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Brunno Henrique de Souza Santiago Ciências do Ambiente 03 Sumário CAPÍTULO 1 – Meio ambiente .........................................................................................05 Introdução ....................................................................................................................05 1.1 Interação do ser humano com o meio ambiente ..........................................................05 1.2 Meio ambiente – aspectos conceituais ........................................................................06 1.2.1 Biodiversidade ................................................................................................11 1.2.2 A Convenção da Diversidade Biológica (CDB) ....................................................12 1.2.3 Acesso aos recursos genéticos e repartição dos benefícios resultantes desse acesso 12 1.3 Os grandes ecossistemas brasileiros ...........................................................................13 1.3.1 Floresta Amazônica .........................................................................................13 1.3.2 Mata Atlântica ................................................................................................14 1.3.3 Pantanal Mato-grossense..................................................................................15 1.3.4 Zona Costeira .................................................................................................16 1.3.5 Cerrado .........................................................................................................16 1.3.6 Caatinga ........................................................................................................17 1.4 Diversidade étnica e cultural ......................................................................................18 1.5 O meio ambiente na legislação brasileira ...................................................................19 1.5.1 Áreas de proteção ambiental ............................................................................20 1.5.2 Instrumentos legais no Brasil .............................................................................22 Síntese ..........................................................................................................................24 Referências Bibliográficas ................................................................................................25 05 Capítulo 1 Introdução Você já parou para pensar que o meio ambiente com sua riqueza de recursos naturais nos presta um serviço ecossistêmico? Tudo que usamos, comemos e transformamos se originam do meio em que vivemos. Não planejar o uso dessas riquezas é como ganhar na loteria e gastar toda a fortuna em poucos anos, deixando desamparados nossos filhos e entes queridos. Na corrida do dia a dia ninguém está sempre atento, mas uma simples torneira gotejando signi- fica que, provavelmente, além de não haver preocupação com o amanhã, não há preocupação com o hoje. Um dos maiores causadores de poluição, escassez e fome no mundo é o desper- dício, que tem berço no consumo inconsciente já tão propagado nas sociedades globais. É que todo mundo quer ser feliz, e a felicidade na atmosfera do consumismo é “ter”. Enquanto isso, vivemos a condição inata do ser humano: esquecer! Já parou para pensar nisso? Na condição de seres humanos, diferentemente dos outros seres vivos que por instinto de so- brevivência se percebem parte da natureza, precisamos ser lembrados para estabelecer uma relação harmônica com o meio ambiente. A sustentação das condições favoráveis de vida e os recursos para a manutenção da nossa espécie dependem dos serviços que a natureza nos presta. Portanto, é imprescindível pautarmos nossas atividades econômicas e desenvolvimentistas numa relação harmoniosa de troca de serviços. Essa é a lógica do pagamento por serviços ambientais, aplicado como estratégia de governança em alguns estados brasileiros. Mas o que se espera é alcançar uma educação para a vida de modo que, espontaneamente, o homem preste servi- ços ambientais em troca dos serviços ecossistêmicos prestados pela natureza. Para tanto, serão abordados os seguintes tópicos: a interação do ser humano com o meio ambiente; os aspectos conceituais; os principais ecossistemas brasileiros; a diversidade étnica e cultural e, por fim, o meio ambiente na legislação brasileira. Acompanhe! 1.1 Interação do ser humano com o meio ambiente A concepção de natureza provém do latim natura, cujo sentido primitivo é a ação de fazer nascer. De acordo com Kesselring (1992), o conceito de natureza retrocede à antiguidade grega, por volta do século VI a. C., e prolonga-se até a cristianização do Ocidente, a partir do século III. O conceito grego de natureza (physis) contrapõe-se ao conceito da arte e artesanato (techne), onde a natureza era tida como eterna, sem criador, mas imperecível, pois ela mesma é o princípio do que surge e desaparece [...] (KESSELRING, 1992, p. 20). Meio ambiente 06 Laureate- International Universities Gestão Ambiental e Sustentabilidade Historicamente, a interação do ser humano com a natureza ocorreu em quatro momentos dis- tintos: 1. Idade Antiga: o ser humano interagia com o meio pela caça e seu objetivo era puramente a sobrevivência. 2. Idade Média: evolução da forma de produção artesanal característica da Idade Média para mecanização dos sistemas de produção, dando início à exploração dos recursos naturais para as primeiras formas de energia e à formação dos primeiros núcleos urbanos. 3. Idade Moderna: consolidação do homem industrial, do aumento da produtividade e, consequentemente, da intensificação das interferências ambientais. 4. Idade Contemporânea: o homem começa a tomar consciência da situação do meio ambiente e dos graves problemas ambientais e, portanto, é o homem que materializa o conceito de desenvolvimento sustentável na tentativa de compatibilizar progresso e proteção do meio ambiente. 