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Trabalho revisado pratica II

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
ESCOLA DE HUMANIDADES
CURSO DE PSICOLOGIA
FABIANA DEMÉTRIO ASSUNÇÃO E FERNANDA ROHDE PICCOLI
OBSERVAÇÃO DO GRUPO DE CONVÍVIO “RENASCER É VIVER” DA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE SANTA CECÍLIA EM PORTO ALEGRE
Porto Alegre
2016
FABIANA DEMÉTRIO ASSUNÇÃO
FERNANDA ROHDE PICCOLI
OBSERVAÇÃO DO GRUPO DE CONVÍVIO “RENASCER É VIVER” DO UBS SANTA CECÍLIA EM PORTO ALEGRE
Trabalho apresentado como requisito avaliativo para a disciplina de Psicologia de Grupos II da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Orientador: Profo. Cristiano Dal Forno
 
Porto Alegre
 2016
1 INTRODUÇÃO
A necessidade do indivíduo em formar vínculos é uma característica observada desde os primeiros dias de vida. Ao longo da vida, diversas outras relações grupais vão se formando e as características desse processo são observadas em quase todos os momentos da vida. Desde o nascimento até a o final da vida são construídos vários grupos como família, amigos, colegas, etc. 
A partir dessas considerações, o presente trabalho busca colocar em prática os ensinamentos que adquirimos ao longo do semestre e objetiva estudar a dinâmica de grupo a partir da observação de um grupo e de suas interações, retomando os referenciais teóricos da disciplina de Grupos I. Pretende-se a compreensão do processo grupal de acordo com luz do referencial teórico de Rogers, que traz a ótica da abordagem centrada na pessoa, em que o indivíduo é livre para escolher e arcar com as consequências das suas decisões. 
Para realização desse trabalho observou-se um grupo de idosos, cujo nome é “ “Renascer é Viver” e, a maioria, dos integrantes possui entre setenta e oitenta anos de idade. 
O local onde acontecem os encontros do grupo é na Unidade Básica de Saúde Santa Cecília, localizada junto ao Hospital de Clinicas de Porto Alegre. O lugar acolhe o grupo de idosos, a maior parte pacientes da UBS, semanalmente, todas às quartas-feiras, para os encontros. 
Nesse espaço, eles podem conversar, cantar, dançar, organizar eventos e participar de palestras com assuntos relevantes para seu contexto de vida. E essas atividades acontecem sob o auxílio de uma coordenadora responsável por esse programa, a enfermeira Fernanda Córdova. 
O grupo da UBS Santa Cecília é caracterizado por ser um grupo que busca passar um tempo junto, para fins de convivência e troca de informações. Esse grupo existe há 12 anos na UBS e sempre tem um número expressivo de participantes, em média 16 pessoas por encontro, sendo considerado um grupo aberto e heterogêneo, visto que é formado por homens e mulheres.
Para efetuação do trabalho tivemos como objetivos observar, analisar e compreender o comportamento de um grupo de pessoas que estão na terceira idade. Sendo assim, observamos a dinâmica em que se destacam o afeto e o tratamento dispensado entre os integrantes do grupo, o facilitador e os convidados que vinham realizar atividades a cada semana. 
Percebemos como acontece a interação do grupo em questão, analisando os comportamentos dos idosos em diversas atividades e envolvendo os mais distintos sentimentos. E, a partir disso, compreendemos as práticas de convívio empregadas na relação entre os participantes do grupo e a instituição, visando entender as interações, as condutas e sentimentos de quem passa por esse estágio da vida.	Comment by Cristiano Dal Forno: Introdução está muito boa. Apresenta o grupo observado bem como o trabalho que foi realizado.
2 MÉTODO
O presente trabalho utilizou a técnica de observação direta não participativa para a coleta de dados. Técnica que “faz uso dos sentidos para captar aspectos da realidade” (1), neste sentido, a observação é feita no exato momento que ocorre, sem que haja qualquer alteração ou interferência do observador, o qual permanece fazendo anotações de forma passiva, direta e pessoal. No caso do presente trabalho, a análise bibliográfica que auxiliou na definição de critérios para a observação, engloba a pesquisa de materiais já publicados sobre o processo de formação de grupos de encontros, em todos os formatos de divulgação de informação, meios físicos ou eletrônicos que utilizem, principalmente, os marcadores: “abordagem centrada na pessoa”, ”processo de formação grupal”, “psicologia de grupos por Carls Rogers”.
O uso de uma linguagem científica é necessário para o melhor entendimento dos relatos, e deve ser feito de forma objetiva, clara e precisa, devendo cuidar para não colocar somente o que é pertinente ao observador. (ensinando a observação- Maria Amélia Matos e Marilda Fernandes Danna)(2).
De acordo com as autoras Maria Amélia Matos e Marilda Fernandes Danna, (2) “a observação é utilizada para coletar dados acerca do comportamento e da situação ambiental”. Normalmente, o observador não está somente interessado nas características próprios próprias do comportamento, mas também em que circunstâncias isso ocorre, informação pertinente para entendimento do fenômeno. 	Comment by Cristiano Dal Forno: O método está claro e bem escrito, com destaque para a preocupação com o que deve ser levado em conta no processo de observação.
Assim, a pesquisa visa analisar o comportamento de um grupo de encontros da terceira idade, na Unidade de Saúde Básica Santa Cecília, em Porto Alegre, entre agosto e novembro de 2016. O foco da observação é um grupo com quatro pessoas ou mais, que se encontra regularmente e, na sua interação com esse grupo. O número mínimo de observações a serem utilizadas duas, podendo ser aumentadas conforme a necessidade da pesquisa.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Em 1970, Carl Rogers propôs a Abordagem Centrada na Pessoa, que envolvia a ação do psicólogo em várias áreas com ênfase nas relações interpessoais. Além disso, Rogers foi o primeiro a gravar e filmar uma sessão psicoterápica e a usar o termo "cliente", destacando a não passividade da pessoa no processo terapêutico, visto que o cliente seria aquele que direciona e dá sentido à terapia. 
A Abordagem Centrada na Pessoa expõe uma base de princípios fundamentais que apoia sua teoria, expressa nos seguintes constructos: Tendência atualizante, é o principal princípio da teoria da ACP e sugere que em cada organismo, não importando sua complexidade, há um fluxo interno que movimenta o ser em direção à construção de suas potencialidades, desenvolvendo-as de maneira a conservar-se e enriquecer-se. Noção de "Eu", é como uma estrutura perceptual, isto é, um arranjo organizado e mutável de percepções relativas ao próprio indivíduo, por exemplo, características, qualidades e defeitos, capacidades e limites, portanto valores que a pessoa reconhece como seus e entende como formando a sua identidade. Experiência, conforme Rogers e Kinget (1977), "se refere a tudo que passa no organismo em qualquer momento e que está potencialmente disponível à consciência, em outras palavras, tudo que é suscetível de ser apreendido pela consciência”. A ideia de experiência junta, tanto os fatos que são conscientes para o indivíduo quanto os fenômenos que são inconscientes. Avaliação Organísmica, Rogers (Rogers & Kinget, 1977, v.1) considera, mais precisamente, que "a experiência é avaliada levando-se em conta as necessidades de conservação e de valorização, tanto do 'organismo' quanto do 'eu', no presente imediato e no futuro".	Comment by Cristiano Dal Forno: Atenção para a distinção de citações diretas (entre aspas) e indiretas (quando apresentam a ideia do autor com as palavras de vocês).
