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vícios redibitórios

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Vícios redibitórios: questões polêmicas
 HYPERLINK "https://jus.com.br/947036-gustavo-passarelli-da-silva/publicacoes" \o "Acesse o perfil de Gustavo Passarelli da Silva" �� INCLUDEPICTURE "https://sz.jus.com.br/system/avatars/947036/user_thumb.png" \* MERGEFORMATINET ���Gustavo Passarelli da Silva
INTRODUÇÃO
A realização de negócios jurídicos, em sua mais variada modalidade tem permitido, ao longo dos tempos, que a economia de várias civilizações se desenvolvesse de forma mais segura e dinâmica, proporcionando, não raras vezes, desenvolvimento social.
É certo também que a destinação clássica dos contratos concebida pelos Códigos Oitocentistas, notadamente o Código Napoleônico, de que os contratos deveriam destinar-se prioritariamente à circulação de riquezas e desenvolvimento da economia, não pode ser considerada como desatualizada.
A despeito das significativas mudanças experimentadas pelo direito contratual no decorrer das últimas décadas, notadamente no que tange à modificação, pela intervenção estatal, da manifestação de vontade, é fato que a economia e o contrato estão umbilicalmente vinculados, pois é através deste que aquela se desenvolve. Isso porque os contratos são a forma pela qual se exterioriza, torna-se concreta no plano físico, a intenção das partes em realizar determinado negócio jurídico.
E da mesma forma estão vinculados a segurança jurídica e a garantia que se deve conceder a todos aqueles envolvidos nas relações jurídicas, pena de os contratos não alcançarem seu desiderato precípuo, que atualmente pode ser considerado como a geração e circulação de riquezas de forma equânime, realizando a justiça distributiva.
A prosperidade de uma nação, dentre outros fatores, está ligada à segurança que se espera e alcança com relação a dois institutos fundamentais: o respeito do direito de propriedade e aos contratos.
É somente com esse respeito aos contratos e ao direito de propriedade, especialmente em um mundo absolutamente globalizado, em que a velocidade das comunicações diminuiu sobremodo as distâncias, que uma sociedade poderá criar bases sólidas para o desenvolvimento sustentável de sua economia.
Nesse passo, todo e qualquer instituto de direito que guardar correlação com a segurança jurídica nos contratos sobreleva em importância.
Nesse sentir, é de se concluir que os vícios redibitórios são de suma importância para o direito contratual, porquanto neles se encerra a idéia de garantia, de respeito ao princípio da boa-fé objetiva [01], e ainda, de vedação ao enriquecimento sem causa [02], indispensáveis para a criação de uma relação contratual segura e justa.
No Código de 1916 os vícios redibitórios eram regulados no capítulo relativo à compra e venda, porquanto era nessa modalidade de negócio jurídico que se encontram os casos mais comuns.
Não havia justificava, todavia, para que se mantivesse a técnica adotada na vetusta legislação, pelo que o legislador de 2002, atenta e corretamente, transportou o instituto [03] para o capítulo que trata da teria geral dos contratos.
O acerto da modificação realizada pela atual legislação encontra respaldo no exemplo das doações onerosas, em que a liberalidade, ínsita àquela modalidade negocial, cede espaço para a onerosidade decorrente de qualquer contrato comutativo, quando então será possível cogitar da responsabilidade pelos vícios redibitórios.
Considerando-se que a ocorrência dos vícios redibitórios não pressupõe responsabilidade civil [04], pois não há ilícito em sua caracterização, mas simples responsabilidade decorrente do contrato firmado, é possível afirmar que o instituto se fundamenta na necessária boa-fé objetiva que deve nortear toda e qualquer relação jurídica, mormente após a positivação do preceito no art. 422 do Código Civil, bem ainda no respeito ao princípio da garantia.
As inovações em relação aos vícios redibitórios, todavia, não se circunscrevem em sua nova alocação, agora no capítulo da teoria geral dos contratos, mas em significativas alterações de técnica da redação, que, contudo, não trouxeram respostas necessárias a problemas desde antes discutidos, e, ainda, deixaram de tratar de temas importantes, fazendo perpetuar dúvidas e discussões que poderiam ter sido solucionadas pelo novo tratamento do instituto.
O objetivo deste trabalho é a análise de alguns pontos polêmicos trazidos pelo Código Civil de 2002 quanto aos vícios redibitórios, que não necessariamente infirmam a importância do instituto ou das modificações realizadas, mas sim as reforçam.
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CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O INSTITUTO DOS VÍCIOS REDIBITÓRIOS
É inolvidável que a importância dos vícios redibitórios reside em fornecer garantia aos negócios realizados entre particulares, notadamente no que tange à preservação das características dos bens deles objeto.
É o princípio da garantia que fundamenta o instituto, portanto, de que todo aquele que adquire um bem a título oneroso deve obter a exata correspondência com o sacrifício despendido para a aquisição.
De outro lado, é também inafastável a conclusão de que, em respeito inequívoco e inafastável à boa-fé objetiva, aquele que transfere bem a título oneroso tem obrigação de responder pela sua qualidade e a preservação das características.
Aliadas essas duas circunstâncias consegue-se encontrar a sistemática dos vícios redibitórios, no que diz respeito à garantia exigida pelo legislador.
Arnoldo Wald [05] ensina que a proteção do equilíbrio das prestações, nos contratos comutativos, e da boa-fé dos contratantes em todos os negócios jurídicos impôs àquele que entrega determinado objeto a obrigação de responder pelos defeitos e vícios não só do direito transferido (responsabilidade pela evicção) como da própria coisa, quando não perceptíveis por quem recebeu o bem.
O art. 441 do Código Civil, ao contrário de outros que não primam pela clareza dos conceitos de determinados institutos [06], traz definições precisas e importantes a respeito dos vícios redibitórios ao estabelecer que a coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitado por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor, tratando das principais características.
A primeira observação diz respeito aos contratos a que se aplicam: comutativos.
Como é sabido, dentre as várias classificações dos contratos, existem os comutativos ou sinalagmáticos e os aleatórios.
Os primeiros (comutativos) têm por principal característica a equivalência entre as prestações, bem como o conhecimento prévio por parte dos contratantes de todas as obrigações assumidas, e ainda, os direitos decorrentes da compra e venda. Essa modalidade negocial encontra na compra e venda seu mais expressivo exemplo [07].
Os contratos aleatórios, por outro turno, têm na dúvida, na incerteza, na álea, seu principal elemento. Em verdade, é justamente o risco sobre a existência ou não do bem, e ainda, de sua quantidade no porvir, que leva os contratantes a celebrarem os negócios. O contrato de seguro [08] é importante exemplo dessa modalidade negocial, pois nesse negócio há absoluta incerteza com relação à equivalência entre o pagamento realizado e à utilização do serviço.
Pela leitura do art. 441 do Código Civil é possível concluir que o legislador não pretendeu açambarcar os contratos aleatórios com a aplicação dos vícios redibitórios, porquanto foi inequivocamente expresso ao afirmar que somente nos contratos comutativos poderá a coisa ser enjeitada por defeitos ocultos que a tornem imprópria ao fim colimado, ou causem significativa redução de valores.
