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Aula Filosofia

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FILOSOFIA – ETIMOLOGIA
 A palavra "filosofia" (do grego) é uma composição
de duas palavras: philos (φίλος) e sophia (σοφία).
A primeira é uma derivação de philia (φιλία) que
significa amizade, amor fraterno e respeito entre
os iguais; a segunda significa sabedoria ou
simplesmente saber.
 Filosofia significa, portanto, amizade pela
sabedoria, amor e respeito pelo saber; e o filósofo,
por sua vez, seria aquele que ama e busca a
sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber.
FILOSOFIA – ETIMOLOGIA
 A tradição atribui ao filósofo Pitágoras de Samos
(que viveu no século V a.C.) a criação da palavra.
 Conforme essa tradição, Pitágoras teria criado o
termo para modestamente ressaltar que a
sabedoria plena e perfeita seria atributo apenas
dos deuses; os homens, no entanto, poderiam
venerá-la e amá-la na qualidade de filósofos.
FILOSOFIA DO DIREITO - CONCEITO
 A filosofia, ao mesmo tempo em que é uma
sistematização do pensamento, é um
enfrentamento do próprio pensamento e do
mundo.
 Tudo isso pode se aplicar a objetos específicos da
própria filosofia, como o direito.
 E, assim sendo, a filosofia do direito nada mais é
que a filosofia geral com um tema específico de
análise, o direito.
FILOSOFIA DO DIREITO - CONCEITO
 A filosofia do direito, sendo objeto da filosofia,
não é, de modo algum, um método.
 Assim sendo, não se pode dizer que haja a
filosofia aristotélica, a maquiavélica, a hegeliana
e a dos juristas.
 Pelo contrário, o direito, sendo um tema,
equipara-se ao rol de outros temas.
 Pode-se dizer então da filosofia política, da
filosofia da religião, da filosofia da economia, da
filosofia da estética e da filosofia do direito.
FILOSOFIA DO DIREITO - CONCEITO
 A visão filosófica marxista pode tratar tanto da
política, da economia, da estética, quanto do direito.
 Ao se dizer então de uma filosofia do direito marxista,
isso se refere a um tema específico, o direito, a partir
de um dos grandes métodos filosóficos estabelecidos, o
marxismo.
 A filosofia do direito não se opõe à filosofia
agostiniana, nem a filosofia política se opõe à filosofia
althusseriana.
 Agostinho e Althusser são autores de métodos
filosóficos; a política e o direito são temas.
FILOSOFIA DO DIREITO - CONCEITO
 Sendo a filosofia do direito a própria filosofia
geral com um objeto específico, a indagação que
se põe preliminarmente diz respeito à própria
localização do que seja jurídico, já que é isso que
dá identidade à filosofia do direito.
FILOSOFIA DO DIREITO - FILOSOFIA
 A filosofia do direito, enquanto tema específico da
filosofia geral, é-lhe indistinta quanto aos
métodos e seus grandes horizontes.
 Um kantiano enxerga a religião, a sociedade, a
política e o direito a partir de uma perspectiva
geral que é o próprio kantismo.
 Sendo ainda filosofia, a filosofia do direito não é
estranha à estrutura geral do pensamento
filosófico, configurando-se apenas como o
aprofundamento de uma temática específica.
FILOSOFIA DO DIREITO - FILOSOFIA
 Por conta disso, o problema inicial da filosofia do
direito está na especificidade do que se possa
considerar por direito.
 A depender dos juristas, essa questão
historicamente não se resolve de modo uníssono.
 Para alguns, o fenômeno jurídico se circunscreve
às normas estatais.
FILOSOFIA DO DIREITO - FILOSOFIA
 Para outros, as apreciações sobre o justo também
entram na composição do direito.
 Da parte da vida jurídica, essa não é uma
resposta pronta.
 Mas também a filosofia do direito não se limita à
resposta do jurista sobre o próprio direito, na
medida em que se estende para além da
compreensão média do operador do direito sobre
si próprio e sua atividade.
FILOSOFIA DO DIREITO - FILOSOFIA
 Assim, a filosofia do direito pode desvendar
conexões íntimas entre o direito e a política, o
direito e a moral, o direito e o capitalismo, que
escapam da visão mediana do jurista.
 Tais limites sobre o que é o jurídico da filosofia do
direito são ainda variáveis a depender da visão
filosófica que se adote para essa compreensão.
 Um kantiano trabalha com uma certa relação
entre direito e moral, mas o foucaultiano
trabalha essa relação de outro modo.
FILOSOFIA DO DIREITO - FILOSOFIA
 Por essa razão, não se pode encerrar o jurídico da
filosofia do direito em limites estreitos que não
permitam dar conta da variedade de apreciação
sobre tal fenômeno.
 Mas também não se pode perder de vista alguma
referência mínima de diálogo entre as tantas
apreciações sobre o que é direito, sob pena de se
findar a possibilidade de uma mirada relacional e
comparativa.
FILOSOFIA DO DIREITO - FILOSOFIA
 Assim sendo, em se tratando de um objeto
histórico variável socialmente e variável também
a depender da visão filosófica, haverá sempre
conexões entre a filosofia do direito com outros
objetos específicos da própria filosofia que lhe
sejam próximos e cujas fronteiras sejam porosas.
 A filosofia do direito dialoga diretamente com a
filosofia política, na medida em que, na maior
parte da história, política, direito e Estado
guardaram íntima proximidade.
FILOSOFIA DO DIREITO - FILOSOFIA
 Mas também se há de descobrir alguma ligação
entre o direito e a ética, na medida da apreciação
do justo enquanto virtude.
 Na prática, o fenômeno jurídico se espraia sobre
inúmeros fenômenos, alguns mais proximamente,
outros mais distantes, mas sempre com possíveis
conexões.
FILOSOFIA DO DIREITO - FILOSOFIA
 Pode-se dizer que a filosofia do direito é irmã da
filosofia política, é certo, mas, embora lhe seja
mais distante, quem há de dizer que seja
totalmente estranha à filosofia da estética?
 Não há alheamento do fenômeno jurídico em
relação a nenhum outro fenômeno histórico e
social, e por isso também a filosofia do direito é a
totalidade da filosofia, apenas contando com um
eixo especificado.
FILOSOFIA DO DIREITO - FILOSOFIA
 Por tal razão, em muitos momentos a filosofia do
direito deve se socorrer de outros objetos
específicos da filosofia para sua compreensão e
mesmo para sua diferenciação, se for o caso.
 Se no passado grego clássico o direito era
considerado uma manifestação política por
excelência, a sua compreensão só pode ser dada
em conjunto com as questões da filosofia política
clássica.
FILOSOFIA DO DIREITO - DIREITO
 De outro lado, além de ser um objeto específico da
filosofia geral, lastreado em seus métodos, a
filosofia do direito deve ser especificada em
relação ao próprio pensamento jurídico.
 É certo que não se chama o arrazoado de uma
petição inicial por filosofia do direito.
 Os argumentos de um juiz ao prolatar uma
sentença em geral são técnico-normativos, não
jusfilosóficos.
FILOSOFIA DO DIREITO - DIREITO
 Mas há um campo do conhecimento técnico-
jurídico que não é eminentemente casual,
vinculado aos casos em disputa nos fóruns.
 Quando alguém transcende a análise de uma
norma jurídica específica do Código de Processo
Civil e se pergunta sobre o que são as normas
jurídicas em geral, está dando um salto de
generalização de suas reflexões.
 A partir de que grau esse salto consegue já se
situar naquilo que se possa chamar de filosofia do
direito?
FILOSOFIA DO DIREITO - DIREITO
 Durante grande parte da história, com a
indistinção do direito em relação à política, à
ética, à moral e à religião, os discursos mais
amplos sobre o direito, que não era ainda
eminentemente técnico, eram tidos por filosofia
do direito.
 No entanto, com o capitalismo, a contar da
modernidade, o direito adquire uma
especificidade técnica.
FILOSOFIA DO DIREITO- DIREITO
 Ele passa a ser considerado a partir do conjunto
das normas jurídicas estatais.
 A partir desse período, conseguiu-se construir
uma espécie de pensamento que, não sendo
estreitamente ligado a fatos ou normas ou casos
isolados, mas sim tratando das normas, situações
e técnicas jurídicas de modo mais geral, ainda
assim está adstrito ao mundo técnico-normativo.
 Costuma-se chamar a essa espécie de alto
pensamento jurídico por teoria geral do direito.
FILOSOFIA DO DIREITO - DIREITO
 A teoria geral do direito, que na verdade não é teoria
geral de todo o fenômeno jurídico, mas sim das
técnicas jurídicas estatais consolidadas a partir da
modernidade, pode de modo mais exato ser
denominada por teoria geral das técnicas jurídicas, ou
mesmo teoria geral da tecnologia jurídica.
 Esse pensamento não é casual nem eminentemente
ligado a uma experiência técnica específica.
 Ele já consegue ser geral, na medida da generalização
das técnicas jurídicas no capitalismo moderno e
contemporâneo.
FILOSOFIA DO DIREITO - DIREITO
 No entanto, ainda assim, a teoria geral do direito
não salta um grau qualitativo distinto da própria
lógica interna do afazer jurídico quotidiano.
 É verdade que a discussão sobre o conceito de
ordenamento jurídico e a questão da teoria geral
da relação jurídica são maiores do que a pergunta
sobre o prazo para a interposição de um recurso
no processo penal, mas ainda assim não logram
alcançar a reflexão mais alta sobre o próprio
direito em relação ao todo da história e da
sociedade.
FILOSOFIA DO DIREITO - DIREITO
 A filosofia do direito é um pensamento ainda
mais alto e mais vigoroso que a teoria geral do
direito.
 Enquanto a teoria geral do direito, a partir da
multiplicidade das normas, indaga-se sobre o que
é uma norma jurídica estatal, a filosofia do
direito indaga a respeito da legitimidade do
Estado em ditar normas.
FILOSOFIA DO DIREITO - DIREITO
 De certo modo, a teoria geral do direito para nos
limites internos da construção jurídica técnica.
 Mas a filosofia do direito pega o todo do direito
nas mãos.
 Há uma fronteira muito tênue entre a teoria
geral do direito e a filosofia do direito.
