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Aula Direito Penal 1

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DA GRANDE DOURADOS 
UNIDADE: FACULDADE DE DIREITO 
CURSO DE DIREITO 
 
 
DISCIPLINA: DIREITO PENAL I 
ANO: 2017/1 
PROFESSOR (A): JOE GRAEFF FILHO 
 
AULA 01 
 
1. SÍNTESE HISTÓRICA DO DIREITO PENAL 
 
1.1.O DIREITO PENAL DOS POVOS PRIMITIVOS 
 
Pode-se afirmar, com segurança, que a história da pena e, consequentemente, do 
Direito Penal, embora não sistematizado, se confunde com a história da própria humanidade. De 
fato, o ponto de partida da história da pena coincide com o ponto de partida da história da 
humanidade. Em todos os tempos, em todas as raças, vislumbra-se a pena como uma ingerência 
na esfera do poder e da vontade do indivíduo que ofendeu e porque ofendeu as esferas de poder 
e da vontade de outrem. 
É correto, pois, reconhecer a existência da pena como um fato histórico primitivo, 
bem como considerar o Direito Penal a primeira e mais antiga camada da história da evolução do 
Direito. Além disso, as diversas fases da evolução da vingança penal deixam evidente que não 
se trata de uma progressão sistemática, com princípios, períodos e épocas capazes de distinguir 
cada um de seus estágios, mas algo que foi se desenvolvendo para atender as necessidades de seu 
tempo. 
Por tal razão, pode ser adotada uma tríplice divisão, representada pelas seguintes 
fases: (1) vingança divina; (2) vingança privada; e (3) vingança pública. Todas essas etapas foram 
marcadas por forte sentimento religioso e espiritual. Vale ressaltar ser essa divisão meramente 
didática, haja vista uma fase se interligar e conviver com outra durante os tempos primitivos. 
 
(1) Vingança divina 
O homem primitivo não regulava sua conduta pelos princípios da causalidade e da 
consciência em torno de sua essência e circunstância, mas sim no temor religioso ou mágico. 
Pelo fato de que para esses povos a lei tinha origem divina e, como tal, sua violação consistia 
numa ofensa aos deuses, punia-se o infrator para desagravar a divindade, bem como para purgar 
o seu grupo das impurezas trazidas pelo crime. 
Uma das reações contra o criminoso era a expulsão do grupo (desterro), medida que 
se destinava a evitar que a classe social fosse contagiada pela mácula que impregnava o agente, 
bem como as reações vingativas dos seres sobrenaturais a que o grupo estava submetido. 
Destarte, o castigo consistia no sacrifício de sua vida. Destacava-se a pena de perda da paz: como 
 
 
a paz está sob a proteção dos deuses, a vingança tem o seu fundamento no preceito divino. Uma 
vez perdida a paz, o delinquente perdia a proteção do clã, ficando exposto à sua própria sorte. 
 
(2) Vingança privada 
Surge, posteriormente à vingança divina, a fase da vingança privada, em decorrência 
principalmente do crescimento dos povos e da complexidade social daí resultante. Era uma 
vingança entre os grupos, eis que encaravam a infração como uma ofensa não relacionada 
diretamente à vítima, mas, sobretudo, ao grupo a que pertencia. 
O homem primitivo tinha forte laço com sua comunidade, uma vez que, fora dela, 
sentia-se desprotegido. Fica nítida a inter-relação entre a vingança divina e a privada. 
Desse modo, imperava a lei do mais forte, a vingança de sangue, em que o próprio 
ofendido ou outra pessoa do seu grupo exercia o direito de voltar-se contra o agressor, fazendo 
“justiça pelas próprias mãos”, cometendo, na maioria dos casos, excessos e demasias, o que 
culminava com a disseminação do ódio e consequentes guerras entre grupos. 
Para demonstrar a intensa ligação do homem primitivo com sua comunidade, “se uma 
pessoa de determinado grupo era atingida por um grupo estrangeiro, a vingança era coletiva e 
incidia sobre todo o grupo agressor”. 
Portanto, inexistia qualquer proporção entre o delito praticado e a pena imposta, e, 
nesse sentido, envolvia desde o indivíduo isoladamente considerado até o seu grupo social, com 
sangrentas batalhas, causando, muitas vezes, a completa eliminação das tribos. 
Com o propósito de evitar a dizimação dos grupos, surge a Lei do Talião, do latim 
talis = tal qual: “Pagará a vida com a vida; mão com mão, pé por pé, olho por olho, queimadura 
por queimadura” (Êxodo, XXI, versículos 23 a 25). 
Por mais impressionante que essa afirmação possa se revelar, cuida-se da pioneira 
manifestação do princípio da proporcionalidade, por representar tratamento igualitário entre 
autor e vítima. Foi a primeira tentativa de humanização da sanção penal, apesar de nos dias atuais 
revelar-se como brutal e cruel, e restou acolhida pelo Código de Hamurabi (Babilônia), pelo 
Êxodo (hebreus) e na Lei das XII Tábuas (romanos). 
Com o passar do tempo, diante do elevado número de infratores, as populações 
ficavam deformadas, motivo pelo qual se evoluiu para o sistema da composição, forma de 
conciliação entre o ofensor e o ofendido ou seus familiares, pela prestação pecuniária como forma 
de reparar o dano (dinheiro da paz). O ofensor comprava sua liberdade, evitando o castigo. 
A composição – largamente aceita em sua época – constitui um dos antecedentes da 
moderna reparação do dano do Direito Civil e das penas pecuniárias. 
 