E a restrição à aplicação do instituto aos contratos comutativos é compreensível e de simples explicação. Como os vícios redibitórios são defeitos ocultos encontrados na coisa, preexistentes e muitas das vezes desconhecidos mesmo pelo alienante, é possível afirmar que eles somente podem ter ocorrido em bens existentes ao momento da negociação.
Essa hipótese
não ocorre no caso dos contratos aleatórios. Tanto na previsão do art. 458 quanto do art. 459, do Código Civil, é possível constatar que a essência dessa modalidade negocial repousa na inexistência da coisa no momento da celebração do negócio.
Caio Mario da Silva Pereira [09] ensina que são aleatórios os contratos em que a prestação de uma das partes não é precisamente conhecida e suscetível de estimativa prévia, inexistindo equivalência com a da outra parte.
No primeiro caso (contrato emptio spei) o risco assumido pelos contratantes é com relação à existência da coisa em si, de modo que ficam obrigados ao pagamento, ainda que nada venha a existir. No segundo caso (emptio rei speratae), a dúvida reside na quantidade e não na existência em si.
Como somente os defeitos preexistentes à negociação podem ser considerados para fins de aplicação do instituto, por aplicação de lógica irrefutável nos contratos aleatórios não é permitida sua invocação.
Ademais, permitir a invocação dos vícios redibitórios nos contratos aleatórios seria aumentar sobremodo os encargos e riscos já assumidos por aquele que firma contrato dessa natureza, que além de garantir a existência ou determinada quantidade de produto ou coisa, tenha de se resguardar com relação à qualidade do bem que está porvir.
Para solapar qualquer dúvida a respeito da inaplicabilidade dos vícios redibitórios aos contratos aleatórios é importante mencionar que o legislador não lança mão de palavras inúteis no texto e não foi por outra razão que expressamente mencionou que os vícios redibitórios somente se aplicam aos casos de contratos comutativos.
Aplica-se aqui o brocardo verba cum effectu, sunt accipienda [10].
Por esses argumentos é possível afirmar que somente aos contratos comutativos é que se pode aceitar a aplicação dos vícios redibitórios, não sendo equivocado afirmar que nesse caso a literalidade das palavras utilizada pelo legislador é objetivamente no sentido de impedir sua aplicação aos contratos aleatórios.
A segunda menção importante trazida no art. 441 do Código Civil diz respeito aos defeitos, que obrigatoriamente devem ser ocultos e preexistentes.
Não se pode conceber determinado contratante responder por vícios redibitórios de defeitos que venham a existir somente após a tradição, ou ainda, que mesmo preexistentes, eram notáveis a uma singela análise.
A máxima res perit domino, que poderia pressupor relativização quando se trata de vícios redibitórios, em verdade não ocorre, antes é reforçada em sua essência conceitual pelo art. 444 do Código Civil, que dispõe que a responsabilidade do alienante subsiste ainda que a coisa pereça em poder do alienatário, se perecer por vício oculto, já existente ao tempo da tradição
Como se trata de defeito preexistente o entendimento adequado é de que o vício já existia à época da negociaçãoem que se deu a tradição, mas somente ainda não tinha se demonstrado.
Assim, é correto afirmar que a coisa já havia perecido nas mãos do dono, porquanto o defeito já existia, somente não se tinha mostrado, de modo que é possível afirmar que a exteriorização dos efeitos não é requisito ou justificativa para eximir a responsabilidade do antigo proprietário.
A dificuldade na constatação do defeito também é pressuposto para a invocação do instituto. Não se pode admitir que o contratante, analisando e inspecionando o bem que é objeto de negociação não tenha notado defeitos aparentes que se constatam pela simples vistoria [11].
Os defeitos ocultos de que trata o art. 441 do Código Civil são aqueles imperceptíveis à análise normal em qualquer tipo de negócio, valendo aqui a aplicação do conceito "homem médio".
Nelson Nery Júnior [12] ensina que vícios ocultos consideram-se aqueles que não impressionam diretamente os sentidos, bem assim os que o comprador, sem esforço, com a vulgar diligência e atenção de um prudente comerciante, não pode descobrir com um simples e rápido exame exterior da mercadoria, no ato da recepção desta, posto que se revelem mais tarde pela prova, pela experiência, ou pela abertura invólucros.
Feitas essas considerações é possível afirmar que somente aqueles defeitos que não poderiam ter sido notados quando da aquisição do bem é que podem ser utilizados como fundamento para a reclamação por vícios redibitórios.
Como a norma não traz regra clara a respeito do que se pode entender por defeitos ocultos, além do que seja possível alcançar pela sua interpretação, é importante levar em consideração a modalidade negocial levada a efeito, a condição das partes envolvidas, seus conhecimentos específicos a respeito do objeto de negócio, enfim, as circunstâncias do caso concreto, sendo possível afirmar, de antemão, que não se pode exigir em demasia conhecimentos e posturas por parte do comprador, pena do instituto não ser utilizado da forma adequada.
Ainda na análise do art. 441 do Código Civil e dos elementos por ele trazidos, é possível afirmar que não é qualquer defeito que legitima a reclamação pelos vícios redibitórios, mas somente aqueles que tornem a coisa imprópria ao uso ao qual é destinada ou lhe diminuam o valor.
Essa última parte do art. 441 do Código Civil declina os efeitos da constatação do defeito que permitem a via da ação redibitória ou quanti minoris.
Verifica-se que o legislador preferiu tratar somente dos defeitos consideráveis, entendidos estes, conforme a previsão legal, como aqueles que tornem a coisa imprópria ao uso ao qual é destinada ou que lhe tragam importante redução de valor.
De se considerar, portanto, que somente defeitos significativos devem ser considerados.
Caio Mario da Silva Pereira [13] ensina que não é qualquer defeito que fundamenta o pedido de efetivação do princípio, porém aqueles que positivamente prejudicam a utilidade da coisa, tornando-a inapta às suas finalidades, ou reduzindo a sua expressão econômica.
Admitir que qualquer tipo de defeito, mesmo que não afetando diretamente as qualidades da coisa ou o seu preço, autorizem a reclamação por vícios redibitórios é permitir àqueles que, por mero espírito emulativo, pretendam obter vantagem indevida na relação jurídica ajam sem maiores restrições, fomentando a insegurança jurídica e insatisfação social.
Daí porque o princípio da insignificância se aplica aos vícios redibitórios, sendo motivo do julgamento de improcedência de ação ajuizada com esse fundamento. Silvio de Salvo Venosa [14] inclusive menciona que defeitos irrelevantes, que não alteram a destinação da coisa, nem seu preço, não são considerados vícios.
É ainda Silvio de Salvo Venosa [15] que traz exemplo importante para auxiliar na identificação do que se pode entender por defeito relevante no que diz respeito aos seus efeitos, ao afirmar que o defeito deve ser grave. E deve ser de tal importância que, se dele tivesse tomado conhecimento anteriormente o adquirente, o contrato não teria sido concluído.
De modo que somente os vícios que efetivamente retirem as qualidades da coisa, ou que tragam significativa redução de seu valor é que podem fundamentar a ação prevista no art. 441 do Código Civil.
