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Hermenêutica Jurídica - Norberto Bobbio

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Aula 4 
A hermenêutica e a interpretação de Bobbio : não pode mais ser classificada como “clássica”, Bobbio é melhor classificado como um positivista, e será eleito como representante dessa escola.
Bobbio procurava estudar o direito a partir da norma jurídica isolada, na “Teoria do ordenamento jurídico” ele tomará a existência do ordenamento jurídico como necessário para a existência do direito. Ou seja, se antes se partia da norma para se chegar à existência do direito, agora não há direito sem que haja ordenamento.
 Bobbio, diz que é o ordenamento jurídico que define quais normas são jurídicas.
Rubens Limongi França, tem preocupação principal era com a norma, não com o ordenamento. 
Definição de direito: “O termo ‘direito’, na mais comum acepção de Direito objetivo, indica um tipo de sistema normativo, não um tipo de norma”.
O que diferencia o direito de outros tipos de ordenamentos não é uma qualidade da norma jurídica, mas do próprio ordenamento jurídico.
Características do ordenamento jurídico:
Alguns problemas se apresentam. 
O primeiro está relacionado com a própria definição de ordenamento jurídico quais são as características definidoras desse ordenamento. 
Vamos tratar desse primeiro problema. A definição de ordenamento jurídico, para Bobbio, se fundamenta em quatro eixos, destacaremos três deles: a unidade, a sistematicidade e a completude. 
Isso quer dizer que um ordenamento que se pretenda jurídico deve ter unidade, se configurar em sistema e ser dotado de completude.
A . Unidade
Ordenamentos jurídicos complexos, (é o caso do brasileiro) detêm uma quantidade imensa de normas para disciplinar as mais variadas condutas, essas normas são originárias das mais diversas “fontes” (Constituição, legislação ordinária, regulamentos, diretrizes, etc). 
Fontes que estão dispostas segundo uma hierarquia, sendo a constituição superior à legislação ordinária, e essa superior aos regulamentos, assim por diante. A norma menos importante precisa encontrar seu fundamento na mais importante. 
Qual é a fonte das fontes, aquela que fundamenta todo o ordenamento jurídico, e portanto lhe dá unidade? Tem o nome de norma fundamental. Essa norma fundamental não coincide com a Constituição, pois ela é em si uma norma. Antes, a norma fundamental de um ordenamento jurídico seria algo como “deve-se obedecer as normas editadas pelo poder constituinte.
É que ao se investigar sobre a norma que dá fundamento a todo ordenamento jurídico, não se pode limitar à lei já editada, mas procurar compreender qual é a fonte de poder ou soberania que autoriza a submissão a um determinado ordenamento jurídico. Assim, a norma fundamental não é expressa, mas apenas um pressuposto, um postulado, que permite por sua vez a unificação de todo o ordenamento jurídico sob sua tutela.
Sem pressupor a existência de tal norma fundamental, não se daria a unidade do ordenamento jurídico, pois é ela que fornece fundamento de validade de todas as normas do sistema. Isto é, uma norma faz parte do ordenamento jurídico se puder ser deduzida da norma fundamental daquele ordenamento.
O ordenamento jurídico tem como uma de suas características a unidade, expressa no escalonamento de hierarquia entre as normas, desde as inferiores até as superiores. No ponto mais alto do ordenamento jurídico encontra-se a norma fundamental, de onde todas as normas inferiores retiram seu fundamento. Não sendo possível deduzir uma norma qualquer da norma fundamental, sabemos que esta não integra o ordenamento jurídico. Essa informação será importante para quando tratarmos da solução de problemas de interpretação.
 Unidade e hierarquia são conceitos relacionados entre si, visto que a unidade remete à hierarquia das normas, até a norma fundamental, pressuposto do ordenamento do qual todas as demais normas tomam fundamento.
Aula 5
Passemos ao estudo das demais características do ordenamento jurídico: a sistematicidade e a completude.
