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Empreendedorismo 1ª edição 2017 Empreendedorismo 3 Palavras do professor Caro aluno! Cara aluna! Bem-vindo à disciplina de Empreendedorismo! A proposta principal deste estudo é contextualizar o tema de maneira que você tenha condições de compreender do que se trata e de que modo utilizará o empreendedo- rismo em sua prática e escolha profissional. Abordaremos as perspectivas de conteúdos desde o empreendedorismo voltado aos negócios com fins lucrativos, que tem por objetivo principal o lucro destinado aos seus sócios, até outra modalidade de empreendedo- rismo, que é aquele voltado para a área social: os negócios sociais. Estes, por sua vez, também apresentam finalidades lucrativas, porém, têm como pano de fundo a necessidade de resolver um problema social. Separamos algumas histórias inspiradoras e também conteúdos sobre o perfil empreendedor e intraempreendedor e, nas últimas unidades, conversaremos sobre a aplicação de ferramentas para a modelagem de negócios, bem como sobre as inovadoras técnicas de financiamento com as aceleradoras e incubadoras de empresas e a criação de novas empre- sas em um novo formato: as startups. Em suma, ao final desta disciplina, você conseguirá compreender os diferentes contextos nos quais se insere a geração de negócios e de que modo você poderá definir sua futura carreira profissional. Essa definição certamente envolverá a escolha por seguir uma carreira dentro de uma empresa ou organização da sociedade civil ou abrir seu próprio negócio, tanto na área econômica tradicional quanto na área dos negócios sociais. Bons estudos! 1 4 Unidade de Estudo 1 Os diversos âmbitos do empreendedorismo Para iniciar seus estudos Olá! Nesta unidade, você conseguirá compreender os diferentes con- textos nos quais se insere o empreendedorismo. A geração de negócios ocorre tanto na área econômica tradicional, na qual se encontra a maioria das empresas, quanto na área dos negócios sociais, que são aqueles vol- tados à transformação social. Vamos lá? Objetivos de Aprendizagem • Contextualizar o empreendedorismo e as diversas maneiras de empreender, tanto no âmbito dos negócios quanto na perspec- tiva da transformação social. 5 Empreendedorismo | Unidade de Estudo 1 – Os diversos âmbitos do empreendedorismo 1.1 Contextualizando o tema do empreendedorismo Quando um empreendimento é inaugurado, podemos dizer que ele cumpriu um ciclo, composto por várias eta- pas de um processo. Sim, são várias etapas a serem cumpridas para que as iniciativas empreendedoras comecem a cumprir suas finalidades. E, mesmo antes dessas etapas, por menor que seja a iniciativa empreendedora, certa- mente ela necessitou de um plano para existir. Esse plano bem elaborado será capaz de responder se a ideia realmente possui possibilidades e perspectivas ou se ainda são necessários esforços para amadurecer uma ou outra etapa do futuro empreendimento. A constru- ção de um planejamento empreendedor torna-se um desafio, exigindo persistência, comprometimento, criati- vidade, pesquisa e dedicação. Também representa uma etapa essencial para que as chances de sucesso aumen- tem. No processo criativo, que envolve desde a fase de ideação de uma nova empresa ou negócio até a implementa- ção dessa ideia, Drucker (2003, p. 25) destaca que alguns modos de pensar são fundamentais. Entre eles, é citado o modo de pensar inovativo, pois a inovação “[...] é o instrumento específico dos empreendedores, o meio pelo qual eles exploram a mudança como uma oportunidade para um negócio diferente ou um serviço diferente”. Sendo assim, o processo de inovação é uma oportunidade de identificar e explorar novos negócios e também de reinventar negócios que estão funcionando. Dessa forma, Drucker apresenta a inovação como uma disciplina de diagnóstico: um exame sistemático das áreas de mudança que tipicamente oferecem oportunidades ao empreendedor e que são inspiradas pela inovação econômica e social, a partir da busca por