Importante ainda frisar que os vícios redibitórios não se tratam de responsabilidade civil, bastando a leitura do art. 442 do Código Civil para que se alcance essa conclusão.
Poder-se-ia suspeitar, com maior razão ainda argumentar, que os vícios redibitórios seriam inadimplemento contratual, tendo em vista que o alienante tem o dever de resguardar o adquirente em relação às qualidades da coisa e que, constatado o defeito posteriormente, com a ocorrência das situações previstas no art. 441 do Código Civil, seria inatacável o argumento de que houve quebra de contrato, incidindo todas as normas previstas nos arts. 389 e 402 do Código Civil.
O argumento, todavia, não resiste a uma análise mais aprofundada. Quando se trata de vícios redibitórios verifica-se, desde os primeiros trabalhos realizados no direito romano, que não se busca na postura do alienante qualquer traço de conduta que caracterize
quebra de contrato, mas sim responsabilidade pelas qualidades da coisa que é objeto de transferência.
O alienante responde, independentemente de conhecimento prévio pelas condições da coisa, pela impossibilidade de se alcançar a utilidade proposta, ou ainda, pela redução significativa do valor. O seu conhecimento prévio somente é requisito para que, além de ter de aceitar a rejeição da coisa ou fornecer o abatimento proporcional do preço, também seja condenado ao pagamento das perdas e danos daí correspondentes.
Isso porque em respeito ao princípio da boa-fé objetiva não se pode aceitar que o alienante, ciente de defeitos ocultos preexistentes na coisa, não alerte o adquirente nesse sentido, permitindo, de forma consciente, a quebra do sinalagma existente no contrato comutativo. Postura como essa é manifesto desrespeito ao princípio previsto no art. 422 do Código Civil, de que as partes devem guardar, assim na conclusão como na execução do contrato, a boa-fé e a probidade.
Verificados os vícios redibitórios, duas as alternativas que se abrem para o adquirente: ou rejeitar a coisa [16], rescindindo o contrato, ou então, receber desconto proporcional à desvalorização experimentada pelo problema constatado [17].
Arnoldo Wald [18] menciona que o direito romano concedia ao adquirente duas ações: a ação redibitória, para rescindir o contrato de compra e venda, e a ação quanti minoris ou estimatória, para obter a redução do preço, fixando prazos curtos para o seu exercício, e devendo o interessado optar por uma delas, não podendo evidentemente acumulá-las.
Essa situação ainda permanece inalterada no direito atual. Tanto o art. 441, quanto o art. 442, do Código Civil, permitem as duas vias ao adquirente, à sua escolha.
Na primeira hipótese (ação redibitória) trata-se de rescisão do contrato, porquanto os contratantes retornam ao status quo ante, como se contratado não tivessem. O alienante, por aplicação da regra res perit domino, mencionada expressamente, nesse caso, no art. 444 do Código Civil, arca com as conseqüências do prematuro perecimento da coisa, restituindo os valores pagos em decorrência do negócio.
Na segunda hipótese o adquirente, ao seu livre critério, escolhe pela manutenção do negócio, por que lhe favorável em outras circunstâncias, buscando tão somente a redução do preço, para que seja mantido o equilíbrio econômico do contrato, pois do contrário estaria pagando mais por bem que vale menos.
Importante mencionar que não há ordem de gradação entre as opções dadas ao adquirente, se pela resolução ou pelo abatimento do preço. Pode-se mesmo afirmar que em respeito ao princípio da garantia e da boa-fé objetiva, trata-se de condição potestativa em favor do adquirente, que poderá optar pela melhor solução ao problema que se apresentou na coisa.
Nelson Rosenwald [19] corrobora esse entendimento ao tratar da ação redibitória e afirmar que trata-se de direito postestativo à rescisão contratual. Com efeito, a rescisão se aplica às hipóteses em que a desconstituição da obrigação é fruto de um vício do objeto já existente ao tempo da contratação (v.g., evicção), não se podendo cogitar um inadimplemento ou inexecução – o que caracterizaria a resolução, por força do art. 475 do CC.
As considerações acima, possíveis pela análise do art. 441 do Código Civil, são importantes para que os demais temas objeto deste trabalho possam ser enfrentados e corretamente interpretados, em consonância com os demais dispositivos que tratam do tema.
VÍCIOS REDIBITÓRIOS E SERVIÇOS
A primeira questão que poderia ser mencionada a respeito do instituto dos vícios redibitórios reside na sua aplicação em relação aos serviços.
Essa dúvida surge da leitura do art. 441 do Código Civil, que trata dos vícios redibitórios quando se tratar de coisa recebida em virtude de contrato comutativo.
Não há menção, portanto, ao serviço, que também é objeto de contrato comutativo, oneroso e que pressuporia a incidência do instituto dos vícios redibitórios.
A diferença entre as obrigações que se constituem na prestação de serviços e na entrega de coisa reside no objeto da obrigação, e as conseqüências daí decorrentes são bastante significativas.
É Washington de Barros Monteiro [20] quem fornece a mais lúcida diferenciação entre obrigações de fazer (prestação de serviços, em sua maioria) e de dar coisa, ao afirmar que o substractum da diferenciação está em verificar se o dar ou oentregar é ou não conseqüência do fazer. Assim, se o devedor tem de dar ou de entregar alguma coisa, não tendo, porém, de fazê-la previamente, a obrigação é de dar; todavia, se, primeiramente, tem ele de confeccionar a coisa para depois entregá-la, se tem ele de realizar algum ato, do qual será mero corolário o de dar, tecnicamente, a obrigação é de fazer.
Na obrigação de dar coisa certa ou incerta, a atuação da parte, além da entrega do bem que é objeto da obrigação, é irrelevante, pois as características da coisa já se encontram ínsitas. Eventuais defeitos ou problemas que possam ocorrer, em princípio, e na maioria das vezes, não podem ser atribuídos às partes, mas sim a defeitos, no caso, preexistentes, que tenham como conseqüência tornar a coisa imprópria ao uso para o qual se destinava, ou ainda, que lhe reduzam o valor.
No caso dos serviços a situação é diversa. Nesses contratos está-se diante da modalidade de obrigação de fazer, na qual a figura do prestador de serviços – devedor – é de suma importância para a conclusão do negócio.
O serviço é criado pelo prestador, é por ele realizado, conforme a especificação do contratante, de modo que o sucesso ou insucesso do trabalho é vinculado exclusivamente à atuação do devedor da prestação. Os defeitos, portanto, na prestação de serviços, devem ser atribuídos à conduta do prestador no momento de sua execução.
E seguindo essa linha de raciocínio é possível afirmar, com segurança, que os defeitos com relação à prestação de serviços nada mais são do que inadimplemento contratual, porquanto se o prestador de serviços tivesse se atentado às exigências da contratação os problemas não teriam ocorrido.
Sendo as obrigações do prestador de serviços previamente estabelecidas, no que tange à forma pela qual os trabalhos deverão ser realizados, é possível concluir que resultado diverso daquele previamente pactuado é inadimplemento contratual, resolvendo-se pelas disposições do art. 389 do Código Civil.
