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in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rt is ta s Nutrição para desportistas Um guia prático para comer e beber, de forma a melhorar a saúde e o rendimento físico. Elaborado pelo Grupo de Nutrição Desportiva do Comité Olímpico Internacional. Baseado na Conferência Internacional de Consenso realizada no COI, em Lausanne, em outubro de 2010 Revista e atualizada em abril de 2012 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rt is ta s Desde 1928 que The Coca-Cola Company se orgulha de apoiar o Movimento Olímpico. Graças a isso, tivemos o privilégio de testemunhar alguns dos maiores sucessos desportivos do século passado. Hoje em dia, os atletas de categoria mundial partilham um compromisso inabalável com uma dieta nutritiva, equilibrada e com um estilo de vida ativo e saudável. Para vos ajudar neste sentido, The Coca-Cola Company, através da nossa marca POWERADE, associou-se ao Grupo de Nutrição Desportiva do COI e à Comissão de Atletas do COI para criar este manual sobre nutrição dirigido a todos os atletas que competem nos Jogos Olímpi- cos de Londres 2012. Ajudar a alcançar o rendimento máximo é a missão de POWERADE, uma bebida refrescante para desportistas, concebida para evitar a desidratação e a fadiga durante o exercício físico. O máximo rendimento físico também depende de um meio ambiente limpo e saudável, que é um dos motivos pelos quais a Coca-Cola se comprometeu com a filosofia de “zero resíduos” através de esforços cada vez maiores em termos de reciclagem dos materiais e de um processo de engarrafamento sustentável. Também estamos a reduzir o nosso impacto potencial sobre o clima recorrendo a tecnologias de vanguarda, entre as quais se inclui a nossa tecnologia de refrigeração sem hidrofluorcarbo- nos (sem HFC). E conseguimos melhorar a eficiência energética do nosso departamento de refrigeração até cerca de 40 por cento desde o ano 2000. Em nome dos mais de 700.000 associados ao sistema Coca-Cola em mais de 200 países, não quero deixar de o congratular pelo seu percurso olímpico até à data. Todos nós na Coca-Cola, desejamos-lhe o melhor no momento da competição e esperamos que consolide amizades duradouras com os seus companheiros olímpicos de todo o mundo! Muhtar Kent Presidente e CEO The Coca-Cola Company Mensagem de Muhtar Kent 2 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rtista s informação médica para desportistas O COI e a sua Comissão Médica têm o grato prazer de proporcionar aos desportistas este manual atualizado, desenvolvido sob a liderança do Grupo de Trabalho de Nutrição Desportiva do COI em estreita colaboração com a Comissão de Atletas do COI. A sua simplicidade e estruturação fácil de ler, fazem deste trabalho uma referência para todos os que, como a Comissão Médica do COI, acreditam que a nutrição é um dos elementos decisivos na preparação dos atletas de alta competição e um fator chave para a saúde dos desportistas. POWERADE colaborou com a Comissão Médica do COI nesta publicação, e na ajuda a divulgar a informação numa campanha mundial dirigida a desportistas de todos os níveis. A todos aqueles que, sem aspirações a participar nos Jogos Olímpicos, consideram o desporto e a atividade física uma das sua principais prioridades, este manual assegurará uma melhor gestão dos seus esforços e da sua preparação. Patrick Schamasch Diretor Médico do COI Introdução de Dr. Patrick Schamasch 3 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rt is ta s Entre os muitos fatores que contribuem para o sucesso no desporto, incluem-se o talento, o treino, a motivação e a resistência a lesões. Sempre que jogadores de talento, motivados e bem treinados, competem, a margem entre a vitória e a derrota costuma ser mínima. A atenção ao detalhe pode representar essa diferença fundamental, e a nutrição é um elemento-chave na preparação do atleta disciplinado. A dieta afeta o rendimento desportivo, e os alimentos que decidimos ingerir durante o treino e a competição afetarão o resultado dos mesmos. O atleta deve ter consciência dos seus objetivos nutricionais pessoais e de que pode escolher uma estratégia de alimentação para cumprir esses objetivos. A dieta pode ter um elevado impacto no treino. Uma dieta adequada ajudará a suportar um treino intenso, constante, reduzindo ainda os riscos de doenças ou lesões. Uma boa escolha dietética também pode favorecer a adaptação muscular e de outros tecidos ao estímulo do treino. Cada atleta é diferente e não existe uma dieta única que satisfaça as necessidades de todos, em todas as circunstâncias. As necessidades individuais mudam, inclusive ao longo de uma temporada, e os desportistas devem ser flexíveis para se adaptarem às ocasiões. A chave é conseguir a quantidade adequada de energia para se manter saudável e com um bom rendimento. Com demasiada energia, aumenta a gordura corporal; se for pouca, diminui o rendimento físico e aumenta o risco de doenças. Os hidratos de carbono são um nutriente chave para o fornecimento de energia, mas as necessida- des de hidratos de carbono dependerão da carga de treino e, portanto, variarão em função do dia e ao longo da temporada. Os atletas devem conhecer os alimentos que são boas fontes de hidratos de carbono e introduzi-los na sua dieta diariamente. Os alimentos ricos em proteínas são importantes para desenvolver e recuperar os músculos, porém, uma dieta variada, que contenha alimentos do quotidiano, normalmente bastará para proporcionar mais do que suficientes proteínas. O momento da sua ingestão e o tipo de proteína são tão importan- tes como a quantidade de proteína numa dieta. As dietas vegetarianas bem estruturadas também podem cobrir as necessidades de proteínas de um atleta. Uma dieta completa e variada, rica em nutrien- tes, que cubra as necessidades energéticas e que se baseie, sobretudo, em vegetais, frutas, legumino- sas, legumes, cereais, carnes magras, óleos e azeite e hidratos de carbono, deverá assegurar uma ingestão adequada de todas as vitaminas e sais minerais essenciais. Manter uma hidratação adequada é importante para o desempenho físico e mental. A ingestão correta de líquidos antes, durante (quando possível) e depois do exercício físico é importante, especial- mente em climas quentes. Quando as perdas de água por suor forem elevadas, é fundamental repor a perda de sais minerais, especialmente do sódio, mas as necessidades variam entre os atletas. Aconselha-se cautela aos desportistas quanto ao consumo indiscriminado de suplementos dietéticos, embora certos atletas possam ver o seu desempe- nho beneficiado com um fornecimento controlado de um pequeno número de suplementos e alimen- tos para desportistas. A alimentação é uma parte importante da vida e os atletas devem desfrutar dos alimentos que consomem, confiantes de que a sua escolha é feita com inteligência. Este documento contém informação que vai ajudar os desportistas a selecionar os alimen- tos corretamente, no sentido de satisfazer as suas necessidades nutricionais em diferentes situações. De modo algum substitui o aconse- lhamento personalizado por parte de um profissional qualificado, antes pretende forne- cer informação prática que pode ser útil ao atleta responsável. Mensagens-chave 4 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rtista s informação médica para desportistas Uma alimentação adequada fornece ao desportista: • Energia para treinar e ter um rendimentoao nível da elite • Ótimos resultados do programa de treino • Melhor recuperação durante e entre os exercícios e provas • Consecução e manutenção do peso e das condições físicas ideais • Benefícios procedentes de todos os nutrientes que favorecem a saúde • Redução do risco de lesões, de fadiga por excesso de treino e de doenças • Confiança por estar bem preparado para enfrentar a competição • Regularidade na prossecução de um grande rendimento em competições de alto nível • Prazer nas refeições e nos eventos sociais, no local e em viagem Apesar destas vantagens, muitos atletas não cumprem os seus objetivos nutricionais. Entre os problemas e desafios mais comuns incluem-se: • Pouco conhecimento sobre alimentos e bebidas e técnicas de cozinha inadequadas • Conhecimento escasso ou antiquado sobre nutrição para atletas • Falta de acesso a dietistas/nutricionistas ou a outros recursos credíveis • Meios económicos insuficientes • Um estilo de vida atarefado que não permite dispor do tempo necessário para obter ou consumir os alimentos adequados • Disponibilidade limitada de boas opções de alimentos e bebidas • Viagens frequentes • Consumo indiscriminado de suplementos e alimentos para desportistas ou o uso inadequado de suplementos e alimentos para desportistas que não foram avaliados e comprovados por evidência científica. A informação contida nesta monografia foi desenhada para oferecer uma visão global das diretrizes mais recentes em nutrição para desportis- tas a todos os treinadores e atletas. Embora não existam dietas nem alimentos mágicos, existem muitas formas de comer e beber bem, de modo que os desportistas de qualquer nível de rendimento físico possam alcançar os objetivos especiais dos progra- mas de treino e competição. Não faz sentido treinar duramente se ignorarmos os benefícios de escolher corretamente os alimentos Nutrição para desportistas baseia-se nas conclu- sões da Conferência