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2. A Produção da Economia Página 15 2.1 PIB (Produto Interno Bruto) O volume total de produtos e serviços finais produzidos para o mercado, gerados no país em um período de tempo (normalmente um ano) e expresso em unidades monetárias é denominado Produto Interno Bruto (PIB). Não é possível somar bananas com laranjas Deve-se somar o valor monetário de cada bem ou serviço bananas e laranjas devem estar expressas em unidades monetárias Bens não incluídos no PIB Justificativa Bens intermediários O valor dos bens intermediário já estão incluídos no valor do bem final O valor dos bens intermediários somados ao valor dos bens finais é uma dupla-contagem evita-se somando apenas o valor dos bens e serviços finais Terra e seus recursos naturais Não foram produzidos Compras de terrenos não são bens e serviços produzidos Ativos financeiros (ações ou bônus) Representam um direito de propriedade ou um pagamento a receber não são, em si, bens ou serviços produzidos Bens usados (automóveis, imóveis, eletrodomésticos, etc.) São bens produzidos em épocas passadas foram incluídos no PIB de épocas passadas Atividades caseiras (lavar, cozinhar, limpar, etc.) Produzem serviços finais para si mesmo, não para serem vendidos (para o mercado) Serviços no Exterior de jogador brasileiro que atua em um time estrangeiro • Produção de brasileiros no exterior foi gerada fora das fronteiras do Brasil não é interno, Gerado no país 2.2 Níveis básicos de Preços • Preços de mercado ou preços de consumidor - valor dos produtos através dos preços efetivamente pagos pelos consumidores no local de uso. Inclui impostos, comercialização e transporte, mas não inclui subsídios. A Produção da Economia 2 Observação-1: PIB: • Produtos e serviços finais • Produzidos para o mercado, • Gerados no país • Em um período de tempo • Expresso em unidades monetárias Observação-2: O PIB não leva em consideração: • O preço do recurso natural que é usado na produção • A água potável da comunidade • A degradação ambiental no processo produtivo • A desigualdade que abate mais os mais pobres numa recessão • A economia compartilhada e colaborativa da Internet (o mundo digital, como Uber, Airbnb e Amazon, fica parcialmente fora do PIB) O modelo acaba incentivando o uso de tecnologias poluentes em detrimento de técnicas sustentáveis. Os números que usamos como medida das riquezas das nações, ia, não medem as coisas mais importantes da vida 2. A Produção da Economia Página 16 • Preços do produtor - é o preço obtido quando se eliminam do preço de consumidor as margens relativas a transporte e comercialização. Inclui os impostos. Exemplo: dados da FGV. • Preços básicos ou custo de fatores - é o preço obtido quando se eliminam do preço do produtor os impostos indiretos e subsídios, diretamente associados ao produto. Exemplo: dados da MRI do IBGE • Preço natural - é o que compensa os gastos de produção, permitindo um benefício equitativo. • Preço corrente – quando o preço está referido ao mesmo ano (inclui o efeito da inflação), exemplo: produção de 2010 a preços de 2010. • Preço constante – quando o preço está referido a um determinado ano selecionado como ano base (exemplo: 2010 = 100 significa que o ano base é 2010). Exclui o efeito da inflação. 