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RESUMO HUMBERTO ÁVILA

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INTRODUÇÃO: 
 
 Desde o final da Segunda Guerra Mundial, e principalmente, após o processo de Nuremberg (1945-1946), uma nova ideologia jurídica deu lugar ao positivismo, o pós - positivismo, que reintroduziu a necessidade de relacionar o conceito de direito com o conceito de justiça, defendendo a existência de princípios gerais do direito, aos qu ais todas as decisões judiciárias deveriam sempre remontar. 
Os princípios gerais do direito seriam enunciações normativas de valor genérico, que condicionam e orientam a compreensão do ordenamento jurídico no que diz respeito a sua aplicação e integração ou até mesmo na elaboração de novas normas . A partir de 1945, tais princípios se revestiram de tamanha importância que o legislador passou a conferir-lhes força de lei, incorporando-os, principalmente no plano constitucional, sob a forma de direitos fundamentais. Sobre tal fato, Miguel Reale cita Simonius, quando este afirma que “o direito vigente está impregnado de princípios até as suas últimas ramificações” . 
 Essa importância dada aos princípios jurídicos estimulou a produção de diversas obras sobre o assunto, sendo bastante comuns as que tratam da distinção entre princípios e normas jurídicas. 
Humberto Ávila, no entanto, considera que a separação entre as espécies normativas já virou uma espécie de moda, de forma que a maior parte dessas obras dispensa maiores aprofundamentos e termina por semear não mais o conhecimento crítico das espécies normativas, mas a crença de que elas são dessa maneira. 
 Em sua obra Teoria dos Princípios, Humberto Ávila se dispõe a criticar as principais teorias defendidas pela doutrina em geral a fim de que uma argumentação sobre o assunto ajude a estimular maiores debates no meio jurídico, permitindo um maior desenvolvimento do conhecimento sobre as espécies normativas. 
Conceito de Princípio
A tarefa de apresentar um conceito para princípio não é das mais fáceis. Muito se tem escrito sobre o tema, de forma que grandes doutrinadores do direito divergem, adotando os mais variados métodos distintivos.
Destacamos que a importância de se apresentar um conceito para princípio se consubstancia na necessidade de se compreender bem o tema e permitir que, conhecendo seu conceito, identifiquemo-lo mais facilmente, de modo que nos permitirá aplicar a técnica adequada ao caso, em se tratando de eventual colisão entre princípios ou entre regras.
Como destaca Robert Alexy:
"Clareza conceitual, ausência de contradição e coerência são pressupostos da racionalidade de todas as ciências. Os inúmeros problemas sistemático-conceituais dos direitos fundamentais demonstram o importante papel da dimensão analítica no âmbito de uma ciência prática dos direitos fundamentais que pretenda cumprir sua tarefa de maneira racional." [01]
Nota-se, a par disso, a imprescindibilidade de se apresentar um conceito, ou, ao menos, delimitá-lo, para que se entenda corretamente o objeto de estudo.
Como aduz Alexy, "princípios são mandamentos de otimização em face das possibilidades jurídicas e fáticas". [02] Entretanto, não se pode olvidar de apresentar as distintas definições que a doutrina construiu ao longo de anos de discussão, réplicas e tréplicas, consolidando vasto material para pesquisa sobre o assunto.
A tarefa de conceituar algum instituto do direito é, sem dúvida, muito perigosa. Lembremos da visão do direito como problema, da máxima do direito romano que tinha como baliza o omnis definitio in iure civilis periculosa est; parum est enim, ut non subverti posset, que pode ser assim entendida: toda a definição é perigosa em direito civil, porque é difícil que não possa ser subvertida. No entanto, convém sejam feitas breves considerações a respeito da conceituação apresentada pela doutrina.
De plano, destaca-se o que é ensinado por José Afonso da Silva, para quem a palavra princípio é equívoca, pelo fato de apresentar sentidos diversos, conformando acepção de começo, de início. [03] Obviamente não será esta a acepção abordada neste trabalho. Trataremos da palavra em seu sentido jurídico, a partir de seu significado para o direito e seus operadores, ou seja, princípio como norma jurídica.
Pelo que adverte Luís Roberto Barroso:
"(...) O papel do cientista natural é a descrição de sistemas reais, do modo de ser de determinado objeto. O Direito não é uma ciência da natureza, mas uma ciência social. Mais que isso, é uma ciência normativa. Isso significa que tem a pretensão de atuar sobre a realidade, conformando-a em função de certos valores objetivos. O Direito visa a criar sistemas ideais: não se limita a descrever como um determinado objeto é, mas prescreve como ele deve ser." [04]
Logo, pode-se compreender que, distintamente da ciência natural, a ciência do direito é normativa, operando na esfera do dever-ser. Por essa razão, o seu objeto é a norma jurídica, por tratar-se de uma ciência normativa. Portanto, complementa Barroso, "normas jurídicas são o objeto do Direito, a forma pela qual ele se expressa." Deixa claro o autor que estas normas são "prescrições, mandamentos, determinações que, idealmente destinam-se a introduzir a ordem e a justiça na vida social." [05]
Nesse sentido, Leo Van Holthe entende que as normas jurídicas constituem o gênero, do qual são espécies as regras e os princípios jurídicos. [06] Ademais, Barroso também conclui que veio a se consolidar na teoria do direito o entendimento que normas jurídicas são, sim, "um gênero que comporta, em meio a outras classificações, duas grandes espécies: as regras e os princípios." [07]
Norberto Bobbio, citado por Dirley, acrescenta que:
"Os princípios gerais são apenas... normas fundamentais ou generalíssimas do sistema, as normas mais gerias. A palavra princípios leva a engano, tanto que é velha a questão entre os juristas se os princípios gerais são normas. Para mim não há dúvida: os princípios gerais são normas como todas as outras. E esta é também a tese sustentada por Crisafulli. Para sustentar que os princípios gerais são normas, os argumentos são dois, e ambos válidos: antes de mais nada, se são normas aquelas das quais os princípios gerais são extraídos, através de um procedimento de generalização sucessiva, não se vê por que não devam ser normas também eles: se abstraio da espécie animal obtenho sempre animais, e não flores ou estrelas. Em segundo lugar, a função para a qual são extraídos e empregados é a mesma cumprida por todas as normas, isto é, a função de regular um caso. E com que finalidade são extraídos em caso de lacuna? Para regular um comportamento não regulado: ma então servem ao mesmo escopo a que servem as normas expressas. E por que não deveriam ser normas?" [08]
Princípios são normas jurídicas. Esta seria uma conceituação válida, correta, porém incompleta, uma vez que não nos apresenta condições de distingui-los dentre as demais normas. Cabe, portanto, agregar-se a este conceito elementos definidores capazes de possibilitar a identificação de um princípio.
