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1 CARIOLOGIA FACVEST PROFESSOR MÁRCIO ARRUDA RAMOS ETIMOLOGIA: O termo cárie deriva do latim carie que significa “apodrecimento, decomposição, destruição”, portanto, etimologicamente pode ser aplicado a diversas estruturas. Embora apresente a cavitação como o principal sinal clínico, a cárie dental é uma doença que precede essa evidencia. (José Luiz de Lorenzo). CONCEITOS: A cárie dentária pode ser definida como uma doença infectocontagiosa que determina, inicialmente, uma dissolução localizada dos componentes inorgânicos dos dentes, devido aos ácidos orgânicos provenientes do metabolismo bacteriano dos carboidratos fermentáveis da dieta. (Legler, D.W.). O termo cárie dentária é usado para descrever os resultados – sinais e sintomas – de uma dissolução química da estrutura dentária, causada por eventos metabólicos ocorrendo no biofilme que cobre a área afetada. A destruição pode afetar o esmalte, a dentina e/ou o cemento. (Fejerskov, O.). DIAGRAMA DE KEYES: 2 ETIOLOGIA: As lesões de cárie dentária são frutos do desequilíbrio fisiológico entre o mineral dentário e o fluido do biofilme (Fejerskov). O início da cárie dentária ocorre nos pontos que vão favorecer o acúmulo ou adesão, em que os microrganismos não estarão sujeitos ao deslocamento frequente que impediria seu crescimento contínuo. Esta é a causa da localização do surgimento da cárie em certos locais da superfície dentária (Black, 1914). 3 l-‐HOSPEDEIRO SUSCETÍVEL: A predisposição do dente ao ataque cariogênico varia muito, quanto mais fatores negativos estiverem presentes ao mesmo tempo, maior a suscetibilidade do dente (hospedeiro do processo carioso) de sucumbir à infecção por microorganismos cariogênicos e desenvolver cárie. -‐ Saliva: A saliva exerce atuação importante sobre o hospedeiro (dente) através das suas funções: -‐ Limpeza da cavidade oral: auxilia a remoção de restos alimentares e microrganismos não aderidos à superfície dentária. A velocidade de acúmulo de placa (biofilme) será mais rápida em indivíduos com baixo fluxo salivar e que não contam, portanto, com este poder de “limpeza” da saliva. O valor do fluxo salivar considerado normal em adultos varia de 1 e 2 ml/min, a partir da estimulação por métodos específicos. -‐ Capacidade tampão: capacidade da saliva de neutralizar ácidos presentes na placa (biofilme) e, em situações onde esta não for muito espessa, na interface placa/dente. Os principais sistemas tampões da saliva são o fosfato e o bicarbonato. O conjunto dos tampões salivares determina valores entre 6,2 e 7,4 para o pH salivar de adultos. -‐Remineralização: os conteúdos de cálcio, flúor e fosfato presentes na saliva desempenham papel fundamental no processo de remineralização, mantendo equilibrada a perda de minerais do dente. -‐ Ação antibacteriana: estão presentes na saliva alguns agentes antibacterianos como a lactoferrina (inviabiliza nutrientes para a bactéria), a lisozima (destrói a parede de certos microorganismos), a lactoperoxidase (inibe formação de ácido) e a imunoglobulina A –IgA secretora –(interferindo na aderência dos microrganismos à superfície dentária). O papel destes antimicrobianos seria tornar a sobrevivência dos microrganismos no meio oral menos acessível. -‐ Higiene Oral: a despeito da discussão quanto ao valor da remoção do biofilme para a prevenção da cárie dental, é importante lembrar que a cárie não se desenvolve sem os microorganismos cariogênicos, cujo habitat é a placa dental (biofilme). -‐ Morfologia: quanto mais pronunciados forem os acidentes anatômicos dos dentes, mais propensos estão ao acúmulo de biofilme e menos acessíveis se tornam à remoção desta, à chegada de saliva e de flúor. Soma-‐se a estes acidentes anatômicos, as retenções iatrogênicas causadas principalmente por restaurações, próteses e aparelhos ortodônticos. -‐ Carbonato: dentes ou áreas dos dentes com maior conteúdo de carbonato tendem a ser mais suscetíveis à cárie, pois este é o componente 4 preferencialmente perdido durante a destruição cariosa do esmalte. Quando presente em grandes quantidades, a partir da sua alta solubilidade tornaria o esmalte dentário mais permeável aos produtos ácidos. -‐ Flúor: o flúor exerce papel decisivo na suscetibilidade do dente à cárie, não apenas no que diz respeito a suaparticipação na composição mineral do