 Hans Kelsen, o mais importante teórico geral –
dito cientista – do direito do século XX, é um
pensador de rigorosa construção metodológica
filosófica.
FILOSOFIA DO DIREITO - DIREITO
 Suas reflexões são teoria geral do direito e
filosofia do direito, portanto, de um grande
jurista e de um grande filósofo ao mesmo tempo.
 Torna-se muito difícil distinguir os momentos em
que fala o teórico geral do direito dos momentos
em que fala o filósofo.
FILOSOFIA DO DIREITO - DIREITO
 É verdade que os assuntos do direito, ao serem
tratados pela teoria geral do direito, abeiram-se
daquilo que possa ser a filosofia do direito.
 No entanto, enquanto aumento quantitativo e
generalização do labor técnico e empírico do
jurista, estão ainda adstritos ao campo dessa
teoria geral.
 Enquanto salto qualitativo, na superação do
encerramento técnico e na relação com o todo
histórico e social, inicia-se então a filosofia do
direito.
FILOSOFIA DO DIREITO - DIREITO
 Trata-se de uma distinção bastante variável e
difícil, que em geral é tomada pelo jurista como
uma divisão de tarefas enciclopédica.
 Um assunto como o da norma jurídica é tomado,
quase sempre, como assunto de teoria geral do
direito – sendo ensinado, pois, na disciplina
universitária da Introdução ao estudo do direito.
 A reflexão sobre o justo, por sua vez, se a deixa
reservada à disciplina universitária chamada por
Filosofia do direito.
FILOSOFIA DO DIREITO - DIREITO
 Mas não se podem estudar as duas questões como
isoladas e alheias entre si, academicamente bem
instaladas em duas disciplinas específicas e
insulares.
 Na verdade, a filosofia do direito, em retrospecto,
é a própria alimentação geral da teoria geral do
direito e dos ramos do direito em específico.
FILOSOFIA DO DIREITO - DIREITO
 Da mesma maneira que é fluida a fronteira entre
a filosofia do direito e os outros objetos filosóficos
específicos, é fluida a fronteira entre a filosofia do
direito e o pensamento geral produzido pelos
juristas sobre suas próprias técnicas.
 Nesse entrecruzamento do pensamento jurídico e
do pensamento filosófico levanta-se a filosofia do
direito.
HISTÓRIA
ANTIGUIDADE CLÁSSICA
PRÉ-SOCRÁTICOS
 Costuma-se dar a alcunha de pré-socráticos ao
conjunto de pensadores que viveram nos séculos
anteriores a Sócrates, espalhados pelo mundo
grego.
 Trata-se de um rótulo problemático, na medida
em que muitos filósofos que são classificados por
pré-socráticos vivem ainda no próprio tempo
de Sócrates.
PRÉ-SOCRÁTICOS
 Além disso, denominá-los por um nome genérico
esconde a especificidade de cada um dos seus
pensamentos.
 O uso do termo pré-socrático justifica-se, pois,
apenas como recurso didático.
 A tradição da história da filosofia reputa a Tales
de Mileto a posição de primeiro filósofo dessa
sequência dos pré-socráticos, no século VI a.C.
PRÉ-SOCRÁTICOS
PRÉ-SOCRÁTICOS
 Após Tales, uma ampla gama de pensadores se
destaca.
 É costume dividi-los em escolas, quase sempre
tendo por base um critério geográfico, de acordo
com a região na qual viveram.
 Nos tempos antigos, o mundo de cultura grega se
esparramava, para além do território onde hoje é
a Grécia moderna, também na Ásia Menor e no
sul da Itália.
PRÉ-SOCRÁTICOS
PRÉ-SOCRÁTICOS
 A divisão dos pré-socráticos em escolas é variável
e sua distinção não é metodologicamente rígida.
 Para o campo da filosofia do direito, dentre todos
os pré-socráticos, alcançam uma posição de
destaque Anaximandro, por ter sido o pioneiro
de um apontamento sobre o justo, e,
especialmente, Heráclito e Parmênides.
PRÉ-SOCRÁTICOS - ANAXIMANDRO DE
MILETO
 Anaximandro de Mileto (610?-545? a.C.) foi
discípulo de Tales, tendo-se destacado pelos seus
inventos e pela sua argúcia no campo da ciência,
em especial na astronomia.
PRÉ-SOCRÁTICOS - ANAXIMANDRO DE
MILETO
PRÉ-SOCRÁTICOS - ANAXIMANDRO DE
MILETO
 Enquanto a velha tradição da mitologia
grega considerava a cosmologia como tendo por
base o ar, a água, a terra ou o fogo, em
Anaximandro tal compreensão alcançava um
novo patamar:
➢ a physis se originava do ápeiron, algo infinito,
ilimitado, que, sem forma, dá origem a todas as
coisas.
PRÉ-SOCRÁTICOS - ANAXIMANDRO DE
MILETO
 Rompendo com as velhas tradições, pode-se dizer
que Anaximandro dá início à própria filosofia.
 Do conjunto da obra de Anaximandro – dezenas
de livros –, quase tudo se perdeu.
 O ápeiron é o princípio da origem e do
perecimento das coisas, e a injustiça a
medida de cada coisa.
PRÉ-SOCRÁTICOS - ANAXIMANDRO DE
MILETO
 A frase que restou, e que por muitos é
considerada o primeiro fragmento filosófico da
história, trata de uma consideração sobre a
justiça do mundo:
 “De onde as coisas têm seu nascimento, para lá
também devem afundar-se na perdição, segundo
a necessidade; pois elas devem expiar e ser
julgadas pela sua injustiça, segundo a ordem
do tempo”.
PRÉ-SOCRÁTICOS - ANAXIMANDRO DE
MILETO
 A consideração sobre a justiça e a injustiça das
coisas, em Anaximandro, é prejudicada pela
ausência de outros textos seus que possam
contextualizar suas próprias ideias.
 O ápeiron é considerado um princípio dos seres,
ilimitado.
 Se o ápeiron é um princípio eterno, fora do
tempo, as coisas, que têm geração e corrupção,
são temporais.
PRÉ-SOCRÁTICOS - ANAXIMANDRO DE
MILETO
 Há umpagamento necessário das injustiças
das coisas quando de sua corrupção.
 Se as coisas pagam sua injustiça só por serem
coisas ou se por especificidades de sua
trajetória como coisas, essa é uma reflexão
prejudicada por falta de textos que a detalhem.
PRÉ-SOCRÁTICOS - HERÁCLITO DE ÉFESO
 De Heráclito de Éfeso, de tempos mais recentes
na história dos pré-socráticos (540?-480?a.C.), ao
contrário de Anaximandro, grande parte de seus
fragmentos chegou até os dias atuais.
 Muitos consideram Heráclito como o mais
importante filósofo pré-socrático.
 Escrevendo por aforismos, em linguagem difícil,
era também conhecido pela alcunha de O
obscuro.
PRÉ-SOCRÁTICOS - HERÁCLITO DE ÉFESO
PRÉ-SOCRÁTICOS - HERÁCLITO DE ÉFESO
 Heráclito é um filósofo excêntrico, que
desprezava as massas e suas crendices.
 Em sua cosmologia, fundava no fogo a base da
natureza.
 Por tal razão, o universo tinha por padrão a
mudança.
 O fogo procedia a uma constante
transformação de todas as coisas.
PRÉ-SOCRÁTICOS - HERÁCLITO DE ÉFESO
 O tema da mudança é o mais importante
elemento trazido por Heráclito à filosofia.
 No seu famoso fragmento, “No mesmo rio
entramos e não entramos; somos e não somos”,
“não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”, há
a dimensão do devir, do fluxo infinito do mundo.
PRÉ-SOCRÁTICOS - HERÁCLITO DE ÉFESO
 A noção de que tudo flui quer dizer que há uma
constante criação e perecimento das coisas.
 O quente se torna frio e o frio, quente.
 A criança se torna velho.
 O dia anoitece.
PRÉ-SOCRÁTICOS - HERÁCLITO DE ÉFESO
 A noção de devir, em Heráclito, não é a de
qualquer fluxo: trata-se da luta dos contrários.
 Há uma constante entre os opostos.
 Ao contrário dos que buscariam ver, na filosofia,
a compreensão das noções estáveis, eternas,
Heráclito aponta para o conflituoso, antitético,
mutável e tenso.
PRÉ-SOCRÁTICOS - HERÁCLITO DE ÉFESO
 Dirá: “O contrário em tensão é convergente; da
divergência dos contrários, a mais bela
harmonia”, “Conjunções: completo e incompleto
(convergente e divergente, concórdia e discórdia, e
de todas as coisas, um e de um, todas as coisas)”.
PRÉ-SOCRÁTICOS - HERÁCLITO DE ÉFESO
 Para Heráclito, justamente essa tensão entre os
opostos, o conflito do devir das coisas, é a
causa da justiça do mundo.
 “Não compreendem como concorda o que de si
difere; harmonia de movimentos contrários, como
do arco e da lira”, diz um fragmento seu.
PRÉ-SOCRÁTICOS - HERÁCLITO DE ÉFESO
 O devir das coisas em conflito se dá por meio das
“medidas”:
 “O sol não ultrapassará as medidas; se o fizer, as
Eríneas (vingança), ajudantes de Dike (justiça), o
encontrarão”.
 Há uma constância da transformação dos
opostos.
 O dia vira noite; a noite vira dia.
PRÉ-SOCRÁTICOS - HERÁCLITO DE ÉFESO
 Se uma velha tradição da filosofia busca
compreender a justiça como o estável, o
inabalável, eterno, Heráclito lança-se a uma nova
visão: a justiça é o conflito, é a discórdia.
 “Se há necessidade é a guerra, que reúne, e a
justiça, que desune, e tudo, que se fizer pela
desunião, é também necessidade.”
PRÉ-SOCRÁTICOS - HERÁCLITO DE ÉFESO
 Heráclito disse: “Eu me busco a mim mesmo”, “É
dado a todos os homens conhecer-se a si mesmo e
pensar”, numa espécie de busca antropológica que
será divisa, posteriormente, de Sócrates e de
outros.
 Para Heráclito, o conhecimento é uma procura
daquilo que se esconde.
 “A harmonia invisível é mais forte do que a
visível”, diz outro de seus fragmentos.
