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vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES FAJ – FACULDADE DE JUSSARA DIREITO ADMINISTRATIVO II Bens Públicos e Intervenção Do Estado na Propriedade Professor Esp. Victor Fernandes 2017 vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES BENS PÚBLICOS CONCEITO Os bens, em sentido amplo, podem dividir-se em duas vertentes principais: os bens privados, aqueles pertencentes à particulares, e os bens públicos, aqueles pertencentes à Pessoa Jurídica de Direito Público ou que estejam afetados (destinados) à prestação de serviços públicos, incluindo os pertencentes aos entes estatais cuja natureza jurídica é de direito privado (Empresas Públicas (Correios) e Sociedade de Economia Mista). ATENÇÃO! A regra é que os bens das Empresas Públicas e Sociedade de Economia Mista não são públicos, exceto no caso acima exposto! Ex: Banco do Brasil e Petrobrás. O conceito de bens públicos é mais abrangente que o conceito de “domínio público”, pois este está relacionado ao conjunto de bens móveis ou imóveis pertencentes somente ao Estado, e como acima exposto, podem existir bens públicos pertencentes à pessoas jurídicas de direito privado. Curiosamente, o Código Civil, que regula as relações privadas, dispõe o conceito de bens públicos, em seu artigo 98, não havendo normas de direito público que regulem especificamente o assunto. Art. 98, CC: São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES CORRENTES DOUTRINÁRIAS Em síntese, o Código Civil define bens públicos por sua titularidade (corrente exclusivista, mais aceita pelas Bancas de concurso), enquanto a doutrina (Celso Antônio Bandeira de Mello), que reconhece como bem publico aqueles pertencentes à pessoas jurídicas de direito privado afetados à prestação de serviços públicos, os define pela destinação (corrente mista). Cabe trazer a vertente inclusivista, defendida por Helly Lopes Meirelles e Maria Sylvia Zanella Di Pietro, que consideram como bens públicos todos aqueles pertencentes à administração pública direta e indireta. A crítica a esta corrente se fundamenta pela ausência de diferenciação do regime jurídico de bens afetados à prestação de serviços públicos e aqueles destinados à exploração econômica (patrimônio das empresas públicas e sociedade de econômica mista exploradoras de atividades econômicas). CLASSIFICAÇÃO DOS BENS PÚBLICOS QUANTO À SUA DESTINAÇÃO Bens de uso comum (art. 99, I, CC) – Bens de utilização universal, sem necessidade de autorização por parte do Poder Público (ruas, praças, calçadas, praias). Atenção! A utilização especial (anormal) dos bens de uso comum necessitam de prévia autorização administrativa. Ex: casamento na praia. De uso gratuito – banho de mar, banco das praças, andar pelas ruas; De uso retribuído – pedágio, museus, zoológico, “zona azul”. Bens de uso especial (art. 99, II, CC) – Ligados à prestação de serviços / atividades administrativas específicas. Aqueles que foram previamente afetados para sua destinação, não admitindo outra forma de utilização. (creches, universidades públicas, prédios públicos). vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES De uso direto - quando utilizados diretamente pelo Estado. De uso indireto - quando o Estado conserva o bem para finalidade específica (terras indígenas / área de preservação permanente). Bens dominicais ou dominiais (art. 99, III, CC) – Não estão afetados à finalidade pública específica. Sem destinação pública (desafetados). (terras devolutas, carteiras escolares velhas, lotes desafetados). AFETAÇÃO – o simples uso do bem pode originar a afetação. DESAFETAÇÃO – deve ser feita de maneira formal. Pode haver desafetação por fatos da natureza? QUANTO À TITULARIDADE Quanto à titularidade, os bens públicos dividem-se em: Bens federais: art. 20, CF/88. Bens Estaduais: art. 26, CF/88. Bens Distritais; Todos aqueles que se encontram instalados nas repartições públicas distritais, além dos indispensáveis para a prestação dos serviços públicos de competência distrital. Bens Territoriais Todos aqueles que se encontram instalados nas repartições públicas territoriais, além dos indispensáveis para a prestação dos serviços públicos de competência territorial. Bens Municipais Todos aqueles que se encontram instalados nas repartições públicas municipais, além dos indispensáveis para a prestação dos serviços públicos de competência municipal, além das ruas, parques, praças, estradas municipais. vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES QUANTO À DISPONIBILIDADE Indisponíveis por natureza Aqueles de caráter essencialmente não patrimonial e de uso comum do povo, como o meio ambiente; o ar; a luz solar. Bens patrimoniais indisponíveis Aqueles de caráter patrimonial, pertencentes às categorias “de uso comum” e “de uso especial” (art. 99, I e II, CC). São indisponíveis enquanto inseridos em tais categorias, podendo se tornar disponíveis caso sofram desafetação. Bens patrimoniais disponíveis Os passíveis de alienação (bens dominiais). ATRIBUTOS (GARANTIAS) DOS BENS PÚBLICOS Impenhorabilidade (art. 100, CF) O Estado não despende de constrição judicial dos seus bens para garantia de débitos, mesmo quando falamos de bens dominiais. Tal garantia se depreende do chamado regime de precatórios, disposto no artigo 100 da Constituição Federal. O regime de precatórios é modalidade especial de execução atribuída ao Poder Público. A regra é que todos os débitos serão pagos por esse regime especial, salvo algumas exceção, mencionada nos § 3°e 4° do artigo supracitado: Pagamentos de obrigações definidas em lei como de pequeno valor (cada ente federado decide qual quantia é considerada “pequeno valor”, desde que o valor mínimo estabelecido seja o do maio benefício do Regime Geral da Previdência Social (atualmente R$ 5.189,82 – cinco mil cento e oitenta e nove reais e oitenta e dois centavos). O regime de precatórios deve observar uma ordem de pagamentos. Assim, após a sentença judicial transitada em julgado, os primeiros débitos a serem pagos serão os de natureza vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES alimentar especial (ler § 2°, art. 100, CF). Logo após, serão pagos os débitos alimentares (ler § 10°, art. 