2.3 Requisitos para o Cálculo do PIB No cálculo do PIB, deve-se: • Medir o volume da produção dentro das fronteiras do país (portanto o PIB é a produção gerada pelos residentes no país, sejam eles estrangeiros ou não). • Expressar os valores em unidades monetárias, a fim de eliminar problemas de adição com quantidades físicas diferentes (toneladas, horas, lingotes, etc.) • Considerar apenas a produção atual (não levar em conta a revenda dos produtos gerados no período anterior - a venda de uma casa existente não contribui para o PIB), isto é, considerar apenas o valor adicionado produzido pelas empresas na economia. • Considerar apenas os bens e serviços finais (não levar em conta as matérias-primas e bens intermediários, usados como insumos), a fim de evitar problemas de dupla contagem (p.ex: contar o trigo colhido no campo com o trigo empregado na fabricação da farinha utilizada no preparo de pães; contar automóveis e pneus, já que o automóvel inclui os pneus) • Medir os produtos e serviços pelo preço das transações de mercado • Usar o custo de produção (ou seja, o valor gasto na para prestação de serviços), se os preços das transações não estiverem disponíveis, ou não existirem (serviços de órgãos de segurança do Estado, do exército ou da justiça). 2.4 O Cálculo do PIB O cálculo do PIB utiliza uma metodologia universal e normatizada pelas Nações Unidas. Nessa metodologia: • São obtidas as quantidades e preços dos produtos em um dado ano. • Os preços levantados são substituídos pelos preços ocorridos em um ano base (no caso do Brasil, o ano de 1995). • Então as novas quantidades são multiplicadas pelos preços do período base • Os resultados são acrescidos progressivamente em um total resultando no PIB do período. 2. A Produção da Economia Página 17 Exemplo: Ano-1: produção de 100 unidades ao preço de R$ 100 a unidade resultando um PIB total de: 100 unidades R$ 100 / unidade = R$ 10.000. Ano-2: produção de 110 unidades ao preço de R$ 120 a unidade resultando um PIB total de 110 unidades R$ 120 / unidade = R$ 13.200 (aumento total de 32%) 110 unidades R$ 100 / unidade = R$ 11.000 (aumento total de 11.000/10.000=1,110%). (A regra da ONU manda descartar o aumento de preços) Deflator implícito: É o índice que corrige os preços do ano base para os valores atuais inflacionado: Deflator = (Preço inflacionado) / (Preço Base) - 1 Para o exemplo dado: R$ 120/R$ 100 – 1 = 1,2 20% Nota: Entre os anos de 2002-2013, depois de décadas de queda, os preços relativos de commodities agrícolas tiveram um brutal aumento (cerca de 150% para todos os produtos, exceto carnes suínas e leite), enquanto os preços de bens de origem não agrícolas, mantiveram-se estáveis. Nessa situação, um país produtor dessas commodities, mesmo mantendo as mesmas quantidades produzidas anteriormente, teria mais do que o dobro de renda e poderia mais do que dobrar as compras externas de produtos cujos preços não aumentaram no mesmo nível (automóveis, máquinas, celulares etc). Apesar disso, a metodologia não permitiu incluir esse aumento no PIB. 2.5 Métodos para o Cálculo do PIB O cálculo do PIB pode ser realizado de três maneiras diferentes: • pela ótica da oferta (PIB=soma valor agregado/adicionado) • pela ótica da demanda (PIB = soma bens e serviços finais) • pela ótica do rendimento (PIB = soma das rendas dos fatores) 2.5.1 Ótica da Oferta (ou da Produção) - Consiste em somar o valor agregado obtido em cada estágio do processo de produção. O valor agregado é o valor de mercado do produto a cada estágio, menos o valor de mercado dos insumos usados na produção daquele produto final. Ou seja é a diferença entre o preço de venda do produto menos os impostos e custos doreferido produto A economia é dividida em macro setores (ou