mudanças e solução de problemas. Utiliza-se o monitoramento de sete fontes para uma oportunidade inovadora. Tais fontes podem servir de guia para você identificar oportunidades de inovação em sua empresa e em seu ambiente de trabalho. Segundo Drucker (2003), as primeiras quatro fontes são aquelas que estão dentro da empresa ou do negócio. Normalmente são confiáveis e exige-se pequenos esforços para capturá-las: • O inesperado: o sucesso, o fracasso e o evento externo; • A incongruência: entre a realidade como ela é de fato e a realidade como se presume ser ou como deveria ser; • A inovação baseada na necessidade do processo; • Mudanças na estrutura do setor em que o negócio está inserido ou na estrutura do mercado, que muitas vezes pegam todos desprevenidos. Em seguida, Drucker (2003) apresenta as outras três fontes para oportunidades inovadoras, que implicam em mudanças fora da empresa ou do negócio em si: • Mudanças demográficas; • Mudanças de percepção, disposição e significado; • Conhecimento novo, tanto científico quanto não científico. 6 Empreendedorismo | Unidade de Estudo 1 – Os diversos âmbitos do empreendedorismo Sendo assim, o empreendedor precisa ter sempre em mente o que pode ser explorado no mercado. É quase como que algumas perguntas perseguissem o empreendedor. Figura 1: Questões que acompanham o empreendedor Legenda: Perguntas para o empreendedor. Fonte: Elaborada pela autora (2016). Cabe destacar que algumas soluções ainda não são possíveis, pois dependem de tecnologia ainda não disponível ou porque não encontramos as soluções técnicas para resolvê-las. Nesses casos, o conhecimento pessoal do empreendedor pode agregar valor para tornar possível a produção de algum produto ou a prestação de algum tipo de serviço. Um exemplo simples: a Gillette inventou a lâmina de barbear, mas, na época em que isso ocorreu, não existiam máquinas para fazer uma lâmina de aço fina, com a espessura que estavam idealizando. Então, foi necessário esperar o desenvolvimento das máquinas que fossem capazes de atender à proposta e, dessa forma, tornar a ideia viável. Algo interessante no perfil do empreendedor é que esse conhecimento não vem só de um lugar ou de uma ciência única, mas, sim, de um conjunto multidisciplinar de saberes, envolvendo várias experiências vividas pelo empreendedor. Além disso, quando se busca a solução para um problema, geralmente na etapa de exploração da ideia, em muitos casos recomenda-se a utilização de assessorias com especialistas – na agricultura, por exem- plo, os adubos são resultado de pesquisas de várias áreas, como botânica, química, agronomia, engenharia de alimentos, física etc. Multidisciplinar: várias disciplinas dentro de uma mesma área do conhecimento. Glossário 7 Empreendedorismo | Unidade de Estudo 1 – Os diversos âmbitos do empreendedorismo Para que possamos avançar e compreender melhor o contexto em que se insere um empreendedor, no próximo item, abordaremos os 5 “Ps” do Empreendedorismo. As características apresentadas em cada “P” podem ser natas, ou seja, nascem com o empreendedor e aprimoram-se com as experiências da vida; em outros casos, algumas dessas características podem ser desenvolvidas por meio de cursos e das diversas experiências pessoais e profissionais vivenciadas pelas pessoas. 1.1.1 Os 5 “Ps” do Empreendedorismo Diante dessa introdução apresentada, veja que, dos diversos conhecimentos e habilidades que um empreende- dor precisa ter e saber, trazemos algo que pode ser muito inspirador quando analisamos o campo do empreen- dedorismo, que são os 5 “Ps” do Empreendedorismo. São diversas teorias e diversos autores que se dedicam a essa análise, sempre buscando compreender o perfil do “ser empreendedor”, e também de que modo ocorre o empreendedorismo. Nessa análise, os 5 “Ps” do Empreendedorismosão apresentados como se fossem um ciclo. Ressalta-se que eles nem sempre acontecerão na ordem aqui apontada, porém, o que será exposto certamente fará você refletir em cada etapa e contribuir