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COISA JULGADA PENAL

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1. INTRODUÇÃO
	Primeiramente devemos analisar o conceito de coisa julgada para melhor entendermos a temática. Para Aury Lopes Jr, significa que a sentença final do processo foi dada, ou seja, a decisão é imutável e irrevogável. O autor também afirma que a preocupação com a coisa julgada se dá em torno do réu, o qual poderá ocorrer à relativização da coisa julgada em sede de revisão criminal tão somente a seu favor, tema que será apresentado posteriormente nesse trabalho.
	O instituto da coisa julgada também está disposto no art. 5º da Constituição de 88, que reza “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”, nesse caso o que o legislador pretendeu foi dar ao provimento jurisdicional uma condição de estabilidade e terminante, caso contrário, um litígio nunca chegaria ao fim, e as partes recorreriam eternamente à Justiça, o que também ocasionaria o risco de não prevalecer às regras instituídas pela ordem jurídica. 
2. HISTÓRICO
	A coisa julgada já era conhecida pelos romanos, para eles tinha uma finalidade efetivamente prática, visava proporcionar segurança às decisões tomadas, solucionando definitivamente o conflito de interesses e evitando perturbação, praticamente todas as decisões tinham esse caráter, somente as resoluções interlocutórias que não produziam esse efeito.
	Com o decorrer do tempo, a coisa julgada romana foi se perdendo, e então surgiu a presunção da verdade “jure et de jure”, na Idade Média, que surgiu como meio de pacificação social, onde a sentença não exprimia somente a convicção do juiz, e sim resultado de solenidades interpostas por entidades imparciais. Graças a tais influências, a coisa julgada, que era uma garantia de segurança e exercício dos direitos e gozo dos bens, se transformou em uma aparente verdade para todos pronunciamentos do juiz. 
3. A COISA JULGADA NO PROCESSO PENAL
	Paulo Rangel, explica que há distinção entre a coisa julgada cível e a penal, cada um adota suas regras e princípios próprios. A coisa julgada penal é a qualidade dos efeitos que a sentença produz, isto é, a imutabilidade do comando que emerge da sentença em relação ao fato principal. 
3.1. COISA JULGADA FORMAL
Segundo Rangel a coisa julgada formal é a imutabilidade da sentença como ato processual que já não é mais recorrível por força de preclusão dos recursos, se finda todo e qualquer tipo de alteração da sentença por meio de outros recursos, devido ao exaurimento dos prazos recursais.
Há coisa julgada formal, quando na sentença não for tratado especificamente do fato supostamente delituoso, nas palavras de Lopes Jr: “... não há análise e julgamento sobre o mérito (ou seja, sobre o fato processual ou caso penal), a decisão faz coisa julgada formal...”. Vê-se claramente uma visão processualística quanto à coisa julgada formal, depreendendo-se do fato da vida.
3.2 COISA JULGADA MATERIAL
Já a coisa julgada material, segundo Rangel opera-se fora do processo para todas as pessoas, com efeito, “erga omnes”. É o comando que emerge da sentença, tornando-a imutável, mas no processo penal em relação ao fato da vida, o fato do mundo. A coisa julgada material surge na sentença de mérito, isto é, na efetiva resolução do fato típico, condenando ou absolvendo o réu.
A coisa julgada material sempre é precedida da formal, visto que primeiramente ocorre a preclusão dos prazos recursais, e que a sentença seja imutável. Após, e somente com a imutabilidade da sentença, é que esta fará parte de um universo, isto é, que seus efeitos extrapolem o processo, restringindo possibilidade de nova denúncia. 
3.3 DIFERENÇAS ENTRE COISA JULGADA FORMAL E COISA JULGADA MATERIAL
	A coisa julgada formal reflete a imutabilidade da sentença no processo onde foi proferida; tem efeito preclusivo, impedindo nova discussão sobre o fato no mesmo processo; na coisa julgada material existe a imutabilidade da sentença que se projeta fora do processo, obrigando o juiz de outro processo a acatar tal decisão, ou seja, veda-se a discussão dentro e fora do processo em que foi proferida a decisão.