Mais uma vez recorrendo às lições de Luís Roberto Barroso, destaca-se que o autor traz à discussão o caráter valorativo dos princípios:
"O reconhecimento da distinção valorativa entre essas duas categorias e a atribuição de normatividade aos princípios são elementos essenciais do pensamento jurídico contemporâneo. Os princípios – notadamente os princípios constitucionais – são a porta pela qual os valores passam do plano ético para o mundo jurídico. Em sua trajetória ascendente, os princípios deixaram de ser fonte secundária e subsidiária do Direito para serem alçados ao centro do sistema jurídico." [09]
Este mesmo constitucionalista, ao escrever o artigo intitulado Neoconstitucionalismo e Constitucionalização do Direito, adota a concepção que "há direitos fundamentais que assumem a forma de princípios (liberdade, igualdade) e outros a de regras (irretroatividadeda lei penal, anterioridade tributária). Ademais, há princípios que não são direitos fundamentais (livre-iniciativa)." [10]
Robert Alexy, ao tratar do duplo caráter das normas de direitos fundamentais, afirma que estas normas podem ser regras, podendo, igualmente, serem apresentadas como princípios, sendo possível, em alguns casos, possuírem estas normas o duplo caráter, qual seja, o de regra e de princípio. [11]
Humberto Ávila, ao escrever sobre a teoria dos princípios, traça um panorama no qual apresenta a definição de Josef Esser, para quem "princípios são aquelas normas que estabelecem fundamentos para que determinado mandamento seja encontrado", bem como a conclusão a que chega Karl Larenz que aduz que princípios são "normas de grande relevância para o ordenamento jurídico, na medida em que estabelecem fundamentos normativos para a interpretação e aplicação do Direito, deles decorrendo, direta ou indiretamente, norma de comportamento". [12]
Nesse passo, Ávila conclui que:
"Daí a definição de princípios como deveres de otimização aplicáveis em vários graus segundo as possibilidades normativas e fáticas: normativas, porque a aplicação dos princípios depende dos princípios e regras que a eles se contrapõem; fáticas, porque o conteúdo dos princípios como normas de conduta só pode ser determinado quando diante dos fatos." [13]
Por fim, Canotilho esclarece que "os princípios são normas jurídicas impositivas de uma optimização, compatíveis com vários graus de concretização, consoante os condicionalismos fácticos e jurídicos" [14]
Em suma, apesar de diversa a conceituação, pode-se concluir que há uma certa unidade conceitual implícita, de modo que o conceito sintético de princípio apresentado por Alexy, "princípios são mandamentos de otimização", [15] nos traz a clareza necessária para introduzirmos a discussão sobre o tema, corroborada pelos ensinamentos de Barroso que destaca que "os princípios são – notadamente os princípios constitucionais – a porta pela qual os valores passam do plano ético para o mundo jurídico". [16]
Distinção entre regras e princípios
Apresentada a conceituação de princípio, convém, pois, traçarmos aspectos distintivos entre as regras e os princípios, visto que ambos são espécies de normas jurídicas, como já visto, e comumente são confundidas, não sabendo o intérprete, ao certo, qual delas se apresenta no enunciado normativo.
É cediço que a discussão sobre a distinção destes institutos não é recente e possui grande relevância prática, ao passo que a "distinção qualitativa entre as duas categorias e a atribuição de normatividade aos princípios são elementos essenciais do pensamento jurídico contemporâneo". [17]
Humberto Ávila apresenta um panorama da evolução da distinção entre estes institutos, podendo resumir da seguinte forma seus estudos: para Josef Esser, o critério distintivo estaria na "função de fundamento normativo para a tomada de decisão", ou seja, seria uma distinção qualitativa; para Karl Larenz, distinguem-se também em "função de fundamento normativo para a tomada de decisão, sendo a qualidade decorrente do modo de formulação da prescrição normativa", posto que os princípios "não são regras suscetíveis de aplicação"; já para Canaris a distinção se dá pelo fato de os princípios possuírem "conteúdo axiológico explícito" e necessitarem de regras para serem concretizados, além de serem precedidos de "processo dialético de complementação e limitação"; para Dworkin, a distinção "não consiste numa distinção de grau, mas numa diferenciação quanto à estrutura lógica, baseada em critérios classificatórios"; e Alexy os distingue por entender que os princípios possuem "apenas uma dimensão de peso e não determinam as consequências normativas de forma direta, ao contrário das regras". [18]
Dos autores citados por Humberto Ávila, nós analisaremos mais detidamente alguns aspectos da teoria de Dworkin e a de Robert Alexy, por entendermos serem as que mais citados em estudos sobre o tema.