B. Sistematicidade
Mas a simples unidade não é suficiente, é necessário que esta unidade se dê de maneira coerente, sistemática. Ou seja, o ordenamento jurídico conforma uma totalidade ordenada.
 Sistema estáticos e dinâmicos
Uma discussão interessante aberta por Bobbio faz referência aos sistemas em que a coerência se revela em função do conteúdo ou da forma.
Bobbio defende que ordenamentos estáticos têm sua coerência fundada no conteúdo, ou seja, a relação entre normas se dá em função da ação que devem exprimir. Um exemplo de ordenamento estaticamente sistemático é aquele fundado numa norma do tipo: “deve ser feita a paz”. Todas as normas formam um sistema desse tipo pois podem ser deduzidas desse comando mais geral.
Os ordenamentos jurídicos seriam sistemas de outro tipo, ou seja, sistemas dinâmicos.
Não é a questão material que conforma o ordenamento como sistema, mas uma derivação formal. 
A sistematicidade nos sistemas dinâmicos deriva da autoridade que expede as normas e não em seu conteúdo. Isso é, as normas derivam uma das outras em função de sucessivas delegações de poder.
Com base nessa distinção Bobbio sustenta a possibilidade de existência de antinomias em um ordenamento jurídico. O direito é um sistema no sentido em que não pode abrigar antinomias; existindo duas normas incompatíveis no sistema, uma ou as duas deverão ser afastadas.
Bobbio sustenta “O direito não é um ordenamento dedutivo nem apenas um sistema dinâmico, pois a incompatibilidade (incoerência) entre partes desse sistema serão resolvidas observando-se a autoridade que expediu a norma e a sua compatibilidade com as demais normas.”
Antinomias
Antinomia - em geral, é a situação na qual duas normas são contraditórias. 
Podemos definir antinomia como a situação em que se verifica duas normas incompatíveis, pertencentes ao mesmo ordenamento jurídico,tendo o mesmo âmbito de validade. 
Se o ordenamento jurídico tem como característica a sistematicidade concebida como vedação à ocorrência de normas incompatíveis, é preciso que existam mecanismos para solucionar a existência de normas contraditórias, são necessários dois requisitos:
- as duas normas devem pertencer ao mesmo ordenamento jurídico. O melhor exemplo seria notar a impossibilidade de antinomias entre ordenamentos de estados nacionais distintos.
- as duas normas têm que ter o mesmo âmbito de validade. Quanto ao âmbito de validade, para se configurar antinomia é preciso que, além de pertencer ao mesmo ordenamento jurídico, as duas normas contraditórias tratem do mesmo conjunto de fatos.
Bobbio distingue quatro âmbitos de validade:
i. Validade temporal: seria aquela que regula determinado espaço de tempo. Por Exemplo: “‘É proibido fumar das cinco às sete’ não é incompatível com: ‘É permitido fumar das sete às nove’”;
ii. Validade espacial é aquela referida a normatizar determinado espaço territorial.Exemplo: “‘É proibido fumar na sala de cinema’ não é incompatível com: ‘É permitido fumar na sala de espera’”;
iii. Validade pessoal: é a destinada a determinada pessoa ou grupo de pessoas. Por exemplo: “‘É proibido, aos menores de 18 anos, fumar’ não é incompatível com ‘É permitido aos adultos fumar’”;
iv. Validade material: É, por fim, aquela destinada a regular determinada matéria. No exemplo do autor: “‘É proibido fumar charutos’ não é incompatível com ‘É permitido fumar cigarros’”.
Antinomias impróprias
Antinomias , chamadas próprias, podem ser reais, quando não podem ser solucionadas, ou aparentes, quando sua solução pode ser encontrada nos critérios de superação de antinomias.