(3) Vingança pública 
Com a evolução política da sociedade e melhor organização comunitária, o Estado 
avocou o poder-dever de manter a ordem e a segurança social, conferindo a seus agentes a 
autoridade para punir em nome de seus súditos. A pena assume nítido caráter público. 
 
 
A finalidade dessa fase era garantir a segurança do soberano, por meio da aplicação da sanção 
penal, ainda dominada pela crueldade e desumanidade, característica do direito penal então 
vigente. 
 
1.2. IDADE ANTIGA: DIREITO PENAL GREGO E DIREITO PENAL ROMANO 
 
1.2.1. Direito Penal grego 
 
Na Grécia Antiga, em seus primórdios, o crime e a pena se inspiravam no sentimento 
religioso. Governava-se em nome de Zeus. 
A civilização grega produziu grandes pensadores, que iniciaram o estudo da ciência 
política. Com a Ciência Política iniciaram-se as grandes discussões sobre política, ética, liberdade 
e justiça, bem como noções e fundamento do direito de punir e da finalidade da pena, 
influenciando profundamente a Ciência do Direito. 
Em que pesem os estudos democráticos e filosóficos então reinantes, os gregos pouco 
se preocuparam com os direitos fundamentais. De fato, todas as questões da vida, seja no campo 
social ou político, giravam em torno da cidade (polis). O homem não era concebido em sua 
individualidade. A própria noção de democracia estava ligada à integração do homem ao Estado 
e, por essa razão, a escravidão era plenamente justificada. 
 
1.2.2. Direito Penal romano 
 
A história do Direito Romano divide-se em várias etapas, as quais percorreram 22 
séculos (de 753 a.C. a 1453 d.C.), passando por grandes transformações. 
Em matéria penal, o poder dos magistrados, intitulado coercitio, era totalmente 
discricionário e limitado apenas pela apelação ao povo (provocatio ad populum), direito 
exclusivo do cidadão romano. Portanto, dele não se podiam valer as mulheres, os escravos e os 
estrangeiros. 
Por força da possibilidade de apelação ao povo, mesmo não existindo o princípio da 
reserva legal, as decisões passaram a se revestir de fundamentação, proporcionando maior 
segurança jurídica aos cidadãos romanos. 
A elaboração da Lei das XII Tábuas foi fundamental para a evolução do Direito 
Romano, já que disciplinou a utilização da vingança privada. Com o passar do tempo a 
administração da justiça foi transferida do particular para um poder estatal central. 
Em toda a sua existência, o Império Romano teve como prioridade a busca pelo poder 
e pela prosperidade. Por tal motivo, não se ateve à proteção dos direitos fundamentais em face 
do arbítrio estatal. O que se garantia eram os direitos das classes privilegiadas, como os 
imperadores e patrícios. 
Somente com o Cristianismo houve maiorpercepção da importância pelo respeito 
aos direitos fundamentais do homem, que passou a ser concebido como imagem e semelhança 
de Deus. 
 
 
Ao final da República foram publicadas as leges corneliae e juliae, as quais criaram 
uma verdadeira tipologia de crimes para a época, catalogando os comportamentos criminosos. 
Foi a primeira manifestação, ainda que tímida, do princípio da reserva legal. 
Os romanos também conheceram alguns institutos importantes: nexo causal, dolo e 
culpa, caso fortuito, inimputabilidade, menoridade, concurso de pessoas, legítima defesa, penas 
e sua dosagem. Não procuraram defini-los. Ao contrário, os utilizavam casuisticamente, sem o 
apego à criação de uma teoria geral do Direito Penal. 
 
