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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE ECONOMIA O Modelo de Fatores Específicos Profa. Ma. Josélia E. Teixeira MODELO DE FATORES ESPECÍFICOS I. INTRODUÇÃO Com o modelo de fatores específicos (Paul Samuelson e Ronald Jones), procura-se analisar, entre outros temas, o impacto do comércio internacional sobre a distribuição de renda interna aos países envolvidos. Este não é o único modelo capaz de tratar o tema da distribuição de renda, mas é um modelo que se destaca nesta modalidade de análise. MODELO Para tratar da questão da distribuição de renda interna, o novo modelo exige alterações em diversas hipóteses simplificadoras do modelo ricardiano. No modelo de fatores específicos mais simples há dois países, dois bens e três fatores de produção (Capital, Terra e Mão de Obra). As tecnologias de produção estão sujeitas a rendimentos marginais decrescentes, sendo Capital e Terra específicos dos respectivos setores de produção, vale dizer, estes recursos não podem ser deslocados da produção de um bem para a de outro. O trabalho, como no modelo Ricardiano, permanece homogêneo e móvel entre os setores. O Modelo de Fatores Específicos • 1) Estrutura: • a) 2 bens • i) Manufaturas (M) • ii) Alimentos (A) • b) 2 países • i) local (doméstico) • ii) estrangeiro (“*”) • c) 3 fatores escassos • i) 2 específicos aos setores (indústrias) • (1) Capital , K, usado apenas na produção de • manufaturas • (2) Terra, T, usado apenas na produção de • alimentos • ii) 1 fator não específico • (1) mão de obra, L, usada tanto na produção de • manufaturas, LM, quanto na produção de • alimentos, LA. d) Tecnologia - Funções de Produção: i) Produção de Manufaturas QM = QM (K, LM) • ∂QM = PMgLM > 0 (Produtividade Mg do L positiva) ∂L • ∂PMgLM < 0 s (Rendimentos Marginais decrescentes) ∂L • ∂QM = PMgLk > 0 (Produtividade Mg do capital positiva) ∂K ii) Produção de Alimentos • QA = QA (T, LA) • ∂QA = PMgLA > 0 (Produtividade Mg do L positiva) ∂L • ∂PMgLA < 0 (Rendimentos Marginais decrescentes) ∂L • ∂QA = PMgTA > 0 (Produtividade Mg da terra positiva) ∂T • e) Graficamente (F= Food = Alimentos) : i) Produtividade Marginal do Trabalho Positiva e formato da Função de Produção ii) Produtividade Marginal do Trabalho Decrescente iii) Aumento no estoque do capital - a PMgL aumenta para cada nível de utilização de trabalho: iv) Pleno Emprego: a condição de pleno emprego dos fatores agora é tríplice: • (1) K = K - todo o estoque de capital é utilizado • (2) T = T - todo o estoque de terra é utilizado • (3) L = LM + LA v) se as condições (a), (b) e (c) forem satisfeitas, a economia estará empregando plenamente seus recursos, situações mostradas sobre a Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP). Supõe-se, nesta análise, que a economia esteja operando em pleno emprego, ou seja, que as três condições acima sejam satisfeitas. Solução do Modelo (Gráfica) Explicação do gráfico • a) Interessa-nos nesta análise entender a lógica • subjacente à FPP de um país. Para tanto, as • informações necessárias são: • i) O montante disponível de cada fator de produção, K, • T e L. • ii) As tecnologias disponíveis para produzir manufaturas • e alimentos (food). • b) O gráfico mostra nos quadrantes superior esquerdo e • inferior direito as funções de produção de alimentos e • manufaturas, respectivamente. Na construção destas • curvas, supõe-se que os estoques de insumos • específicos, T e K, sejam iguais aos totais disponíveis • na economia, o que assegura o pleno emprego destes • dois fatores na análise. c) Para garantir o pleno emprego da mão de obra, o quadrante inferior esquerdo mostra a restrição de plena utilização deste fator, que pode ser deslocado, sem custos, entre os dois setores (produção de alimentos e de manufaturas). Sobre a restrição L = LA + LM, a mão de obra está plenamente empregada. d) Postas estas considerações, a obtenção da FPP é bastante simples: i) Tome um ponto sobre a restrição de plena utilização de trabalho (quadrante inferior esquerdo), ela define quanta mão de obra será alocada, em pleno emprego, na produção dos dois tipos de bens. ii) Dados os estoques de K e T, que definem as posições das funções de produção, as quantidades de mão de obra alocada em cada setor definem as quantidades produzidas de Alimentos (no quadrante superior esquerdo) e de manufaturas (no quadrante inferior direito). Estas quantidades são as máximas que podem ser produzidas nesta economia para a alocação de mão de obra escolhida. A combinação das quantidades de alimentos e manufaturas pode ser projetada no quadrante superior direito, sendo um ponto da FPP. iii) Repetindo os passos (i) e (ii) para todas as possíveis alocações de mão de obra entre os setores, obtém-se a FPP. e) Note que a FPP é convexa em relação à origem. Este formato é devido às características das funções de produção de manufaturas e de alimentos, ambas sujeitas a rendimentos marginais decrescentes dos fatores. f) Partindo de um ponto da FPP, uma elevação na produção de