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Resumo direito civil III Conceito de contrato resumido Classicamente, contrato é definido como o acordo de vontades com finalidade de produzir efeitos jurídicos. O contrato deve ser compreendido como “uma relação jurídica subjetiva, nucleada pela solidariedade constitucional, destinada à produção de efeitos jurídicos existenciais e patrimoniais, não só entre os titulares da relação, como também perante terceiros”. Frise-se: o novo conceito de contrato não exclui sua função econômica, apenas deixa de tratá-la como absoluta. Funções do contrato Função econômica: o contrato é instrumento de circulação de riquezas; Função regulatória: o contrato é materialização da autonomia privada (autorregulação de acordo com as limitações legais); Função ambiental: “os fatores ambientais informam dispositivos legais cuja observância constitui causa justificativa do exercício da liberdade contratual, pois contidos em normas de ordem pública (cogentes), não sendo possível a autorregulamentação da vontade pelas partes derrogá-los” (Lucas Barroso, 2012, p. 63); Função social: reconhece-se que o contrato não apenas gera efeitos entre as partes contratantes, mas também, no meio social; O contrato deve ser pensado como instrumento de conciliação de interesses, de desenvolvimento da personalidade, de desenvolvimento econômico e harmonizador social. Planos de existência, validade e eficácia Quando se analisa existência do contrato busca-se verificar seus elementos estruturantes (ou essenciais). Quando se analisa a validade visa-se a observação dos requisitos de conformidade com a esfera jurídica. Quando se examina a eficácia, evidencia-se a capacidade de produção de efeitos imediatos. Os pressupostos de existência : a) vontade, sendo que de sua declaração (exteriorização) surgem os efeitos; b) juridicidade (agente, idoneidade do objeto e forma – sem adjetivos!); c) finalidade negocial ou jurídica (é o propósito, o fim, buscado pela declaração de vontade); Os pressupostos de validade: a) agente capaz (trata-se de capacidade de exercício ou de fato – vide sistema de incapacidades nos artes. 3o. e 4o., CC); b) objeto lícito (que não contraria a lei, a moral ou os bons costumes), possível (física e juridicamente) e determinado ou determinável; c) forma prescrita ou não defesa em lei; Os pressupostos de eficácia : relacionam-se às consequências desejadas pelas partes contratantes e variam de acordo com cada espécie contratual; com a presença de elementos acidentais (termo, condição e encargo) e com as consequências do inadimplemento (juros, cláusula penal, perdas e danos...) Princípios contratuais Em virtude da constitucionalização do Direito Privado, a liberdade e a autonomia contratual passaram a ser pensadas a partir da dignidade da pessoa humana, da solidariedade e da função social. Por isso, foi necessária a revisão dos conceitos clássicos contratuais, pensados agora a partir da ótica solidarista e personalista. Aula 2 Interpretação dos contratos Toda manifestação de vontade necessita de interpretação para que se identifique o seu alcance e significado, bem como, para que se possa executá-la corretamente. A interpretação contratual pode ser: Declaratória: quando tem como único escopo a descoberta da intenção comum dos contratantes no momento da celebração do contrato; Construtiva ou integrativa: quando objetiva o aproveitamento do contrato, mediante o suprimento das lacunas e pontos omissos deixados pelas partes. Negociações preliminares (puntuação, tractaus, trattative, pourparlers) Diferença entre tratativas e propostas : “As tratativas são atos tendentes à análise da viabilidade do contrato. A proposta, por sua vez, é a exteriorização do projeto de contrato, a manifestação de uma vontade definida em todos os seus termos, dependente apenas da concordância da parte contrária para o aperfeiçoamento do contrato” Configuram-se as negociações preliminares a partir da aproximação das partes, estabelecendo suas primeiras intenções, investigando vantagens e desvantagens e avaliando a conveniência da futura contratação. Trata-se de fase eventual que pode ter início com a inquirição do preço da coisa ou até mesmo a elaboração