Ronald Dworkin, ao escrever o livro Levando os Direitos a Sério, faz uma distinção entre regras e princípios a partir da apresentação de casos práticos, os quais não seriam resolvidos, segundo ele, se adotássemos métodos clássicos de interpretação de regras.
"A diferença entre princípios jurídicos e regras é de natureza lógica. Os dois conjuntos de padrões apontam para decisões particulares acerca da obrigação jurídica em circunstâncias específicas, mas distinguem-se quanto à natureza da orientação que oferecem. As regras são aplicáveis à maneira do tudo-ou-nada. Dados os fatos que uma regra estipula, então ou a regra é válida, e neste caso a resposta que ela fornece deve ser aceita, ou é inválida, e neste caso em nada contribui para a decisão." [19]
Como se depreende, o jurista, introdutoriamente, apresenta a técnica utilizada para se verificar a possibilidade de aplicar ou não determinada regra. Sendo válida para o caso concreto, a regra será aplicada; no entanto, se inválida, não será aplicada. Por isso chama essa forma de resolução de tudo-ou-nada. Ressalta-se, porém, que o próprio Dworkin alerta-nos para o fato de que as regras podem ter exceções, as quais devem estar no enunciado normativo.
"Contudo, um enunciado correto da regra levaria em conta essa exceção; se não fizesse, seria incompleto. Se a lista de exceções for muito longa, seria desajeitado demais repeti-la cada vez que a regra fosse citada; contudo, em teoria não há razão que nos proíba de incluí-las e quanto mais o forem, mais exato será o enunciado da regra." [20]
Ao tratar de princípios, Dworkin afirma que estes possuem uma dimensão de peso ou importância que as regras não têm, de modo que, em caso de colisão, o que tiver maior peso se sobreporá ao outro, sem que este perca a sua validade [21].
Inobstante a isso, Robert Alexy faz referência a alguns critérios para distinguir os institutos: critério da generalidade, "a determinação dos casos de aplicação, a forma de seu surgimento, (...) o caráter explícito de seu conteúdo axiológico, a referência à ideia de direito ou a uma lei jurídica suprema e a importância para a ordem jurídica" [22].
Prossegue Alexy, afirmando que outro fator distintivo é o fato de os princípios "serem razões para regras ou serem eles mesmos regras", ressaltando, ainda, a possibilidade de se constituírem "normas de argumentação ou normas de comportamento". [23]
Entende o supracitado autor que a distinção qualitativa é a acertada e aponta critério que se assemelha ao apresentado por Dworkin:
"O ponto decisivo na distinção entre regras e princípios é que os princípios são normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes. Princípios são, por conseguinte, mandamentos de otimização, que são caracterizados por poderem ser satisfeitos em graus variados e pelo fato de que a medida devida de sua satisfação não depende somente das possibilidades fáticas, mas também das possibilidades jurídicas. O âmbito das possibilidades jurídicas é determinado pelos princípios e regras colidentes.
Já as regras são normas que são sempre ou satisfeitas ou não satisfeitas. Se uma regra vale, então, deve se fazer exatamente aquilo que ela exige; nem mais, nem menos. Regras contêm, portanto, determinações no âmbito daquilo que é fática e juridicamente possível. Isso significa que a distinção entre regras e princípios é uma distinção qualitativa, e não uma distinção de grau." [24]
Ante o quanto exposto, é inevitável concluir que são inúmeros os critérios distintivos, sobretudo pelo fato de termos lançado mão de apenas alguns dos que a doutrina aponta como suficientes para efetuar a delimitação do que vem a ser cada espécie de norma ora estudada.
Luís Roberto Barroso sintetiza e classifica os referidos critérios [25], sem, contudo, por fim à discussão. O primeiro critério que Barroso apresenta tem por parâmetro de análise o conteúdo da norma. Nesse particular, os princípios "são normas que expressam decisões políticas fundamentais", "valoresa serem observados em razão de sua dimensão ética", "ou fins públicos a serem seguidos". De outra sorte, as regras jurídicas não conduzem a "valores ou fins públicos porque são a concretização destes". Isso ocorre porque o legislador, diferentemente do que fizera quanto aos princípios, não deixou para o intérprete a avaliação das condutas aptas à realização das regras. [26]
Distinguem-se também, afirma Barroso, quanto à estrutura normativa. À medida que, enquanto os princípios "apontam para estados ideais a serem buscados", sem descrever objetivamente a conduta a ser seguida, as regras, ao revés, descrevem comportamentos, dando ao intérprete pequena margem de interferência em caso de se atribuir "sentidos aos seus termos e na identificação de suas hipóteses de identificação". Logo, enquanto os primeiros "são normas predominantemente finalísticas", as "regras são normas predominantemente descritivas". [27]
Por fim, pelo modo de aplicação é que Barroso entender residir a principal distinção entre as duas espécies normativas, retomando o que fora assinalado linhas acima: regras são aplicadas na modalidade tudo ou nada, restando violada caso deixe de ser aplicada à sua hipótese de incidência. Opera-se a subsunção, enquadrando-se o fato na norma de modo a se chegar a uma conclusão objetiva, pois são comandos definitivos, visto que, para que não seja aplicada é necessário que exista uma regra de exceção ou que seja inválida.