componentes do PIB), por exemplo: agropecuária (ou setor primário), indústria (ou setor secundário) e serviços (ou setor terciário). • Cada macro setor é subdividido em setores. • Os bens e serviços são avaliados separadamente para cada setor: Despesas Demanda Oferta Produtos Mercado de Produtos Famílias (ou Pessoas) Rendimento Trabalho e Capital Unidades Produtivas Ótica da Oferta Ótica da Demanda Ótica do Rendimento 2. A Produção da Economia Página 18 • Para cada macro setor se soma todos os valores de PIB determinados para seus setores • A produção do macro setor é ponderado pelos pesos específicos: Componentes do PIB Peso (%) Macro-Setor Setores 1995 1998 Lavouras 5,15% Agropecuária Produção Animal 2,38% Extrativismo vegetal 0,57% Total 13.80% 8,09% Extrativismo mineral 0,37% Transformação 22,26% Indústria Construção Civil 9,73% Serviços públicos 2,87% Total 40.79% 35,23% Comércio 7,82% Transporte 3,21% Comunicações 2,02% Serviços Governo 14,53% Outros Serviços 12,50% Instituições Financ. 7,35% Aluguel 15,08% Total 45.41% 62,52% 2.5.2 Ótica da Demanda (ou da Despesa) – O PIB é calculado pela soma das parcelas demandadas pelos Consumidores, pelo Governo, em Investimentos, para exportação e importação 2.5.3 Ótica do Rendimento – O PIB é calculado somando-se o custo de todos os fatores (salários, juros, aluguéis, Lucros, renda das famílias) utilizados na produção (e portanto adquiridos pelas unidades produtivas) 2.6 Série Histórica do PIB do Brasil PIB do Brasil - Série Histórica (em US$ trilhões, calculado pela taxa média de câmbio) Ano PIB(*) Ano PIB(*) Ano PIB(*) Ano PIB Ano PIB Ano PIB 1950 15.059 1960 16.784 1970 42.344 1980 0,2373 1990 0,4371 2000 0,5940 1951 18.657 1961 17.087 1971 48.855 1981 0,2581 1991 0,3831 2001 0,5170 1952 21.939 1962 19.222 1972 58.406 1982 0,2714 1992 0,3876 2002 0,4500 1953 10.504 1963 23.182 1973 83.551 1983 0,1899 1993 0,4360 2003 0,4840 1954 10.916 1964 20.623 1974 109.740 1984 0,1885 1994 0,5565 2004 0,6050 1955 10.878 1965 22.556 1975 129.156 1985 0,2109 1995 0,7311 2005 0,6049 1956 13.849 1966 28.330 1976 153.136 1986 0,2566 1996 0,7524 2006 0,8821 1957 16.505 1967 31.096 1977 176.332 1987 0,2825 1997 0,8655 2007 1,3663 1958 12.025 1968 33.936 1978 200.257 1988 0,3074 1998 0,9792 2008 1,6379 1959 14.822 1969 37.187 1979 221.855 1989 0,4120 1999 1,0110 2009 1,5315 Fonte: FGV Conjuntura Econômica,IBGE – (*) PIB em US$ bilhões Agropecuária Indústria Serviços Produção Animal Lavoura s Total Constr . Civil Total Comuni c. Comérci o Trans p. Instit. Financ. Total 1995 12.91% 0.69% 5.89% 0.14% 1.98% 24.26% 7.43% 3.88% -7.42% 5.67% Fonte: IBGE , O Globo 14/2/96 Observação: Aplicando os pesos da tabela (coluna 1995)aos dados da tabela 2.3 têm-se: PIB85 = Ki . xi = 0,0589×13.8% + 0,0198×40.79% + 0,0567×45.41% = 4,19 Ótica da Produção Ótica da Despesa Agropecuária 1,8 Despesa de Consumo das Famílias -4,0 Indústria -6,2 Despesas de Consumo do Governo -1,0 Serviços -2,7 Formação Bruta de Capital Fixo -14,1 Valor Adicionado -3,3 Exportações de Bens e Serviços 6,1 Impostos -7,3 Importações de Bens e Serviços -14,3 PIB a preços de Mercado 2015 -3,8 2. A Produção da Economia Página 19 2.7 Produto Nominal Produto Nominal (ou PIB Nominal) é o PIB expresso em preços correntes, i.e., incorpora a inflação, é medido nos preços vigentes no período. 