de uma minuta. Portanto, é fase que antecede à oferta. As tratativas não foram expressamente previstas pelo Código Civil, justamente porque, em regra, não geram vínculo quanto à futura celebração do contrato definitivo. Excepcionalmente, o rompimento das tratativas pode gerar responsabilidade civil pré-contratual (aquiliana) por violação dos deveres anexos de conduta. Oferta (proposta, policitação, oblação) “É declaração receptícia de vontade dirigida por uma pessoa a outra (com quem pretende celebrar o contrato), por força da qual a primeira manifesta sua intenção de se considerar vinculada, se a outra parte aceitar”. A oferta traduz uma vontade definitiva de contratar – art. 427, CC. Trata-se de negócio jurídico unilateral (escrito ou verbal) que deve conter todos os elementos essenciais à formação do negócio proposto para ter força obrigatória. • Policitante (ofertante, oferente, proponente, solicitante) – aquele que realiza a proposta; • Oblato (aceitante, policitado, solicitado) – aquele que recebe a proposta Aceitação É negócio jurídico unilateral pelo qual alguém concorda com os termos da oferta. Trata-se de direito potestativo do oblato que vincula o proponente a cumprir o que foi ofertado. A aceitação pura e simples faz com que o contrato seja considerado concluído (formado). A aceitação realizada fora do prazo, com adições, restrições ou modificações será considerada contraproposta (art. 431, CC) e, neste caso, os papeis do oblato e do proponente se inverterão. A aceitação pode ser escrita ou verbal; expressa ou tácita. O silêncio (aceitação tácita) do oblato excepcionalmente será considerado aceitação quando (art. 432, CC): a) O negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa. b) O proponente tiver dispensado a aceitação expressa. Aceitação não terá força vinculante quando: a) Embora expedida a tempo, por motivos imprevistos, chegar tarde ao conhecimento do proponente (art. 430, CC); b) Antes da aceitação, ou com ela, chegar ao proponente a retratação do aceitante (art. 433, CC). Tempo de formação dos contratos Identificar o momento em que o contrato foi formado é importante para se estabelecer a sua força vinculante. Quanto ao tempo de formação dos contratos, o Código Civil diferencia a contratação entre presentes e entre ausentes: a) O contrato entre pessoas presentes reputa-se formado imediatamente ao tempo da aceitação da oferta (art. 428, I, CC), se o policitante não tiver estabelecido prazo para esta manifestação. b) O contrato entre pessoas ausentes, quatro teorias se destacam: i. Teoria da declaração propriamente dita (agnição): o contrato reputa-se formado quando o oblato escreve a resposta. ii. Teoria da expedição: o contrato reputa-se formado no momento em que o oblato envia sua resposta (art. 434, caput, CC). iii. Teoria da recepção: o contrato reputa-se concluído no momento em que a aceitação é entregue ao proponente. iv. Teoria da informação (cognição): o contrato reputa-se concluído no momento em que o proponente é cientificado da aceitação. Aula 3 Classificação dos Contratos Obrigação Unilateral: são os contratos que criam obrigações unicamente para uma das partes; Bilateral (sinalagmático ou de prestações correlatas): são os contratos que geram obrigações (recíprocas) para ambos os contratantes, como a compra e venda, a locação, o contrato de transporte. Há dependência recíproca das obrigações (sinalagma); Plurilaterais ou plúrimos: são os contratos que contêm mais de duas partes cuja prestação de cada uma se dirige à realização de um fim comum, como, por exemplo, o contrato de sociedade e o contrato de consórcio, em que cada sócio é uma parte. - Quanto aosacrifício ou atribuição patrimonial das partes: Gratuitos ou benéficos: são aqueles em que apenas uma das partes aufere benefício ou vantagem, onerando a outra parte, como sucede na doação pura e no comodato. Gratuitos propriamente ditos: acarretam a diminuição patrimonial a uma das partes como ocorre nas doações puras. Ex.: oferecer uma carona a um amigo; Desinteressados: não acarretam a diminuição patrimonial a uma das partes, embora beneficiem uma delas. Ex.: comodato e mútuo. Onerosos: são contratos em que ambos os contratantes obtêm proveito, ao