O grupo de encontro, segundo Rogers consiste numa experiência intensiva que dirige a uma maior independência pessoal, a menos sentimentos escondidos, maior interesse em inovar e maior oposição à rigidez institucional, objetivando, através de um processo experiencial, aumentar o crescimento pessoal, desenvolver e aperfeiçoar a comunicação e as relações interpessoais. A filosofia do Grupo de Encontro se fundamenta na crença de que o grupo tem acapacidade latente ou manifesta de se autodirigir, ou seja, a administração é dada pelo grupo como um todo, competindo ao(s) facilitador(es) a criação de condições que possibilitem o desenvolvimento e crescimento, bem como a atualização dessa habilidade de dirigir a si mesmo.	Comment by Cristiano Dal Forno: Essa ideia pode ser integramente retomada na integração teórico prática, quando apresentam a situação da segunda observação...
Sendo assim, o grupo é livre para escolher os próprios objetivos e direções, com uma dinâmica de liberdade, igualdade, criatividade e afetividade. No inicio de um grupo é normal surgirem sentimentos de surpresa, irritação, ansiedade, até que ele localize os caminhos para o relacionamento inter e intrapessoais, principalmente pela ausência de uma estrutura formal que ordene as ações do grupo. De acordo com Rogers (1970), o processo grupal ocorre da seguinte maneira: Fase de hesitação em que os participantes ficam esperando as “regras” de como vai funcionar o grupo, mas quando isso demora para acontecer percebem que devem tomar a direção, e então alguém pode propor algum início. Resistência à expressão ou exploração pessoais, quando há um receio de se revelar pelo que os outro irão pensar. Descrição de sentimentos passados, visto que ao invés de se expressar sentimentos atuais, são expressos sentimentos passados, que são reações exteriores ao grupo. Expressão de sentimentos negativos surge a partir de sentimentos presentes, frequentemente, eles são negativos e dirigidos a outro membro do grupo ou ao(s) facilitador(es). A expressão e exploração de material com significado pessoal, pois se o grupo passou pela fase anterior sem se desintegrar e o clima de confiança se fortalece, então as pessoas começam a ser elas mesmas com todos os riscos e isso leva à expressão de sentimentos imediatos de significação pessoal. Desenvolvimento de uma capacidade terapêutica no grupo, à medida que o vínculo entre os participantes se estreita, simultaneamente, prospera a capacidade natural e espontânea de ajuda entre os membros. Aceitação do eu e começo da mudança acontece a partir do instante em que as pessoas começam a se aceitar por inteiro, emergindo disso um novo ser, singular e mais pleno. O estalar das fachadas consiste no fato que se alguns membros ainda não se integraram, provocará uma impaciência para com as defesas, é como se o grupo fizesse um convite para a pessoa se entregar e se deixar conhecer. O indivíduo é objeto de reação (feedback) por parte dos outros, nesse momento a colocação de uma pessoa acarreta ao outro uma reação, e essa reação contribui para a aceitação de consciência, portanto, conseguir escutar o outro falando como nos percebe não é uma tarefa fácil, porém faz parte do processo de crescimento. A Confrontação, às vezes, sucede de um indivíduo se confrontar com outro, e esses confrontos podem ser positivos ou negativos, em função da carga emocional exposta. Relações de ajuda fora do grupo, além de capacidade terapêutica que o grupo oferece, há, também, situações após o término do grupo, em que algumas pessoas continuam se relacionando. O encontro básico é um dos aspectos mais significativos do processo, uma vez que reflete o sentido Buberiano do encontro que é EU e TU, ou seja, um momento intenso, transcendente, onde a comunhão ontológica é experienciada (Buber, 1979). A expressão de sentimentos positivos e intimidade diz respeito à aceitação na relação, e isto resulta em intimidade e mais sentimentos positivos, além da confiança e da afetividade como um todo. Por fim, as mudanças de comportamento no grupo são observáveis quando o grupo vai caminhando para o final, isso se dá desde o tom de voz até a expressão espontânea do afeto. 	Comment by Cristiano Dal Forno: Talvez se pudesse resgatar esse conceito na integração e discutir se o que ocorre com aquela senhora que fica excluída não possa ser pensado a partir disso...
A partir dos textos e artigos lidos, verificamos a importância que Rogers dispõe a figura do facilitador, considerando as atitudes deste muito importantes para o processo de desenvolvimento, são elas: Consideração que implica o reconhecimento da existência do outro e o respeito à sua singularidade, ao seu processo e à sua autonomia. Empatia seria a compreensão dos sentimentos e das significações pessoais vivenciadas pelo indivíduo, bem como a comunicação disso a ele. Congruência alude uma autoconsciência do que está sendo vivido em relação ao outro, possibilitando uma relação autêntica. Além dessas condições básicas, é função do facilitador proporcionar e ser cuidadoso para os seguintes aspectos: Criação de Ambiente, ou seja, um clima psicologicamente seguro para o indivíduo. Aceitação do Grupo, consiste em aceitar o grupo exatamente no ponto em que ele se encontra. Aceitação do Indivíduo, acolhendo o indivíduo em sua totalidade, atuando conforme aquilo que sente, estar atento a si mesmo, escutando-se em todos os níveis. Confrontar e dar “feedback”, afrontando os próprios sentimentos e dando o “feedback” sobre eles, mesmo que seja difícil. Expressão dos próprios problemas, acredita-se que o facilitador tenha trabalhado o suficiente consigo mesmo para evitar a expressão dos seus próprios problemas no grupo. Evitar o planejamento e os “exercícios” sendo a espontaneidade o elemento mais precioso, uma vez que ela é altamente eficaz. Evitar comentários interpretativos ou do processo, pois evitar comentários é necessário para que os membros não se sintam ameaçados, observados ou analisados. Liberdade experiencial, o grupo que vivencia uma liberdade experiencial aplica a sua potencialidade terapêutica. Movimento e contato físico, visto que a expressão, por parte do terapeuta, através do movimento e contato físico, deve ocorrer em consonância com o que sente, de forma autêntica, espontânea e de acordo com o contexto grupal (Rogers, 1970). 	Comment by Cristiano Dal Forno: Seria bastante interessante que no integração, resgatassem, rapidamente algumas destas atitudes aos comentar a postura da enfermeira Fernanda...
Para completar o que foi descrito, Segundo Wood (1983):
[...] “o sucesso (do grupo) não é caracterizado por quão bem o facilitador se saliente na apresentação das atitudes fundamentais, mas por quão bem a criativa sabedoria grupal provedora de crescimento é liberada e por quão bem os benefícios do crescimento são propiciados a seus membros”.
