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QUESTÕES ED ANGELA PIZZO NP2

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MÓDULO 5 - RESISTÊNCIA NEGRA E O MOVIMENTO ABOLICIONISTA: ACONTECIMENTOS ANTES E DEPOIS DA LEI ÁUREA. ESTEREÓTIPOS RACIAIS A PARTIR DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL: O PROCESSO DE MARGINALIZAÇÃO DO NEGRO. MOVIMENTOS SOCIAIS E AÇÕES AFIRMATIVAS: É POSSÍVEL
Módulo 3 - Africanidades: alguns aspectos da História Africana dos Negros no Brasil
Em primeiro lugar, cabe-nos definir o conceito de africanidades brasileiras. Trata-se de um processo de valorização e resgate da história e cultura africana e afro-brasileira, a fim de desfazer os estereótipos raciais construídos pelos grupos dominantes (brancos, homens, proprietários, livres e ricos). Assim, podemos dizer que esse é um paradigma que considera a perspectiva dos negros brasileiros na formação da cultura e da sociedade brasileira. Significa enxergar o mundo através de uma lente sob a perspectiva dos afrodescendentes, segundo nos define Silva (2003, p. 26):
A expressão africanidades brasileiras refere-se às raízes da cultura brasileira que têm origem africana. Dizendo de outra forma, queremos nos reportar ao modo de ser, de viver, de organizar suas lutas, próprio dos negros brasileiros e, de outro lado, às marcas da cultura africana que, independentemente da origem étnica de cada brasileiro, fazem parte do seu dia-a-dia.
(...) Então, estudar Africanidades Brasileiras significa estudar um jeito de ver a vida, o mundo, o trabalho, de conviver e lutar por sua dignidade, próprio dos descendentes de africanos que, ao participar da construção da nação brasileira, vão deixando nos outros grupos étnicos com que convivem suas influências, e, ao mesmo tempo, recebem e incorporam as daqueles.
A partir, portanto, dessas concepções, é mister que façamos essa reconstrução histórica através de uma perspectiva diferente daquela que temos utilizado em nossas escolas durante tanto tempo. Uma perspectiva que dê a conhecer a grande participação dos africanos na formação do Brasil. Uma perspectiva que os apresente não apenas em sua condição de escravizados, mas como personagens participantes daconstrução histórica, que, com suas culturas, línguas, formas de organização e economia, participaram expressivamente da construção dissoque somos hoje.
3.1. Pegando o fio da história: a África antes de 1500
Em geral, fomos ensinados a pensar a partir de uma série de concepções bastante deturpadas ou incompletas sobre o continente africano e sua população, concepções essas em geral propagadas pelo pensamento conservador, responsável em grande medida pela formulação do chamado racismo científico.
É nesse sentido que toda a história da África passou a ser sistematicamente distorcida, esquecida ou menosprezada nos livros de história e assim foi transmitida a nós e aos nossos alunos há tantas gerações. Vamos começar a rever um pouco tudo isso e tentar pegar o fio dessa história, primeiramente com um trecho de Salum (2005, sem página):
Para compreendermos a cultura material das sociedades africanas, a primeira questão que se impõe é a imagem que até hoje perdura da África, como se até sua "descoberta", fosse esse continente perdido na obscuridade dos primórdios da civilização, em plena barbárie, numa luta entre Homem e Natureza.
De fato, a história dos povos africanos é a mesma de toda humanidade: a da sobrevivência material, mas também espiritual, intelectual e artística.
A impressão que temos a partir do que estudamos em nossa vida escolar, é de que a África, antes do início da exploração portuguesa, era um território “perdido no mapa”, com povos “primitivos”, sem cultura escrita e com tribos selvagens que guerreavam e se escravizavam mutuamente. Atualmente, nosso conhecimento sobre esse continente é tão parco que chegamos a pensar nele como um único país, “a África”. Oliva (2003, p. 423) inicia seu artigo, intitulado “A História da África nos bancos escolares: representações e imprecisões na literatura didática”, fazendo a seguinte pergunta: “O que sabemos sobre a África?”. Repare como sua resposta nos parece infelizmente bastante familiar:
Quantos de nós estudamos a África quando transitávamos pelos bancos das escolas? Quantos tiveram a disciplina História da África nos cursos de História? Quantos livros, ou textos, lemos sobre a questão? Tirando as breves incursões pelos programas do National Geographic ouDiscovery Channel, ou ainda pelas imagens chocantes de um mundo africano em agonia, da AIDS que se alastra, da fome que esmaga, das etnias que se enfrentam com grande violência ou dos safáris e animais exóticos, o que sabemos sobre a África? Paremos por aqui. Ou melhor, iniciemos tudo aqui.
É verdade: temos que reconhecer que sabemos nada ou quase nada sobre a África. A partir dessa primeira constatação, cabe-nos, como educadores, a responsabilidade de sanar tal deficiência em nossa formação e procurar nos apropriar dos conteúdos sobre a história da África e dos negros no Brasil, disponíveis na íntegra para downloads na Internet.
 
3.2. Heranças coloniais africanas e a formação de um país chamado Brasil
Primeiramente, acompanhe conosco esta breve revisão histórica: sabemos que o Brasil é resultado de um longo processo de exploração colonial promovido por Portugal, com apoio financeiro da burguesia de então que, apesar de ainda não deter o poder político no século XVI, já era proprietária de boa parte das riquezas disponíveis na época, reservas suficientes para servirem de investimentos às empresas colonizadoras portuguesas rumo às Américas.
Assim, é importante ficar claro que já estávamos em pleno capitalismo moderno e que o Brasil nada mais era do que um negócio bastante interessante e promissor, tanto para os monarcas portugueses que comandaram politicamente a empreitada colonizadora, quanto para os burgueses e homens de negócio da Europa que patrocinavam tais empreendimentos.
Existe uma linha de raciocínio que já faz parte de nosso senso comum, segundo a qual os problemas do Brasil estão diretamente ligados à formação de sua população, uma vez que teriam sido mandados para cá os “piores cidadãos” portugueses, indesejados na Europa, quase “deportados” para uma terra onde poderiam “fazer do seu jeito” todas as coisas reprováveis que antes faziam em Portugal. Daí vem também uma das explicações correntes sobre o nosso “jeitinho brasileiro”, no sentido de que as leis não funcionam aqui porque desde a formação do Brasil foram trazidos para cá somente ladrões, bandidos, vagabundos, prostitutas e desocupados de todo tipo.
Isso não é verdade e a explicação fundamental está no fato de sermos, naquela época, a empresa mais rentável de Portugal.
Portanto, tínhamos aqui uma base importante para o sustento da monarquia portuguesa, que já enfrentava problemas sérios, tanto políticos quanto econômicos, para se manter nas relações capitalistas europeias daquele momento. É nesse sentido que homens e mulheres passam a ser enviados ao Brasil com a incumbência de fazer esse país-continente fornecer riquezas suficientes para sustentar os luxos e extravagâncias da família real e sua aristocracia e, ao mesmo tempo, para pagar os investimentos feitos pela burguesia de então, elite econômica durante aquele período.
Foi com essa mentalidade que os portugueses começaram a explorar de todas as formas o território brasileiro, retirando de nossos solos e florestas todas as matérias-primas que tivessem algum valor no mercado capitalista europeu.
Muito cedo, entretanto, os portugueses perceberam que um dos grandes problemas que teriam em sua missão de exploração brasileira seria a escassez de mão de obra para realizar um trabalho de tão grande monta como o que precisava ser realizado por aqui.
Uma solução encontrada foi a de trazer negros africanos, vindos de Angola e do Congo, para trabalharem na agricultura. Como os portugueses já dominavam a arte das navegações, não foi difícil forçar populações africanas a se transferirem para o Brasil, submetendo-os a uma das condições de vida e trabalho mais desumanas que a história já assistiu.
É interessante que, mais uma vez, o que aprendemos emnossos bancos escolares a respeito das justificativas sobre o tráfico negreiro aponta os índios como seres acostumados à liberdade e que se recusaram ao trabalho escravo; já os negros, por estarem acostumados à escravidão já existente no continente africano, teriam se submetido mais passivamente à condição de objeto, coisa. Novamente, são explicações que não fazem qualquer sentido lógico.
Pois é, mais uma vez podemos verificar como esse processo, cujas raízes são profundas, perdura até os dias de hoje, sendo que tais representações ainda aparecem na maioria dos livros didáticos disponíveis para nossos alunos e professores.
É nesse sentido que acreditamos ser possível enxergar a História da África e suas implicações para a História do Brasil de maneira bastante diferente daquela utilizada em nossos bancos escolares. Ao nosso ver, a apropriação que fazemos de cada fato histórico recontextualizado segundo a perspectiva das africanidades brasileiras, abrirá possibilidades e potencialidades na ação/relação educativa, capazes de refazer nossas raízes autoritárias e racistas e promover, por fim, uma realidade de igualdade entre todos e todas.
 Módulo 6 A -
RESISTÊNCIA NEGRA E O MOVIMENTO ABOLICIONISTA: ACONTECIMENTOS ANTES E DEPOIS DA LEI ÁUREA. ESTEREÓTIPOS RACIAIS A PARTIR DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL: O PROCESSO DE MARGINALIZAÇÃO DO NEGRO
Hélio Santos, cita a dor que “são muitas as feridas da patologia racial brasileira que o país acumulou ao longo do tempo. Assim, a dor é inevitável. Há quem conclua —, incorretamente — que na vida se possa acostumar a tudo, até mesmo com a dor. Tratando-se de um machucado tão antigo, colocar para fora o sangue ruim pode ser o caminho para a cura.
Para compreender toda a problemática que envolve a escravidão no Brasil é necessário que você se debruce na verdadeira história, aquela que é desvendada pelos estudiosos do tema, entre eles Hélio Santos.
Na página 66 do livro de Hélio Santos é citada a questão da identidade, entende-se por identificar quem nós somos, como os outros me veem enquanto cidadão. A identidade é fundamental para um indivíduo, para sentir-se bem é pré requisito para “conquistar e reforçar a autoestima, sentir-se ótimo e pronto para a vida”.
Assim, como não é possível um chinês passar por judeu, o mesmo ocorre com um negro que pensa poder passar por um branco(SANTOS,2011). Hélio Santos cita que na verdade há dores conscientes e inconscientes em todo esse processo (2011, p.64).
RACISMO: A LEGITIMAÇÃO DA ESCRAVIDÃO (PÁG 65 E 66)
Escravidão patriarcal = os derrotados tornavam-se escravos (Na antiguidade a escravidão era originária das guerras não conotação racial)
Escravidão colonial= a crença dos invasores europeus da inferioridade dos negros legitimou e autorizou o rapto destes na África.
      400 mil pessoas raptadas na África não chegaram no Brasil.
 4 milhões de africanos + os “crioulos” os que viriam a nascer  - trabalharam muito.
 Para os escravistas os negros eram desprovidos de inteligência e não possuíam alma.
O COTIDIANO DO ESCRAVO (PÁG. 67 A 69)
- O escravismo é uma violência. Não há o que possa justificá-lo. No Brasil prevaleceu a ideia que o índio não era escravizável, o negro sim.
- O trafico de negros chegou a render 4.000%. Hoje, só o tráfico de cocaína rende tanto dinheiro.
Era difícil os cativos terem família ou romancear as relações.
1.    A dificuldade da relação verdadeira;
2.    O afastamento e confinamento das mulheres;
 