dente, mas fundamentalmente quanto a sua presença no biofilme e/ou fluidos que banham os dentes. Estudaremos em capítulo a parte os mecanismos de ação do flúor e suas propriedades. ll MICROORGANISMOS ESPECÍFICOS: Foi a partir dos trabalhos de ORLAND et al, em 1954 que se comprovou a necessidade da presença de microorganismos para o desenvolvimento de lesões de cárie. KEYES em 1960 ratificou os achados de ORLAND, adicionando que os microorganismos cariogênicos são transmissíveis. Os microrganismos necessitam de sítios para sua instalação. Na cavidade oral, as colônias microbiológicas encontram-‐se sobre diferentes superfícies dentárias que, pelo fato de serem não-‐descamativas, favorecem a sua adesão. O biofilme sofre variações na sua composição microbiana em função das condições que os microorganismos encontram para sua sobrevivência em cada meio (maior ou menor aporte de substrato, quantidade de oxigênio, etc.). A partir do conhecimento produzido por Miller, de que os microorganismos presentes na placa seriam os responsáveis pela cárie, os trabalhos de prevenção voltaram-‐se quase que exclusivamente à eliminação do biofilme. Deduziu-‐se que quanto mais placa mais cárie, sem considerar a investigação microbiológica da mesma, admitindo-‐se que todas as espécies bacterianas localizadas na superfície dentária são capazes de produzir ataque ácido sobre o esmalte (HPI – Hipótese da Placa Inespecífica). De acordo com a Hipótese da Placa Específica (HIPE), existiria um tipo de placa com característica odontopática, capaz de produzir cárie dentária. As duas hipóteses tem fundamentos diferentes, que influenciaram basicamente no tipo de tratamento preventivo a ser empregado. Entre as várias espécies bacterianas que compõem o biofilme, algumas tem maior identificação com o processo cariogênico que outras; existindo equilíbrio entre elas, não haverá efeito patogênico no hospedeiro. A partir de um desequilíbrio gerado pelo favorecimento de uma condição patogênica, poderá estar favorecida a multiplicação de determinadas espécies, dentre as quais as que possuem potencial cariogênico. As investigações neste sentido tem apontado para alguns microorganismos que, aumentados em número no biofilme, levariam ao surgimento da cárie. Entre estes estão, principalmente, Streptococcus mutans, Lactobacillus casei e Actinomyces. S. mutans: de todas as bactérias orais, estas tem sido mais exaustivamente estudadas e tem recebido maior relevância desde que são capazes de colonizar superfícies dentárias e desenvolver cárie em humanos, sendo responsáveis inclusive pelo início do processo carioso. Fazem parte da flora bucal normal, podendo ser encontrados sobre superfícies dentárias sem desenvolver cárie. Os S. Mutans são capazes de sintetizar polissacarídeos extracelulares a partir da sacarose, responsáveis pelo mecanismos de adesão que garantem a 5 fixação dos microorganismos à estruturas dentárias. Possuem também a capacidade de produzir polissacarídeos intracelulares, que servem como substrato de reserva para continuar a produção de ácidos, mesmo em períodos em que não há nutriente disponível no meio. Aos microorganismos que possuem esta habilidade garante-‐se uma vantagem seletiva no ecossistema. S. mutans também possuem um potencial metabólico para produção de ácido (capacidade acidogênica), principalmente o ácido lático. Soma-‐se a tal , a capacidade de crescer e continuar produzindo ácido num pH baixo (capacidade acidúrica), o que lhes adjetiva o caráter de estrategistas de pH, juntamente com os lactobacilos, que apresentam a mesma característica. Não são muito exigentes, sendo capazes de metabolizar a amônia e utiliza-‐la como fonte de nitrogênio, o que configura uma vantagem ecológica, já que continuam o seu crescimento na profundidade de biofilmes volumosos onde há dificuldade na chegada de nutrientes exógenos. Outra característica do Streptococcus mutans é que eles não colonizam todas as superfícies dentárias uniformemente, sendo mais frequentes nas fissuras e superfícies proximais. Também não espalham-‐se rapidamente entre os dentes. Lactobacillus casei: foi o microorganismo primeiramente responsabilizado pelo início das lesões de cárie, já que são acidogênicos, acidúricos e estão presentes em maior número sobre sítios cariados do que em sítios não cariados. Entretanto, estudos posteriores mostraram que os