Para elucidar também a questão sobre o grupo de encontro e o facilitador, Fonseca (1988):
“ O facilitador não tem nenhum programa a priori para o grupo. O que interessa à sua proposta é que as pessoas, as realidades existenciais presentes no grupo, efetivamente se encontrem. Que se descubram, que se criem e recriem ativamente, a partir da espontaneidade da dinâmica das relações, da multiplicidade de suas perspectivas pessoais e coletivas, tanto em termos da subjetividade, comportamentos e ações dos segmentos deste e das pessoas individuais“ (p. 20)
Sobre o mesmo aspecto, conforme Rogers (1994, p.51): 
“Os grupos de encontro além dos participantes, contam com a presença de um facilitador que é definido: “como uma pessoa com forças, fraquezas e incertezas, mas que tenta efetivamente empenhar-se honestamente na arte das relações interpessoais”.
Desta forma, a função do facilitador não será de dirigir o grupo, impondo regras ou normas, mas de viabilizar o processo de desenvolvimento do grupo, dentro do seu próprio ritmo. Portanto, o tema tratado entre os participantes do grupo de encontro será o emergente, trazido pelo grupo. E as intervenções realizadas pelo facilitador visarão o encontro entre os participantes e suas realidades existenciais. No caso da nossa experiência, a hipótese foi de que o tema emergente seria, espontaneamente, as relações entre pessoas que se encontram na terceira idade.
No modelo de trabalho com grupos da ACP, o grupo é percebido como dotado de um potencial holístico organísmico que envolve as capacidades, necessidades e sentidos de cada um e do conjunto de seus participantes,a partir das motivações, interesses e excitações de suas atualidades existenciais. De modo que interessa ao modelo de trabalho com grupos da ACP a criação de condições para uma valorização da afirmação e da expressividade da experiência de cada pessoa, no contexto da realidade grupal.
Por fim, a Abordagem Centrada na Pessoa se desponta como uma filosofia de atitude, como um agir, que termina em uma filosofia de vida. E nesse processo o grupo tem um significado que vai além da reunião de um número determinado de pessoas em um local, mas implica alguns pontos que envolvem todos os integrantes, incluindo o facilitador, como: parceria, uma relação de troca, respeito, o saber ouvir o outro, a ética, não apenas no discurso, mas na prática, e a transparência para que haja um relacionamento efetivo entre seus membros sem máscaras e sem disfarces. Destarte, o modelo de trabalho com grupos da ACP tem sido amplamente adaptado e utilizado, dentro dos mais diversos contextos desde a terapia até ambientes relacionados a educação, ao trabalho comunitário, as organizações, os grupos, explorando e ajudando na resolução de conflitos.	Comment by Cristiano Dal Forno: Excelente e rica revisão teórica sobre princípios e conceitos. Há uma riqueza de elementos aqui que ajudam a aprofundar as compreensões acerca das observações feitas.
4 OBSERVAÇÕES	
4.1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DA OBSERVAÇÃO 1
Observadores: Fabiana Assunção e Fernanda Rohde Piccoli
Local: Unidade Básica de Saúde Santa Cecília
Data: 31/08/2016 - quarta-feira
Horário: 14h30min às 16h00min
4.1.1 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL
O grupo acontece dentro da UBS Santa Cecília do Hospital de Clinicas de Porto Alegre, junto ao Hospital de Clínicas de Porto Alegre, com entrada pela Rua São Manoel, 543, bairro Santa Cecília, em Porto Alegre. Em uma sala de formato quadrado e de tamanho médio. 
O local possui muitas cadeiras que formam um círculo permitindo a melhor disposição para o grupo acontecer. Algumas outras cadeiras, bem como colchonetes de cor azul ficam ao lado da roda, tanto do lado esquerdo como do lado direito. Há uma mesa grande, uma de cada lado do círculo, além de armários do lado superior esquerdo. Nessa sala também há a possibilidade de utilização de retroprojetor e um quadro para recados, em baixo do quadro tem um móvel e ao lado uma mesa menor.
A observação aconteceu dentro da sala 716, uma sala quadrada com paredes rosadas em tom salmão claro, mais ou menos na altura de um metro do chão, tem um filete em madeira clara nas paredes de toda a sala. Na posição de frente para a porta de entrada, na parede lateral direita, encontra-se um grande lavatório com duas cubas em inox e duas torneiras dispostas lado a lado, atrás da torneira têm duas fileiras de azulejos cinza claro dispostos em toda a extensão do lavatório. 
Na parede em frente à porta de entrada tem duas janelas menores ao alto, estilo basculante, com vidros transparentes trabalhados e cortinas de cor brancas pelo lado de dentro da sala e de cor cinza para o lado que fica em contato com o vidro. Na lateral esquerda dessa mesma parede, encontram-se dois armários aéreos dispostos lado a lado, sendo um na cor azul com três portas, e outro na cor de madeira clara também com três portas, em cima dele encontra-se um saco plástico na cor azul e outro na cor preta. Abaixo do armário encontrava-se um nicho na cor branca com colchonetes azul bic. Na parede da porta de entrada, à esquerda, encontra-se um quadro branco preso à parede, no lado direito do quadro um móvel com rodinhas e duas prateleiras brancas. Havia cadeiras de material plástico com pés de metal, todas na cor preta, as cadeiras estavam dispostas lado a lado, formando um círculo.
O grupo que observamos é um grupo de convivo de idosos, como uma média de dezesseis integrantes por encontro, tem como objetivo a integração e união de pessoas que se encontram na terceira idade. Os encontros acontecem todas as quartas-feiras na UBS Santa Cecília em Porto Alegre das 14h30minh ás 16h, portanto 01h30minh de duração. A coordenadora do grupo é a enfermeira Fernanda, que ajuda na estrutura e auxilia na maneira do grupo acontecer. 	Comment by Cristiano Dal Forno: Estas informações são importantes de serem dadas no momento da apresentação para os colegas, pois caracterizam o grupo, dizem de sua maturidade...
Esse grupo já existe há 12 anos na UBS Santa Cecília e antes acontecia no salão de uma igreja. O nome do grupo, dado pelos próprios participantes, é “Renascer é Viver” e os participantes, na sua maioria, são pacientes da UBS Santa Cecília, tendo como característica ser um grupo aberto.
4.1.2 DIAGRAMA DA SITUAÇÃO
4.1.3 RELATO DA OBSERVAÇÃO 1
Chegada das observadoras Fabiana e Fernanda um pouco antes das 14h30minh ficaram em volta da sala observando o que aconteceria com grupo. O grupo é formado por homens e mulheres, heterogêneo, com idades entre 60 e 90 anos.
Ás 14:30h as observadoras solicitaram falar com a Enfermeira Fernanda, responsável pelo grupo, e outra enfermeira que trabalha junto pediu que entrássemos na sala. Fomos apresentadas ao grupo de idosos como estudantes de psicologia e, convidadas para sentar na grande roda junto com todos. 