Internacional de Consenso sobre Nutrição para o Desporto, realizada em Lausanne, em outubro de 2010. Agradecemos o contributo dos participantes na conferência como fontes científicas especializa- das para a criação deste manual. Também estamos especialmente agradecidos a POWERADE pelo seu apoio. A informação foi atualizada em abril de 2012, como preparativo para os Jogos Olímpicos de Londres 2012, de modo a assegurar que os atletas têm acesso à informação mais recente. A versão revista deste manual foi preparada para o Grupo de Trabalho de Nutrição para Desportistas da Comissão Médica do COI por • Professor Ron Maughan, Reino Unido • Professora Louise Burke, Austrália Agradecemos ao Dr. Patrick Schamasch os seus comentários e contribuições na compilação deste manual. Nutrição para o desportista de elite 5 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rt is ta s As necessidades de hidratos de carbono, proteínas e gorduras de um atleta determinam a ingestão adequada de energia, para a qual se devem ter em conta aqueles alimentos que proporcionam vitaminas, minerais e outros elementos dietéticos que favorecem a saúde. As necessidades energéticas de um desportista são compostas por diversos fatores: necessidades do metabolismo basal (como a energia necessária para sustentar a manutenção celular, a regulação da temperatura e a saúde imunológica), crescimento e atividade física. A energia gasta num destes processos não estará disponível para os outros, de modo que a dieta deve proporcionar energia suficiente para cobrir as necessidades de todas as atividades fisiológicas essenciais. A atividade física (ou no caso de um desportista, a intensidade, duração e frequência das sessões de treino e de competição) representará um papel importante na determinação das necessidades energéticas diárias. Quando a ingestão diária de energia proveniente de hidratos de carbono, gorduras, proteínas e álcool é igual ao gasto de energia, diz-se que o desportista está em equilíbrio energético. Equilíbrio energético = Ingestão de energia– Gasto de energia Isto significa que não existem nem perdas nem ganhos líquidos das reservas de energia de gorduras, proteínas e hidratos de carbono do organismo. Estas reservas de energia desempen- ham várias funções importantes relacionadas com o rendimento no exercício físico, visto que contribuem para: • Tamanho e físico de um desportista (p. ex.: gordura corporal e massa muscular) • Função (p. ex.: massa muscular) • Fonte de energia para o exercício físico (p. ex.: reservas de glicogénio em músculos e no fígado) Os atletas muitas vezes querem variar o seu equilíbrio energético, quer seja para obter um défice de energia (principalmente para reduzir as reservas de gordura corporal) ou um excesso de energia (principalmente para ajudar no crescimento ou no desenvolvimento da massa muscular). Isto consegue-se alternando a ingestão e o gasto de energia, ou ambos. De qualquer forma, um conceito novo e muito importante é o da disponibilidade de energia, que se define como: a energia disponível no organismo depois de deduzida a energia gasta na atividade física à ingestão diária de energia. A disponibilidade de energia é, portanto, a quantidade de energia que resta para cobrir as necessidades energéticas das funções fisiológicas do organismo. Disponibilidade de energia = Ingestão de energia – Gasto de energia de treino/ competição O organismo consegue gerir bem uma pequena descida da energia disponível, mas se esta for demasiado grande ou permanente, vai pôr em risco a capacidade de realizar os processos necessários para uma saúde e para uma atividade fisiológica ótimas. Agora sabemos que muitos dos problemas de saúde e de rendimento físico que frequentemente afetam os desportistas estão relacionados com uma baixa disponibilidade de energia; entre eles incluem- se transtornos menstruais nas mulheres atletas, redução da taxa metabólica basal, riscos imunológicos, disfunções hormonais e perda de densidade da massa óssea. Embora qualquer redução da disponibilidade de energia tenha certo efeito sobre o organismo, os investigadores identificaram um limiar abaixo do qual as consequências são particularmente prejudiciais. Esta questão normalmente é debatida em termos de Massa Magra Corporal (MMC), o que Necessidades de energia 6 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rtista s informação médica para desportistas significa peso corporal menos peso da gordura corporal. O referido limiar foi estabelecido em 30 kcal (125 kJ) por kg de MMC (Massa Magra Corporal). Na tabela que apresentamos mais adiante aparecem exemplos de disponibilidade adequada e deficiente de energia. Existem três situações normalmente associadas à uma disponibilidade de energia deficiente. • Transtornos e comportamentos alimentares. Costumava-se pensar que esta era a principal causa das deficiências energéticas o que, de certo modo, estigmatizava a situação. Os transtornos alimentares exigem uma intervenção prematura e a ajuda de um especialista, mas hoje já se sabe que muitos atletas podem chegar a situações de disponibilidade de energia deficiente fora deste contexto. • Restrições na alimentação para controlar o peso ou perder gordura. São muitos os atletas que embarcam nestas campanhas com a melhor das intenções e, normalmente, por boas razões. Ainda assim, o grau de deficiência de energia que se obtém com uma redução da ingestão de energia ou um aumento do exercício pode conduzir a problemas graves que comprometem a boa saúde. Quando a perda de peso começa mesmo sem existir um comportamento problemático ou uma situação de stress associada, mesmoque não seja muito rápida, pode ter riscos desnecessários para a saúde e para o rendimento físico. • A falta inadvertida do aumento da ingestão de energia durante períodos de treino intenso ou de competição. Alguns atletas iniciam programas de treino ou competição extremamente esgotantes. O apetite, o tempo para preparar e ingerir os alimentos e a consciência do seu consumo são apenas alguns dos fatores que influem na ingestão de alimentos, que poderá não seguir sempre o mesmo ritmo, especialmente quando existe um aumento súbito da carga de exercício físico. A parte prática de se alimentar com elevados níveis de energia, dia após dia, pode constituir um desafio para muitos desportistas. Alguns podem não ter consciência de que não estão a suprir as suas necessidades energéticas, ou de que isto pode ser problemático. 7 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rt is ta s Conselhos para manter uma disponibilidade adequada de energia • Ter consciência das necessidades energéticas e de como estas podem variar ao longo do tempo. Preparar-se para aumentar ou diminuir a ingestão de energia em função dos gastos energéticos variáveis do treino diário ou da competição. Ser consciente, também, das necessidades adicionais durante o crescimento. Na secção seguinte apresentamos ideias para conseguir uma elevada ingestão de energia. • Deve ter cuidado se houver uma mudança de ambiente, em particular, ao viajar ou ao mudar de casa. Quando se alteram os horários das refeições ou quando não se pode ter acesso a alimentos adequados. Restabelecer novos padrões de alimentação pode exigir tempo e algum esforço. • Não se deve nunca adotar dietas drásticas que limitem a ingestão de energia ou a variedade de alimentos. Mesmo que a perda de peso ou de gordura corporal, provavelmente, ajude a melhorar a saúde e o rendimento desportivo, uma restrição severa de energia está associada a consequên- cias desnecessárias de uma disponibilidade de energia deficiente. Sempre que possível, devem planear-se os programas de perda de peso de modo a serem feitos a um ritmo mais lento e menos prejudicial. • Se está a começar a ter stress relacionado com a alimentação ou com a imagem física, deverá procurar ajuda especializada numa fase precoce. • As atletas devem encarar uma interrupção do ciclo menstrual normal como um problema que também precisa de avaliação e de intervenção precoces. • Se não se está certo das necessidades energéticas ou de como conseguir cobri-las, deverá consultar um especialista em nutrição para desportistas. Nota: deve ter em conta que as consequências de uma baixa disponibilidade energética incluem a perda irreversível de massa óssea, bem como a deterioração dos sistemas hormonais, imunológicos e metabólicos. Não vale a pena! in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rtista s informação médica para desportistas Exemplos de diferentes níveis de disponibilidade energética 1. Disponibilidade de energia elevada para crescimento ou aumento de massa corporal Disponibilidade de energia > 45 kcal (> 189 kJ) por kg de Massa Magra Corporal (MMC) Exemplo Desportista A: 65 kg e 20% de gordura corporal MMC = 80% x 65 kg = 52 kg Treino semanal = 5.600 kcal (23,5 MJ) Ingestão diária de energia = 3.520 kcal (14,7 MJ) Disponibilidade de energia = (3.520-800)/52 = 52 kcal/kg MMC (219 kJ) 2. Disponibilidade de energia adequada para manutenção de peso Disponibilidade de energia ~ 45 kcal (~ 189 kJ) por kg de Massa Magra Corporal (MMC) Exemplo Desportista B: 65 kg e 15% de gordura corporal MMC = 85% x 65 kg = 55 kg Treino semanal = 5.600 kcal (23,5 MJ) Ingestão diária de energia = 3.285 kcal (13,8 MJ) Disponibilidade de energia = (3.285-800)/55 = 45 kcal/kg MMC (189 kJ) 3. Disponibilidade de