3.    A dificuldade de construir uma família (grupos étnicos diferentes)
 
DO ESCRAVO-TRABALHADOR A TRABALHADOR– ESCRAVO (PÁG. 77-88)
A Lei 3.353 de 13 de maio de 1888 não aboliu a escravidão (abolir no sentido de acabar). A chamada Lei Áurea apenas declarou a escravidão extinta. Há uma diferença entre extinguir uma coisa e declará-la extinta.
As elites preservaram tudo para si e, após 350 anos de superexploração da força de trabalho negra, passaram a optar pela mão de obra importada da Europa. Após a abolição, a população negra partiu da senzala para as margens.
 
Na página 79, Hélio Santos cita que às oportunidades no mundo do trabalho o ex-escravo tinha três caminhos possíveis:
Optar por permanecer junto àqueles negros que já estavam libertos e trabalhar em condições análogas às anteriores;
Tentar atuar onde havia produtividade, criando condições para a sua efetivação em um verdadeiro mercado de trabalho;
Os negros poderiam ainda enfrentar a concorrência da mão de obra vinda da Europa (sobretudo a italiana), que estava em melhores condições de atuar em um regime de trabalho livre. 
ENTENDA O DIA SEGUINTE AO DA ABOLIÇÃO (PÁG. 79-80)
- 700 mil pessoas foram colocadas de uma só vez em disponibilidade num mercado de trabalho fictício.
- A magnitude numérica desse fato foi tão aguda que ainda hoje se faz sentir os seus efeitos danosos à população negra.
- Os 350 anos de escravidão acabaram por estigmatizar o negro como escravo, pois não o viam como alguém qualificado para as relações de trabalho livre.
Lembre-se os escravos contribuíram significativamente por mais de 350 anos e ajudaram a enriquecer a sociedade e a economia brasileira. No entanto, com o fim da escravidão, segundo Santos (2011, pag. 79-80), “a população negra partiu da senzala para as margens”. Isto é, não recebeu nenhum benefício por todo o trabalho prestado para a sociedade brasileira.
 
 
MÓDULO 6 B -
Movimentos sociais e ações afirmativas: é possível acelerar o processo de mudança?
 
Após estudarmos o livro de Hélio Santos, e compreendermos a complexa interpretação que este autor nos fornece sobre a trilha do circulo vicioso do racismo brasileiro, você deve estar se perguntando: mas, afinal, será possível reverter esse processo perverso?
Pois a nossa tese é: Sim! Isso é possível! A partir deste módulo, começaremos a apresentar algumas dessas possibilidades, partindo dos movimentos negros que tradicionalmente lutam contra o racismo e por igualdade de condições, e passando à definição de ações afirmativas e suas principais implicações.
 
6.1 Movimentos negros na luta contra o racismo: para uma nova condição afrodescendente
Muitos de nós, ao longo de nossa trajetória escolar, já devemos ter nos deparado com algumas das seguintes explicações para a escravização do negro e para a posição que este ocupa até hoje em nossa sociedade:
a) Durante o processo de colonização do Brasil feita pelos portugueses, a escravização do negro foi “preferível” à do índio, pois aquele sempre fora mais “passivo”, “aceitando” de forma mais mansa sua própria escravização.
b)  Ou então: o negro, por ser mais “preguiçoso”, se acomodava à sua condição de escravo, o que fez com que permanecesse nela por quase 400 anos. São ideias que sustentam ideologicamente concepções naturalizantes da condição do negro como escravo, como se os africanos já tivessem nascido escravos, numa tentativa de apagar todo o processo econômico e social de escravização de pessoasnegro-africanas por escravizadores portugueses brancos.
c)  Ou ainda: os negros estão na situação em que estão hoje porque querem, porque não têm “competência” para “conquistar” o que os brancos conquistaram.
São explicações esdrúxulas e indignantes, mas que infelizmente todos nós já ouvimos pelo menos uma vez na vida. Para que a crítica que estamos realizando fique mais clara, pedimos que você reflita sobre os seguintes questionamentos:
         Será mesmo que alguém pode se “acomodar” à condição de escravizado ou toda a história da resistência negra sempre foi propositalmente esquecida pelos historiadores?
         Será que o negro realmente “aceitou passivamente” sua escravização ou se organizou em inúmeros movimentos ao longo da história colonial, imperial e republicana brasileira, movimentos esses nunca citados nos livros de História?
         Será que as estatísticas que insistentemente mostramos anteriormente confirmam a “superioridade” e “competência” do branco em relação à “falta de capacidade” do negro ou são o reflexo da sociedade desigual, aristocrática e racistana qual vivemos?
É lógico que você já percebeu que nossa tese nesta disciplina procura confirmar sempre a segunda parte das perguntas anteriores, não é?Neste módulo, queremos reforçar o papel do movimento negro contemporâneo na luta contra as desigualdades raciais no Brasil, bem como na promoção de outra condição para os afrodescendentes, a partir, principalmente, de uma tomada de consciência dessas questões e da implantação de políticas de ações afirmativas, das quais falaremos em seguida.
Destacamos ainda a importância de que as crianças aprendam nas escolas uma outra história do Brasil, uma história recontada, que desta vez,leve em consideração esse personagem que, mesmo tão importante, foi tão estigmatizado em nossos livros tradicionais, sendo tomado apenas como “escravo”. Após a implantação das leis 10639/2003 e 11.645/2008, muitos incentivos foram dados à produção bibliográfica, para que grupos temáticos fossem formados e passassem a escrever um farto material pedagógico sobre a história da África e dos negros no Brasil. Muitos desses materiais estão disponíveis na íntegra para downloads na Internet; outros se encontram à venda nas livrarias; ou ainda sendo distribuídos gratuitamente, seja por órgãos públicos, seja por organizações não governamentais, com o apoio da iniciativa privada.
6.2. A especificidade das Ações Afirmativas para negros no Brasil
A força do movimento negro contra todas as formas de discriminação por raça ou cor e pela garantia de direitos sociais fundamentais da população afro-brasileira acabou por se traduzir basicamente em duas formas na legislação antirracista vigente atualmente no Brasil: de um lado, através de uma legislação penal que pune todo ato discriminatório; por outro, a partir da promoção de igualdade de oportunidades a grupos desfavorecidos socialmente, através das chamadas ações afirmativas.
Neste subtópico, vamos nos aprofundar apenas nessa última, procurando mostrar um pouco da discussão em torno de um tema ainda tão polêmico no Brasil, que mexe com os ânimos de intelectuais, ativistas e políticos, tanto de esquerda, quanto de direita, com negros, brancos e amarelos, com as pessoas de modo geral, professores, alunos, profissionais, donas de casa etc. O debate em torno das ações afirmativas é capaz de mobilizar opiniões em qualquer âmbito social ou contexto cultural, principalmente porque fazem parte delas algumas políticas que procuram garantir cotas para afrodescendentes em universidades e empresas, visando à inclusão justa desse segmento populacional.
Mas, afinal, o que são as ações afirmativas? De acordo com Bernardino (2002, p. 256-257)
(...) são entendidas como políticas públicas que pretendem corrigir desigualdades socioeconômicas procedentes de discriminação, atual ou histórica, sofrida por algum grupo de pessoas. Para tanto, concedem-se vantagens competitivas para membros de certos grupos que vivenciam uma situação de inferioridade a fim de que, num futuro estipulado, esta situação seja revertida. Assim, as políticas de ação afirmativa buscam, por meio de um tratamento temporariamente diferenciado, promover a equidade entre os grupos que compõem a sociedade.
A discussão sobre as ações afirmativas procedem dos Estados Unidos, onde o movimento negro lutou e conseguiu a garantia de leis que promovessem, ao mesmo tempo: primeiro, um “ ressarcimento” às perdas de oportunidades vividas pelos negros naquele país em consequência de políticas segregacionais; segundo, uma “aceleração” do lento processo histórico, para a inclusão social a curto prazo desse segmento populacional, bem como a ascendência de minorias étnicas, raciais e sexuais. Em ambos os casos, segundo Guimarães (2009, p. 170), são ações “para remediar uma situação considerada socialmente indesejável”.
 Claro que “remediar” não é o ideal de nenhuma realidade verdadeiramente democrática. Assim, é preciso considerar as ações afirmativas como uma medida paliativa, transitória e, portanto, temporária, devendo ser extinta assim que as condições sociais estiverem mais equilibradas para grupos sociais em desvantagem, como negros, indígenas e mulheres, por exemplo.
Ações afirmativas são, nesse sentido, uma espécie de “discriminação ao contrário”, também denominada como “discriminação positiva”, no sentido de proporcionar algumas vantagens aos grupos historicamente em desvantagem (e por isso considerados “minorias”), como negros, idosos, mulheres, indígenas, crianças, adolescentes etc., oferecendo-lhes facilidades temporárias para um acesso mais rápido aos direitos sociais básicos que lhes foram por tanto tempo sistematicamente negados. Para o Direito, esse recurso é denominado “mitigação de danos”, previsto em legislação brasileira, inclusive.
 