Há todavia outras concepções do termo, resultando no que define Bobbio como antinomias impróprias. São elas:
i. Antinomias de princípios: seria a percebida no embate sobre princípios antinômicos de um ordenamento jurídico. Um exemplo: a tutela da liberdade e da segurança poderiam dar ensejo a normas contraditórias.
ii. Antinomias de valoração: ocorreria quando num ordenamento há, por exemplo,sanções muito distintas para ilícitos semelhantes. Se resolve como problema de injustiça enão de incerteza.
iii. Antinomias teleológicas: surge do conflito de normas que dispõem sobre como se atingir um fim com normas que prescrevem uma finalidade.
Solução de antinomias próprias aparentes
Vimos que a coerência é um requisito para se conceituar o que é direito enquanto ordenamento jurídico. Logo, em regra, todas as antinomias devem ser sanadas. Isso tem a ver com um dever de coerência que Bobbio fundamenta numa questão de justiça, como que cabendo ao juízo zelar pela certeza, ou seja, impedindo a proliferação de normas contraditórias.
Se tomamos direito como ordenamento, podemos elencar algumas regras que auxiliam na transposição de antinomias. São três critérios fundamentais: 
i. Critério cronológico/lex posterior: consiste na
derrogação da lei anterior pela posterior. A pessoa a quem cabe legislar, ainda que não diga expressamente, pretende revogar disposição anterior quando, posteriormente, legisla de maneira diversa sobre a mesma matéria.
Jurídico Brasileiro:
Art. 2º. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.
§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
ii. Critério hierárquico/lex superior: determina que quando ocorre antinomia, a lei superior derroga a inferior. Estritamente ligado ao escalonamento hierárquico do ordenamento jurídico. Já vimos que o ordenamento se apresenta conforme uma hierarquia, e que é ela que garante a sua unidade. É a própria hierarquia que permite que a norma superior derrogue a inferior, não permitindo o inverso.
iii. Critério da especialidade/lex especialis: consiste na passagem de uma regulação de maior abrangência por uma norma para outra de menor abrangência por outra, contrária ou contraditória à primeira. Nesse caso, a lei especial, por ser mais específica, deve prevalecer sobre a mais genérica. 
Choque entre critérios 
ou antinomia de segundo grau
Pode ocorrer, não obstante, o confronto entre esses critérios. Chama-se o conflito entre critérios de antinomia de segundo grau, justamente por não tratar do conflito entre normas, mas sobre os critérios de interpretação dessas normas.
i. Conflito entre o critério hierárquico e o cronológico: nesse caso, tendo em conta a importância estruturante da unidade para a conformação do ordenamento jurídico, a norma superior prevalece sobre a inferior, ainda que essa seja mais nova.
ii. Conflito entre o critério da especialidade e o cronológico: nesse caso, a lei posterior geral não derroga a anterior específica.
iii. Conflito entre o critério hierárquico e o da especialidade: não há solução apontada por Bobbio para tratar desse tipo de confronto. Seria o caso de o juízo decidir sobre as condições concretas qual dos critérios deve prevalecer.
 Nota sobre as antinomias próprias reais
Pode ser, todavia, que o caso de antinomia não seja solúvel por nenhum dos critérios de solução, seja por não ser aplicável nenhum deles, seja por ser possível aplicar mais de um. Nesse caso, para Bobbio, não existe um quarto critério que permita resolver as antinomias deste tipo, isto é, um critério que seja reconhecido legítimo pelo intérprete quer por sua razoabilidade quer pelo incontrastado uso.
O único critério, é aquele tirado da forma da norma. Segundo a forma, as normas podem ser, imperativas, proibitivas e permissivas. O critério com respeito à forma consistiria em estabelecer uma graduação de prevalência entre as três formas da norma jurídica, por exemplo, deste modo: se de duas normas incompatíveis uma é imperativa ou proibitiva e a outra é permissiva, prevalece a permissiva. Seria o caso de prevalecer a lei favorável ao revés da odiosa.