100, CF) e por fim, os débitos de natureza não alimentar. Imprescritibilidade (Arts. 102, CC; 183 § 3°, CF e 191, § único, CF) O bem público não pode ser objeto de usucapião (não pode ser usucapido), ou seja, adquirido através de posse mansa e pacífica por determinado lapso temporal continuado. Atenção! Mesmo os bens dominicais não são passíveis de usucapião! Este é o entendimento da Súmula 340 do Supremo Tribunal Federal, que dispõe que “desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os demais bens públicos, não podem ser adquiridos por usucapião.” As modalidades de usucapião estão dispostas no Código Civil Brasileiro em seus artigos 1.238 (extraordinária); 1.242 (ordinária); 1.239 (rural) e 1.240 (urbana). Inalienabilidade (alienabilidade condicionada) (arts. 100 e 101, CC) Os bens públicos afetados não podem ser alienados (vendidos). Ocorre que se tais bens passarem por um processo de desafetação (não afetados àum serviço ou atividade pública) ou já se encontrarem desafetados, poderão ser alienados mediante requisitos dispostos em lei. Por isso alguns autores não chamam tal atributo de “inalienabilidade” mas sim de alienabilidade condicionada. Em regra, os requisitos a serem observados são (arts. 17 a 19, L. 8.666/93): - Bens imóveis pertencentes à União (L. 9.636/98, art. 23): 1) Bem desafetado; 2) Demonstração de interesse público para a alienação; 3) Avaliação prévia; 4) Autorização legislativa; 5) Autorização do Presidente da República; A competência para autorizar a alienação de bem imóvel da união poderá ser delegada ao Ministro de Estado da Fazenda . 6) Licitação na modalidade concorrência ou leilão (Art. 25, L. 9.636/98) vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES - Bens imóveis (Pessoas jurídicas de direito público – Administração Direta, autarquias e fundações públicas): 7) Bem desafetado; 8) Demonstração de interesse público para a alienação; 9) Avaliação prévia; 10) Autorização legislativa; 11) Licitação na modalidade concorrência (regra) Exceção: Poderá ser utilizado concorrência ou leilão para a alienação de bem decorrente de decisão judicial ou dação em pagamento (art. 19, L. 8.666/93) - Bens imóveis (pessoas jurídicas de direito privado – empresas públicas, sociedade de economia mista e paraestatais): 1) Bem desafetado; 2) Demonstração de interesse público para a alienação; 3) Avaliação prévia; 4) Licitação na modalidade concorrência. - Bens móveis (independente de quem pertençam): 1) Bem desafetado; 2) Demonstração de interesse público para a alienação; 3) Avaliação prévia; 4) Licitação em qualquer modalidade Não-onerabilidade Os bens públicos não podem ser objeto de direito real de garantia (penhor, anticrese e hipoteca) - Penhor (art. 1.431, CC): é a transferência da posse direta de bem móvel sucetivel de alienação, como forma de garantir débito. Até o pagamento da dívida, o bem fica nas mãos do credor. vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES - Hipoteca (art. 1476, CC): é a gravação de um bem imóvel pertencente ao devedor sem transmissão da posse ao credor (não há tradição). Se o devedor não paga, o credotr tem direito de solicitar a venda judicial do bem - Anticrese: é a transferência da posse de bem imóvel para que o credor aproveite os frutos e rendimentos do imóvel até o montante da dívida ser pago. USO PRIVATIVO DE BENS PÚBLICOS POR PARTICULARES Os bens públicos (sejam de uso comum, especiais ou dominicais) poder ser utilizados por particulares de maneira privativa. Os principais instrumentos para a outorga do uso privativo de uso de bem público por particular são: Autorização É ato administrativo unilateral, discricionário, precário (que pode ser revogado a qualquer tempo sem direito a indenização) e sem licitação por meio do qual o Poder Público outorga a utilização do bem sendo que nesse caso, o interesse privado é predominante (embora não exclua o interesse público). Ex: fechamento de rua para festa da igreja, autorização para a disposição de mesas de bar na calçada, casamento na praia. Atenção! Se a autorização for exteriorizada por prazo determinado, sua revogação antecipada ensejará indenização ao particular prejudicado. Permissão É ato administrativo unilateral, discricionário e precário (que pode ser revogado a qualquer tempo sem direito a indenização) pelo qual o Poder Público defere o uso privativo de bem público a determinado particular, sendo que o interesse predominante é o público. vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES Na permissão, existe obrigatoriedade na utilização do bem público objeto desta, ademais, diferente da autorização, conforme dispõe o art, 2º da L. 8.666/93, a outorga de permissão pressupõe a realização de licitação (por meio de qualquer na das modalidades licitatórias. Ex: instalação de banca de jornal em área pública; Atenção! Se a permissão for exteriorizada por prazo determinado, sua revogação antecipada ensejará indenização ao particular prejudicado. Concessão É contrato administrativo bilateral, onde o Poder Público defere, mediante prévia licitação, o uso privativo e obrigatório de bem público a particular por prazo determinado. Aqui, como na permissão, a predominância é do interesse público sobre o do concessionário. Ex: concessão de jazida (art. 176, CF) Atenção! A utilização poderá ser gratuita ou remunerada por parte do concessionário Atenção! A rescisão antecipada do contrato pode ensejar dever de indenizar, desde que não tenha havido culpa do concessionário INFORMAÇÕES IMPORTANTES - O art. 2° da L. 6.969/81 admite usucapião especial sobre terras devolutas localizadas na área rural. - A L. 9.636/98 trata acerca da alienação os bens imóveis pertencentes à União. - A medida provisória 2.226/2001 dispõe em seu artigo 1° que “aquele que, até 30 de junho de 2001, possuiu como seu, por 5 anos, ininterruptamente e sem oposição até 250m² de imóvel público situado em área urbana, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, tem o direito à concessão de uso especial para fins de moradia em relação ao bem objeto da posse, desde que não seja proprietário ou concessionário, a qualquer título, de outro imóvel urbano e rural.” vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES - A doutrina tradicional (como Diogenes Gasparini) designa “consagração” e “desconsagração” como sinônimos de “afetação” e “desafetação”, respectivamente. - Apesar do uso normal de bem público ocorrer sem autorização do poder público, a utilização destes pode ser regulamentada (Ex: direito de reunião, art. 5° XVI, CF). INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE DIREITO DE PROPRIEDADE Primeiramente é importante mencionar o direito de propriedade, garantido constitucionalmente nos termos do artigo 5°, XXII, além do artigo 1.231 do Código Civil, que prescreve que “a propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário”. O direito de propriedade possui três características marcantes, quais sejam: o caráter exclusivo, o caráter perpétuo e o caráter absoluto. O caráter exclusivo ocorre em decorrência de o direito de propriedade poder ser exercido sem a interferência de terceiros. Assim, somente o proprietário poderá exercer de forma plena as faculdades inerentes ao domínio (usar, gozar, dispor, reaver). O caráter perpétuo existe visto que não há prazo definitivo para o exercício do direito de propriedade, sendo que este durará até a transferência para outra pessoa, seja em decorrência da morte (herança) seja por negócios entre pessoas vivas (compra e venda). Por fim, cabe trazer o caráter absoluto do direito de propriedade, que garante ao proprietário de bem a utilização deste como melhor lhe convir, desde que não cause prejuízos a terceiros ou viole direitos e garantias (como por exemplo, a função social da propriedade). Caso o proprietário venha a ferir direitos e garantias legalmente dispostos, caberá ao Poder Público, através do chamado Poder de Polícia (art. 78, CTN) intervir na propriedade privada, a fim de garantir que o bem da coletividade seja resguardado, em respeito ao princípio da supremacia do interesse público sobre o privado. vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES Atenção! A competência para legislar acerca do Direito de Propriedade é privativa da união, conforme art. 22, I, CF. MODALIDADES DE INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADEA intervenção estatal na propriedade (em regra privada) pode ocorrer a partir de duas modalidades: a restritiva, quando o Poder Público restringe ou condiciona o bem do particular sem que seja retirada a propriedade de seu domínio ou supressiva, quando o Estado, de maneira coercitiva, retira a propriedade de terceiros e, em regra, transfere para o domínio público. As espécies de intervenção restritivas são: servidão administrativa, ocupação temporária, requisição, tombamento e limitação administrativa. Por sua vez, a desapropriação, por excelência, é espécie de intervenção supressiva. ESPÉCIES DE INTERVENÇÃO RESTRITIVA Servidão Administrativa Helly Lopes Meirelles conceitua a servidão administrativa como “direito real de uso imposto pela administração pública à propriedade participar para assegurar a realização e conservação de obras e serviços públicos ou de utilidade pública, mediante indenização pelos prejuízos efetivamente suportados. - Características 1) É ônus real (gruda no bem – ocorre a inscrição no registro de imóveis, possuindo assim efeitos “erga omnes”); 2) Recai sobre bem imóvel (regra); 3) Caráter definitivo; 4) Pode ocorrer mediante acordo administrativo ou mediante sentença judicial; 5) A indenização é prévia e condicionada; 6) Pode se extinguir pelo desaparecimento do bem sobre qual recaiu servidão, pela incorporação do bem ao patrimônio público ou pelo desinteresse superveniente da administração pública. Ex: Rede elétrica que passa por propriedade particular Ocupação Temporária vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES Helly Lopes Meirelles conceitua a ocupação temporária como “a utilização transitória, remunerada ou gratuita de bens particulares pelo Poder Público para a execução de obras, serviços ou atividades públicas ou de interesse público” - Características 1) É direito pessoal da administração pública; 2) Recai sobre bem imóvel; 3) Caráter transitório; 4) É ato autoexecutório (não depende de apreciação pelo Poder Judiciário); 5) A indenização é prévia e condicionada (regra – se vinculada ao processo de desapropriação deverá ocorrer indenização) 6) Se extingue com a conclusão da obra ou do serviço de interesse público Ex: eleições em escolas privadas, ocupação de propriedade para depósito de materiais para duplicação de rodovia. Requisição (Art. 5º, XXV) Helly Lopes Meirelles conceitua a requisição como “a utilização coativa de bens ou serviços particulares pelo Poder Público por ato de execução imediata e direta da autoridade requisitante e indenização ulterior para o atendimento de necessidades coletivas urgentes e transitórias” A requisição pode ser civil, quando relacionada à segurança, danos à vida, à saúde e aos bens da coletividade ou militar, quando relacionada ao resguardo da segurança interna e a manutenção da soberania nacional (dec-lei 4.812/42/ L. 7.565/86) - Características 1) É direito pessoal da administração pública; 2) Recai sobre bens móveis, imóveis e serviços; 3) Caráter transitório; 4) É ato autoexecutório; 5) Indenização condicionada e ulterior 6) Se extingue quando desaparecer a situação de perigo iminente que culminou a requisição. Ex: requisição de veículo particular para perseguição de bandido; requisição de serviços médicos em caso de grave epidemia. vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES Tombamento (Art. 226, § 10º, CF) É a modalidade de intervenção na propriedade por meio da qual o Poder Público procura proteger a memória nacional, bens de ordem histórica, artística, arqueológica, cultura, científica, turística e paisagística. Pode ocorrer de maneira voluntária, na existência de acordo em Poder Público e proprietário, compulsória, quando inexistente possibilidade de acordo, provisória, quando o processo administrativo instaurado pela notificação do poder público estiver em andamento ou definitiva, quando o bem for inscrito como tombado no respectivo registro de tombamento. - Características 1) É direito real (cola no bem); 2) Recai sobre bens móveis ou imóveis (públicos ou privados); 3) Caráter definitivo; 4) Em regra não gera indenização; - Processo de Tombamento (fases) 1) Parecer do órgão técnico cultural; 2) Notificação ao proprietário do bem (que poderá concordar ou impugnar); 3) Decisão do conselho consultivo (que poderá anular o processo, caso houver alguma ilegalidade; rejeitar, caso entenda não haver motivos para a intervenção ou homologar. 