Leitura obrigatória:
SANTOS, H. A busca de um caminho para o Brasil: a trilha do círculo vicioso. São Paulo: Editora Senac, 2001 (O arco-íris brasileiro. A forma como se deu a abolição: 1º passo, A trilha do círculo vicioso: A forma como se deu a abolição, 1º passo, p. 39-85).
SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves e. Africanidades brasileiras: esclarecendo significados e definindo procedimentos pedagógicos. Revista do Professor. Porto Alegre, jan./mar. 2003, v. 19, n. 73, p. 26-30.
MUNANGA, Kabengele. Alguns aspectos da História Africana dos Negros no Brasil, p. 59-84). Disponível em: <http://www.ufscar.br/~neab/pdf/enmedio_verde_compl.pdf>
 
Leitura para aprofundamento:
SILVÉRIO, Valter Roberto; ABRAMOWICZ, Anete; BARBOSA, Lúcia Maria Assunção (Coords). Projeto São Paulo Educando pela Diferença para a Igualdade. Módulo II - Ensino Médio. 2004. Universidade Federal de São Carlos – NEAB / UFSCar 
DE PAULA, Marilene; HERINGER, Rosana (orgs.). Estado e Sociedade na Superação das Desigualdades Raciais no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Heinrich Boll, ActionAid, 2009 (Texto 6A: Política negra e democracia no Brasil contemporâneo: reflexões sobre os movimentos negros, p. 227-258). Disponível em:  <http://www.boell-latinoamerica.org/downloads/caminhos_convergentes.pdf>
Domingues, Petrônio. Ações afirmativas para negros no Brasil: o início de uma reparação histórica. Revista Brasileira de Educação, ago. 2005, n.29, p.164-176. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-24782005000200013&script=sci_arttext> 
SALUM, Marta Heloísa Leuba (Lisy). África: culturas e sociedades. Sítio Arte Africana, Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE/USP) São Paulo, jul. 2005. Disponível em: <http://www.arteafricana.usp.br/codigos/textos_didaticos/002/africa_culturas_e_sociedades.html> Acesso em: 27 de jul. 2011.
 
Filmes e músicas sugeridos para atividades complementares:
Filme: Amistad. Dir.: Steven Spielberg. EUA, 1997.
Filme: Quilombo. Dir.: Cacá Diegues. Brasil, 1984.
Filme: Lixo Extraordinário. Dir.: Lucy Walker, João Jardim, Karen Harley. Brasil/Reino Unido, 2010.
Filme: Marcha Zumbi dos Palmares contra o racismo, pela cidadania e a vida (1695-1995). Dir.: Edna Cristina. Brasil, 1995.
Filme: Uma Onda no Ar. Dir.: Helvécio Ratton. Brasil, 2002.
Filme: Histórias Cruzadas. Dir.: Tate Taylor. EUA, 2011.
Música: O Mestre-Sala Dos Mares, Aldir Blanc e João Bosco.
Música: O Canto das Três Raças, Mário Duarte e Paulo César Pinheiro.
Música: A Mão da Limpeza, Gilberto Gil.
Música: Estrela da Terra, Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro.
Música: Negro Drama, Racionais Mc's. 
 
Exercício comentado 1:
As alternativas abaixo apresentam alguns dos mitos e inverdades que acabaram sendo propalados a respeito de nosso passado colonial e escravista, exceto:
A) O nosso povoamento é fruto de uma política colonial que teria enviado às terras brasileiras os “piores cidadãos” portugueses, indesejados na Europa, como ladrões, corruptos e desqualificados de toda sorte.
B) Os índios não puderam ser escravizados, pois eram mais rebeldes, tinham o espírito de liberdade e não se sujeitaram às condições impostas pelo trabalho escravo.
C)  O Brasil já era parte de um grande projeto capitalista moderno desde o início de sua colonização,com altos investimentos da elite econômica da época, representada pela burguesia.
D) Os negros, por já estarem mais acostumados à escravidão no continente africano, foram mais facilmente trazidos ao Brasil e submetidos ao trabalho forçado.
E) A escravidão no Brasil foi uma das mais longas na história moderna devido ao caráter passivo e acomodado dos negros, que pouca ou nenhuma resistência apresentavam à sua condição de escravo.
 
Comentário: Alternativa correta (C):
Ao contrário do que algumas fontes apresentam, o Brasil colonial e agrário não representava uma sociedade arcaica e medieval, mas constituiu-se como a maior empresa capitalista de Portugal no período chamado de capitalismo monopolista-comercial-manufatureiro. As demais alternativas trazem afirmações errôneas, que em muito colaboraram e ainda colaboram para a construção de estereótipos a respeito dos negros na história do Brasil.
 
Exercício comentado 2:
(Concurso Público, adap. FCC – 2004) Leia o texto abaixo e responda:
 
Limites das cotas
 
As regras anunciadas pela UnB (Universidade de Brasília) para seu programa de cotas raciais para negros e pardos dão bem a medida da inconsistência desse sistema. Os candidatos que pretendem beneficiar-se das cotas serão fotografados "para evitar fraudes".
Uma comissão formada por membros de movimentos ligados à questão da igualdade racial e por "especialistas no tema" decidirá se o candidato possui a cor adequada para usufruir da prerrogativa.
Para além do fato de que soa algo sinistra a criação de comissões encarregadas de avaliar a "pureza racial" de alguém, faz-se oportuno lembrar que, pelo menos para a ciência, o conceito de raça não é aplicável a seres humanos. Os recentes avanços no campo da genômica, por exemplo, já bastaram para mostrar que pode haver mais diferenças genéticas entre dois indivíduos brancos do que entre um branco e um negro. (...)
Esta Folha se opõe à política de cotas por entender que nenhuma forma de discriminação, nem mesmo a chamada discriminação positiva, pode ser a melhor resposta para o grave problema do racismo. A filosofia por trás das cotas é a de que se pode reparar uma injustiça através de outra, manobra que raramente dá certo. (...)
(Folha de S. Paulo. 22/03/2004, p. A-2)
 
Em nossos estudos, discutimos sobre a polêmica questão das cotas raciais nas universidades públicas brasileiras. Este editorial do jornal Folha de São Paulo, publicado em 2004, posiciona-se claramente contra a política de cotas, mas sabemos que esta posição não é uma unanimidade na arena política. Sobre este debate, assinale a alternativa incorreta:
 
a) A discussão sobre as ações afirmativas procedem dos Estados Unidos, onde o movimento negro lutou e conseguiu a garantia de leis que promovessem a igualdade racial naquele país.
b) As cotas são como uma espécie de “ressarcimento” às perdas de oportunidades vividas pelos negros em consequência de políticas segregacionais.
c) A “aceleração” do lento processo histórico, para a inclusão social a curto prazo de segmentos populacionais excluídos, bem como aascendência de minorias étnicas, raciais e sexuais, pode ser considerada um dos objetivos das chamadas ações afirmativas, como as cotas, por exemplo.
d) A reserva de vagas exclusivas para negros nas universidades federais tornou-se obrigatória no Brasil a partir da aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, em 2010.
e) As ações afirmativas podem ser consideradas como uma medida paliativa, transitória e, portanto, temporária, devendo ser extinta assim que as condições sociais estiverem mais equilibradas para grupos sociais em desvantagem, como negros, indígenas e mulheres, por exemplo.
 
Comentário: Alternativa correta (D):
De fato, o Estatuto da Igualdade Racial foi aprovado em julho de 2010 e apresenta-se como um importante instrumento na promoção e garantia dos direitos sociais e econômicos aos afrodescendentes, direitos esses historicamente negados aos negros no Brasil. Entretanto, dada à polêmica que causou, o texto específico que impunha a obrigatoriedade da reserva de vagas para negros nas universidades e empresas brasileiras foi retirado do texto final desta Lei.
EXERCÍCIOS:
1. Assinale a alternativa que não apresenta uma justificativa válida para a importância dos movimentos negros no Brasil.
R. Os negros aceitaram passivamente sua escravidão, não tendo registros na história sobre a organização de movimentos negros ao longo da história colonial, imperial e republicana brasileira.
2. (Adap. ENEM) Cada um dos argumentos abaixo nos mostram a perspectiva daqueles que são a favor das cotas para negros nas universidades brasileiras. Assinale a única alternativa que é discordante desta opinião:
R. O acesso à universidade deve basear-se em um único critério: o de mérito. Não sendo assim, a qualidade acadêmica pode ficar ameaçada por alunos despreparados. Nesse sentido, a principal luta é a de reivindicar propostas que incluam maiores investimentos na educação básica.
3. A respeito da promulgação de leis antirracistas no Brasil, é incorreto afirmar:
R. Como as leis no Brasil não são cumpridas, a legislação antirracista teve pequeno impacto na promoção da igualdade racial no país.
4. A reserva de vagas para negros nas universidade públicas é um dos pontos polêmicos nas discussões e lutas do movimento negro atual no Brasil. O movimento negro se divide, a mídia se coloca muitas vezes de maneira parcial, e a questão inflama debates na opinião pública.
 Para estimular sua reflexão, leia a opinião da nova ministra Luiza Bairros, publicada pelo jornal Folha de São Paulo:
 Cota não é "dá ou desce", diz nova ministra 
 