É claro que essa solução pela forma não é muito abrangente nem definitiva. Nesse caso:
Devemos, porém, reconhecer que essas regras deduzidas da forma da norma não têm a mesma legitimidade daquelas deduzidas dos três critérios examinados no parágrafo precedente. Isso significa, em outras palavras, que, no caso de um conflito no qual não se possa aplicar nenhum dos três critérios, a solução do conflito é confiada à liberdade do intérprete; poderíamos quase falar de um autêntico poder discricionário do intérprete, ao qual cabe resolver o conflito segundo a oportunidade, valendo-se de todas as técnicas hermenêuticas usadas pelos juristas por uma longa e consolidada tradição e não se limitando a aplicar uma só regra. 
Nesse caso, o intérprete deveria, ao invés de eliminar normas contraditórias, eliminar a própria contradição, procurando manter a vigência de ambas normas pela interpretação.
Aula 6
C. Completude
Podemos entender completude no sentido de ausência de lacunas. Isso é, um ordenamento é completo quando o juiz pode encontrar nele uma norma para regular qualquer caso que se lhe apresente, ou melhor, não há caso que não possa ser regulado por uma norma extraída do sistema. 
4.3.1. Coerência (sistematicidade) e completude (ausência de lacuna)
Como já vimos, o problema da coerência está ligado à impossibilidade de existirem num sistema duas normas contraditórias. Por outro lado, a completude significa a exclusão de todas as situações nas quais o sistema não prevê nem uma norma que proíbe nem uma que permite determinado comportamento. Um sistema incoerente possui um excesso de normas, pois há tanto norma que permite como norma que proíbe a mesma conduta, configurando uma antinomia. 
Um sistema incompleto detém menos normas do que deveria, o que resulta em lacuna.
Pode-se dizer, portanto, que a coerência está ligada à unidade negativa (ou seja, eliminação das contradições) e a completude à unidade positiva (ausência de lacuna).
Para esquematizar, podemos pensar que a antinomia é excesso de normas configurando contradição entre elas, ao passo que lacuna é falta de normas para regular determinada conduta.
 O problema do non liquet
Não se pode negar a prestação da jurisdição (resolução da demanda posta em juízo) alegando-se a ausência de norma que o regule.
O postulado da completude, que veda justamente o non liquet, ou seja, a ausência de resposta jurídica ao caso apresentado em juízo, está baseado em duas premissas:
i. O juiz é obrigado a julgar todas as controvérsias que se apresentam ao seu exame;
ii. É obrigado a julgar necessariamente com base a uma norma pertencente ao sistema.
O nosso direito veda expressamente que o juiz se abstenha de solucionar o caso apresentado. Trata-se do princípio da inafastabilidade da jurisdição, derivado tanto da Constituição Federal, que traz em seu artigo 5º, inciso XXXV, o princípio da inafastabilidade da jurisdição, como no CPC, no caput do artigo 240. 
 A questão da equidade
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão o ameaça a direito”; “ Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico. Parágrafo único.
 O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.” É que se consideramos a completude um pressuposto do ordenamento jurídico, sem o qual não se pode falar sequer de ordenamento, o julgamento por equidade não poderia ser admitido.
Isso porque, como diz Bobbio, nos ordenamentos que se admite o julgamento por equidade é possível que o juiz afaste-se da lei para resolver o caso valendo-se da noção de justiça do caso concreto, noção esta que não integra o ordenamento.
Art. 413. A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se a obrigação
principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio.
Redução equitativa quer dizer aquela que o juizdecidir segundo o seu bom arbítrio. A solução do caso dependerá de uma norma criada pelo juiz diante daquele caso concreto (lembremos a definição de equidade: justiça no caso concreto) e não de um dado constante do ordenamento jurídico. Vejamos o que Bobbio disse sobre o tema:
Num ordenamento no qual faltasse a segunda regra [É obrigado a julgar necessariamente com base a uma norma pertencente ao sistema], o juiz seria, sim, levado a julgar cada caso, mas não seria obrigado a julgá-lo baseado em uma norma do sistema. É o caso do ordenamento que autoriza o juiz a julgar, na falta de um dispositivo de lei ou da lei dedutível, segundo a eqüidade. (...) 