4) Prazo para recurso dirigido ao Presidente da República; - Efeitos do tombamento 1) É vedado ao proprietário destruir, demolir, mutilar o bem; 2) Só poderá reparar e pintar mediante autorização do Poder público 3) Deverá conservar o bem e se não dispuser de recursos, deverá comunicar o Poder Público para que se proceda atos de reparação/conservação. 4) O Poder Público poderá tomar medidas para reparar ou conservar o bem independente de autorização do proprietário 5) O tombamento não impede o proprietário de gravá-lo por meio de penhor, anticrese ou hipoteca. vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES Ex: A cidade de Goiás é tombada, por ser considerada como patrimônio histórico; tombamento de carro antigo. Atenção! O art. 1.072 do Código de Processo Civil revogou o dispositivo que previa o direito de preferência do Poder Público em caso de alienação de bem tombado (art. 22 dec-lei 25/37). Limitação Administrativa Helly Lopes Meirelles conceitua a limitação administrativa como “toda imposição geral, gratuita, unilateral e de ordem pública condicionada ao exercício de direitos ou atividades particulares às exigências do bem-estar social” Características 1) É ato legislativo ou administrativo; 2) Possui caráter geral; 3) Caráter definitivo; 4) Não gera direito à indenização, por tratar-se de limitação abstrata, ou seja, não recai apenas sobre um indivíduo, mas sobre todos que se enquadrarem na limitação imposta pelo Poder público. 5) Pode recair sobre bens móveis e imóveis; 6) Podem ser positivas (fazer algo – limpar lote ou piscinas), negativas (não fazer algo – não construir prédio alto próximo a aeroportos) ou permissivas (permitir algo em sua propriedade) Ex: rodizio de carros em São Paulo de acordo com as placas do veículo (carros com placas terminadas em 3 só poderão rodar no centro em dias determinados) ESPÉCIE DE INTERVENÇÃO SUPRESSIVA Desapropriação É um procedimento administrativo, compulsório, que objetiva transferir o patrimônio de terceiro para o domínio público diante necessidade pública, utilidade pública ou interesse social, mediante indenização prévia, justa e em dinheiro. 1) PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO – conjunto ordenado de atos administrativos 2) COMPULSÓRIO – realizado de modo imperativo, unilateral, independente da anuência do proprietário do bem; 3) QUE TRANSFORMA O BEM DE TERCEIRO EM PROPRIEDADE PÚBLICA – todos os tipos de bens; vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES 4) POR NECESSIDADE PÚBLICA; UTILIDADE PÚBLICA OU INTERESSE SOCIAL. 5) MEDIANTE INDENIZAÇÃO – prévia justa e em dinheiro (na desapropriação comum). Características - É excepcional - É meio coercitivo - Em regra, recai sobre todos os bens de valor econômico - É forma originária de propriedade – o poder público recebe o bem livre de ônus real, pessoal, ou de relações jurídicas (passa uma borracha no passado do bem) (HIPOTECA – CONTRATO DE LOCAÇÃO).Nesse caso, entende-se como sub-rogado o direito do credor no valor da indenização.- Ocorre em caso de Utilidade Pública, Necessidade Pública ou Interesse social. UTILIDADE X NECESSIDADE X INTERESSE SOCIAL Utilidade Pública A aquisição é conveniente, mas não imprescindível. (melhor solução). O art. 5º do Decreto-Lei n. 3.365/41 descreve as seguintes hipóteses de utilidade pública para fins de desapropriação: a) a segurança nacional;* b) a defesa do Estado;* c) o socorro público em caso de calamidade;* d) a salubridade pública; e) a criação e melhoramento de centros de população, seu abastecimento regular de meios de subsistência; f) o aproveitamento industrial das minas e das jazidas minerais, das águas e da energia hidráulica; g) a assistência pública, as obras de higiene e decoração, casas de saúde, clínicas, estações de clima e fontes medicinais; h) a exploração ou a conservação dos serviços públicos; i) a abertura, conservação e melhoramento de vias ou logradouros públicos; a execução de planos de urbanização; o parcelamento do solo, com ou sem edificação, para sua melhor utilização econômica, higiênica ou estética; a construção ou ampliação de distritos industriais; vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES j) o funcionamento dos meios de transporte coletivo; k) a preservação e conservação dos monumentos históricos e artísticos, isolados ou integrados em conjuntos urbanos ou rurais, bem como as medidas necessárias a manter-lhes e realçar-lhes os aspectos mais valiosos ou característicos e, ainda, a proteção de paisagens e locais particularmente dotados pela natureza; l) a preservação e a conservação adequada de arquivos, documentos e outros bens móveis de valor histórico ou artístico; m) a construção de edifícios públicos, monumentos comemorativos e cemitérios; n) a criação de estádios, aeródromos ou campos de pouso para aeronaves; o) a reedição ou divulgação de obra ou invento de natureza científica, artística ou literária; p) os demais casos previstos por leis especiais”. Necessidade Pública: Situações de emergência, que exigem transferência urgente e imprescindível (única solução). Não há lei específica dando as hipóteses de necessidade, mas a doutrina, majoritariamente considera as três primeiras hipóteses do artigo 5° do dec. 3.365/41 como hipóteses de necessidade pública. a) a segurança nacional;* b) a defesa do Estado;* c) o socorro público em caso de calamidade;* Atenção! (Art. 15 – dec-lei 3365/41) Se o expropriante alegar urgência e depositar quantia arbitrada de conformidade com o art. 685 do Código de Processo Civil, o juiz mandará imiti-lo provisoriamente na posse dos bens; § 1º A imissão provisória poderá ser feita, independente da citação do réu, mediante o depósito: a) do preço oferecido, se este for superior a 20 (vinte) vezes o valor locativo, caso o imóvel esteja sujeito ao imposto predial; b) da quantia correspondente a 20 (vinte) vezes o valor locativo, estando