1.3. IDADE MÉDIA 
 
O Direito Penal da Idade Média compreende, principalmente, o Direito Penal 
germânico e o Direito Penal canônico. 
 
1.3.1. Direito Penal germânico 
 
Não tinha leis escritas. Caracterizava-se como direito consuetudinário, concebido 
como uma ordem de paz. Sua transgressão poderia assumir caráter público ou privado: se público, 
impunha-se a perda da paz, consistente na ausência de proteção jurídica, podendo o agressor ser 
perseguido e morto por qualquer pessoa; se privado o crime, o infrator era entregue à vítima ou 
a seus familiares para que exercessem o direito de vingança. Havia penas de morte, corporais 
(mutilação), exílio etc. 
Mais tarde, por influência do Direito Romano e do Cristianismo, foram adotadas a 
Lei do Talião e a composição, demonstrando traços de proporcionalidade no Direito Penal 
germânico. 
Em decorrência da instituição de um poder público, representante da vontade do 
povo, a pena de morte passou a poder ser substituída por um preço da paz (semelhante a uma 
fiança), em que o violador da lei pagava uma pecúnia em troca de sua liberdade. 
Era o sistema da composição pecuniária (Vehgeld), que muito bem substituía a 
vingança privada, no qual predominava a responsabilidade penal objetiva. 
Em relação às provas, acolhiam-se as ordálias ou juízos de deus, caracterizadas por 
superstições e atos cruéis, sem chances de defesa para os réus, que deveriam, por exemplo, 
caminhar sobre o fogo ou mergulhar em água fervente, sem suportar ferimentos, para que fosse 
provada a sua inocência, razão pela qual quase nunca se livravam das bárbaras punições. 
 
1.3.2. Direito Penal canônico 
 
É o ordenamento jurídico da Igreja Católica Apostólica Romana, e a primeira 
consolidação de suas normas e regras se deu por volta do ano de 1140, por decreto de Graciano. 
Inicialmente, teve caráter meramente disciplinar, destinando-se apenas aos seus membros. Aos 
poucos, com a crescente influência da Igreja e enfraquecimento do Estado, estendeu-se a 
 
 
religiosos e leigos, desde que os fatos tivessem conotação religiosa. Serviu-se do procedimento 
de inquisição: início de ofício, utilização de tortura e penas cruéis. 
Nada obstante predominasse à época o caráter retributivo da pena, no Direito Penal 
canônico a pena se dirigia à cura do delinquente, à sua recuperação, pois se destinavam ao seu 
arrependimento perante a divindade (poenas medicinales). 
Diferentemente dos germanos, aqui preponderava o elemento subjetivo para a 
incriminação de alguém. 
Contribuiu consideravelmente para o surgimento da prisão moderna, principalmente 
no tocante à reforma do criminoso. Do vocábulo “penitência” derivam os termos “penitenciária” 
e “penitenciário”. O cárcere, como instrumento espiritual de castigo, foi desenvolvido pelo 
Direito Canônico, uma vez que, pelo sofrimento e pela solidão, a alma do homem se depura e 
purga o pecado. A penitência visava aproximar o criminoso de Deus. 
Com a doutrina da Igreja, a prática das ordálias ou juízos de Deus, comum ao povo 
germânico, decaiu significativamente. 
Ainda na Idade Média havia o Direito comum, produto da reunião do Direito 
Romano, do Direito germânico e do Direito Canônico com os direitos locais. 
Importante ressaltar que essa época foi palco de grandes injustiças e horrores, 
caracterizada pela arbitrariedade do Judiciário, o qual criava e extinguia definições de crimes ao 
seu bel-prazer, de acordo com seus interesses, bem como pela crueldade na execução das penas 
que, aliás, eram diferentes para nobres e plebeus, muito mais brutais para os últimos. 
Podem ser apontadas como penas desse tempo: forca, fogueira, arrancamento das 
vísceras, enterramento com vida, afogamento, esquartejamento, mutilações (pés, mãos, lábios, 
orelhas e castração), entre outras de semelhante natureza. 
Os condenados eram julgados mediante o arbítrio do Estado, intimamente vinculado 
com a ordem cristã, sem a possibilidade de defesa ou de um devido processo legal. Torturava-se 
para a obtenção de confissões e da verdade, mormente em relação às “feiticeiras” (mulheres que 
detinham conhecimentos medicinais). 
 