Gaúcha radicada em Salvador há 31 anos, atual secretária de promoção da igualdade da Bahia, a socióloga Luiza Bairros, 57, assumirá a Seppir (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial), órgão vinculado à Presidência da República.
À Folha ela defende as cotas raciais, em contraposição às sociais, e diz que o melhor não é impor ações às universidades federais -posição que se opõe ao atual entendimento da pasta. "Não é assim, sim ou não, dá ou desce. Existem formas que o próprio Estado pode adotar para criar estímulos."
 Folha - Há uma ação que a sra. sabe que precisa ser feita?
Luiza Bairros - A agenda de erradicação da miséria. A secretaria deve ressaltar o fato de que, no Brasil, a maioria das pessoas em situação de pobreza e miséria é negra.
Folha - E como isso seria alcançado?
Luiza Bairros - A partir de medidas coordenadas e articuladas. As questões mais específicas são muito importantes. Quer dizer, tanto é importante o acesso ao Bolsa Família como viabilizar que os que já o recebem saiam do programa.
A questão da educação é extremamente importante, porque temos uma evasão escolar bastante grande, o que é particularmente grave na população negra.
Também a saúde. De novo, entre os negros é que se registram mortes mais precoces e em maior número.
Folha - O Estatuto da Igualdade Racial foi aprovado neste ano sob críticas de retirada de pontos importantes. A sra. concorda?
Luiza Bairros - Não. O estatuto gerou no movimento negro uma expectativa alta. Na discussão no Congresso, foi perdendo aspectos considerados fundamentais pelo movimento, como a questão das cotas.
Boa parte da insatisfação se deve à percepção de que foi retirado um instrumento eficiente na redução das desigualdades raciais. Agora, deve ser ressaltado que, no ensino universitário, as cotas foram implantadas independentemente de legislação.
Folha - Todas as universidades federais deveriam ter cotas?
Luiza Bairros - O êxito da iniciativa nas que adotaram é tão evidente que deveria ser um indicador importante para as que ainda não estão convencidas.
Folha - De forma impositiva ou não?
Luiza Bairros - Qualquer pessoa negra desejaria que todas as instituições adotassem um tipo de medida para fazer face a uma coisa real, que são diferenças na inserção social, política, econômica entre brancos e negros, independentementeda questão da pobreza.
Folha - Ou seja, não é cota por estrato social, mas para negro?
Luiza Bairros - Não é mesmo. Mesmo quando você analisa as estatísticas de desigualdade racial, é importante observar que, nas informações por renda entre brancos e negros, as diferenças continuam.
(Folha de São Paulo, Cotidiano, 24 dez. 2010)
A partir das proposições apresentadas pela ministra, assinale a alternativa falsa em relação à política de reserva de vagas para negros na universidade públicas brasileiras:
R. A reserva de vagas exclusivas para negros nas universidades federais tornou-se obrigatória no Brasil a partir da aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, em 2010.
5. O MEC, juntamente com a Subsecretaria de Políticas de Ações Afirmativas da Seppir (SubAA), toma a iniciativa de publicar, em 13 de maio de 2009, o Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana. É um documento que detalha cada uma das  responsabilidades dos poderes públicos, seja no âmbito federal, estadual ou municipal, além de enfatizar três problemáticas principais em relação à implantação da Lei 10.639/2003, a saber:
Estão corretas as afirmações:
R.
I- a formação dos professores para o trabalho em sala de aula na perspectiva das relações étnico-raciais;
III- a produção de material didático adequado, que desfaça os estereótipos de raça/cor/gênero;
IV- a sensibilização de todos os agentes envolvidos nesse processo para um compromisso efetivo com a implantação da igualdade racial na escola e em nosso país;
6. Interrompida a vinda de escravos, em 1850, com extinção do trafico negreiro, abrem-se novos espaços para a imigração europeia, E importante saber que, após o fim do trafico negros da África a escravidão ainda duraria ainda 38 anos.
Fonte: Fonte: SANTOS, Helio. A busca de um caminho para o Brasil: a trilha do círculo vicioso. São Paulo: Editora Senac, 2001 (O arco-íris brasileiro. A forma como se deu a abolição: 1º passo, pág. 43).
Nessa fase verificam-se duas formas de operar com o trabalhador europeu em uma cidade específica do Brasil. Quais são as formas de operacionalização, a cidade e as etnias que chegaram ao Brasil nesse período? 
Todas as afirmativas estão corretas:
R. Todas as alternativas estão corretas.
I. A oficial, na qual o governo se empenhava em desenvolver colônias com pequenas propriedades, onde se buscava o povoamento do país.
II. A não oficial , mais imediata, que tinha como objetivo central abastecer com mão de obra cem as grandes propriedades, as quais se ressentiam com a diminuição da oferta escrava.
III. Essa forma de imigração, a não oficial, se expandiu particularmente em São Paulo, onde os italianos viriam a cultivar o café.
IV. Além dos italianos e alemães, também começaram a chegar os austríacos, russos e poloneses.
7. Na música: A Mão da Limpeza de Gilberto Gil:
Assinale a alternativa correta:
R. Todas as informações estão corretas.
I. Mesmo depois da abolição da escravidão ainda negra é a mão que limpa a sujeira do branco,
II. O branco inventou que o negro quando não suja na entrada, vai sujar na saída;
III. Esta música fala que os negros passavam a vida limpando o que os brancos sujavam,
IV. Mostra a humilhação do branco sobre os negros, imposição, brutalidade, delinquência,
V. Negra é a mão nos preparando a mesa, limpando as manchas do mundo com água e sabão,
8. Quanto às oportunidades no mundo do trabalho o ex-escravo tinha três caminhos possíveis:
 Cite, dentre as alternativas qual está correta: 
R.
I) Optar por permanecer junto àqueles negros que já estavam libertos e trabalhar em condições análogas às anteriores;
II) Tentar atuar onde havia produtividade, criando condições para a sua efetivação em um 
verdadeiro mercado de trabalho;
III) Os negros poderiam ainda enfrentar a concorrência da mão de obra vinda da Europa (sobretudo a italiana), que estava em melhores condições de atuar em um regime de trabalho livre.
9. SANTOS, Hélio(2011) no seu livro A busca de um caminho para o Brasil: a trilha do círculo vicioso coloca em primeiro lugar deste esquema a problemática:
R. A forma como se deu a Abolição
10. 
	A Carne
 (Autor: Marcelo Yuka , Ulisses Cappelletti, Seu Jorge)
 
	A carne mais barata do mercado é a carne negra 
5x 
Que vai de graça pro presídio 
E para debaixo de plástico 
Que vai de graça pro subemprego 
E pros hospitais psiquiátricos 
A carne mais barata do mercado é a carne negra 
5x 
Que fez e faz história 
Segurando esse país no braço 
O cabra aqui não se sente revoltado 
Porque o revólver já está engatilhado 
E o vingador é lento 
Mas muito bem intencionado 
E esse país 
Vai deixando todo mundo preto 
E o cabelo esticado 
	
Mas mesmo assim 
Ainda guardo o direito 
De algum antepassado da cor 
Brigar sutilmente por respeito 
Brigar bravamente por respeito 
Brigar por jusitça e por respeito 
De algum antepassado da cor 
Brigar, brigar, brigar 
A carne mais barata do mercado é a carne negra 
5x 
Na música, A Carne, conclui-se que o significado de mercado
R. tem sentidos diversos. Pode significar tanto o mercado de venda de carne de animais, o mercado de escravos no Brasil Colônia, como o atual mercado de trabalho, onde os negros são as pessoas mais mal remuneradas.
MÓDULO 6 - A INTROJEÇÃO DO RACISMO E A NÃO-IDENTIDADE ÉTNICA E RACIAL DO NEGRO BRASILEIRO
A condição dos afrodescendentes na sociedade brasileira: dados estatísticos, imagens e representações do negro no Brasil
Desigualdade racial revelada em números
O racismo no Brasil se confirma nos levantamentos estatísticos oficiais, produzidos pelo IBGE, dados esses que foram cuidadosamente analisados por nós, demonstrando que a condição dos afrodescendentes na sociedade brasileira ainda é desvantajosa quando comparadaà de outros segmentos da população, nos mais diversos âmbitos sociais: distribuição racial por região, desenvolvimento econômico, mercado de trabalho, renda familiar, distribuição de renda, analfabetismo, desigualdade educacional em todos os níveis de ensino (do básico ao superior), condição feminina com relação a saúde, acesso à infraestrutura pública, saneamento e moradia, estrutura familiar e dedicação aos afazeres domésticos.
Os dados do Censo 2010, publicados no Diário Oficial da União do dia 04/11/2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que a população brasileira já atinge a soma de 185.712.713 habitantes. Entretanto, quando o assunto é a igualdade social entre brancos e negros, os números são bastante desoladores e mostram que o país ainda precisa melhorar muito no que tange à distribuição equitativa de direitos e oportunidades.
Neste módulo, procuraremos estudar esses dados, a fim de confirmar a tese que estamos defendendo nesta disciplina: a de que o racismo é um traço perverso no tecido social brasileiro, demonstrado e confirmado pelos levantamentos estatísticos oficiais.
 