nos processos de tomada de decisão. Os 5 “Ps” do Empreendedorismo relatados por Gimenez em seu livro “Empreendedorismo, Sustentabilidade a vida de professor: prosa e poesia” são descritos a partir da experiência acadêmica e da dedicação de muitos anos de pesquisa na área. [Ao] descrever as características de cada “P” pode facilitar a análise e compreensão do modo como podemos verificar isso nas práticas empreendedoras, independente do porte ou tamanho da empresa. [...] são características que podem se tornar um padrão quando buscamos analisar o comportamento empreendedor (FREDER; FREITAS; MINGHINI, 2016, p. 105). Em um estudo aplicado por Freder, Freitas e Minghini (2016), uma pergunta norteou as questões utilizadas na entrevista: “apesar das dificuldades, o que motiva o empreendedor brasileiro?” Os autores partiram então para uma comparação entre os “5 Ps” de Gimenez (2015) e os depoimentos do Dr. Ozires Silva, fundador da Embraer e importante empreendedor brasileiro, em seu livro “Cartas a um jovem empreendedor: realize seu sonho. Vale a pena” (SILVA, 2007). Notaram que os “empreendedores brasileiros têm em comum os aspectos de liderança, protagonismo e o forte desejo de transformar suas realidades” (FREDER; FREITAS; MINGHINI, 2016, p. 104) e que essas são informações recorrentes em diversas pesquisas sobre o perfil do empreendedor. 8 Empreendedorismo | Unidade de Estudo 1 – Os diversos âmbitos do empreendedorismo A seguir, no Quadro 1, consta a descrição dessas cinco características empreendedoras apontadas por Gimenez (2015). Quadro 1 – Descrição dos “Cinco Ps” do Empreendedorismo. Os “Cinco Ps” Descrição das Características Primeiro “P” - Paixão • Relaciona-se com a dedicação que se devota a algo ou alguém; • O empreendimento é um objeto de desejo; • Sem a paixão pode ser difícil atender as demandas do objeto de desejo que é o empreendimento. Segundo “P” – Propósito • O propósito é o guia da Paixão; • Refere-se a motivação para empreender; • Vincula-se com a razão da existência do empreendimento que é o que se oferece ao mercado ou a sociedade. Terceiro “P” – Pessoas • Pessoas compõe o mercado; • O empreendimento deve ter capacidade de atrair e ofertar algo para as pessoas; • O empreendimento necessita das pessoas para existir: sócios, funcionários, fornecedores, parceiros, etc. Quarto “P” - Práticas • Saber fazer; • Vincula-se aos três papeis do empreendedor: criador, organizador e condutor. Quinto “P” - Produto • Todo empreendimento se constrói a partir de um produto (tangível ou intangível) ofertado para o mercado ou para a sociedade; • Nesse quinto “P” são materializados os outros 4 “Ps”: Paixão, propósito, Pessoas e Práticas. Legenda: Características dos “Cinco Ps” do Empreendedorismo. Fonte: Adaptado de Gimenez (2015) e Freder; Freitas; Minghini (2016). Quando nos lembramos dos empreendedores, podemos afirmar que “[...] estas características fazem com que tenham coragem de superar diariamente os desafios apresentados em suas práticas empreendedoras” (FREDER; FREITAS; MINGHINI, 2016, p. 104). Então, vamos aprofundar-nos um pouco mais nessas características a partir das descrições para os Cinco Ps, do Professor Fernando Gimenez (2015) e comparar com os relatos do Dr. Ozires Silva (2007), grande empreendedor brasileiro e fundador da Embraer. 9 Empreendedorismo | Unidade de Estudo 1 – Os diversos âmbitos do empreendedorismo Veja que algo interessante foi constatado no “Primeiro P”, a Paixão, de Gimenez (2015): “[...] está relacionado com a dedicação que devotamos a algo ou alguém que nos aproxima da felicidade” (GIMENEZ, 2015, p. 13). De modo convergente, Silva descreve que é o “Sonho de Voar” e é quando “o empreendedor imagina a obra que pretende construir, e se indaga sobre a capacidade dessa obra manter-se em pé no futuro” (SILVA, 2007, p. 8). O segundo “P”, o Propósito, “[...] se refere à motivação para empreender. [...] tem a ver também com a razão da existência do empreendimento, o que é oferecido ao mercado se for