1.4. IDADE MODERNA 
 
Sob o influxo do iluminismo, destaca-se a clássica obra Dos delitos e das penas, de 
Cesare Bonesana, Marquês de Beccaria. 
O Absolutismo impunha atos de punição crudelíssimos e arbitrários, por meio de 
graves suplícios. A sociedade não mais suportava tal forma de agir do Estado e a filosofia 
iluminista do século XVIII orientava a evolução da humanidade. Preparava-se o espírito dos 
indivíduos para a eclosão da Revolução Francesa. 
De forma impressionante para a época, Cesare Bonesana, Marquês de Beccaria, 
antecipa as ideias posteriormente consagradas na Declaração Universal dos Direitos do Homem 
e do Cidadão, de 1789, pugnando de maneira universal pela abolição da pena de morte. 
Publica, em Milão, no ano de 1764, a famosa obra Dei delitti e delle pene, que abre caminho ao 
movimento da Escola Clássica. 
 
 
Baseia seu pensamento no contrato social de Rousseau, de forma que o criminoso 
passa a ser reputado como violador do pacto social, sendo então considerado adversário da 
sociedade. A pena perdia seu caráter religioso, predominando a razão sobre questões espirituais. 
Surge a questão do livre-arbítrio, ou seja, o homem pratica um crime consciente de 
sua conduta antissocial. Como consequência do controle do indivíduo sobre os seus atos, decorre 
que a pena deve ser sempre legalmente prevista, para que todos saibam diferenciar o vedado do 
permitido e escolher o caminho a trilhar, devendo ainda a sanção penal guardar 
proporcionalidade com o crime praticado, na medida exata da retribuição necessária. 
No pensamento de Beccaria, a pena deveria ser imposta somente para que o 
condenado não voltasse a cometer crimes, servindo de exemplo à sociedade. 
Inicialmente, as leis devem ser certas, claras e precisas, uma vez que a incerteza das 
normas faz crescer a inatividade e a estupidez. Com efeito, o legislador sábio busca impedir o 
mal antes de repará-lo com a elaboração de leis, já que um cidadão de alma sensível constata 
que, protegido por boas leis, de simples compreensão, perde a iníqua liberdade de praticar o mal, 
e os crimes são prevenidos compensando-se a virtude. 
Se não bastasse, uma autoridade severa produz obediência hipócrita e passageira, e 
apenas com o aperfeiçoamento da educação estar-se-iam criando homens menos propensos ao 
cometimento do mal. Somente poderia o magistrado aplicar penas previstas em lei. É o princípio 
da legalidade. 
Finalmente, para que cada pena não seja uma violência de um ou de muitos contra 
um cidadão privado, deve ser essencialmente pública, rápida, necessária, a mínima possível nas 
circunstâncias dadas, proporcional aos delitos e ditadas pelas leis. 
 
2. A HISTÓRIA DO DIREITO PENAL BRASILEIRO 
 
2.1. Período Colonial 
 
Antes do descobrimento do Brasil, enquanto dominava a civilização primitiva, 
adotava-se a vingança privada, sem uniformidade nas reações penais. Não havia uma autêntica 
organização jurídico-social, mas apenas regras consuetudinárias (tabus),comuns ao mínimo 
convívio social, transmitidas verbalmente e quase sempre dominadas pelo misticismo. 
A partir de 1500, com o descobrimento do Brasil, passou a vigorar o Direito lusitano, aplicando-
se sucessivamente: 
1) Ordenações Afonsinas: Promulgadas em 1446, por D. Afonso V, vigoraram até 1514, e 
apresentavam conteúdos do Direito Romano de Justiniano e do Direito Canônico. 
Tinham como traços marcantes a crueldade das penas, a inexistência de princípios sagrados como 
o da legalidade e o da ampla defesa, predominando a arbitrariedade dos juízes quando da fixação 
da pena. A prisão tinha caráter preventivo. Mantinha-se o delinquente preso para evitar sua fuga 
até ser julgado, ou para obrigá-lo ao pagamento da pena pecuniária. 
 