A Pedagogia da Exclusão: Imagens e representações do negro na literatura e na mídia.
São incontáveis as pesquisas realizadas pela comunidade acadêmica sobre o tema proposto neste subtópico: as imagens e representações do negro nos diversos âmbitos da vida social. Importa destacar, inicialmente, que os resultados do processo de construção da ideologia do branqueamento continuam a marcar as imagens e representações feitas sobre o negro, seja na mídia, na literatura ou no ambiente escolar.
Comecemos analisando mais de perto como a literatura apresenta essa questão. Há um estudo, realizado por Lúcia Barbosa (2004), que analisa a imagem do negro presente nas personagens de algumas obras da literatura brasileira. Apenas para tomarmos um exemplo, a autora, ao estudar os textos de Monteiro Lobato, conclui que seus livros trazem uma visão extremamente preconceituosa sobre o negro, apesar de terem sido escritos após a abolição da escravidão.Essa é uma crítica corrente entre os estudiosos e militantes do movimento negro, que veem nos textos de Monteiro Lobato a reprodução dos estereótipos do negro como submisso e subserviente, visto que, “embora liberto, não poderia sobreviver sem a tutela do senhor, pois era hereditariamente predisposto ao trabalho servil e desprovido de qualquer autonomia enquanto pessoa” (idem, p. 56); além disso, em suas descrições físicas de negros, os traços africanos se comparam muito a de animais, fato que, inclusive, foi objeto de fortes críticas a um dos livros de Monteiro Lobato escolhido pelo MEC para ser distribuído aos alunos da rede pública. O parecer foi dado no final de 2010 pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) a respeito do livro Caçadas de Pedrinho, proibindo sua distribuição nas escolas públicas do país. Nesse sentido, as conclusões daquela autora nos trazem elementos interessantes para essa análise (ibidem):
Não nos surpreende, portanto, a permanência dos estereótipos citados em nossos dias, a literatura encarregou-se de agregá-los à figura do negro. Talvez por isso, consideramos naturais algumas atitudes, piadas e ditos populares de cunho preconceituosos. Derivam dessas ideias cristalizadas, no âmbito da nossa sociedade, os “pretos de alma branca” e muitos outros que se perpetuaram e criaram raiz em nossa sociedade historicamente racista. Como vimos, a literatura, respeitadas as exceções, implantou, difundiu e materializou pedagogicamente fortes mecanismos de exclusão social, na tentativa de escamotear as nuanças.
Desta forma, podemos afirmar que os estereótipos a respeito do negro na escola também são alimentados por atitudes cotidianas, tanto por parte dos alunos, quanto dos professores, funcionários, diretores e todos os envolvidos no processo escolar, independentemente de serem brancos ou negros. O que Bourdieu advoga é que a interiorização desses discursos dominantes é um longo processo de aprendizado que, uma vez absorvido pelos grupos desfavorecidos, como, no nosso caso, todos nós brasileiros, exerce então a eficácia dessa violência simbólica, ou seja, é capaz de manter “cada coisa em seu lugar e cada lugar com sua coisa”, segundo já estudamos com DaMatta (1987).
Imaginemos o exemplo de uma professora que sempre prioriza sua atenção às alunas mais “bonitas” da classe, subentendendo-se aqui as mais ricas, arrumadas, comportadas, bem vestidas, perfumadas e, geralmente, mais brancas e loiras. São elogios ao novo corte de cabelo, a um novo sapato ou celular, ou a uma tarefa bem realizada.
Ainda não conseguiu entender por que isso acontece? Vamos lá: porque uma criança negra, por exemplo, que assiste a essas cenas cotidianamente, percebe e interioriza a mensagem transmitida pelas atitudes da professora: “não estou sendo elogiada pois não sou tão bonita, não tenho um corte de cabelo tão bonito, não estou tão bem vestida, não sou tão inteligente...”, isto é, esses estereótipos vão sendo assimilados como verdades pela criança, que é vítima dessa violência simbólica ao ponto de, quando crescer um pouco, querer alisar seus cabelos e pintá-los de loiro, por exemplo, reproduzindo então os discursos construídos anteriormente a partir de um referencial branco. A esse respeito, comenta Menezes (apud Miranda, 2010, p. 15):
A criança negra poderá incorporar esse discurso e sentir-se marginalizada, desvalorizada e excluída, sendo levada a falso entendimento de que não é merecedora de respeito ou dignidade, julgando-se sem direitos e possibilidades. Esse sentimento está pautado pela mensagem transmitida às crianças de que para ser humanizado é preciso corresponder às expectativas do padrão dominante, ou seja, ser branco.
Perceba que não é somente a criança negra quem incorpora esse discurso pautado por uma referência branca (e, portanto, não brasileira). Todos nós, em alguma medida, temos muita dificuldade em nos definirmos por nossa cor, afinal, não podemos dizer que somos nem brancos puros, nem negros puros; nem totalmente brancos, nem totalmente negros. Mas já vimos que a realidade e a estrutura social e econômica que ela nos impõe se encarrega de deixar muito claro o que significa nos fazermos brancos ou negros. Ou seja, construirmos ou assumirmos nossa identidade étnico-racial significa também ocuparmos (ou não) o “lugar-social” (status social) reservado a cada um dos grupos étnicos, conforme comprovado por tantos dados estatísticos já estudados no início deste módulo.
 
Violência policial e racial.
Estudando o livro de Hélio Santos (2001), pudemos fazer um percurso teórico que explica de maneira clara a ligação entre esses estereótipos produzidos pela mídia, pela literatura ou pela música popular a respeito dos negros e a violência policial dirigida a esse segmento social. Isso porque o racismo que está dissimulado e espalhado por todo o tecido social recebe nesse âmbito da violência policial e racial um caráter muito mais explicito, uma vez que apresenta-se numa versão armada, sob a proteção legal do Estado. Nas palavras do autor:
O Brasil oficial tem nas polícias (civil e militar) o seu brado armado. Como já foi visto, a sociedade vê os não-brancos (pretos e pardos) como pessoas inclinadas para o mal. Assim, é compreensível que as polícias reservem para eles uma maior atenção. Todavia, o “x” do problema está no fato de ser dramaticamente pior enfrentar um racista armado do que, por exemplo, um selecionador de pessoal que discrimine negros. E mais: o racismo policial é pago pelo Estado com o dinheiro da população. (SANTOS, 2001, p. 133-134)
Nesse sentido, o autor irá discutir as formas de abordagem policial em relação aos negros, para questionar sobre os nossos conceitos de segurança (ou insegurança) pública. A confiança da população na instituição policial também é abordada por Santos, a partir de dados que ligam o crime organizado à conivência policial. Esta sensação de insegurança imposta nesse contexto traz uma onda social em direção à excessiva demanda por segurança privada, seus profissionais e suas tecnologias.
 
A INTROJEÇÃO DO RACISMO e a não-identidade étnica e racial do negro brasileiro 
 
Um autor que explicou muito bem como se dá esse processo de introjeção do racismo foi Helio Santos (2001). Em seu livro A Busca de um Caminho para o Brasil: a trilha do círculo vicioso, ele defende a ideia de que o racismo no Brasil ocorre segundo uma metáfora da “centopeia de duas cabeças”: pensando na pequena lacraia, que ao invés de cabeça de uma lado, e rabo de outro, teria então duas cabeças, sendo uma a do branco, e outra a do negro.  Vamos explicar melhor do que se trata. Acompanhe o raciocínio nas palavras do próprio autor (Santos, 2001, pp. 148-149):
A centopeia é um bicho conhecido também pelo nome de lacraia e costuma ser inofensivo. A inovação que a nossa teoria traz à anatomia desse bichinho é incluir outra cabeça, onde deveria estar seu rabo. Com duas cabeças, imaginamos que ela possa mover-se em sentidos opostos. Usamos essa alegoria para poder explicar o que se dá no campo racial em nosso país. Em um sentido, a sociedade, fortalecida pelos meios de comunicação, destila seu racismo e constrói os seus preconceitos contra os negros e seus valores. Os valores do negro são a sua cultura. Em um sentido contrário, temos o próprio negro-descendente vindo e assumindo (em sua cabeça), como se fosse verdade, aquelas ideias armadas contra si.
Se lembrarmos aquilo que já colocamos nos módulos anteriores, de que os negros correspondem a mais de 50% da população brasileira atualmente, não é difícil compreendermos que, como integrante da sociedade civil, mesmo não fazendo parte da sociedade dominante, os negro-descendentes também colaboram na visão corrente em nossa sociedade, ao mesmo tempo em que passam a introjetar contra si aspectos desfavoráveis. Hélio Santos tem certeza em afirmar que se trata de uma “monumental contradição” (2001, p. 149) e, por isso, um processo não tão simples de ser compreendido, como você já deve ter percebido! Mas, por favor, prossiga com o raciocínio denosso autor:
Em primeiro lugar, a sociedade que discrimina a população de ascendência negra se supõe branco-europeia. Contudo, não o é. Em segundo lugar, essa sociedade discriminadora é marcadamente negra em termos culturais. Vive, consome e tem internalizados em sua cultura valores negros. Estranho, não? Flagramos agora uma ironia peculiar da terra-brasilis: aqui, os brancos (ou supostos), quando agridem os negros, ofendem a si mesmos. Isso porque eles também são meio negros/ meio brancos, curtindo e vivenciando a cultura negra. (Ibidem)
Baseados nessas concepções, podemos dizer que somos historicamente mestiços. Para compreender essa ideia é muito simples: onde poderíamos verdadeiramente encontrar um “branco-europeu-puro”? Se a própria história de conquistas e revoluções ocorridas nos últimos milênios na Europa é fruto de intensa miscigenação (talvez possamos até dizer que o povo mais mestiço da terra seja o próprio europeu!). Dá para acreditar que essa verdade histórica da miscigenação europeia foi apagada de maneira tão eficaz e definitiva? E mais grave ainda, que nós (em especial, os brasileiros-brancos) tenhamos uma percepção absolutamente imaginária (e ilusória!) de que somos de alguma forma descendentes de uma “linhagem europeia pura”?
Desculpe-nos se exageramos nas exclamações e interrogações. Mas trata-se de um engano tão cristalizado e enraizado em nossa “cultura de povo colonizado”, que já tomou ares de verdade. É preciso atentar, de uma vez por todas, para o fato de que não podemos separar os seres humanos em brancos, negros, amarelos, etc. Historicamente (e geneticamente) somos o resultado da infinita mistura de uma única raça, a raça humana! Portanto, como já afirmamos outras vezes ao longo deste livro, as diferenças são construídas social e politicamente, ou seja, são fruto do processo identitário. Deu para entender agora?
Assim, se construímos para nós uma cultura hierarquizada e dividida imaginariamente entre brancos, negros e índios, estamos marchando contra nós mesmos, visto que somos, todos, um pouco branco, um pouco negro, um pouco índio e assim por diante. Esse é o sentido da centopéia de duas cabeças da qual falava Helio Santos. É como se todas as cabeças pensassem num único sentido: contra nós mesmos! Veja que triste situação nos encontramos.
 
