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Em Defesa da Política

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UFRJ
GPDES
Ciências Sociais II
Prof.ª Maria Aparecida
Rodrigo Toledo
Em Defesa da Política – Marco Aurélio Nogueira (2001)
	O que é política se não a arte de organizar, direcionar e administrar uma instituição pública. Mas a política em si vai muito além, é o que também fazemos no dia-a-dia, ao nos relacionarmos um com os outros, é a tentativa de criarmos um conjunto de meios que permitam alcançar os fins desejados, seja para benefício próprio ou geral. É preciso mostrar que, apesar da descrença, da desilusão e do cansaço da sociedade, ela precisa ser encarada como um agente modificador, que traga melhorias à realidade em que se vive, é preciso tratá-la com mais atenção, cuidado e valorização.
	Todo sistema, ideia ou estrutura vive um momento de crise, e a política, como um todo, nunca foi unanimidade. Porém, sempre passível de críticas e desmoralizações, se manteve e se perpetuou durante as civilizações. Por tudo o que se é posto, nos momentos graves de compreensão ou inadequação de ideias e dogmas ultrapassados, as crises são válidas para que haja uma restruturação dos processos.
Nos dias de hoje, diante dessa desesperada ansiedade da sociedade pelo imediatismo, onde tudo deve ocorrer de maneira prática, rápida e inovadora, é evidente que essa exigência também seja cobrada no ramo político, onde as coisas se resolvem em seu próprio tempo. Para que a mesma deixe de ser vista como ineficiente, ineficaz e, até mesmo, um desperdício de tempo (produto muito valioso) é necessário criar novos mecanismos de discussão e resolução, se aproveitar da tamanha quantidade de tecnologia que se tem à disposição, ou seja, a forma de fazer política precisa evoluir.
	Entretanto, é necessário estar atento à forma individualista em que se resume a sociedade de hoje. Os níveis de competição e de egoísmo, a falta de bom senso na convivência entre as pessoas e até mesmo os atos corruptíveis, que para alguns é apenas um jeitinho de se livrar da tão injusta lei, reflete diretamente na forma de se fazer política, nas ações e inércias dos representantes eleitos democraticamente. Esses fatores prejudicam a vontade, a mobilização e a luta em discutir e explorar um novo rumo para as diretrizes políticas, que superem o mal-estar coletivo. 
Tudo isso está interligado, não há apenas uma dificuldade em se encontrar bons líderes, não é uma mera crise de autoridade, como a população é levada a crer. O que há na verdade é um enfraquecimento na percepção do coletivo, no agir refletindo no que o ato de um poderá proporcionar ao outro, ou seja, a população também tem o seu grau de culpa no péssimo nível em que se é praticada a politicagem atualmente.
É acertado, nesse momento, dizer que se está ruim com ela, pior seria a sua inexistência ou irrelevância. A política, até certo ponto, é o que ainda dá vida a interesses comuns, ou seja, ainda que criticada, é um fator de união da população, e isso é fácil de ser observado nos momentos de grave crise: uma pessoa que possui assistência médica particular passa a questionar e refletir sobre a situação da saúde pública; mesmo que haja uma grande opção de instituições de ensino particular, um ensino público de qualidade é o desejo da maioria; a segurança privada, de longe, não é a solução para os problemas de violência nas cidades; entre outros.
Além de tudo, é preciso ter consciência de que o processo de amadurecimento do sistema político de um país é lento, moroso, e está sujeito a intervenções conservadoras e retrógadas por parte da situação, para que a mesma possa manter ou retomar o controle do poder. Novos projetos políticos e pessoas dispostas a implantá-los frequentemente são vítimas de observações preconceituosas e depreciadoras	
	Uma dessas artimanhas é a banalização da própria política, desviar o foco da população para o espetáculo gerado pelas grandes mídias de (des)informação, e isso vai desde a exagerada exibição da violência urbana, que é empurrado para os telespectadores, internautas e leitores, um verdadeiro circo do horror, passando pelas tragédias naturais que ocorrem com frequência no mundo e, não por menos, as atividades esportivas passionais. Sobretudo, da política pouco se vê além de corrupção e golpes milionários, tática utilizada para aumentar o descrédito da população sobre a mesma.
	Esse descaso e essa falta de interesse da população, muito causado pela grande influência externa que sofre, acabam refletindo na falta de uma maior participação ativa no cenário político. Diminui o seu poder ideológico e aumenta a carência de novas ideias e ideais que zelem a ética civil e individual. Diminui a importância em buscar uma evolução humana de fato e da sociedade como um todo, e sem isso, sem um foco idealizador e construtivo, a população se torna obcecada pela última coisa que lhe resta lutar, o poder financeiro. A busca pela qualidade de vida se torna individual e, até certo ponto, enganadora, o coletivo passa a ficar de lado, é ignorado, e até ridicularizado, por pessoas alienadas ou maliciosas, que querem manter o poder, e se satisfazem dessa forma.