energia reduzida mas ainda adequada para uma perda de peso saudável (ou manutenção de peso a um ritmo metabólico reduzido) Disponibilidade de energia 30-45 kcal (125-189 kJ) Por kg de Massa Magra Corporal (MMC) Exemplo Desportista C: 55 kg e 20% de gordura corporal MMC = 80% x 55 kg = 44 kg Treino semanal = 5.600 kcal (23,5 MJ) Ingestão diária de energia = 2.340 kcal (9,8 MJ) Disponibilidade de energia = (2.340-800)/44 = 35 kcal/kg MMC (164 kJ) 4. Disponibilidade de energia baixa: Implicações na saúde Disponibilidade de energia < 30 kcal (< 125 kJ) por kg de Massa Magra Corporal (MMC) Exemplo Desportista D: 55 kg e 25% de gordura corporal MMC = 75% x 55 kg = 41 kg Treino semanal = 5.600 kcal (2,35 MJ) Ingestão diária de energia = 1.980 kcal (8,3 MJ) Disponibilidade energética = (1.980-800)/41 = 29 kcal/kg MMC (120 kJ) 9 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rt is ta s Em muitos desportos, o sucesso é influenciado pela altura e composição física do atleta. Pode indicar-se como exemplo a importância, em determinados desportos, de se ter força e resistência, ou simplesmente de ser-se grande e alto. Noutras provas, ser pequeno e leve ajuda a deslocar o corpo durante grandes distâncias, a subir montanhas, ou a fazer piruetas ou saltos mortais. A aparência de um atleta também pode ser um fator determinante em desportos que são avaliados de forma subjetiva, ou quando o mesmo pensa na sua imagem pública. Atingir as características físicas mais úteis para o seu desporto passaria por poder selecionar os pais mais adequados: todos temos um ponto de partida inicial na vida que é de carácter genético! Mas algumas características podem transformar- -se através de dieta e treino. A maior parte dos desportistas decidem, em algum momento das suas carreiras, alterar o peso corporal, a massa muscular ou a gordura corporal, e às vezes tudo de uma só vez. Em alguns casos, os atletas devem prestar especial atenção às suas necessidades de crescimento. Os princípios para modificar o tamanho e a forma são: • Alterar o equilíbrio energético para favorecer uma perda ou um ganho de tecido corporal: isto pode conseguir-se alterando o gasto energético, a ingestão dietética, ou mediante uma combinação de ambos. • Iniciar o treino adequado para favorecer o desenvolvimento muscular. Existem outros fatores importantes para se manter saudável, ter um rendimento físico de sucesso e ao mesmo tempo conseguir mudanças físicas. Entre eles incluem-se: • Colocar-se objetivos viáveis e sustentáveis em função da herança genética. • Conceder um prazo suficiente para alcançar os objetivos, adotando mudanças prudentes na alimentação e no treino. • Estabelecer o momento adequado da temporada desportiva para iniciar as mudanças, de modo a que os esforços não colidam com o objetivo de um rendimento físico ótimo em competição. Para a maior parte dos desportistas, isto significaria iniciar as mudanças durante as fases básicas de treino. • Evitar perder a forma física em caso de lesões ou durante o período de descanso entre temporadas. • Procurar a ajuda de especialistas em nutrição, que podem trabalhar com o atleta e com o seu treinador com vista a integrar um bom plano de nutrição no programa de treino. Lamentavelmente, muitos atletas não valorizam ou não entendem a importância destes fatores. Entre algumas das estratégias dietéticas importantes para alcançar estes objetivos incluem-se encontrar formas de: • Diminuir a ingestão de energia para ajudar a perder gordura corporal, ou a prevenir ganhos de gordura corporal quando a intensidade do treino for reduzida. • Apoiar os objetivos do treino necessários para aumentar a massa muscular (ver secção sobre proteínas).• Aumentar a ingestão de energia para apoiar o crescimento e um aumento da massa corporal/ muscular. Alterar a composição corporal: ganhar músculo e perder gordura corporal 10 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rtista s informação médica para desportistas Estratégias para reduzir a ingestão de energia e/ou reduzir os níveis de gordura corporal • Colocar-se objetivos realistas: deverá ser uma meta a medio-prazo e não a alcançar na semana seguinte. • Tentar criar um pequeno défice de energia (de umas 500 kcal – 2 MJ – ao dia) reduzindo a ingestão de energia e/ou aumentando o gasto energético. Um pequeno défice de energia constante durante um período mais longo favorecerá a perda de gordura em vez de sacrificar a massa muscular, e apoiará melhor as necessidades do programa de treino e os objetivos gerais da nutrição. Embora muitos desportistas sejam impacientes e gostem da ideia de um programa de perda de peso rápido mas drástico, os resultados relativos a mudanças na composição corporal e no rendimento físico serão provavelmen- te melhores do que com um grande défice. • Lembre-se que para uma saúde duradoura é necessária uma disponibilidade de energia adequada. • Procure um especialista em nutrição para desportistas para avaliar os seus padrões alimentares atuais e detetar onde se podem realizar pequenas alterações. Mantendo o registo diário dos alimentos que realmente consome também pode ajudar a detetar hábitos que devem ser alterados. • Limitar os tamanhos das porções em vez de saltar refeições. • Utilizar snacks bem escolhidos para comer entre refeições de forma a manter os níveis de energia durante as sessões de treino. Reservar parte de uma refeição para comer mais tarde, em vez de comer alimentos extra. • Manter a ingestão de hidratos de carbono para conservar os níveis de energia durante o exercício físico, especialmente nos dias em que a intensidade e a qualidade do treino for realmente importante. • Manter uma boa distribuição da ingestão de proteínas ao longo do dia ajudará a preservar a massa muscular, assim como a conseguir que as refeições e os snacks saciem mais. in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rt is ta s • Adotar estratégias com uma dieta baixa em calorias ao cozinhar ou preparar refeições. • Limitar ou banir completamente o consumo de álcool: não é uma parte essencial da dieta. Além disso, muitas pessoas perdem as suas boas intenções no controle do consumo de alimentos depois da ingestão de alcóol. É fácil petiscar, cair na tentação do fast food ou escolher alimentos inadequados numa dieta para desportistas, quando se descontrai demasiado. • Fazer refeições e snacks que “encham” mais, incluindo grandes quantidade de saladas e vegetais, optando pelos que têm mais fibra. • Incluir tipos de alimentos ricos em hidratos de carbono de baixo índice glicérico (p. ex.: aveia, legumes, pão com muita fibra, maçãs) que também ajudam a saciar. • Escolher alimentos com elevada densidade de nutrientes, de forma a contribuírem para cobrir as exigências nutricionais mas com uma ingestão calórica inferior. Estratégias para aumentar a ingestão calórica que apoie o crescimento ou aumento de massa muscular • Estabelecer um padrão de refeições e snacks frequentes durante o dia, em vez de limitar-se a comer mais durante as refeições. • Programar com antecedência de forma a dispor de alimentos e bebidas adequados mesmo que se tenha um dia atarefado. Encontrar alimentos que possam ser transportados e consumidos facilmente quando se está “em trânsito”, pode exigir uma certa criatividade. • O registo dos alimentos pode identificar os momentos de um dia atarefado que não estão a ser bem utilizados para recarregar energia. • Bebidas como batidos de frutas, suplementos alimentares líquidos, batidos lácteos enriquecidos e sumos, podem contribuir com um fornecimento substancial de energia e nutrientes rápidos e compactos para consumir. Provavelmente, causam menos incómodos e sensação de enfartamento que outro género de refeições. • Embora seja importante comer frutas, legumes e cereais integrais devido às suas qualidades nutricionais, este tipo de alimentos em excesso pode reduzir a densidade energética da dieta. É correto incluir opções que sejam mais compactas: por exemplo, sumos e certos cereais “brancos”. • Aproveitar as oportunidades antes, durante e depois de uma sessão de exercício físico para consumir energia e nutrientes. As formas compactas de hidratos de carbono antes e durante o exercício físico podem acrescentar energia ao total diário e proporcionar um fornecimento energético para os treinos e exercício físico. Os produtos lácteos açucarados, os suplementos alimentares líquidos e os batidos de frutas, proporcionam uma fonte compacta de proteínas e hidratos de carbono para depois do exercício físico. 