14:30 Chegada do grupo aos poucos, totalizando 18 pessoas, sendo 3 deles do sexo masculino e 15 do sexo feminino. Começam a se colocar nas cadeiras dispostas em torno da sala, alguns já começam as conversas paralelas com os colegas mais próximos. Uma moça se coloca em pé na frente do quadro branco na parede ao lado esquerdo da porta. A palestrante do dia é uma cirurgiã dentista, que vai falar sobre higiene bucal e cuidados com as próteses dentárias. Ela começa a falar e manusear o Power Point juntamente com o material de apoio. Inicia a palestra que já havia sido combinada com os participantes do grupo, portanto, essa atividade era aguardada por todos para esse dia.
14:40 Entra uma enfermeira para assistir a palestra e um homem, sentado em uma das cadeiras do lado esquerdo da sala, fecha os olhos enquanto a palestrante fala. Teve certo momento em que quatro dos dezoito participantes levemente fecharam os olhos, mas despertaram logo que algo foi questionado.
14:50 Uma pessoa do sexo feminino que estava sentada na direção frontal da porta de entrada, sai da sala.
15:00 Entrada de duas pessoas do sexo feminino dentro da sala, ambas enfermeiras, se posicionam em frente a porta de entrada do lado direito, apoiadas na cuba de metal;
15:05 Umas das enfermeiras caminha para o lado esquerdo da sala, em direção ao nicho branco, pega dois colchonetes azuis, coloca no centro da sala e senta-se sobre eles. Poucos minutos depois, a outra enfermeira se coloca ao lado dela sobre o colchonete. O entra e sai de pessoas é constante na sala, sendo uma frequência maior dos funcionários da instituição. 
15:10 Uma pessoa do sexo masculino, vestindo abrigo preto e tênis azul, que estava sentado do lado esquerdo da sala se levanta anunciando que vai ao banheiro, quando isso ocorre alguns perguntam se ele precisa de ajuda para ir até lá, avisam para levar a bengala e tomar cuidado ao caminhar, já que demonstra uma certa dificuldade para tal. Ele caminha em direção a porta até atravessá-la em direção ao corredor da Unidade Básica de Saúde, vários membros do grupo acompanham com o olhar a saída dele, demonstrando certa apreensão pela maneira que posicionam o corpo para frente e por suas expressões faciais. 
15:15 A palestrante, em pé em frente ao quadro branco, continua a falar para o grupo, estendendo a mão em direção ao quadro branco e mostrando algumas imagens. Alguns membros do grupo parecem estar dispersos olhando a volta, outros demonstram maior interesse questionando o que é dito. Uma senhora traz uma história da neta sobre a higiene bucal, outra fala a respeito dos cuidados em limpar a língua.
15:30 Ainda durante a palestra ocorre a entrada de uma moça, também enfermeira, que caminha em frente até o outro lado da sala, e se coloca em pé atrás de três mulheres sentadas nas cadeiras, conversa um pouconum clima descontraído, sorri e se apoia na parede atrás delas. As duas enfermeiras sentadas no centro da sala, se colocam de pé. Uma caminha em direção a cuba de inox do lado direito da sala, e a outra caminha com os colchonetes na mão na direção contraria, até os nichos brancos e coloca os colchonetes ali. Os participantes do grupo não demonstram se incomodar com a movimentação de pessoas.
15:35 A palestrante que estava em pé em frente ao quadro branco caminha ao redor da sala, em frente aos membros do grupo com alguns objetos na mão. Um deles era uma escova de dente, na cor rosa com cerdas brancas e o outro uma arcada dentária em material transparente. Ela segura esses objetos a sua frente, na altura da visão das pessoas sentadas, e segue mostrando como escovar os dentes. 
 No decorrer da palestra muitos assuntos foram abordados e exemplos dados sobre a importância de fazerem uma boa higiene bucal como: a demonstração de passar o fio dental corretamente e a melhor maneira de escovar os dentes. Utiliza um vocabulário simples como “varrer a sujeira dos dentes”, “fazer movimentos de bolinhas com a escova” e “escovar junto à gengiva”. Alguns participantes do grupo fizeram questionamentos sobre o uso de prótese, dentaduras e de fio dental e os outros ficaram escutando.
15:40 A palestrante se posiciona novamente em frente ao quadro branco, se despede do grupo deixando seu endereço de atendimento que faz parte da instituição e agradece. Todos aplaudiram a palestrante ao final e ela sai em direção a porta. 
Uma das enfermeiras, responsável pelo grupo, se posiciona em frente ao quadro branco, com algumas folhas de papel em mãos e começa a fazer a chamada em voz alta com a finalidade de confirmar a presença no grupo daquele dia. Em contra- partida, cada um da sala vai respondendo ao ouvir seu nome. 
15:45 Foram feitas algumas combinações referentes ao passeio no parque harmonia que iria ocorrer no dia 15/09/2016, a enfermeira responsável precisava confirmar quem iria de fato. Um homem sentado à esquerda faz algumas anotações num papel sobre os acordos feitos naquele momento. Continuam as conversas entre os integrantes. Uns se colocaram em pé, caminham dentro da sala. Outros conversam entre dois ou três participantes. O assunto agora é sobre o passeio que farão ao parque harmonia na semana farroupilha. Nesse momento podemos notar grande agitação, e as expressões nos sugerem euforia e empolgação, existindo falas agitadas e paralelas. Começam a não se escutar, pois todos parecem quererem falar ao mesmo tempo. 
15:48 Uma mulher pega um telefone celular na mão e leva em direção ao ouvido, falando com uma colega do grupo que não estava presente para confirmar a presença dela no passeio, pois aquele era o último dia de confirmações e três participantes confirmaram a ida de suas cuidadoras junto.
15:50 Muitas pessoas falando ao mesmo tempo sobre o passeio que iria acontecer, alguns com uma das mãos levantadas, buscando informações sobre como e onde será o ponto de encontro para a saída do passeio. A enfermeira responsável pelo grupo, Fernanda, continua falando calmamente e esclarecendo as dúvidas que vão surgindo. Observamos que várias pessoas recorrem a enfermeira coordenadora com seus questionamentos, outras vão abraçar ela, trazendo algum assunto mais particular como o estado de saúde e notícias de alguns membros da família. Essa enfermeira claramente tem um papel de referência. Nesse momento acontece à saída de três integrantes do grupo, um casal e uma senhora. 
15:53 A responsável pelo grupo caminha em direção ao armário aéreo (azul) da sala, sobe em uma cadeira e pega uma sacola dentro dele com um instrumento musical, uma gaita sanfona. Alguns membros se despedem do grupo e saem pela porta em direção ao corredor da unidade.
Uma senhora de camisa rosa claro, com brincos de argolas e óculos de grau, integrante do grupo, se posiciona ao lado do móvel de rodinhas em frente ao quadro branco, pega o instrumento musical, de cor marrom, e posiciona-o em seu colo. Coloca algumas folhas de papel branco, que são as letras e partituras das músicas a sua frente, e distribui as letras das músicas (hino rio-grandense, canto alegretense, céu sol sul, xote carreirinha e prenda minha) entre todos. 