1.2 Meio ambiente – aspectos conceituais De acordo com a Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas e os re- cursos naturais são definidos como a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora (BRASIL, 1981). Revisitando outros conceitos, temos alguns autores que se destacam, conforme Quadro 1: Autor Conceito de meio ambiente Odum (1998, s. p.) É o conjunto de elementos favoráveis, ou desfavoráveis, que cercam determinado ser vivo. Como as condições edafológicas (clima, solo, pastos). Barbieri (2007, s. p.) Ambiente natural e artificial, isto é, os ambientes físico e biológico originais e o que foi alterado, destruído e construído pelo pelos hu- manos, como as áreas urbanas, industriais e rurais. Ricklefs (2003, s. p.) Arredores de um organismo, incluindo as plantas, os animais e os micróbios com os quais interage. Morais (2011, s. p.) “Conjunto de fatores físicos (p. ex.: ar, água e solo), climáticos (p. ex.: temperatura e pluviosidade), químicos (p. ex.: Ph, salinidade) e biológicos (p. ex.: a cobertura vegetal e, fauna) de determinada área, incluindo todos os seres vivos que nela vivem; podem intervir na natureza ou no ambiente urbano, incluindo fatores sociais, cultu- rais e comportamentais dos seres humanos)”. Quadro 1 – Alguns conceitos de meio ambiente. Fonte: Elaborado pelo autor, 2015. Para Jollivet e Pave (2000), o meio ambiente que causa preocupações é aquele que se refere ao homem, às sociedades humanas, conforme descrito na Figura 1. Por isso, defendem como definição inicial o meioambiente como 07 [...] o conjunto de agentes físicos, químicos e biológicos e de fatores sociais suscetíveis de produzir um efeito direto ou indireto, imediato ou a longo termo sobre os seres vivos e as atividades humanas [...] (JOLLIVET; PAVE, 2000, p. 61). Condições Naturais Condiçoes Sociais Organismos Vivos Homem? Atividades Humanas Saúde? Desenvolvimento das sociedades humanas Figura 1 – Reflexão sobre meio ambiente. Fonte: Jollivet; Pave, 2000, p. 61. Adaptado por Cirilo; Lecy, 2011. Outra definição proposta pelos autores é que o meio ambiente constitui o conjunto de meios naturais (milieux naturels) ou artificializados da ecosfera onde o homem se instalou e que ele explora que ele administra, bem como o conjunto dos meios não submetidos à ação antrópica e que são considerados necessários à sua sobrevivência (JOLLIVET; PAVE, 2000, p. 61). O esquema proposto por Jollivet e Pave (Figura 2) ilustra a definição provisória da noção de meio ambiente e leva em consideração elementos que constituem os recursos naturais utilizados pelo homem. Homem Saúde Desenvolvimento das sociedades humanas Componentes físicos, químicos ou biológicos Componentes humanos e sociais ES TR U TU RA S ES PA ÇO T EM PO RA IS ECOSFERA PR O CE SS O S Figura 2 – Noção Provisória do Meio Ambiente. Fonte: Jollivet; Pave, 2000, p. 63. Adaptado por Cirilo; Lecy, 2011. Cientificamente, o meio ambiente pode ser compreendido como um sistema complexo carac- terizado pela interação contínua de fatores e fenômenos físicos, bióticos, socioeconômicos e culturais que se manifestam em fluxos de matéria, energia e informação capazes de proporcionar uma estrutura homogênea e funcional. 08 Laureate- International Universities Gestão Ambiental e Sustentabilidade Como atributos do meio ambiente podem ser compreendidos: • o capital natural, com fonte de bens e serviços ambientais que contribuem para o sustento da vida presentes nos ciclos biológicos, materiais e de energia; • o fornecedor de recursos para a produção (água como sistema de transporte), o consumo (serviços recreativos), o espírito (estética, paisagem), o equilíbrio da natureza (biodiversidade); • o receptor de resíduos de todos os produtos gerados pelas atividades econômicas. Utilização dos ecossistemas e bens ambientais (ar, água e solo) com sumidouros de resíduos segundo a capacidade de assimilação do meio ambiente para absorver os dejetos e a contaminação; • o modificador das atividades humanas, impondo limites na manipulação do ambiente diante do atual nível de conhecimento e tecnologia disponível; • o patrimônio comum da humanidade e sua dimensão material científica e cultural e a herança para as futuras gerações. Reconhece-se o direito intergerações de preservar as espécies únicas e representativas do sistema ambiental para entender a interação sociedade-ambiente, incluindo a própria cultura como uma projeção da natureza. As funções e os usos do meio ambiente podem ser apresentados em sete funções básicas defini- das por P. F. Eagles (apud HERRERO, 1997, p. 139) como sendo: 1. Função de suporte de carga – o meio ambiente proporciona o substrato espacial e físico das atividades humanas: » construção (urbano, industrial, infraestrutura etc.); » transporte (aéreo, terrestre, marítimo, lacustre, fluvial); » eliminação de resíduos; » recreativas antropocêntricas; » reservatório de espaço e substrato. A construção civil é um dos principais setores da economia brasileira em números de empregos gerados, bem como participação no PIB. A nova legislação de resíduos sóli- dos em vigor no país rigor é rigorosa quanto ao descarte de resíduos por parte das em- presas, sendo estas sujeitas a sanções penais. Um dos grandes problemas enfrentados é a falta (ou a ineficácia) de fiscalização por parte dos órgãos públicos, o que leva ao descumprimento das leis, submetendo o meio ambiente a impactos irreversíveis. VOCÊ SABIA? 09 2. Funções de produção conjunta – relações nas quais predominam as decisões humanas para o meio ambiente em seu papel ativo: » produção agrícola (água, solo e fertilidade); » produção animal intensiva e extensiva (pecuária); » outras funções de produção conjunta (aquicultura); » reserva de produção conjunta (fertilidade, genes, bioevolução). 3. Funções de produção natural – produção histórica da natureza: » bosques naturais (regulação da água, matérias-primas); » pescarias naturais; » vida silvestre; » “produtos menores” como água, nutrientes, produtos medicinais, frutas, flores etc.; » produção natural abiótica (energia solar, energia eólica, energia das marés etc.); » reserva de produção natural (estoques de minerais, combustíveis, espécies, genes etc.). 4. Funções de significação – mesmo que a natureza seja capaz de produzir por si mesma, a colheita humana da produção natural está relacionada com o significado e conhecimento humano sobre ela: » funções de sinal sobre indicadores espaciais e temporais (aquecimento terrestre); » significação científica; » orientação cultural; » relação homem/natureza; » participação (beleza natural); » contemplação (estética ambiental); » reserva de significação. 5. Funções de habitat – definem o lugar ecológico dos homens e do resto dos seres vivos do planeta: » desenvolvimento de espécies e ecossistemas proporcionando as condições básicas (espaço, energia, alimentos); » reserva de habitat (ritmo, modelos e mecanismos de bioevolução). 