A despeito do fato de que o Código de Defesa do Consumidor tenha previsão de incidência dos vícios redibitórios também na prestação de serviços, não se pode descurar que se trata de outra modalidade de relação jurídica, pautada pela vulnerabilidade do consumidor e que, portanto, permite o tratamento da questão sob ótica diversa.
No âmbito das relações reguladas pelo Código Civil, entretanto, não parece ser possível afirmar de que os vícios redibitórios se aplicam também aos serviços, pois pela natureza do problema constatado, estar-se-ia diante de inadimplemento contratual, solúvel pela via das perdas e danos [21].
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CLÁUSULA DE REDUÇÃO, REFORÇO OU EXCLUSÃO DA GARANTIA DOS VÍCIOS REDIBITÓRIOS
Outra questão que também não foi tratada de forma específica pelo legislador quando da regulamentação sobre os vícios redibitórios diz respeito à possibilidade de eleição de cláusula que trate de reforço, redução ou exclusão da garantia dos vícios redibitórios.
A matéria, todavia, veio expressamente prevista pelo art. 448 do Código Civil, que está situado no capítulo que trata da evicção.
E essa constatação reclama um questionamento: podem os vícios redibitórios, à ausência de previsão expressa nesse sentido, sofrerem o reforço, a redução ou exclusão por força de cláusula eleita pelas partes? Ainda, o fato de o legislador ter tratado especificamente do tema, autorizando a eleição de cláusula nesse sentido, em instituto análogo como o da evicção significa que expressamente não pretendia conferir o mesmo tratamento aos vícios redibitórios?
Quer nos parecer não existir
problemas ou impedimentos para que a resposta seja afirmativa quanto ao primeiro questionamento, i.e., que há a possibilidade de que a cláusula de reforço, redução ou exclusão da responsabilidade por evicção possa ser também utilizada no caso dos vícios redibitórios, e negativo quanto ao segundo.
Por certo que tanto e evicção quanto os vícios redibitórios têm o mesmo tratamento, ou tem no mesmo princípio seu fundamento de aplicação, qual seja o princípio da garantia, como já mencionado no tópico introdutório deste trabalho.
E é justamente essa similitude de conceitos dos institutos que permite concluir, de início, pela possibilidade de utilização de cláusula de reforço, redução ou exclusão dos vícios redibitórios, sendo que a omissão do legislador ao regulamentar o instituto não é suficiente para que não possa ser utilizada essa prerrogativa pelos contratantes.
Tanto na evicção quanto nos vícios redibitórios o que se busca resguardar é o equilíbrio do contrato, o sinalagma existente quando da contratação, de modo que as prestações permaneçam equivalentes.
Ambos os institutos visam fornecer a garantia para o adquirente com relação à coisa transferida. No caso dos vícios redibitórios o objeto da garantia são as qualidades da coisa transferida, de modo que se possa manter sua utilização e seu valor. Quando se trata de evicção, o objetivo é resguardar a qualidade do direito transferido, de modo que não haja privação na posse por parte do adquirente. Nos dois casos, entretanto, é possível afirmar que a preocupação do legislador é resguardar a equivalência no negócio firmado.
Em sendo semelhantes os institutos e idênticos os princípios que os inspiram, é correto afirmar que os dispositivos previstos para um e outro caso, desde que não incompatíveis com sua essência, podem ser aplicados por analogia. Assim, determinado dispositivo que seja relativo aos vícios redibitórios, ainda que não previsto para o caso de evicção, mas que com o instituto não seja incompatível, pode ser validamente invocado e utilizado pelos contratantes, sendo verdadeira a recíproca.
A segunda consideração é de que os direitos relativos aos vícios redibitórios e evicção encontram-se naqueles considerados dispositivos, ou seja, que podem ser objeto de negociação pelas partes envolvidas na relação jurídica, sem que haja ofensa a qualquer norma de ordem pública.
Reforça essa conclusão a leitura do art. 448 do Código Civil ao prever a possibilidade de as partes disporem de forma diversa daquela tratada na lei no que diz respeito à evicção, instituindo cláusula de reforço, redução ou exclusão da garantia. Ora, se às partes é facultado estabelecer disposições a respeito da modalidade pela qual a garantia será exercida, e mesmo dela abrir mão, parece inequívoco que se está diante de norma de caráter dispositivo.
Caso fossem de ordem pública as normas que tratassem do instituto (e nesse caso aplica-se a mesma regra para os vícios redibitórios, porquanto institutos afins), não haveria a expressa previsão para que as partes pudessem, ao seu talante, modificar as condições da garantia previamente estabelecida em lei.
E, em se tratando de institutos afins, não se encontram motivos para que também no que concerne aos vícios redibitórios não se apliquem as regras do art. 448 do Código Civil, permitindo aos contratantes a faculdade de modificar a forma de responsabilidade pelos defeitos encontrados, ainda que ocultos, ou mesmo excluir esse dever de garantia.
No que diz respeito à cláusula de exclusão é importante anotar somente que, também por analogia, devem ser observadas as prescrições do art. 449 do Código Civil, condicionantes de eficácia da cláusula de exclusão da responsabilidade, ao determinar que não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção [22], se esta se der, tem direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu.
Em verdade, quando se analisa a cláusula de exclusão de risco pela evicção é possível afirmar que o legislador previu a situação do adquirente que tomou todos os cuidados necessários para a análise da coisa a ser adquirida e concluiu que os riscos não existem. Ou então, que cientificado dos riscos da coisa, e justamente por isso efetuou pagamento em preço que normalmente não seria exigido por aquele bem, conscientemente assumiu os riscos da evicção.
A mesma linha de raciocínio poderia ser empregada para o caso dos vícios redibitórios, permitindo a sua utilização também para o tratamento do instituto.
Se o adquirente tomou todos os cuidados necessários para a análise do bem adquirido, realizando vários e específicos testes de qualidade, ou ainda, se informado dos riscos de vício redibitório, como, por exemplo, no caso de bem com utilização intensa e de longa data, ainda assim assume os riscos de que vícios poderão ser posteriormente constatados, mas sem que lhe seja garantido o direito de reclamar, considerando que se trata de direito disponível, parece inafastável o argumento de que é possível às partes estabelecerem cláusula nesse sentido.
Gustavo Tepedino [23] ensina que da mesma forma como pode ser ampliada, a garantia por vícios redibitórios também pode ser suprimida, em vista do caráter dispositivo que, em oposição ao CDC, é pressuposto pelo regime estabelecido no Código Civil (assim como o é em relação, especificamente, à garantia por evicção – art. 448).
De se concluir, portanto, que também no tocante aos vícios redibitórios, ainda que não tenha havido expressa disposição por parte do legislador a respeito, embora tenha tratado do tema especificamente quando da evicção, nada impede que por analogia ou mesmo pela natureza dispositiva dos direitos tratados no caso do instituto, sejam instituídas pelas partes cláusulas que tratem do reforço, da redução, ou mesmo da exclusão da garantia pelos vícios redibitórios.
Vale lembrar ainda, em arremate, que em se tratando de contrato de adesão, cláusula que trata de reforço, redução ou exclusão de vícios redibitórios não pode ser aceita, porquanto há proibição expressa nesse sentido no art. 424 do Código Civil.
