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Siemens LTDA Automation & Control – Drive Technology Rua Cel. Bento Bicudo, 111 – 05069-900 – São Paulo – SP 1 Siemens LTDA Automation & Control – Drive Technology Publicação Técnica APLICAÇÃO DE CONVERSORES DE FREQÜÊNCIA? E AGORA? BAIXA TENSÃO OU MÉDIA TENSÃO? Eng°. Marcos Marcondes Assis 19 de fevereiro de 2002 (revisado 02/04/04) Está aí um tema bastante interessante, na verdade, uma das perguntas feitas diariamente na indústria brasileira, que chegam até os fornecedores de conversores. A dúvida tem origem no conflito entre a tradição e a inovação. Existem normas “centenárias” que defendem a aplicação de motores de indução com potências acima de 200CV (150kW) em média tensão. São normas tecnicamente bem fundamentadas, pois: · Os motores de indução trifásicos demandam correntes de partida da ordem de até 10 vezes a corrente nominal; · Os efeitos sobre o sistema elétrico são bem claros, seja pelo aquecimento nos cabos, seja pela queda de tensão no alimentador, que afeta outras cargas conectadas no sistema; · A correção de fator de potência em média tensão apresenta uma melhor relação custo benefício, além de ser mais flexível com a aplicação de compensadores síncronos; Em resumo, os cuidados com a qualidade do sistema elétrico levam ao limite da potência de motores elétricos nas redes de baixa tensão. A polêmica se inicia com a aplicação de motores com conversores de freqüência, quando as características de partida dos motores se alteram: · Os conversores permitem a partida suave do motor, em tempo ajustado de forma a garantir a partida sem esforços mecânicos e elétricos no motor; · Os motores partem com correntes reduzidas, ou seja, correntes inferiores à corrente nominal do motor em cargas de conjugado variável (tipo bombas e ventiladores) e correntes de 1,5 a 2 vezes a corrente nominal do motor para cargas pesadas ou de conjugado constante ( tipo correias transportadoras, pontes rolantes, elevadores, etc ); · A rede elétrica não sofre os efeitos de partida, os cabos de alimentação não são sobrecarregados e não há queda de tensão no sistema; Siemens LTDA Automation & Control – Drive Technology Rua Cel. Bento Bicudo, 111 – 05069-900 – São Paulo – SP 2 · O fator de potência visto pela rede é praticamente unitário quando se aplica conversores de freqüência do tipo PWM (Pulse Width Modulation – Modulação por largura de pulso) e dispensa o uso de banco de capacitores para compensar o reativo do motor instalado. Essa propriedade foi bastante decisiva na “aposentadoria” dos conversores CSI ( Current Source Inverter – Inversores de Corrente Imposta, ou ainda, com circuito intermediário em corrente). Considerando tantas vantagens apontadas pelos conversores estáticos de freqüência PWM, por que ainda deveríamos manter toda a padronização para motores de média tensão? O que justificaria aplicar tais conversores para motores novos ou mesmo existentes se a técnica de baixa tensão apresentar uma melhor relação custo-benefício? Todavia, a aplicação de conversores estáticos deve levar em consideração os harmônicos de corrente gerados pelos conversores estáticos, principalmente os conversores a base de diodos ou de tiristores no estágio retificador. Os retificadores em conexão ponte trifásica ou conversores de 6-pulsos (Fig. 1) apresentam um elevado conteúdo de harmônicos de corrente de ordem 5 e 7, como ilustra a Fig. 2. Fig. 1 – Retificador 6-pulsos Fig. 2 – Harmônicos gerados pelo sistema de 6-pulsos O conteúdo de harmônicos pode ser reduzido com o uso de transformadores para as conexões em maior número de pulsos. A Fig. 3 ilustra um sistema de 12 pulsos, com um transformador de duplo secundário em conexão delta-estrela e a estrutura do retificador (Fig. 4). Pela Fig. 5, Siemens LTDA Automation & Control – Drive Technology Rua Cel. Bento Bicudo, 111 – 05069-900 – São Paulo – SP 3 observa-se que os harmônicos de corrente de ordem 5 e 7 são praticamente eliminados. Fig 3 – (a) Sistema de 12-pulsos. (b) Características das correntes Fig. 4 – Retificador 12-pulsos Fig. 5 – Harmônicos gerados pelo sistema de 12-pulsos (a) (b) Siemens LTDA Automation & Control – Drive Technology Rua Cel. Bento Bicudo, 111 – 05069-900 – São Paulo – SP 4 Um conversor de 24 pulsos (Fig. 6), obtido pela conexão de dois transformadores de entrada, irá gerar apenas harmônicos de corrente de ordem 23 ou superior. Fig. 6 – Sistema de 24-pulsos Uma alternativa seria a aplicação de conversores estáticos com retificador de entrada autocomutado, não comutado pela rede como os retificadores a diodos ou tiristores. São os chamados