o imóvel sujeito ao imposto predial e sendo menor o preço oferecido) do valor cadastral do imóvel, para fins de lançamento do imposto territorial, urbano ou rural, caso o referido valor tenha sido atualizado no ano fiscal imediatamente anterior; vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES d) não tendo havido a atualização a que se refere o inciso c, o juiz fixará independente de avaliação, a importância do depósito, tendo em vista a época em que houver sido fixado originalmente o valor cadastral e a valorização ou desvalorização posterior do imóvel. § 2º A alegação de urgência, que não poderá ser renovada, obrigará o expropriante a requerer a imissão provisória dentro do prazo improrrogável de 120 (cento e vinte) dias § 3º Excedido o prazo fixado no parágrafo anterior não será concedida a imissão provisória§ 4o A imissão provisória na posse será registrada no registro de imóveis competente. Interesse Social É desapropriação-sanção, relacionada à função social da propriedade, servindo para promover justa distribuição da propriedade (reforma agraria) ou condicionar o uso ao bem estar-social (art. 1° 4.132/62). É exceção da regra da indenização em dinheiro (títulos públicos) e é exceção da regra de transferência do domínio (visto que irá para a coletividade/ou destinatários legalmente constituídos). Recai apenas sobre bens imóveis A Lei n. 4.132/62, em seu art. 2º, considera de interesse social: I – o aproveitamento de todo bem improdutivo ou explorado sem correspondência com as necessidades de habitação, trabalho e consumo dos centros de população a que deve ou possa suprir por seu destino econômico; II – o estabelecimento e a manutenção de colônias ou cooperativas de povoamento e trabalho agrícola; III – a manutenção de posseiros em terrenos urbanos onde, com a tolerância expressa ou tácita do proprietário, tenham construído sua habitação, formando núcleos residenciais de mais de 10 (dez) famílias; IV – a construção de casas populares; V – as terras e águas suscetíveis de valorização extraordinária, pela conclusão de obras e serviços públicos, notadamente de saneamento, portos, transporte, eletrificação, armazenamento de água e irrigação, no caso em que não sejam ditas áreas socialmente aproveitadas; VI – a proteção do solo e a preservação de cursos e mananciais de água e de reservas florestais; vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES VII – a utilização de áreas, locais ou bens que, por suas características, sejam apropriados ao desenvolvimento de atividades turísticas”. Por fim, cumpre destacar que a Lei Complementar n. 76/93 estabelece procedimento contraditório especial de rito sumário para a desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária. Atenção! (Art. 2º do Decreto-Lei n. 3.365/41): “Mediante declaração de utilidade pública, todos os bens poderão ser desapropriados pela União, pelos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios” OBJETOS DE DESAPROPRIAÇÃO art. 2º do Decreto-Lei n. 3.365/41: “Mediante declaração de utilidade pública, todos os bens poderão ser desapropriados pela União, pelos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios” a) bens imóveis: são indiscutivelmente os que, com mais frequência, se sujeitam à força expropriante. Exemplo: desapropriação de uma casa para instalação de asilo municipal; b) móveis: não tão comum quanto a desapropriação imobiliária, a expropriação de bens móveis tem como exemplo a desapropriação de um quadro famoso a ser exposto em museu público; c) semoventes: pode ocorrer, por exemplo, quando uma prefeitura municipal desapropria um conhecido touro para apresentá-lo como atração principal de uma festa de rodeio; d) posse: ocorre quando a força expropriante recai sobre bem que está na posse de um indivíduo, sendo que o proprietário é desconhecido; e) usufruto: nada impede que a desapropriação incida somente sobre alguns aspectos do direito de propriedade, por exemplo, a expropriação apenas dos direitos de usar e fruir da coisa. Fala- se, então, em desapropriação do usufruto; f) domínio útil: igualmente ao que ocorre com o usufruto, inexiste impedimento a que a desapropriação atinja somente o domínio útil, e não a propriedade como um todo; g) subsolo: bastante incomum na prática, a desapropriação pode atingir somente o subsolo do imóvel, sem abranger a propriedade da superfície. Sua utilidade consistiria em permitir, por exemplo, a construção de túneis sem a necessidade de indenizar os proprietários dos imóveis acima localizados; vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES h) espaço aéreo:igualmente rara, a desapropriação do espaço aéreo localizado acima de um imóvel serve para restringir o direito de construir prédios acima de uma determinada altura. Com as modernas legislações de zoneamento, tornou-se desnecessária essa modalidade expropriatória. Entretanto, o art. 2º, § 1º, do Decreto-Lei n. 3.365/41 prescreve: “A desapropriação do espaço aéreo ou do subsolo só se tornará necessária, quando de sua utilização resultar prejuízo patrimonial do proprietário do solo”; i) águas: as águas particulares, como no caso de pequenos córregos de curso restrito aos limites de uma única propriedade, podem ser desapropriadas pelo Poder Público, por exemplo, para garantir o abastecimento da população em períodos de estiagem; j) ações de determinada empresa: a desapropriação de parcela, ou até da integralidade, do capital social é uma forma de estatização de empresas privadas, visando transformá-las em empresas públicas e sociedades de economia mista, ou, então, se a expropriação recair sobre parte minoritária do capital votante, a medida promoverá a participação forçada do Estado na formação da vontade diretiva da empresa; k) bens públicos: o art. 2º, § 2º, do Decreto-Lei n. 3.365/41 autoriza, dentro de condições estudadas a seguir, a desapropriação de bens pertencentes ao domínio público; l) cadáveres: bastante curiosa, a desapropriação dos despojos humanos é mencionada pela doutrina como uma forma de viabilizar estudos da anatomia humana em faculdades públicas de medicina. NÃO PODEM SER OBJETOS DE DESAPROPRIAÇÃO a) dinheiro: enquanto meio de troca, a moeda corrente no país não pode ser desapropriada na