uma empresa, ou a sociedade, se for outro tipo de organização” (GIMENEZ, 2015, p. 13). Nessa etapa, geralmente o empreendedor enxerga um propósito e cria métodos e processos que contribuirão para viabilizar sua ideia, seu produto ou serviço e, dessa forma, vemos o nascimento de um novo negócio. O terceiro “P”, as Pessoas, mostra que o “[...] empreendimento, em geral, necessita de outras pessoas para exis- tir: empregados, sócios, fornecedores, parceiros, etc. Para cada tipo de público há interações que precisam ser estabelecidas” (GIMENEZ, 2015, p. 13-14). Nesse item, já notamos que, sem dúvida, mesmo que no início do seu negócio ainda não tenha funcionários contratados, desde sempre o empreendedor se relacionará com diversas pessoas; assim, saber fazer isso de forma eficiente e garantindo bons resultados é uma importante habilidade a ser desenvolvida. Após a formalização e com o negócio em funcionamento, as diversas relações e experiências do empreendedor serão as que contribuirão para as Práticas, o quarto “P”, afinal empreender: [...] requer um saber fazer que é direcionado por três eixos: imaginar uma nova organização, bus- car e articular recursos e tecnologias em um modo de operação e estimular e conduzir pessoas visando atingir objetivos. [...] Em essência, dizem respeito ao exercício de três papéis empreende- dores: criador, organizador e condutor (GIMENEZ, 2015, p. 14). Até aqui, você deve ter percebido que, além dos “Ps”, uma série de outras habilidades vão somando-se na prática empreendedora, entre elas, as citadas anteriormente: criador, organizador e condutor. Podemos dizer até mesmo que o empreendedor é como se fosse um compositor que faz uma música e que depois ensaiará sua música com uma grande orquestra, tornando-se o maestro. Para que o som seja perfeito, tudo deve estar em harmonia e equilíbrio, da mesma forma como ocorre nas empresas. Seguimos agora para o último “P”, o Produto. Gimenez (2015) diz o seguinte: Todo empreendimento se constrói em torno da capacidade de entregar um produto, tangível ou intangível, para a sociedade, de forma mais ampla, ou mercado, de forma mais estreita. É no pro- duto que surge o resultado de Paixão, Propósito, Pessoas e Práticas (GIMENEZ, 2015, p. 14). 10 Empreendedorismo | Unidade de Estudo 1 – Os diversos âmbitos do empreendedorismo Diante disso, Freder, Freitas e Minghini (2016, p. 107) apresentam uma sugestão de ciclo no qual se pode visualizar a criação e a realimentação de processos dentro de um empreendimento, pois é bem possível que os negócios de fato necessitem de “um ciclo que [...] se reinicia de tempos em tempos”, conforme apresentado na Figura 2. Figura 2 – Ciclo dos 5 Ps do Empreendedorismo. Legenda: Esquema com a imagem do Ciclo dos 5 Ps do Empreendedorismo. Fonte: Freder et al. (2016, p. 107). Por fim, mesmo com os 5 “Ps”, Freder, Freitas e Minghini (2016, p. 107) abordam algo interessante quando dizem que “[...] tem um comportamento no empreendedor que chama a atenção em nossas pesquisas: a inquietação”. Ao trazerem essa questão, finalizam seu estudo dizendo que “[...] os 5 ‘Ps’ podem ser caracterizados até mesmo como um tipo de ciclo que se reinicia em um novo projeto na empresa, ou até mesmo em uma nova empresa” (FREDER; FREITAS; MINGHINI, 2016, p. 107). Apresentar os cinco “Ps” teve como objetivo mostrar uma forma como iniciativas empreendedoras podem surgir. Elas podem ocorrer com você, no seu negócio ou em suas atividades intraempreendedoras e, dessa forma, caso você identifique uma dessas características, poderá compreender a importância desses ciclos.11 Empreendedorismo | Unidade de Estudo 1 – Os diversos âmbitos do empreendedorismo Figura: 3: empreendedores indivíduo empreendedor. Legenda: Profissionais empreendedores. Fonte: http://br.freepik.com/vetores-gratis/equipe-do-negocio-que-descreve-pacote_831669.htm Nos ciclos, temos a oportunidade de avaliar nossas ações e, desse modo, corrigir erros e realimentar os processos organizacionais. Essa orientação