alimentos exige, necessariamente, uma redução da produção de manufaturas. De fato, a inclinação da FPP neste ponto (a inclinação da tangente à FPP no ponto escolhido) é dada por: dQA =- aLM dQM aLA pois para produzir mais uma unidade de manufaturas são necessárias aLM horas de trabalho adicionais, que serão retiradas da produção de alimentos. Para saber quantas unidades de alimentos deixarão de ser produzidas para aumentar a produção de manufaturas, divide-se aLM por aLA, ou seja, transforma-se o número de horas necessárias para aumentar a produção de manufaturas em unidades de alimentos. g) Este raciocínio é idêntico ao usado no modelo ricardiano, mas uma diferença importante deve ser notada. No modelo ricardiano a FPP era linear, ou seja, a inclinação da FPP era constante, pois as tecnologias estavam sujeitas a uma PMgL constante. Agora, com especificação das tecnologias mais realista, a PMgL nos dois setores é decrescente, pelo que a FPP fica menos inclinada na medida em que mais alimentos são produzidos. Para melhor entender este ponto, reescreva a fórmula da inclinação da FPP, lembrando da relação entre o coeficiente de utilização de insumos e a produtividade marginal: dQA = aLM = - 1/PmgLM = - PmgLA dQM aLA 1/ Pmg LA PmgLM como o deslocamento de mão de obra do setor de manufaturas para o setor de alimentos diminui a PmgLA e aumenta a PMgLM, a inclinação da FPP diminui quando se caminha em direção à especialização na produção de alimentos. A interpretação disto é bastante simples, para produzir mais e mais alimentos é necessário arcar com os custos crescentes em fazê-lo: tanto a produtividade marginal do trabalho diminui na produção de alimentos (mais horas de trabalho são necessárias à produção de cada unidade de alimentos adicional), quanto o custo da redução na produção de manufaturas aumenta (mais unidades de manufaturas são deixadas de produzir a cada unidade de mão de obra deslocada para a produção de alimentos). SALÁRIOS, PREÇOS E ALOCAÇÃO DA MÃO DE OBRA O atual estágio da análise já permite que algumas conclusões importantes sejam realizadas. Lembre-se que a mão de obra é homogênea e pode se deslocarentre os dois setores livremente. Como no modelo de Ricardo, os salários pagos nos dois setores precisam ser, sob tais hipóteses, idênticos. Como as firmas maximizam os lucros, isto significa que: PMgLM x P M = w PMgLA x P A = w Dividindo uma expressão pela outra: • -PMgLA/PMgLM = - PM/ PA • o que mostra que o preço relativo das manufaturas em • termos dos alimentos é igual ao valor (em módulo) da • inclinação da FPP. Isto significa que quando a economia • tende a se especializar na produção de alimentos, o • preço das manufaturas tende a cair, vale dizer, o preço • dos alimentos precisa aumentar. Resposta da produção a uma mudança no preço relativo das manufaturas A alocação da mão-de-obra Aumento proporcional igual nos preços das manufaturas e dos alimentos Uma Mudança Proporcional nos Preços de todos os bens deixa os preços relativos inalterados e não traz efeitos reais na economia. Posto de outra forma, se tanto os preços das manufaturas quanto os preços dos alimentos aumentarem na mesma proporção, as curvas do valor da demanda por trabalho se deslocariam verticalmente para cima pela mesma distância, sem interferir na alocação de trabalho entre os setores: O salário também aumenta na mesma proporção dos preços. A inflação proporcional de todos os preços, inclusive os da utilização dos fatores de produção, não tem efeitos reais em mercados perfeitamente competitivos! Um aumento no preço das manufaturas Distribuição da renda e Preços Relativos Mudando o estoque de capital Comércio e Preços Relativos a) Se as economias em autarquia trabalham com preços relativos diferentes, a teoria das vantagens comparativas sugere que há potencial ganho com o comércio. • b) O comércio internacional implicará uma • homogeneização dos preços relativos na economia • doméstica e estrangeira, de fato, os preços serão • determinados pelo equilíbrio no mercado mundial, • conforme mostra o gráfico abaixo: Comércio e Preços Relativos c) A oferta relativa do país A, RSA, indica que em autarquia os preços relativos das manufaturas são maiores do que os internacionais. Assim, a abertura do país A ao comércio fará com que este aumente a produção de alimentos, importando manufaturas (relativamente) mais baratas, do exterior (país J). O oposto ocorrerá no país J, que aumentará a produção de manufaturas, importando os alimentos (relativamente) mais baratos do país A. d) As mudanças nas alocações de recursos nos dois países continuarão até que os preços relativos em ambos sejam iguais, vale dizer, a produção em ambos os países se situará no ponto da respectiva FPP em que uma tangente tenha inclinação igual aos preços relativos mundiais. O comércio expande a possibilidade de consumo da economia Restrição orçamentária Referências • KRUGMAN, P. R.; OBSTFELD, M. Economia Internacional: Teoria e Política. 5° ed. SP: Makron, 2004.
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