No que respeita aos princípios, estes "indicam uma direção, um valor, um fim"; não sendo aplicados na modalidade tudo ou nada, posto que assumem uma dimensão de peso no caso concreto. Observe-se que não há um peso estabelecido previamente para cada princípio, mas será a situação específica que conduzirá o intérprete ao exercício de ponderação a fim de definir, naquelas circunstâncias do caso em análise qual princípio apresenta maior peso. [28]
Conclui, pois, Roberto Barroso:
"Por isso se diz que princípios são mandamentos de otimização: devem ser realizados na maior intensidade possível, à vista dos demais elementos jurídicos e fáticos presentes na hipótese. Daí decorre que os direitos neles fundados são direitos prima facie – isto é, poderão ser exercidos em princípio e na medida do possível." [29]
Colisão entre princípios e conflito entre regras
Obviamente, tem-se que perquirir que tipo de norma está a colidir, no caso concreto, para que se aplique a técnica adequada à solução do conflito. Isso porque, conforme já acima esposado, a forma de solução do eventual conflito se distinguirá de acordo com a espécie normativa verificada.
Em se tratando de regra, a solução não guarda maior complexidade. Cabe ressaltar que "as regras têm a função de gerar uma solução para um conflito, evitando que a controvérsia entre valores morais que elas afastam ressurjam no momento de aplicação". [30]
Entretanto, em que pese essa função peculiar de solução de conflito, as próprias regras podem entrar em conflito. De acordo com o que nos ensina Ronald Dworkin:
"Se duas regras entram em conflito, uma delas não pode ser válida. A decisão de saber qual delas é válida e qual deve ser abandonada ou reformulada, de ser tomada recorrendo-se a considerações que estão além das próprias regras. Um sistema jurídico pode regular esses conflitos através de outras regras que dão precedência à regra promulgada mais recentemente, à regra mais específica ou outra coisa desse gênero. Um sistema jurídico também pode preferir a regra sustentada pelo princípio mais importante." [31]
Na mesma linha, Robert Alexy afirma que "um conflito entre regras somente pode ser solucionado se se introduz, em uma das regras, uma cláusula de exceção que elimine o conflito, ou se pelo menos uma delas for declarada inválida". [32]
Assevera Alexy que se o conflito não for resolvido pela inclusão de uma cláusula de exceção, o será "por meio de regras como Lex posterior derogat lige priori e Lex specialis derogat legi generali". Por esta razão, conclui-se que os "conflitos entre regras ocorrem na dimensão da validade". [33]
Encontraremos solução diversa quando, no caso concreto, constatarmos conflito entre princípios. Pois, estes, ao contrário das regras, podem colidir, mesmo que ambos sejam válidos. Não se trata de verificar qual dos princípios colidentes é inválido como se faz no caso de colisão entre regras, mas sim, de se perquirir qual tem maior peso na análise fática.
Alexy sintetiza:
"Se dois princípios colidem – o que ocorre, por exemplo, quando algo é proibido e, de acordo com o outro, permitido -, um dos princípios terá que ceder. Isso não significa, contudo, nem que o princípio cedente deva ser declarado inválido, nem que nele deverá ser introduzida uma cláusula de exceção." [34]
O que nos afirma o autor alemão é que "um dos princípios tem precedência em face do outro sob determinadas condições". No entanto, em outras "condições a questão da precedência pode ser resolvida de forma oposta". Naturalmente, conclui o autor, que "isso é o que se quer dizer quando se afirma que, nos casos concretos os princípios têm pesos diferentes e que os princípios com maior peso têm precedência". [35]
Não há prevalência prima facie de um princípio em relação a outro. Isso porque, de acordo com Celso Ribeiro Bastos, citado por Manoel Jorge, "Pode-se argumentar corretamente que todos os direitos individuais são passíveis de limitação." Manoel Jorge apresenta também uma hipótese que acredita configurar-se exceção: "Talvez o único que escape a tal regra é o direito à igualdade perante a lei, que, por sua vez, não elide adequação interpretativa." [36]
Por essa razão, o eventual conflito entre princípios [37] não será resolvido com a invalidação, mas com o sopesamento entre esses interesses colidentes. Este sopesamento tem por objetivo definir qual dos interesses que, embora abstratamente estejam no mesmo nível, tem maior peso no caso concreto. [38]
É a partir do sopesamento que Alexy apresenta a lei de colisão. O autor nos ensina, portanto, que é possível se estabelecer a seguinte premissa, que servirá de base: "em um caso concreto, o princípio P1 tem um peso maior que o princípio P2 se houver razões suficientes para que P1 prevaleça sobre P2 sob as condições C, presentes nesse caso concreto". [39] Logo, estando presentes as condições "C", caso colidam P1 e P2 é possível que se estabeleça a priori que, em dadas condições, um dos princípios terá maior peso, prevalecendo diante do outro.
Reafirma Alexy que duas normas quando consideradas isoladamente podem levar a conclusões contraditórias, no entanto não se pode imaginar, por isso, que uma invalidará a outra, visto que não há precedência absoluta de nenhuma delas. Essa precedência só pode ser avaliada à luz do caso concreto. [40]
Diante dessa análise, é apresentada a seguinte conclusão com base na lei de colisão: "As condições sob as quais um princípio tem precedência em face de outro constituem o suporte fático de uma regra que expressa a consequência jurídica do princípio que tem precedência." [41]
Como exemplo, para deixar o mais claro possível esse entendimento, pode-se dizer que quando o legislador optou por criar a regra que possibilita a aplicação da prisão preventiva, verificou que em determinadas condições fáticas o princípio da segurança pública se sobrepõe aos direitos individuais da liberdade, ainda que não tenha ocorrido o devido processo legal nem a imposição de uma pena.