também vale para o processo contínuo de formação, pois será a partir dessas vivências que você alimentará suas ideias e sua motivação. Todos esses temas, de maneira direta ou indireta, serão abordados em diversos conteúdos ao longo do curso. Note então que é possível aplicar diversas técnicas e métodos em seu dia a dia; dessa forma, você será o agente de sucesso de seus negócios. Veja a dica portal da “Endeavor”, que aborda inúmeros assuntos voltados ao tema empreen- dedorismo, bem como a temas de interesse do próprio empreendedor, como o seu desen- volvimento pessoal, autoconhecimento etc. O site também disponibiliza uma série de mate- riais para download gratuito: <https://endeavor.org.br/>. 12 Empreendedorismo | Unidade de Estudo 1 – Os diversos âmbitos do empreendedorismo 1.2 Empreendedorismo: os negócios no campo econômico tradicional e os negócios sociais Os negócios no campo econômico dito tradicional são a grande maioria das empresas das quais utilizamos algum serviço ou produto em nosso cotidiano. E são essas empresas, muitas delas de pequeno e médio portes, que movimentam a economia das cidades e dos países. Podemos citar, por exemplo, alguns desses serviços e produtos que utilizamos em nosso dia a dia: padaria, serviço médico, escola, supermercado, incluindo constru- toras e instituições bancárias. Para compreender em qual categoria estão localizadas essas empresas, são utilizados os termos setor primário, setor secundário e setor terciário. As empresas vinculadas ao setor primário são as que exploram os recursos naturais, como mineração, agricultura, pesca, pecuária, extrativismo vegetal e caça. No setor secundário, estão as empresas que transformam a matéria-prima que vem do setor primário em pro- dutos, materiais tangíveis, dentro de processos industrializados, por exemplo: roupas, máquinas, automóveis, alimentos industrializados, eletrônicos, casas etc. Já as empresas vinculadas ao setor terciário são aquelas da área dos serviços. Esses são intangíveis, porém, atu- almente, representam boa parte do PIB de muitas cidades no Brasil e no mundo. Podemos citar como exemplos empresas vinculadas ao comércio, à educação, à saúde, às telecomunicações, serviços de informática, seguros, transporte, serviços de limpeza, serviços de alimentação, turismo, serviços bancários e administrativos, transpor- tes etc. PIB – Produto Interno Bruto: representa o montante, em valores monetários, de todos os bens e serviços finais produzidos em determinada região, cidade ou país durante determi- nado período de tempo. Geralmente, esse acompanhamento é feito mensalmente. Glossário Essa abordagem refere-se às atividades empreendedoras voltadas aos negócios com fins lucrativos, ou seja, que têm como objetivo principal o lucro destinado aos seus sócios. Nessa modalidade, estão os exemplos citados anteriormente: empresas dos setores primário, secundário e terciário. Agora, abordaremos outra modalidade de empreendedorismo, que é aquele voltado à área social, e que tem, como pano de fundo, a necessidade de resolver um problema social. Esse tipo de atividade é dividido em duas modalidades: organizações da sociedade civil sem fins lucrativos, mas com fins econômicos; e os negócios sociais, com fins econômicos e lucrativos. 13 Empreendedorismo | Unidade de Estudo 1 – Os diversos âmbitos do empreendedorismo 1.2.1 Organizações da Sociedade Civil - OSCs As Organizações da Sociedade Civil, em geral, são constituídas no formato jurídico – por exemplo, sociedades, clubes ou associações – e, desse modo, são Organizações Não Governamentais (ONGs) ou organizações do ter- ceiro setor. Figura 4: Organizações da Sociedade Civil. Legenda: Organizações/entidades. Fonte: http://www.123rf.com/photo_29167346_hands-teamwork-union-icon-stylized-colorful-vector.html?term=hands %2Bholding%2Bcompanies&vti=loo3m3nutsy5l45i62 Para contextualizar o surgimento dos termos ONG e organizações do terceiro setor, trazemos algumas explica- ções de Albuquerque (2006) que, de