medida em que é o instrumento de pagamento da indenização. Nada impede, entretanto, que uma cédula rara, já sem função monetária, seja desapropriada; b) direitos personalíssimos: os direitos e garantias fundamentais da pessoa reconhecidos pelo ordenamento jurídico, tais como o direito à vida, à liberdade e à honra, são insuscetíveis de desapropriação por constituírem res extra commercium; c) pessoas: as pessoas físicas ou jurídicas não podem ser desapropriadas porque são sujeitos de direitos, e não objeto de direitos; d) órgãos humanos: os órgãos humanos são res extra commercium, sendo insuscetíveis de desapropriação. Não há impedimento, entretanto, à desapropriação de órgãos e despojos humanos após o falecimento da pessoa; e) bens móveis livremente encontrados no mercado: sob pena de violação do dever de licitar. EXPROPRIAÇÃO DE BENS PÚBLICOS vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES É possível a expropriação de bens públicos, desde que haja autorização legislativa e respeitada a regra da expropriação “vertical” e “de cima para baixo” (sempre), o que significa que a União pode desapropriar bem dos Estados, Municípios e Distrito Federal; Os Estados podem desapropriar bens dos Municípios e Distrito Federal e estes não podem desapropriar bens públicos. A autorização legislativa é dispensada quando há acordo entre os entes federativos. Apesar de haver discussão doutrinária acerca de possível ferimento ao princípio da isonomia entre os entes federativos, a desapropriação de bens públicos se justifica através do interesse público predominante, onde o interesse nacional se sobressai ao interesse regional. Atenção! O art. 2º, § 3º, do Decreto-Lei n. 3.365/41 estabelece que “é vedada a desapropriação, pelos Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios de ações, cotas e direitos representativos do capital de instituições e empresas cujo funcionamento dependa de autorização do Governo Federal e se subordine à sua fiscalização, salvo mediante prévia autorização, por decreto do Presidente da República” COMPETÊNCIA Para legislar: Privativa da União (art. 22, II, CF). Podendo ser delegada aos Estados através de Lei Complementar (§ 1). Para a expedição de ato declaratório (decreto/lei): União, Estados, Distrito Federal e Municípios. A Administração Indireta não possui tal competência, exceto nas exceções abaixo, cuja ANEEL - Agencia Nacional de Energia Elétrica (Autarquia em regime especial) e DNIT – Departamento nacional de Infraestrutura de transportes (Autarquia) podem promover a declaração. - ANEEL – Em caso de instalação de concessionárias de energia elétrica -DNIT – Em casos de Implantação do Sistema Nacional de Viação (art. 82, IX, L. 10.233). vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES Para execução material: União, Estados, Distrito Federal e Municípios – Concessionárias e Permissionárias (L. 8987/95) em caso de expressa autorização legal e no contrato administrativo (art. 3° dec-lei 3.365). DESAPROPRIAÇÃO COMUM (art. 5°, XXIV, CF) A indenização tem caráter de contraprestação, pois entende-se que aquele bem, que será utilizado nas hipóteses do inciso XXIV do artigo 5° da CF, beneficiará toda a coletividade, então, nada mais justo que uma justa indenização. PRÉVIA: antes da imissão do poder público no bem expropriado. JUSTA: considera o valor de mercado do bem, incluindo as benfeitorias realizadas até o ato declaratório de desapropriação. OBS: As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas mesmo depois do ato declaratório; Art. 96, CC. As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias. 1º. São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor. 2º. São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem. 3º. São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore. OBS²: Caso haja divergência entre área registrada e área real do imóvel, considera-se para fins de indenização a área registrada. OBS³: Considerará área vegetal de imóvel expropriado (se explorada economicamente pelo proprietário), tendo esta valor maior que a “terra nua”. EM DINHEIRO vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES DESAPROPRIAÇÃO ESPECIAL URBANA (art. 182, § 4º, III, da CF) É modalidade de expropriação especial, de competência exclusiva dos Municípios diretamente ligada à função social do imóvel urbano, que deve ser atenciosamente observada pelo proprietário de bem imóvel que tem finalidade urbana. É considerada desapropriação-sanção (caráter punitivo), visto que foge à regra de indenização paga em dinheiro, sendo paga: em títulos da dívida pública, de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais (art. 182 da CF). OBS: Os títulos da dívida pública não terão poder liberatório para pagamento de tributos. O imóvel urbano cumpre sua função social quando observa os preceitos estabelecidos no Plano Diretor da Cidade, para fins de atender à função social da propriedade (qualidade de vida, justiça social, desenvolvimento econômico): Art. 182, CF. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitante O plano diretor é obrigatório para todas as cidades que: Ultrapassem vinte mil habitantes; ( §1°, art. 182, CF); Sejam integrantes de regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas, assim como nas áreas de especial interesse turístico; Nos municípios inseridos na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional; Nosmunicípios inclusos no cadastro nacional suscetíveis à deslizamentos, inundações, processos geológicos correlatos. vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES O plano diretor deve deve ser aprovado por lei municipal e revisado a cada dez anos e se não estabelecida a função social da propriedade localizada no município, haverão sanções sucessivas e gradativas, até de fato ocorrer a expropriação-sanção (§ 4°, art. 182, CF): 1) Exigência de promoção do adequado aproveitamento; 2) Ordem de parcelamento, utilização ou edificação compulsória; 3) Cobrança do Imposto Predial e Territorial Urbano progressivo no tempo durante cinco anos, observada a alíquota máxima de 15% (art. 7º, § 1º, do Estatuto da Cidade) O IPTU é calculado através da multiplicação do valor venal do imóvel pela respectiva alíquota. DESAPROPRIAÇÃO