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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE SOROCABA/SP Processo nº 00 MARINIZETE SOUZA, já qualificada nos autos do processo em epígrafe, que move em face da COMPANHIA PAULISTA DE FORÇA E LUZ (CPFL), também já qualificada nos autos, por intermédio de seu advogado que está subscreve, com procuração a fls., vem, respeitosamente, a presença de Vossa Excelência apresentar IMPUGNAÇÃO À CONTESTAÇÃO, pelos motivos de fato e de direito a seguir articulados: SÍNTESE PROCESSUAL A presente demanda foi proposta com o fim de se ver ressarcidos os danos suportados pela autora após uma descarga elétrica que causou a queima de diversos bens que guarneciam seu imóvel, resultando um prejuízo de R$ 125.000,00 (cento e vinte e cinco mil reais). A empresa ré foi devidamente citada e em contestação alegou as mais diversas situações a fim de evitar sua condenação, conforme se passa a impugnar: DAS PRELIMNARES a. Das normas regulamentadoras da ANEEL Alega a empresa ré que a autora não respeitou o prazo de 90 dias, contido na Resolução nº 414/2010, da ANEEL, especificamente no artigo 204, que assim dispõe: Art. 204. O consumidor tem até 90 (noventa) dias, a contar da data provável da ocorrência do dano elétrico no equipamento, para solicitar o ressarcimento à distribuidora, devendo fornecer, no mínimo, os seguintes elementos: I – data e horário prováveis da ocorrência do dano; II – informações que demonstrem que o solicitante é o titular da unidade consumidora, ou seu representante legal; III – relato do problema apresentado pelo equipamento elétrico; e IV – descrição e características gerais do equipamento danificado, tais como marca e modelo; V – informação sobre o meio de comunicação de sua preferência, dentre os ofertados pela distribuidora; § 1º A solicitação de ressarcimento pode ser efetuada por meio de atendimento telefônico, diretamente nos postos de atendimento presencial, via internet ou outros canais de comunicação disponibilizados pela distribuidora. Contudo, a primeira atitude da autora no dia seguinte em que tomou conhecimento dos prejuízos por ela suportados, foi procurar a empresa ré, porém, obteve uma resposta negativa, no sentido de que a empresa não conhecia de chuva ou descarga elétrica naquela região no dia em questão. Assim, não cabe a alegação de que Marinizete não tentou solucionar administrativamente seus problemas, ao contrário, ela procurou a empresa via fone, e obteve resposta negativa. Já no que diz respeito a comprovação da propriedade dos bens, vale a apresentação do parágrafo 6º, do já citado artigo 204, da Resolução Normativa nº 414/2010, da ANEEL: 204. (...) § 6º Podem ser objeto de pedido de ressarcimento quaisquer equipamentos alimentados por energia elétrica conectados na unidade consumidora, sendo vedada a exigência de comprovação da propriedade do equipamento. (Incluído pela REN ANEEL 499, de 03.07.2012). É, portanto, VEDADA a exigência de comprovação dos equipamentos danificados pela descarga elétrica, que ocasionou os prejuízos a autora, a qual, no entanto, demonstrou na inicial quais foram os bens danificados, o que faz presumir que tais bens guarneciam sua residência, portanto, são de sua propriedade. b. Da ilegitimidade passiva: Ainda, alega a ré que a culpa pelos prejuízos suportados pela autora é de sua empregada doméstica, vez que esta encontrava-se na residência no momento da chuva, e ela deveria ter desligado os equipamentos eletrônicos. Contudo, a simples afirmação de que a empregada doméstica é a culpada não deve prosperar, tendo em vista que a empregada não possui a função de prever quando ocorrerão chuvas ou descargas elétricas e que estas irão atingir o imóvel de sua patroa. Além disso, o Código de Proteção e Defesa do Consumidor define que: Art. 22 - Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. Parágrafo único - Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste Código. É, pois, o que se verifica no caso de Marinizete, a qual se utiliza de um serviço público, fornecido por uma pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviços públicos, qual seja a CPFL, e a afirmação de que a culpa é da empregada NÃO DEVE afastar