Por fim, aduz-se que "a ponderação de bens consiste num método destinado a atribuir pesos a elementos que se entrelaçam, sem referência a pontos de vista materiais que orientem esse sopesamento". Torna-se, portanto, evidente que "a ponderação, sem uma estrutura e sem critérios materiais, é instrumento pouco útil para a aplicação do Direito". [42]
Ávila chega à conclusão assemelhada àquela a que chega Alexy, asseverando que "os estudos sobre a ponderação invariavelmente procuram estruturar a ponderação com os postulados de razoabilidade e de proporcionalidade e direcionar a ponderação mediante utilizaçãodos princípios constitucionais fundamentais". [43]
Princípio da proporcionalidade
Para Ávila, a ponderação se realiza em três etapas: a primeira seria a "preparação da ponderação", na qual se analisam todos os elementos e argumentos de forma exaustiva; a segunda etapa é a da "realização da ponderação", pela qual se fundamenta a "relação estabelecida entre os elementos objeto de sopesamento"; e a última seria a da "reconstrução da ponderação", realizada "mediante a formulação de regras de relação, inclusive de primazia entre os elementos de sopesamento, com a pretensão de validade para além do caso." [44]
Robert Alexy, ao tratar do tema, afirma que esta é feita com a aplicação da "máxima da proporcionalidade", subdividindo-o em três "máximas parciais": adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito. [45]
Para Alexy, meio idôneo ou adequado é aquele capaz de concretizar o direito fundamental. Logo, caso o meio utilizado não concretize, efetivamente, o direito fundamental, será inidôneo. Constitui-se uma análise da possibilidade fática. [46]
Humberto Ávila esclarece que:
"A adequação exige uma relação empírica entre o meio e o fim: o meio deve levar à realização do fim. Isso exige que o administrador utilize um meio cuja eficácia (e não o meio, ele próprio) possa contribuir para a promoção gradual do fim". [47]
Adverte, com efeito, Humberto Ávila que para que se compreenda essa relação entre meio e fim deve-se responder a três perguntas:
"O que significa meio adequado à realização do fim? Como deve ser analisada a relação de adequação? Qual deve ser a intensidade de controle das decisões adotadas pelo Poder Público?". [48]
Passando à análise da necessidade, verifica-se se a concretização do direito fundamental (P1) é a menos gravosa para o direito fundamental (P2). Portando, se houver meio menos gravoso para que se exercite o P1, não será necessário o que foi implementado. Trata-se, também, de verificação de possibilidades fáticas, conforme leciona Alexy.
Para Humberto Ávila, trata-se da "verificação da existência de meios que sejam alternativos àquele inicialmente escolhido". [49] Quer-se saber se há meios que possam realizar o direito fundamental, de maneira a restringir em menor intensidade o princípio afetado.
Nesta fase, se "estabelece si la importancia de satisfacer el principio opuesto". [50]
O terceiro passo é a análise da proporcionalidade em sentido estrito, como afirma Alexy, "mandamento de sopesamento propriamente dito" [51]. Nem sempre se chega a esta fase. Constitui-se numa análise jurídica.
Quanto mais alto é o grau do não cumprimento ou do prejuízo do princípio, tanto maior deve ser a importância do cumprimento do outro. Para sacrificar um princípio, o outro deve possuir maior peso, no caso concreto. "Finalmente, em la tercera etapa se establece si la importancia de satisfacer el segundo principio justifica el detrimento o la satisfacción del primer principio" [52].
Deve-se atribuir valores, pesos, importância, significado aos princípios. São três as etapas a se seguir nesta fase: analisa-se o grau de sacrifício ao princípio (baixo, médio, alto); bem como o grau de importância do outro princípio (baixo, médio, alto) e, por fim, verifica se a concretização de um compensa o sacrifício do outro.
Se o peso do primeiro é alto, deve-se sacrificar o segundo. Se a importância do segundo é alta, não se deverá privilegiar o primeiro. É um procedimento altamente racional, pelo qual se realiza um juízo racional sobre o sacrifício e a importância dos princípios. [53]
Na sistematização desta fase, Ávila, ao descrevê-la como a "comparação entre a importância de realização do fim e a intensidade da restrição aos direitos fundamentais", indaga: "O grau de importância da promoção do fim justifica o grau de restrição causada aos direitos fundamentais?". [54]
Na hipótese de resposta positiva para a pergunta feita, concluir-se-á que a restrição imposta a um dos princípios colidentes guarda proporcionalidade.
 
DO POSTIVISMO AO PÓS-POSITIVISMO: 
 
 O positivismo, surgido com a Revolução Francesa, foi a ideologia predominante no século XIX e na primeira metade do século XX, e concebia o direito basicamente como um sistema de regras. 
 Várias foram as escolas positivistas que surgiram durante esse período. No entanto, por mais que cada uma delas tenha suas características próprias, para Dworkin, todas possuem em comum um esqueleto com os seguintes preceitos chaves: 
 a) o direito de uma comunidade é um conjunto de regras especiais por ela utilizado direta ou indiretamente, com o propósito de determinar qual comportamento será punido ou coagido pelo poder público; 
 b) o conjunto dessas regras equivale ao direito, de modo que, se o caso de alguma pessoa não estiver regulado no ordenamento jurídico, então esse caso não pode ser resolvido mediante a aplicação do direito. Ele deve ser decidido por alguma autoridade pública que vai buscar ,além do direito, algum outro tipo de padrão que o oriente na criação dessa nova regra jurídica, ou que complemente outra já existente;
 c) obrigação jurídica é quando um caso se enquadra em uma regra jurídica válida, a qual exige que se faça ou que se abstenha de fazer alguma coisa.