Leitura obrigatória:
SANTOS, H. A busca de um caminho para o Brasil: a trilha do círculo vicioso. São Paulo: Senac, 2001 (2º passo: O dilema: baixa renda x escolaridade inferior; 3º passo: A visão da sociedade; 4º passo: A introjeção do racismo e do preconceito; 5º passo: A não-identidade étnica e racial do negro brasileiro, 6º passo: Uma visão integrada da trilha, p. 85-177).
 
Leitura para aprofundamento:
SILVÉRIO, Valter Roberto; ABRAMOWICZ, Anete; BARBOSA, Lúpcia Maria Assunção (Coords). Projeto São Paulo Educando pela Diferença para a Igualdade. Módulo II - Ensino Médio. 2004. Universidade Federal de São Carlos – NEAB / UFSCar  (Texto 4C: BARBOSA, Lúcia Maria de Assunção. Pedagogia da Exclusão: a representação do negro na literatura brasileira, p. 51-58). Disponível em: <http://www.ufscar.br/~neab/pdf/enmedio_verde_compl.pdf>
PINHEIRO, Luana (et. al.). Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça. 3. ed. Brasília: Ipea: SPM: UNIFEM, 2008. 36 p. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/Livro_RetratoDesigual.pdf>
 
Filmes e músicas sugeridos para atividades complementares:
Filme: O rap do pequeno príncipe contra as almas sebosas. Dir.: Paulo Caldas, Marcelo Luna. Brasil, 2000.
Filme: Notícias de uma Guerra Particular. Dir.: João Moreira Sales, Kátia L.Sales. Brasil, 1998.
Filme: Carandiru. Dir.: Hector Babenco. Brasil / Argentina / Itália, 2003.
Filme: Segredos e mentiras. Dir.: Mike Leig. Grã-Bretanha, 1996.
Música: Dia de Graça, Candeia.
Música: Haiti, Caetano Veloso.
Música: Canção pra Ninar um Neguim, Zeca Baleiro (em homenagem ao Michael Jackson).
Música: Retirantes, Dorival Caymmi.
Música: Assum Preto, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.
 
Exercício comentado 1:
Analise o gráfico seguinte:
 
Todas as alternativas abaixo são válidas para a explicação dos dados apresentados, exceto:
A) A distribuição racial nas diversas regiões brasileiras se dá de maneira desigual, concentrando-se pretos e pardos nas regiões mais pobres do país.
B) Nas regiões Norte e Nordeste, os brancos estão em minoria, com 23,6% e 28,8% respectivamente.
C) A região Nordeste é a que apresenta o maior número de pretos, e a região Sul, o menor número de pardos, em relação ao restante do país.
D) As diferenças regionais apresentadas no gráfico acima não mostram relação com a condição social e econômica dos afrodescendentes no Brasil.
E) Pode-se afirmar que a região Centro-Oeste é a mais próxima à média da população brasileira, no quesito de distribuição racial.
 
Comentário: Alternativa correta (D):
Existe uma relação direta entre a distribuição racial brasileira e a pobreza ou riqueza das diversas regiões do país, numa lógica que coloca nas regiões mais pobres, Norte e Nordeste, a maior concentração de pretos e pardos, e inversamente, estando os brancos em maioria nas regiões mais ricas, a saber, Sul e Sudeste.
Exercício comentado 2:
O fato de que o próprio negro-descendente assumir (em sua cabeça), como se fosse verdade, as ideias armadas contra si pela ideologia racista, pode ser considerado, segundo Hélio Santos, como:
A) discriminação racial.
B) racismo.
C) introjeção do racismo.
D) processo nacional de branqueamento.
E) mito da democracia racial.
 