10 Laureate- International Universities Gestão Ambiental e Sustentabilidade 6. Funções de processador – benefícios para a humanidade derivados da capacidade do ambiente para amortizar riscos e perigos oriundos das ações humanas: » processador biológico abiótico (diluição, fotólises, absorção de resíduos e produtos tóxicos); » processador biótico (mineralização de resíduos orgânicos, umidificação etc.). 7. Função de regulação – refere-se à capacidade dos componentes ambientais para conter influências danosas de outros componentes: » blindagem (proteção contra altos níveis de radiação, furacões, inundações etc.); » contenção (amortização da erosão do solo, controle de pragas etc.). O Brasil é uma das grandes potências de energia renovável, ou seja, sem gerar impac- tos ambientais. Inúmeros projetos vêm sendo desenvolvidos e executados no país. Exem- plo disso são as usinas de energia eólica (parques eólicos), principalmente na Região Nordeste, com destaque para os estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. VOCÊ SABIA? As funções apresentadas são dependentes umas das outras e são resultados de estruturas di- nâmicas e evolutivas. Estudá-las desencadeia a reflexão sobre o valor econômico das funções ambientais (Figura 3), considerado pela ciência econômica como sendo um “valor intrínseco” dos bens e serviços ambientais derivados de sua existência. Valores de Uso Direto Consumo Direto Valores de Uso Indireto Bene�cios Funcionais Valores de Opção Valores de uso direto e indireto no futuro Valores de Existência Valor derivado do conhecimento e da existência permanente baseado, por exemplo, em condições morais Valores de Uso Direto Valores de uso e não uso dos descendentesAlimentos Biomassa Saúde Espécies Funções Ecológicos Regulação das tormentas Proteção contra enchentes Espaçamento Habitats protegidos Biodiversidade Habitats em Perigo Diversidade biológica Espécies ameaçadas Habitats Trocas irreversiveis Valor Econômico Total Valor de Uso Valores de Não Utilização TANGIBILIDADE DECRESCENTE DO VALOR PARA AS PESSOAS Figura 3 – Valores econômicos atribuídosao patrimônio ambiental. Fonte: Munasingle, M. Environmental Economics and Valuation of Development Decisions, Banco Mundial, 1992 apud Herrero, 1997. Adaptado por Cirilo, 2011. 11 O Benchmarking Brasil disponibiliza as principais práticas ambientalmente corretas aplicadas a empresas referências de sucesso. Discorridas no formato de cases, estão disponíveis no endereço: <http://benchmarkingbrasil.com.br/banco-de-praticas/>. VOCÊ QUER LER? 1.2.1 Biodiversidade O termo diversidade ecológica pode ser compreendido como sendo a grande variedade de es- pécies de plantas ou de animais existentes em uma determinada região, podendo fazer referência à pluralidade de espécies vivas (animais e vegetais), sem necessariamente identificar o vínculo entre as espécies para a manutenção da vida. Para Thomas e Callan (2010), a biodiversidade refere-se “à variedade de diferentes espécies, sua variabilidade genética e variedade de ecossistemas que habitam”. (THOMAS; CALLAN, 2010, p. 24). Para os autores, a identificação aproximada de 2,5 milhões de espécies existentes pode ser ainda maior, variando entre 5 e 10 milhões de espécies; alguns biólogos chegam a creditar que o número de espécies chegue a 100 milhões. Esta variedade torna-se importante para a ecologia, porque há interconexão e “a perda de uma espécie que seja pode trazer sérias implicações para as outras, incluindo a vida humana”. Para estes autores, a extensão da perda da diversidade é desconhecida; no entanto, em 2004, cerca de 1.250 grupos de plantas e animais foram classificados como espécies ameaçadas de extinção somente nos Estados Unidos da América (EUA) e mais de 500 espécies em outros países. A Convenção da Diversidade Biológica a define como sendo a variabilidade de organismos vivos de todas as origens e os complexos biológicos de que fazem parte: compreendendo ainda a di- versidade dentro das espécies, entre espécies e ecossistemas (BRASIL, 1992). Exemplo: por definição o meio ambiente é um conjunto de interações dentre estas com o ser hu- mano. A Constituição Federal de 1988 regulamenta a preservação ambiental. Da mesma manei- ra, a ECO-92 foi um importante evento que colocou o Brasil no cenário mundial para questões ambientais sendo um dos interlocutores com os chamados países desenvolvidos. Muitos pontos, porém, ainda se encontram em aberto quanto à diminuição de poluentes, aos investimentos em tecnologias sustentáveis, entre outras. Como podemos cobrar das organizações o cumprimento das normas, se na escala federal há falhas? Como você avalia esta situação? Podemos analisar o exemplo da seguinte maneira: um estado dar concessão para as obras de ampliação de um porto que implica na devastação de alguns hectares de mangue. Quais as ações para mitigar o passivo ambiental da região portuária? 12 Laureate- International Universities Gestão Ambiental e Sustentabilidade 1.2.2 A Convenção da Diversidade Biológica (CDB) A Convenção da Diversidade Biológica (CDB) é considerada um dos principais resultados da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – (Cnumad), reali- zada no Rio de Janeiro, em junho de 1992. É considerado um dos mais importantes instrumentos internacionais relacionados ao meio ambiente. Funciona como uma espécie de arcabouço legal e político para diversas outras convenções e acordos ambientais mais específicos, tais como (BRASIL, 1992): • o Protocolo de Cartagena sobre a biossegurança, que estabelece regras para a movimentação de organismos geneticamente modificados (OGMs) vivos entre países; • o Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura, que define no âmbito da FAO/ONU as regras para o acesso aos recursos genéticos vegetais e para a repartição de benefícios; • as Diretrizes de Bonn, que orientam o estabelecimento das legislações nacionais para regular o acesso aos recursos genéticos e a repartição dos benefícios resultantes da utilização desses recursos; • as Diretrizes para o Turismo Sustentável e a Biodiversidade; • os Princípios de Addis Abeba para a Utilização Sustentável da Biodiversidade; • as Diretrizes para a Prevenção, Controle e Erradicação das Espécies Exóticas Invasoras; • os Princípios e as Diretrizes da Abordagem Ecossistêmica para a Gestão da Biodiversidade. 