Por fim, o grupo começou o ensaio das músicas que iriam tocar e cantar no parque harmonia, uma vez que iriam almoçar em um piquete. A senhora com a gaita começa um movimento de abre e fecha do instrumento musical e começa a tocar. Todos na sala cantam e batem palmas ao ritmo da música. A senhora que estava tocando a gaita pediu para parar em alguns momentos, pois disse que o grupo estava fora do ritmo. E quando chegou ao final do encontro desse dia, sugeriu que tivessem mais ensaios com as músicas. Ao final do ensaio, a mulher coloca o instrumento musical apoiado numa cadeira próxima. 
O grupo começa a se despedir. Assim, demonstrações de afeto começam a transparecer entre os participantes através de abraços e beijos, e aos poucos, começam a caminhar em direção à porta para o corredor da unidade. Os participantes que ficaram até o final do encontro vieram se despedir da coordenadora do grupo e falar com as observadoras se apresentando, deram tchau e disseram que as esperariam novamente. Permanecem na sala a enfermeira responsável e as observadoras do presente trabalho.
4.1.4 INFERÊNCIAS DA OBSERVAÇÃO 1
O grupo apresenta um número significativo de pessoas, todos na terceira idade, a maioria com idades entre setenta e oitenta anos. Todos estavam presentes e juntos no local antes do horário previsto para o início, já estando sentados nas cadeiras dispostas em círculos para o horário das 14:30, o que sugere a vontade de estar naquele local e participar do grupo. Outra situação que indica essa vontade é quando um dos integrantes relata que anteriormente estava doente e que não via a hora de sair de casa e ir ao grupo. 
A principal característica observada no grupo é a união e a preocupação que uns tem com os outros. Como é um grupo de terceira idade todos entendem as dificuldades diárias dos outros, sendo assim se preocupam com o bem-estar dos colegas. Por exemplo, quando um dos participantes vai ao banheiro sem a bengala, fica nítida a apreensão de todos, pois ficaram agitados com o fato do amigo poder levar um tombo. Outra cena que demonstrou essa característica foi quando a palestrante estava mostrando a maneira correta de escovar os dentes na frente de todos, e uma das senhoras disse para ela que a outra senhora que estava do lado não ia conseguir enxergar, porque tinha problemas de visão.
O encontro inicia com uma palestrante, cirurgiã dentista, falando sobre higiene bucal, o assunto parece despertar interesse de alguns participantes que questionam e trazem alguns exemplos relacionados aos assuntos abordados pela palestrante. Outros parecem estar um pouco mais dispersos, sem muito interesse pelo assunto ou até cansados, pois conversam com o colega do lado ou fecham os olhos como se cochilassem. O grupo observado é composto de participantes idosos, e com isso é normal cansarem mais fácil. 
Um dos momentos que pareceu despertar a atenção deles, foi quando a palestrante trouxe um material que puderam manusear e ver de perto. Outro momento motivador do grupo foi à negociação sobre um passeio que fariam na semana seguinte. Pode-se observar a ansiedade, uma vez que queriam organizar logo o passeio que iriam fazer no dia 15 de setembro, causando certo alvoroço e agitação, ocasião em que alguns participantes ligam para outros que estavam ausentes na veemência de confirmarem suas presenças no passeio, indicando um acolhimento com todos envolvidos. Após isso, durante o ensaio de canto, todos se mostraram animados cantarolando as canções, e mesmo quando a senhora que estava tocando a gaita pedia para repetir a música todos se pareciam atenciosos e dispostos a repetir, pois era intenção do grupo fazer o melhor no ensaio, uma vez que pretendiam se apresentar no piquete que iriam almoçar durante o passeio da próxima semana.Além disso, alguns participantes mostraram-se inquietos, não aguentando ficar até o final do encontro, 16h, e a coordenadora do grupo disse que isso era normal. A maneira como a facilitadora do grupo conduziu o grupo também foi um ponto de destaque. Ao saber os nomes de todos participantes, pareceu interagir diretamente com o grupo de maneira mais ativa, foi identificada como uma coordenadora do projeto e muitos dos idosos recorriam a ela para algumas perguntas e despedidas no final do encontro. 
A observação do grupo sugeriu um sentimento de pertença daquelas pessoas, todos pareciam estar ali por livre escolha, evidenciavam amparo e muito carinho entre eles, através de beijos e abraços, alguns deles de forma demorada. As próprias observadoras foram abordadas com abraços e beijos na despedida e convites para estarem juntas em outras oportunidades.
Sendo assim, os participantes demonstraram afeição por quem não fazia parte do grupo também, foram simpáticos ao se despedirem e evidenciando gostar da presença de pessoas de fora. Acreditamos assim, que a integração entre eles é de suma importância, principalmente, nesse momento da vida em que muitos sentem-se sozinhos e certamente com dúvidas e receios.
5.2 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DA OBSERVAÇÃO 2
Observadores: Fabiana Assunção e Fernanda Piccoli
Local: Unidade Básica de Saúde Santa Cecília
Data: 21/09/2016 - quarta-feira
Horário: 14h30min às 16h00min
5.2.1 RELATO DA OBSERVAÇÃO 2
14:45 Chegada do grupo se deu no horário previsto, ou seja, as 14 hrs, porém, estavam muito agitados o que atrasou o inicio do encontro. Estavam muito falantes e não se acomodavam nas cadeiras. Aos poucos foram se posicionando na sala, totalizando 15 pessoas, sendo três deles do sexo masculino (os mesmos do encontro anterior) e 12 do sexo feminino. Ao chegarmos à sala já fomos convidadas a entrar e sentar. Quem coordenou o grupo no dia 21 foi uma agente social-comunitária que faz parte da equipe, uma mulher morena que usava uma blusa verde. A agente comunitária se coloca em frente ao quadro branco, ela será responsável pelo encontro do dia. 
Primeiramente, foi feita uma chamada para conferir quem estava presente, essa chamada tem por objetivo gerar informações para a instituição quanto ao número de participantes, e então a agente comunitária iniciou uma conversa prévia com os idosos sobre as impressões do passeio que haviam feito, no dia 15 de setembro, para o acampamento Farroupilha. O diálogo entre eles durou até, aproximadamente, às 15hrs e tiveram muitas reclamações vindas de alguns idosos. Todos queriam falar ao mesmo tempo, cinco pessoas prontamente reclamaram da comida, e apenas uma pessoa disse que foi bem cuidada.
O grupo estava mais agitado do que na última observação. Todos falando muito, falas altas e cruzadas, sentam e levantam o tempo todo, o que nos sugere uma inquietação. Uma senhora que está sentada do lado esquerdo da assistente social, se levanta e coloca o casaco, ela está de chapéu preto, colar de pérolas e sapatilhas. Ela começa a falar e seu discurso sugere insatisfação com o passeio que fizeram ao parque Harmonia no dia 15/09/2016. A agente comunitária, que nesse momento faz o papel de facilitadora ou líder do grupo, senta na mesa de madeira, e começa a ouvir os comentários.
