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A hermenêutica de Peter Häberle e sua aplicação à Constituição Federal brasileira

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1 
 
 
A Hermenêutica Constitucional de Peter Häberle e sua aplicação à Constituição 
Federal brasileira 
Paulo Byron Oliveira Soares Neto1 
paulobyron@bol.com.br 
 
Resumo: O presente artigo tem como objetivo identificar a aplicação da teoria da Hermenêutica 
Constitucional de Peter Häberle na Constituição da República Federativa do Brasil. A fim de 
alçar os objetivos traçados neste trabalho, como alicerce utilizamos o método bibliográfico. 
Palavras-chave: Constituição de República Federativa do Brasil; Hermenêutica 
Constitucional; Peter Häberle. 
Abstract: The present article aims to identify an application of the theory of Constitutional 
Hermeneutics of Peter Häberle in the Constitution of the Federative Republic of Brazil. In order to 
achieve the goals outlined in the work, as a foundation we use the Bibliographic Method. 
Keywords: Constitution of the Federative Republic of Brazil; Constitutional Hermeneutics; Peter 
Häberle. 
 
Introdução 
As normas jurídicas tiveram, ao longo do tempo, seus métodos de interpretação 
aperfeiçoados, de forma a facilitar a aplicação das leis vigentes às necessidades abstratas, à 
demanda social e efetivamente aos casos concretos que emanam do convívio em uma sociedade 
de direito. 
Cristalino que a Lei Maior do Estado, garantidora de princípios norteadores da 
legislação infraconstitucional e de direitos fundamentais do cidadão, deve possuir uma 
hermenêutica jurídica ajustada a sociedade em sua realidade, a fim de alçar a manutenção da 
democracia e direitos humanos conquistados ao longo do tempo. 
A interpretação mecanicista, ou seja, positivista provinda da famosa teoria de Hans 
Kelsen não se adequa ao caso concreto e tampouco ao processo evolutivo existente em qualquer 
sociedade. 
Destarte, em um Estado Democrático de Direito a lei provém do interesse 
majoritário, representado através de legisladores eleitos democraticamente. Portanto, de acordo 
com as alterações existentes, a hermenêutica constitucional passa a ter um papel fundamental 
 
1 Professor efetivo do Governo do Estado de São Paulo; Licenciado e Bacharel em Matemática, 
possuindo habilitação em Física pela Universidade Ibirapuera; especialista em Gestão Escolar e 
Coordenação Pedagógica pela Uniasselvi; graduando em Direito (UNIP); Graduando em Engenharia 
de Produção (UNIVESP); Pós graduando em Ensino de Filosofia (UNIFESP); pós graduado em Direito 
Tributário e mestrando em Direito e Negócios Internacionais pela Universidade del Atlântico – Espanha. 
2 
 
 
para atender os anseios provenientes da sociedade, como dito, neste contexto a interpretação 
pura, “a letra da lei”, não atende as reais necessidades do cidadão. 
A seguir apresentamos um trecho do texto de Friedrich Nietzsche, o qual ilustra a 
situação ocorrida em uma interpretação puramente positivista das normas existentes na 
Constituição Federal: 
Minha vista, seja forte ou fraca, enxerga apenas a certa distância, e neste espaço eu 
vivo e ajo, a linha deste horizonte é o meu destino imediato, pequeno ou grande, a 
que não posso escapar. Assim, em torno a cada ser há um círculo concêntrico, que 
lhe é peculiar. De modo semelhante, o ouvido nos encerra num pequeno espaço, e 
assim também o tato. É de acordo com esses horizontes, nos quais, como em muros 
de prisão, nossos sentidos encerram cada um de nós, que medimos o mundo, que 
chamamos a isso perto e àquilo longe, a isso grande e àquilo pequeno, a isso duro e 
àquilo macio: a esse medir nós chamamos “perceber” − e tudo, tudo em si é erro!2 
E é neste ponto de cerceamento de uma interpretação da Lei Maior que rege o 
Estado, que surge um novo modelo de hermenêutica constitucional, através da teoria de Peter 
Häberle, de certa forma audaciosa, porém intimamente fundamentada em atender os interesses 
sociais que emergem no Estado Democrático de Direito. 
1. Peter Häberle 
Jurista, especialista em Direito Constitucional, nasceu no dia 13 de maio de 1934 
no distrito de Göppingen, estado de Baden-Württwmberg na Alemanha. 
Sob orientação de Konrad Hesse, tornou-se Doutor em Direito em 1961, na 
Universidade de Freiburg, defendendo a tese “Die Wesensgehaltgarantie des Art. 19 Abs. 2 
Grundgesetz” (título no idioma alemão). Em 1970, habilitou-se através do trabalho 
“Öffentliches Interesse als juristisches Problem” (título no idioma alemão). 
Tornou-se professor substituto em Tubingen e professor de Direito em Marburg, 
posteriormente lecionou nas universidades de August e Bayreth e como professor visitante na 
Universidade de St. Gallen de 1982 a 1999. 
Recebeu o título de doutor honoris causa nas seguintes universidades: Universidade 
Aristóteles de Tessalônica (1994); Universidade de Granada (2000); Pontifícia Universidade 
Católica do Peru (2003); Universidade de Brasília (2005); Universidade de Lisboa (2007); 
Universidade Estatal de Tbilisi (2009); e Universidade de Buenos Aires (2009). 
 