1.2.3 Acesso aos recursos genéticos e repartição dos benefícios resultantes desse acesso O acesso aos recursos genéticos tem por objetivo a conservação da diversidade biológica na utilização sustentável de seus componentes e a repartição justa e igualitária dos benefícios da utilização desses recursos. Assim como a transferência adequada de tecnologias pertinentes, considerando todos os direitos sobre tais recursos e tecnologias mediante ao financiamento adequado. De acordo com a CDB 1992, as obrigações e procedimentos se concentram nas ações descritas a seguir. • Identificação e monitoramento de ecossistemas e habitats importantes para a conservação e utilização sustentável, levando em conta os indicativos contidos no Anexo I da CDB (que corresponde à grande diversidade, ao grande número de espécies endêmicas ou ameaçadas, ou vida silvestre; necessárias às espécies migratórias; espécies e comunidades que estejam ameaçadas; tenham valor medicinal, agrícola ou outro valor econômico; sejam de importância para a pesquisa para a conservação e utilização sustentável). • Conservação in-situ (de habitats e populações naturais): estabelecer um sistema de áreas protegidas, assim como diretrizes, regulamentos, proteção, recuperação e controle e riscos associados à utilização e liberação de organismos vivos modificados resultantes da biotecnologia que provoquem impactos negativos. • Conservação ex-situ (fora de seus habitats naturais): estabelecer e manter instalações para a conservação; recuperação e coleta ex-situ, assim como pesquisa de vegetais, animais e micro-organismos, de preferência nos países de origem do recurso genético. 13 • Utilização sustentável de componentes da biodiversidade; incentivos; pesquisa e treinamento; educação e conscientização pública; avaliação de impacto e minimização de impactos negativos; acesso a recursos genéticos, de comum acordo, respeitando os direitos soberanos e à legislação nacional dos países; acesso à tecnologia e transferência de tecnologia, em condições justas e mais favoráveis aos países em desenvolvimento, inclusive em condições concessionais, de forma a permitir ao setor privado o acesso à tecnologia; gestão da biotecnologia e distribuição de seus benefícios; mecanismos financeiros; solução de controvérsia. • Apresentação de relatório sobre as medidas que cada parte tenha adotado, a partir das datas estabelecidas pela CDB (BRASIL, 1992). Além das obrigações e procedimentos, foram estabelecidos importantes programas de trabalhos temáticos nas áreas de biodiversidade marinha costeira, biodiversidade das águas continentais, biodiversidade florestal, biodiversidade das terras áridas e subúmidas, biodiversidade das mon- tanhas e biodiversidade dos sistemas agrícolas (agrobiodiversidade). Além de programas sobre as áreas protegidas, conservação das plantas, conservação e uso sustentável dos polinizadores, transferência de tecnologias, medidas de incentivo econômico, proteção dos conhecimentos tra- dicionais dos povos indígenas e comunidades locais associados à biodiversidade, educação e sensibilização pública, entre outras (BRASIL, 1992). 1.3 Os grandes ecossistemas brasileiros A seguir, você conhecerá os aspectos dos principais ecossistemas brasileiros e sua biodiversidade a fim de entender o quanto estes estão diretamente ligados aos seus habitantes e a sua influência perante o território brasileiro. A Constituição Federal de 1988, em seu art. 225, parágrafo 4º, define a Floresta Amazônica brasileira,a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-grossense e a Zona Costeira como patrimônio nacional. Para que haja uso desses ecossistemas, é necessário observar os atributos legais e fazer uso e seus recursos naturais de forma sustentável. De acordo com Ferreira (1999), o ecossistema é o conjunto dos relacionamentos mútuos entre determinado meio ambiente e a flora, a fauna e os micro-organismos que nele habitam, e que incluem os fatores de equilíbrio geológico, atmosférico, meteorológico e biológico. Também são ecossistemas o Cerrado, a Caatinga e os Pampas (campos e pradarias) que represen- tam no ponto de vista ecológico importante valor de biodiversidade e igualmente merecem legis- lações específicas para nortear seu manejo de forma sustentável. 1.3.1 Floresta Amazônica A Floresta Amazônica é a maior floresta tropical do planeta. Formada por diversos ecossistemas, abrange nove países (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Su- riname e Venezuela), totalizando 7 milhões de km2 dos quais 5,5 milhões de km2 são cobertos por floresta ombrófila densa (floresta tropical pluvial). A porção brasileira da Floresta Amazônia ocupa 60% do país e se estende por nove estados: Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato- -Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. É a maior bacia hidrográfica do mundo. O prin- cipal rio, o Amazonas, e seus mais de mil afluentes lançam no Oceano Atlântico cerca de 175 milhões de litros d’água por segundo (PROJETO BIOMAS, 2010). 14 Laureate- International Universities Gestão Ambiental e Sustentabilidade Figura 4 – O Brasil compreende 60% da Floresta Amazônica. Fonte: Shutterstock, 2015. VOCÊ QUER VER? O filme Amazônia, dirigido pelo francês Thierry Ragobert, revela os mistérios da fauna e da flora da Floresta Amazônica pelo ponto de vista de um macaco-prego (espécie ameaçada de extinção). É possível assistir em VOD (Video On Demand) acessando o endereço: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-213875/>. 1.3.2 Mata Atlântica O Domínio da Mata Atlântica ou bioma Mata Atlântica (Figura 5) abrange cerca de 15% do terri- tório nacional, cobrindo total ou parcialmente 17 estados brasileiros. Composto por um conjunto de formações florestais: ombrófila densa, ombrófila mista (floresta de araucárias), estacional semidecidual, estacional decidual e ombrófila aberta. E também por ecossistemas associados como as restingas, manguezais e campos de altitude (PROJETO BIOMAS, 2010). Caracterização do bioma Mata Atlântica Área (milhões de ha) % Vegetação Remanescente 24,56 22,25 Área ocupada (Ações Antrópicas) 83,77 75,88 Água 2,06 1,87 Total 110,40 100 Tabela 1 – Caracterização do bioma Mata Atlântica. Fonte: Projeto Biomas, 2010. 15 Figura 5 – Floresta de Araucárias, exemplo de formação florestal ombrófila mista. Fonte: Shutterstock, 2015. 