Comentário: Alternativa correta (C):
Por introjeção do racismo, Hélio Santos entende as formas com que o racismo se enraíza na interiorização pelos negros, de normas enunciadas pelos discursos dos brancos racistas. Estas representações introjetadas na cabeça do negro impede que uma pessoa com ascendência negra possa assumir sua verdadeira identidade, além de produzir a própria reprodução do racismo.
EXERCÍCIOS:
1. Leia o texto a seguir:
“No que se refere à presença da África, dos africanos e de seus descendentes, as imagens construídas pela educação e pela mídia são, em sua maior parte, imagens estereotipadas e negativas, como se fossem caricaturas feias e grotescas de um desenhista de mau gosto. [...] Os livros utilizados na escola também servem de instrumento para manter a exclusão de segmentos da população e apresentam dupla moralidade, pois embora tragam um discurso educativo sobre igualdade e justiça, de fato orgulhosos de nossas africanidades. Como diz Correia-Rickli (CORREIA-RICKLI, R. - Três raízes, dez mil flores. 500 anos e cultura brasileira (contribuições a uma reflexão livremente antroposófica). São Paulo, Trópis, 1993), acreditar que ‘venho de uma gente atrasada em relação aos outros povos do mundo é bem diferente de saber que meus antepassados estão entre os principais construtores da cultura e da civilização’. Saber que meus antepassados não viviam ‘com o cabelo amarrado num ossinho, cozinhando brancos em caldeirões’ mas integravam grandes civilizações, com magníficas arquiteturas, escrita própria, comércio internacional e refinadas obras de artes, faz, necessariamente, uma grande diferença.” (RIBEIRO, R. I. Basta de educar exclusivamente para a branquitude! Ano I, Número 1. Revista Raízes, 2002.).
Algumas das afirmativas apresentadas a seguir expressam meras constatações da problemática racial e outras afirmativas incluem referências a estratégias para a mudança da situação injusta. Vejamos:
Tendo ponderado sobre essas afirmativas, assinale a alternativa correta:
R.
I. Políticas públicas não podem ignorar a dimensão psicológica, pois como sabemos, a realidade é enxergada através de lentes que a educação e a mídia vão construindo em nós. A educação e a mídia criam e mantêm um grande reservatório de imagens, um imaginário coletivo, compartilhado por todos nós.
II. O incessante bombardeio realizado pelos meios de comunicação de massa em favor da manutenção dos estereótipos negativos da África e dos africanose seus descendentes demanda interrupção urgente.
III. Para a construção da identidade nacional, é indispensável e inadiável o resgate da beleza, poder e dignidade das diversas etnias africanas que participaram da construção da vida sociocultural brasileira.
2. Helio Santos, um dos maiores expoentes nacionais da luta contra o racismo, doutor em Economia e presidente do Instituto Brasileiro de Diversidade, produziu vasto e respeitável material bibliográfico sobre a questão das relações raciais em nosso país. Sua visão lúcida a respeito dessa questão acha-se bem representada na obra A busca de um caminho para o Brasil. A trilha do círculo vicioso (São Paulo: SENAC, 2001). Trata-se de um texto de compreensão possível para os mais diversos públicos, pois o autor não quis restringir apenas ao mundo acadêmico os seus conhecimentos.
Partindo da constatação de que a desigualdade social no Brasil se explica pela desigualdade racial, Helio retoma a questão da identidade nacional e nos convida a acompanhá-lo numa incursão pela complexa realidade brasileira. Para melhor análise do quadro socioeconômico brasileiro, o autor formula uma teoria à qual denomina “trilha do círculo vicioso”, cujas principais características estão descritas a seguir. A dinâmica das relações sociais, caracterizada por complexos processos de inclusão/exclusão, determina um jogo cujos perdedores e vencedores têm cartas marcadas: aprisionados num inteligente circuito de exclusão para o qual concorrem agências educacionais, de trabalho, de comunicação, de saúde, todas elas apoiadas em representações sociais negativamente estereotipadas da África, dos africanos e de seus descendentes e impostas para serem compartilhadas por brancos e negros, os afrodescendentes encontram poucas chances - quando encontram - de inserção sócio-político-econômica e de (re)construção de uma autoimagem positiva que lhes possibilite experimentar sentimentos de autoestima elevada. As forças que agem nessa “trilha” são mais facilmente compreendidas se observamos atentamente o gráfico apresentado na obra citada, e abaixo reproduzido.
Chamamos a atenção para o fato de que as identidades individuais, em contínua metamorfose, sofrem o impacto, igualmente contínuo, das forças assinaladas no quadro acima. Como constituir identidades negras positivamente afirmadas em tais circunstâncias? Essa é uma pergunta que demanda resposta por parte de cada um de nós. No campo educacional encontram-se formidáveis potenciais de ação. Daí, a importância do debate amplo, geral e irrestrito nesse campo.
A partir desses dados, considere as afirmativas a seguir:
Estarão corretas todas as afirmativas anteriores? Pondere e a seguir assinale a alternativa correta:
R. Somente a afirmativa I é incorreta.
I. Um debate - amplo, geral e irrestrito - sobre relações étnico-raciais não é necessário num país como o Brasil, onde todos os segmentos populacionais são igualmente beneficiados pelas políticas públicas.
II. O racismo no Brasil assemelha-se a uma centopeia de duas cabeças, para usar uma expressão de Helio Santos: além da conjuntura externa desfavorável, o afrodescendente compartilha de representações negativas inscritas no imaginário coletivo.
III. O processo contínuo de sujeição a um bombardeio de imagens negativas de tudo o que se refere à África e o entorpecimento da consciência, determina que brancos e não brancos interiorizem como “naturais” esses estímulos.
IV. Com pouca ou nenhuma possibilidade de (re) conhecimento dos valores tradicionais de seu povo de origem, os afrodescendentes veem-se na condição de desenvolver a própria identidade a partir de modelos ideais-de-ego brancos, de realização impossível dada a condição biológica e de realização indesejável por implicar em afastamento e negação da riqueza e da beleza da cultura de origem.
V. Às implicações do rebaixamento da autoestima nas esferas de poder econômico, político e social têm sido dada importância inferior à merecida: autoestima rebaixada e autoimagem negativa inibem qualquer movimento reivindicatório, seja no âmbito intelectual, seja no afetivo.
VI. O esquema gráfico traçado por Santos oferece uma visão sistêmica do problema e possibilita constatar o fato de que transformações nas relações raciais brasileiras demandam ação afirmativa em muitos campos, entre os quais o da educação, da comunicação social e do mercado de trabalho.
3. No livro de Helio Santos (2001), a certa altura, ele apresenta o seguinte esquema:
Após estudarmos a teoria deste autor, pode-se afirmar que a representação acima resume o que Helio Santos denomina de:
R. A trilha do círculo vicioso do racismo no Brasil.
4. Leia a seguinte afirmação de Helio Santos: 
Ao desvalorizar a si mesmo (auto-estima negativa), o negro possibilita um vazio que é preenchido pela internalização daqueles falsos conceitos (ideias) armados pelo “racismo cordial” expresso pela sociedade. A partir de então, passa a ter uma auto-estima rebaixada. Essa atitude não sai de graça para a população negra e negro-mestiça. 
O trecho acima é apresentado pelo autor como parte de um processo, denominado por ele como:
R. A não-identidade étnica e racial do negro brasileiro.
5. No capítulo “A introjeção do racismo e do preconceito” (SANTOS, 2001. 148-177), é correto afirmar:
R.
I-      Que nos EUA ter “uma gota de sangue negro” é considerado negro-africano. No Brasil basta ter “uma gota de sangue branco” para ser branco.
II-     No Brasil o “mulato” não é considerado nem branco nem negro.
IV-   Durante muito tempo se acreditou na falsa verdade de que mulatos têm passe livre para progredir na sociedade. No entanto, isso não se confirma, pois se ocorresse, deveria o “mulato” contar com uma efetiva mobilidade social (crescimento) que acaba não ocorrendo.
6. A formação cultural do Brasil tem como eixo central a miscigenação. Autores, como por exemplo Gilberto Freire, destacaram que a mistura de raças/etnias europeias, africanas e indígenas configuraram nossos hábitos, valores, hierarquias, estilos de vida, manifestações artísticas, enfim, a maioria das dimensões da nossa vida social, política, econômica e cultural.
Entretanto, outros pensadores consideravam-na um aspecto negativo em nossa formação e tentaram ressaltar as origens europeias de algumas regiões, como o intelectual paranaense Wilson Martins afirmou:
"Assim é o Paraná. Território que, do ponto de vista sociológico, acrescentou ao Brasil uma nova dimensão, a de uma civilização original construída com pedaços de todas as outras. Sem escravidão, sem negro, sem português e sem índio, dir-se-ia que a sua definição não é brasileira. Inimigo dos gestos espetaculares e das expansões temperamentais, despojado de adornos, sua história é a de uma construção modesta e sólida e tão profundamente brasileira que pôde, sem alardes, impor o predomínio de uma idéia nacional a tantas culturas antagônicas. E que pôde, sobretudo, numa experiência magnífica, harmonizá-las entre si, num exemplo de fraternidade humana a que não ascendeu a própria Europa, de onde elas provieram. Assim é o Paraná." (MARTINS, W. Um Brasil diferente: ensaio sobre fenômenos de aculturação no Paraná. 2. ed. São Paulo: T. A Queiroz, 1989. p. 446.)
O preconceito em relação às origens africanas e indígenas criou uma ambiguidade no processo de autoafirmação dos indivíduos em relação às suas origens.
Assinale a alternativa em que a árvore genealógica relatada por um indivíduo evidencia esse sentimento de ambiguidade em relação à formação social brasileira.
R. Meu avô paterno, filho de italianos, casou-se com uma filha de índios do interior de Minas Gerais; meu avô materno, filho de português casado com uma negra, casou-se com uma filha de portugueses. Apesar de saber que sou fruto de uma mistura, dependendo do lugar em que estou, destaco uma dessas descendências: na maioria das vezes, digo que descendo de portugueses e/ou de italianos; raramente digo que descendo de negros e índios, quando ofaço é porque terei alguma vantagem.
7. Hélio Santos (2001) no livro -A busca de um caminho para o Brasil: a trilha de um círculo vicioso-  reforça que somente vamos reverter a visão da sociedade através de um processo educativo.  Afirma que inexiste discurso ou vontade política de grupos ou partidos que possa fazê-lo. Os brancos e negros devem passar por uma pedagogia específica a fim de reverterem a marca estigmatizada do negro ao longo de quase meio milênio. Santos (2001) quer dizer que é na educação que se deve empreender o maior esforço para iniciarmos uma nova fase na temática racial brasileira.
Nessa nova fase devemos buscar duas coisas: 
R. Primeiro conscientizar a sociedade da imensa contribuição negra na formação do Brasil. Para tanto, tal “terapia pedagógica” deve evidenciar com competência que somos mais ricos, culturalmente, que a “branca Europa”, por termos como base uma matriz mista, consolidada em diversas culturas em que a africana destaca-se de maneira especial. E segundo, para a população negra e mestiça que essa “terapia pedagógica reversiva” afirmará a sua identidade racial positivamente.
8. Interrompida a vinda de escravos, em 1850, com extinção do trafico negreiro, abrem-se novos espaços para a imigração europeia, E importante saber que, após o fim do trafico negros da África a escravidão ainda duraria ainda 38 anos.
Fonte: Fonte: SANTOS, Helio. A busca de um caminho para o Brasil: a trilha do círculo vicioso. São Paulo: Editora Senac, 2001 (O arco-íris brasileiro. A forma como se deu a abolição: 1º passo, pág. 43).
Nessa fase verificam-se duas formas de operar com o trabalhador europeu em uma cidade específica do Brasil. Quais são as formas de operacionalização, a cidade e as etnias que chegaram ao Brasil nesse período?
R.  Todas as alternativas corretas.
- A oficial, na qual o governo se empenhava em desenvolver colônias com pequenas propriedades, onde se buscava o povoamento do país.
- A não oficial, mais imediata, que tinha como objetivo central abastecer com mão de obra cem as grandes propriedades, as quais se ressentiam com a diminuição da oferta escrava.
- Essa forma de imigração, a não oficial, se expandiu particularmente em São Paulo, onde os italianos viriam a cultivar o café.
- Além dos italianos e alemães, também começaram a chegar os austríacos, russos e poloneses.
9. Gilberto Freire tinha o mestiço como ícone da nação. Na obra Casa-Grande & Senzala ele falava sobre as elites nordestinas e fazia de seu modelo antropológico, um exemplo de identidade. Freire mantinha intocados em sua obra, porém, os conceitos de superioridade e inferioridade. A miscigenação na obra era vista como sinônimo de tolerância.Assim mestiço vira nacional, paralelamente a um processo de desafricanização de vários elementos, simbolicamente clareados. Como por exemplo, o feijão, originalmente conhecido como "comida de escravos", a feijoada se converte, a partir dos anos 1930, em "comida nacional", carregando consigo a representação simbólica da mestiçagem associada à ideia da nacionalidade.
 
SCHWARCZ, L. Racismo no Brasil. São Paulo: Publifolha, 2001. (O debate em terras tropicais, p. 26-36).
Qual o significado metafórico do feijão e do arroz na obra de Gilberto Freire?
R. O feijão preto e o arroz branco remetem metaforicamente aos elementos negro e branco de nossa população.
10. “Nosso medo mais profundo
não é o de sermos inadequados.
Nosso medo mais profundo
é que somos poderosos além de qualquer medida.
É a nossa luz, não as nossas trevas,
o que mais nos apavora.
Nós nos perguntamos:
Quem sou eu para ser Brilhante,
Maravilhoso, Talentoso e Fabuloso?
Na realidade, quem é você para não ser?
Você é filho do Universo."
(Nelson Mandela, trecho do discurso de posse da presidência da África do Sul, 1994)
 
Sabendo que o processo de construção de identidade é um elemento importante para romper com o preconceito, podemos dizer que o discurso acima é um exemplo de:
R. Fortalecimento de identidade positiva 
11. Tem sido cada vez mais comum a acusação de que algumas manifestações artísticas em meios de comunicação de massa são atitudes preconceituosas e isso tem gerado entre os cidadãos comuns a discussão   que, por um lado tudo passou a ser considerado preconceito e de que há um exagero nas acusações; e por outro, que é preciso debater para compreender os preconceitos. São capas de revistas, clipes musicais, propagandas, cenas de novelas que retratam as relações étnicas, comentários em programas televisivos, mas nem sempre de modo positivo ou democrático. Nestas situações é importante observar que:
São corretas apenas as afirmativas:
R.
 