Dá para entender que num ordenamento onde o juiz stá autorizado a julgar segundo a eqüidade, não tem nenhuma importância que o ordenamento seja preventivamente completo, porque é a cada momento completável. 
Pode ser que o ordenamento em questão não permita o non liquet, ou seja, a ausência de prestação jurisdicional, mas pode ser que ele não exija que todos os casos submetidos à análise judicial sejam resolvidos com normas pertencentes ao próprio sistema.
A crítica da escola da pesquisa livre ao dogma da completude
A completude apresentada como necessidade de que toda conduta seja regulada pelo ordenamento, seja permitindo ou proibindo, e que o ordenamento jurídico (o objeto do jurista) seja o complexo de normas criadas pelo Estado, foi bastante criticada.
Uma das mais incisivas críticas partiu da escola da livre pesquisa, também chamada de escola da livre criação do direito, consistente no apontamento de que o juiz sempre de uma forma ou de outra, cria o direito, e este direito nem sempre é igual ao direito formulado pelo legislador. 
Em outras palavras, a escola do direito livre afirmava, em síntese, que as lacunas não podiam ser preenchidas mediante o próprio direito estabelecido, mas apenas por meio da redescoberta e da formulação do direito direito livre.
Segundo Bobbio: Onipotente como o Estado do qual emanava, o Direito estatal devia regular cada caso possível: havendo lacunas, o que deveria ter feito o juiz senão recorrer a fontes jurídicas extraestatais, como o costume, a natureza das coisas, a eqüidade? Admitir que o
ordenamento jurídico estatal não era completo significava introduzir um Direito concorrente, quebrar o monopólio da produção jurídica estatal. E é por isso que a afirmação do dogma da completude caminha no mesmo passo que a monopolização do Direito por parte do Estado. Para manter o próprio monopólio, o Direito do Estado deve servir para todo uso.
A crítica da escola do direito livre sustentava, então, que o ordenamento jurídico é muito complexo e mutável para poder ser contido de imediato pelos preceitos jurídicos criados pelo legislador.
4.3.5. As respostas às críticas
Duas são as principais formas de tentar manter a completude como pressuposto não abalado pelas críticas formuladas. A primeira consiste na defesa de um espaço jurídico vazio ao passo que a segunda postula a existência de uma regra geral capaz de suprir a lacuna.
i. A tese do espaço jurídico vazio consiste em afirmar que toda norma jurídica representa uma limitação à livre atividade humana, assim com exceção da esfera regulada pelo direito, as pessoas são livres para fazerem o que quiserem. Ou seja, onde não houvesse norma para regular a conduta, nem proibindo nem permitindo, ainda assim haveria regulação jurídica,
Bobbio aponta que essa solução também pode ser objeto de crítica, pois liberdade para além do ordenamento jurídico significaria licença para o uso da força privada, não estatal, e portanto abriria brecha para a concepção de um sistema não contido pelo ordenamento jurídico estatal.
ii. Contra as críticas da escola do direito livre também foi sustentada a existência de uma norma geral exclusiva. Ou seja, uma norma particular que regula determinado comportamento (por exemplo, não fumar) não apenas limita esse comportamento específico e define suas consequências jurídicas, como ao mesmo tempo exclui dessa regulamentação todos os outros comportamentos. Uma norma que proíbe fumar exclui a proibição, ou seja, permite todos os outros comportamentos que não consistam em fumar:
Todos os comportamentos não-compreendidos na norma particular são regulados por uma norma geral exclusiva, isto é, pela regra que exclui (por isso é exclusiva) todos os comportamentos (por isso é geral) que não sejam aqueles previstos pela norma particular. 