 Na versão do positivismo de H.L.A. Hart, as regras distinguem-se em dois tipos lógicos regras primárias e regras secundárias. 
 As regras primárias são aquelas que concedem direitos ou impõe obrigações aos membros da comunidade, como as que estão presentes no direito penal, enquanto as secundárias são aquelas que determinam como e por quem tais regras podem ser estabelecidas, declaradas legais, modificadas ou abolidas. Algumas regras são imperativas no sentido de que exigem que as pessoas se comportem de certas maneiras, outras regras, como as que prescrevem os procedimentos, formalidades e condições para a celebração de casamentos, testamentos ou contratos, indicam o que as pessoas devem fazer para efetivarem os seus desejos. 
Hart chama as regras secundárias de “regras de reconhecimento”, pois são o único tipo de regra em um sistema jurídico cuja obrigatoriedade depende de sua aceitação. Essa questão da aceitação é importante para que não se confunda uma convergência de comportamentos com uma regra social: “uma prática contém a aceitação de uma regra somente quando os que seguem essa prática reconhecem a regra como sendo obrigatória e com o uma razão para criticar o comportamento daqueles que não a obedecem. 
 O positivismo, no entanto, como um modelo e para um sistema de regras, nos força a ignorar os papéis importantes desempenhados pelos padrões que não são regras, como os princípios, favorecendo e dando embasamento legal a sistemas autoritários de poder, como foi o caso do Estado Nacional -Socialista Alemão, visto que Hitler operara num sistema reconhecidamente jurídico segundo a doutrina do positivismo Esse fato levou a uma necessidade da comunidade internacional de romper com esse positivismo exacerbado, expressão arbitrária de um poder soberano, que nenhuma norma limita e não é submetido a nenhum valor. Desde o processo de Nuremberg, que pôs em evidência o fato de que um Estado e sua legislação podiam ser iníquos, e mesmo criminosos, notamos na maioria dos teóricos do direito, e não apenas entre os partidários tradicionais do direito natural, uma orientação anti-positivista que abre um espaço crescente, na interpretação e aplicação da lei, para a busca de uma solução que seja não só conforme à lei, mas também equitativa, razoável, aceitável, em uma palavra, que possa ser, ao mesmo tempo, justa e conciliável com o direito em vigor. 
 A solução encontrada, portanto, foi a proposição de princípios gerais do direito, comuns a todos os povoscivilizados, aos quais todos os textos normativos deveriam remontar. Esses princípios universais seriam aplicáveis mesmo na ausência de um texto, e estariam acima de qualquer legislador ou juiz, cabendo a este último declará -los, constatar-lhes a existência. Não são juízos de valor determinados de modo subjetivo, mas segundo critérios intersubjetivos, na medida em que correspondem às preocupações do meio que a deve aceitar. 
 
O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE SIGNIFICADO: 
 
 Segundo Humberto Ávila, para tentarmos compreender as diferenças entre princípios e regras, é necessário, antes de tudo, distinguir texto de norma. Normas não são textos nem o conjunto deles, mas os sentidos construídos a partir da interpretação sistemática de textos normativos. Neste sentido, enquanto os dispositivos constituem o objeto da interpretação, o produto dela constitui a norma. No entanto, Ávila ressalta que não há correspondência biunívoca entre dispositivo e norma, ou seja, onde há um, não necessariamente há o outro, assim como a partir de um dispositivo se pode construir mais de uma norma , ou uma só norma ser construída a partir de vários dispositivos. 
 Ao concordar com que a criação da norma provém de um ato interpretativo, aceita-se a ideia de que o significado não é algo incorporado ao significante, mas sim atribuído pelo intérprete de acordo com o contexto social no qual ele se encontra inserido, o que pode ser comprovado pela mudança de significado das palavras e dos termos no tempo e no espaço. 
Descartam-se então as concepções legalista e funcionalista do direito para as quais o raciocínio judiciário consistia na subsunção (aplicação da norma identificada como o texto- ao caso concreto a partir de um processo lógico-formal), e na busca da intenção original do legislador, respectivamente, pois a atividade do intérprete não consiste simplesmente em descrever o significado preexistente dos dispositivos, mas antes em construí-lo. 
 Todavia, não se deve entender a atividade do intérprete como algo arbitrário, como se ele atribuísse da maneira que quisesse um significado ao texto. Isso não ocorre porque “há estruturas de compreensão existentes de antemão ou a priori, que permitem a compreensão mínima de cada sentença sob certo ponto de vista já incorporado a o uso comum da linguagem, ou seja, a criação de significado por parte do intérprete tem que ficar dentro dos limites estabelecidos pela linguagem. Sobre esse significado incorporado à linguagem, vale comentar sobre os “jogos de linguagem” de Wittgenstein, para quem as palavras não correspondem a um retrato da realidade, isto é, não têm um significado em si, mas só podem ser compreendidas a partir do contexto em que são utilizadas (“formas de vida”) e das regras as quais obedecem (“jogos de linguagem”), regras essas que são estabelecidas pelas práticas coletivas cotidianas. 
 Pode-se dizer, portanto, que a atividade judiciária não consiste em uma mera construção de sentido, mas sim de uma reconstrução, na medida em que o intérprete toma o texto como ponto de partida e se utiliza da linguagem para a construção do significado, a qual, por outro lado, já possui incorporados núcleos de sentidos que limitam a abrangência do significado a ser construído. 