2.8 Produto Real O Produto Real (ou PIB Real) é o PIB expresso a preços constantes. Leva em conta o crescimento real da produção avaliado a partir do crescimento das quantidades ponderadas de cada produto (p.ex: crescimento de 0,5% no volume de aço em toneladas) e no final expresso em unidades monetárias de um certo ano,i.e., desconta a inflação. O deflator implícito do PIB é o índice que mede a diferença entre o crescimento do PIB Nominal e do PIB Real. PIB real = PIB nominal / deflator do PIB Como o PIB é a expressão do valor da produção durante um ano, tem-se que considerar não a inflação do ano e sim a diferença entre os índices médios de inflação do ano anterior e do ano em que está sendo avaliado. A estimativa do PIB também requer uma conversão para dólar. Neste aspecto existem diferentes metodologias de cálculo: • a usada pelo IPEA (que faz as estimativas do PIB) - considera a variação da taxa média do câmbio de um ano para o outro; • a usada (e preferida) do Banco Central - leva em conta o efetivo poder de compra do real diante do dólar, e não a variação média. Ou seja, em dólar, os valores tendem a ser mais baixos nas contas que o BC apresenta no exterior. A tabela-2.5 mostra o PIB Nominal e Real para o Brasil nos anos de 1970 a 1986. Observar que de 1980 a 1983 o Brasil praticamente teve uma redução anual do nível de produção (crescimento negativo ou recessão) TABELA-2.5 Anos PIB (em Cz$ milhões correntes) PIB (em Cz$ milhões de 1980) 1970 194,4 5.503 1971 260,4 6.125 1972 348,6 6.863 1973 487,2 7.822 1974 713,5 8.529 1975 1.005,0 8.974 1976 1.626,3 9.852 1977 2.487,5 10.306 1978 3.620,9 10.803 1979 6.041,5 11.582 1980 12.639,3 12.639 1981 24.737,5 12.216 1982 48.147,8 12.328 1983 118.194,8 12.016 1984 387.967,7 12.701 1985 1.267.229,0 13.750 1986 3.586.291,0 14.878 Fonte: SEI/IBGE, BCE, FGV O deflator do PIB é um índice de preços parecido ao IPC (índice de Preços ao Consumidor), mas que considera todos os bens e serviços produzidos no país. Observação: PIB Real = PIB Nominal no ano-base (não é preciso ajustar os preços correntes pela inflação). 2. A Produção da Economia Página 20 2.9 A Taxa de Crescimento do PIB A comparação do valor do PIB de um mesmo país em dois anos consecutivos mostra uma diferença. Essa diferença é devida a: • Um crescimento (ou diminuição) da economia do país. • Uma variação nos preços dos bens produzidos no país. Assim, o cálculo do crescimento do PIB de um país entre dois anos consecutivos apresenta umvalor muito maior do que efetivamente se observou na economia, pois sofreu influência da inflação no período. Se a variação do preço (inflação) for eliminada desse PIB (dito PIB nominal) obtém-se um valor mais correto (PIB real) que é significantemente menor. Portanto, no cálculo da taxa de crescimento deve ser utilizado o valor do PIB real: TxCresc = (PIBx+1 – PIBx)/PIBx = (PIBx+1 / PIBx) - 1 Para se investigar o crescimento do PIB deve-se usar a variação do PIB ao invés do PIB monetário, pois o PIB monetário é bastante controverso (é afetado por taxas de câmbio, índices de inflação, pesos de ponderação, etc.), conforme será visto adiante. 2.10 PIL (Produto Interno Líquido) Como as unidades produtivas se desgastam durante o ano, o valor da produção descontado desse desgaste (depreciação) recebe o nome de Produto Interno Líquido (PIL). Dessa maneira tem-se: • Produto Interno Líquido a custo de fatores, onde as parcelas correspondem à remuneração de cada fator de produção PILCF = S + J + AL + L + ID Onde: S = Salários J = Juros AL = Aluguéis L = Lucros ID = Impostos Diretos • Produto Interno Líquido a preço de mercado: PILPM = PILCF + II - SB Onde II = Impostos indiretos SB = Subsídios • Produto Interno Bruto a