forma sistemática, apresenta essa abordagem em vários países. Os dois termos citados anteriormente são recorrentemente utilizados no Brasil. Terceiro Setor: para entender a separação dos setores, conceitua-se o primeiro setor para a área governamental, o segundo setor para a iniciativa privada (empresas, indústrias e o comércio em geral) e o terceiro setor para as organizações sociais, sem fins lucrativos. Glossário O termo “terceiro” setor vem da tradução de third sector, utilizado nos Estados Unidos também com outras expressões, como “organizações sem fins lucrativos” (nonprofit organizations) e “setor voluntário” (voluntary sector). Na Inglaterra, utilizam-se dois termos: “caridades” (charities), termo de origem medieval que ressalta o aspecto de obrigação religiosa; e “filantropia” (philantropy), que é um conceito mais moderno e humanista em relação ao anterior. Na Europa Continental, predomina o termo “Non-governmental Organization (NGOs), ou, em por- tuguês, Organização Não Governamental (ONG), cuja origem são os projetos realizados por representações da 14 Empreendedorismo | Unidade de Estudo 1 – Os diversos âmbitos do empreendedorismo Organização das Nações Unidas (ONU) em diversos países europeus. Ao estabelecerem cooperação interna- cional nos anos 1960 e 1970, surgem as ONGs, com o objetivo de desenvolver projetos no “Terceiro Mundo”, estabelecendo diversas parcerias. No Brasil e na América Latina, utiliza-se o termo “sociedade civil”. Sua origem é do século XVIII, período no qual se desenvolvia uma espécie de plano governamental que incluía as organizações privadas que realizavam ativi- dades de interação com a sociedade, podemos dizer que realizavam ações sociais. (ALBUQUERQUE, 2006). O termo sociedade civil é também utilizado para descrever as associações e organizações que não fazem parte do Estado. Essas organizações são privadas, mas cumprem uma finalidade pública, ou seja servem a comunidade, por isso elas se distinguem do Estado e promovem direitos coletivos e do mercado (ALBUQUERQUE, 2006). Essas organizações da sociedade civil, de acordo com Albuquerque (2006), possuem características específicas que se diferenciam das características das empresas e das organizações governamentais: • Fazem contraponto às ações do governo: os bens e serviços públicos resultam da atuação do Estado e também da multiplicação de várias iniciativas particulares. • Fazem contraponto às ações do mercado: abrem o campo dos interesses coletivos para a iniciativa indi- vidual. • Dão maior dimensão aos elementos que as compõem: realçam o valor tanto político quanto econômico das ações voluntárias sem fins lucrativos. • Projetam uma visão integradora da vida pública: enfatizam a complementação entre ações públicas e privadas. Note, portanto, que ao descrever as características dessas instituições, podemos visualizar diversas organizações que surgiram em determinados contextos históricos para atender a determinados fins; em muitos casos, a área governamental brasileira não atendia de modo satisfatório ou atendia de modo insuficiente às demandas apre- sentadas nos diversos segmentos da sociedade: social, educacional, esportivo, saúde, habitação etc. Na atualidade, um dos maiores desafios no contexto em que essas instituições estão inseridas, que é o terceiro setor, é criar um conceito comum para a área, que está seguindo para uma nova nomenclatura: “Organizaçõesda Sociedade Civil (OSCs)”. Essas organizações possuem interesses e necessidades compartilhados por outras organizações, incluindo as mais diversas áreas e setores, como cultura, educação, saúde, social, esportiva etc. OSCs - as Organizações da Sociedade Civil são entidades privadas sem fins lucrativos, com personalidade jurídica própria e capazes de gerenciar suas atividades. Elas atuam na promo- ção e na defesa de direitos em áreas como saúde, educação, cultura, ciência e tecnologia, desenvolvimento agrário, assistência social, moradia e direitos humanos, entre outras. Elas podem