sua responsabilidade. c. Das excludentes de responsabilidade Ainda em sede de preliminar a ré alegou uma causa excludente de responsabilidade, qual seja, a ocorrência de caso fortuito ou força maior. Entretanto, dispõe o artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor que: Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. § 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: (...) II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; Ressalte-se ainda que no caso das pessoas jurídicas de direito público e de direito privado prestadoras de serviços públicos, adotou-se a teoria objetiva ou do risco, portanto, haverá responsabilidade da empresa, quando o lesado demonstrar o nexo causal entre o fato lesivo e o dano. Assim sendo, as prestadoras de serviços públicos respondem objetivamente pela mesma razão do Estado, ou seja, o risco administrativo. Nesse sentido dispõe o artigo 37 da Constituição Federal: Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...) § 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. Segundo Carlos Roberto Gonçalves na obra Direito Civil Brasileiro 4, Responsabilidade Civil, 11ª edição, 2015, página 48: “toda pessoa que exerce alguma atividade cria um risco de dano para terceiros. E deve ser obrigada a repará-lo, ainda que sua conduta seja isenta de culpa. A responsabilidade civil desloca-se da noção de culpa para a ideia de risco, ora encarada como “risco-proveito”, que se funda no princípio segundo o qual é reparável o dano causado a outrem em consequência de uma atividade realizada em benefício do responsável (ubi emolumentum, ibi onus); ora mais genericamente como “risco criado”, a que se subordina todo aquele que, sem indagação de culpa, expuser alguém a suportá-lo”. Assim, para a teoria da responsabilidade objetiva, as empresas prestadoras de serviços públicos, como é o caso da CPFL, deverão ressarcir os danos suportados pelos consumidores independentemente de culpa, bastando que haja entre o fato e o dano um nexo causal. Não basta que a empresa alegue a ocorrência de caso fortuito ou força maior, vez que assumiu os riscos inerentes ao fornecimento de energia elétrica, sendo sua responsabilidade a manutenção adequada dos equipamentos, bem como o ressarcimento dos danos efetivamentecausados aos consumidores. Na situação ora narrada, ocorreu uma descarga elétrica, decorrente de uma forte chuva, a qual ocasionou a queima de diversos bens que guarneciam a residência da autora. Assim, resta evidenciado que a forte chuva que originou a descarga elétrica atingiu a residência de Marinizete, e o dano nesse caso consistiu na queima de bens da autora, causando-lhe o prejuízo de R$ 125.000,00 (cento e vinte e cinco mil reais), além de deixar a residência sem energia elétrica, portanto, o nexo causal resta demonstrado entre a ocorrência do fato (descarga elétrica) e o dano (queima dos equipamentos eletrônicos da autora). Portanto, não há como se discutir se há responsabilidade ou não da empresa, pois se estamos diante da teoria objetiva ou do risco, a CPFL assumiu os mais diversos riscos para o fornecimento de energia sendo sua a responsabilidade por qualquer evento lesivo causado aos consumidores. No mais já decidiu o Supremo Tribunal Federal nesse sentido. Vejamos: AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 670.474 - SP (2015/0045554-8). AGRAVANTE: COMPANHIA PAULISTA DE FORÇA E LUZ CPFL. AGRAVADO: PAULO SERGIO MANOCHIO FRANCA – ME. EMENTA DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS. DESCARGA ELÉTRICA. COMPROVAÇÃO DO NEXO DE CAUSALIDADE. REEXAME DAS PROVAS DOS AUTOS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. VALOR DA INDENIZAÇÃO. PECULIARIDADES DE CADA CASO CONCRETO. R$ 5.645,50. CONSONÂNCIA COM OS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. AGRAVO IMPROVIDO. DECISÃO Trata-se de agravo em recurso especial interposto contra a decisão que não admitiu o recurso especial apresentado por Companhia Paulista de Força e Luz CPFL, com base no art. 105, III, a, da Constituição Federal, desafiando acórdão assim ementado (e-STJ, fl. 183): PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. ENERGIA ELÉTRICA. AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MATERIAIS. DESCARGA