12 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rtista s informação médica para desportistas Os hidratos de carbono, considerados a “coluna vertebral” da nutrição para atletas, transformaram- -se em tema de debate e objeto de opiniões díspares. É suposto constituírem aproximadamente metade da ingestão total de energia no mundo. De facto, há estudos que demonstram que os melhores atletas de resistência (os corredores de fundo do Quénia e da Etiópia), consomem dietas particular- mente ricas em hidratos de carbono. Entretanto, em muitos países ocidentais, as notícias nos meios de comunicação informam que os hidratos de carbono engordam e afetam a nossa saúde, e os livros mais populares sobre dietas baseiam-se em programas alimentares de ingestão baixa ou moderada de hidratos de carbono. Isto acaba por deixar muitos desportistas confusos. É verdade que as recomendações de especialistas em nutrição para atletas, quanto à ingestão de hidratos de carbono, continuam a evoluir, assim como a linguagem utilizada para descrever os hidratos de carbono. Uma ideia fundamental que não tem variado é a importância dada às reservas de hidratos de carbono do organismo como fonte de energia para o músculo e o cérebro durante o exercício físico. Em muitos desportos, os baixos níveis de reservas de hidratos de carbono pressupõem um fator de fadiga e de redução do rendimento físico. Além disso, as estratégias para assegurar o aumento das reservas têm como resultado melhorias no rendimento físico. Isto representa um papel chave na alimentação para a competição. Atualmente, os avanços científicos transformaram a nossa forma de pensar acerca das necessidades de hidratos de carbono na dieta diária ou para o treino: As necessidades de hidratos de carbono do atleta estão diretamente ligadas à utilização de energia pelos músculos durante o treino. A intensidade do treino varia todos os dias ao longo dos diversos microciclos e macro ciclos do calendário de treinos periódicos. E isto em diferentes momentos da carreira profissional do atleta. Portanto, a nova mensagem é que, em vez de prosseguir com uma ingestão dietética estática, os desportistas deveriam variar a ingestão de hidratos de carbono em função das exigências específicas de energia dos músculos. Foram sugeridos vários objetivos gerais, mas estes devem aperfeiçoar-se em função da proposta de exigências energéticas do desportista e da informação sobre o seu desempenho no treino. Para maior aperfeiçoamento, os desportistas devem fixar os dias em que é importante treinar duramente com uma elevada intensidade ou qualidade, garantindo que pode contar com reservas adequadas de hidratos de carbono nos músculos (glicogénio), a fontede energia para alcançar os seus objetivos. Hidratos de carbono para o treino e a recuperação 13 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rt is ta s Uma boa forma de ajudar a que a ingestão de hidratos de carbono siga o ritmo das solicitações de energia dos músculos, é incluir hidratos de carbono adicionais nas refeições ou nos snacks, antes ou depois de um exercício físico. Isto significa que, quando aumentarem as necessidades de treino, a ingestão de hidratos de carbono vai acompanhar este aumento. Consumi-los durante sessões prolon- gadas também contribuirá para o objetivo geral de ingestão de hidratos de carbono do dia e proporcionará energia para o exercício físico especificamente. Muitos desportistas deveriam aproveitar essa oportunidade para ensaiar as estratégias de competição de como comer e beber durante uma prova. Os objetivos de hidratos de carbono devem ser considerados em termos de gramas, respeitando o tamanho (peso) do desportista, e não apenas como uma percentagem da ingestão calórica diária. Mais do que falar em “dietas altas em hidratos de carbono” e “dietas baixas em hidratos de carbono”, devemos ter em conta o nível de disponibilidade de hidratos de carbono em relação às solicitações de energia dos músculos: se a ingestão total e o momento do dia da ingestão satisfazem as exigências de energia de um exercício físico (=alta disponibilidade de hidratos de carbono) ou se as reservas de hidratos de carbono se esgotam ou não são as ótimas, em comparação com as solicitações de energia dos músculos (=baixa disponibilidade de hidratos de carbono). A tabela anterior mostra que, para diferentes intensidades de treino podem ser adequadas quantidade de hidratos de carbono muito diferentes. Portanto dois atletas poderiam ingerir o mesmo em hidratos de carbono mas, em função das solicitações energéticas do seu treino, um poderia alcançar uma elevada disponibilidade de hidratos de carbono, enquanto a disponibilidade de hidratos de carbono do outro desportista seria baixa. Muitos atletas realizam parte das suas sessões de treino com baixa disponibilidade de hidratos de carbono: por exemplo, quando treinam logo cedo de manhã sem tomarem o pequeno-almoço, quando vão fazer exercício durante tempo prolongado sem acesso a alimentos ou a uma bebida para desportistas, ou quando reduzem a sua ingestão de energia para reduzir os níveis de gordura corporal. Isso pode não constituir um problema durante a fase básica do treino ou nos dias de treino leve, quando a intensidade e a qualidade exigida no treino são baixas. De facto, alguns estudos sugerem que efetuar algumas sessões de treino desta forma proporciona um bom estímulo ao músculo, ajudando-o a adaptar-se a este treino. Por isso, as dietas estratégias devem ser adotadas de forma adequada aos objetivos do programa de treino, de modo a que não interfiram com a intensidade do mesmo. Carga de treino Objetivos de ingestão de hidratos de carbono (g por kg de peso do desportista) Ligeira Baixa intensidade ou atividades de destreza 3-5 g/kg/dia Moderada Programa de exercício moderado (p. ex.: ~1 hora diária) 5-7 g/kg/dia 5-7 g/kg/dia Alta Programa de resistência (p. ex.: 1 a 3 horas diárias de exercício de intensidade moderada a alta) 6-10 g/kg/dia Muito Alta Dedicação muito intensa (p. ex.: um mínimo de 4 a 5 horas diárias de exercício de intensidade moderada a alta) 8-12 g/kg/dia 14 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rtista s informação médica para desportistas Quando os atletas treinam mais do que uma vez por dia e as sessões acontecem perto umas das outras, é essencial acelerar a recuperação das reser- vas de hidratos de carbono do músculo. Uma vez que o músculo não pode armazenar glicogénio com eficácia se não forem ingeridos hidratos de carbono, consumir alimentos e bebidas ricos em hidratos de carbono imediatamente após as sessões, ajuda a recarregar rapidamente. Quando se precisa duma recarga rápida, depois de uma sessão, deve colocar-se como objetivo uma ingestão de hidratos de carbono de aproximada- mente 1 g por kg de massa corporal, por hora, durante as quatro primeiras horas. Pode ser uma ajuda, consumirmos a intervalos frequentes, se isto não colocar em risco outros objetivos da recuperação. Normalmente, o tipo de hidratos de carbono é menos importante do que a quantidade, pelo que os desportistas devem escolher em função da comodidade, apetência, custo, e do fornecimento que podem ter para outros objetivos nutricionais. Quando não for possível cobrir estes objetivos de hidratos de carbono durante as primeiras horas de recuperação, a presença de proteínas em snacks de recuperação irá favorecer maiores velocidades de armazenamento de glicogénio do que os hidratos de carbono isoladamente. Isto é relevante, uma vez que a ingestão de proteínas após o exercício contribui para outros objetivos, para além da recuperação física. Durante períodos de recuperação mais longos (24 horas), o padrão e o momento de consumo de refeições e snacks ricos em hidratos de carbono não parecem ser críticos, e podem ser organizados em função do que seja mais prático e cómodo para o atleta. Não existem diferenças na síntese de glicogénio por serem consumidos hidratos de carbono na forma líquida ou como alimentos sólidos. É importante escolher hidratos de carbono ricos em nutrientes e acrescentar outros alimentos às refeições ou snacks de recuperação, para proporcionar uma boa fonte de proteínas e outros nutrientes à dieta total. Exemplos de combinações de hidratos de carbono e proteínas ricas em nutrientes (contendo de 50 a 75 g de hidratos de carbono e de 15 a 20 g de proteínas) • 500 a 750 ml de leite magro com chocolate • 1 ou 2 barritas para desportistas (verifique o nível de hidratos de carbono e proteínas nas embalagens) • 1 chávena grande (2 chávenas) de cereais com leite magro • 1 barrita de cereais grande ou 2 pequenas + 200 g de iogurte com sabor a frutas • 1 chávena de ervilhas com 2 tostas ou com uma batata assada • 1 pãozinho com queijo ou manteiga de amendoim + 1 banana grande • 2 chávenas de salada de frutas com 200 g de iogurte com sabor a frutas • Um pão barrado com manteiga de amendoim + 1 ou 2 chávenas de leite magro • 300 g de batata (grande) assada + recheio de requeijão magro + 1 ou 2 chávenas de leite magro • 2 ou 3 porções de pizza de carne magra e vegetais • 2 chávenas de cereais de pequeno- almoço com leite • 400 g de iogurte de sabores • 500 a 750 ml de batido de frutas ou suplemento alimentar líquido • Uma fatia grande de pão de sanduíche de carne e salada • 2 chávenas de salteado de arroz ou massa e carne 15 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rt is ta s Em muitos desportos cujas provas duram mais de uma hora, o esgotamento das reservas de hidratos de carbono provoca fadiga e uma diminuição do rendimento físico ao longo da mesma. As estratégias de nutrição que proporcionam uma quantidade adequada de hidratos de carbono podem, pelo contrário, reduzir ou atrasar a diminuição do rendimento. Estas estratégias incluem a ingestão de hidratos de carbono nas horas ou dias anteriores à prova, assegurando que as reservas de glicogénio no fígado e nos músculos fiquem providas, em função das necessidades de energia previstas para a prova. Se não existirem lesões musculares, o atleta pode normalizar as suas reservas de glicogénio nos músculos com apenas 24 horas de alimentação rica em hidratos de carbono e a diminuição do exercício físico. Carga de hidratos de carbono Os desportistasque competem em provas