ser entidades privadas sem fins lucrativos; sociedades cooperativas; organizações religiosas. Glossário 15 Empreendedorismo | Unidade de Estudo 1 – Os diversos âmbitos do empreendedorismo Figura: 5: Planejando a gestão de voluntariado. Legenda: Desafio. Fonte: http://www.123rf.com/search.php?word=challenge+icon&imgtype=&t_word=&t_lang=en&oriSearch=profile+infog raphic&sti=mn2lewqfa5adqt29ht|&mediapopup=48482417 Outro desafio para a gestão é de que modo planejar as atividades dos voluntários, pois se sabe que eles represen- tam a maioria dos indivíduos dessas entidades. Um bom plano para treinar e capacitar voluntários atuantes pode facilitar e potencializar as possíveis parcerias com o governo e as empresas, pois ambos têm muito a contribuir para a garantia de, no futuro, apoiar uma maior autonomia para essas organizações da sociedade civil. No Brasil, a Lei Federal nº 13.019, de 2014, vem sendo implementada para que se tenha mais regulação no ter- ceiro setor e para as organizações da sociedade civil; entre elas, estão as entidades culturais polono-brasileiras. O Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC) é um conjunto de estratégias que busca melho- rar a relação das organizações da sociedade civil com o poder público, a sua sustentabilidade econômica e a obtenção de títulos e certificados. Dentro dessa nova legislação que pretende regular as ações das organizações da sociedade civil, estão ações como a unificação do conceito e da terminologia a ser utilizada por essas entidades. São OSCs: creches e institui- ções para idosos; comunidades terapêuticas; cooperativas de produtores rurais, catadores/reciclagem, pessoas com deficiência, APAEs, esportivas, culturais etc. Para compreender suas características de acordo com esse novo marco legal, veja a Tabela 1. 16 Empreendedorismo | Unidade de Estudo 1 – Os diversos âmbitos do empreendedorismo Tabela 1: Características das Organizações da Sociedade Civil. Tipo de entidade Características Entidade privada sem fins lucrativos Não distribui resultado ou sobra de qualquer natureza e os aplica integralmente na consecução de seu objeto social. É formada de duas formas: • Associação (união de pessoas com objetivos para o bem social da coletividade ou se restringir a um público menor – como no caso de clubes); ou • Fundação (formada a partir de um capital financeiro de empresas ou pessoas). Sociedade Cooperativa Está prevista na Lei Federal 9.867/99. É integrada por pessoa em situação de risco ou vulnerabilidade pessoal ou social. É alcançada por programas e ações de combate a pobreza e de geração trabalho/renda. É voltada para: • Fomento, educação, capacitação de trabalhadores rurais ou capacitação de agentes de assistência técnica e extensão rural; ou • Execução de atividade ou projeto de interesse público. Organização religiosa É disciplinada pela Lei Federal 10.825/03. Deve se dedicar a atividade ou projeto de interesse público e cunho social distintos de religiosos. Legenda: Tipologia das Organizações da Sociedade Civil. Fonte: Assembleia Legislativa de Minas Gerais. <http://www.almg.gov.br/hotsites/2016/mrosc?aba=js_a-nova- -lei&subcontent:a-nova-leimodelos-juridicosexigenciasrecursos-e-gestaoacompanhamento=prestacao-de-contas-ha- -novidades>. Até aqui foi exposto, de modo atual, o contexto em que essas entidades estão inseridas, pois se sabe que vem ocorrendo uma série de novidades no marco legal que regulamenta o funcionamento delas e que certamente impactarão na gestão. Esse é um assunto que interessa aos empreendedores que pretendem envolver-se com essa área, tendo em vista o nível de importância dessas entidades para a sociedade brasileira. 