PRÉ-SOCRÁTICOS - HERÁCLITO DE ÉFESO
 Justamente por isso, há um nível profundo do
justo que não está nas aparências estáveis das
situações do mundo:
 “Para o Deus, tudo é belo e bom e justo. Os
homens, porém, tomam umas coisas por injustas,
outras por justas”.
PRÉ-SOCRÁTICOS - PARMÊNIDES DE ELEIA
 Ao lado de Heráclito, outro importante momento
da filosofia pré-socrática se estabelece com
Parmênides de Eleia (540 a.C.–?).
 De cronologia incerta, Platão chega mesmo a pô-
lo em contato com Sócrates em um de seus
diálogos.
 Parmênides foi legislador de seu povo,
notabilizado ao seu tempo pela justiça das leis
que legara.
PRÉ-SOCRÁTICOS - PARMÊNIDES DE ELEIA
PRÉ-SOCRÁTICOS - PARMÊNIDES DE ELEIA
 O texto fundamental da filosofia de Parmênides
tem a forma de um poema, Da natureza.
 Esse poema é dividido em dois blocos, o caminho
da verdade (alétheia) e o caminho da opinião
(dóxa).
 A deusa o conduz ao caminho da verdade.
 A verdade aparece, para Parmênides, como a
razão, como aquilo que é.
PRÉ-SOCRÁTICOS - PARMÊNIDES DE ELEIA
 A opinião está ligada ao mundo sensorial,
relacionada àquilo que se vê, e que portanto
muda.
 Logo de início, a perspectiva de Parmênides é
diferente da de Heráclito.
 A mudança, para este, é a constituinte de todas
as coisas.
 Para Parmênides, no entanto, o que é único,
não se muda.
PRÉ-SOCRÁTICOS - PARMÊNIDES DE ELEIA
 Costuma-se identificar, em Parmênides, o
iniciador da trajetória da lógica.
 Em seu poema, estão apontados o princípio da
identidade – o que é, é – e o princípio da não
contradição – o que é não pode não ser.
 Parmênides, por meio de seu poema, vai mais
longe.
PRÉ-SOCRÁTICOS - PARMÊNIDES DE ELEIA
 Somente o que é é pensável e dizível.
 O que não é não se pode pensar e dizer.
 Assim sendo, uma espécie de ontologia – uma
reflexão sobre o ser – acompanha sua lógica.
PRÉ-SOCRÁTICOS - PARMÊNIDES DE ELEIA
 O estabelecimento dos parâmetros de
identificação do ser como uno, pleno, não
divisível, acarreta, no pensamento de
Parmênides, a noção de que a mudança, a
transformação e a oposição interna na
própria coisa são opiniões desprovidas de
realidade e razão.
 Assim, Heráclito, que insistia no conflito,
representa um polo oposto daquele parmenidiano.
PRÉ-SOCRÁTICOS - PARMÊNIDES DE ELEIA
 A estabilidade do ser é sua marca
característica.
 Poder-se-ia, no extremo – embora com as
ressalvas devidas –, ver em Parmênides um
pendor ao conservadorismo em sua visão de
mundo, na medida em que toma o ser como
estabilidade.
 Para Heráclito, o ser é mudança.
PRÉ-SOCRÁTICOS - JUSTIÇA
 Os caminhos pré-socráticos apresentam questões
particulares no que diz respeito a uma reflexão
sobre a justiça.
 Para Anaximandro, há uma espécie de devir
que faz com que as coisas sejam julgadas pela
sua injustiça.
 Tal condição justa é um atributo das próprias
coisas do mundo.
PRÉ-SOCRÁTICOS - JUSTIÇA
 Para Parmênides, a justiça, muito mais do que
algo nas coisas, é uma necessidade lógica, um
conceito.
PRÉ-SOCRÁTICOS - LOGOS
 Mas, enquanto o logos (o ser, o pensamento, a
fala) de Parmênides é um conceito, uma visão
lógica sobre as coisas.
 Para Heráclito o logos é, além de tudo isso, uma
ação.
 As coisas mudam, os contrários se ligam, o
conflito se põe como base de todas as coisas.
PRÉ-SOCRÁTICOS - LOGOS
 Poder-se-ia dizer que o logos de Heráclito é
menos sagrado que o de Parmênides, na
medida em que está mergulhado na ação, na
interação dos homens com as coisas e com o
mundo.
 Para Parmênides, a via da verdade, que lhe foi
revelada divinamente, é uma forma de ver o
mundo afastada de todas as opiniões
contraditórias que as pessoas tenham na sua
interação quotidiana com a própria realidade.
PRÉ-SOCRÁTICOS - LOGOS
 Já para Heráclito, o homem, fazendo parte do
mundo, está atravessado pelo conflito, pela
mudança, pela transformação.
 Por isso, Heráclito recomenda o conhecimento
de si mesmo, não como forma de se afastar do
mundo, mas porque o homem é parte do mundo.SÓCRATES
SÓCRATES
SÓCRATES
 Por muitos considerado a figura simbólica mais
alta da filosofia – porque pelas ideias e pela
verdade morreu –, Sócrates (470-399 a.C.)
desenvolveu seu pensamento no tempo de
apogeu da vida cultural e social dos gregos.
SÓCRATES
 Atenas vivia, na fase em que surgiu Sócrates, a
época que foi chamada de Século de Péricles.
 Os atenienses haviam vencido a guerra contra
os persas.
 Seu comércio abundante, seu desenvolvido
artesanato e suas artes, sua cultura, seu
cosmopolitismo, e, principalmente, seu arranjo
político excepcional – a democracia –
possibilitaram a Atenas a dianteira do
pensamento filosófico.
SÓCRATES
 Se os filósofos pré-socráticos surgiram e
produziram seu pensamento nas colônias
gregas, Atenas, ao tempo de Péricles, conseguiu
por fim ser a sede inquestionável da filosofia
entre os gregos.
 O grupo de Sócrates e seus discípulos – o mais
famoso deles Platão, e também seu posterior e
renomado aluno Aristóteles – marcou tal tempo.
SÓCRATES
 No entanto, o socratismo não foi uma corrente
solitária da filosofia ateniense àquele tempo.
 Pelo contrário, se estabeleciam também, em tal
período, os pensadores ditos sofistas.
 É justamente contra eles, seus
contemporâneos, que Sócrates se levanta
filosoficamente.
SÓCRATES
 Os sofistas foram os grandes artífices da
construção da prática democrática ateniense.
 Os cidadãos da pólis ateniense não eram em
número quantitativamente elevado, já que
excluídos de tal condição estavam as mulheres, as
crianças, os velhos, os escravos, os estrangeiros.
 Por isso, aqueles proprietários e homens livres
que reuniam a condição de cidadania agiam em
deliberação coletiva e direta para resolver os
problemas e questões pertinentes à pólis.
SÓCRATES
 Assim sendo, ao contrário da nossa
contemporânea democracia representativa, na
qual os cidadãos escolhem os líderes que
deliberarão em seu nome.
 Após isso não mais se sentem obrigados a
partilhar os destinos da sociedade, em Atenas os
cidadãos discutiam diretamente, em praça
pública, e seu interesse somente se fazia
garantido por meio de sua própria expressão
verbal.
SÓCRATES
 Nesse contexto, os sofistas exerciam um papel
ímpar.
 Eram mestres da retórica, ensinando a boa
construção dos argumentos aos cidadãos.
 Não tinham um apreço intrínseco a tal ou qual
ideia, mas, antes, ensinavam a expor bem
qualquer ideia.
SÓCRATES
 Seus préstimos eram fundamentais ao cidadão
ateniense.
 A boa retórica era o instrumento necessário
para a melhor persuasão dos concidadãos.
 Ensinando a argumentar, os sofistas formavam a
elite política ateniense.
SÓCRATES
 Sócrates se recusa a considerar os sofistas
filósofos, justamente pelo desamor destes aos
conceitos e ideias, na medida em que
possibilitavam a venda das próprias ideias.
SÓCRATES
 Tal moralidade socrática, que considera a
filosofia como o amor ao saber, e, portanto,
orienta a busca filosófica em direção dos
conceitos estáveis, desprovidos das
ambiguidades e dos floreios das
argumentações, foi sempre muito apreciada
pela filosofia medieval e moderna, o que fez de
Sócrates o paladino da filosofia em
contraposição aos sofistas, vendilhões da
verdade.
SÓCRATES
 Ao contrário da velha tradição pré-socrática,
que buscava entender a natureza das coisas,
portanto sua physis, os sofistas creditavam a
verdade, a moralidade, a religião, a justiça e os
conceitos políticos e sociais ao consenso, a uma
convenção entre os homens.
 Era da persuasão que se formava a verdade.
SÓCRATES
 A verdade não estava inscrita na natureza, na
medida em que até os juízos sobre a natureza
são humanos.
 Assim sendo, os sofistas encaminharam a
filosofia a uma apreciação direta das questões
sociais e políticas enquanto questões humanas,
culturais, construídas de modo aberto e não
dogmático.
SÓCRATES
 Os sofistas sofreram restrições dos aristocratas
atenienses, na medida em que, ensinando
argumentações, possibilitavam aos demais
cidadãos uma participação convincente e decisiva
nas deliberações.
 Ao mesmo tempo, foram vistos com reprovação
pelos socráticos, que os recriminavam por
vender argumentos.
SÓCRATES
Mestres da retórica e da argumentação
prática, para os casos concretos, os sofistas
pouco escreveram, e os seus livros se
perderam.
 Conhece-se seu pensamento, quase sempre, por
meio de seus detratores.
 Platão e Aristóteles afastam-se explicitamente,
em suas obras, do pensamento e do raciocínio dos
sofistas.
SÓCRATES
 Um dos mais famosos sofistas, Protágoras de
Abdera, segundo Platão e a tradição, teria
ensinado ser o homem a medida de todas as
coisas.
 A verdade, para Protágoras, não deveria ser uma
escavação da natureza, enquanto um dado
objetivo e alheio ao homem e à pólis.
 Pelo contrário, a verdade era uma construção
humana.
SÓCRATES
 Nesse ponto, paradoxalmente, residiu a grande
humildade dos sofistas, que se julgavam falíveis
em suas opiniões, e justamente por isso abertos
perenemente à possibilidade do entendimento
das opiniões contrárias.