2 NIETZCHE, Friedrich. Na Prisão, in Aurora. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, Livro III, p.117. 
3 
 
 
No Brasil encontrou embasamento na sua teoria de hermenêutica constitucional, 
através de jurisprudências do Supremo Tribunal Federal e, também, em relação ao instituto do 
amicus curiae. Em 1997 teve sua obra traduzida por Gilmar Ferreira Mendes, atual Ministro do 
Supremo Tribunal Federal, sob o título “Hermenêutica Constitucional. A Sociedade aberta dos 
intérpretes da Constituição: contribuição para a interpretação pluralista e “procedimental” 
da Constituição”. 
Peter Häberle dedicou seus estudos sobre um direito constitucional comum latino-
americano, com obra traduzida e publicada no México em 2003, sob o título: “De la soberanía 
al derecho constitucional común: palabras clave para un diálogo europeo-latinoamericano” 
(título no idioma espanhol). 
2. A Teoria Hermenêutica Constitucional de Peter Häberle 
O Jurista através de seu novo método de interpretação constitucional, prevê a 
participação de todos atores políticos, ou seja, grupos sociais e cidadãos envolvido direta ou 
indiretamente, influenciando a atuação dos legisladores na produção das leis. 
Desta feita, o autor descarta o método sistemático e o monopólio interpretativo do 
Estado, como se pode verificar na dura crítica aos modelos na seguinte afirmação: 
A teoria da interpretação constitucional esteve muito vinculada a um modelo de 
interpretação de uma ‘sociedade fechada’. Ela reduz, ainda, seu âmbito de 
investigação, na medida em que se concentra, primeiramente, na interpretação 
constitucional dos juízes e nos procedimentos formalizados.3 
Com isto, se faz presente uma mutação constitucional sem alteração das leis, ou 
seja, somente através da hermenêutica constitucional, a qual, como visto, atende aos anseios e 
expectativas, através da pluralidade de intérpretes, de um real Estado Democrático de Direito. 
Desta feita, segundo o autor, a nova hermenêutica constitucional deve contemplar 
o conceito cultural sob os seguintes aspectos: tradições e legados sociais do povo; regras, 
costumes sociais, valores e ideias de conduta; o nível psicológico para adaptação e superação 
de problemas e os processos de aprendizagem; e nível estrutural de criação de modelos 
culturais, ou seja, ideais ou símbolos. 
 