Não haveria de se falar em incompletude ou lacuna, pois o ordenamento, quando não previsse norma específica para determinar o resultado jurídico de um fato, estaria
incluindo-o na norma geral exclusiva, que permite aquela conduta.
O problema com essa formulação teórica reside na questão da analogia. Em casos em que a analogia é proibida, como nas normas punitivas, sempre incidirá a norma geral exclusiva, o que não ocorre em outros casos. Se o ordenamento jurídico possui uma regra que exclui da disposição da norma particular um fato não previsto por ela, disciplinando-o com a regra geral exclusiva, não se poderia pensar no uso da analogia, que é a regular um caso não previsto a partir de outro a ele semelhante juridicamente regulado.
Segundo a norma geral exclusiva, o caso não regulado é excluído do regramento particular; segundo a analogia, o caso não regulado recebe regulação idêntica ao caso previsto na lei.
iii. A conclusão de Bobbio é no sentido de que os argumentos lançados para defender a completude do ordenamento jurídico não são bastantes para manter a crença no dogma inabalada. É preciso reconhecer casos em que há lacunas no ordenamento jurídico, sendo necessário instrumental técnico para resolvê-las.
As lacunas
Percebemos, então, ser possível falar em lacunas mesmo em um ordenamento jurídico que se pretenda unitário, sistemático e completo. Principalmente tendo em conta que há casos em que os critérios para a solução das lacunas (vazio jurídico ou norma geral exclusiva) não podem ser definidos de maneira a priori satisfatoriamente, permanecendo uma indecisão sobre qual critério utilizar para solucionar a ausência de regulamentação.
Definiremos lacuna como ausência de critérios válidos para decidir qual norma aplicar.
4.3.6.1. Os tipos de lacunas
i. Tendo em conta que nem sempre é possível apontar de dentro do próprio sistema todas as saídas possíveis, Bobbio inicia um tipificação das lacunas. O primeiro tipo de lacuna definida por ele é a lacuna ideológica. Nesse caso, não há propriamente a ausência de norma jurídica para regular o caso concreto, mas há uma disputa sobre qual seria a saída justa. Ou seja, notamos uma lacuna ideológica toda vez que há disputa sobre o que deveria ser, mas não é.
Já notamos que para os positivistas importa discutir o direito posto, razão pela qual a disputa sobre a solução justa para o caso concreto não é de interesse de Bobbio, razão pela qual ele diferencia lacuna ideológica (a que não interessa ao jurista) da lacuna real, ausência do ordenamento jurídico tal como ele se apresenta.
Importa, para Bobbio, o problema de saber se é completo ou incompleto o ordenamento legislativo, considerado como parte de um todo, e comparado ao todo, ou seja, ao ordenamento jurídico. 
ii. As lacunas próprias e impróprias: em poucas palavras, a lacuna própria é propriamente a lacuna que interessa ao jurista, ou seja, é uma lacuna do sistema ou dentro do sistema. A lacuna imprópria deriva da comparação do sistema real com um sistema ideal. A lacuna ideológica é típico exemplo de lacuna imprópria.
A semelhança entre esses tipos de lacuna é que designam um caso não regulado por leis vigentes num ordenamento jurídico. A diferença é o modo como são solucionadas. A lacuna imprópria somente por meio de nova lei, ou seja, somente pelo legislador. A lacuna própria, ao contrário, poderia ser sanada por obra do intérprete.
O problema do jurista, então, é solucionar as lacunas próprias.
iii. Lacunas subjetivas e objetivas: com relação aos motivos que dão origem às lacunas,pode-se dizer que lacuna subjetiva deriva da vontade do legislador. 
Pode ser voluntária ou involuntária. Lacuna subjetiva voluntária ocorreria quando houvesse vontade deliberada do legislador de permitir maior flexibilidade na matéria (retomar a discussão sobre as cláusulas gerais e os conceitos jurídicos indeterminados, exemplos de lacunas subjetivas voluntárias). Nesse caso não se pode falar de lacuna própria, pois a ausência ou lacuna é intencional e o vazio deixado pelo legislador deve ser preenchido pela atividade do órgão jurisdicional.