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VÍCIOS REDIBITÓRIOS E HASTA PÚBLICA
A mesma problemática tratada no tópico anterior tem aplicação também no caso da responsabilidade por evicção em hasta pública e nesse caso a importância do tema sobreleva, considerando o objetivo do legislador em tratar do tema na evicção.
Os vícios redibitórios, como dito, encontram seu fundamento de validade nos mesmos princípios que regulam a evicção. São deveres inerentes ao contrato, mesmo que não haja previsão contratual específica nesse sentido. O dever de garantir a qualidade do bem transferido, bem como suas características (vícios redibitórios), e o direito que em si encerra (evicção) ocorre independentemente da manifestação da parte.
Justamente por isso que não é incorreto, pelo contrário, analisar os dispositivos de ambos os institutos de forma sistêmica, devido à possibilidade de aplicação em várias situações distintas, como ocorreu no caso acima, a respeito da possibilidade de as partes firmarem cláusula de reforço, redução ou exclusão de garantia por vícios redibitórios, tendo em vista se tratar de direito dispositivo e, ainda, em analogia ao que disposto no art. 448 do CC.
No caso analisa-se também dispositivo previsto em princípio somente para a evicção, tendo sido omisso o legislador no que diz respeito aos vícios redibitórios.
Uma das inovações trazidas pelo legislador a respeito da evicção foi a incidência da responsabilidade ainda que o bem tenha sido alienado em hasta pública, conforme agora expressamente previsto no art. 447 do Código Civil.
É inovação porquanto não havia previsão no sistema anterior, no que tange à evicção, para responsabilidade em hasta pública. Com relação aos vícios redibitórios a situação era distinta. O art. 1.106 do CC/1916 proibia expressamente a incidência da figura no caso de bens alienados em hasta pública.
A análise e
interpretação teleológica do art. 447 do CC/2002, prevendo a responsabilidade por evicção em hasta pública tem, em nosso entendimento, tripla função: a) aumentar as possibilidades de incidência do instituto, com o objetivo de fornecer maior concretude à norma de direito material; b) prestigiar o interesse de terceiros de boa-fé e; c) valorizar o princípio da efetividade no processo executivo, bem como o de que a execução deve se dar de modo menos gravoso para o devedor, previsto este último no art. 620 do CPC.
O objetivo de fornecer maior concretude ao dispositivo reside no ponto de que ao prever a responsabilidade por evicção também nesta seara, indiscutivelmente o legislador aumentou o campo de incidência da norma de direito material, tornando-a mais eficaz, mormente porque evita, dessa forma, o enriquecimento sem causa que poderia ser causado ao devedor que tem bem supostamente seu alienado judicialmente para quitação de débito não pago, em manifesto prejuízo para o terceiro que participa do certame.
A proteção que se destina ao terceiro de boa-fé (adquirente) que participa do certame é inequívoca no art. 447 do CC. O processo executivo tem a finalidade de proporcionar ao credor a satisfação de seu crédito. É pela atuação do Estado, provocado pelo credor de débito inadimplido e portador de título que se revista das características previstas nos arts. 585 e 586, ambos do CPC, que haverá a agressão patrimonial ao devedor para que bens sejam retirados coercitivamente de sua esfera patrimonial, sendo o resultado direcionado para o credor.
Os terceiros que ingressam nesse procedimento – hasta pública – têm todo o direito, pena de se instaurar insegurança jurídica no procedimento que é chancelado pelo Poder Judiciário, de terem resguardada a qualidade do direito que lhes é transferida pela arrematação de bem em hasta pública.
A anotação a respeito da intenção da norma é de suma importância para que se possa, adequadamente, encontrar o sentido da regra imposta, aplicando-a de forma mais consentânea com seus objetivos.
Como mencionado, no CC/1916 não havia possibilidade de reclamação de vícios redibitórios em hasta pública, pelo contrário, o art. 1.106 proibia expressamente a viabilidade do pleito.
Não havia, tampouco, no CC/1916 previsão a respeito de reclamação de evicção em hasta pública, como ocorre atualmente no art. 447 do CC/2002.
Surge, então, uma situação que, pelas modificações experimentadas na legislação, leva a questionamentos ainda irrespondidos: considerando que os vícios redibitórios não podiam ser reclamados na sistemática do CC/1916 sobre bens adquiridos em hasta pública, porquanto havia proibição expressa do art. 1.106, mas que agora, no CC/2002, não foi repetida, é possível reclamá-los sobre a égide da atual legislação?
Importante analisar as modificações realizadas, inclusive no que diz respeito à evicção, para que se possa, da mesma forma como ocorre na cláusula de redução, exclusão ou reforço de evicção, chegar-se a uma conclusão que seja consentânea com a sistemática fornecida.
E, nesse sentir, inclina-nos o pensamento de que é possível também a reclamação por vícios redibitórios de bens adquiridos em hasta pública, a despeito de não haver previsão expressa nesse sentido pelo legislador.
O primeiro ponto a sustentar essa conclusão é de que a proibição prevista no art. 1.106 do CC/1916 não foi repetida na legislação vigente. A "omissão" do legislador a respeito do ponto, ao que parece, não foi involuntária, mas proposital.
Ora, se os vícios redibitórios se prestam a preservar o sinalagma da relação jurídica, evitando o enriquecimento sem causa da parte alienante, não há motivos que justifiquem a exclusão da responsabilidade quando o bem é adquirido em hasta pública.
Antes disso, recomendam que sobretudo seja na hasta pública utilizado o instituto. Do contrário, permitir-se-ia que o devedor, que já deixou de arcar com compromisso anteriormente assumido, tenha bem expropriado de seu patrimônio e, com valor menor, quite débito com o credor e, pior, em prejuízo de terceiro de boa-fé (adquirente em hasta pública).
O argumento de que o bem a ser alienado em hasta pública, colocado à disposição para vistorias em locais públicos, permite que os pretensos adquirentes tenham prévio conhecimento de suas condições, é uma meia verdade. Isso porque há defeitos que não podem ser constatados ictu oculi, dependendo de um utilização mais específica para que se possam constatar. Do contrário não haveria razão para a previsão do art. 455, §1º do Código Civil, que trata dos defeitos que, pela sua natureza, somente podem ser constatados mais tarde.
Se a lei protege o particular no contrato de compra e venda, por exemplo, por qual razão não deveria fazê-lo com o adquirente, terceiro de boa-fé, que inclusive comparece na hasta pública para auxiliar a efetividade da atividade desenvolvida pelo próprio Estado, no caso, que é a satisfação do direito do credor?
Tampouco socorre o argumento de que não raras vezes os bens adquiridos em hasta pública o seriam por valores menores do que os de mercado [24]. Esse argumento, acaso acolhido, deveria também levar à conclusão de que a disposição do art. 447 do Código Civil, que prevê a responsabilidade pela evicção em hasta pública é, no mínimo, indevida.
Em verdade, a previsão contida no art. 447 do Código Civil, inovadora ao prever a responsabilidade por evicção de bens adquiridos em hasta pública [25], apenas reforça a conclusão de que é possível a reclamação de vícios redibitórios em hasta pública.