preço de mercado: (o termo bruto indica que não se deduzem as depreciações) TABELA 2.2 Variação do PIB do Brasil - Série Histórica (em %) Ano PIB (%) Ano PIB (%) Ano PIB (%) Ano PIB (%) Ano PIB (%) Ano PIB (%) Ano PIB (%) 1950 6,8% 1960 9,4% 1970 10,4% 1980 9,2% 1990 -4,4% 2000 4,4% 2010 7,5% 1951 4,9% 1961 8,6% 1971 11,3% 1981 -4,3% 1991 1,0% 2001 1,3% 2011 3,9% 1952 7,3% 1962 6,6% 1972 11,9% 1982 0,8% 1992 -0,5% 2002 2,7% 2012 1,8% 1953 4,7% 1963 0,6% 1973 14,0% 1983 -2,9% 1993 4,9% 2003 1,1% 2013 2,7% 1954 7,8% 1964 3,4% 1974 8,2% 1984 5,4% 1994 5,9% 2004 5,7% 2014 0,1% 1955 8,8% 1965 2,4% 1975 5,2% 1985 7,9% 1995 4,2% 2005 3,2% 2015 -3,8% 1956 2,9% 1966 6,7% 1976 10,3% 1986 7,5% 1996 2,7% 2006 4,0% 2016 1957 7,7% 1967 4,2% 1977 4,9% 1987 3,5% 1997 3,3% 2007 6,1% 2017 1958 10,8% 1968 9,8% 1978 5,0% 1988 -0,1% 1998 0,1% 2008 5,2% 2018 1959 9,8% 1969 9,5% 1979 6,8% 1989 3,2% 1999 0,8% 2009 -0,3% 2019 Fonte: FGV Conjuntura Econômica,IBGE 2. A Produção da Economia Página 21 PIBPM = PILPM + DP ou PIBPM = PIBCF + II - SB Onde DP = depreciação • Produto Interno Bruto a custo de fatores: PIBCF = PILCF + DP • Oferta Global: OG = PIBPM + M, Onde M = Importações 2.11 PIB Potencial O PIB Potencial é o PIB avaliado por dados de investimentos, capacidade de produção, capacidade ociosa, etc. É o que se deveria produzir sem aquecimento ou retração da economia, i.e., com a economia estabilizada. Praticamente reproduz a tendência histórica da produção de um país. Uma situação onde PIB Real > PIB Potencial ocorre quando são suspensos os turnos de manutenção de máquinas e equipamentos, e a economia opera a pleno emprego. Nessa situação pode-se esperar que as máquinas quebrem logo em seguida (pela falta de manutenção) provocando uma queda da produção adiante. O gráfico do PIB Potencial e do PIB Real do Brasil para os anos de 1970 a 1985 é mostrado na figura-5, de onde se pode observar os seguintes períodos: • De 1970 a 1972: PIB Potencial > PIB Real => capacidade ociosa e inflação de 12% a.a. • De 1973 a 1978: PIB Potencial < PIB Real => aquecimento, aceleração da inflação. • De 1979 a 1980: Estabilização => uso eficiente dos recursos disponíveis, inflação estável. • De 1980 a 1985: PIB Potencial > PIB Real => capacidade ociosa, violenta recessão, aceleração da inflação. 5,8 6 6,2 6,4 6,6 6,8 7 7,2 1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 Ln(PIB Potencial) Ln(PIB Real) Figura-5 1992 1993 Grau de ociosidade de mão-de-obra 23% 18% Grau de ociosidade de equipamentos 32% 28% (Fonte: Price Waterhouse, JB, 19/12/93, pag.27) 2. A Produção da Economia Página 22 2.12 PNB (Produto Nacional Bruto) O PNB é o volume de produção gerado por nacionais (nascidos no país), independente de fronteiras geográficas, e expresso em unidades monetárias num período de tempo (normalmente um ano). O PNB leva em conta o produto gerado por nacionais no exterior e desconta o produto gerado por estrangeiros no país (remessas ao exterior) • PNB dos EUA > PIB dos EUA devido ao capital americano investido no exterior. • PNB de Portugal > PIB de Portugal devido ao trabalho de portugueses no exterior. • PNB de Países europeus > PIB devido aos investimentos de capital no exterior. • O PNB do estado de São Paulo é maior do que o PIB de São Paulo. 