que durem mais de 90 minutos, podem obter benefícios com a ‘carga de hidratos de carbono’ uns dias antes da competição. Esta estratégia implica cobrir os objetivos mais elevados de ingestão de hidratos de carbono (9 a 12 g/kg/dia), durante 24 a 48 horas, paralelamente à redução do exercício, o que permite sobrecompensar as reservas de glicogénio nos músculos acima dos níveis normais. Em consequência, o desportista disporá de energia para realizar exercício durante mais tempo, com um rendimento ótimo antes de começar a diminuição do mesmo. Exemplo de alimentos para um dia, que proporcionam 630 g de hidratos de carbono* (para uma pessoa que pese 70 kg, com uma ingestão de hidratos de carbono de 9 g/Kg). • Pequeno-almoço (150 g) = 2 chávenas de cereais com leite + 250 ml de sumo de fruta + 1 banana + 2 fatias grossas de torradas + fatia grossa de marmelada • Meio da manhã (50 g) = 500 ml de refresco com açúcar • Almoço (150 g) = 1 pãozinho grande + 1 madalena tipo muffin media + batido de fruta • Meio da tarde (50 g) = 200 g de iogurte de sabores + 250 ml de sumo de fruta • Jantar (200 g) = 3 chávenas de massa cozinhada + 2 chávenas de macedónia + 2 bolas de gelado + 500 ml de bebida para desportistas • Snack (30 g) = 50 g de chocolate ou de frutos secos *Nota: Podem acrescentar-se outros alimentos às refeições, com quantidades moderadas de alimentos proteicos. Para muitos desportistas, basta seguir uma alimentação pobre em fibra durante os dias de carga de hidratos de carbono para assegurar que o intestino está livre de fibra volumosa no dia da prova. Hidratos de carbono para a competição 16 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rtista s informação médica para desportistas Refeição que antecede a prova (período de 1 a 6 horas antes da competição) Os atletas frequentemente descobrem um conjunto de alimentos favoritos para comer durante as horas que antecedem a competição, que não só proporcionam energia extra durante a prova, como também os fazem sentir-se ‘bem’, acalmando a fome e tranquilizando o estômago, sendo cómodos e práticos. Em desportos que não provocam fadiga ou esgotamento das reservas de hidratos de carbono (p. ex.: ginástica, sprint, saltos de esqui, etc.), a refeição prévia não deve ser necessariamente à base de hidratos de carbono. No entanto, em provas que impliquem exercício de mais de 60 minutos, aconselha-se os desportistas a aproveitarem a refeição prévia à prova para acumular reservas de hidratos de carbono, sobretudo se a prova for de manhã, após o jejum noturno. Ingerir hidratos de carbono nas horas que antecedem o exercício físico tem o efeito de aumentar a velocidade de utilização de hidratos de carbono pelo músculo. Portanto, a refeição anterior à prova deve conter suficientes hidratos de carbono para despoletar esta “absorção” dos mesmos. O objetivo deve conseguir-se com uma ingestão de hidratos de carbono superior a 1 g/kg de massa corporal, e as refeições prévias, que melhoram o rendimento físico nas provas mais longas, normalmente proporcionam hidratos de carbono entre 1 a 4 g/kg. Continuar a consumir hidratos de carbono durante a prova ajuda a sustentar a disponibilidade de energia. Um ‘erro’ que alguns atletas cometem, é comer apenas uma pequena quantidade de hidratos de carbono (menos de 1 g de hidratos de carbono por kg de massa corporal), durante o período de uma a seis horas antes do exercício físico e depois não consumir hidratos de carbono durante o mesmo. Lamentavelmente, isto serve para que o corpo dependa mais do fornecimento de hidratos de carbono do organismo, sem proporcionar recursos adicionais que o sustentem. Em função do momento do dia, das preferências do desportista e da disponibilidade de alimentos, para compor a sua refeição anterior à prova o atleta pode escolher entre um vasto leque de alimentos e bebidas, com elevados níveis de hidratos de carbono. Deverá ensaiar o tipo, o momento e a quantidade de alimentos até desenvolver um programa com êxito. Cinco exemplos diferentes de alimentos, cada um deles aporta 140 g de hidratos de carbono numa refeição de pré-competição* (2 g/kg de massa corporal para uma pessoa de 70 kg): • 2,5 chávenas de cereais de pequeno- almoço + leite + 1 banana grande • Pãozinho grande ou 3 fatias grossas de pão + capa grossa de mel • 2 chávenas de arroz cozido + 2 fatias de pão • 4 crepes + ½ chávena de doce • Barrita desportiva de 60 g + 500 ml de suplemento alimentar líquido ou batido de frutas *Nota: Podem tomar-se outros alimentos na refeição 17 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rt is ta s Já sabemos há muito tempo que o rendimento físico melhora quando se consomem hidratos de carbono durante o exercício físico. Entre os benefícios incluem-se a manutenção de um ritmo ótimo, tempos superiores com intensidades elevadas, e a manutenção da destreza e da concentração. Isto parece explicar-se por uma grande variedade de mecanismos, que vão desde o fornecimento de elevados índices de energia adicional ao músculo, até conseguir que o cérebro se sinta bem, e deste modo, que este nos faça sentir que o nosso rendimento físico está melhor. Até há pouco tempo, foi adotado um enfoque de “tamanho único” na ingestão de hidratos de carbono durante um exercício físico, de duração superior a 60-90 minutos. De qualquer forma, existe evidência científica de que exercícios físicos de diferentes durações e intensidades exigem o enfoque de alimentação em hidratos de carbono distintos. Bebidas e alimentos que contenham hidratos de carbono podem cobrir estes objetivos, assim como outras necessidades, como a de líquidos. Entre eles incluem-se os produtos especiais para desportistas, como bebidas, géis e barritas para desportistas. Muitos alimentos e bebidas do quotidiano, como a fruta, os sumos, os refrigerantes e produtos de pastelaria, também podem ser adequados. O atleta deveria testar durante o treino, de forma a desenvolver um programa de recarga energética para uma corrida ou prova desportiva. Este programa deve ter em conta as oportunidades que surgem durante a prova para consumir bebidas ou alimentos. Ingestão de hidratos de carbono durante o exercício 18 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rtista s informação médica para desportistas Exercício Duracção Objetivos de hidratos de carbono Comentários Durante um exercício breve < 45 min Não é necessário • Uma vasta gama de bebidas e produtos para desportistas pode proporcionar hidratos de carbono de fácil consumo Durante um exercício sustentado de alta intensidade 45-75 min Pequenas quantidades, incluindo lavar a boca • As oportunidades para consumir alimentos e bebidas variam em função das regras e da natureza de cada desporto • Pode ser útil uma vasta gama de opções dietéticas quotidianas e produtos especializados para desportistas, em forma líquida ou sólida • O desportista deveria experimentar, para encontrar um programa de recarga de energia que se adapte aos seus objetivos individuais, o que inclui necessidades de hidratação e conforto gástrico Durante um exercício de resistência, desportos com paragens e reinícios incluídos 1-2,5 horas 30-60 g/h • Como anteriormente • Ingestão maior de hidratos de carbono associada a melhor rendimento físico • Os produtos que proporcionam diversos hidratos de carbono transportáveis (glucose: combinações de frutose) conseguirão índices mais altos de oxidação dos hidratos de carbono consumidos durante o exercíciofísico Durante um exercício de ultraresistência > 2,5-3 horas Até 90 g/h 19 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rt is ta s Outra área que evoluiu com o conhecimento e a prática foi a da necessidade de proteínas. Há algum tempo, acreditava-se na necessidade de elevadas ingestões de proteínas ou no consumo específico de carne procedente de animais por ter características favoráveis para o desporto (p. ex.: velocidade, força, valor, etc.). O convencimento quanto aos benefícios de uma elevada ingestão de proteínas permaneceu nos desportos de força/ potência, mas, em geral, divide-se por ênfases nos alimentos ricos em proteínas e nos suplementos proteicos especializados. Durante muitos anos, foi debatida a solicitação de proteínas totais pelos desportistas. Muitos especialistas pensavam que as suas necessidades diárias eram mais elevadas que as das pessoas sedentárias, mas que se garantiam facilmente com as ingestões de energia consumidas pela maioria dos desportistas. Os objetivos de ingestão de energia dos atletas de força ou de resistência foram estabelecidos entre 1,2 a 1,6 g/kg de peso corporal ao dia. Os estudos dietéticos demonstram que a maioria dos desportistas cumprem facilmente estes objetivos, sem a ingestão de suplementos caros, inclusivamente. Os atletas com maior risco de não cumprir estes objetivos são aqueles que limitam a ingestão energética e a variedade de alimentos. A nova forma de considerar as solicitações de proteínas é, no entanto, a de verificar o seu papel no melhoramento dos resultados do treino e, em concreto, a forma como o organismo se adapta ao tipo de exercício físico empreendido, no programa de treino. A resposta ao treino é específica ao estímulo e proporcional à carga do treino. Qualquer desportista sabe que o treino de força é muito diferente do treino de resistência, e o resultado é que o músculo aproveita ao máximo as proteínas de que necessita