4. MUTABILIDADE - REVISÃO CRIMINAL
A imutabilidade da sentença condenatória no nosso ordenamento jurídico não se torna absoluta, pois se admite em várias hipóteses a revisão criminal de acordo com o art. 621, do Código de Processo Penal, e o habeas corpus quando, sem valorização da prova, verificar-se constrangimento ilegal, por ilegalidade ou abuso de poder (art. 647 e ss.). Há também mutabilidade a coisa julgada nos casos de anistia, indulto, unificação de penas, etc.
Na esfera criminal, a sentença condenatória após trânsito em julgado pode ser revista, se descobrirem provas novas da inocência do condenado ou de circunstâncias que determine ou autorize a diminuição da pena, conforme o art. 621, III do Código de Processo Penal.
4.1 JURISPRUDÊNCIA
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA. TRIBUNAL DO JÚRI. CONDENAÇÃO. REVISÃO CRIMINAL. ABSOLVIÇÃO. POSSIBILIDADE. DIREITO DE LIBERDADE. PREVALÊNCIA SOBRE A SOBERANIA DOS VEREDICTOS E COISA JULGADA. (grifo nosso) RECURSO MINISTERIAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. É possível, em sede de revisão criminal, a absolvição, por parte do Tribunal de Justiça, de réu condenado pelo Tribunal do Júri. 2. Em homenagem ao princípio hermenêutico da unidade da Constituição, as normas constitucionais não podem ser interpretadas de forma isolada, mas como preceitos integrados num sistema unitário, de modo a garantir a convivência de valores colidentes, não existindo princípios absolutos no ordenamento jurídico vigente. 3. Diante do conflito entre a garantia da soberania dos veredictos e o direito de liberdade, ambos sujeitos à tutela constitucional, cabe conferir prevalência a este, considerando-se a repugnância que causa a condenação de um inocente por erro judiciário. 4. Não há falar em violação à garantia constitucional da soberania dos veredictos por uma ação revisional que existe, exclusivamente, para flexibilizar uma outra garantia de mesma solidez, qual seja, a segurança jurídica da Coisa Julgada. 5. Em uma análise sistemática do instituto da revisão criminal, observa-se que entre as prerrogativas oferecidas ao Juízo de Revisão está expressamente colocada a possibilidade de absolvição do réu, enquanto a determinação de novo julgamento seria consectário lógico da anulação do processo. (grifo nosso). 6. Recurso a que se nega provimento. STJ, RECURSO ESPECIAL Nº 964.978 - SP (2007/0149368-9) Relatora: Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, Julgado: 14/08/2012.
5. EXCEÇÃO DE COISA JULGADA
Deve ser proposta quando verificar-se a identidade de demanda entre a ação proposta e outra já decidida por sentença transitada em julgado. Para que se acolha a exceção de coisa julgada, é necessário que a mesma coisa seja novamente pedida pelo mesmo autor contra o mesmo réu e sob o mesmo fundamento jurídico do fato. Se for proposta uma segunda ação, esta não poderá ter seguimento, e, assim, abre-se a possibilidade para várias soluções:
O juiz pode rejeitar a denúncia, caso reconheça a existência da coisa julgada. Desta decisão cabe recurso em sentido estrito.
Por outro lado, se o juiz percebe a existência de coisa julgada após o recebimento da denúncia, e em qualquer fase do processo, ele pode declará-la de ofício e extinguir o processo sem julgamento do mérito.