SÓCRATES
 O papel de vendilhões do saber passa a ser muito
matizado quando se observa que os sofistas
contribuíram para trazer as discussões sobre os
destinos do homem nas mãos do próprio
homem, alicerçando, com a sua retórica, as bases
da democracia ateniense.
 A argumentação enquanto técnica ensinada ao
cidadão fez consolidar a possibilidade de
articulação efetiva da democracia.
SÓCRATES
 O eixo central do argumento dos sofistas, no que
diz respeito ao direito, versa sobre a dicotomia
entre nomos e physis.
 De um lado, a norma, tida como uma
construção histórica, uma convenção
humana, e, de outro lado, a natureza, como
âncora e medida de todas as coisas.
SÓCRATES
 As velhas classes aristocráticas atenienses,
apegadas à noção de perene pertencimento à
terra, às noções de sangue, predispunham-se a
um entendimento do justo como sendo physis.
 Por sua vez, as classes democráticas
propugnavam a justiça como uma convenção,
podendo, portanto, ser alterada.
SÓCRATES
 Protágoras foi decisivo no sentido de apontar
para a justiça como uma convenção.
 Ela não está inscrita na natureza, na medida
em que são os homens que atribuem
significados justos ou injustos às coisas e
situações.
SÓCRATES
 Mas Sócrates, por sua vez, opunha-se
frontalmente tanto ao estilo de pensamento dos
sofistas – na medida em que não vendia
argumentos – quanto também ao horizonte
filosófico por eles proposto.
 Para Sócrates, a verdade e o justo não se
reduzem ao nível das convenções.
 Não são mera estipulação variável, de acordo
com as opiniões ou com a maioria.
SÓCRATES
 Por sua vez, também a mera apreciação do justo
como uma physis calcada nas tradições, sem
melhor investigação filosófica, era rejeitada por
Sócrates.
 Para Sócrates, era preciso buscar o fundamento
das ideias e dos conceitos.
SÓCRATES
 A atividade primeira do filósofo é a indagação
sobre o que é, no sentido do esclarecimento e da
iluminação em direção do verdadeiro.
 Ao contrário do sofista, que afasta a verdade
porque a considera uma convenção, e, portanto,
trabalha com as verdades, Sócrates busca a
verdade.
SÓCRATES
 O que configura o pensar socrático é justamente
esse processo de busca.
 Não é Sócrates um professor que dá respostas aos
seus alunos.
 Antes, é um perquiridor, que se indaga, reflete,
pondera, faz volteios pelos caminhos da verdade.
SÓCRATES Sócrates adota como divisa fundamental de sua
filosofia a célebre frase “só sei que nada sei”, o
que dá demonstrações de que seu pensamento
não se constrói consolidando verdades
estabelecidas, mas, antes, procurando-as,
numa espécie de negatividade da razão, que vem
a demolir as certezas socialmente assentadas.
SÓCRATES
 O processo de procura torna-se fundamental.
 Daí, para Sócrates, mais importante que a
própria conclusão sobre a verdade, é o
método utilizado em todo esse processo.
 O método socrático da indagação é
justamente a busca por extrair, no seio da
multidão das opiniões e concepções divergentes, a
essência da ideia e da verdade.
SÓCRATES
 As contradições das pessoas com as quais
Sócrates dialoga dá mostras da importância não
do floreio entre argumentos – porque a vitória de
um sofista em um argumento nunca é a
vitória da verdade, mas do mais forte
retoricamente – e, sim, do processo de
desbastar as falsas impressões para que se
possa surgir, do fundo das múltiplas opiniões, o
uno da ideia e da verdade.
SÓCRATES
 No oráculo de Delfos, inscrevia-se a divisa
“conhece-te a ti mesmo”. Sócrates a toma como
lema.
 Dissipando os preconceitos, as visões
deturpadas e ligeiras, o homem há de chegar à
verdade.
 Essa espécie de iluminação da alma é a
pedagogia socrática e é também o sentido de sua
filosofia enquanto prática de demonstração da
ignorância de cada qual e de sua necessidade de
reflexão mais profunda e menos convencional.
SÓCRATES
 É justamente no entorno da busca pela
verdade, entendida por Sócrates não como
convenção, mas como objeto específico e passível
de ser definido dialeticamente, que se situa sua
reflexão sobre o direito.
 Sócrates é, ao mesmo tempo, aquele que rompe
com a visão mitológico-religiosa e com a visão
sofista sobre o justo.
SÓCRATES
 Na história de Atenas, o surgimento da
democracia envolvia também uma reflexão
filosófica e um posicionamento político
específico sobre a importância da lei.
SÓCRATES
 Mas, já no tempo de Péricles, a ideia de que a
legalidade se assentava sobre as velhas bases da
religião e dos mitos havia entrado em
decadência.
 Os sofistas, contra os quais argumentava
Sócrates, levantavam, contra a ideia de uma
correspondência da lei com os desígnios dos
deuses, a ideia de seu caráter meramente
convencional, humano.
SÓCRATES
 Tal era o dilema da questão jurídica em Sócrates:
as velhas tradições, que sustentaram a cidade e
que lhe deram a unidade e a coesão até o
presente, eram devotadas a uma espécie de
direito religioso, haurido da mitologia de
Themis e Dike.
SÓCRATES
 Já as novas perspectivas filosóficas se
assentavam sobre o caráter meramente
convencional das normas e, portanto, sobre a
sua construção humana, ocasional.
 Sócrates recusa tanto uma quanto outra visão
sobre o direito.
 Pela primeira visão, tradicional, o direito
exprimia um mundo intermediado pela religião.
SÓCRATES
 Sócrates se insurge contra tal perspectiva, na
medida em que sua pergunta não se orienta sobre
o revelado, mas sobre o conhecido.
 Sua inquirição é racional.
 O justo e o jurídico não são objeto das velhas
tradições.
SÓCRATES
 Inclusive, ao quebrar em seus adversários de
diálogo suas antigas convicções, nada mais faz
Sócrates do que abalar os velhos entendimentos
sobre o direito.
 Mas, de outro lado, Sócrates também não
resvala pelo caráter meramente convencional
da lei e da justiça.
 Nos diálogos de Platão, Sócrates persiste em
considerar que o justo não é uma imposição de
alguns contra outros, nem da maioria, nem do
mais forte.
SÓCRATES
 Portanto, a democracia, só pelo simples ato de
vontade da maioria, não faz a boa lei nem faz
o justo.
 A busca de Sócrates é a de extrair o conceito do
justo por meio da razão.
 De dois modos se pode alcançar o pensamento
jurídico de Sócrates.
SÓCRATES
 Pelas suas ideias, em alguns dos diálogos
propostos especialmente por Platão, e pela sua
própria história pessoal de vida, na medida
em que foi condenado pelos atenienses, defendeu-
se por conta própria e, condenado, não fugiu nem
comutou sua pena com multas.
SÓCRATES
 Em alguns de seus diálogos, Platão se dedica
especialmente a narrar os momentos da
condenação e da execução de Sócrates.
 Comovido pela trajetória final de seu mestre, ao
qual grande injustiça acomete, o discípulo
transcreve e desenvolve uma série de diálogos
em torno da reflexão sobre o direito e o
justo.
SÓCRATES
 Por isso, sua execução também lança reflexões
sobre sua própria perspectiva de filosofia do
direito.
 No que diz respeito à vida de Sócrates, há muitos
relatos tratando de eventuais assuntos
jurídicos e de falas sobre o justo.
 A mais importante fonte a respeito do
pensamento de Sócrates sobre o direito e o justo
está em Platão.
SÓCRATES
 São quatro os mais importantes textos platônicos
ligados a esse assunto: Eutífron, a Apologia de
Sócrates, Críton e Fédon.
 Esses quatro diálogos escritos por Platão
compõem a narrativa de uma sequência de fatos.
SÓCRATES
 No Eutífron, Sócrates caminha em direção ao
tribunal, na ocasião de seu julgamento, e
encontra Eutífron, que por sua vez também
estava envolvido em uma questão judicial.
 Por meio do diálogo com Eutífron, Sócrates
reflete a respeito da ligação do justo com a
moral e a religião.
SÓCRATES
 Sócrates – Era uma coisa semelhante a esta que
eu queria dizer-te há um momento, foi por isto
que perguntei se onde está a justiça, também
está a piedade, ou o que dá na mesma, se tudo
que é piedoso é justo, pode haver algo que
sendo justo, não seja totalmente piedoso.
Consideraríamos então a piedade como uma
parte da justiça. Estamos de acordo quanto a isto
ou desejarias manifestar-te de outra forma?
 Eutífron – Não, uma vez que me parece estares
dizendo coisas corretas.
SÓCRATES
 Eutífron – Creio, entretanto, Sócrates, que acerca
disto não exista nenhum desacordo entre os
deuses que chegue ao ponto de afastar o fato de
que deva ser castigado aquele que matou
alguém injustamente.
 Sócrates – Como? E quanto aos homens, Eutífron,
não ouviste, por acaso, como se discute que
aquele que matou injustamente ou cometeu
uma ação injusta deva ser castigado?
SÓCRATES
 Eutífron – Claro, e é o que não deixam de discutir
em todos os lugares e diante dos tribunais.
Mostram-se, destarte, incrivelmente injustos,
mas fazem e dizem, finalmente, todo o
necessário para escapar ao castigo.
 Sócrates – [Eles] Convêm então, Eutífron, nas
injustiças, mas, contudo, pretendem que não
sejam castigados?
SÓCRATES
 Eutífron – Pelo menos não atuam doutra forma.
 Sócrates – Não cumprem, portanto, neste caso,
tudo o que fazem e dizem. Porque, segundo
creio, não se atrevem a manter, nem o discutem,
que devam escapar ao perigo se cometem
alguma ação injusta. Não é assim?
SÓCRATES
 Eutífron – Dizes a verdade.
 Sócrates – Não discutem, de modo algum, que o
culpado deva ser castigado, mas que, se
produz uma discussão, centram-na na questão de
quem é o culpado, o que fez e quando.
SÓCRATES
 Eutífron – É assim.