ELÉTRICA QUE PROVOCOU DANIFICAÇÃO EM APARELHOS. DEFEITO NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. RELAÇÃO DE CONSUMO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DEVER DE REPARAÇÃO DO PREJUÍZO. PROCEDÊNCIA RECONHECIDA. RECURSO IMPROVIDO. A prova produzida não possibilita afirmar a ocorrência de má utilização dos aparelhos ou defeito nas instalações internas do imóvel do autor, de onde decorre a responsabilidade da concessionária pelos danos constatados, pois na hipótese a sua responsabilidade é objetiva. Consoante noticiam os autos, Paulo Sergio Manochio Franca - ME ajuizou ação de indenização por danos materiais contra Companhia Paulista de Força e Luz CPFL, alegando que o imóvel da empresa autora foi atingido por um raio, tendo postulado pedido de ressarcimento pelos danos, que foi negado pela requerida, motivo pelo qual ajuizou a ação indenizatória. O Juízo de primeiro grau julgou procedente o pedido para condenar a Documento: 45544821 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 10/04/2015 Página 1 de 4 Superior Tribunal de Justiça requerida ao pagamento de R$ 5.645,50 (cinco mil, seiscentos e quarenta e cinco reais e cinquenta centavos), a título de danos materiais, com correção monetária desde o ajuizamento e juros moratórios de 1% ao mês, a partir da citação. Irresignada, a requerida interpôs recurso de apelação que foi julgado improcedente. Em suas razões de recurso especial, a recorrente alegou ofensa aos arts. 6º, § 3º, II, da Lei n. 8.987/1995; 3º e 14, do CDC; 37 § 6º e 175, da CF; 333, I, do CPC e 944 do CC, alega que não foi comprovado o nexo de causalidade, não configurando o dever de indenizar e, caso assim não se entenda, que seja reduzido o valor fixado a título de danos materiais. O Tribunal de origem não admitiu o recurso especial sob o fundamento da incidência da Súmula n. 7 do STJ e pela ausência da demonstração de ofensa aos dispositivos legais. A agravante impugnou os argumentos da decisão agravada. Brevemente relatado, decido. No que se refere à responsabilidade das empresas concessionárias de serviço público, respondem objetivamente pelos danos causados a terceiros. Nesse sentido: (AgRg no AREsp n. 318.307/PE, Relator o Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em 25/2/2014, DJe 5/3/2014). Analisar a tese da recorrente demandaria o reexame das circunstâncias fáticas da causa, o que é vedado em recurso especial, ante o disposto no enunciado n. 7 da Súmula do STJ: "A pretensão de simples reexame de provas não enseja recurso especial." O Tribunal de Justiça, soberano no exame do acervo fático-probatório dos autos, concluiu pela comprovação do nexo de causalidade, estando caracterizado o dever de indenizar (e-STJ, fls. 186-188): Desde logo, impõe-se observar que se está diante de uma situação regida pelo Código de Defesa do Consumidor e a responsabilidade da ré é objetiva. Nessa perspectiva, cabe à concessionária o ônus da demonstração do fato extintivo, ou seja, de que o consumidor foi negligente quanto à adoção dos cuidados necessários com os bens ou em sua instalação. A inicial veio instruída com diversos documentos, dentre eles, notas fiscais emitidas em 7 de fevereiro e 25 de fevereiro de 2013, referentes à aquisição de diversos produtos de informática nos valor de R$ 1.300,00 e R$ 4.315,50, respectivamente, bem como declaração firmada por Maikiel Lopes Barbosa em 5 de fevereiro de 2013, consignando que realizou vistoria técnica no estabelecimento do autor "onde foi detectada a queima de aparelhos depois de uma forte chuva no dia anterior (...) após um forte raio próximo no estabelecimento ocorrendo uma descarga na rede elétrica, queimando (...) aparelhos". (fl. 28). A prova testemunhal corroborou as alegações do autor. Não houve qualquer iniciativa da ré no sentido de demonstrar que os serviços de energia elétrica foram regularmente prestados no dia questionado. O fato positivo é justamente afirmado pela concessionária, e ela é quem naturalmente dispõe de meios tecnológicos para realizar a demonstração. Ficou plenamente caracterizada a inércia da ré e esse comportamento, evidentemente, determinou a impossibilidade de alcançar a