14:50 Duas integrantes trocam de lugar, pois uma delas sinalizou não querer sentar ao lado da senhora que está falando, então pediu a outra participante para sentar no seu lugar. Neste momento, observa-se um clima hostil e uma dificuldade de comunicação do grupo devido às divergências de opinião. Em seguida, entra mais uma integrante na sala. Um dos senhores, vestido de camisa verde e colete bege, também se manifesta com relação ao passeio, mas numa opinião contrária, dizendo que tudo estava muito bom. Ao lado dele, uma senhora sentada fala algumas palavras, que não foi possível ouvir devido ao grande agitamento do grupo, e na sequência bate palmas mostrando satisfação com o que foi dito. 
A porta se abre e entram mais três integrantes que nesse dia, serão os responsáveis por apresentar uma palestra ao grupo sobre os benefícios das atividades físicas para a terceira idade. Sendo eles dois rapazes e uma moça. Os três se colocam em pé próximo ao lavatório, atrás da porta de entrada, a partir desse momento, os palestrando presenciam a discussão do grupo que não se incomoda ou constrange com a presença deles. 
Uma senhora de camisa azul, jeans, sapatos e óculos pretos, localizada em frente a agente comunitária, se coloca em pé e começa a falar sobre as dificuldades do passeio. Sua fala demonstrava insatisfação com relação ao que foi combinado e não foi cumprido, como o horário que o grupo se apresentaria, onde almoçariam e tipo de comida servida. 
14:53 Outra senhora, sentada próximo a que falava, se coloca em pé, dá dois passos à frente, para e continua caminhando em direção a senhora de chapéu preto que estava na lateral, e entrega o celular, não prestando atenção no que a integrante do grupo falava naquele momento.
14:55 Vários integrantes começaram a falar ao mesmo tempo, agora inicia um assunto duplo, enquanto alguns falam da insatisfação do passeio, outros falam da insatisfação com a integrante de chapéu preto, discutindo sobre a inconveniência dela no ponto de vista de alguns, e começa um isolamento daquela integrante, pois não querem falar com ela, ficam criticando o que ela diz ou trocam de lugar.
A facilitadora pega a palavra para si com a intenção de colocar ordem no encontro, pois os integrantes querem expor seus comentários sobre o passeio e demais combinações. Então, ela faz uma ordem de quem vai falar primeiro e sua sequência. Como a conversa entre eles estava acontecendo de forma desorganizada a agente comunitária precisou pedir respeito entre eles para que todos pudessem falar. 
Luiz, um dos participantes de blusa verde e suéter bege, disse que a comida estava boa, porém os outros participantes riram e disseram que ele foi o único a achar isso, num tom de deboche. Uma senhora, mais jovem de blusão azul e calça jeans, falou para o grupo que reclamar é fácil, sugeriu que eles analisassem melhor a situação e em uma próxima vez programassem melhor o passeio. Imediatamente, uma segunda senhora, de blusão rosa e calça marrom, se levanta para proferir que não gostou do passeio. Nesse momento, a agente comunitária disse que estava triste com as reações e que não iria programar mais nenhuma outra saída. Então, uma terceira senhora, Ilse de blusão preto, começou uma discussão com o grupo por se mostrar insatisfeita com o tratamento e alguns participantes argumentaram dizendo que era difícil organizar algo, porém uma quarta senhora, de casaco e calça preta, avisou que se não acontecerem mais passeios ela irá sair do grupo. 
Uma senhora sentada em frente a facilitadora começa a falar e ao mesmo tempo outra senhora sentada na lateral esquerda fala junto. A senhora de chapéu preto recomeça a falar e, novamente, ninguém parece se escutar. A partir disso, a facilitadora decidiu encerrar o assunto e recomeça-lo num outro momento, comunicando que continuariam essa conversa no próximo encontro. 
Uma senhora vestida toda de preto vai até a agente comunitária e fala alguma coisa próxima ao seu ouvido, de maneira que o grande grupo não escute. Na sequência, a agente apresenta os palestrantes do dia e sai da sala acompanhada da senhora que falava ao seu ouvido. Entra mais uma palestrante que irá falar ao grupo naquele dia. 
15:00 Duas professoras de educação física, que vestiam moletom cinza e uma blusa azul com estrelas, juntamente com dois ajudantes, estudantes de educação física que também estavam com roupas de esporte, se apresentaram para o grupo de idosos. Eles fazem parte do projeto CELARI (Centro de Estudos de Lazer e Atividade Física do Idoso) e estavam ali, naquela tarde, para ensinarem algumas atividades físicas de promoção à saúde. Entra novamente a senhora toda de preto e senta-se na sua cadeira. 
15:30 Um dos meninos começa a explicar sobre a importânciae os tipos de exercícios físicos para o grupo em questão. Fala um pouco sobre articulações, exercícios funcionais e frequência dos exercícios. Uma senhora levanta a mão e conta sua experiência e suas atividades físicas que inclui ginástica na praça, um projeto social desenvolvido no bairro onde ela mora. Neste momento o grupo começa a acalmar e ouvir o que o grupo falava.
15:05 Uma senhora de blusa preta, calça marrom e bengala, sentada na lateral, fala com os palestrante, perguntando que tipo de exercício ela pode fazer. A facilitadora aparece na porta. O senhor sentado ao lado esquerdo da mesa chama a assistente social. Um dos senhores, sentado do lado direito sai da sala.
15:08 As professoras e os ajudantes pediram que todos ficassem em pé em uma roda e começaram mostrando alguns alongamentos (abrir o peito, baixar os ombros, esticar os braços circulando os ombros, mexer a cintura para frente e para trás, de um lado para o outro girando a cintura, abrindo as pernas e flexionando de um lado para o outro). Ao pedirem essas atividades no grupo, se depararam com algumas limitações, pois quando solicitam que os participantes fizessem círculos com o tornozelo, uma senhora de blusão rosa comunicou que não poderia fazer este movimento, visto que tem uma prótese. 
O grupo parece gostar da atividade. Uns demonstram através de risadas, outros através de movimentos mais intensos e outros perguntando se está correto o movimento.
15:10 Entra o senhor na sala e seguem os exercícios. A sequência é pernas afastadas e apoiar-se em pernas alternadas. Duas enfermeiras entram e se colocam próximas a porta para assistir a atividade. Uma delas vai até a mesa e mexe numa pasta cinza. 
15:12 Uma senhora de calca jeans e blusa azul, que está do lado direito dos palestrantes, conversa com o senhor ao seu lado, perguntando como ele estava. O senhor é seu esposo, pois ela havia comentado com as observadoras no final da primeira observação. Seguem os exercícios. Todos ainda em pé, encostam a ponta do pé a frente com movimentos circulares. O Alongamento dura em torno de 15 minutos
15:15 Todos sentam e uma das palestrante mostra um questionário que será utilizado junto ao grupo para saberem das informações pertinentes a saúde e condições físicas dos integrantes, seu histórico de vida e com isso suas limitações de saúde, apresentando, também, o projeto.
15:17 Os palestrantes e enfermeiras que se encontram na sala sentam, de forma individual com o grupo para ajudar no preenchimento do questionário. Nesse momento, as observadoras passam a recolher as assinaturas dos integrantes para o termo de consentimento sobre uso da imagem em fotografia e vídeos. Os integrantes do grupo que já assinaram e preencheram o questionário, seguem caminhando dentro da sala e a conversar, num clima que de descontração, contrastando com o cenário inicial do encontro. Essas atividades duram um tempo considerável, mais ou menos 25 minutos.