especificamente, para que o músculo renda mais. A proteína da dieta desempenha um papel importante nesta resposta ao exercício físico. Os aminoácidos que compõem as proteínas dos alimentos que consumimos são usados como blocos construtores, na produção de tecido novo, incluindo o muscular, e na reparação de tecido lesionado. Também são os componentes das hormonas e das enzimas que regulam o metabolismo, que ajudam o sistema imunológico e outras funções do organismo. A proteína por si só leva um pequeno fornecimento de energia aos músculos que se exercitam. Quando se adota este enfoque sobre as necessidades de proteína, o foco vira-se para a questão de como favorecer a síntese ótima de proteínas no período de recuperação e adaptação de cada exercício físico. Surgiram as ideias seguintes: Ingerir uma fonte de proteína de alta qualidade, um pouco antes de cada exercício físico fomentando a síntese de proteínas no músculo. A proteína de alta qualidade, procedente de fontes animais (p. ex.: leite, carnes, ovos, etc.) é especialmente valiosa. A quantidade de proteína necessária para maximizar esta resposta ao exercício físico é bastante modesta: uns 20 a 25 g. As quantidades superiores de proteína são simplesmente gastas como energia. Pode ajudar escolher uma fonte de proteínas que se digira rapidamente, como estímulo proteico após o exercício físico. A proteína de soro de leite adapta-se a este perfil, o que explica a sua popularidade na recuperação após o exercício físico. Pode encontrar-se facilmente em bebidas e alimentos lácteos vulgares. No entanto, por vezes pode ser útil adotar um formato Proteína na dieta para atletas: dos requisitos à adaptação ótima 20 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rtista s informação médica para desportistas mais compacto, que seja fácil de transportar e de preparar perto da sessão de exercícios, tais como um suplemento alimentar líquido ou um simples preparado proteico em pó. Não existe justificação para preparados proteicos ou formulações de aminoácidos com ingredientes extra e anúncios publicitários fantasiosos. Sabemos que o estímulo do músculo aumenta os índices de síntese de proteínas, durante um período de até 24 horas após o exercício físico. O que ainda não se sabe é como organizar melhor a ingestão de proteína durante o dia. No entanto faz sentido distribuir a proteína pelas refeições e snacks consumidos ao longo do dia. Isto não é algo que os padrões tradicionais de alimentação consigam sempre, dado que a maioria das pessoas comem a maior porção de proteínas na refeição da tarde. Pode ser mais prudente redistribuir a ingestão de proteínas pelas outras refeições do dia. Alimentos proteicos: Obtém-se 10 g de proteínas com • 2 ovos pequenos • 300 ml de leite de vaca • 20 g de leite em pó magro • 30 g de queijo • 200 g de iogurte • 35 a 50 g de carne, peixe ou frango • 4 fatias de pão • 90 g de cereais de pequeno-almoço • 2 chávenas de massa cozinhada ou 3 chávenas de arroz • 400 ml de leite de soja • 60 g de nozes ou sementes • 120 g de tofu ou carne de soja • 150 g de legumes ou lentilhas • 200 g de ervilhas cozinhadas • 150 ml de batido de frutas ou suplemento alimentar líquido 21 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rt is ta s Os desportistas costumam considerar a necessidade de beber antes, durante e depois do exercício, e a importância de, por vezes, utilizar bebidas que contenham sais e hidratos de carbono adicionados. Contudo, alguns atletas não bebem o suficiente, enquanto outros bebem demais, por isso é importante aprender os aspetos práticos de: a) quando pode ser uma mais valia beber durante o exercício físico; b) quantidade que se deve beber; c) que tipo de bebidas são as melhores; e d) que alterações devem ser realizadas em ambientes quentes ou frios. Da mesma forma que se devem adaptar estratégias gerais de treino e competição para os atletas individuais, em função das suas necessi- dades e preferências únicas, devem ser feitas as escolhas de bebidas e alimentação durante o exercício físico. Atletas, coaches (motivador emocional) e treinadores devem ‘aperfeiçoar’ estas recomendações para identificar a sua própria fórmula vencedora. Quando pode ser uma mais valia beber durante o exercício físico? Os líquidos consumidos durante o exercício físico podem desempenhar varias funções. Entre elas, fazer com que o atleta se sinta mais confortável, repor um défice de fluidos corporais, e proporcionar um meio de consumir outros ingredientes. A importância de cada uma destas funções varia conforme a situação. Normalmente não é necessário beber durante um exercício físico cuja duração seja inferior a 40 minutos, mas alguns desportistas sentem-se melhor depois de bochechar com bebidas frias e isto não é prejudicial. No entanto, durante sessões de treino e competição mais longas, podem encontrar-se benefícios e vantagens de beber. Durante um exercício físico que faça suar muito e com duração superior a 30 minutos, uma alternativa é hidratar-se bem antes de começar a sessão. O atleta deveria praticar bebendo nos 15 minutos antes do exercício físico e tentar descobrir com que quantidade se sente inicialmente cheio, mas confortável, quando começar o exercício (p. ex.: 300 até 800 ml). Quanto se deve beber? Suar provoca uma perda de água e sais minerais no organismo, mas perde-se água continuamente no hálito e através da pele, inclusive quando estas carências não são óbvias. As pequenas faltas de água não exercem um efeito sobre o rendimento físico, mas uma desidratação grave é desfavorável para o mesmo. Não existe uma prova científicafirme sobre o momento a partir do qual se começa a ver afetado o exercício físico. Acredita-se que varia de pessoa para pessoa, assim como em função do tipo e duração do exercício físico e das condições ambientais. Frequentemente, é recomendado aos atletas que só bebam água quando têm sede, mas isto nem sempre é uma orientação fiável. Mais ainda, as regras e ocasiões para beber líquidos em muitos desportos podem não coincidir com os momentos em que se tem sede. A melhor opção é desenvolver um plano de ingestão de líquidos que se adapte ao desporto, às necessidades pessoais e a outras necessidades nutricionais. Como ponto de partida, o desportista deve tentar beber a um ritmo que permita repor o suficiente as suas perdas através do suor, de forma a que o défice geral de fluidos para uma sessão de treino ou competição não supere 2% do seu peso corporal (isto é, 1,0 Kg para uma pessoa de 50 Kg; 1,5 Kg para uma pessoa de 75 Kg; e 2 Kg para uma pessoa de 100 Kg). Em ambientes quentes, a desidratação e a intensidade do exercício físico interagem para aumentar o risco de diminuição do rendimento físico Necessidades de água e sal para o treino, a competição e a recuperação 22 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rtista s informação médica para desportistas e de doenças pelo calor. Quando as perdas pelo suor forem muito elevadas, nem sempre é eficaz beber o suficiente para manter os défices de fluidos abaixo deste objetivo. Uma alternativa mais viável é, simplesmente, tentar minimizar a desidratação. Em determinadas situações, os atletas hidratam-se em excesso durante o exercício físico, por beberem mais do que perdem em suor. Podem dar-se certas causas que o justifiquem; por exemplo, o caso do desportista que começa um exercício físico ou uma prova já desidratado. Conquanto, se a ingestão de líquidos for excessiva, como resultado pode-se produzir um problema grave denominado Hiponatremia (diluição da concentração de sódio no sangue). Isto costuma ver-se frequentemente em principiantes, que trabalham com intensidades baixas mas bebem grandes quantidades de líquido a pensar que estão proceder corretamente. Em todas as situações, pode ser uma ajuda para um atleta conhecer os seus níveis de suor habituais e o fácil ou difícil que pode ser beber para manter o seu ritmo. O seguinte guia oferece algumas ideias sobre como o comprovar. Quando é necessário algo mais que água? Embora a hidratação seja um tema importante das estratégias de nutrição durante o exercício físico, os líquidos consumidos durante o exercício físico podem conter diversos ingredientes. Em termos de benefícios provados para o rendimento físico, nenhum nutriente pode ser comparado com a água e/ou os hidratos de carbono. Durante um exercício físico com duração de mais de 1 hora e que provoque cansaço, aconselha-se a que os desportistas consumam uma fonte de hidratos de carbono que se transforme rapidamente em glucose no sangue. Isto geralmente melhora o rendimento físico, permitindo ao atleta manter o ritmo, a destreza e a concentra- ção ao contrário de sucumbir à fadiga. Como se expunha na secção anterior: “hidratos de carbono em competição”, os objetivos dos hidratos de carbono durante o exercício físico variam em função da preparação do atleta (de quanta energia dispõe), das necessidades de energia da prova (duração e intensidade da sessão), e da tolerância individual. A utilização de bebidas comerciais para desportistas com um conteúdo em hidratos de carbono de aproximadamente 4%-8% (4 a 8 g/100 ml) permite suprir simultaneamente na maior parte das provas, as necessidades de hidratos de carbono e líquidos. Estes hidratos de carbono podem proceder de açúcares (isto é, sacarose, frutose, glucose), malto dextrinas, ou outros hidratos de carbono de digestão rápida. É melhor que os atletas sejam fiéis a bebidas para desportistas bem conhecidas, com as quais estejam familiarizados, para evitar mal-estar gastrointestinal ou outras consequências. Alguns atletas podem tolerar bebidas mais concentradas, especialmente se as mesmas tiverem combinações de açúcares. Consumir estas bebidas nos treinos desportivos vai permitir uma melhor adaptação do intestino durante a competição. Normalmente, quando se consomem hidratos de carbono durante o exercício físico, a melhor forma de consumi-los é seguindo um modelo de ingestão frequente e continuo. Isto vai proporcionar uma estimulação constante do cérebro e do sistema nervoso central, ou, quando for necessário, uma fonte constante de energia adicional para o músculo. Os líquidos que forem consumidos durante o exercício físico com duração superior a 1 ou 2 horas devem incluir sódio, assim como os ingeridos durante qualquer prova que provoque fortes perdas de sódio (isto é, mais de 3 ou 4 gramas de sódio; (veja a tabela seguinte para fazer uma avaliação). A cafeína contida em bebidas e alimentos de consumo quotidiano pode melhorar a resistência ou 23 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rt is ta s o rendimento físico durante as etapas finais de um exercício prolongado. Este benefício pode ser obtido com doses relativamente pequenas de cafeína (aprox. 