demonstração do fato controvertido e, como era seu o ônus respectivo, contra si se revertem as consequências da omissão. Assim, é possível concluir que ao consumidor não pode ser imposta qualquer responsabilidade pelos danos havidos. As assertivas da ré, na verdade, não encontram sustentação na prova produzida. Por outro lado, está plenamente evidenciada a falha na prestação do serviço e, por isso, sobre a concessionária recai a responsabilidade pela reparação dos prejuízos daí decorrentes. Desse modo, atacar a referida conclusão e averiguar a inexistência de nexo de causalidade entre a conduta da recorrente e o fato ensejador da responsabilidade civil já assentada pelo Tribunal como configurada, é impossível, neste caso, pois seria necessário o reexame do conjunto fático-probatório dos autos, o que é obstado em recurso especial. Por fim, consoante reiterada jurisprudência desta Corte, o valor dos danos só poderá ser revisto, na via especial, nos casos em que o valor fixado afronta os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Dessa forma, somente a fixação de quantias que se revelam ínfimas ou exorbitantes, isto é, desarrazoadas diante dos valores comumente estabelecidos em situações análogas, ensejam aptidão para viabilizar o exame e revisão por este Tribunal. No caso em exame, o valor da indenização por danos materiais, arbitrada em R$ R$ 5.645,50 (cinco mil, seiscentos e quarenta e cinco reais e cinquenta centavos), consideradas as peculiaridades do caso em questão e a comprovação do valor do dano material sofrido, não se mostra desarrazoado ante os patamares estabelecidospor esta Corte Superior, estando em perfeita consonância com os princípios da razoabilidade e proporcionalidade. Descabida, portanto, a intervenção do STJ no tocante ao valor fixado nas instâncias ordinárias. Ante o exposto, nego provimento ao agravo em recurso especial. Publique-se. Brasília-DF, 16 de março de 2015. MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Relator. DO MÉRITO a. Alegações da ré Cumpre esclarecer nesse momento que nas relações de consumo, regidas pelo Código de Defesa do Consumidor, como é o caso em comento, a eficiência na prestação dos serviços e a produção de provas, estão previstas no artigo 6º do referido diploma legal, o qual dispõe que: Art. 6º São direitos básicos do consumidor: (...) VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. Verifica-se pelo exposto que Marinizete mantém uma relação consumerista com a empresa Companhia Paulista de Força e Luz e que os danos decorrentes da ineficácia na prestação do serviço devem por ela ser ressarcidos. O Causídico alegou em sua contestação que a autora não comprovou a ocorrência da chuva ou da descarga elétrica no dia em questão, além de que afirmou que Marinizete utilizou-se de modo incorreto de seus bens, PORÉM, NÃO FEZ prova de qualquer de suas alegações, nesse sentido, o artigo 210 da Resolução nº 404/2010, da ANEEL: Art. 210. A distribuidora responde, independente da existência de culpa, pelos danos elétricos causados a equipamentos elétricos instalados em unidades consumidoras, nos termos do art. 203. Parágrafo único. A distribuidora só pode eximir-se do dever de ressarcir, quando: I – comprovar a inexistência de nexo causal, nos termos do art. 205; II – o consumidor providenciar, por sua conta e risco, a reparação do(s) equipamento(s) sem aguardar o término do prazo para a verificação, salvo nos casos em que houver prévia autorização da distribuidora; III – comprovar que o dano foi ocasionado pelo uso incorreto do equipamento ou por defeitos gerados a partir da unidade consumidora; IV – o prazo ficar suspenso por mais de 90 (noventa) dias consecutivos devido a pendências injustificadas do consumidor, nos termos do §1º do art. 207; (Redação dada pela REN ANEEL 499, de 03.07.2012) V – comprovar a ocorrência de qualquer procedimento irregular, nos termos do art. 129, que tenha causado o dano reclamado, ou a religação da unidade consumidora à revelia; ou VI – comprovar que o dano reclamado foi ocasionado por interrupções associadas à situação de emergência ou de calamidade pública decretada por órgão competente, desde que comprovadas por meio documental ao consumidor. VII – antes da resposta da distribuidora, o solicitante manifestar a desistência em receber o ressarcimento pelo dano reclamado. (Incluído pela REN ANEEL 499, de 03.07.2012) Assim sendo, compete a CPFL comprovar que não choveu, que não ocorreu descarga elétrica, ou que os danos decorreram de uso incorreto dos equipamentos eletrônicos por parte da autora. Ademais, apontou-se em contestação que o valor cobrado pela autora não é plausível, sob a alegação de que o valor correto dos referidos equipamentos seria o de R$ 29.502, 55 (vinte e nove mil, quinhentos e dois reais e cinquenta e cinco centavos). No entanto, não fez prova alguma de que os equipamentos da autora estavam deteriorados ou são velhos. Na verdade, referidos bens são novos, de última geração e da melhor qualidade contida no mercado, restando justificado o importe de R$ 125.000,00 (cento e vinte e cinco mil reais). b. Jurisprudência Por fim, apenas com o fim de contextualizar e enaltecer os direitos da autora, segue abaixo jurisprudências dos Tribunais de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo: Nº 71005698105 (Nº CNJ: 0040912-24.2015.8.21.9000) 2015/CÍVEL. RECURSO INOMINADO. SEGUNDA TURMA RECURSAL. AES SUL DISTRIBUIDORA GAÚCHA DE ENERGIA ELÉTRICA- RECORRIDO. NADIR BORGES- RECORRENTE. DECISÃO EM 21/10/2015 Recurso inominado. Consumidor. Ação indenizatória. Energia elétrica. Curto circuito. Danos em aparelhos elétricos. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA CONCESSIONÁRIA. DEVER DE INDENIZAR OS DANOS EFETIVAMENTE COMPROVADOS. 1. A autora relatou os danos em seus equipamentos em razão de um curto circuito na rede elétrica que abastece a sua residência. Em sede administrativa, postulou o ressarcimento dos prejuízos, sem êxito. 2. Cabia à ré, pretendendo a exclusão da sua responsabilidade objetiva, fazer prova da inexistência de defeito na prestação do serviço ou a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro, na forma do art. 14, § 3º, da Lei 8.078/90. 3. Dever de ressarcir os danos materiais suportados pela demandante e decorrentes da falha na prestação do serviço. Notas fiscais e orçamentos fornecidos pela assistência técnica buscada pela demandante que comprovam suas alegações. 4. Sentença reformada. RELATÓRIO: Relatou a autora que em 14/08/2014 houve um curto circuito na rede elétrica que abastece a sua residência, ocasionando danos a diversos eletrodomésticos. Disse ter tentado resolver o problema na via administrativa, sem êxito. Postulou o ressarcimento dos danos causados, totalizando o valor de R$ 2.278,00. Tentativa de conciliação resultou inexitosa. Em contestação, a ré aduziu não ter ocorrido qualquer interrupção na rede que alimenta o fornecimento da unidade consumidora da autora. Foi proferida sentença de improcedência dos pedidos deduzidos na inicial. Irresignada, recorreu a autora. Com contrarrazões, vieram os autos conclusos. VOTOS. DR.ª ANA CLAUDIA CACHAPUZ SILVA RAABE (RELATORA) Eminentes Colegas. Conheço do recurso inominado, pois preenchidos os pressupostos de admissibilidade. Trata-se de ação indenizatória proposta pela autora devido aos danos ocasionados em seus equipamentos em razão do curto circuito da rede elétrica que abastece a sua residência. Como prova de suas alegações, colacionou aos autos um boletim de ocorrência (fl. 05), reclamação junto ao PROCON (fl. 06), além de orçamentos e notas fiscais referentes aos objetos avariados (fls. 10/14). Ainda, os documentos carreados pela ré demonstram que a autora solicitou em sede administrativa o ressarcimento dos seus prejuízos junto à concessionária de abastecimento de energia elétrica. A requerida, por seu turno, limitou-se a sustentar a inocorrência de perturbação no sistema de rede elétrica no dia referido pela autora, referindo não haver qualquer nexo de causalidade entre o fato e o dano. Todavia, não trouxe aos autos sequer a lista de interrupções por circuito ou qualquer outro documento a comprovar o alegado em sua defesa, ônus que lhe incumbia, conforme artigo 333, II do CPC. Com efeito, cabia à ré, pretendendo a exclusão da sua responsabilidade objetiva, fazer prova da inexistência do defeito na prestação do serviço ou culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro, na