Trata-se de institutos afins, ambos fundados no mesmo princípio (da garantia), que tem por finalidade precípua a mantença do equilíbrio, da proporcionalidade na relação jurídica. Havendo previsão específica para a evicção e não mais se repetindo na legislação atual a proibição outrora existente no art. 1.106 do CC/1916, é de se concluir pelo permissivo legal para a reclamação. Ademais, não se pode esquecer que, em regra, tudo aquilo que não é proibido expressamente pelo sistema é permitido.
E, considerando as modificações do cenário do direito contratual com a promulgação do Código Civil de 2002, com a inserção e positivação de princípios como a função social do contrato e a boa-fé objetiva, no sentido de que o contrato deve proporcionar riquezas de modo equitativo para todos os contratantes, proporcionando o bem comum, evitando vantagens extremadas para um dos contratantes, é possível concluir que aceitar a aplicação dos vícios redibitórios para bens adquiridos em hasta pública vem de encontro a essa corrente de pensamento que atualmente predomina no direito contratual.
PRAZO PARA RECLAMAÇÃO SOBRE OS VÍCIOS REDIBITÓRIOS
Talvez de todas as situações relacionadas aos vícios redibitórios, sejam ou não modificações incluídas expressamente pelo legislador no Código Civil de 2002, a que mais discussões traz, bem como dúvidas a respeito de qual a melhor solução, é a previsão do prazo para a reclamação, mencionado no art. 445, §1º do Código Civil.
O prazo para reclamação sobre os vícios redibitórios é de importância ímpar para o instituto, porquanto é a medida da ação a ser proposta pelo adquirente do bem. É através da análise do prazo para a reclamação sobre os vícios redibitórios que o adquirente poderá praticar os atos necessários à efetividade do seu direito subjetivo.
Como todo prazo, seja de direito material ou adjetivo, a constatação do termo inicial é de fundamental importância, pois é nesse momento que se inicia o prazo (decadencial no caso da previsão do art. 445 do Código Civil) para que as medidas necessárias ao restabelecimento da situação anterior, ou ainda, da concessão do abatimento proporcional do preço, possam ser tomadas.
Importante tecer algumas considerações a respeito da intenção do legislador ao tratar de normas como a prevista no art. 445 do Código Civil, de modo a tentar, ainda que não se aprofundando muito no tema, justificar os prazos nele previstos.
Já foi mencionado algures
que a responsabilidade pelos vícios redibitórios reside na necessária garantia que o alienante de bem a título oneroso deve conceder ao adquirente, pena de enriquecimento sem causa de sua parte. Isso porque caso o defeito, oculto e que tenha passado desapercebido pelo adquirente, retira de plano o sinalagma existente na relação jurídica e caso não possa ser reclamado como forma de resolução do negócio, ou ainda, dar causa ao abatimento proporcional, por certo levará ao enriquecimento sem causa do vendedor da coisa.
Nesse sentir, é correto afirmar que a preocupação do legislador no caso dos vícios redibitórios é direcionada ao adquirente da coisa para que, constatado o defeito oculto, cuja responsabilidade é inequivocamente do alienante, possa tomar as providências necessárias ao restabelecimento do sinalagma, seja através da ação redibitória, seja da quanti minoris.
Todavia, não é só ao adquirente direcionada a proteção da norma. Além de fornecer meios e ferramentas para o adquirente se valer de seus direitos em relação aos defeitos ocultos encontrados, também não é menos verdade que é necessário buscar na norma a segurança jurídica necessária para todos os envolvidos, direta e indiretamente, na relação jurídica, de modo que reclamações ajuizadas muito tempo após a realização do negócio não possam prejudicar os alienantes, muitas das vezes terceiros de boa-fé.
Isso porque se o prazo para a reclamação for demasiado longo, ou ainda, quando não houver na lei definição precisa a respeito do início da contagem, por certo que traria ao alienante do bem, e até mesmo para terceiros que com ele venham a negociar insegurança jurídica com relação ao tempo de sua responsabilidade, em prejuízo da própria garantia de que se revestem os vícios redibitórios.
Por isso é possível afirmar que a preocupação do legislador não é somente no intento de fornecer proteção para o adquirente, mas também para que o alienante tenha tranqüilidade com relação aos termos de sua responsabilidade, propiciando segurança jurídica ao procedimento, aliado à tentativa de se criar uma maneira eficaz de proteção aos direitos decorrentes de contratos onerosos.
No direito brasileiro, a exemplo do que ocorre no direito romano, não há transmissão de propriedade pela simples declaração de vontade [26], mas sim por atos formais, que no caso dos móveis se dá pela tradição e, nos imóveis, pela transcrição da escritura no registro imobiliário. Justamente por isso é que no caso de compra e venda, exemplos mais correntes de problemas com relação aos vícios redibitórios, é somente no momento em que seja transferida a propriedade, via de regra, que começará a fluir o prazo mencionado no art. 445 do Código Civil.
A intenção do legislador em relação ao prazo parece ser propiciar ao adquirente o contato com a coisa, para que, a partir de então, seja possível, pela regular utilização, constatar eventuais defeitos existentes e tomar as medidas necessárias, previstas em lei.
A assertiva acima leva à conclusão de que a transferência da propriedade não é elemento necessário, indispensável para o início do prazo, mas sim a posse, pois é a partir daí que será possível ao adquirente tomar conhecimento dos eventuais problemas da coisa. Tanto é verdade que o art. 445 do Código Civil, segunda figura, prevê que o prazo, em caso de transferência de posse anterior à propriedade, conta-se da alienação, reduzido à metade. E a justificativa para tanto reside no fato de que ao adquirente, com a transferência da posse e, conseqüentemente, possibilidade de utilização do bem, já teria elementos suficientes para constatar eventuais defeitos que eram ocultos quando da celebração do negócio.
A intenção do legislador, portanto, é inequívoca em partir da premissa de que o adquirente após ter efetivo contato com a coisa e exercer sua posse, tenha quase que uma obrigação de constatar os eventuais defeitos ocultos, por isso que em regra é a partir daí que se inicia o prazo para a reclamação. É porque somente assim seria possível afirmar que houve o transcurso de tempo suficiente para o conhecimento dos defeitos, atingindo-se a finalidade da norma.
Da mesma forma que se exige inequívoca boa-fé objetiva por parte do alienante, de dar conhecimento de eventuais defeitos ocultos na coisa, ou ainda, mesmo que deles não tenha conhecimento, por eles responder, em respeito ao princípio da garantia, exige-se do alienante, também em respeito à boa-fé e ao princípio da segurança jurídica, que tenha contato com a coisa através da fruição da posse e tome, em determinado prazo, conhecimento e providências cabíveis com relação a esses defeitos.
No que diz respeito aos vícios ocultos, mas que da mesma forma podem ser constatados pela simples utilização da conta, os prazos são aqueles previstos no caput do art. 445 do Código Civil, parecendo simples a solução fornecida pelo legislador para a sua contagem.
O caput do art. 445 do Código Civil trata de vícios, também ocultos, mas de mais fácil constatação, aqueles que pela simples utilização já se fariam notar. Com relação aos bens móveis, o prazo é de trinta dias a contar da tradição e, dos imóveis, de um ano a contar da data da transcrição no registro imobiliário. Poderíamos citar de exemplo um problema de radiador de veículo alienado com perfuração. Nesses casos, pode ser que no momento da vistoria do imóvel não seja possível de se detectar de plano, mas é correto afirmar que da simples utilização será aferível de constatação.