17 Empreendedorismo | Unidade de Estudo 1 – Os diversos âmbitos do empreendedorismo 1.2.1 Negócios sociais Os negócios sociais possuem características diferentes das organizações da sociedade civil e também daquelas empresas do campo tradicional da economia. Também podemos dizer que os negócios sociais são uma nova alternativa para solucionar problemas nas mais diversas áreas da sociedade, como ambiental, habitação, educa- ção, saúde etc. Portanto, os negócios sociais têm fins econômicos e lucrativos, com personalidade jurídica de empresas tradicio- nais, porém, com o objetivo principal de solucionar um problema social. Negócios Sociais são empresas que têm a única missão de solucionar um problema social, são autossustentáveis financeiramente e não distribuem dividendos. Como uma ONG, tem uma mis- são social, mas como um negócio tradicional, geram receitas suficientes para cobrir seus custos. É uma empresa na qual o investidor recupera seu investimento inicial, mas o lucro gerado é rein- vestido na própria empresa para ampliação do impacto social (YUNUS BRASIL, 2017). Ao contrário das empresas tradicionais, cuja medição de sucesso é feita pela análise de percentual de lucro gerado, nos negócios sociais, a medição do sucesso é feita a partir do volume quantitativo ou qualitativo de impacto positivo gerado para pessoas ou para o meio ambiente. Na Figura 6, constam informações que podem ajudar você a compreender o contexto no qual se inserem as empresas vinculadas aos negócios sociais. Figura 6 – Diferenças entre ONGs, Negócios Sociais e Negócios Tradicionais. Legenda: Apresentação das diferenças entre ONGs, Negócios Sociais e Negócios Tradicionais. Fonte: <http://www.yunusnegociossociais.com/o-que-so-negcios-sociais>. 18 Empreendedorismo | Unidade de Estudo 1 – Os diversos âmbitos do empreendedorismo A medição do sucesso dos negócios sociais é feita a partir do volume quantitativo ou quali- tativo de impacto positivo gerado para pessoas ou para o meio ambiente. Esperamos ter contribuído para o seu aprendizado sobre o tema do empreendedorismo nessa abordagem que acabamos de percorrer. Vale destacar que as áreas do terceiro setor e negócios sociais sequer eram reconhecidas como setor econômico até poucas décadas atrás. Porém, pela relevância e pelo volume de empregos gerados, vêm destacando-se e consolidando-se, gerando, desse modo, novas possibilidades de empreender nas mais diversas áreas. 19 Considerações finais Chegamos ao fim da Unidade de Estudo 1 e esperamos que você possa ter iniciado o seu processo de inspiração e motivação para compreender a área de empreendedorismo e, mais do que isso, escolher sua profissão a partir dessa abordagem. De tudo que vimos, cabe destacar: • perfil empreendedor; • os 5 “Ps” do Empreendedorismo; • o empreendedorismo na área econômica tradiconal; • o empreendedorismo na área do terceiro setor; • o empreendedorismo na área dos negócios sociais. Outro ponto interessante que foi abordado é a constatação de que exis- tem dois tipos de empreendedores: os natos e aqueles que desenvolvem as habilidades empreendedoras com o tempo. Diante disso tudo, você já escolheu o que quer seguir? Referências bibliográficas 20 ALBUQUERQUE, Antônio Carlos Carneiro de. Terceiro setor: história e gestão de organizações. São Paulo: Summus Editorial, 2006. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Disponível em: <https:// www.priberam.pt/dlpo/multifuncional>. Acesso em: 23 jan. 2017. DRUCKER, F. P. Inovaçãoe espirito empreendedor, prática e princípios. São Paulo: Thomson-Pioneira, 2003. ENDEAVOR. Disponível em: <https://endeavor.org.br/>. Acesso em: 8 jan. 2017. FREDER, S. M.; FREITAS, V. Z.; MINGHINI, L. Os 5 Ps do Empreendedo- rismo: um estudo de caso. Revista Cátedra Ozires Silva de Empreende- dorismo e Inovação Sustentáveis, v. 1, N 1, 2016. Disponível em: <http:// revista.isaebrasil.com.br/>. Acesso em: 28 dez. 2016. GIMENEZ, F. A. P. Empreendedorismo, Sustentabilidade a vida de pro- fessor: prosa e poesia. Curitiba: Edição do Autor, 2015. SILVA, O. Cartas a um jovem empreendedor: realize seu sonho, vale a pena. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. YUNUS BRASIL. Disponível em <http://www.yunusnegociossociais. com/o-que-so-negcios-sociais>. Acesso em: 8 jan. 2017.
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