 Sócrates – A mesma coisa acontece com os
deuses, se é que eles, segundo afirmas, também
estão em desacordo acerca do justo e do
injusto, e alguns pretendem que os outros
cometam injustiças e estes, que não. Com o que
comprovas, admirável amigo, que nenhum dos
deuses e dos homens se atreve a sustentar que
não se deva castigar a injustiça.
SÓCRATES
 Eutífron – Sim, é verdade o que dizes, Sócrates,
pelo menos no fundamental. Sócrates – Os que discutem, sejam homens ou
deuses, supondo-se que discutam, apenas
dissentem, Eutífron, acerca de cada caso em
particular. Sua opinião difere relativamente a
um determinado ato, pois alguns afirmam que
esse ato é justo e outros que é injusto. Não é?
SÓCRATES
 A Apologia de Sócrates é um dos momentos
mais importantes de sua reflexão jurídica.
 Levado ao tribunal, antes do julgamento,
Sócrates se defende e inclusive dialoga
diretamente com seu acusador, Meleto.
 Sócrates não busca se valer de subterfúgios
para escapar à condenação.
SÓCRATES
 Mas excetuando, ó cidadãos, o bom nome da
cidade, não me parece justo influir sobre os
juízes e com súplicas escapar da
condenação, mas sim instruí-los e persuadi-
los.
 Uma vez que o juiz não está neste lugar para
fazer graça ao justo, mas para julgar o justo,
nem jurou que concederá graça a quem lhe
paga, mas que fará justiça segundo as leis.
SÓCRATES
 E então não é preciso que vos habituemos a
violar o juramento, nem que vos habitueis a
isso, não faremos coisas boas e pias, nem vós,
nem nós.
 Não desejais então, ó cidadãos de Atenas, que eu
cometa diante de vós atos que julgo desonestos,
injustos e ímpios e muito menos eu, eu que sou
acusado por Meleto, aqui presente, de impiedade
SÓCRATES
 Antes, busca esclarecer, por meio do diálogo, as
acusações que lhe são imputadas, de
corromper os jovens com novas ideias e de
trazer novos deuses ao culto dos atenienses.
 Sua argumentação vai ao fundamento do que se
acusa e sobre sua relação com os juízes e as leis
de Atenas.
SÓCRATES
 Após o veredicto de sua condenação à morte, o
texto da Apologia escrito por Platão ainda narra o
comentário de Sócrates, feito ainda no próprio
tribunal, sobre a pena que lhe foi imputada e
sobre os juízes que lhe foram a favor e contra.
SÓCRATES
 O Críton (ou Critão) é o diálogo mais importante
de Sócrates a respeito do justo.
 Após ser condenado, Sócrates é então levado à
prisão, onde esperará sua execução.
 No entanto, somente seria morto quando
retornasse um navio dos atenienses que levara
oferendas a um oráculo.
SÓCRATES
 Nesse intervalo, vários discípulos acorreram, na
tentativa de salvar Sócrates da morte.
 Críton, um discípulo de Sócrates rico e bem
relacionado, estabelece diálogo com o mestre
buscando convencê-lo a fugir, ou a exilar-se,
ou a subornar os juízes e os soldados.
 Sócrates rejeita todos os favorecimentos.
SÓCRATES
 Sócrates – Continua, pois, atento: se ao seguir a
opinião dos ignorantes destruíssemos aquilo que
apenas por um regime saudável se conserva e que
pelo mau regime se destrói, poderemos viver
depois da destruição do primeiro? E, diga-me,
não é este nosso corpo?
 Críton – Sem dúvida, nosso corpo.
 Sócrates – E podemos viver com um corpo
corrompido ou destruído?
 Críton – Seguramente não.
SÓCRATES
 Sócrates – E poderemos viver depois da
corrupção daquilo que apenas pela justiça vive
em nós e do que a injustiça destrói? Ou
julgamos menos nobre que o corpo, essa parte de
nós mesmos, qualquer que seja, a que se refira à
justiça e à injustiça?
 Críton – De modo algum.
 Sócrates – E, não é a mais preciosa?
 Críton – Muito mais.
SÓCRATES
 Sócrates – Portanto, querido Críton, não devemos
nos preocupar com aquilo que o povo venha a
dizer, mas sim pelo que venha a dizer o único
que conhece o justo e o injusto e este único
juiz é a verdade.
 Donde poderás concluir que estabeleceste
princípios falsos quando disseste inicialmente
que deveríamos fazer caso da opinião do povo
acerca do justo, o bom, o digno e seus opostos.
SÓCRATES
 Para Críton, seria vergonhoso que, em podendo
salvá-lo, seus amigos nada fizessem em seu favor.
 Por essa razão, pedia que Sócrates fugisse, tendo
em vista a opinião das pessoas.
 O ponto nevrálgico da questão jurídica, no Críton,
está no respeito às leis da cidade, na medida
de uma honra necessária do cidadão à pólis.
SÓCRATES
 Sócrates – Vejamos se assim o entendes melhor.
Se chegado o momento de nossa fuga, ou como o
queres chamar, nossa saída, as leis da pólis,
apresentando-se a nós, nos dissessem:
“– Sócrates, o que vais fazer? Levar teu projeto a
cabo não implica em destruir-nos
completamente, uma vez que de ti dependem,
para nós, as leis da pólis e a todo o Estado?
Acreditas que um Estado pode subsistir quando
as sentenças legais nele não têm força e, o que
é mais grave, quando os indivíduos as
desprezam e destroem?
SÓCRATES
 Em todo o Críton, concluindo a sequência dos
diálogos que envolviam a condenação de Sócrates,
Platão narra a determinação socrática em
fazer do cumprimento de sua sentença um
dever moral, na medida do respeito à pólis.
 Por fim, após o Críton, o diálogo Fédon trata dos
momentos finais de Sócrates e de sua
execução, tomando veneno.
 Neste último diálogo, Sócrates reflete sobre a
morte e a alma.
SÓCRATES
 Perpassa por toda a discussão socrática no
Eutífron, na Apologia e no Críton, um respeito
às instituições jurídicas e à pólis, como
testemunho de um vínculo necessário a ligar o
destino jurídico individual e a organização
política do todo.
 Ocorre que o vínculo entre indivíduo e pólis, para
Sócrates e Platão, é haurido de fontes muito
distintas daquelas tradicionalmente pensadas
pelos filósofos e juristas modernos.
SÓCRATES
 Para os juristas da modernidade, o indivíduo
se liga à pólis porque contratou viver em
sociedade – trata-se da teoria moderna do
contrato social.
 Para Sócrates e Platão, no entanto, por mais
diversas sejam as generalidades de suas
explicações da ligação do homem à sociedade, o
caráter político da natureza humana é seu
ponto comum de interpretação.
SÓCRATES
 Por não ter fugido à condenação, uma leitura
superficial dos textos referentes ao direito em
Sócrates poderia até mesmo levar à acusação de
um certo pioneirismo juspositivista.
 No entanto, o pensamento socrático não é, de
modo algum, precursor do juspositivismo.
 Sócrates não se submete às leis por
reconhecer seu acerto.
 Tampouco considera a sua sentença justa.
SÓCRATES
 Sua proposta, ao não fugir da execução, não se
encaminha pela justeza do direito positivo.
 Sua visão é muito mais moral e filosófica: acima
do direito positivo há um justo, que pode ser
compreendido pela razão, e aceitar o justo é um
dever.
SÓCRATES
 A condenação de Sócrates, sendo injusta,
revelaria aos atenienses com clareza o justo,
por contraste.
 Da injustiça do seu caso concreto não
decorreria, como os sofistas poderiam imaginar,
a inexistência de marcos racionais do justo.
 Para Sócrates, eles existem, e seu exemplo
serviria para demonstrar a injustiça.
SÓCRATES
 O fato de Sócrates não ter fugido não quer
representar uma admiração aos mecanismos de
aplicação imediata das normas jurídicas.
 Pelo contrário, Sócrates declara a injustiça da
pena que contra ele se impõe.
 Contra a ausência de rigidez moral e de
alcance da verdade dos cidadãos atenienses é que
ele se opõe, e sua submissão à sentença é, na
verdade, uma ação política de abalo e
incômodo.
SÓCRATES
 Sócrates: mas a vós que me condenastes quero
fazer uma predição, e dizer aquilo que acontecerá
depois. Estou agora naquele limite em que os
homens fazem mais facilmente predições, quando
estão para morrer. Eu digo, ó cidadãos, que me
haveis matado, que uma vingança recairá
sobre vós, logo depois de minha morte, muito
mais grave do que a que realizaste matando-me.
Fizestes isso, hoje, na esperança de liberação, só
prestar contas de vossas vidas e em lugardisso,
obtereis precisamente o contrário, eu vo-lo
predigo. Não apenas eu, mas muito vos pedirão
contas todos aqueles que se relacionaram comigo
e não percebestes.
SÓCRATES
 Sócrates: e serão tanto mais obstinados quanto
mais jovens são, e tanto mais quanto mais os
desdenhardes. Pois se pensais, matando homens,
impedir a alguém que vos cause vergonha pelo
vosso viver não reto, pensais mal. Não, este não é
o modo de se libertar daqueles, e de fato não é
possível, nem belo, mas há um outro modo,
facílimo e belíssimo, não tirar a palavra de
ninguém, mas simplesmente cuidar de ser
sempre mais virtuoso e melhor. Este é meu
vaticínio, a vós que me haveis condenado; e
convosco terminei.
SÓCRATES
 Distanciando-se dos sofistas, para quem a
verdade era um produto volátil, humano,
meramente convencionado como tal, e afastando-
se também dos que imaginavam o justo uma
repetição da tradição revelada pelos deuses,
Sócrates situa a virtude, a razão e a verdade
como sendo critérios do justo.
SÓCRATES
 Uma leitura conservadora, juspositivista, diria
que Sócrates não fugiu da condenação por
devoção à ordem jurídica estabelecida.
 Uma leitura mais crítica, no entanto, diz que
Sócrates separa a apreciação moral do justo
da sua mera afirmação jurídica.
SÓCRATES
 Apoiado na razão, Sócrates empreendeu bem
mais do que um pretenso elogio ao direito de
Atenas, do qual na verdade foi voraz crítico: fez
uma filosofia do direito.