qual, porém, corresponde um sacrifício patrimonial. Em geral, todo contrato bilateral é oneroso. Exceção – ex.: mandato (ex. com pagamento a posteriori de despesas necessárias à sua execução). - Quanto ao momento de aperfeiçoamento do contrato ou quanto à constituição do contrato Consensuais (solo consensu): são aqueles que se formam unicamente pelo acordo de vontades, independente da entrega da coisa ou de determinada forma. São exemplos a compra e venda de móveis pura (art. 482, CC); a locação e o mandato; Reais: são os que exigem, para se aperfeiçoar, além do consentimento, a entrega da coisa que lhe serve de objeto, como os contratos de depósito, comodato e mútuo. - Quanto à função econômica De troca: os que se caracterizam pela permuta de utilidades econômicas; Associativos: os que se caracterizam pela coincidência de seus fins; De prevenção de riscos: os que se caracterizam pela assunção de riscos por parte de um dos contratantes; De crédito: os que se caracterizam pela obtenção de um bem com intenção de restituição futura; De atividade: os que se caracterizam pela prestação de uma conduta de fato da qual decorre a utilidade econômica. Aula 4 Vícios Redibitórios “Vícios redibitórios são defeitos ocultos [recônditos ou não aparentes] existentes na coisa alienada, objeto de contrato comutativo, não comuns às congêneres, que a tornam imprópria ao uso a que se destina ou lhe diminuem o valor, de tal modo que o ato negocial não se realizaria se esses defeitos fossem conhecidos, dando ao adquirente ação para redibir o contrato ou para obter abatimento no preço”. É teoria que tem por fundamento: A quebra da sinalagma; O princípio de garantia da utilidade natural da coisa adquirida; O princípio do equilíbrio contratual (equivalência material). Requisitos: O defeito deve prejudicar o uso da coisa ou lhe diminuir sensivelmente o valor; O defeito deve ser grave (efetiva inutilidade do objeto); O defeito deve ser oculto ou desconhecido do adquirente; O defeito deve existir no momento da formação do contrato e perdurar até o momento da reclamação (art. 444, CC); O contrato deve ser comutativo; doação onerosa ou doação remuneratória; O contrato deve se referir a obrigação de dar coisa certa. A teoria dos vícios redibitórios não se aplica aos contratos aleatórios. A prova da existência do vício e de sua anterioridade à tradição compete ao adquirente. Ações edilícias 1. Ação redibitória – art. 443, CC – destina-se a rejeitar o bem e restitui-lo ao alienante, e pode ser cumulada com perdas e danos; 2. Ação quanti minoris ou estimatória – destina-se a requerer o abatimento proporcional do preço, levando-se em conta a extensão do defeito. - A escolha da ação a ser proposta cabe ao adquirente, salvo no caso de perecimento do bem, em virtude do defeito oculto, pois, nesta hipótese, obrigatoriamente, deve-se propor a redibitória. - Escolhida a ação, ela é irrevogável. Não cabe ação edilícia: No caso de coisa vendida conjuntamente (art. 503, CC); Em caso de inadimplemento contratual (art. 389, CC); Na hipótese de erro quanto às qualidades essenciais do objeto. Prazos para reclamar sobre os vícios: a) 30 dias contados da tradição, se a coisa for bem móvel; b) 1 ano da tradição, se a coisa for bem imóvel; c) Se a coisa já estava em poder do adquirente esses prazos serão reduzidos à metade e contados a partir da alienação; d) Se a coisa for bem semovente os prazos serão os previstos em leis especiais e, não havendo, serão os dos usos locais; e) No entanto, se pela natureza do vício ele só foi conhecido mais tarde, o prazo para as ações deve ser contado a partir do momento do seu conhecimento pelo adquirente até no máximo 180 dias para bens móveis e 1 ano para bens imóveis. Os prazos para exercício das garantias por vícios redibitórios não correm durante a vigência das cláusulas de garantia contratual (art. 446, CC). As partes podem ajustar cláusula excludente de garantia pelos vícios redibitórios ou cláusula aumentativa da garantia (art. 446, CC). O alienante, no entanto, não poderá invocar a excludente da cláusula de garantia se tinha conhecimento do vício e nada comunicou ao adquirente (dolo por omissão, art. 147, CC).
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