II. A invisibilidade da pessoa negra é uma questão histórica que está em fase de transformação, então a discussão se há ou não racismo nos meios de comunicação em massa é uma forma de conscientizar sobre o racismo cordial do brasileiro.
III. A construção de uma consciência étnico-racial na sociedade depende da possibilidade de acabar com o silêncio histórico sobre as desigualdades raciais e do reconhecimento da identidade afrodescendente de modo positivo na sociedade.
IV. A ideologia da democracia racial está introjetada na sociedade, se ela não tem consciência disso não consegue perceber onde ou porque existe o racismo, visto que reconhece os comportamentos como normais.
MÓDULO 7 - O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE AFRODESCENDENTE NA INFÂNCIA E NA JUVENTUDE
Após esta incursão por um emaranhado conceitual de complexidade sem dúvida reveladora, podemos perceber que não deveria haver no Brasil qualquer visão dicotômica das relações étnico-raciais. A teoria do circulo vicioso, ou da centopeia de duas cabeças, de Helio Santos, certamente nos elucidou em que medida esses processos obedecem a um dinamismo complexo, que intencionalmente produz e reproduz o racismo na cultura brasileira.
Portanto, não é possível compreender essa questão por meio de um raciocínio bipolarizado, afinal, não somos uma sociedade de brancos (puros) e de negros (puros). A melhor opção para elucidar essa “trilha do círculo vicioso” do racismo no Brasil seria pensarmos numa série de aspectos que se entrecruzam e se autodeterminam, dando o tom da especificidade do nosso racismo e, ao mesmo tempo, colaborando para sua perpetuação. Mais uma vez é Helio Santos quem nos ajuda a elucidar esta concepção (Santos, 2001, p.30):
O mais grave, contudo, é saber que, no Brasil, o apartheid se mantém, precisamente, por ser na realidade do tipo que é. Isto é, aqui, o abismo que separa os privilegiados dos demais vem se perpetuando ao longo do tempo em virtude das mazelas sociais recaírem sempre sobre a mesma maioria. A insensibilidade para a gravidade do problema decorre muito desse particular aspecto. A causa verdadeira dessa política – quase todos negam – é o racismo. (...) É por isso que se diz que aqui temos uma pobreza cristalizada. Isto é: dura, antiga, difícil de quebrar, pois foi construída ao longo de muitos séculos.
É nesse sentido que deixamos de pensar a cultura como estática e dotada de uma “essência”, acabada e final, para assumirmos a perspectiva do movimento incessante de diálogo e inter-relação entre os sujeitos, bem como da importância do respeito às diferenças, necessários à construção identitária e às trocas simbólicas realizadas.
Também já afirmamos que não se trata de uma concepção dualista da construção identitária, como se houvesse de um lado, os brancos, de outro, os negros. A construção da identidade brasileira precisa passar necessariamente pela realidade da miscigenação e da constituição de nossa cultura a partir de nossas raízes negras, indígenas e europeias, ao mesmo tempo, e em igual relevância, é importante que se diga.
Então, após essa breve revisão, podemos adentrar na questão específica da construção da identidade negra (Universidade Federal de São Carlos, 2004b, p 45):
Munanga (2003) considera que a identidade negra não surge da tomada de consciênciade uma diferença na cor da pele. Ela resulta, conforme o autor, de um longo processo histórico que se inicia com a chegada dos navegantes portugueses ao continente africano. Dito de outra forma, o processo de colonização e escravização do continente africano e de seus povos é o contexto histórico no qual devemos pensar a construção da chamada identidade negra no Brasil. (...)
A identidade negra é entendida, aqui, como um processo construído historicamente em uma sociedade que padece de um racismo ambíguo e do mito da democracia racial. Como qualquer processo identitário, ela se constrói no contato com o outro, na negociação, na troca, no conflito e no diálogo.(...) ser negro no Brasil é tornar-se negro.
Para que você possa entender o que significa “tornar-se negro” segundo essa perspectiva, é preciso considerar que identidade de qualquer pessoa se constrói no plano simbólico, isto é, no conjunto de significações, valores, crenças e gostos que a pessoa vai assumindo em sua relação com os outros, relações estas permeadas por estereótipos raciais, preconceitos e desigualdades, conforme temos trabalhado até este ponto de nossa disciplina.
Daí a enorme dificuldade enfrentada por crianças e adolescentes, brancos e negros brasileiros, para construírem sua identidade numa sociedade tão paradoxal, em que as leis lhes garantem igualdade de direitos e oportunidades, mas cujas relações sociais revelam uma estrutura claramente hierarquizada e encharcada com um racismo às escondidas, negado e escamoteado, como já afirmamos algumas vezes. Como educadores ou profissionais da saúde, por exemplo, cabe-nos o papel de mudar esse contexto, propiciando um ambiente escolar ou institucional de respeito às diferenças e desenvolvendo uma prática condizente com os valores de justiça e equidade étnico-racial. Esse será o assunto do último tópico.
 
Leitura obrigatória:
MIRANDA, Débora Brasil. Princesas de contos de fadas e crianças negas: racismo, estética e subjetividade. Monografia (Graduação), Curso de Psicologia, Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2010. 37p. (Texto 7A). Disponível em: <http://www.infanciasemracismo.org.br/wp-content/uploads/2010/12/Monografia-Brasil.pdf>
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – NEAB / UFSCar. Projeto São Paulo Educando pela Diferença para a Igualdade. Módulo 2.2004 b. (Texto 7B: A escola e a construção da Identidade na Diversidade, p. 25-40). Disponível em:  <http://www.ufscar.br/~neab/pdf/modulo2.pdf>
  
Filmes e músicas sugeridos para atividades complementares:
Filme: Segredos e mentiras. Dir.: Mike Leig. Grã-Bretanha, 1996.
Filme: Filhas do Vento. Dir.: Joel Zito Araújo. Brasil, 2005.
Música: Canção pra Ninar um Neguim, Zeca Baleiro (em homenagem ao Michael Jackson).
Música: Retirantes, Dorival Caymmi.
Música: Assum Preto, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.
 
 
Exercício comentado:
Ao estudarmos os processos de construção de estereótipos raciais,  entendemos que se faz necessário, por parte da população afrodescendente, um movimento de “tornar-se negro”. Assinale a alternativa que melhor define o significado desta expressão, segundo os pressupostos teóricos de Kabengele Munanga (2003).
A) A expressão compreende a ideia de que todas as pessoas nascem brancas e vão “tornando-se negros” ao longo de sua vida.
B) Está pressuposto nesse movimento de “tornar-se negro” uma aceitação dos estereótipos raciais por parte da população afrodescendente.
C) Munanga está preocupado em preparar os afrodescendentes para viverem numa realidade social que os coloca numa condição social inferior aos brancos.
D) Está ideia foi criada no contexto do processo nacional de branqueamento ocorrido no Brasil, responsável pela construção do ideal do branco como superior, numa lógica que pressupõe que quanto mais branco, melhor; quanto mais claro, superior.
E) Segundo essa perspectiva, as identidades se constroem no plano simbólico, isto é, no conjunto de significações, valores, crenças e gostos que o indivíduo vai assumindo na sua relação com o outro, relações estas permeadas por estereótipos raciais, preconceitos e desigualdades.
 
Comentário: Alternativa correta (E):
Entende-se que para a superação dos estereótipos raciais, a construção da identidade negra faz-se necessária, no sentido dessa população afrodescendente compreender e assumir suas diferenças e especificidades culturais, desmontando os ideais do branco, do negro e do mulato, que durante tanto tempo foram sustentados pelo processo de branqueamento e reproduzidos nas relações sociais cotidianas em nosso país.
EXERCÍCIOS:
1. A respeito das imagens e representações do negro no Brasil, avalie as afirmações a seguir:
Assinale a alternativa que apresenta o número de afirmações verdadeiras:
R. Todas são verdadeira.
 
I- Os estereótipos foram lentamente sendo construídos através de uma ideologia que procurava reforçar a ideia de que o país precisava passar necessariamente por um processo de branqueamento.
II- A permanência dos estereótipos raciais foi amplamente reforçado pela literatura, que consolidou no inconsciente racial coletivo brasileiro a naturalidade de algumas atitudes, piadas e ditos populares de cunho preconceituosos.
III- Os estereótipos a respeito do negro na escola são alimentados por atitudes cotidianas, tanto por parte dos alunos, quanto dos professores, funcionários, diretores e todos os envolvidos no processo escolar, independentemente de serem brancos ou negros.
IV- A internalização da ideologia do branqueamento provoca uma ‘naturalidade’ na produção e recepção de imagens estereotipadas e padrões de beleza dominantes, além de uma aceitação passiva e concordância de que esses atores realmente não merecem fazer parte da representação do padrão ideal de beleza do país.
 
2. (Adap. UEM – Verão 2008) Leia o texto a seguir:
Desde o início a criança desenvolve uma interação não apenas com o próprio corpo e o ambiente físico, mas também com outros seres humanos. A biografia do indivíduo, desde o nascimento, é a história de suas relações com outras pessoas. Além disso, os componentes não sociais das experiências da criança estão entremeados e são modificados por outros componentes, ou seja, pela experiência social. (BERGER, Peter L. e BERGER, Brigitte. “Socialização: como ser um membro da sociedade”. In FORACCHI, Marialice M. e MARTINS, José de Souza. Sociologia e Sociedade. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1977, p. 200).
 
Podemos concluir do texto que:
Assinale a alternativa que apresenta o número de afirmações verdadeiras:
I- as identidades se constroem no plano simbólico, isto é, no conjunto de significações, valores, crenças e gostos que o indivíduo vai assumindo na sua relação com o outro, relações estas permeadas por estereótipos raciais, preconceitos e desigualdades.
II- os indivíduos, desde o nascimento, são influenciados pelos valores e pelos costumes que caracterizam sua sociedade.
III- as experiências individuais, até mesmo aquelas que parecem mais relacionadas às nossas necessidades físicas, contêm dimensões sociais.
V- aos poucos, a criança vai percebendo o mundo que a rodeia, passa a compreender suas regras, linguagens, hábitos, proibições etc. e também é capaz de interiorizar alguns desses elementos culturais, momento em que inicia o processo de sua constituição como indivíduo, sujeito de sua própria identidade.
3. (Adap. UEM 2008) Saffioti afirma que “A identidade social da mulher, assim como a do homem, é construída através da atribuição de distintos papéis, que a sociedade espera ver cumpridos pelas diferentes categorias de sexo. A sociedade delimita, com bastante precisão, os campos em que pode operar a mulher, da mesma forma como escolhe os terrenos em que pode atuar o homem.” (SAFFIOTI, Heleieth. O poder do Macho. São Paulo: Moderna, 1987, p.8). Tendo como referência o texto e seus conhecimentos sobre a temática de “gênero”, assinale o que for correto.
R.
I- Tradicionalmente, as sociedades ocidentais modernas destinaram

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