 
2) Ordenações Manuelinas: Editadas em 1514, por Dom Manuel, o Venturoso. Pouco se 
diferenciavam das Ordenações Afonsinas, em que as penas também eram crudelíssimas. 
Correspondiam ainda à fase da vingança pública. 
3) Ordenações Filipinas: Datadas de 1603, em razão de medida do Rei Filipe II, subsistiram até 
o ano de 1830. Mantiveram as características das Ordenações anteriores (penas cruéis e 
desproporcionais, arbitrariedade dos julgadores, inexistência do princípio da legalidade e da 
defesa etc.). 
A matéria penal era regulamentada pelo Livro V, e foi sob a égide desse ordenamento que 
Tiradentes foi executado, estendendo as consequências penais de seu comportamento também 
aos seus descendentes. Não se respeitava o princípio da personalidade da pena, ficando ao arbítrio 
do julgador a escolha da sanção penal a ser aplicada, bem como sequer tinha o delinquente direito 
de defesa, e predominava a desigualdade de classes em relação ao tratamento punitivo (fidalgos, 
cavaleiros, escravos etc.). 
 
2.2. Código Criminal do Império 
 
O art. 179, XVIII, da Constituição de 1824 determinou a urgente e necessária 
elaboração de um Código Criminal, “fundado nas solidas bases da justiça, e equidade”. 
Em 1827, Bernardo Pereira de Vasconcellos apresentou o seu projeto, o qual foi sancionado em 
1830 pelo imperador Dom Pedro I, destacando-se como o primeiro código autônomo da América 
Latina. 
Com a elaboração desses dois ordenamentos, Constituição e Código Criminal do 
Império, o Direito Penal deu nítidos sinais de evolução em prol da humanização. Apesar disso, 
eram permitidas as penas de morte na forca, de galés, de trabalhos forçados, de banimento, 
degredo e desterro. 
Entre as grandes inovações, consagrou-se no art. 55 do Código Criminal do Império 
o sistema do dia-multa. Nada obstante as características positivas, não foi definida a figura da 
culpa e imperava a desigualdade, principalmente em relação aos escravos, que, aliás, eram 
equiparados a animais, e, portanto, considerados como bens semoventes. 
 
2.3. Período Republicano 
 
Com o advento da República, João Baptista Pereira foi encarregado de elaborar um 
projeto de Código Penal, que restou aprovado e publicado em 1890, antes, portanto, da 
Constituição de 1891. 
Esse Código, criado às pressas, desapontou pelas suas inúmeras falhas. Durante o 
Estado Novo, em 1937, Alcântara Machado apresentou um projeto de Código Penal brasileiro, o 
qual foi sancionado em 1940, passando a vigorar desde 1942 até os dias atuais, alterado por 
diversas leis contemporâneas, tais como a Lei 6.414/1977, atualizando as sanções penais, e a Lei 
7.209/1984 – Reforma da Parte Geral do Código Penal.A reforma da Parte Geral humanizou as 
sanções penais e adotou penas alternativas à prisão, além de reintroduzir o sistema de dias-multa. 
 
 
 
3. CONCEITO DE DIREITO PENAL 
 
É o conjunto de normas jurídicas voltado à fixação dos limites do poder punitivo do 
Estado, instituindo infrações penais e as sanções correspondentes, bem como regras atinentes à 
sua aplicação. 
 
4. DIREITO PENAL OBJETIVO E DIREITO PENAL SUBJETIVO 
 
O direito penal objetivo é o corpo de normas jurídicas destinado ao combate à 
criminalidade, garantindo a defesa da sociedade. Por outro lado, embora alguns autores 
denominem direito penal subjetivo como o direito de punir do Estado, que surge após o 
cometimento da infração penal, parece-nos correta a visão de Aníbal Bruno ao sustentar que 
inexiste, propriamente, um direito penal subjetivo, pois “o que se manifesta no exercício da 
Justiça penal é esse poder soberano do Estado, um poder jurídico que se faz efetivo pela lei penal, 
para que o Estado cumpra a sua função originária, que é assegurar as condições de existência e 
continuidade da organização social. Reduzi-lo a um direito subjetivo falsifica a natureza real 
dessa função e diminui a sua força e eficácia, porque resolve o episódio do crime apenas em um 
conflito entre direitos do indivíduo e direitos do Estado”. 
 