PLATÃO
PLATÃO
PLATÃO
 Platão (428-347 a.C.) é a primeira grande
expressão genial da história da filosofia.
 Seu legado escrito, constituído em geral sob a
forma dos chamados Diálogos, preservou-se em
sua maioria até os dias atuais.
 Preocupado com as questões últimas e mais
profundas da filosofia, Platão é responsável por
um grande sistema de pensamento que deixou
indeléveis marcas na visão de mundo ocidental,
desde seu tempo até hoje.
PLATÃO
 Pode-se dizer mesmo que uma espécie de
metafísica das ideias como sendo o senso comum
médio da filosofia principiou com Platão.
 O mais importante aluno de Sócrates, Platão
descendia de família nobre e aristocrática de
Atenas.
PLATÃO
 Seus parentes inclusive foram responsáveis pelo
governo ateniense em tempos que lhe foram
imediatamente anteriores.
 Desde jovem Platão acompanhou os passos do
ensino de Sócrates, tendo vivenciado
proximamente seu julgamento e execução,
guardando desse fato profundas implicações para
seu posterior pensamento filosófico, político e
jurídico.
PLATÃO
 Talhado desde o berço familiar para a política,
Platão renunciou, a princípio, à atuação na
liderança política, situação reforçada pela
perseguição ateniense a Sócrates e seus
discípulos, o que lhe fez ter como ocupação inicial,
mais do que agir, compreender os fundamentos
da política e da justiça.
PLATÃO
 Somente em etapa posterior, já com seu sistema
filosófico fundado, Platão dedicou-se à prática
política, sugerindo leis para Atenas e
Siracusa, por exemplo.
 Em muitas dessas ocasiões, logrou grande
insucesso pessoal, sofrendo inclusive prisões.
PLATÃO
 Em Atenas, após as perseguições e o exílio
devidos à condenação de Sócrates e a sorte que
recaiu sobre seus discípulos, Platão leciona
naquela que fundou e que seria a primeira
grande escola de filosofia do passado, a
Academia.
 Dentre os melhores jovens filósofos que formou,
esteve Aristóteles, seu mais brilhante
discípulo.
PLATÃO
 O pensamento de Platão é vasto, utilizando-se
dos diálogos como meio de exposição de seu
pensamento.
 No geral, os diálogos relatam conversas que têm
por principal interlocutor Sócrates, travando
palestras com inúmeros personagens.
PLATÃO
 A história da filosofia dedicou-se, sempre com
muita controvérsia, a saber da veracidade de
tais diálogos.
 É possível que, em vários casos, tenha mesmo
Sócrates desenvolvido tais ideias.
PLATÃO
 Mas, também, é certo que, principalmente nos
diálogos escritos em sua maturidade, Platão
utiliza Sócrates muito mais como mote para o
desenvolvimento de suas próprias ideias do
que propriamente como personagem de quem se
relate fielmente seus fatos havidos.
PLATÃO
 A importância dos diálogos de Platão é muito
grande na filosofia.
 Além disso, têm uma estrutura muito específica.
 Os diálogos platônicos não são tratados de
filosofia do modo como se conhece na sua forma
moderna, de ensaio ou monografia.
PLATÃO
 A estrutura dos diálogos é espiralada e não
linear, com reviravoltas, mudanças de cadência
e abertura de ideias que revelam uma construção
filosófica em ato.
 O desenrolar dos diálogos se presta a constituir,
no leitor e naquele que o acompanha, uma
espécie de formação moral e intelectual da
verdade e das ideias.
PLATÃO
 Fundamental na leitura dos diálogos é,
justamente, o entendimento de seu método, de
sua estrutura.
 Platão apresenta uma lógica de ideias que deve
ser captada nas entranhas dos muitos
desenvolvimentos dos diálogos.
 Logo de início, ressalta-se a dialética como meio
de apreensão da verdade.
 É a partir da dialética que o método
platônico se constrói.
PLATÃO
 Em textos como A República, a obra maior do
sistema platônico, e na sua famosa Carta VII,
explicita-se a construção do método dialético em
Platão.
 Para ele, é impossível fixar a razão nos limites
da apreensão sensível das coisas.
 A realidade é contingente, falha, limitada.
PLATÃO
 É preciso, pois, fazer um movimento de busca de
uma realidade suprassensível, que alcance o
nível das Ideias (eîdos).
 Platão, portanto, distingue o mundo das
realidades sensíveis daquele nos quais as
Ideias se assentam.
PLATÃO
 A dialética é o método que permite sair do
mundo sensível e alcançar as ideias.
 Enquanto atrito de percepções, fatos, opiniões e
diálogos, a dialética supera o nível das imagens e
das definições dos dados sensíveis.
PLATÃO
 Ao contrário dos sofistas, que dialogavam para
que no limite as partes chegassem a um acordo,
a uma concessão, a um meio-termo entre duas
opiniões.
 Na dialética platônica trata-se do atrito de
entendimentos para que, ao final, numa espécie
de salto, chegue-se à verdade.
PLATÃO
 O contraste com os sofistas – que dialogavam
para facilitar as convenções, o mero consenso –
serve para explicitar que a busca platônica é
pela essência, por aquilo que paire soberano por
sobre as falsas opiniões, o Bem.
 A essência não está contingente aos fatos, a cada
fenômeno que se vê, mas, sim, impõe-se como
Forma, no geral.
PLATÃO
 Não é a compreensão de cada objeto da realidade
que exprime sua verdade.
 É a compreensão da essência, da Ideia
suprema, que levará ao verdadeiro.
 A posterior aplicação da Ideia na realidade
constitui-se na ciência, uma ciência perfeita,
porque de conclusões extraídas a partir do
princípio essencial.
PLATÃO
 Há um símbolo marcante para tratar das Ideias
em Platão.
 É o conhecido Mito da caverna, exposto no
Livro VII da República.
PLATÃO
 Na narrativa dada a Platão a tal mito, havia
presos agrilhoados que, de dentro de uma
caverna e de costas à luminosidade do exterior,
observavam a movimentação da realidade
externa e, a partir das sombras dos objetos e
seres que estavam no exterior da caverna,
faziam juízo a seu respeito, sobre sua forma,
sua aparência, seu tamanho.
PLATÃO
 Na verdade, no entanto, viam apenas as
sombras desses seres projetadas no interior da
caverna.
 Em uma certa ocasião, libertando-se dos
grilhões que os prendiam,um daqueles que se
situavam na caverna sobe ao alto, e tal subida é
difícil, já que o corpo até então agrilhoado não
está acostumado ao movimento.
PLATÃO
 Ao chegar ao exterior, cega-se, num
primeiro momento, com a luz solar que
brilhava. Mas, após se acostumar a enxergar sob
a claridade da luz, passa a compreender que as
sombras que via projetadas na caverna, na
verdade, eram imagens distorcidas.
 A verdade não estava naquilo que suas
percepções corrompidas viam a partir das
sombras. A luminosidade do ser só brilhou
quando da libertação das imagens e dos conceitos
imperfeitos.
PLATÃO
 No mito proposto pela boca de Sócrates na
República, há ainda a incompreensão daqueles
que, de dentro da caverna, ouvem daquele
que subiu, em sua volta, o relato da verdade do
mundo exterior.
 Suas imagens distorcidas que sempre viram não
correspondem ao relato tido por fantasioso e
absurdo do homem que se libertou.
PLATÃO
 A luz que brilhou e possibilitou que o liberto da
caverna visse a plena verdade não é bem aceita
pelos seus, que passam a persegui-lo e o
matam, numa simbologia muito forte, a respeito
do próprio destino que os atenienses deram a
Sócrates.
PLATÃO
 Sócrates – Agora, meu caro Glauco, é preciso
aplicar, ponto por ponto, esta imagem ao que
dissemos atrás e comparar o mundo que nos
cerca com a vida da prisão na caverna, e a luz do
fogo que a ilumina com a força do Sol.
 Quanto à subida à região superior e à
contemplação dos seus objetos, se a considerares
como a ascensão da alma para a mansão
inteligível, não te enganarás quanto à minha
ideia, visto que também tu desejas conhecê-la.
PLATÃO
 Só Deus sabe se ela é verdadeira.
 Quanto a mim, a minha opinião é esta: no mundo
inteligível, a ideia do bem é a última a ser
apreendida, e com dificuldade, mas não se pode
apreendê-la sem concluir que ela é a causa de
tudo o que de reto e belo existe em todas as
coisas; no mundo visível, ela engendrou a luz e o
soberano da luz; no mundo inteligível, é ela que é
soberana e dispensa a verdade e a inteligência; e
é preciso vê-la para se comportar com sabedoria
na vida particular e na vida pública.
PLATÃO
 Tal é o idealismo platônico, que separa a
realidade sensível da plenitude das essências,
estas como conceitos plenos.
 A realidade sensível é uma corrupção das plenas
Ideias.
 Nos diálogos, o método dialético alcança a
plenitude da essência, por meio de uma condução
firme e segura dos mestres, como é o caso de
Sócrates, que demonstra o limite das opiniões
comuns e leva a outro patamar de
entendimento filosófico.
PLATÃO
 Sócrates – Portanto, o método dialético é o único
que se eleva, destruindo as hipóteses, até o
próprio princípio para estabelecer com solidez as
suas conclusões, e que realmente afasta, pouco a
pouco, o olhar da alma da lama grosseira em que
está mergulhado e o eleva para a região superior,
usando como auxiliares para esta conversão as
artes que enumeramos.
PLATÃO
 Seja por meio da reminiscência, seja por meio
do diálogo, valendo-se do método dialético de
superar a aparência para buscar a essência,
aquele que alcança a plena ideia é o sábio, o
filósofo.
 Se ele alcança o Bem supremo, é ele quem deverá
dar luzes, leis e governo aos demais.
 Começa, a partir daí, a filosofia política e
jurídica de Platão.
PLATÃO
 Na sua obra máxima, A República, Platão expõe o
primeiro importante sistema de reflexão sobre o
direito e o justo da história da filosofia.
 Sobre o próprio direito, ainda, há um outro
grande tratado platônico, As leis, que foi o último
escrito de sua vida, e também a sua obra mais
extensa.
 Além disso, questões jurídicas e sobre o justo
encontram-se presentes em muitos outros
diálogos, como, por exemplo, em O político.