ESPECIAL RURAL (Art 182, CF) É modalidade de expropriação especial, também ligada ao exercício da função social da propriedade (imóvel rural) e exteriorizada por interesse social, para fins de reforma agrária, sendo competência exclusiva da União a desapropriação de imóvel rural para tal finalidade. OBS: Para o Direito Administrativo, considera-se imóvel rural aquele destinado à finalidade rural, mesmo que este se encontre localizado em centro urbano. Ex: imóvel localizado em cidade utilizado apenas para plantação. (Para o Direito Tributário, por exemplo, considera-se a localização do imóvel). Atenção! Nada impede que imóveis rurais sejam desapropriados por Estados ou Municípios na sua forma genérica por necessidade ou utilidade pública (Art. 5°, XXIV, CF). É considerada desapropriação-sanção (caráter punitivo), visto que foge à regra de indenização paga em dinheiro, sendo paga: mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. (art. 184, CF). vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES São títulos de créditos (como notas promissórias) que são sacados perante à União. Sendo necessário aguardar o segundo ano da emissão para o saque. Atenção! As benfeitorias úteis e necessárias (construções) são indenizadas em dinheiro, devendo o valor ser depositado previamente em juízo pelo Poder Público. As benfeitorias voluptuárias (não agrega valor, beneficiando a aparência do bem) também serão pagas em TDA, se incorporadas antes da expedição do ato declaratório. A função social do imóvel rural ocorre quando, simultaneamente, há a observação dos seguintes critérios, dispostos no artigo 186 da Constituição Federal: 1) Aproveitamento racional e adequado; 2) utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; 3) observância das disposições que regulam as relações de trabalho; 4) exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores Em contrapartida, não podem ser desapropriados para reforma agrária os bens dispostos no artigo 185, CF: 1) A pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; 2) A propriedade produtiva. DESAPROPRIAÇÃO CONFISCATÓRIA (CONFISCO) (Art. 243, CF) Por não gerar direito a indenização, seja em dinheiro ou em títulos públicos, parte da doutrina considera que o confisco não é modalidade de desapropriação, apesar de estar inserido no capítulo que trata acerca de tal instituto na maioria das doutrinas. vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES O artigo 243 da Constituição Federal estabelece que tanto bens móveis (apreendidos em decorrência de tráfico ilícito de drogas e entorpecentes e da exploração de trabalho escravo) quanto bens imóveis (propriedades urbanas e rurais de qualquer região onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou exploração de trabalho escravo na forma da lei. Art. 243, CF. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014) Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014). No caso de bens móveis, o poder público deverá revertê-los a fundos especiais de natureza específica e (extermínio do tráfico e tratamento de viciados), no caso de imóveis, serão destinados à reforma agrária e a programas de habitação popular. Assim, é vedada a incorporação destes bens ao patrimônio público. Atenção! De acordo com entendimento do Supremo Tribunal Federal, mesmo que apenas parte do terreno esteja sendo utilizada para o cultivo de plantas psicotrópicas, toda a área será objeto de expropriação (RE 543974 MG) O procedimento seguirá rito especial, disposto na lei 8.257/91. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA (apossamento administrativo) vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES É Esbulho possessório praticado pelo Poder Público (fato administrativo), sendo medida ilegítima, clandestina, quando há a desapropriação de fato pela Administração Pública. Não está prevista em lei, visto ser ilícita. Ocorre quando o Estado ocupa área sem justo título (decreto desapropriatório/procedimento administrativo ou judicial). Nesse caso, o proprietário não poderá ajuizar ação reivindicatório (ações possessórias), somente pedido de indenização (ação de indenização por desapropriação indireta). Atenção! A jurisprudência entende que o proprietário poderá se valer dos institutos processuais cabíveis a impedir esta invasão, tais como o interdito proibitório, em casos de ameaça de esbulho ou ação de reintegração de posse, nas situações em que o ente estatal já tenha efetivamente esbulhado seu bem. Somente não poderá pleitear o retorno do bem ao seu patrimônio, se este já houver sido utilizado para a execução de atividade pública. Caso tenha sido ajuizada ação possessória e o bem já ter sido incorporado no patrimônio público, a ação poderá ser convertida em ação por indenização (art. 35 do decreto-lei 3.365/41) Atenção! Com a entrada em vigor do Código Civil de 2002, considera-se que o prazo para a propositura da ação de indenização por desapropriação indireta seja de 10 anos. Recentemente firmou-se o entendimento (STJ: Resp 1300442, com base no art. 1.238 do Código Civil, entendendo não ser mais aplicável a Súmula 119 do do próprio Tribuna – usucapião ordinária) TREDESTINAÇÃO A tredestinação ocorre quando o Poder Público dá ao bem expropriado destinação diversa daquela prevista no decreto expropriatório. Por exemplo, quando a Administração desapropria terreno para a construção de uma escola e, posteriormente, constata que as necessidades pedem a construção de um hospital. vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES Nesse caso, a tredestinação será lícita, visto que apesar da mudança da destinação, esta ainda atende o interesse da coletividade.Para o Superior Tribunal de Justiça, “se ao bem expropriado for dada destinação que atende ao interesse público, ainda que diversa da inicialmente prevista no decreto expropriatório, não há desvio de finalidade” (RESP 968.414 SP). Ocorre que poderá ocorrer hipótese de tredestinação ilícita, quando o a mudança no destino do bem expropriado não atenda interesse público. Por exemplo, quando a intenção inicial era a construção de uma escola, mas em seu lugar, o poder público autorizou empresa para utilizar aquela área para finalidade de interesse próprio. RETROCESSÃO PREEMPÇÃO