1.3.3 Pantanal Mato-grossense O Pantanal é uma zona de transição entre o Cerrado (no Brasil Central), o Chaco (na Bolívia) e a região amazônica (ao Norte do país), o que a torna uma rica região, formada por uma variedade de ecossistemas com fauna bastante diversificada. É considerado uma das maiores áreas úmidas contínuas do planeta. Em território brasileiro, cobre uma área estimada em 15,13 milhões de hectares, apresentando 83,14% de cobertura com vegetação nativa, contra aproximadamente 15% de área antrópicas, onde a maior parte é utilizada para a criação extensiva de gado em pastos plantados (IBGE, 2015). Caracterização do bioma Pantanal Área (milhões de ha) % Vegetação remanescente 12,58 83,14 Área ocupada (ações antrópicas) 2,30 15,18 Água 0,25 1,68 Total 15,13 100 Tabela 2 – Caracterização do bioma Pantanal. Fonte: Projeto Biomas, 2010. 16 Laureate- International Universities Gestão Ambiental e Sustentabilidade Figura 6 – Onça pintada, exemplar da fauna diversificada do Pantanal. Fonte: Shutterstock, 2015. 1.3.4 Zona Costeira A Zona Costeira ou biomas costeiros, assim denominado por abrigar diversos tipos de ecossiste- mas, ocupa cerca de 3,5 milhões km² longo do litoral nas costas sul, sudeste, leste, nordeste e norte, onde encontram-se manguezais, restingas, dunas, praias, ilhas, costões rochosos, baías, falésias, recifes de corais e outros ambientes ecológicos, resultando numa rica biodiversidade (PROJETO BIOMAS, 2010). 1.3.5 Cerrado O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro. Abrange uma área aproximada de 203 milhões de hectares. Localiza-se principalmente no Planalto Central Brasileiro, constituído por árvores relativamente baixas (de até 20 metros), distribuídas entre arbustos e gramíneas. Sua vegetação típica formada por troncos e ramos retorcidos, cascas espessas e folhas grossas, o faz ser com- parado às savanas da África e da Austrália (PROJETO BIOMAS, 2010). Caracterização do bioma Cerrado Área (milhões de ha) % Vegetação remanescente 104,29 51,16 Área ocupada (ações antrópicas) 98,30 48,22 Água 1,26 0,62 Total 203,85 100 Tabela 3 – Caracterização do bioma Cerrado. Fonte: Projeto Biomas, 2010. 17 Figura 7 – O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro. Fonte: Shutterstock, 2015. 1.3.6 Caatinga A Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro. Com uma área aproximada de 82 milhões de hectares, ocupa 11% do país. É o principal ecossistema/bioma da Região Nordeste, mas tam- bém está presente no extremo Norte de Minas Gerais e Sul dos estados do Maranhão e do Piauí. Sua vegetação típica é seca e espinhosa devido à falta de chuvas durante grande parte do ano. Entre os animais que integram a fauna da Caatinga estão os lagartos (como o teiú), as serpentes (cascavel e jararaca) e as aves (siriema, pomba-de-bando, quenquém e juriti). Caracterização do bioma Caatinga Área (milhões de ha) % Vegetação nativa 44,1 53,38 Área ocupada (ações antrópicas) 37,9 45,92 Água 0,83 1,01 Total 84,44 100 Tabela 4 – Caracterização do bioma Caatinga. Fonte: Projeto Biomas, 2010. Em 2010, foi lançado o Projeto Biomas, resultado de uma parceria entre a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embra- pa), com o objetivo de viabilizar soluções com árvores para a proteção, recuperação e o uso sustentável de propriedades rurais nos diferentes biomas brasileiros. Conheça o Projeto Biomas na íntegra acessando o endereço: <http://www.projetobio- mas.com.br>. VOCÊ QUER LER? 18 Laureate- International Universities Gestão Ambiental e Sustentabilidade 1.4 Diversidade étnica e cultural Além dos biomas, o Brasil conta com uma considerável diversidade étnica e cultural e com alto grau de miscigenação entre os grupos indígenas, os descendentes de negros africanos e os bran- cos. Dentre os europeus, os portugueses foram responsáveis pela colonização e formam o mais importante contingente cultural. A partir do século XIX, vieram italianos, espanhóis, alemães, poloneses e ucranianos. Da Ásia, vieram os japoneses, os sírios e os libaneses. A partir do século XX e sobretudo nos últimos 50 anos, intensificou a extração de recursos na- turais em todo o planeta. No Brasil, o crescimento econômico veio acompanhado de crescente intervenção em áreas até então preservadas, o que determinou significativa perda da diversidade biológica. A remoção de parte da Floresta Amazônia, principalmente para a abertura de rodo- vias para atividades de mineração, colonização e avanço da fronteira agrícola e da exploração madeireira, que persiste até os dias atuais (BRASIL, 1992). No Cerrado, a remoção de vegetação nativa é provocada pelo avanço da fronteira agropecuária e pelo aumento da população. A Caatinga sofre com as prolongadas secas, a desertificação, a erosão do solo e a salinização. A Mata Atlântica sofre com a concentração populacional ao longo de séculos e hoje mantém menos de 10% davegetação nativa original (BRASIL, 1992). No intuito de enfrentar a perda de biodiversidade no país, o Governo brasileiro busca realizar importantes parcerias com a sociedade civil por intermédio dos setores empresarial, científico/ acadêmico e o setor ambientalista não governamental. Dentre as iniciativas apontadas, a CDB destaca (BRASIL, 1992): • Até 1990, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) havia aprovado a criação de cerca de 100 unidades de conservação em diferentes ecossistemas. O Brasil apresenta hoje avanços significativos quanto a áreas de conservação in-situ. Só em áreas federais, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) detém 168 unidades de conservação, que correspondem a 5,64% do território brasileiro, ou seja, 48,03 milhões de hectares ou 480,4 mil km², sendo 89 unidades de uso indireto (não extrativista) e 79 de uso direto. As unidades de conservação classificadas como de uso indireto são: 39 parques nacionais, 24 reservas biológicas, 21 estações ecológicas e 5 reservas ecológicas; e as de uso direto são: 9 reservas extrativistas, 46 florestas nacionais e 24 Áreas de Preservação Ambiental (APAs). O manejo destas unidades é de responsabilidade do IBAMA. A este total devem ser adicionados 26,31 milhões de hectares de unidades de conservação estaduais e 341 mil hectares de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), além das unidades de conservação municipais, não computadas nesta totalização. • Em 1991, o PPG-7 Programa Piloto de Conservação da Floresta Tropical foi aprovado para reduzir o desmatamento na Amazônia e na Mata Atlântica brasileira e promover sua conservação. • Em 1992, o Brasil foi o primeiro signatário da CDB na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Cnumad) no Rio de Janeiro. • Em 1994, a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) entrou em vigor. Entre os programas e projetos para a implementação da CDB, destacam-se o Programa Nacional de Diversidade Biológica (Pronabio). Foi criado em dezembro de 1994 com o objetivo de promover parceria com a sociedade civil na conservação e utilização sustentável da diversidade biológica para coordenar, acompanhar e avaliar as ações, determinadas no Decreto nº 1.354/1994: fixar prioridades de pesquisa, conservar e utilizar de forma sustentável a diversidade biológica; estabele- cer critérios gerais de aceitação e selecionar projetos pela Comissão Coordenadora do programa. 