3 HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional – a Sociedade Aberta dos Intérpretes da Constituição: 
Constituição para e Procedimental da Constituição. Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: 
Sérgio Antônio Fabris editor, 1997, pág. 12. 
4 
 
 
Sendo assim, todo o cidadão se torna responsável pela propagação cultural,deixando de ser simplesmente um espectador e se tornar um participante ativo na interpretação 
constitucional, diante disso que há a mutação da constituição sem alteração de seu texto, mas 
sim unicamente do seu método interpretativo, conforme aponta o autor: “todo aquele que vive 
no contexto regulado por uma norma e que vive com este contexto é, indireta ou, até mesmo 
diretamente, um intérprete dessa norma”4. 
Em concordância com a teoria de Peter Häberle, com brilhantismo Amaral 
exemplifica: 
Imaginemos um funil, onde a abertura superior e maior representa a gama de 
interpretações sobre uma determinada matéria, formuladas pelos diversos 
legitimados. À medida que o processo se desenvolve, percebe-se que o número de 
interpretações diminui. Muitas são reformuladas, outras se fundem. Há um 
verdadeiro processo de liquidificação dessas interpretações até que a Corte 
Constitucional defina qual ou quais são aceitáveis e adequadas para aquela matéria. 
(...) O aumento na participação produzirá o surgimento de novas alternativas, as 
quais propiciarão ao juiz constitucional um contato maior com a realidade, 
decidindo, assim, teoricamente, de forma mais adequada, justa e legítima5. 
3. A aplicabilidade da teoria de Peter Häberle na Constituição da República Federativa 
do Brasil 
A Constituição apresenta uma série de dispositivos com caráter plural e 
democrático. O artigo 1°, inciso V traz o pluralismo político, adiante o artigo 170 no parágrafo 
único, que trata da pluralidade econômica: “É assegurado a todos o livre exercício de qualquer 
atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos 
previstos em lei”. 
Não obstante podemos citar, também, o artigo 206 que apresenta o pluralismo de 
ideias, conforme segue: “O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: III - 
pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e 
privadas de ensino;”. 
Apesar da pluralidade aqui apresentada a Constituição não previa uma participação 
social efetiva. Surge, então a Lei n° 9.868/99 disciplinando a Ação Direta de 
 
4 HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional – a Sociedade Aberta dos Intérpretes da Constituição: 
Constituição para e Procedimental da Constituição. Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: 
Sérgio Antônio Fabris editor, 1997, pág. 15. 
5 AMARAL, Rafael Caiado. Breve ensaio acerca da Hermenêutica Constitucional de Peter Häberle. 
Brasil, 
2006. disponível em www.ihj.org.br>. Acesso em 20 nov. 2017. 
5 
 
 
Inconstitucionalidade e a Ação Declaratória de Constitucionalidade, aperfeiçoando o controle 
de constitucionalidade e prevendo determinados casos onde terceiros pudessem intervir na 
qualidade de amicus curiae. Em seguida, a Lei 9.882/99 disciplinou o processo e o julgamento 
da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental e dispôs sobre a possibilidade de 
intervenção do amicus curiae no processo. 
4. Considerações finais 
De acordo com o exposto a teoria da Hermenêutica Constitucional de Peter Häberle 
possui aplicabilidade em nossa Constituição Federal, porém ainda necessita de ferramentas 
mais efetivas, a fim de atender o processo de democratização da interpretação constitucional, 
visto que, o que temos atualmente nos aponta para um mero aclaramento da norma e 
concretização dos direitos fundamentais. 
5. Referências Bibliográficas 
AMARAL, Rafael Caiado. Breve ensaio acerca da Hermenêutica Constitucional de Peter 
Häberle. Brasil, 2006. disponível em www.ihj.org.br>. Acesso em 20 nov. 2017. 
BRASIL, Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 
Brasília, DF: Senado, 1988. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ConstituiçaoCompilado. htm>. Acesso 
em: 20 nov. 2017. 
BRASIL, Lei nº 9.868 de 10 de novembro de 1999. Dispõe sobre o processo e julgamento da 
ação direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionalidade perante o 
Supremo Tribunal Federal. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9868.htm>. Acesso em: 21 nov. 2017. 
BRASIL, Lei nº 9.882, de 03 de dezembro de 1999. Dispõe sobre o processo e julgamento da 
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental perante o Supremo Tribunal Federal. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9882.htm>. Acesso em: 21 nov. 
2017. 
HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional – a Sociedade Aberta dos Intérpretes da 
Constituição: Constituição para e Procedimental da Constituição. Tradução de Gilmar Ferreira 
Mendes. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris editor, 1997. 
NIETZCHE, Friedrich. Na Prisão, in Aurora. São Paulo: Companhia das Letras, Livro III, 
2004.

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