Art. 519, CC. Se a coisa expropriada para fins de necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, não tiver o destino para que se desapropriou, ou não for utilizada em obras ou serviços públicos, caberá ao expropriado direito de preferência, pelo preço atual da coisa. Tal instituto ocorrerá nos casos de tredestinação ilícita, sendo discutida pela doutrina a natureza jurídica deste: se real ou pessoal. Parte da doutrina considera como direito real, sendo direito do ex-proprietário de reivindicar o bem (estendido aos herdeiros). Ocorre que a corrente majoritária entende tratar-se de direito pessoal de preferência (a legislação pátria trata expressamente da retrocessão como um simples direito pessoal de preferência (arts. 35 do Decreto-Lei n. 3.365/41) de adquirir o bem quando oferecido pelo estado. Caso seja impossível a reversão, será resolvido em perdas e danos, já que os bens incorporados ao patrimônio público não podem ser objeto de reivindicação. DESAPROPRIAÇÃO POR ZONA vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES Ocorre quando o Poder Público, para o pleno desenvolvimento da obra e realização do serviço a qual se justificou a desapropriação, tem a necessidade de desapropriar a zona vizinha de tal construção para que esta fique reservada para certas finalidades. Hipóteses: 1) Em caso de ulterior continuação do desenvolvimento da obra ou do serviço (ampliação da obra ou serviço) - Para Alexandre Mazza, a doutrina não tem considerado tal hipótese como desapropriação por zona 2) Para serem alienadas depois que, em decorrência da obra ou serviço, houver valorização superveniente. Atenção! Art. 4°, do Decreto-Lei 3.365/41 - A desapropriação poderá abranger a área contigua necessária para desenvolvimento da obra a que se destina, e as zonas que se valorizarem extraordinariamente, em consequência da realização do serviço. Em qualquer caso, a declaração de utilidade pública deverá compreendê-las, mencionando-se quais as indispensáveis à continuação da obra e as que se destinam à revenda". DIREITO DE EXTENSÃO Se a desapropriação recai apenas sobre parte do imóvel e a área que restar se tornar inservível, o proprietário poderá pleitear a extensão da desapropriação para que toda a área seja desapropriada com a devida indenização, desde que requeira na fase administrativa ou judicial – consumada a desapropriação, não se pode falar em direito de extensão. DESISTÊNCIA DA DESAPROPRIAÇÃO O Poder Público poderá desistir do procedimento expropriatório caso os motivos que levaram a este não existam mais, inclusive se já ajuizada ação judicial. Nesse caso, o expropriado não vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES poderá fazer nada quanto a desistência, a não ser em caso de prejuízo causado pelo expropriante. PROCEDIMENTO EXPROPRIATÓRIO Fase Declaratória É a manifestação de vontade do poder público para efetuar a desapropriação, exteriorizada a partir da declaração expropriatória, em que o poder público justifica a utilidade pública, necessidade pública ou o interesse social. A declaração pode ser feita através de DECRETO (Presidente, Governador ou Prefeito) ou por iniciativa do Legislativo (a doutrina majoritária considera que através de LEI, já parte da doutrina considera ser por DECRETO LEGISLATIVO (art. 8, decreto-lei 3.365/41), nesse último caso, não necessitaria de observância do ato pelo Executivo (sanção ou veto). - Requisitos 1) Descrição precisa do bem a ser desapropriado; 2) Finalidade da desapropriação 3) Hipótese legal descrita na lei expropriatória que autoriza a desapropriação. A publicação da declaração expropriatória (decreto), gera os seguintes efeitos: 1) Autoriza as autoridades administrativas a penetrarem nos prédios compreendido na declaração, podendo inclusive pedir reforço policial. 2) Inicia-se a contagem do prazo para a caducidade do ato, que será de 5 anos para declaração de utilidade/necessidade pública e 2 anos em caso de interesse social. Atenção! Não irá prescrever caso o ato executório se inicie nos prazos acima ou se não for proposta ação judicial (que será proposta por quem expediu a declaração contra o proprietário do bem, que só poderá impugnar vício processual ou impugnar o preço) O juiz não resolverá o mérito quando: vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES I - indeferir a petição inicial; II - o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes; III - por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias; IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo; V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada; VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual; VII - acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência; VIII - homologar a desistência da ação; IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por disposição legal; e X - nos demais casos prescritos neste Código. Fase Executória (providências para a transferência do bem para o patrimônio do expropriante): após a declaratória, o poder público começa a agir efetivamente para que ocorra a desapropriação. A transferência pode ocorrer via administrativa ou judicial. - Via administrativa: quando há acordo entre administração e expropriado. “Desapropriação amigável” - Via judicial (art. 9° e 20 dec-lei 3.365/41): quando não há a desapropriação amigável. Nessa fase, o poder público não irá adentrar ao mérito se de fat há ou não utilidade pública naquele caso. Ademais, o expropriado só poderá impugnar o vício do processo (questões processuais) e valor da indenização. Atenção! O Ministério Público deve atuar obrigatoriamente no feito. Atenção! No processo judicial de desapropriação, o expropriado não pode alegar outras matérias que não seja vícios processuais ou valor da indenização, mas nada impede que o faça através da chamada “ação direta”. vipDIREITO ADMINISTRATIVO II OF. ESP. VICTOR FERNANDES BIBLIOGRAFIA ALEXANDRINO; Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Administrativo Descomplicado. São Paulo: Método, 2017. CARVALHO, Matheus. Manual de Direito Administrativo. Salvador: Juspodvm, 2017. MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. São Paulo: Saraiva, 2016.
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