PLATÃO
 A concepção platônica sobre o justo é muito
peculiar e especial.
 Difere totalmente da visão que o jurista moderno
tenha sobre o direito.
 Para o pensamento de Platão, torna-se muito
difícil dissociar direito de justiça, o que é
reforçado pelo fato de que a mesma palavra,
díkaion, é utilizada de maneira intercambiável
no texto platônico para essas duas ideias.
PLATÃO
 Para Platão, de um modo surpreendente ao olhar
moderno é possível até mesmo considerar que
uma lei injusta não seja direito, conforme
assevera em As leis.
 O direito injusto não é direito.
PLATÃO
 Por isso, há um desenvolvimento de uma teoria
jurídica platônica que busca compreender o
direito a partir de quadrantes maiores,
lastreado na política e na virtude.
 O próprio processo dialético de descoberta do
direito é amplo e pleno, não se limitando
simplesmente ao dado normativo.
PLATÃO
 No pensamento filosófico de Platão, não se pode
considerar que o conhecimento do direito seja,
simplesmente, uma apreensão empírica dos fatos
jurídicos ou das normas jurídicas.
 Platão não é um juspositivista. Pelo contrário, o
juspositivismo, que descuida de outras
questões que não a mera lei, matou
Sócrates.
 Assim sendo, não é do afazer quotidiano dos que
se ocupam da lei que se pode extrair o justo e o
direito.
PLATÃO
 Levantando-se contra a democracia de Atenas,
sua própria pólis – que se ocupava dos trâmites
das normas mas não de sua essência nem de sua
justeza –, Platão considera que a assembleia
democrática, ao fazer as leis, o faz tal qual uma
mesma assembleia de cidadãos buscando, por
maioria de votos, fazer prescrições médicas a um
doente.
PLATÃO
 O sofista, que argumentava para conseguir a
aprovação de uma lei do interesse daquele que
lhe pagava, ou mesmo que atuava numa função
próxima à do moderno advogado, sofre uma
censura fundamental por parte de Platão, pelo
seu debate que não se fixa em torno do justo,
mas apenas nos quadrantes do convencimento da
maioria.
PLATÃO
 Por isso, se se quiser pensar no direito e no
alcance do justo, devido à inabilidade e à falta de
conhecimento filosófico e dialético do povo, dever-
se-á afastar a busca do justo do debate
sofista e descompromissado, levando-a,
necessariamente, ao caminho de seu encontro na
ideia, sendo que o filósofo, o sábio ao qual a
ideia se revela na alma, é aquele que pode
alcançar o justo.
PLATÃO
 No sentido vulgar e comum, o direito se
esparrama pelos fatos e pelas opiniões das
pessoas na sociedade.
 Em A República, logo em sua entrada, no livro I,
Platão expõe, pela boca de Sócrates, as mais
variadas opiniões comuns a respeito da justiça,
como a de Polemarco e a de Trasímaco, o sofista,
que imagina que a justiça é o proveito que se
dá ao mais forte.
 Platão faz Sócrates rejeitar todas essas opiniões.
PLATÃO
 A primeira das refutações de Sócrates se dá
quanto às ideias de Céfalo, pai de Polemarco.
 Homem rico e bom, de responsabilidade e
sabedoria apreciadas por muitos – reconhecidas
inclusive pelo próprio Sócrates –, Céfalo expõe
uma noção de justiça como cumprimento
dos deveres em face dos outros e das coisas.
PLATÃO
 Aquele que cumpre com suas obrigações
seria justo.
 Sócrates, no entanto, mesmo reconhecendo em
tal visão uma ponderação valiosa, refuta-a,
rejeitando, então, um caráter do justo como
mero cumprimento obrigacional, num
sentido de pagamento comercial ou de uma
desincumbência retilínea da verdade.
PLATÃO
 Céfalo, fabricante de armas, não poderia ser
considerado justo apenas por entregar a alguém o
que fosse seu.
 Restituir uma arma a quem não tivesse condições
mentais para portá-la seria uma injustiça contra
a própria sociedade.
PLATÃO
 Sócrates – As tuas são palavrasmaravilhosas, ó
Céfalo. Mas essa virtude de justiça resume-se em
proferir a verdade e em restituir o que se tomou de
alguém, ou podemos dizer que às vezes é correto e
outras vezes incorreto fazer tais coisas? Vê este
exemplo: se alguém, em perfeito juízo, entregasse
armas a um amigo, e depois, havendo se tornado
insano, as exigisse de volta, todos julgariam que o
amigo não lhe as deveria restituir, nem mesmo
concordariam em dizer toda a verdade a um homem
enlouquecido.
 Céfalo – Estou de acordo.
 Sócrates – Como vês, justiça não significa ser sincero
e devolver o que se tomou
PLATÃO
 Trata-se, da parte de Sócrates, de um
rompimento bastante precoce em face de uma
visão do justo adstrita às partes ou às
coisas, ou mesmo mercantil, para postular uma
análise das implicações sociais – e, portanto,
totais – dos atos e de suas distribuições justas.
 De algum modo, dentre outros, Aristóteles
também retomará tal visão posteriormente.
PLATÃO
 Buscando superar suas definições vulgares e,
posteriormente, intentando alcançar sua
essência, o direito deve ser buscado pelo
sábio, pelo filósofo, que, se o alcança ao
nível das ideias, deverá então legislar.
PLATÃO
 A questão do justo, assim sendo, desloca-se, em
Platão, do plano do indivíduo para o plano da
pólis.
 Será a pólis justa a medida dos homens justos,
e não o contrário.
 Isso quer dizer, havendo distorções graves na
sociedade, não se há de dizer que os afazeres
jurídicos individuais possam lhes ser
considerados alheios.
PLATÃO
 Para a modernidade, todos os homens se
avaliam individualmente por justos e a
sociedade é injusta.
 Platão, desde o início, supera tal dilema: não há
homem justo numa sociedade injusta,
porque a medida da justiça é social.
PLATÃO
 Para tal justiça social, uma série de realizações
há de se constituir.
 A busca das aptidões mais apropriadas a cada
qual dentro da sociedade remete a filosofia de
Platão à preocupação com a educação.
PLATÃO
 É por meio da paideia, da educação, que se há
de descobrir as variadas classes sociais, dos
artesãos, dos guerreiros e mesmo dos filósofos, às
quais correspondem as virtudes da moderação, da
coragem e da sabedoria.
 A possibilidade de uma igual educação a
princípio a todos é que demonstrará as melhores
aptidões de alguns em relação aos demais.
PLATÃO
 As variadas experiências de Platão na pólis de
Siracusa, quando convidado para lá legislar,
dão dimensão dessa tentativa de transformar
as bases dos arranjos sociais.
 Assim sendo, o justo, para Platão, não se reduz à
lei justa, mas sim se verifica na sociedade
justa, não na forma, mas sim no conteúdo, no
substancial.
PLATÃO
 Isso quer dizer que o homem justo não é
simplesmente um técnico das normas, mas um
economista, um político, um homem de ação
social.
 O jurista só o será se for um homem
plenamente político, ou então os seus afazeres
jurídicos não serão direito nem ele será
verdadeiramente jurista.
PLATÃO
 A democracia não é o modelo perfeito para a
apreensão do justo.
 Pela educação é que há de se revelar o sábio, o
filósofo.
 Esse é o homem justo, e, portanto, é ele que
deverá se tornar legislador.
PLATÃO
 Que o filósofo seja rei, que o rei seja filósofo, nisso
reside uma fórmula surpreendente para um filho
de Atenas que viveu o milagre da experiência
democrática.
 Mas tal ideia se revela, no sistema platônico, uma
decorrência necessária de suas amarras gerais.
 A leitura que os tempos históricos fizeram de
Platão reconheceu nele um totalitário, cuja
proposta de um governo do melhor é, na verdade,
um modelo acabado de ditadura.
PLATÃO
 De fato, a leitura de Platão presta-se a tal
assunção do sábio sobre os demais.
 Mas, mitigando a leitura totalitária, é também
fundamental lembrar que, para Platão, a
medida do justo está na pólis.
 Assim sendo, não é o soberano legislador o
momento mais institucionalizante da filosofia
platônica.
PLATÃO
 É a sua sabedoria – ou seja, a sua justiça
concretizada na justa pólis, que lhe é espelho – a
âncora do poder.
 O governante não sábio, que torna uma sociedade
injusta ou a conserva como tal, não deve
permanecer no poder.
ARISTÓTELES
ARISTÓTELES
 Aristóteles representa o apogeu do
pensamento filosófico grego, e o mesmo se
pode dizer para a filosofia do direito.
 Após sua morte, durante toda a Antiguidade e a
Idade Média, suas reflexões jusfilosóficas foram
tidas como o mais alto patamar de ideias
sobre o direito e o justo já construídas.
ARISTÓTELES
 Discípulo de Platão, Aristóteles (384-322 a.C.)
estava também envolvido no ambiente filosófico que
ensejou o socratismo e o platonismo, ainda que a
seu modo.
 A acentuada tendência platônica a uma construção
filosófica ideal passa a ser amenizada no pensamento
de Aristóteles, na medida em que a experiência é
elemento fundamental de sua reflexão.
 Filho de médico, desde a infância em contato com a
empiria dos casos clínicos, Aristóteles construiu sua
filosofia tendo por base as realidades que se
apresentavam ao seu estudo.
ARISTÓTELES
 Naquilo que tange à construção direta de uma
filosofia política e do direito revolucionária, que
viesse a transformar a realidade, Aristóteles é
mais prudente que seu mestre Platão.
 Este era filho de Atenas, de velhas tradições
políticas familiares.
 Aristóteles era estrangeiro em Atenas,
portanto com participação muito limitada na
vida política.
ARISTÓTELES
 De fato, ao contrário de Platão, que analisava a
situação social do seu tempo e estabelecia planos
de transformação da realidade, Aristóteles
consolida as opiniões, as possibilidades, os fatos e
as situações da realidade, mas sem tomar partido
maior dos caminhos de mudança ou de alteração
do já dado.
 Aristóteles, mais ponderado e de maior
contato com a realidade do que Platão, é
menos visionário que seu mestre.