2.13 Comparação de economias O tamanho econômico de um país é proporcional ao PIB por ele gerado. PIB (US$ tri) (Fonte: Banco Mundial, (A) Comparar coisas equivalentes Comparações, em especial de economias, só tem sentido, e permitem algum aprendizado, quando são realizadas em coisas equivalentes. Da mesma maneira que não faz sentido comparar a taxa de crescimento de uma grande cidade com uma vila que dobrou sua população ao receber seis imigrantes, também não faz sentido comparar o Brasil com pequenos países. Por exemplo: • A economia do Uruguai é do tamanho da de Santa Catarina, • As economias do Chile e Peru são aproximadamente do tamanho da economia do Rio de Janeiro Como diz José Luís Fiori no artigo “A retórica da comparação” (Valor Econômico de 30/07/2014), comparar o Brasil com estes países seria como “comparar um elefante com um coelho, e copiar seu modelo de crescimento seria como tentar dirigir um caminhão usando um manual de instruções de um patinete”. Pos. 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 1 EUA 10.838 EUA 11.757 EUA 11.668 EUA 12.486 EUA 14,08 EUA 14,44 EUA 14,26 EUA 14,66 2 Japão 4.177 Japão 4.780 Japão 4.623 Japão 4.571 Japão 4,38 Japão 4,89 Japão 5,07 China 5,88 3 Aleman. 2.379 Aleman. 2.734 Aleman. 2.714 Aleman. 2.797 China 3,46 China 4,42 China 4,91 Japão 5,46 4 G.Bret. 1.755 G.Bret. 2.113 G.Bret. 2.141 China 2.225 Aleman. 3,32 Aleman. 3,67 Aleman. 3,35 Aleman. 3,32 5 França 1.729 França 2.026 França 2.003 G.Bret. 2.202 G.Bret. 2,80 França 2,86 França 2,68 França 2,58 6 Itália 1.449 Itália 1.669 Itália 1.672 França 2.106 França 2,59 G.Bret. 2,68 G.Bret. 2,19 G.Bret. 2,25 7 China 1.329 China 1543 China 1.649 Itália 1.766 Itália 2,11 Itália 2,31 Itália 2,12 Brasil 2,09 8 Canadá 839 Espanha 971 Espanha 991 Canadá 1.130 Espanha 1,44 Rússia 1,66 Brasil 1,53 Itália 2,06 9 Espanha797 Canadá 957 Canadá 980 Espanha 1.127 Canadá 1,43 Brasil 1,64 Espanha 1,46 Canadá 1,57 10 México 619 México 649 India 692 Brasil 882 Brasil 1,37 Espanha 1,60 Canadá 1,34 India 1,54 11 Coréia S 527 Austrália 622 Coréia S 680 Coréia S 793 Rússia 1,29 Canadá 1,50 India 1,28 Rússia 1,47 12 Holanda 510 Brasil 605 México 677 India 775 India 1,19 India 1,26 Rússia 1,23 Espanha 1,41 13 Austrália 509 India 594 Austrália 631 México 768 México 1,02 México 1,02 México 1,02 Austrália 1,24 14 India 508 Coréia S 582 Brasil 605 Rússia 766 Holanda Holanda México 1,04 15 Brasil 484 Holanda 577 Holanda 577 Austrália 708 Austrália Austrália Coréia S 1,01 2. A Produção da Economia Página 23 Ainda segundo Fiori: “cinco das seis economias que aparecem na frente do Brasil: • Seguem estratégias econômicas fortemente nacionalistas • Devem ser consideradas casos típicos de "capitalismos de Estado". • Todas são ou disputam hoje a condição de potências geopolíticas” (B) Usar valores absolutos e não taxas de crescimentos Outro cuidado que se deve ter na comparação dos PIBs entre países está em se levar em conta valores absolutos (e não taxas de crescimentos) (C) Cuidado com o câmbio Também a taxa de câmbio tem uma forte influência no resultado do PIB (uma maxi-desvalorização da moeda de um país em relação a uma moeda estável, pode provocar uma queda do PIB expresso na moeda estável) Desde que o PIB é afetado pela taxa de câmbio, seu valor, para um determinado ano estará sujeito a flutuações que dependem da taxa de câmbio utilizada. Curiosidade • Se for utilizada uma taxa de câmbio mais realista, o PIB do Brasil para o ano de 1986 ultrapassará o PIB do Canadá no mesmo período. • PIB(Brasil) 3 PIB(Argentina) 2.14 Critérios de Avaliação do PIB Segundo o Banco Mundial, em 1986 a China gerou um PIB de 225,5 bilhões de dólares. Como isto pode acontecer, já que na época a China tinha uma população de 1,067 bilhões de habitantes? Quer dizer que cada chinês gerou menos de US$ 279,00 durante todo o ano de 1986? Ou seja menos de US$ 1,00 por dia!!! É possível identificar o real poder de consumo das moedas, sem as distorções criadas pela variação cambial? 