15:44 Os palestrantes começam a recolher os questionários, falam mais um pouco sobre onde podem encontrá-los e se colocam a disposição para demais dúvidas. As duas professoras de Educação física fazem algumas combinações para o próximo encontro, pois a intenção é fazer uma avaliação física com cada participante. A agente comunitária auxilia nesse processo de encerramento, agradecendo e ajudando a recolher os questionários. Todos aplaudem e os palestrantes saem da sala.
15:45 Uma das observadoras caminha em direção a uma das integrantes sentadas na lateral esquerda e se detém algum tempo ali. A senhora coloca para ela como os integrantes mais novos do grupo têm dificuldades em se colocar diante de algumas questões debatidas. Ela conta que é uma das mais antigas do grupo, fala um pouco da dificuldade de interação entre os integrantes mais antigos e recentes do grupo. Fala, também, da falta de referência da agente comunitária como figura de liderança, mostrando resistência a figura da agente comunitária, e como reconhecem esse papel na enfermeira Fernanda, que é responsável pelo grupo e que, no momento do encontro, não pode comparecer.
15:50 Uma das integrantes sentada a frente da observadora, interage com ela perguntando se ainda vão fazer parte do grupo, se desculpando pela discussão no início, demonstrando acolhimento e preocupação com opinião ou julgamento das observadoras.
16:00 A agente comunitária faz as observações finais sobre o próximo, como horário e o assunto do encontro e se despede do grupo. Todos começam a se levantar e se preparar para irem embora, se despedindo da facilitadora e das observadoras. Aos poucos a sala vai se esvaziando e todos vão embora.
5.2.2 INFERÊNCIAS DA OBSERVAÇÃO 2
Na segunda observação o grupo estava mais agitado e não tão acolhedor entre os participantes inicialmente, isso se demonstrou em diversos momentos ao longo do encontro, mas, principalmente, no início quando o assunto era o passeio do Parque Harmonia. O passeio, que tanto estavam programando, não saiu exatamente como imaginavam, e isso gerou certa frustração em muitos dos participantes. Surgiram insatisfações com a comida, horários e combinações que fizeram.
Considerando ser um grupo de idosos, muitos não tinham paciência para esperar a sua vez de falar, isso foi demonstrado diversas vezes quando não esperava que o colega terminasse a sua fala ou quando “atropelavam” o outro falando juntos. Foi possível observar que se ofendiam com certa facilidade, quando o outro não concordava com a sua opinião, gerando algumas críticas ao colega que discordava. 
O clima esquentou bastante entre eles quando discutiram sobre o passeio, e mesmo alguns participantes do grupo tentando amenizar ficou claro o descontentamento. Observamos um clima hostil com uma das integrantes, começaram a falar que ela era chata e inconveniente. Muitos falando ao mesmo tempo, trocando de lugares e não ouvindo seus colegas. 
A agente comunitária por sua vez, deu a palavra para o grupo, mas devido as críticas se mostrou sem paciência e irritadiça, opondo-se a figura de um facilitador das expressões e sentimentos dos participantes. Diversas vezes falaram sobre a enfermeira Fernanda e sua conduta com eles de forma positiva, o que nos sugeriu seu papel de facilitadora reconhecida, podemos observar a segurança que transmite ao grupo mesmo quando está ausente. Ainda que a agente comunitária faça parte do grupo, alguns também demonstraram certa hostilidade com relação ela, pois comentavam com as observadoras que não gostavam dela, o que nos mostrou uma liberdade em demonstrar até mesmo os sentimentos negativos.
A situação só acalmou quando os palestrantes começaram a falar e na apresentação das suas atividades ao grupo. Ao iniciar a atividade com os professores e ajudantes de educação física, o grupo, de uma maneira geral, se descontraiu e cooperaram com o bom andamento do projeto. Acreditamos que os participantes consideram importantes essas atividades que visam o seu bem-estar. O grupo não pareceu se constranger com pessoas estranhas presenciando a discussão sobre o passeio.
A segunda observação indicou uma divisão do grupo, principalmente, entre os que gostaram do passeio e os que não gostaram. O fato de alguns defenderem que o passeio foi bom realçou sentimentos nos que não concordavam. E essas pessoas não se contentaram apenas em ter opiniões diferentes, pois queriam também a concordância dos demais, demonstrando uma inflexibilidade de pensamentos. Falaram diversas vezes em respeito com cada um, mas em muitas ocasiões não evidenciaram respeito com o outro integrante, uma vez que não permitiam sua fala clara, interrompendo ou criticando as atitudes do colega. 	Comment by Cristiano Dal Forno: Aspecto que pode ser discutido à luz do conceito de confrontação. 
Foi extremamente enriquecedor para o trabalho poder observar o grupo em duas situações bem diferentes, acrescentou muito para nossa aprendizagem ver que o mesmo grupo de pessoas pode agir de maneira tão diversa dependendo dos sentimentos que estão envolvidos. 
6 INTEGRAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA
A presente pesquisa nos possibilitou observar diferentes situações na relação homem e grupo, atividade que nos proporcionou a integração teórica prática com referencial do autor Carl Rogers e sua teoria sobre grupos de encontros. 
De acordo com Rogers (1970), os grupos de encontros buscam desenvolver o crescimento pessoal e incrementar a comunicação e as relações interpessoais através de um processo experimental. Tal situação se pôde notar diversas vezes, no grupo observado, por meio das atividades propostas. A busca desses idosos pelo grupo, uma vez que é um grupo de encontro e não terapêutico, o acréscimo de informações pelas palestras apresentadas e atividades propostas pela instituição, tudo isso pareceu fortalecer os laços e expandir o autoconhecimento, pois traziam de uma maneira clara suas emoções e sentimentos, demonstrando entrosamento com a equipe, profissionais convidados para os encontros e entre o próprio grupo. 
Apesar das diferenças e dos sentimentos negativos serem visíveis em algumas ocasiões, prevalecia o clima de acolhimento entre esse grupo e com as pessoas que participavam de forma esporádica dos encontros, como as observadoras e os palestrantes. A busca do grupo em querer crescer, se desenvolver e potencializar suas características positivas demonstra a tendência atualizante, conceito mencionado por Carls Rogers, que marcham em direção ao desenvolvimento psicológico positivo e para um processo de maturidade de forma individual e grupal. 
Conforme os conceitos revisados anteriormente, também se identificou na enfermeira Fernanda o papel de líder, uma facilitadora das expressões do grupo, que acolhe de forma incondicional os anseios individuais e as necessidades, trazendo um sentimento de confiança e segurança mesmo quando não está presente, atitude apresentada pela postura de maior independência pessoal e menos sentimentos escondidos pelo grupo durante as observações.	Comment by Cristiano Dal Forno: Ótima integração com teoria apresentada!