19 O Pronabio é o principal instrumento de implementação da CDB e conta com uma série de pro- jetos e atividades, entre os quais destacam-se: Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira – Probio. Teve início em 05/06/1996, com duração prevista de 5 anos. Trata-se de um acordo de Doação TF28398, firmado entre o Governo brasileiro e o Fundo para o Meio Ambiente Mundial (Global Evironmental Facility – GEF), Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), com aporte financeiro do tesouro nacional, em valor equivalente a US$ 10 milhões, e recursos concessionais do GEF no valor equivalente a US$ 10 milhões. Fundo Brasileiro para a Biodiversidade – Funbio. Criado em 28 de setembro de 1995, origi- nou-se a partir de uma doação de recursos no valor de US$ 20 milhões do GEF, a serem adminis- trados na Fundação Getulio Vargas (FGV), visando à constituição de um mecanismo de fomento eficiente e de longo prazo capaz de atrair o setor privado como parceiro. O primeiro Edital para selecionar e contratar projetos foi lançado em dezembro de 1996, e foram apresentadas 1.083 cartas-consultas, 129 demandas foram consideradas qualificadas, 10 projetos foram seleciona- dos para receber os US$ 2,4 milhões disponibilizados para o período. Para o edital inaugural, foram considerados os seguintes temas: Manejo Sustentável de Florestas Naturais, Conservação de Ecossistemas Naturais em Propriedades Privadas, Manejo Sustentável de Recursos Pesqueiros, Agricultura e Biodiversidade e Gestão de Unidades de Conservação. Estratégia Nacional de Biodiversidade Brasileira e 1º Relatório para a CDB – com o objeti- vo de identificar as prioridades nacionais e regionais, orientando as políticas setoriais no contex- to do desenvolvimento nacional, estabelecendo diretrizes para o desenvolvimento em diferentes setores, incluindo agricultura, silvicultura, pesca, energia, mineração, transporte, uso da terra, zoneamento, indústria, saúde, saneamento e desenvolvimento urbano. Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – sua responsabilidade recai sobre as ativida- des e projetos de engenharia genética, cultivo, manipulação, uso, transporte, estoque, comér- cio, consumo, liberação de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs). Assuntos como: plantio de soja transgênica e a necessidade ou não de estudo de impacto ambiental para esta avaliação é de competência da CTNBio. Agrobiodiversidade foi o tema tratado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e a Embrapa, em 1996. Propuseram a criação de um Programa de Trabalho em Biodiversidade Agrícola, que foi submetido à SBSTTA (Órgão Subsidiário de Assessoramento Científico, Técnico e Tecnológico) em Montreal, Canadá, e serviu de base para a Decisão III/11 da 3ª Conferência das Pares, que criou o Programa de Trabalho em Agrobiodiversidade. 1.5 O meio ambiente na legislação brasileira A valorização do meio ambiente no Brasil ganhou destaque a partir da Lei nº 6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), que a define em seu artigo 3º, Inciso I, como sendo “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.” (BRASIL 1981). No patamar político, a Constituição Federal de 1988 incorporou o meio ambiente no artigo 255, caput, e atribui que: [...] todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem como de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para os presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988). 20 Laureate- International Universities Gestão Ambiental e Sustentabilidade Segundo Milaré (2001, p. 66), o meio ambiente assume “caráter patrimonial” e sua fundamenta- ção é claramente antropocêntrica, segundo a qual o mundo natural tem valor apenas enquanto atende aos interesses da espécie humana. Para dar ênfase à disposição do Direito brasileiro, Milaré (2001, p. 68) tece considerações de que são elementos do meio ambiente, além do ar, a água e o solo, a biosfera, os bens culturais e históricos, que se inserem nos recursos ambientais, bem como o meio ambiente artificial ou humano, integrado ou associado ao patrimônio natural. Na busca por atribuir mais responsabilidades aos estados por força da execução das normas de Proteção do Meio Ambiente, a PNMA, o governo federal instituiu o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), aperfeiçoando as normas estaduais vigentes. E, com isso, abriu precedentes para a instituição de espaços físicos com características ambientais especiais que pudessem ser preservadas e conservadas pelo seu valor patrimonial. 1.5.1 Áreas de proteção ambiental As áreas de proteção ambiental foram introduzidas no Direito brasileiro pela Lei nº 6.902, de 27 de abril de 1981, no seu artigo 8º e atribui esta responsabilidade ao Poder Executivo, sempre que: [...] houver relevante interesse público, poderá declarar determinadas áreas do território nacional como de interesse para a proteção ambiental, a fim de assegurar o bem-estar das populações humanas e conservar ou melhorar as condições ecológicas locais (BRASIL, 1981). Estas áreas de proteção devem ser criadas por decretos em que devem estar contidos a sua denominação, os seus limites geográficos,principais objetivos, as proibições e restrições de uso dos recursos ambientais. Quanto ao uso destas áreas para habitação, residência e atividades produtivas e econômicas, não há restrição desde que sejam orientadas e supervisionadas por órgãos ambientais que assegurem o cumprimento das determinações legais e que sua finalidade seja instituída por lei, e que sejam elaborados planos de manejo para que as atividades sejam executadas de forma equilibrada. Para Antunes (2000), as Áreas