	Dessa forma, o cidadão comum, que vive de sua rotina e preocupações, não consegue fazer um acompanhamento adequado do que ocorre de fato nos corredores das Câmaras ou nos debates políticos. Foi-se o tempo em que questões como essas eram discutidas em uma mesa de bar. O roteiro e a qualidade precária de informações que o cidadão recebe, acaba por tornar a política entediante. Para esse cidadão, que não se interessa pelos debates políticos ou pela festa da democracia, que é o direito ao voto, é muito mais interessante assistir na televisão aos capítulos da “novela das nove”, do que ligar o rádio para ouvir a “Voz do Brasil”.
	E em alguns casos esse sentimento é ainda pior. Há quase que uma aversão ao mencionar tal trabalhador da democracia, um ódio comum e recorrente que as pessoas aprenderam a sentir pelos corruptos, sim, no Brasil político virou sinônimo de corrupto. E quando se argumenta que essa forma de pensar é preconceituosa e equivocada, que essa é uma profissão como outra qualquer, nela existem bons e maus funcionários, o que se ouve soa como uma vaia. Parece que as pessoas esqueceram qual é o papel de um político. O brasileiro esqueceu que há pouco tempo atrás, com as limitações impostas sobre esse personagem, o país viveu uma ditadura, cruel como toda é. Pois, de fato, em um governo que não existe o diálogo, o que entra em cena é a força, a autoridade, a democracia perde a sua força, e se torna, nada mais, do que uma máscara para uma autocracia.
	Entretanto, vale ressaltar que algumas características da democracia têm como base o desejo, ou necessidade, pela dominação. Isso porque, em alguns momentos, o governante tem que mostrar “pulso firme”, por vezes, à ele são necessárias as ferramentas de coação, repressão e busca pela obediência. Mas isso não quer dizer que os seus motivos não sejam nobres, é como diz a velha máxima “não dá para agradar a Gregos e Troianos”, mas por fim é relevantemente necessário que seja feito o bem comum, que a sociedade como um todo seja alvo de benefício.
	Mas o sucesso na vida política não requer só o poder através da força, pelo contrário, a sutileza e o poder de encantar também fazem parte do jogo, e são extremamente necessários em certas ocasiões. Como disse no início, fazer política é uma arte, complexa e uma das mais completas. O político deve saber a hora certa de entrar e sair de cena, não para se esconder, mas para surpreender, é como no teatro. Tem de ter carisma com o público, utilizar o luxo para cativar os governantes e saber intimidar o seu adversário, ou seja, ser um bom marqueteiro ajuda bastante.
	Porém, a política não é apenas um jogo de interesses e glórias. Na verdade, por vezes, essa demonstração de força gera conflitos internos e externos. Assim é nos casos de guerra entre países, o que na verdade é a extensão da crise de uma relação ou um desentendimento político, e até mesmo nos casos de revolução, o que geralmente ocorre quando o povo estácansado de ser oprimido pelos governantes, e os mesmos ignoram o perigo em continuar oprimindo-os. Mas há de se recordar da parte boa da política, o fato de alguns ainda apostarem nas vantagens da comunidade, na ampliação das liberdades e na reconstrução de uma vida comum entre todos.
	E o que é uma comunidade se não o florescer da política, o seu lado mais romântico. É nesse ambiente em que se exercita a comunicação, e com isso percebe-se que a política não é algo que possa ser isolada em algum canto e lá permanecer. A política tem vida própria, e é nas cidades que ela ganha força total, sendo proliferada através de cada palavra solta. E por isso, a cidade nada mais é do que uma construção dos cidadãos exercendo o seu direito à cidadania, e tudo que ela carrega consigo: justiça, liberdade, igualdade, virtudes sociais.
	Diferentemente dos políticos que vemos atualmente, atuando em um campo que não deveria lhes pertencer, onde ao invés de agir como construtores de uma sociedade mais justa e igualitária, buscar o que de fato sua profissão lhes prescinde, a evolução social do todo, a política em si é algo apaixonante. Suas virtudes de entrega e dedicação ao bem comum, sua vontade em querer alterar o rumo ruim das coisas, sua exposição quase que constante aos julgamentos alheios, o sacrifício à sua vida pessoal, ter sua intimidade exposta, tudo isso feito de bom grado, por aptidão. 
	A política tem em sua essência o ideal de vida coletivo, a primazia em reconhecer e gerir os conflitos individuais e sociais, extrair deles algo de positivo, construtivo, com a promessa de fundamentar a sociabilidade, o ser solidário e a democracia. Talvez por isso não tenha vez nos dias de hoje, talvez por isso não consiga se adaptar à época em que vivemos, uma época individualista, onde o egoísmo humano exacerba ao desejo de união. Onde a luta pelos direitos de homem nem sempre visa a valorização de sua liberdade ou a sua proteção, mas na verdade se torna uma ruptura com a sociedade, com o convívio coletivo.
	Nesse contexto fica fácil de compreender e de criar uma tamanha compaixão pela política, não essa que está passando por uma crise de personalidade sem fim, mas a verdadeira e boa política, aos que não vivem apenas de sua ciência e de sua arte, mas aos que buscam o aperfeiçoamento na prática de governar com base no diálogo mais sensível, educado, cortês e generoso, como deve ser.

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