 Essa clara distinção entre texto e norma, coloca o Poder Judiciário numa nova posição com relação ao Poder Legislativo: nem subordinado, nem totalmente oposto a ele; antes , constituindo um papel complementar, com a tarefa de harmonizar a ordem jurídica legislativa com os princípios prevalentes no meio em que o direito é aplicado. É por essa razão que a aplicação do direito, a passagem da regra abstrata ao caso concreto, não é um simples processo dedutivo, mas uma adaptação constante dos dispositivos legais aos valores em conflito nas controvérsias judiciais. 
 
EVOLUÇÃO DA DISTINÇÃO ENTRE PRINCÍPIOS E REGRAS: 
 
 Vários foram os autores que se propuseram a enumerar as diferenças entre princípios e regras; dentre eles, Humberto Ávila selecionou aqueles que tiveram maior repercussão doutrinária, a fim de descrever seus trabalhos e analisar de forma crítica os critérios de distinção por eles utilizados. 
Para Josef Esser, os princípios funcionariam como fundamentos para auxiliar na interpretação dos dispositivos jurídicos, assim como na aplicação das normas. Segundo ele, os princípios fariam parte do direito positivo, porém seriam independentes dos textos normativos. “Como se vê, e é salientado por Josef Esser, enquanto são princípios, eles são eficazes independentemente de texto legal. Este, quando os consagra, dá-lhes força cogente, mas não lhes altera a substância, constituindo um jus prévio e exterior à lex.” Os princípios, ao contrário das regras, não contêm “nenhuma instrução vinculante de tipo imediato para um determinado campo de questões, senão que requer ou pressupõe a concretização judicial ou legislativa de ditas instruções. O critério de diferenciação de princípio e norma não se baseava, portanto, na generalidade, no grau de abstração, mas na possibilidade de se precisar os casos de aplicação. 
 Karl Larenz tem uma concepção semelhante à de Esser, visto que também estabelece como critério de diferenciação a fundamentação normativa para a interpretação e aplicação das normas. Os princípios seriam um vínculo entre os ideais morais e o dir eito, na medida em que direcionam a elaboração das regras jurídicas de modo a concretizar nelas tais ideais morais. 
Existiriam imanentes a todas as ordens jurídicas desenvolvidas princípios que por força da sua estrutura e da fundamentação da sua validad e rebentam com o conceito positivista de Direito. E isto fá-lo-iam porque convertem em dever jurídico a realização aproximativa de um ideal moral. 
 Dois novos critérios de distinção seriam estabelecidos com Canaris: um axiológico, pois ele acredita que “ os princípios, ao contrário das regras, possuir iam um conteúdo axiológico explícito e careceriam, por isso, de regras para sua concretização; e um de interação, de modo que o conteúdo dos princípios só seria atingido a partir de um processo dialético de complementação e limitação. 
 Esses três autores mencionados acima – Esser, Larenz e Canaris – fazem parte da corrente fraca dos princípios, dado que os critérios de distinção baseiam -se principalmente no grau de abstração e generalidade. Diferente das regras, que possuem uma hipótese e uma consequência necessária, os princípios não podem ser aplicados diretamente e sua função é indicar qual o fundamento normativo para a tom ada de decisão. Além disso, em razão do caráter axiológico de que são dotados, os princípios apenas informam a regra a ser aplicada, dependendo desta para a sua concretização. 
 Dentre os autores que constituem a “corrente forte” destacam -se Dworkin e Alexy, para os quais os critérios de diferenciação entre regras e princípios são qualitativos. 
 Para Dworkin, o critério de diferenciação entre princípios e regras jurídicos seria de natureza lógica. Ambos apontam para possíveis decisões diante de um caso concreto, porém distinguem-se quanto à natureza da orientação que oferecem. As regras seriam aplicadas à maneira de tudo-ou-nada, isto é, dada uma regra válida, e sendo sua hipótese preenchida, a resposta que ela fornece deve ser aceita; se não for válida, em nada contribui para a decisão. 
Já os princípios, mesmo aqueles que mais se assemelham a regras jurídicas, não apresentam consequências jurídicas que se seguem automaticamente quando as condições são dadas. Um princípio enuncia uma razão que conduz o argumentoem uma direção, porém , dependendo da situação, ele pode não prevalecer, deslocando a decisão para a direção contrária, a direção do outro argumento. 
 Essa primeira diferença leva, portanto, a uma outra: a da ponderação. Quando os princípios se intercruzam, o juiz que vai resolver o conflito tem que levar em consideração a força relativa de cada um. As regras não têm essa dimensão, elas são funcionalmente importantes ou desimportantes, pois, s e duas regras entram em conflito, uma delas não pode ser válida. 
 Para Alexy, também é qualitativo o critério de distinção entre regras e princípios. Os princípios são chamados de “mandamentos de otimização”, caracterizados pelo fato de que podem ser cumpridos em diferentes graus, e cuja medida de cumprimento é dependente das possibilidades fáticas e jurídicas, isso porque as consequências jurídicas determinadas por um princípio só serão cumpridas se ele adquirir precedência frente a outros princípios e regras. 
Por sua vez, as regras, como normas que só podem ser cumpridas ou não, sendo válidas ,implicam na exata realização daquilo que elas exigem, nem mais nem menos. São normas que contêm determinações no âmbito do fática e juridicamente possível. 