forma do artigo 14, § 3º, da Lei 8.078/90. Assim, comprovado o nexo causal entre o fato e os danos, não produzindo a concessionária prova hábil a afastá-los,frente a responsabilidade objetiva, impõe-se a esta o dever de indenizar os prejuízos devidamente comprovados às fls. 10/14, os quais perfazem a monta de R$ 2.195,20. Tal montante corresponde a totalidade das notas fiscais e orçamento juntados aos autos. Portanto, não há suporte probatório para o valor requerido na inicial (R$ 2278,00). Ante o exposto, voto no sentido de dar parcial provimento ao recurso para condenar a ré ao pagamento de R$ 2.195,20. Este valor deverá ser corrigido monetariamente pelo IGP-M a contar do efetivo prejuízo (14/08/2014) e com juros de mora de 1% ao mês a partir da citação. Sem sucumbência, ante o resultado do julgamento. Número do 1.0024.12.103127-2/002. Numeração 1031272- Relator: Des.(a) Moreira Diniz Relator do Acordão: Des.(a) Moreira Diniz Data do Julgamento: 12/12/2013 Data da Publicação: 18/12/2013: DIREITO CIVIL - DIREITO ADMINISTRATIVO - APELAÇÃO - AÇÃO DE RESSARCIMENTO - CONCESSIONÁRIA DE ENERGIA ELÉTRICA - DESCARGA ATMOSFÉICA - SOBRETENSÃO - DANOS A APARELHOS ELÉTRICOS - CASO FORTUITO - NÃO OCORRÊNCIA - FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO - DEVER DE REPARAÇÃO - RECURSO PROVIDO. - A concessionária tem conhecimento dos efeitos das descargas atmosféricas e tem condições de minimizar os impactos decorrentes de tais fenômenos, mesmo porque, não há notícia nos autos de que tenham sido empenhados todos os meios possíveis e necessários para evitar a oscilação na rede de energia elétrica. - Constatado que a concessionária devia - e podia - estar preparada para tais situações, não se configura a hipótese de caso fortuito. - Verificado que o dano nos equipamentos elétricos decorreu de falha de serviço da concessionária, a reparação dos mesmos é medida que se impõe. APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0024.12.103127-2/002 - COMARCA DE BELO HORIZONTE- APELANTE(S): TÓKIO MARINE BRASIL SEGURADORA S/A- APELADO(A)(S): CEMIG COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS ACÓRDÃO Vistos etc., acorda, em Turma, a 4ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, à unanimidade, em DAR PROVIMENTO À APELAÇÃO. Apelação com Revisão nº 1105589-67.2014.8.26.0100 Apelante: CAIUÁ DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA S/A Apelada: TOKIO MARINE BRASIL SEGURADORA S/A Comarca: São Paulo 36ª Vara Cível Juiz(a) : Antonio Carlos Santoro Filho V O T O N.º 32.388- PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS AÇÃO REGRESSIVA ENERGIA ELÉTRICA SOBRETENSÃO DANOS EM APARELHOS ELÉTRICOS E ELETRÔNICOS RESPONSABILIDADE RECONHECIDA RECURSO NÃO PROVIDO. Comprovado que a ré, na condição de empresa concessionária de distribuição de energia elétrica à unidades consumidoras dos segurados da autora, prestou serviços de forma inadequada, causando sobretensão na rede elétrica, o que determinou que vários aparelhos elétricos fossem danificados, sendo indenizado pela seguradora, que se subrogou nos direitos dos segurados, de rigor a procedência da ação. TOKIO MARINE SEGURADORA S/A propôs ação regressiva de ressarcimento em face de CAIUÁ DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA S/A. A r. sentença de fls. 170/172, cujo relatório se adota, julgou procedente a ação, condenando a ré a pagar à autora o valor de R$ 10.000,00, com correção monetária desde o desembolso pela seguradora e juros de mora de 1% ao mês a partir da citação. Arcará a ré, ainda, com as custas processuais e honorários advocatícios arbitrados em 15% do valor atualizado do débito. Inconformada, apela a ré pretendendo a reforma da r. decisão (fls. 179/186). Reitera, em síntese, que agiu em exercício regular de direito, pois presta serviço de distribuição de energia elétrica aos seus clientes e, como concessionária, deve se submeter às regras relativas à Lei de Concessão de Serviços Públicos bem como as normas emanadas pela ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica, especificamente o art. 204 da Resolução 061/2004, que estabelece que o consumidor tem até 90 dias a contar da data provável