2 a 3 mg/Kg de peso corporal ou 100 a 200 mg de cafeína, que equivale a 1 ou 2 chávenas de café ou 750 a 1500 ml de bebida de cola), que normalmente consomem pessoas de diversas culturas. Diversos produtos (géis, bebidas, etc.) também podem proporcionar uma dose convenientemente baixa de cafeína. Reidratação após o exercício físico Repor a água e os sais minerais perdidos pelo suor é uma parte essencial do processo de recuperação. Dado que as perdas através do suor e da urina continuam durante a recuperação, o desportista precisa de beber entre 1,2 e 1,5 litros de líquido por cada Kg de peso perdido durante o treino ou competição para compensar e repor totalmente todas as perdas de líquidos. O sódio é o principal eletrólito perdido no suor, e também deve ser reposto. A reposição de sódio pode ser conseguida mediante líquidos que contenham sódio, como bebidas para desportistas e soluções farmacológicas de reidratação oral. Contudo, um simples alimento ou um snack pode restituir a quantidade de sódio necessária, dado que os alimentos contêm sal naturalmente (ex. Pães, cereais de pequeno almoço, queijo, carnes processadas) ou porque se acrescenta sal ao preparar a refeição. A recuperação após o exercício faz parte da preparação para a sessão seguinte de exercícios, e a reidratação deve ser pensada como uma parte importante da equação. Estratégias especiais Os atletas que estejam desidratados para conseguir peso vão precisar de estratégias especiais para beber antes e durante as competições para otimizar o rendimento físico. Estes atletas beneficiariam perante o aconselhamento de um profissional de nutrição para desportistas qualificado e com experiência. Os atletas que treinem e compitam enquanto praticam jejum durante o mês de Ramadão devem praticar uma estratégia de hidratação que preserve o rendimento físico e proteja a saúde. Como acontece com sapatos novos, não se experimentam novos planos de ingestão de líquidos e fontes de energia durante uma competição importante. Pratiquem com antecedência para encontrar o que é melhor para cada um. in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rtista s informação médica para desportistas Uma desidratação grave reduz o rendimento físico e aumenta o risco de doenças pelo calor, mas beber demasiado também pode ser prejudicial ou incómodo. Cada desportista é diferente, porque cada um tem diferentes formas deperder suor e diferentes oportunidades para beber líquidos durante os exercícios físicos e as provas. Necessita de um plano pessoal de hidratação e tem de representar um papel específico para o seu desempenho. Há que recordar que os humanos não se adaptam à desidratação, mas podem aprender a sofrer menos. Três passos muito simples podem ajudar a orientar as práticas de hidratação. 1.Começar a sessão bem hidratado. Se estiver a urinar com menos frequência do que o normal, pode ser que esteja desidratado. Se a cor da urina é mais escura do que o normal num atleta, então pode ser que não se esteja a beber o suficiente. Deve-se comprovar a cor da urina com o gráfico. Não podemos esquecer que o objetivo NÃO deve ser que a urina seja tão pálida como possível. Beber demais pode ser desconfortável e, se for em excesso, possivelmente prejudicial. O objetivo é desenvolver práticas de ingestão de líquidos ao longo do dia que sigam um ritmo da necessidade habitual de líquidos e das perdas especiais derivadas do exercício ou de ambientes quentes. À medida que as perdas variam, assim devem ser feitas as práticas de ingestão de líquidos. Faz mais sentido distribuir esta ingestão ao longo do dia do que tentar repor, na ingestão de líquidos, no fim. Beber mais que o necessário no fim do dia pode supor interromper várias vezes o sono para idas à casa de banho. 2. Desenvolver um plano de ingestão de líquidos para treino físico e competição adequado para o atleta. Este deve ser baseado em diferentes informações, como as habituais perdas de suor, as oportunidades de beber em cada desporto, e a informação que se acumula sobre o bem-estar e sede. As perdas de suor têm de ser controladas, assim como o êxito de um plano específico de ingestão de líquidos durante sessões de treino em diferentes situações (ver quadro). Como se sente o atleta? Como rende? Qual foi a perda de peso ao longo da sessão? Normalmente não deve superar o 1 ou 2% de massa corporal. Se perder mais, provavelmente não bebeu o suficiente. Deve beber mais para a próxima vez. Se perder menos, pode ter bebido demais. Sentiu-se desconfortável? Aproveitou para descansar enquanto bebia? Beber muito para poder ganhar peso durante a competição provavelmente nunca será uma boa ideia. O único momento em que pode ser necessário fazê-lo é quando começou desidratado no princípio do evento. 3. Se for um “suador de sal”, pode precisar de bebidas com mais sais minerais, concreta- mente, de sódio e, quando as perdas de suor forem elevadas, mais sal nas refeições. Para comprovar se suamos sal, levamos uma camisola preta ao treino e comprovamos se temos anéis de sal (pó branco) por baixo dos braços e no peito. As perdas elevadas de sal podem ser um fator que contribui em certos casos para as cãibras musculares. As bebidas para atletas com maiores níveis de sal (sódio) (ex. 300 até 500 mg de sódio por 500 ml de liquido) podem ajudar a reduzir o risco de cãibras. Formas práticas de avaliar e gerir a hidratação 25 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rt is ta s Como calcular o índice de transpiração e a perda de sal: 1. Medir o peso corporal antes e depois de no mínimo uma hora de exercício físico em condições similares à de competição ou treino intenso. 2. Medir o peso corporal vestindo a mínima roupa e descalço. Após o exercício, secar com uma toalha e obter o mais depressa possível o peso corporal depois do exercício físico (ex. Menos de 10 minutos e antes de comer, beber ou ir à casa de banho). Exemplo: Peso antes do exercício físico = 74,5 Kg Peso depois do exercício físico = 72,8 Kg Défice de fluidos = 1,7 Kg 3. Calcular o peso de qualquer líquido ou alimento que se tenha consumido durante o exercício físico. Exemplo: 800 ml de líquido = 800 g ou 0,8 Kg 4. Perda de suor (litros) = Peso corporal antes do exercício físico (kg) – Peso corporal depois do exercício físico (kg) + peso de líquidos/alimentos consumidos (kg). Exemplo: 74,5 kg – 72,8 Kg = défice de 1,7 Kg + 0,80 kg (800 ml de liquido) = perda de suor de 2,5 Kg ou 2.500 ml Para transformá-lo num índice de transpiração por hora, dividir pelo tempo de exercício físico em minutos e multiplicar por 60. 5. O défice de peso no fim da sessão orienta sobre como se estava hidratado durante a sessão e quanto é necessário reidratar depois. Para transformar Kg em percentagem de massa corporal, deve-se dividir o défice de peso pelo peso corporal ao início e multiplicar por 100: Exemplo: 1,7 Kg/ 74,5 x 100 = 2,3% Nota: 2,2 libras equivalem a 1,0 Kg e um volume de 1,0 litros ou 1.000 litros ou 34 onças de água. 26 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rtista s informação médica para desportistas Amarelo pálido Palha Amarelo dourado Laranja dourado Âmbar pálido Âmbar Âmbar muito dourado Cobre oscuro Laranja escuro Castanho médio Rubi escuro 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Utilizar este gráfico para comprovar a cor da urina. Se a cor for escura, pode ser que precise de beber mais. 27 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rt is ta s As vitaminas e minerais são substâncias químicas que ajudam o organismo a funcionar correta- mente, atuando como cofatores no metabolismo. Determinados minerais e vitaminas também desempenham uma função como antioxidantes, absorvendo os radicais livres do oxigénio que se formam como subproduto do metabolismo. Outros minerais formam tecidos importantes, como o cálcio nos ossos. Em resumo, são essenciais para manter uma saúde e funções ótimas. É frequente que os atletas desejem saber se os seus programas de treino geram necessidades especiais de ingestão