 Entendidas as regras como normas que exigem um cumprimento pleno caso sejam válidas, sua aplicação corresponderia a um processo de subsunção. Os princípios, por outro lado, ao dependerem das possibilidades fáticas e jurídicas, seriam aplicados através de um processo de ponderação. Embora não se possa estabelecer uma teoria do s princípios que os coloque em uma hierarquia estrita, pode-se estabelecer uma “ordem frouxa” entre eles, que permita a sua aplicação ponderada, e não o seu uso puramente arbitrário. Essa ordem frouxa se compõe em três elementos: 
1) Um sistema de condições de prioridade, que faz com que a resolução das colisões entre princípios, num caso concreto, também tenha importância para novos casos, na medida em que a decisão de prevalência de um princípio sobre outro consiste na criação de uma regra de prevalência; 
2) Um sistema de estruturas de ponderação criado a partir da consideração dos princípios como “mandamentos de otimização” , com relação às possibilidades fáticas e jurídicas. Quanto às possibilidades fáticas, Se sob as circunstâncias de determinado caso o princípio precede ao princípio , que com aquele colide, então disso deriva uma regra proibitiva da aplicação de P2 e que determina as consequências jurídicas da aplicação. A ponderação dos pesos relativos, de acordo com as circunstâncias do caso, indica o princípio que vai ser aplicado ao problema, resolvendo. 
Com relação às possibilidades jurídicas, “quanto mais alto for o grau de descumprimento ou de desprezo por um princípio, tanto maior deverá ser a importância do cumprimento do outro”; 
3) Um sistema de prioridades prima facie: a prioridade estabelecida d e um princípio sobre outro pode ceder no futuro, mas quem pretender modificar essa prior idade se encarrega da importância da prova. 
 Enquanto a colisão de princípios deve ser solucionada a partir da ponderação, o mesmo não ocorre em um conflito de regras, o qual se resolve no âmbito da validez, já que não podem coexistir duas regras, no mesmo ordenamento jurídico, que regulem o mesmo caso de maneiras opostas, conduzindo a resultados diferentes. Sobre as antinomias jurídicas, 
Norberto Bobbio aborda em seu livro Teoria do Ordenamento Jurídico tanto a questão de sua identificação quanto a de sua solução por meio de critérios. 
 Segundo Bobbio, ocorre uma antinomia jurídica quando há uma situação “na qual são colocadas em existência duas normas, das quais uma obriga e a outra proíbe, ou uma obriga e a outra permite, ou uma proíbe e a outra permite o mesmo comportamento” , sendo que estas normas devem pertencer ao mesmo ordenamento jurídico (a não ser que ocorra antinomia entre normas de ordenamentos jurídico s diferentes, mas dependentes entre si, como no caso do Direito Positivo e do Direito Natural) e devem ter o mesmo âmbito de validade (temporal, espacial, pessoal e material). 
As regras fundamentais para a solução das antinomias são três: o critério cronológico; o critério hierárquico; e o critério da especialidade. O critério cronológico ( lex posterior) é aquele com base no qual, entre duas normas incompatíveis, prevalece a norma posterior: lex posterior derogat priori. O critério hierárquico (lex superior ) é aquele pelo qual entre duas normas incompatíveis, prevalece a hierarquicamente superior: lex superior derrogat inferiori. O critério da especialidade (lex specialis ) é aquele pelo qual, de duas normas incompatíveis, uma geral e uma especial (ou excepcional), prevalece a segunda: lex specialis derogat generali
. Esses são alguns critérios adotados pelos ordenamentos jurídicos para a solução de antinomias, sendo importante ressaltar, no entanto, que , para determinadas antinomias (como as que ocorrem entre normas contemporâneas, do mesmo nível e ambas gerais), esses critérios são insuficientes, cabendo ao intérprete eliminar uma, eliminar as duas ou conservar as duas. 
 Observa-se, portanto, que, para Alexy, a distinção entre princípios e regras baseia -se em dois fatores: diferença quanto à colisão, que no caso dos princípios é solucionada a partir da ponderação, enquanto no caso das re gras é solucionada com a declaração de invalidade de uma delas ou com a abertura de uma exceção que exclua a antinomia; e diferença quanto à obrigação que instituem, já que as regras instituem obrigações absolutas, enquanto os princípios instituem obrigações prima faci e, na medida em que podem ser superadas diante d e princípios e regras opostos. 
 
CONCLUSÃO: 
 
 A análise dos critérios de diferenciação entre as espécies normativas dos autores cujas obras tiveram maior influência na doutrina juríd ica nos permite visualizar os pontos mais recorrentes dessa distinção: as regras não precisam de ponderação, os princípios devem ser ponderados; as regras instituem obrigações absolutas, os princípios instituem obrigações preliminares, pois são de pendentes de possibilidades fáticas e jurídicas; os princípios possuem caráter mais geral do que as regras; em um conflito de regras, uma deve ser declarada inválida, ou deve ser aberta uma exceção; em uma colisão de princípios, o aplicador deve considerar qual possui maior peso. 
Humberto Ávila, no entanto, tenta levantar questões sobre esses critérios defendidos pela doutrina, tais como “se as regras não podem ser objeto de ponderação ”, ou “se todas as espécies normativas com portam-se ou como princípios ou como regras”. Ele o faz não no sentido de questionar sua importância ou ne gar o mérito das obras analisadas, mas a fim de confirmar o seu valor através da crítica. 
REFEÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: 
 
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vinculante de tipo inmediato para un determinado campo de cuestion es, sino que requiere o 
presupone la acuñación judicial o legislativa de dichas instrucciones”. 
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