital de giro da empresa, por meio do balanço patrimonial encerrado e do balanço patrimonial projetado. Sua fórmula é: CG = AC – PC Em que: CG = capital de giro; AC = ativo circulante; PC = passivo circulante. A variação do capital de giro no período será obtida pelo cálculo da diferença do capital de giro projetado (balanço patrimonial projetado) e do capital de giro do período encerrado (balanço patrimonial encerrado). Esse cálculo procura demonstrar se a empresa irá apresentar uma variação a maior ou menor no seu ativo circulante, em relação ao seu passivo circulante. b. A segunda parte relaciona o lucro ou prejuízo calculado às variações do passivo não circulante. Cálculo hipotético, tomando por base valores condensados em um balanço patrimonial fictício: Primeira etapa CG = AC – PC = 6.540 Segunda etapa ingressos = ( lucro líquido + depreciação + aumento de capital social) = 13.740. 26 i. desembolsos = (veículo + financiamentos em longo prazo + aquisições imobilizado) = 3.950 ii. Diferença do período projetado (a – b) = 9.790 iii. Saldo inicial de caixa = 2.000 iv. Diminuição do capital de giro (da 1ª etapa) = (6.540) v. Disponibilidade acumulada projetada = (c + d – e) = 5.250 vi. Nível desejado de caixa (estimado pelo gestor) = 3.000 vii. Sobra para aplicação no mercado financeiro = 2.250 Agora que já sabemos como elaborar um orçamento de caixa, vamos conversar sobre outro relatório importante, que demonstra se a empresa está operando com lucro ou prejuízo. É a Demonstração de Resultados do Exercício (DRE). Trata-se de um relatório analítico que contém os seguintes elementos: • Receitas operacionais; • Descontos concedidos; • Custos operacionais; • Margem bruta; • Despesas operacionais; • Resultado operacional; • Receitas não operacionais; • Despesas não operacionais; • Resultado não operacional; • Resultado das variações monetárias; • Resultado antes do IR; • IR; • Resultado líquido após o IR. 27 Figura X – Exemplo de DRE Por final, após a elaboração da Demonstração do Resultado do Exercício, pode-se calcular o balanço patrimonial, que representa a “fotografia” da empresa em determinado período, sendo por determinação legal realizado uma vez por ano com a data base de 31/12/XXXX. Ele condensa todos os resultados que a empresa obteve, pela aplicação do seu orçamento, e é um documento que a empresa utiliza para mostrar seus resultados perante a sociedade. 28 Figura X – Exemplo de balanço patrimonial Podemos constatar que o orçamento de caixa é um dos mais eficientes instrumentos de controle e pode ser projetado de várias formas. O sucesso de qualquer organização passa obrigatoriamente pelo rígido controle das finanças e das políticas de gerenciamento do orçamento. TROCANDO IDEIAS Vamos imaginar que foram feitos alguns estudos de mercado e que foi identificado que o consumidor tem interesse em um produto que certa empresa está disposta a produzir. De posse dessa avaliação, foi estruturado um orçamento de vendas, que foi redirecionado para o pessoal da produção, o qual ajustou a produção à demanda estimada. 29 Assim, todos os valores orçamentários passaram a ser guiados pela estimativa de faturamento. Ocorre que, após um breve período, mesmo com vendas intensivas no primeiro momento, que exigiram um segundo turno de trabalho, as vendas diminuíram fortemente. Constatou-se que, na projeção orçamentária, os custos não estavam mais sendo recuperados pelas vendas, confirmando-se um período de prejuízos, com estoques altos de produtos acabados e matéria-prima. O que houve de errado no planejamento orçamentário? Quais decisões foram tomadas sem as informações adequadas? O que a empresa deve fazer nessa situação? NA PRÁTICA Em relação ao demonstrativo de resultados, podemos afirmar que se trata de um relatório analítico, que contém os seguintes elementos: receitas operacionais; descontos concedidos; custos operacionais; margem bruta; despesas operacionais; resultado operacional; receitas não operacionais; despesas não operacionais; resultado não operacional; resultado das variações monetárias. Portanto, podemos afirmar que se trata de um relatório que tem por finalidade: a. Evidenciar lucro ou prejuízo da organização no período em que foi elaborado. b. Ser constituído pelo confronto de entradas e saídas operacionais. c. Demonstrar ao empreendedor quanto teve de lucratividade. d. Permitir que o empreendedor conheça o tempo de retorno de seu capital. e. Operar apenas o ativo e passivo circulante da organização. FINALIZANDO Nesta aula estudamos a elaboração do orçamento de vendas, que representa a primeira etapa a ser desenvolvida no processo de elaboração de um orçamento empresarial. Destacamos que os outros departamentos só poderão orçar seus custos após o departamento comercial elaborar suas estimativas de vendas, pois se o orçamento empresarial fosse um “trem”, o orçamento de vendas seria a “locomotiva”, ou seja, todos os outros vagões dependeriam dele. 30 Analisamos de que forma os 4Ps do marketing (política de promoção; política de preço; política de produto; política de praça) influenciam a formaçãodo preço de venda. Estudamos a formulação de um plano de produção, que objetiva mostrar, por meio de um relatório gerencial, como deve ser processada a produção, para todos os produtos de uma indústria ou de empresa de área de serviços. Descobrimos que esse plano contempla a projeção dos custos e a projeção das despesas. Analisamos os principais planos de produção: produção constante, produção ao nível de vendas, produção por ciclos. Estudamos também o orçamento de custos, em que aprendemos a diferença entre custos, despesas, perdas e investimentos. Analisamos ainda o orçamento das despesas e outros itens que não os gastos que estão ligados diretamente à produção, mas são referentes à estrutura administrativa e comercial da organização. Por fim, estudamos como fazer a projeção do fluxo de caixa, que é o instrumento básico para execução do orçamento em curto e médio prazo, e o fluxo de caixa da empresa, pois ele não indica apenas o total de pagamentos e recebimentos da empresa, mas serve de ponto de referência para a avaliação de desempenho estimada. Também analisamos os três métodos de elaboração do orçamento de caixa, a composição da Demonstração de Resultados do Exercício (DRE) e, por fim, um modelo de balanço patrimonial. 31 REFERÊNCIAS CARNEIRO, M. A. Orçamento empresarial. São Paulo: Atlas, 2011. JUNIOR, M. R. de C. Gestão de projetos da academia à sociedade. Curitiba: InterSaberes, 2013. MACEDO, J. de J. et al. Análise de projeto e orçamento empresarial. Curitiba: InterSaberes, 2013.
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