de Preservação Ambiental (APAs) têm como objetivo assegurar o bem-estar das populações humanas e, para atender tais condições, deve-se aprimorar as con- dições ambientais existentes no interior da APA, como espaços protegidos que, não obstante a ampla proteção legal de que são merecedores, não se constituem em áreas intocáveis (ANTU- NES, 2000, p. 287). Para Gottardo, a APA é: [...] uma categoria de Unidade de Conservação em que se conciliam os interesses econômicos e ambientais. É a gestão do território com base nas suas características ambientais, a partir das quais se estabelecem normas de convívio entre os ecossistemas (GOTTARDO, 2002, p. 36). A Resolução Conama 10/1988, define APA como: Unidade de Conservação, destinada a proteger e conservar a qualidade ambiental e os sistemas naturais ali existentes, visando a melhor qualidade de vida da população local e também objetivando a proteção os ecossistemas regionais (BRASIL, 1988). Além disso, a APA deve ser compreendida como uma área que deve ser submetida a um regime especial de gestão ambiental, de forma a inibir a expansão desordenada da ocupação do solo, considerada uma das principais ameaças aos atributos naturais. 21 Como forma de ilustrar a implantação de uma APA, o governo do estado da Bahia criou por meio do Decreto nº 1.046, de 17 de março de 1992, a APA do Litoral Norte, compreendida em uma faixa litorânea com 10 km de largura e 142 km de extensão, ao longo da Rodovia BA-099 a cha- mada Linha Verde, com 142.000 ha e que corta os municípios de Jandaíra, Conde, Esplanada, Entre Rios e Mata de São João (BAHIA, 1992). Segundo Gottardo (2002, p. 38) o decreto instituiu a APA Litoral Norte e também uma comis- são de coordenação para elaboração o plano de manejo e respectivo zoneamento ecológico- -econômico. O mesmo decreto designou a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Bahia (Conder) como entidade administradora da APA nos termos da Resolução Conama 10/1988, com a incumbência de prestar assistência técnica e administrativa às cinco prefeituras municipais dos municípios citados, além de supervisionar e fiscalizar as atividades a serem realizadas na área e responsável pela elaboração do plano de manejo. O plano de manejo e o seu zoneamento ecológico-econômico são instrumentos operacionais práticos que orientam e disciplina a ocupação do território compreendido nos limites territoriais de uma APA, bem como regular a utilização dos recursos ali existentes. E, por consequência, por força de lei, os investimentos que forem direcionados para esta região deverão estar subordina- dos a esta legislação e às expectativas da sociedade local. No caso da APA Litoral Norte do estado da Bahia, em conformidade com o plano de manejo, uma política de desenvolvimento deve estar pautada nas fragilidades e diversidades socioam- bientais, considerando o potencial existente para empreendimentos econômicos diversificados e atividades extrativistas, a preservação de elementos naturais, a necessidade de dotação de infraestrutura e de controle do uso e a ocupação do solo e a conservação do seu patrimônio histórico e cultural enquanto elementos de forte centralidade na estruturação da vida social local (GOTTARDO, 2002, p. 39). Segundo Antunes (2000) nas APAS são limitadas ou proibidas as seguintes atividades: a) a implantação e o funcionamento de indústrias potencialmente poluidoras capazes de afetar mananciais de água; b) a realização de obras de terraplanagem e a abertura de canais, quando essas iniciativas importarem em sensível alteração das condições ecológicas locais; c) o exercício de atividades capazes de provocar uma acelerada erosão das terras e/ou um acentuado assoreamento das coleções hídricas; d) o exercício de atividades que ameacem extinguir na área protegida as espécies da biota regional. Atividades que degradem o meio ambiente estão subordinadas a Estudo de Impacto Ambiental (EIA) como uma modalidade de Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), instituído pelo Conama, com base no art. 48 do Decreto nº 88.351/1983, que expediu a Resolução nº 001 de 23 de janeiro de 1986, artigo 3º revogado pela Resolução 237/1997, que segundo Milaré (2001, p. 290): “[...] é um dos mais notáveis instrumentos de compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente [...]”, uma vez que a elaboração se dá antes da instalação de uma obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação, nos termos do artigo 225, parágrafo 1, IV, da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988). O plano de manejo de uma APA deve passar pela aprovação de um órgão ambiental superior, a exemplo do que ocorreu com o Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental do Litoral Norte do estado da Bahia, que, em 21 de fevereiro de 1995, por meio da Resolução nº 1.040, o Conselho Estadual do Meio Ambiente (Cepram), no uso das atribuições que lhe foram conferidas 22 Laureate- International Universities Gestão Ambiental e Sustentabilidade pela legislação e no processo Cepram nº 940.001.243/8, resolve em seu art. 1 aprovar o Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental do Litoral Norte do estado da Bahia, com o objetivo do desenvolvimento sustentável da área, objeto do Decreto nº 1.046 de 17 de março de 1992 (BRASIL, 1992). 1.5.2 Instrumentos legais no Brasil A seguir, veja os destaques da Convenção da Diversidade Biológica (CDB) de 1992, expressos nos diversos instrumentos legais (decretos, leis, resoluções e portarias) que dispõem dos assuntos referentes à proteção ambienta (BRASIL, 1992): Lei nº 4.771, de 15/9/1965, aprova o código florestal. Decreto nº 98.830, de 15/01/1990, dispõe sobre a coleta, por estrangeiros, de dados e mate- riais c Lei nº 8.171, de 17/01/1991 dispõe sobre a política agrícola, em especial seu Capítulo VI “Da Proteção ao Meio Ambiente e da Conservação dos Recursos Naturais”. Decreto Legislativo nº 2, de 03/02/1994, publicado em 08/02/1994, aprova o texto da CDB. Instrumento de ratificação da CDB depositado nas Nações Unidas, em 28/02/1994, entrando em vigor para o Brasil em 29/05/1994. Decreto nº 1.160, de 21/6/1994, publicado em 22/06/1994, cria a Comissão Interministerial de Desenvolvimento Sustentado - Cides. Revogado em 26/2/1997. Portaria Interministerial nº 03, de 22/7/94, publicada em 23/7/1994, cria o Grupo de Trabalho Interministerial para propor e acompanhar as atividades relacionadas à diversidade