lactobacilos estão presentes em maior número em lesões avançadas, já cavitadas, desempenhando papel mais importante no desenvolvimento do processo carioso. Actinomyces: predominam na flora do biofilme sobre lesões cariosas radiculares. Como sua produção de ácidoé limitada, não seriam os responsáveis pelo surgimento da cárie. Entretanto, são bons formadores de placa, capazes de formar depósitos firmes sobre a raiz, responsáveis por cárie nessa região. lll DIETA CARIOGÊNICA : A ingestão de dieta cariogênica é capaz de produzir dois efeitos sobre a dentição: efeito nutricional e efeito dietético. -‐ Efeito Nutricional: através da ação sistêmica que esses alimentos acarretam no organismo, consequentemente na formação dos dentes. Alguns estudos tem apontado para não relação direta entre nutrição e cárie, isto é, deficiências nutricionais não influiriam na incidência de cárie. Não se quer dizer que a nutrição não exerça influência na composição e estrutura dentária; se estes dentes forem deficientes em conteúdo mineral mas não entrarem em contato com um substrato local cariogênico, não serão mais suscetíveis à cárie do que dentes bem formados do ponto de vista mineral. Contudo, existem relatos na literatura de estudos que apontam não só para o retardo na erupção dos dentes em crianças malnutridas, como também significante aumento na experiência de cárie. Estudos de BOWE concluíram que alguns alimentos contém substâncias que podem influenciar a composição da saliva, interferindo na formação e atividade metabólica da placa (biofilme). 6 -‐ Efeito Dietético: quando consideramos a passagem destes alimentos pela cavidade oral (ação local). Uma frequente dieta rica em carboidratos fornece substrato para a sobrevivência dos microorganismos orais, a partir da sua metabolização pelos mesmos. Em decorrência desse metabolismo, o pH do biofilme-‐ sítio das bactérias -‐ sofre queda, levando à dissolução mineral do dente. Esse processo foi demonstrado em 1940, quando STEPHAN demonstrou que, após a ingestão de açúcar, o pH do biofilme alcança seu valor mínimo dentro de dez minutos, permanecendo abaixo do pH crítico (pH 5,5 – abaixo do qual ocorre a desmineralização do esmalte) por cerca de quinze a vinte minutos, sendo que o biofilme retoma seu valor natural de pH após quarenta e cinco a sessenta minutos. Fica então ressaltada a preponderância desse efeito local sobre o efeito sistêmico. Pela característica multifatorial da cárie, sabe-‐se que a dieta isoladamente seria incapaz de induzir à cárie; além de imprescindir de microorganismos para metaboliza-‐la e um hospedeiro suscetível aos seus efeitos deletérios, a dieta deve possuir características que a apontem como cariogênica: -‐ Tipo e consistência dos carboidratos desfavoráveis: alimentos com carboidratos fermentáveis como a sacarose, glicose e frutose, podem ser considerados de alto potencial cariogênico. O amido tem baixa cariogenicidade, porém a alta frequência no consumo de pães, bolachas, etc., teria esse potencial elevado, especialmente se retido sobre os dentes por longo período. Entra ai o fator consistência, considerando-‐se que os alimentos ditos pegajosos são mais difíceis de serem removidos naturalmente pela saliva ou ação mecânica da língua, exibindo maior cariogenicidade do que aqueles que são mais rapidamente eliminados. A lactose, via de regra, tem mostrado baixa cariogenicidade. -‐ Frequência impropria de ingestão: a redução no consumo de açúcar é muito importante na diminuição da incidência de cárie, não no que diz respeito à quantidade total de consumo, mas principalmente no número de vezes em que se dá a ingestão. -‐ Ausência de elementos protetores: alguns elementos como o cálcio, fosfato e lipídeos presentes na dieta podem diminuir o potencial cariogênico da mesma. O fosfato tem tido este papel ressaltado nas pesquisas em animais e humanos, com a sua atuação baseada fundamentalmente no efeito local da boca: a) íons fosfato são capazes de diminuir a velocidade de dissolução da hidroxiapatita do esmalte; b) soluções supersaturadas de fosfato de cálcio são capazes de redepositar minerais em áreas previamente desmineralizadas; c) fosfatos tamponam ácidos orgânicos formados por fermentação da microflora do biofilme; d) fosfatos são capazes de tamponar ácidos orgânicos provenientes da metabolização de alimentos. JENKINS e HARGREAVES