2. A Produção da Economia Página 24 A correção da discrepância é possível, e ela está no critério utilizado na avaliação do PIB. Oficialmente existem dois critérios: • Conversão do PIB pela cotação média do dólar - mede o valor das mercadorias na moeda local, e depois, através da taxa média de câmbio (que pode ser politicamente modificada), transforma esse valor para uma moeda padrão (no caso o dólar). Permite comparar o poder internacional dos países uns em relação aos outros (exemplo: EUA têm ainda muito mais poder econômico do que a China). • Paridade do poder de compra (PPP - Purchasing Power Parity) - indicador do Bird que mede o valor das mercadorias como se todo o mundo tivesse uma só moeda, isto é, mede a renda pelo poder de compra (a conversão é feita pelo valor de uma cesta de produtos e não apenas pela variação cambial). Permite medir poder aquisitivo da população local, para comprar produtos e serviços locais. Quanto mais fechada for a economia (quanto menos consumir produtos importados), mais discrepantes serão os dois critérios. Se a economia for bem aberta, a cesta de mercadorias denominada em dólares será importante para o consumidor local, fazendo o PIB em PPP convergir para o PIB em dólar. Ranking dos países segundo o seu PIB de 2010 (dados do FMI): • Ranking vermelho em bilhões de dólares • Ranking em verde em Purchase Power Parity (PPP - Paridade do Poder de Compra) Comentários: • A Índia, que estava em 10o lugar no primeiro ranking, saltou para o 4o lugar no PPC. • A França, passou do 5o para o 9o lugar no PPC. 2. A Produção da Economia Página 25 • No ranking vermelho, o PIB dos EUA é aproximadamente 2,5 vezes o PIB da China. Já no ranking PPC, esta diferença é de apenas 1,5 vez Observações: • Renda per capta = total do PIB dividido pelo número de habitantes • A desvalorização do Real em 1999 fez a renda per capta no Brasil, em moeda americana, cair de US$ 4790,00 para US$ 3.300,00, embora a renda nacional em PPP se mantenha no mesmo patamar. 2.15 Produto Regional O Produto Regional é revelado através da participação das regiões/estados no PIB do país. Para o caso do Brasil esta participação está apresentada na tabela-2.9. Da tabela-2.9 pode-se observar: • Forte desequilíbrio regional do PIB do Brasil. • PIB(SP+RJ+MG) 50%, o que indica que aproximadamente a metade da geração dos produtos é feita no eixo Rio - São Paulo – Minas Gerais. TABELA-2.9 Participação por Estado no PIB (**) 1985 1998 2001 2002 2003 2010 2011 2012 2015 AC Acre 0,13 0,16 0,20 0,20 0,20 0,22 0,20 0,20 0,20 AM Amazonas 1,52 1,65 1,70 1,90 1,80 1,59 1,60 1,50 1,70 RR Roraima 0,07 0,08 0,10 0,10 0,10 0,17 0,20 0,20 0,20 AP Amapá 0,12 0,16 0,20 0,20 0,20 0,22 0,20 0,20 0,20 PA Pará 1,52 1,70 1,80 1,90 1,90 2,06 2,10 2,10 2,10 Norte 3,36 3,75 4,00 4,30 5,00 4,26 4,30 4,2 4,4 MA Maranhão 0,74 0,79 0,90 0,80 0,90 1,20 1,30 1,30 1,30 PI Piauí 0,39 0,48 0,50 0,50 0,50 0,59 0,60 0,60 0,60 CE Ceará 1,72 2,06 1,80 1,80 1,80 2,07 2,10 2,40 2,60 RN Rio G. do Norte 0,78 0,75 0,80 0,90 0,90 0,86 0,90 0,90 1,20 PB Paraíba 0,72 0,79 0,90 0,90 0,90 0,85 0,90 0,90 0,90 PE Pernambuco 2,62 2,71 2,60 2,70 2,70 2,52 2,60 2,70 2,70 AL Alagoas 0,86 0,67 0,60 0,70 0,70 0,65 0,70 0,70 0,70 SE Sergipe 0,92 0,55 0,70 0,70 0,80 0,63 0,60 0,60 0,60 BA Bahia 5,35 4,24 4,40 4,61 