A expressão de sentimentos negativos foi outro ponto observado e o primeiro sentimento a se apresentar quando alguns integrantes traziam suas sugestões, comentários ou até mesmo suas queixas relacionadas ao passeio no Parque Harmonia, dada liberdade de se apresentarem como realmente são até mesmo na colocação de seus sentimentos com relação ao outro, considerado um conceito importante como revisado anteriormente.
Rogers (1970) considera o período de hesitação ou confrontação reveladora de algumas atitudes bem pessoais como os sentimentos negativos e a frustração em relação a outros membros e outras atividades, demonstrando um ensinamento conveniente do líder aos sentimentos verdadeiros do grupo. No momento em que a agente comunitária coordenou o encontro, pudemos observar a confrontação do grupo com essa figura e entre si, tais confrontações se tornariam positivas se existisse uma disponibilidade em tratar as questões de forma madura. Não foi o que ocorreu, em alguns momentos presenciamos de forma negativa, pois não acolheram e criticaram algumas palavras ditas pela agente comunitária, mostrando a inflexibilidade de pensamentos, como citado anteriormente. . 	Comment by Cristiano Dal Forno: Excelente compreensão!
Outra situação marcada nos processos de grupo e citada por Rogers (1970), é a relação de ajuda fora das sessões, uma vez que alguns membros buscam aqueles que estavam ausentes para auxiliar nas suas necessidades e no amparo quando tinha alguma tarefa ou atividade que poderiam ser passados aos que não estavam presentes. O cuidado com essas pessoas transpareceu nas observações feitas para o presente trabalho, tais como na situação em que oferecem apoio ao colega que tem dificuldade de locomoção, ou quando comentavam suas visitas a outros membros fora do grupo de encontro.
As expressões de sentimentos positivos e intimidade entre os membros e a facilitadora foi um ponto bastante relevante das observações. O grupo sente-se à vontade para a demonstração de seus sentimentos através dos elogios à Fernanda e as suas próprias demonstrações de afeto, incluindo o contato corporal através de abraços e beijos de forma afetuosa. O retorno de um dos membros ausente durante um período foi um dos momentos que revelou essa intimidade e demonstração de uma afetividade sincera, com o cuidado e preocupação com ele.
Mudanças de comportamento no grupo se fazem necessárias e demonstram o crescimento e evolução. Porém, como nos lembra Rogers (1970), é preciso ficar atento para que esse processo não seja negativo do ponto de vista individual. Isso pode acarretar numa identificação de não aceitação incondicional do individuo, fazendo com que ele se afaste do facilitador e até mesmo do próprio grupo.
 Na segunda observação, pudemos ver as mudanças de comportamento na maneira como falam, agem e gesticulam, algumas mais acaloradas quando se faz referência a discussão com a agente comunitária, mas no final todos pareceram aceitar e entender a atitude do outro. A condução da facilitadora nos pareceu destoante com esse processo, gerando um maior conflito, de forma que os membros não se sentiram acolhidos nos seus sentimentos negativos. Isso foi demonstrado através das falas insatisfeitas e do momento em que a agente simplesmente encerra o assunto, dizendo que não iriam mais falar sobre o passeio, que esse assunto seria tratado num próximo encontro com a Fernanda.
Desta maneira, consideramos válida a observação no que tange as mais diversas formas de convivência entre o indivíduo e o grupo, que transitam tanto em espaços próprios como em lugares em comum com as demais pessoas, tendo sido possível identificar aspectos preconizados por Rogers e sua teoria dsobre grupos de encontros. Tal situação causa acolhimento para alguns e satisfação para outros, sendo fundamental que, para uma melhor convivência de todos, as relações sejam pautadas pelo respeito mútuo.	Comment by Cristiano Dal Forno: Integração clara e bem feita. Puderam resgatar e discutir aspectos centrais das observações. Está muito bom! De qualquer modo, fiz sugestões ao ler a revisão teórica, caso queiram incrementar/incluir à integração...
7 CONCLUSÃO: 
O presente trabalho teve como principal objetivo, observar a dinâmica de um grupo de encontro e o comportamento dos indivíduos que compõe o processo de formação e desenvolvimento dos grupos. Para realizar tais observações, foi efetuada uma revisão teórica com base nos conceitos do autor Carls Rogers e a abordagem centrada na pessoa, referencial que nos permitiu maior entendimento e esclarecimentos dos assuntos abordados. Consideramos esse objetivo atingido, mas com algumas limitações devido ao número de observações.
A observação nos mostrou um grupo heterogêneo e com características muito similares, ou seja, era formado por homens e mulheres de uma faixa etária similar e uma boa convivência. Portanto, um campo fértil para a troca de experiências e para a demonstração dos sentimentos positivos e negativos, conforme Rogers (1970) salienta. 
Tivemos a oportunidade de analisar dois momentos distintos, com emoções e sentimentos evidentes em ambos. No primeiro encontro, pode-se observar o acolhimento incondicional do grupo aos membros e observadoras presentes no local, bem como o carinho e a demonstração de afetos físicos e verbais, também chamado por Rogers de demonstração de sentimentos positivos e intimidade. 
No segundo momento, houve uma demonstração dos sentimentos negativos através da insatisfação e frustração com o passeio realizado ao parque Harmonia e com a postura da agente comunitária como facilitadora do encontro. Ambos os momentos, fortalecem os conceitos revisados sobre a segurança de se expor diante dos membros, assim como a maturidade de lidar com as consequências de suas atitudes.
Ao longo do trabalho, pudemos exercitar o método de observação, que se faz necessário para a futura prática como psicólogos, enriquecendo assim, nossa experiência acadêmica e profissional. 
Cabe frisar a relevância desta experiênciapara o entendimento dos fenômenos grupais e a necessidade do individuo de viver em sociedade, possibilitando direcionar novas pesquisas e aprofundar a investigação neste campo de estudos.	Comment by Cristiano Dal Forno: Excelente trabalho! Está pronto! Parabéns!
8 REFERÊNCIAS
(1) OLIVEIRA NETTO, Alvim Antônio de. Metodologia da Pesquisa Científica: Guia prático para apresentação de trabalhos acadêmicos. Florianópolis. VisualBooks, 2005.
(2) MATOS, Maria Amélia; DANNA, Marilda Fernandes. Aprendendo a observar. São Paulo, 2.ed. Edicon, 2010.
(3) COPPE, Antônio Ângelo Favaro. A Vivência em grupos de encontro: um estudo fenomenológico de depoimentos, 2001
(4) MOREIRA, Virgínia. Grupo de encontro com mulheres vítimas de violência intrafamiliar.
(5) CAMPOS, Antônia do Carmo Soares e CARDOSO, Maria Vera Lúcia Moreira Leitão. O recém- nascido sob fototerapia: A percepção da mãe.
(6) FONSECA, Afonso H Lisboa da. O modelo de trabalho com grupos na abordagem centrada na pessoa. 
(7) CAMPOS, Antônia do Carmo Soares e CARDOSO, Maria Vera Lúcia Moreira Leitão. Vivenciando um grupo de encontro com mães de recém-nascidos internados.
(8) ROGERS, Carl Rogers. Grupos de encontros 8ª. Edição. São Paulo. 2002.

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