AFE – Active Front End, retificadores a base de IGBT’s (Insulated Gate Bipolar Transistors), cuja estrutura é ilustrada na Fig. 7, disponíveis hoje em baixa tensão e média tensão. O desempenho do sistema é superior ao de conversores de 12 pulsos, como mostra a Fig. 8. Fig. 7 – Estrutura de retificador AFE com IGBTs Siemens LTDA Automation & Control – Drive Technology Rua Cel. Bento Bicudo, 111 – 05069-900 – São Paulo – SP 5 Fig. 8 – Nível de harmônicos para os sistemas 6-pulsos, 12-pulsos e AFE Os harmônicos de corrente irão influenciar o sistema alimentador da seguinte forma: · Aumentar as perdas nos cabos, na rede, nos transformadores do sistema; · Provocar quedas de tensão adicionais e distorcer a tensão do sistema de alimentação; · Provocar o mau funcionamento de outras cargas conectadas aos sistemas (outros conversores, fontes de alimentação, computadores, etc); · Provocar ressonâncias em bancos de capacitores e/ou filtros instalados no sistema; · Provocar desligamentos indevidos nos sistemas de proteção, relés e disjuntores. Todos esses fatores nos levam a afinar os critérios para instalação de conversores. Naturalmente, sem muito esforço em cálculos, os efeitos negativos serão tanto piores quanto maior a potência instalada em um sistema com uma capacidade de curto-circuito já definida. Mesmo independentemente da potência, sistemas contendo bancos de capacitores e também filtros de harmônicos podem apresentar os problemas de ressonância. Nestes casos a freqüência de ressonância deverá ser identificada e os harmônicos correspondentes serem eliminados ou filtrados na fonte. As interferências dos conversores sobre o sistema podem ser reduzidas ou mesmo eliminadas com o desacoplamento dessas cargas não lineares, como ilustrado abaixo: 0,0% 1,0% 2,0% 3,0% 4,0% 5,0% 6,0% AFE 12 pulsos 6 pulsos Nível de distorção de tensão 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 Siemens LTDA Automation & Control – Drive Technology Rua Cel. Bento Bicudo, 111 – 05069-900 – São Paulo – SP 6 Fig. 9 – Desacoplamento de cargas Voltando a questão Média Tensão x Média Tensão, conclui-se: · Sobre o ponto de vista da partida de motores, as propriedades e facilidades são as mesmas; · Sobre o ponto de vista do fator de potência, as propriedades são as mesmas, se aplicados conversores PWM em média tensão; · Sobre o ponto de vista de harmônicos, a aplicação de transformadores vem de encontro com a imunidade do sistema elétrico; · Transformadores para sistemas de 12 pulsos eliminam os harmônicos de corrente de maior amplitude (ordem 5 e 7), provocam menor distorção na rede, em “prol”da qualidadeda energia elétrica; · Se transformadores são inseridos, por que não considerar os motores em baixa tensão? Mas antes de se tomar uma decisão, vamos verificar as perdas nominais em conversores de freqüência PWM refrigerados a ar: Siemens LTDA Automation & Control – Drive Technology Rua Cel. Bento Bicudo, 111 – 05069-900 – São Paulo – SP 7 Considerando que o rendimento de transformadores é também elevado, superior 98%, o fator decisivo em termos rendimento seria o comprimento dos cabos entre conversor e motor, bem como a trajetória dos mesmos, a facilidade de instalação e manutenção. Chamamos ainda a atenção para os aspectos: · Custo: os acionamentos de baixa tensão são pelo menos 50% mais baratos que os correspondentes de média tensão, principalmente para potências até 1000kW; · Logística: os acionamentos de baixa tensão são encontrados muito facilmente no mercado, inclusive em distribuidores, particularmente para motores até 500kW; · Manutenção: é muito mais simples para acionamentos em baixa tensão, seja pelo parque instalado que é muito superior ao parque instalado em média tensão, seja pela facilidade de peças de reposição ou ainda pela disponibilidade de técnicos aptos a operar e dar assistência em campo. Em resumo, são muitas as considerações a serem feitas na definição de acionamentos com conversores estáticos e os aspectos de qualidade da energia elétrica merecem especial atenção. Há a necessidade de uma avaliação ampla, da quebra de paradigmas e da reavaliação das normas de instalação elétrica de motores. Avaliações limitadas podem levar a resultados desfavoráveis ao investimento em conversores de freqüência nos programas de economia de energia, principalmente no caso de motores de média tensão já instalados. Sobre o autor: Marcos Marcondes Assis Engenheiro Eletricista pela Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) Consultor de Vendas do departamento Large Drives da Siemens LTDA, desde 1999.
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