Se o juiz não declara de ofício a exceção de coisa julgada, o réu ou o Ministério Público poderão argui-la
5.1 LEI PENAL NOVA FAVORÁVEL
 	De acordo com o professor Luiz Flávio Gomes publicada a Lei Penal nova favorável, e já havendo coisa julgada, os juízes de 1º, 2º graus ou juiz de execuções penais podem realizar tal ajustamento, visto previsão Constitucional do art. 5º, inciso XL que reza, “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”.
5.2. CLAUSULA REBUS SIC STANDITUS
O Professor Luiz Flávio Gomes também ensina que a Clausula Rebus sic standitus com aplicação na esfera penal, possibilita revisão de dispositivos da sentença, após a coisa julgada, pelo mesmo ou outro juiz. Porexemplo, na Progressão de Regime em que, o juiz fixa o regime fechado, depois o juiz da execução penal verifica o cumprimento (ou trabalho, estudo) de certa parte da sentença, e possibilitando aplicação de regime menos gravoso, poderá fazê-lo mediante fundamentação.
6. PROCEDIMENTO
6.1 RITO
De acordo com o art. 110 do Código de Processo Penal, o rito é o mesmo da exceção de incompetência.
6.2 FASES
Pode ser arguida verbalmente ou por escrito, em qualquer fase do processo e em qualquer instância.
O juiz deve ouvir a outra parte e o Ministério Público, caso este não tenha sido o autor da alegação.
A exceção deve ser autuada em separado.
Julgamento: se o juiz julga procedente, a ação principal será extinta, e desta decisão cabe recurso em sentido estrito. Se o juiz julga improcedente, a ação principal continua, e desta decisão não cabe nenhum recurso específico, mas o interessado poderá impetrar habeas corpus. O trânsito em julgado da segunda sentença pode ser quebrado via habeas corpus ou revisão criminal.
7. CONCLUSÃO
	A preocupação do processo penal em se constitucionalizar, traz o dever de utilizar o processo penal como garantia ao acusado de usar meios de defesa para repelir injustas acusações, e não apenas legitimar tal punição pré-definida. Assim, deve-se chegar a uma conclusão ao final da instrução criminal, da ocorrência de fato criminoso ou não. No caso de ocorrência de fato criminosa, aplica-se reprimenda.
Mas se acaso a conclusão foi estabelecida em provas falsas, ou ainda, a carência de provas levou a uma condenação, a coisa julgada não poderá se insurgir contra injustiças, isto é, novas provas que comprovem a inocência, ou a declaração de uma prova falsa que foi fundamental na condenação deveram ser afastadas, visando a liberdade do acusado.
O instituto da Coisa julgada no processo penal serve para garantir a punição dos que efetivamente através de um processo penal Constitucional foram responsabilizados por um delito. Mas noutra dimensão, não deve obstar na substituição a um processo penal calcado no erro, sem observância de Princípios Constitucionais, com vícios tanto de ordem procedimental, quanto de material.
	O Processo Penal sobre tudo deve ser Constitucional, sendo que dispositivos contrários à Carta de República não foram recepcionados por ela. Não há como evoluir utilizando sistemas processuais arcaicos, sob pena de vivermos um processo penal no qual Ana Claudia Pinho alerta em sua página no “facebook”: “... Saímos da Idade Média há séculos, mas ela não sai de nós...”.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RANGEL, Paulo. A coisa julgada no Processo Penal Brasileiro Como Instrumento de Garantia, Atlas. 2012, p.130.
LOPES JR. Aury. Direito Processual Penal, 11 ed – São Paulo, Saraiva, 2014.p, 1146.
GOMES, Luiz Flávio. Qual a importância da prova nova na impronúncia? Disponível em: http://atualidadesdodireito.com.br/lfg/2011/12/05/qual-a-importancia-da-prova-nova-para-a-impronuncia/. Acessado em 09/11/2017 às 15hs.
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 19. Ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
COSTA JUNIOR, Dijosete Veríssimo da. Coisa julgada em matéria penal. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/16909-16910-1-PB.htm >. Acesso em: 18/10/2017.

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