ARISTÓTELES
 No Liceu, sua própria escola filosófica,
Aristóteles desenvolveu sua pesquisa por várias
áreas do conhecimento.
 Após o período discente na Academia de Platão e
após a experiência de ter sido o professor de
Alexandre, o Grande, na Macedônia, sua
terra natal, Aristóteles, na sua volta a Atenas,
organizou, no Liceu, uma série de reflexões em
vários campos do saber.
 Tal conhecimento, que alcançou várias áreas,
consolidou-se de modo bastante sistemático.
ARISTÓTELES
 Aristóteles é mesmo considerado o maior
sistematizador de toda a filosofia em sua
história, pelo caráter estruturado e lógico de
seu pensamento.
 Não só na filosofia geral Aristóteles brilhou.
 Na lógica, naquilo que hoje denominamos por
ciências, como a própria biologia, botânica,
zoologia, nas questões relacionadas a todos os
campos das ciências humanas, política,
sociologia, ética, Aristóteles representou o que
houve de melhor no pensamento clássico.
ARISTÓTELES
 O mesmo grande impacto se deu com a reflexão
jurídica.
 Aristóteles é o maior pensador das questões do
direito e da justiça já havido até seu tempo, e
durante muitos tempos posteriores assim foi
considerado.
 Participou também – ainda que de modo mais
discreto que Platão – da política e da confecção
de muitas legislações em muitas pólis.
ARISTÓTELES
 Aristóteles, após o estudo sistemático de mais de
uma centena de constituições conhecidas ao seu
tempo, escreveu um projeto de constituição
para Atenas.
 Sua grande reflexão sobre o direito está
contida na obra Ética a Nicômaco (que leva o
nome de seu filho, a quem dedica a obra).
 Nesse texto, que é talvez a maior expressão do
pensamento jurídicoem todo o passado, as
questões sobre o direito e o justo estão
concentradas no seu Livro V.
ARISTÓTELES
 Além da Ética a Nicômaco, Aristóteles trata das
questões jurídicas em outra obra de grande
relevância, A política.
 Em outra obra, a Retórica, sua preocupação
alcança também o direito, na medida em que se
refere à argumentação jurídica.
 Mas em várias outras obras, desde a sua
juventude até sua maturidade, Aristóteles
também trata incidentalmente do direito.
ARISTÓTELES
 A grande excepcionalidade da filosofia do direito
de Aristóteles se revela pela sua sistematização
filosófica da justiça.
 As partes iniciais do Livro V da Ética a Nicômaco
estão voltadas a essa questão.
 Logo de início, Aristóteles separa dois grandes
campos de compreensão sobre a justiça.
 Ela pode ser tomada no sentido universal e no
sentido particular.
ARISTÓTELES - JUSTIÇA UNIVERSAL E
PARTICULAR
 Na sua perspectiva universal, a justiça é
tomada num sentido lato.
 Ela tanto é uma manifestação geral da
virtude quanto uma apropriação do justo à
lei que, no geral, é tida por justa.
 O respeito à lei é a característica desse
justo que é tomado no sentido lato.
ARISTÓTELES - JUSTIÇA UNIVERSAL E
PARTICULAR
 Para Aristóteles, diferentemente dos modernos, a
lei, produzida na pólis a partir de um princípio
ético, é diretamente relacionada ao justo, mas
não por conta de sua forma (ou seja, não é justa
somente porque é formalmente válida), e sim em
razão de seu conteúdo.
ARISTÓTELES - JUSTIÇA UNIVERSAL E
PARTICULAR
 Para Aristóteles, uma má lei não é lei.
 Sendo a lei somente a lei justa, a justiça
tomada no seu sentido universal não deixa
de ser, também, o cumprimento da lei.
 Ainda enquanto justiça universal, a justiça é a
virtude que está em todas as demais
virtudes.
 A caridade ou a paciência, por exemplo, e todas
as virtudes demandam um conteúdo específico
que as tipifica.
ARISTÓTELES - JUSTIÇA UNIVERSAL E
PARTICULAR
 Diz-se que a caridade se tipifica num ato de
dar.
 Mas aquele que dá ao poderoso, por medo de
ser violentado, e não dá ao necessitado, por lhe
ser superior em poder, não é caridoso, porque
ao mero ato de dar deve se acrescer a justiça
do ato.
ARISTÓTELES - JUSTIÇA UNIVERSAL E
PARTICULAR
 O paciente com o chefe e impaciente com o
subordinado também não tem essa virtude
da paciência, na medida em que esta presume o
seu agir com justiça.
 A caridade não é uma virtude em si própria
sem que se lhe acresça a virtude da justiça.
O mesmo com a paciência.
ARISTÓTELES - JUSTIÇA UNIVERSAL E
PARTICULAR
 Alguém pode ser justamente caridoso e
impaciente.
 A caridade presume justiça, a paciência
presume justiça, mas a caridade não
presume paciência.
 A justiça está em todas as demais virtudes,
e por isso é a única virtude universal.
ARISTÓTELES - JUSTIÇA UNIVERSAL E
PARTICULAR
 Mas, ao mesmo tempo em que justiça é uma
virtude universal, configurando todas as
demais, a justiça é também uma virtude em
si mesma.
 Somente ela tem um conteúdo específico que não
demanda em acréscimo outra virtude.
ARISTÓTELES - JUSTIÇA UNIVERSAL E
PARTICULAR
 Estudar o que vem a ser a justiça em si é tomá-
la então no seu sentido particular.
 Aristóteles dirá que, tradicionalmente, por
justiça, em sua apreensão específica e estrita,
considera-se a ação de dar a cada um o que é
seu, sendo essa a regra de ouro sobre o
justo.
 A justiça, assim, compreende uma ação de
distribuição, que demanda uma qualidade de
estabelecer o que é de cada qual.
ARISTÓTELES - JUSTIÇA UNIVERSAL E
PARTICULAR
 Tal ideia de justiça particular será um dos
momentos culminantes da reflexão aristotélica
sobre o justo.
 Aristóteles chama a atenção para duas grandes
manifestações da justiça tomada no seu sentido
estrito: justiça distributiva e justiça
corretiva, que se subdivide em voluntária e
involuntária.
ARISTÓTELES - JUSTIÇA UNIVERSAL E
PARTICULAR
 Além da justiça distributiva e da justiça
corretiva, há um caso especial na justiça
particular: a reciprocidade.
 Embora não diretamente elencada ao lado das
duas subespécies anteriores, ela não se confunde
com nenhuma das duas, constituindo, pois, uma
previsão especial, à parte.
ARISTÓTELES - JUSTIÇA UNIVERSAL E
PARTICULAR
 Pode-se, então, entender graficamente o quadro
da justiça em Aristóteles da seguinte forma:
ARISTÓTELES - JUSTIÇA DISTRIBUTIVA
 Para Aristóteles, a justiça distributiva trata da
distribuição de riquezas, benefícios e
honrarias.
 Apresenta-se como a mais alta ocupação da
justiça, e também a mais sensível.
 A distribuição compreende sempre dois
sujeitos em relação aos quais se avalia a justa
distribuição dos bens, e dois bens, que serão
divididos entre tais pessoas.
ARISTÓTELES - JUSTIÇA DISTRIBUTIVA
 Assim sendo, a distribuição compreende uma
espécie de função matemática tal qual uma regra
de três, uma proporção geométrica.
 A justa distribuição, para Aristóteles, é um justo
meio-termo entre duas pessoas e duas coisas.
 O critério fundamental para tal distribuição justa
é o mérito.
ARISTÓTELES - JUSTIÇA DISTRIBUTIVA
 A justiça distributiva utiliza como parâmetro o dar
a cada um de acordo com seu mérito, ainda que
Aristóteles reconheça que o critério do mérito possa
ser variável.
 Para o democrata, dirá, o mérito presume a condição
livre; para o oligarca, o critério do mérito é a
nobreza de nascimento.
 A justiça da distribuição dos bens e honras, de
acordo com o mérito, é uma proporção.
 A proporcionalidade caracteriza o justo, e a sua
falta é o injusto.
ARISTÓTELES - JUSTIÇA DISTRIBUTIVA
 Exemplo:
 Um professor, quando aplica uma prova a uma
turma de alunos, será considerado justo em sua
correção quando distribuir notas de acordo com
uma proporção, tendo por vista o mérito.
 De uma prova com cinco questões valendo
cada qual dois pontos, o aluno que acerta
quatro questões merece a nota oito.
ARISTÓTELES - JUSTIÇA DISTRIBUTIVA
 O aluno que acerta duas questões merece a nota
quatro.
 Qualquer outra nota diferente dessa para
cada um desses alunos rompe com a
proporção entre seus méritos e suas notas,
e, portanto, a distribuição meritória de
notas demonstra a justiça do professor.
ARISTÓTELES - JUSTIÇA DISTRIBUTIVA
 Poder-se-ia demonstrar tal justiça distributiva,
graficamente, do seguinte modo:
cinco questões corretas = Nota 10
três questões corretas = Nota 6
ARISTÓTELES - JUSTIÇA DISTRIBUTIVA
 Em comparação à justiça corretiva, a justiça
distributiva é mais complexa, porque envolve
o arranjo dos bens e dos poderes na pólis.
 A proporção que busca construir envolve dar,
aumentar, diminuir, portanto, uma ação
distributiva que invade a esfera de alguns
para manter o mérito e a proporção na relação
com os demais.
ARISTÓTELES - JUSTIÇA CORRETIVA
 A justiça corretiva – também chamada de
diortótica –, por sua vez, é bem menos complexa
que a distributiva.
 Trata-se de uma proporção aritmética, no
dizer de Aristóteles.
 Ao contrário da distribuição das honrarias, bens e
cargos de acordo com o mérito, nessa vertente a
justiça é tratada como uma reparação do
quinhão que foi, voluntária ou
involuntariamente, subtraído de alguém
por outrem.
ARISTÓTELES - JUSTIÇA CORRETIVA
 Por isso as questões de ordem penal são tratadas
como justiça corretiva, na medida daquilo que
representou a perda e o ganho.
 No caso penal, mais do que a pena, a justiça
corretiva trata da reparação civil dos danos
causados pelo crime.
ARISTÓTELES - JUSTIÇA CORRETIVA
 Também

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