biológica. Portaria MMA nº 327, de 13/12/1994, publicada em 16/12/1994, aprova o regimento interno da SMA/MMA, onde é criado a Coordenação Geral de Diversidade Biológica - Cobio. Decreto nº 1.354, de 29/12/1994, publicado em 30/12/1994, institui o Programa Nacional de Diversidade Biológica - PRONABIO e cria a Comissão Coordenadora do Programa. Lei nº 8.974, de 05/01/1995, regulamenta os incisos II e V do parágrafo 1 do art. 225 da Cons- tituição Federal, estabelece normas para o uso das técnicas de engenharia genética e liberação no meio ambiente de organismos geneticamente modificados e autoriza o poder executivo criar, no âmbito da Presidência da República, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTN- Bio. Decreto nº 1.752, de 20/12/1995, regulamenta a Lei 8.974, dispondo sobre a vinculação, com- petência e composição da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio. PortariaMMA nº 115, de 28/04/1995, publicada em 03/05/1995, cria o Grupo Consultivo de diversidade biológica com a finalidade de identificar uma fundação de direito privado para administrar recursos financeiros concessionais internacionais e recursos captados junto ao setor privado nacional, bem como fomentar projeto de conservação e utilização sustentável da diver- sidade biológica brasileira. Projeto de Lei nº 306, de 26/10/1995, dispõe sobre instrumentos de controle de acesso aos re- cursos genéticos do país e dá outras providências. Este Projeto de Lei da Senadora Marina Silva, após passar por audiências públicas, e análise pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado, foi enviado ao Senado para aprovação em agosto de 1998. 23 Lei nº 9.257, de 09/01/1996, dispõe sobre o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia. Portaria MMA de 23/5/1996 designa os membros para compor a Comissão Coordenadora do Pronabio. Decreto de 26/02/1997, publicado em 27/02/1997, cria a Comissão de Políticas de Desenvol- vimento Sustentável e da Agenda XXI Nacional, e Revoga o Decreto 1.160. Decreto nº 2.519, de 16/3/1998, publicado em 17/3/1998, promulga a Convenção CDB. Decreto nº 2.577, de 30/4/1998, altera o Decreto nº 1.752/1995 sobre a composição da CTNBio. Resolução Conama nº 254, de 14/04/1999, publicada em 14/06/1999, cria a Câmara Técnica Temporária com o objetivo de elaborar uma proposta de anteprojeto de lei que atualize o código florestal (Lei nº 4771/1965). Apesar da diversidade de instrumentos legais que visam à proteção da biodiversidade, o diretor de Assuntos Corporativos e Relações Governamentais da Natura e líder do Movimento Empre- sarial pela Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade (MEB), Rodolfo Witzig Guttilla, afirmou durante a Conferência Ethos em 2011: “O evidente valor da biodiversidade para o bem- -estar humano, assim como as vantagens comparativas do Brasil para o desenvolvimento susten- tável, não são acompanhados de mecanismos de incentivo ao uso dessa biodiversidade no país”. Rodolfo Witzig Guttilla nasceu em São Paulo, em 1962. Formado em Comunicação Social e Ciências Sociais, é mestre em Antropologia pela PUC-SP. Autor de artigos sobre a preservação ambiental, entre os quais O novo marco legal da biodiversidade (FOLHA DE S. PAULO, 2015), também publicou poemas e dedica-se aos estudos sobre o haicai no Brasil. Para ler o artigo citado, acesse: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ opiniao/211200-o-novo-marco-legal-da-biodiversidade.shtml>. VOCÊ O CONHECE? Durante a Conferência Ethos 2011, no painel Biodiversidade o contexto das políticas públicas e da implementação no Brasil dos objetivos e metas para 2020 do Plano Estratégico de Conser- vação da Biodiversidade foi debatido com os representantes de empresas, a sociedade civil e o Governo. Dentre as metas discutidas e propostas para 2020, estiveram a necessidade de incluir o valor da biodiversidade em planos de desenvolvimento e nas contas públicas nacionais, de eliminar incentivos lesivos e implementar positivos, além de reduzir pela metade ou eliminar a conversão os ecossistemas até 2020 (CONFERÊNCIA ETHOS, 2011). 24 Laureate- International Universities Síntese Ao concluir este estudo você teve a oportunidade de: • conhecer os principais conceitos sobre meio ambiente; • acompanhar a interação do homem com o meio ambiente ao longo do tempo; • identificar os principais biomas brasileiros; • entender a importância da biodiversidade; • conhecer os principais aspectos da legislação ambiental. Síntese 25 Referências AMAZÔNIA. Direção: Thierry Ragobert. Produção: Globo Filmes, Biloba Films, Gullane. Roteiro: Thierry Ragobert et. al. França; Brasil, 2013. VOD, 86 min. ANTUNES, P. B. Direito Ambiental. 4. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000. BAHIA. Governo do Estado. Decreto nº 1.046 de 17 de março de 1992. Cria a Área de Pro- teção Ambiental do Litoral Norte do Estado da Bahia e dá outras providências. Disponível em: <http://governo-ba.jusbrasil.com.br/legislacao/83859/decreto-1046-92>. Acesso em: 22 jan. 2016. BARBIERI, J. C. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos, 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. BENCHMARKING BRASIL. Banco de práticas. Disponível em: <http://benchmarkingbrasil.com. br/banco-de-praticas/>. Acesso em: 22 jan. 2016. BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompi- lado.htm>. Acesso em: 22 jan. 2016. ______. Presidência da República. Lei nº 6.902 de 27 de abril de 1981. Dispõe sobre a cria- ção de Estações Ecológicas, Áreas de Proteção Ambiental e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6902.htm>. Acesso em: 22 jan. 2016. ______. Presidência da República. Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6938compila- da.htm>. Acesso em: 22 jan. 2016. ______. Ministério do Meio Ambiente. Convenção da Diversidade Biológica, Rio de Janeiro, 1992. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/biodiversidade/convencao-da-diversidade-bio- logica>. Acesso em: 22 jan. 2016. CONFERÊNCIA ETHOS. Protagonistas de uma nova economia. São Paulo, 2011. Disponível em: <http://www.siteuniethos.org.br/ce2011/>. Acesso em: 22 jan. 2016. FERREIRA, A. B. de H. Aurélio século XXI: o dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. GOTTARDO, L. C. Turismo sustentável e desenvolvimento. Estudo de caso: mega-resorts na Costa do Sauípe: um modelo internacional de desenvolvimento turístico. 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