5. POLÍTICA CRIMINAL 
 
Variando do conceito de ciência, para uns, a apenas uma técnica ou um método de 
observação e análise crítica do Direito Penal, para outros, parece-nos que política criminal é uma 
maneira de raciocinar e estudar o Direito Penal, fazendo-o de modo crítico, voltado ao direito 
posto, expondo seus defeitos, sugerindo reformas e aperfeiçoamentos, bem como com vistas à 
criação de novos institutos jurídicos que possam satisfazer as finalidades primordiais de controle 
social desse ramo do ordenamento. 
A política criminal se dá tanto antes da criação da norma penal como também por 
ocasião de sua aplicação. Ensina Heleno Fragoso que o nome de política criminal foi dado a 
importante movimento doutrinário, devido a Franz von Liszt, que teve influência como 
“tendência técnica, em face da luta de escolas penais, que havia no princípio deste século 
[referindo-se ao Século XX] na Itália e na Alemanha. Essa corrente doutrinária apresentava 
soluções legislativas que acolhiam as exigências de mais eficiente repressão à criminalidade, 
mantendo as linhas básicas do Direito Penal clássico”. E continua o autor, afirmando que o termo 
passou a ser utilizado pela ONU para denominar o “critério orientador da legislação, bem como 
os projetos e programas tendentes a mais ampla prevenção do crime e controle da criminalidade” 
(Lições de direito penal, parte geral, p. 18). 
 
 
 
 
 
6. BEM JURÍDICO 
 
O termo bem indica, sempre, algo positivo, como um favor, uma benesse, um 
proveito ou uma ventura. Por outro lado, num prisma material, aponta para algo apto a satisfazer 
as necessidades humanas, integrando seu patrimônio. Quando se fala em bem comum, denota-se 
o nível das condições favoráveis ao êxito coletivo. Em suma, o bem se apresenta vinculado aos 
mais preciosos interesses humanos, seja do ponto de vista material, seja do prisma incorpóreo 
(moral ou ético). 
Há bens tutelados pelo Direito, eleitos pelo ordenamento jurídico como 
indispensáveis à vida em sociedade, merecendo proteção e cuidado. A partir dessa escolha, o 
bem se transforma em bem jurídico. Dos mais simples aos mais complexos; dos inerentes à 
natureza humana às criações alternativas da vida moderna; dos ligados à dignidade humana aos 
vinculados a puros interesses materialistas; todos os bens jurídicos gozam do amparo do Direito. 
Os mais relevantes e preciosos atingem a tutela do Direito Penal, sob a ótica da intervenção 
mínima. 
Por isso, quando o bem jurídico penal é destacado como tal, surgem tipos penais 
incriminadores para protegê-los, indicando as condutas proibidas, sob pena de lesão ao referido 
bem jurídico tutelado. 
A Constituição Federal indica vários bens jurídicos, vários dos quais o Direito Penal 
chamou a si para a conveniente proteção e amparo. Ilustrando, veem-se os seguintes bens 
jurídicos fundamentais: vida, liberdade, igualdade, segurança, propriedade, intimidade, vida 
privada, honra, trabalho, dentre outros. 
Quando o ordenamento jurídico opta pela tutela de um determinado bem, não 
necessariamente a proteção deve dar-se no âmbito penal. A este,segundo o princípio da 
intervenção mínima, são reservados os mais relevantes bens jurídicos, focando-se as mais 
arriscadas condutas, que possam, efetivamente, gerar dano ou perda ao bem tutelado. 
Portanto, para a correta análise dos elementos do crime e, também, para inspirar a 
aplicação da pena, é fundamental o conhecimento do bem jurídico em questão, no caso concreto, 
avaliando se houve efetiva lesão ou se, na essência, encontra-se ele preservado, sem necessidade 
de se movimentar a máquina estatal punitiva para tanto. Exemplo disso é o emprego do princípio 
da insignificância (crime de bagatela), quando se percebe que, em face do bem jurídico 
patrimônio, a conduta do agente, ainda que se configure em subtração de coisa alheia móvel, é 
inócua para ferir, na substância, o bem jurídico protegido. 
A boa lida do bem jurídico, captando-o em todos os tipos penais incriminadores, 
analisando-o e conferindo-lhe o merecido alcance e abrangência, favorece – e muito – a atividade 
do operador do Direito, permitindo-lhe construir a justa aplicação do Direito Penal compatível 
com o Estado Democrático de Direito. 
 
BIBLIOGRAFIA 
MASSON, Cleber. Direito penal esquematizado – Parte geral – vol. 1. 8. ed. rev., atual. Rio 
de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2014. 
 
 
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal. 10. ed. rev., atual. e ampl. Rio de 
Janeiro: Forense, 2014. 
 
ATIVIDADE (0,5) Diante da evolução do direito penal, e do brilhantismo de diversos 
pensadores que marcaram as mais variadas épocas da história, descreva qual foi a contribuição 
vertida por Cesare Beccaria na seara penal. 
Obs.: Não será aceita cópia literal do material de aula ou textos não referenciados. (Mínimo de 
15 linhas)

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