da ocorrência do dano elétrico no equipamento para solicitar o ressarcimento, devendo fornecer data e horário da ocorrência do dano e relato detalhado do problema apresentado, dentre outros requisitos, sendo que, no caso, não se verificou no sistema qualquer ocorrência registrada de oscilação de rede, conforme comprovado nos autos, não podendo ser considerados para tal fim os relatórios de vistoria e laudo técnico apresentados pela autora, mormente pelo fato de que não houve o devido acompanhamento da vistoria por parte da concessionária, bem como qualquer perturbação na rede elétrica na data informada. Assim, tendo em vista a ausência de nexo causal, além do próprio exercício regular de direito, pugna pela reforma da r. sentença, devendo ser rejeitado o pleito indenizatório, com inversão dos ônus sucumbenciais. A apelada apresentou contrarrazões, batendo-se pela manutenção integral da r. sentença e improvimento do apelo (fls. 195/210). É O RELATÓRIO. Conheço do recurso, mas lhe nego provimento. Verifica-se dos autos que a autora, seguradora, após procedimento de regulação de sinistro provocado pela empresa segurada Souza e Lingiard Ltda. EPP, a esta pagou a quantia de R$ 10.000,00 a título de indenização securitária em decorrência de danificação de equipamentos de sua propriedade por oscilações de energia elétrica na data de 05.04.2012, por volta das 18h30min. Com o fim de comprovar suas assertivas, a autora juntou aos autos a apólice de seguro que contempla a cobertura contratada denominada “danos elétricos” (fls. 62/64), bem como relatórios técnicos produzidos por empresa especializada em regulação de sinistro com o intuito de comprovar a origem dos danos nos bens atingidos, conforme se vê às fls. 66/77 e fls. 79/86, documentos esses que não foram impugnados especificamente pela empresa ré, que bem comprovaram os prejuízos reclamados pela segurada (fls. 85), culminando no pagamento da aludida indenização. Ademais, conquanto a concessionária tenha argumentado que não se verificou em seu sistema qualquer ocorrência registrada de oscilação de rede ou alguma reclamação procedida pela empresa segurada, é de se ver que, tal qual apontado pelo MM. juiz a quo, a própria ré, ora apelante, traz o registro em seu sistema de que houve a ocorrência na data informada pela autora (fls. 124/125), contrariando, pois, sua tese. Logo, restou devidamente comprovado que a recorrente, na condição de empresa concessionária de distribuição de energia elétrica às unidades consumidoras dos segurados da autora, prestou serviços de forma inadequada, causando sobretensão e oscilações na rede elétrica de forma a atingir a sede da empresa segurada e causar danos em diversos equipamentos elétricos e eletrônicos, sinistro que foi regularmente indenizado pela seguradora, ora autora, que se subrogou nos direitos da segurada e, assim, faz jus ao devido ressarcimento do que despendeu a título de indenização securitária, cujo valor também restou comprovado (R$ 10.000,00 fls. 94). De outro lado, competia à apelante, na condição de prestadora de serviços, a comprovação da regularidade destes, nos termos do art. 6º, VIII, do CDC, assim como do art. 333, II, do CPC, com o fim de desconstituir as provas produzidas pela autora, o que jamais fez, devendo, pois, ser mantida a condenação contida no decisum pelos seus próprios fundamentos, inclusive o percentual atinente à verba honorária sucumbencial, a ser suportado em sua inteireza pela ré diante das peculiaridades do caso concreto. Posto isto, nego provimento ao recurso. PAULO CELSO AYROSA M. DE ANDRADE Relator. Assim, justificados os direitos da autora, as alegações preliminares e de mérito suscitadas pela empresa ré não merecem prosperar. DOS PEDIDOS Por todo o exposto, requer seja julgada TOTALMENTE PROCEDENTE a presente ação,reiterando-se os pedidos contidos na inicial, a fim de que a empresa ré seja condenada ao pagamento das custas processuais e aos honorários advocatícios admitidos na forma da lei, rejeitando-se consequentemente as preliminares e as alegações arguidas em contestação. Nestes termos, pede deferimento. Sorocaba, 22 de outubro de 2017. ADVOGADO OAB.
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