De outro lado, a lacuna subjetiva involuntária seria a resultante de alguma distração do legislador, que não regula a matéria de maneira precisa.
4.3.7. Interpretação e integração no direito
Uma distinção importante é relativa aos conceitos de interpretação e integração.
Interpretação seria, tanto para escola da hermenêutica clássica como para os positivistas, o ato de esclarecer o sentido da lei.
A integração, de outro lado, seria a conduta de suprir lacunas do ordenamento jurídico, ou seja, de completar o ordenamento jurídico em movimento.
4.3.7.1. Autointegração e heterointegração
Com base na diferenciação entre interpretação e integração, pode-se dizer que o ordenamento jurídico não é completo de saída, tal como existe, mas que é completável, que suas lacunas podem ser integradas pelo órgão dotado dessa autoridade. Ou seja, existe uma tendência de o ordenamento se expandir, regulando casos originariamente não previstos.
Assim, um ordenamento jurídico pode ser completado ou integrado a partir de dois métodos distintos: partindo de ordenamentos diversos (heterointegração) ou partir da própria fonte dominante no ordenamento jurídico e com o mínimo de recurso a outros ordenamentos (autointegração).
Um exemplo de heterointegração para Bobbio seria a utilização, no seio de um ordenamento jurídico positivo, de regras do direito natural. Podemos classificar o recurso aos costumes, ao direito judiciário ou jurisprudência, e à doutrina também como formas de heterointegração.
De outro lado, a autointegração se utiliza sobretudo de dois procedimentos: analogia e princípios gerais do direito.
4.3.8. A analogia
A analogia, segundo Bobbio, é o meio por excelência para a expansão do direito para além dos casos expressamente regulado.
Já tivemos oportunidade de tratar da analogia previamente. Vejamos agora apenas alguns apontamentos formulados por Bobbio:
Entende-se por “analogia” o procedimento pelo qual se atribui a um caso não-regulamentado a mesma disciplina que a um caso regulamentado semelhante. (...) Para que se possa tirar a conclusão, quer dizer, para fazer a atribuição ao caso não-regulamentado das mesmas conseqüências jurídicas atribuídas ao caso regulamentado semelhante, é preciso que entre os dois casos exista não uma semelhança qualquer, mas uma semelhança relevante, é preciso ascender dos dois casos a uma qualidade comum a ambos, que seja ao mesmo tempo a razão suficiente pela qual ao caso regulamentado foram atribuídas aquelas e não outras conseqüências. (...) Por razão suficiente de uma lei entendemos aquela que tradicionalmente se chama a ratio legis. Então diremos que, para que o raciocínio por analogia seja lícito no Direito, é necessário que os dois casos, o regulamentado e o não-regulamentado tenham em comum a ratio legis. De resto é o que foi transmitido com esta fórmula: “Onde houver o mesmo motivo, há também a mesma
disposição de direito” (Ubi eadem ratio, ibi eadem iuris dispositio). 7
4.3.8.1. Analogia propriamente dita ou analogia legis e analogia iuris: Assim como
Limongi França, Bobbio diferencia duas espécies de analogia, mas as define de maneira diversa daquela usada pelo jurista brasileiro.
Analogia iuris: seria o procedimento com que se extrai uma nova regra para um caso imprevisto a partir de todo o ordenamento jurídico, e não de uma regra específica.
Esse procedimento seria qualitativamente idêntico ao recurso aos princípios gerais do direito.
Analogia legis ou analogia propriamente dita, de outro lado, seria a aplicação de uma norma jurídica particular ao caso não regulado, em razão da semelhança existente entre eles. Cria-se uma norma jurídica com base em outra norma particular existente.