demonstraram que o queijo, quando ingerido ao final das refeições, pode aumentar o conteúdo de cálcio no biofilme, podendo assim promover efeito de redução da cárie dental. Com relação aos lipídeos, estudos apontam que dietas ricas em gordura teriam menor potencial cariogênico, sendo que alguns lipídeos como o ácido oleico, seriam efetivos na redução de S. mutans, entretanto, nos alimentos 7 gordurosos adocicados estaria descartada umapossibilidade real de proteção à queda de pH. Alguns carboidratos apresentam maior cariogenicidade que outros, sendo a sacarose a principal, estando presente em uma gama variada de alimentos (bolos, bolachas, refrigerantes, frutas, alguns laticínios, ketchups, etc.). Além disso, é uma molécula pequena e sem carga elétrica, difundindo-‐se com facilidade pela placa, atua como substrato para formação de polissacarídeos extra e intracelulares, além de permitir a formação de ácidos. Favorece a formação de biofilmes volumosos, que facilitam a fixação dos microorganismos. A sacarose causa aproximadamente cinco vezes mais cárie que o amido. Este é o menos cariogênico dos carboidratos, duas vezes menos que a glicose e frutose. Alimentos que contenham um carboidrato cariogênico como a sacarose, somado a uma consistência que dificulte a solubilização e remoção da boca pela saliva, apresentam potencial de indução à cárie, especialmente se forem ingeridos numa frequência elevada e por um hospedeiro com outros fatores negativos presentes, como baixa capacidade tampão da saliva, número elevado de S. mutans , ausência de flúor e outros fatores. No trabalho desenvolvido por Gustafsson em 1954, conhecido como “Estudo de Vipeholm” realizado na instituição de mesmo nome, situada ao sul da Suécia, para pacientes especiais adultos, inicialmente os pacientes receberam por vários anos uma dieta adequada sob o ponto de vista nutricional. Posteriormente, dividiram-‐se os pacientes em nove grupos, onde seriam aplicadas dietas diferentes no que diz respeito à quantidade, forma física e frequência da sacarose, verificou-‐se que: -‐ o aumento total no consumo de açúcar por si só não levou a um aumento na atividade de cárie; -‐ a frequência no consumo do açúcar foi fundamental no acréscimo de novas lesões cariosas. O açúcar consumido entre as refeições aumentou a atividade de cárie; -‐ a forma física dos alimentos também influiu no aumento das lesões cariosas, sendo que quando estes alimentos tinham tendência a aderirem à superfície dentaria, elevava-‐se a atividade de cárie, tendo em vista aumentar o tempo de eliminação deste da cavidade oral; -‐ perceberam-‐se variações individuais, isto é, alguns indivíduos consumiram grande quantidade de sacarose frequentemente e na forma pegajosa mas não desenvolveram cárie. “Estudo de Hopewood House” Desenvolvido por Harris em um orfanato para crianças na Austrália, que viviam lá desde o nascimento ou as primeiras semanas de vida. A dieta consistia basicamente de pão, cereais diversos, melado, frutas, derivados do leite, vegetais crus e nozes, oferecidos nos horários das refeições. Mesmo com um conteúdo insignificante de flúor na água (0,1 ppm) e higiene oral deficiente, as crianças entre cinco e treze anos apresentavam apenas 10% da prevalência de cárie da população da mesma faixa etária, sendo que 75% tinham gengivite. “Estudo de Turku”. Estudo realizado em Turku, na Finlândia, onde 127 pessoas submeteram-‐se a uma experiência em que um grupo consumia uma dieta rica em sacarose e outro grupo uma dieta onde a sacarose era substituída 8 por frutose, num terceiro grupo, a substituição era por xilitol. Através de exame clínico e radiográfico verificou-‐se que nos grupos que consumiam os carboidratos fermentáveis (sacarose e frutose) o aumento de cárie foi significativamente maior do que no grupo que consumia xilitol. DINÂMICA DO DENTE NO AMBIENTE ORAL: Por muito tempo, tratou-‐se o dente como um órgão estático, sem capacidade de reação com o seu meio ambiente. Atualmente é sabido que o esmalte realiza constantes trocas químicas com o seu meio ambiente, a cavidade oral. Quanto a sua composição química, sabe-‐se que o conteúdo inorgânico alcança entre 96 a 97% do total, representado pelos cristais de hidroxiapatita HA (Ca10(PO)6(OH)2). O restante está distribuído entre água e material orgânico. Na composição estrutural, os componentes inorgânicos