adicional de vitaminas e minerais. É provável que este seja o caso para, pelo menos alguns nutrientes, mas numa dieta bem escolhida baseada numa ingestão adequada de energia, poder conter facilmente todo o aumento da procura. Estudos dietéticos demonstram que a maior parte dos desportistas podem obter a ingestão recomendada de vitaminas e minerais mediante alimentos quotidianos, como frutas, verduras, cereais, produtos lácteos e carnes magras. Entre os que correm o risco de não consumir a quantidade ideal destes micronutrientes incluem-se: • Desportistas que, com o objetivo de perder peso, restringem a ingestão de energia, especialmente durante longos períodos. • Desportistas que seguem padrões de alimentação pouco variada e dependem de alimentos com baixa densidade de nutrientes. A melhor forma de corrigir esta situação é procurar aconselhamento de um especialista em nutrição para desportistas, como um dietista especializado em nutrição para atletas. Quando a ingestão de alimentos não se pode melhorar de forma adequada (por exemplo, quando o atleta viaja para um país com uma oferta limitada de alimentos) ou se sofre de uma carência de vitaminas ou minerais em particular, pode estar justificado o consumo de suplementos, sempre com aconselhamento de um especialista qualificado em nutrição para desportistas. Geralmente, a melhor opção quando se segue uma ingestão de alimentos restringida, é um suplemento com uma ampla gama de vitaminas e minerais, embora possa tornar-se necessário o consumo de suplementos de determinados nutrientes para corrigir uma deficiência diagnosticada em nutrientes. Existem vários micronutrientes especiais e outros produtos químicos alimentares que merecem especial menção e que se discutem de seguida. Vitaminas, minerais e fitoquímicos 28 in fo rm a ç ã o m é d ica p a ra d e sp o rtista s informação médica para desportistas Nutrientes antioxidantes Sabemos que os radicais livres de oxigénio produzem-se durante o metabolismo normal e que o nosso organismo desenvolve sistemas antioxidantes de defesa para neutralizar estas substâncias químicas e o dano que possam provocar. Também sabemos que o exercício físico provoca um aumento da produção destes radicais, por isso muitos atletas pensam que os suplementos de antioxidantes podem ajudar a protegê-los perante a magnitude deste prejuízo. Os suplementos de vitaminas C e E popularizaram-se com este fim. Porém, mais recentemente produziram-se mudanças neste pensamento. Parece desnecessário repor grandes doses de vitaminas antioxidantes quando o organismo tem os seus próprios mecanismos para intensificar um sistema antioxidante de defesa mais complexo. Na verdade, os suplementos podem desequilibrar o sistema e provocar mais danos que fazer algum tipo de bem. Podem existir alguns benefícios associados à produção de radicais livres de oxigénio: novas provas demonstram que funcionam como sinais para favorecer importantes adaptações ao treino. É possível que o consumo de suplementos antioxidantes na realidade neutralize parte da sinalização que sustêm a recuperação e adaptação a um exercício físico, o que significa que os suplementos antioxidantes podem reduzir a eficácia de um programa de treino. Os alimentos contêm uma ampla variedade de substâncias químicas que beneficiam a saúde, além de vitaminas e minerais. Estes produtos, normalmente chamados fitoquímicos, favorecem o funcionamento e a saúde do nosso organismo como antioxidantes, agentes anticancerígenos e mediante muitas outras funções. Entre os nomes de algumas destas substâncias químicas incluem-se a quecetina e epigalocatequina-3-galato (ECGC). Novos estudos investigam continuamente se estes produtos, na forma de suplementos, podem ser úteis para a saúde e o rendimento físico. Até à data, estes estudos não conseguiram traduzir os benefícios conhecidos destes produtos para a saúde, num resultado funcional. Por isso, neste momento, a forma mais eficaz de conseguir estas substâncias químicas é ingerindo-as abundantemente nos alimentos. Ideias para variar a dieta e comer alimentos ricos em nutrientes para conseguir uma ingestão abundante de vitaminas, minerais e fitoquímicos: • Experimentar novos alimentos e novas receitas e consumir a maior parte dos alimentos na época. • Experimentar todas as variedades dos diversos alimentos, assim como diferentes tipos de frutas, vegetais e cereais. • Combinar os alimentos nos pratos de forma equilibrada, como em saladas e sopas. • Ponderar antes de eliminar um alimento ou grupo de alimentos do plano de alimentação. • Procurar alimentos de substituição que tenham nutrientes similares quando se exclua um grupo de alimentos da dieta. • Incluir frutas e legumes em cada refeição. As cores intensas e brilhantes de numerosas frutas e legumes são sinal do seu alto conteúdo vitamínico e de fotoquímicos. Tentar encher o prato com um arco-íris de alimentos de várias cores para garantir uma boa ingestão deste tipo de nutrientes que favorecem à saúde. 29 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rt is ta s Vitamina D A vitamina D está classificada como uma vitamina lipossolúvel que atua como uma hormona. Desempenha funções importantes no organismo, incluindo a manutenção de uma boa saúde óssea, a função muscular e a imunidade. A vitamina D encontra-se em alguns alimentos, mas a nossa fonte principal procede da exposição à luz solar. Existem provas que muitas pessoas apresentam um estado de carência ou inferior ao ótimo de vitamina D. A deficiência de vitamina D pode trazer vários problemas de saúde, incluindo um maior risco de lesões ósseas, dor crónica músculo-esquelético e infeções virais do trato respiratório. Resolver o estado de carência de vitamina D nos atletas produz efeitos benéficos sobre a saúde e rendimento desportivo. Entre os desportistas com risco de deficiência de vitamina D encontram-se aqueles que apresentam as seguintes características: • Treinam em interiores • Têm a pele escura • Vivem longe do Equador • Vestem roupas que cobrem a maior parte do corpo • Utilizam regularmente proteções solares ou conscientemente evitam o Sol O estado de vitamina D dos atletas deve ser avaliado e, se os níveis forem inferiores aos ideais, deve começar-se, sob supervisão médica, um tratamento com um suplemento de vitamina D e talvez uma exposição controlada à luz solar. Ferro O ferro desempenha um importante papel no transporte de oxigénio no sangue (como a hemoglobina) e no músculo (como a mioglobina), e o seu défice pode, obviamente, reduzir o rendimento físico e a recuperação. Existem algumas provas onde os requerimentos de ferro num desportista podem ser mais elevados por um maior nível de perda devido à sua carga de treino. Porém, na maior parte dos atletas com deficiência de ferro ou anemia, a causa deve-se a uma deficiente ingestão de ferro. Os atletas que apresentam maior risco com este problema são os que limitam a ingestão de energia e a variedade de alimentos. Dado que as carnes, incluindo as aves, e os peixes, são uma importante fonte de ferro de boa absorção, os vegetarianos devem planificar cuidadosamente as suas refeições para procurarem fontes de ferro alternativas. As mulheres também apresentam um risco pela sua maior necessidade de ferro, que se deve às perdas de sangue menstruais e a uma ingestão menor de alimentos. Comer alimentos ricos em ferro vai ajudar a reduzir este risco. Os atletas com deficiência de ferro devem ser controlados periodicamente assim como os que forem realizar um treino em altitude, também devem controlar os seus níveis de ferro para garantir que têm reservas suficientes de ferro que lhes permitam as adaptações às suas necessidades de treino especializado. Não se recomenda o consumo habitual de suplementos de ferro: excesso de ferro pode ser tão prejudicial como falta de ferro. A automedicação com suplementos de ferro pode esconder a causa real do cansaço ou não resolver a origem do baixo nível de ferro. 30 in fo rm a ç ã o m é d ic a p a ra d e sp o rtista s informação médica para desportistas Estratégia de alimentação rica em ferro • Consumir porções moderadas de carnes vermelhas (ferro de alta absorção) entre 3 a 5 refeições por semana. • Escolher produtos de cereais fortificados com ferro, como cereais de pequeno- almoço. • Combinar fontes de ferro vegetais e não cárnicos (ex. Legumes, cereais, ovos, verduras de folha verde) com fatores alimentares que melhorem a absorção de ferro. Entre estes inclui-se a vitamina C e um fator de melhoria da absorção de ferro que se encontra na carne/peixe/ frango. Entre os exemplos de uma combinação inteligente podemos dizer: fruta ou sumo de frutas com cereais de pequeno-almoço, ou chilli com carne (carne e feijões). Cálcio O cálcio é importante para uns ossos saudáveis, especialmente nos adolescentes e em mulheres atletas, por isso é importante garantir uma ingestão adequada de cálcio. As melhores fontes de cálcio são os produtos lácteos, incluídas as variedades meio gordo ou magro. Estratégia de alimentação rica em cálcio • Cada atleta deveria propor como objetivo incluir 3 doses destes alimentos nos seus planos de alimentação diária: - Copo de leite - Pedaço de queijo - Copo de iogurte • Durante os períodos de crescimento na infância e na adolescência e, durante a gravidez e o aleitamento, são necessárias doses diárias
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