4.3.9. Princípios gerais do direito
O segundo recurso de autointegração do direito seria a utilização dos princípios gerais do direito, também conhecido como analogia juris. Para Bobbio, “princípios gerais são apenas, a meu ver, normas fundamentais ou generalíssimas do sistema, as normas mais gerais”. 8 Princípios gerais, na construção de Bobbio, seriam normas como todas as outras, mas com amplitude (âmbito de validade) muito mais amplo que as normas particulares. São normas porque, assim como todas as demais, serviriam para regular um caso concreto, inserindo-o no ordenamento jurídico, a partir de uma lacuna.
4.3.9.1. Princípios gerais expressos e implícitos
Para Bobbio, tendo em conta que os princípios são normas generalíssimas, eles poderiam tanto estar previstos expressamente no texto legal como ser deduzidos implicitamente do ordenamento. Vejamos sua definição:
Muitas normas, tanto dos códigos como da Constituição, são normas generalíssimas, e portanto, são verdadeiros e autênticos princípios gerais expressos. (...) Muitas normas da Constituição são princípios gerais do Direito; mas, diferentemente das normas do Código Civil, algumas delas esperam ainda ser aplicadas: são princípios gerais expressos não-aplicados. 
Os princípios não expressos:
Ao lado dos princípios gerais expressos há os não expressos, ou seja, aqueles que se podem tirar por abstração de normas específicas ou pelo menos não muito gerais: são princípios, ou normas generalíssimas, formuladas pelo intérprete, que busca colher,comparando normas aparentemente diversas entre si, aquilo a que comumente se chama o espírito do sistema. Chegando ao final da discussão sobre o livro de Bobbio, revisaremos a matéria a partir de um material em que as regras gerais de interpretação do direito brasileiro serão contrastadas com as premissas que orientam o pensamento de Bobbio.
Questões 
 
Relacione unidade com hierarquia
Unidade e hierarquia são conceitos relacionados entre si, visto que a unidade remete à hierarquia das normas, até a norma fundamental, pressuposto do ordenamento do qual todas as demais normas tomam fundamento.
Sistematicidade - coerência - antinomias 
É necessário que a unidade se dê de maneira coerente, sistemática. Ou seja, o ordenamento jurídico conforma uma totalidade ordenada. Bobbio faz referência aos sistemas em que a coerência se revela em função do conteúdo ou da forma, defende que ordenamentos estáticos têm sua coerência fundada no conteúdo, ou seja, a relação entre normas se dá em função da ação que devem exprimir. “O direito não é um ordenamento dedutivo nem apenas um sistema dinâmico, pois a incompatibilidade (incoerência) entre partes desse sistema serão resolvidas observando-se a autoridade que expediu a norma e a sua compatibilidade com as demais normas.” O direito é um sistema no sentido em que não pode abrigar antinomias; existindo duas normas incompatíveis no sistema, uma ou as duas deverão ser afastadas.
Completude – lacunas – integração
Completude: Para esquematizar, podemos pensar que a antinomia é excesso de normas configurando contradição entre elas, ao passo que lacuna é falta de normas para regular determinada conduta. Um sistema incompleto detém menos normas do que deveria, o que resulta em lacuna. , a completude significa a exclusão de todas as situações nas quais o sistema não prevê nem uma norma que proíbe nem uma que permite determinado comportamento. Um sistema incoerente possui um excesso de normas, pois há tanto norma que permite como norma que proíbe a mesma conduta, configurando uma antinomia. 
Questão CESPE 2008 – Antinomias
Antinomias , chamadas próprias, podem ser
reais, quando não podem ser solucionadas, ou aparentes, quando sua solução pode ser encontrada nos critérios de superação de antinomias.Segundo Bobbio, sobre normas diferencie comportamento de estruturas.
Comportamento: regulam condutas humanas.
Estruturas: regulam as próprias normas, como fazer, alterar e etc (procedimento)

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