estão distribuídos em cristais numa organização prismática, com material orgânico e água intermediando estes cristais e os prismas. Esta organização viabiliza o dinamismo entre o esmalte e o seu meio, por favorecer a existência de microporos para entrada e saída de elementos minerais e água, configurando os processos de DESMINERALIZAÇÃO e REMINERALIZAÇÃO dentária, que traduzem esta relação dinâmica entre dente e cavidade oral. O processo de desmineralização é caracterizado pela perdade minerais do dente no momento em que houver uma queda do pH do meio, sendo que a remineralização é a reposição desses minerais quando houver neutralização deste pH ácido. Quando existe uma situação de equilíbrio dinâmico, isto é, DES=RE, temos que a quantidade de íons perdidos é igual a de íons repostos, sem caracterizar, portanto, predomínio de uma situação. A partir do surgimento de um elemento novo, por exemplo, consumo de carboidrato em que pela sua degradação haja liberação de ácidos que levem a queda do pH próximo ao dente (pH do biofilme), está configurado um desequilíbrio no meio oral. Esses ácidos também penetram nos poros do esmalte, desfazendo ligações moleculares, o que determina liberação de íons minerais do dente, diminuindo o diâmetro dos cristais de hidroxiapatita e, consequentemente, alargando os poros. Este processo repetido e não seguido de redeposição dos minerais perdidos representa que está havendo desmineralização em nível ‘ultra estrutural”. É lesão cariosa presente mesmo que, neste momento não existam manifestações clinicas, mas pode representar o inicio de um processo destrutivo, que poderá evoluir para o “estado clínico” da cárie, representado pela opacidade do esmalte, na forma chamada de mancha branca. O curso da destruição poderá continuar, culminando com a perda da estrutura dentária. 9 Este processo poderá ser interrompido. Quando bastante precoce, na fase de ultra estrutura, pode ocorrer a redeposição dos minerais perdidos, o que garante a ocorrência da remineralização. Num estagio mais avançado, com mancha branca formada, a progressão da lesão pode ser interrompida, sem contudo conseguir garantir a reposição do conteúdo total de mineral perdido. A partir da neutralização do pH ácido e estando o esmalte “avido” por minerais, ocorrerá o retorno desses elementos ao dente. Isso ocorrerá mais livremente se o dente estiver sem biofilme, mas independe deste para acontecer. Porém, deve-‐se ressaltar que, quanto mais espessa for a placa (biofilme), maior a dificuldade para a neutralização dos ácidos. Neste fenômeno da remineralização, o flúor exerce papel importante, reagindo com o esmalte desde que esteja presente na cavidade oral na forma iônica. Assim, quando presente em baixa concentração na placa (biofilme) ou saliva (0,02 a 0,05 ppm), à medida que ocorre a remineralização, poderá ligar-‐se ao esmalte na forma de fluorapatita, substituindo o radical hidroxila do cristal original. A fluorapatita é mantida por uma ligação extremamente forte, o que a torna menos solúvel frente aos ácidos do ambiente oral. Durante a remineralização, o flúor também carregará consigo cálcio e fosfato para o interior do esmalte, que ocuparão os “espaços” no esmalte criados pela desmineralização, podendo aumentar o diâmetro dos cristais. 10 Resumindo, após o consumo de alimentos (carboidratos fermentáveis) que depois de metabolizados por microorganismos levem à liberação de ácidos que causem a queda de pH, a acidez do meio permanecerá até que haja tamponamento pela saliva. Durante o tempo em que o potencial de hidrogênio for alto (pH < 5,5), estará havendo dissolução dos cristais de hidroxiapatita, promovendo a desmineralização. A projeção desta sequência será mais negativa quanto maior for o tempo de duração , a intensidade e frequência com que essa desmineralização ocorrer. Quando a interrupção desse processo se der após a formação da lesão (seja pela remineralização ou paralisação de manchas brancas ou mesmo cavidade), significa que houve preservação do remanescente da estrutura dentária, que receberá um tratamento restaurador ou não após análise de cada caso. Quando estiver estabelecido um conjunto de ações no sentido de impedir que ocorra um desequilíbrio no meio oral levando à desmineralização, aí sim, estaremos diante da prevenção da cárie.
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