Como se trata de vício passível de constatação pela simples utilização da coisa, o Código Civil traz prazos, sobretudo no que diz respeito aos móveis, menores de reclamação. E no caso do caput do art. 445 do Código Civil, maiores considerações são desnecessárias, porquanto a constatação do início do prazo para a tomada das medidas cabíveis é de fácil aferição. Importante somente mencionar que no caso de transferência da posse anterior à propriedade o prazo deverá ser contado da alienação, reduzido pela metade. Justifica-se a postura do legislador, porquanto nesse caso o adquirente já teria a posse do bem antes mesmo da transferência da propriedade, sendo-lhe possível, outrossim, conhecer a coisa e verificar eventuais defeitos previstos no caput do dispositivo. Daí porque o prazo se conta do registro do título, quando já houver a posse antes da transcrição da escritura no registro imobiliário.
O maior problema de interpretação do dispositivo, contudo, encontra-se no §1º do art. 445 do Código Civil. A intenção do legislador nesse caso foi tratar de vícios que, por sua natureza, não sejam identificáveis pelo simples uso, senão demandando mais tempo para sua constatação. Considerando que os prazos previstos no caput do art. 445 do Código Civil são relativamente pequenos, notadamente no que se refere aos bens móveis, entendeu por bem o legislador utilizar de outra estratégia para a fruição do prazo para reclamação por vícios redibitórios.
O §1º do art. 445 do Código Civil estabelece que quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo contar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias, em se tratando de bens móveis; e de 1 (um) ano, para os imóveis.
Caio Mário da Silva Pereira [27] alerta que a regra é de difícil interpretação e aplicação, e desafia a Doutrina e a Jurisprudência, porque o Código manteve no §1º o mesmo prazo do caput no que se refere aos vícios redibitórios em bens imóveis.
Uma leitura mais apressada do dispositivo levaria à conclusão de que o termo inicial para a fluência do prazo de reclamação dos vícios redibitórios seria o momento em que o adquirente tomou conhecimento do defeito. A interpretação gramatical, literal, levaria a essa conclusão. Todavia, essa interpretação traz sérios inconvenientes, notadamente para a segurança jurídica das relações negociais, demandando uma reflexão mais detida sobre o dispositivo, de modo a se encontrar a solução mais coerente com a sistemática de proteção dos
vícios redibitórios em consonância com outros princípios de direito contratual.
Pela interpretação literal do dispositivo em enfoque seria correto afirmar que o prazo para a reclamação dos vícios deveria se iniciar a partir do momento em que dele se tomou conhecimento. Assim, se determinada pessoa adquire, por exemplo, um veículo, que possua defeito oculto, mas que por sua natureza somente pudesse ser constatado mais tarde, e referido defeito fosse descoberto com dez anos da realização do negócio, ainda haveria prazo para reclamar. O mesmo se o defeito fosse constatado, por exemplo, com vinte anos da realização do negócio, sendo que no campo da hipótese é necessário realizar essas conjecturas para testar a viabilidade de aplicação de determinado modo de exegese da lei.
Arnoldo Wald [28], embora pareça concordar com a interpretação literal do dispositivo, não deixa de mostrar sua preocupação com as soluções, ou melhor, problemas daí decorrentes, ao afirmar que o Código Civil seguiu uma corrente doutrinária que defende que o prazo deve correr a partir do momento da verificação do vício. De fato, o seu art. 445, §1º, estabelece que, quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo será contado da data da ciência da sua existência até o máximo de cento e oitenta dias, para bens móveis, e de um ano, para os imóveis. Por exemplo, na entrega de máquinas, o prazo corre a partir do momento em que foram postas em funcionamento. Parece-nos um critério justo, porém subjetivo, tendente a dificultar a aplicação da justiça e a segurança nas relações contratuais.
Ocorre que mesmo em se aceitando a interpretação literal do dispositivo, sua redação não traz solução clara para o problema da contagem do prazo, porquanto logo após afirmar que o prazo começaria a fluir do momento em que do defeito tenha o adquirente tomado conhecimento, trata do prazo máximo de 180 dias para móveis e um ano para os imóveis. Mas, uma pergunta se faz necessária: 180 dias a contar de que data? Da data em que o defeito foi descoberto (na hipótese dos 10 anos de realização do negócio? Ou da transferência da posse?
Os sistemas jurídicos, quaisquer que sejam, tendem a fornecer a proteção necessária aos direitos subjetivos dos destinatários das normas na maior medida possível para ambos os pólos da relação jurídica, tendo-se notado que ultimamente as reformas, tanto no direito material como processual, tendem a fornecer ao julgador ferramentas mais eficazes para, dentro do particularismo, alcançar a justiça dentro do caso concreto. Ocorre que nem sempre é possível fornecer a almejada proteção para todas as pessoas envolvidas na relação jurídica ou para determinados direitos [29]. Assim, tarefa árdua para o legislador é encontrar o equilíbrio, necessário e indispensável, entre a proteção que se pretende conferir aos participantes da relação jurídica.
No caso dos vícios redibitórios se tem duas figuras que merecem a mesma proteção, notadamente quando se trata de relação regida pelo Código Civil, que é considerado como Código para iguais. O adquirente precisa da segurança de que o sinalagma será mantido, de modo que verificado o defeito posterior deverá exercer seu direito de forma efetiva, seja no sentido de redibir o contrato, ou ainda, de pedir o abatimento proporcional do preço. O alienante, da mesma forma, necessita de segurança de que não permanecerá indefinidamente vinculado ao negócio realizado.
Quer nos parecer que a interpretação literal do art. 445, §1º do Código Civil, no sentido de que o prazo para a reclamação a respeito dos vícios redibitórios deve se iniciar quando constatado o defeito, sendo indiferente o tempo transcorrido entre a celebração do negócio e a constatação, não é a mais adequada, pois, a despeito de conceder inequívoca proteção ao adquirente, coloca não somente o alienante, mas também terceiros de boa-fé, em situação de insegurança jurídica. Ainda, pode trazer o inconveniente inequívoco de perpetuar discussões judiciais a respeito de conflitos de interesses, também em contraposição aos interesses da sociedade de pacificação social através do processo.
Imagine-se o inconveniente de uma pessoa que aliena determinado bem e após transcorridos mais de dez anos do ato vem a ser demandado em juízo para a restituição da coisa, com devolução de valores. Por certo que o numerário decorrente da transação já teria sido utilizado em outros investimentos ou gastos e, ainda, a própria defesa na demanda restaria séria, senão irremediavelmente, prejudicada, porquanto a possibilidade de reunir provas e documentos seria ínfima, dado o tempo transcorrido.
Algumas soluções são vislumbradas para a problemática instaurada pela infeliz redação do art. 445, §1º do Código Civil.
Uma delas seria a de considerar que os prazos para a reclamação, qualquer que seja a natureza dos defeitos, aqueles mencionados no caput ou no §1º do art. 445 do Código Civil, deve necessariamente ser contado da entrega efetiva da coisa. Essa solução traria maior segurança jurídica, por certo, ao termo final para a reclamação, de modo que tanto adquirentes quanto alienantes teriam condição, através de um critério objetivo e imune a questionamentos, do termo inicial e final para a reclamação dos problemas. Traria, todavia, riscos induvidosos de injustiça, notadamente porque em relação aos bens imóveis o prazo para reclamação é o mesmo, independente da natureza do problema, ou seja, de um ano da realização do negócio.
Essa solução tem ainda outro inconveniente. Imagine-se uma situação em que um defeito, por sua característica, seja considerado aquele do §1º do art. 445 do Código Civil. Nesse caso, e seguindo a linha de interpretação acima, teria a parte somente 180 dias (no caso de móveis) para reclamar, a contar da tradição. Escoado esse prazo sem que o defeito fosse constatado, perder-se-ia o direito à reclamação. Mas, e se o defeito fosse encontrado no 179° dia da transação? Haveria tempo hábil para exercer o direito que dos vícios redibitórios decorre? Ainda que a resposta seja afirmativa, em respeito à argumentação, o direito de ação também restaria seriamente prejudicado.
Outra solução, todavia, parece possível, com vistas a resguardar a necessária diferenciação de prazos entre os diferentes tipos de vícios reconhecidos pela legislação, e ainda, fornecer segurança jurídica para todos os envolvidos na relação jurídica, que é a de sempre considerar o prazo a partir da entrega da coisa, mas com diferenciação entre o prazo final para reclamação. Assim, para os bens móveis o prazo seria de 180 dias, a contar da tradição e, quando verificado o defeito, aplicar-se-ia ainda o prazo do caput, i.e., mais 30 dias.
Para os imóveis, a mesma solução. Conta-se o prazo de um ano da transmissão da posse e, constatado o defeito nesse prazo, ter-se-ia, conforme o caput do art. 445 do Código Civil, mais um ano para a reclamação.
Essa solução, a nosso ver, traz a conveniência de evitar a abstração exacerbada sobre o início do prazo para reclamação dos vícios redibitórios, fornecendo, ainda, maior segurança jurídica a todos os envolvidos na relação jurídica, sempre atento ao princípio da garantia, mola propulsora do instituto.
CONCLUSÃO
O objetivo deste trabalho era condensar situações que ao longo do tempo foram consideradas conflitantes quando do tratamento do tema. Os vícios redibitórios, assim como vários institutos do direito privado sofreram profundas e importantes modificações, umas mais do que outras, com a promulgação do Código Civil de 2002.
É possível notar, através de uma análise das modificações por que vem passando não somente o direito brasileiro, mas de vários países europeus e mesmo da América Latina, que o positivismo, tal como propugnado por Kelsen, vem cedendo espaço a uma busca pela Justiça em cada caso concreto, como se o Juiz Hércules, idealizado por Dworkin, fosse o retrato de todo o magistrado que se depara com um problema concreto, utilizando-se de todas as ferramentas do sistema jurídico,
adaptáveis e não mais rígidas como no positivismo, para realizar a solução mais adequada para aquele caso concreto.
Não mais se encontram restrições com relação a interpretações de dispositivos legais que não retratem exatamente aquilo que consta do texto. O que se busca, induvidosamente, é a realização da justiça, na maior medida possível. E se alcançar esse desiderato significa mitigar a aplicação literal da lei, por certo que essa via estará autorizada, conforme se constata do posicionamento corrente.
Basta a leitura do art. 421 do Código Civil, que trata da função social do contrato, para que se possa alcançar essa conclusão. Referido dispositivo trata da autonomia de contratar, antes irrestrita e ampla, agora vigiada pela atuação do Estado, desde que o contrato encontre sua função social. Mas, como a função social do contrato é uma para cada situação, é possível afirmar que o julgador estará autorizado a modificar a relação jurídica sempre que constatada a violação a esse princípio, agora um dos mais importantes, do direito contratual, ainda que essa solução vá de encontro a outro dispositivo de lei.
Esse argumento é importante porquanto serve de sustentação para a solução apresentada para o problema do prazo para reclamação por vícios redibitórios no caso do §1º do art. 445 do Código Civil. Embora a solução ora proposta não seja a decorrente da interpretação literal do texto de lei, não é menos verdade afirmar que fornece, a nosso ver, a solução mais justa, porque proporciona prazo mais dilatado para o adquirente reclamar os vícios redibitórios, e ao mesmo tempo segurança jurídica para o alienante, de saber que não será demandado em um tempo demasiadamente longo da realização do negócio. Eliminam-se incertezas, fornecendo-se mais credibilidade ao sistema.
As demais soluções propostas para o caso de redução e ampliação, de reclamação em hasta pública, a nosso ver, também encontram, nessa nova realidade sistemática na qual está inserido o ordenamento jurídico, o mesmo fundamento, a mesma razão de ser.
De todo o modo, a importância dos vícios redibitórios é inequívoca, a despeito de se tratar de instituto tão antigo, mas cujas aplicações práticas até os dias de hoje se fazem não menos consideráveis em importância.
O relevo do instituto para o direito contratual certamente ainda demanda importantes reflexões para o seu aprimoramento.
�
9.5.3.1- 1º Entendimento:
Enunciado 174 da Jornada de Direito Civil (Gustavo Tependino, Marcos Jorge
Catalan, Leonardo Bessa):
o Bem Móvel: 30 dias, que começa a contar a partir da ciência do vício,
dentro de um prazo de 180 dias.
o Bem Imóvel: 1 ano, que começa a contar a partir da ciência do vício,
dentro de um prazo de 1 ano.
o OBS: não se aplica redução relativa à posse prévia.
9.5.3.2- 2° Entendimento: Caio Mário da Silva Pereira
o Bem Móvel: 30 dias, que começa a contar a partir da ciência do vício,
dentro de um prazo de 180 dias.
o Bem Imóvel: 1 ano, que começa a contar da ciência do vício, dentro de
um prazo de 1 ano.
o OBS: se aplica a redução relativa à posse prévia.
9.5.3.3- 3º Entendimento: Flávio Tartuce, Maria Helena Diniz, Caio Mário, (majoritária)
o Bem Móvel: 180 dias, que começa a contar a partir da ciência do vício.
o Bem Imóvel: 1 ano, que começa a contar a partir da ciência do vício.
o OBS: não se aplica a redução relativa à posse prévia.
Sílvio Rodrigues (2002, p.110) não faz qualquer menção a uma suposta dificuldade de interpretação. Apenas menciona a literalidade do disposivo. 
Enunciado 174, CJF – Art. 445: Em se tratando de vício oculto, o adquirente tem os prazos do caput do art. 445 para obter redibição ou abatimento de preço, desde que os vícios se revelem nos prazos estabelecidos no parágrafo primeiro, fluindo,
entretanto, a partir do conhecimento do defeito.	
Dispõe, a propósito, o § 1º do art. 445 do Código Civil que, em se tratando de vício que “só puder ser conhecido mais tarde”, a contagem se inicia no momento em que o adquirente “dele tiver
ciência”, com “prazo máximo de cento e oitenta dias em se tratando de bens móveis, e de um ano,
para os imóveis”.

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