4,70 4,10 3,90 3,80 3,80 Nordeste 14,10 13,04 13,20 13,61 13,80 13,46 13,40 13,90 14,40 MG Minas Gerais 9,61 9,79 9,50 9,32 9,30 9,30 9,30 9,20 9,20 ES Espírito Santo 1,72 1,90 1,90 1,80 1,90 2,18 2,30 2,40 2,50 RJ Rio de Janeiro 12,70 11,01 12,30 12,64 12,20 10,80 11,20 11,50 11,50 SP São Paulo 36,12 35,46 33,40 32,55 31,80 33,09 32,60 32,10 31,90 Sudeste 60,15 58,16 57,10 56,31 55,20 55,39 55,40 55,20 55,10 PR Paraná 5,92 6,21 6,10 6,05 6,40 5,80 5,80 5,80 5,90 SC Santa Catarina 3,30 3,55 3,90 3,85 4,00 4,00 4,10 4,00 4,00 RS Rio Grande do Sul 7,88 7,72 7,80 7,76 8,20 6,70 6,40 6,30 6,20 Sul 17,10 17,48 17,80 17,66 18,60 16,51 16,20 16,10 16,10 TO Tocantins 0,21 0,30 0,30 0,30 0,46 0,40 0,40 0,40 GO Goiás 1,80 2,10 2,30 2,40 2,59 2,70 2,80 2,80 DF Distrito Federal 1,37 2,75 2,80 2,70 2,40 3,98 4,0 3,90 3,90 MT Mato Grosso 0,69 1,08 1,20 1,30 1,50 1,58 1,60 1,70 1,80 MS Mato Grosso do Sul 0,95 1,10 1,10 1,10 1,20 1,15 1,20 1,20 1,10 RO Rondônia 0,48 0,50 0,50 0,50 0,50 0,62 0,70 0,70 0,70 Centro-Oeste 3,49 5,64 8,00 8,20 8,30 10,38 9,60 10,70 10,70 Fonte: FGV / EBAP/IBGE Valor do PIB por PPP em 2011 US$ trilhões EUA 15,6 China 13,5 Índia 5,8 Japão Alemanha Rússia. Brasil 2,4 Reino Unido 2,4 2. A Produção da Economia Página 26Comentários Gerais: • As seis maiores economias de renda média – China, Índia, Rússia, Brasil, Indonésia e México, equivalem a 32,3% do PIB global, enquanto as seis maiores economias de renda alta - EUA, Japão, Alemanha, França, Reino Unido e Itália –– respondem por 32,9%”. • A política de proibir importações fez com que todos os estados brasileiros fossem reserva-de-mercado para os produtos de São Paulo e Rio de Janeiro. • A migração seletiva implica que os melhores abandonem as suas regiões e venham para São Paulo e Rio de Janeiro, o que provoca mais empobrecimento das suas regiões, e mais concentração de riqueza. • O poder econômico de São Paulo e Rio de Janeiro acaba por provocar a mesma distribuição do poder político, concentrando mais recursos para São Paulo e Rio de Janeiro. 2.16 PIB ao longo do Tempo - Ciclo de Negócios A análise da evolução do PIB ao longo do tempo revela que uma economia não evolui de maneira uniforme. Ela não é linear. É uma coisa agitada e nervosa que forma ciclos de negócios com expansões e recessões (ver figura a seguir). Períodos de expansão se alternam com períodos de recessão, com picos e vales entre eles. A economia pulsa se agitando em torno da tendência normal denominada tendência histórica que é determinada pela capacidade normal de produção do país. Dessa forma, as projeções de curto prazo não devem ser estendidas para o futuro, sob o risco de serem cometidos grandes erros. 2.17 Expansão e crescimento • Crescimento - é o aumento da produção com aumento da capacidade de produção. Geralmente segue a tendência histórica. • Expansão - é o aumento da produção sem o correspondente aumento da capacidade de produção, através da eliminação dos turnos de manutenção, da capacidade ociosa, etc. Assim, uma siderúrgica pode aumentar a sua produção simplesmente suspendendo a manutenção de seus altos-fornos. Evidentemente que isso tem um preço: quebra do alto-forno com queda da produção no período seguinte. Expansão Recessão Tendência Histórica Produção Tempo Figura-1 2. A Produção da Economia Página 27 Exemplo - Em 1986 a indústria no Brasil, incentivada pelo plano cruzado, expandiu 12% mas cresceu 3% (ver figura ao lado), logo ocorreu um excessivo aquecimento da economia, que acabou por provocar a crise de 1987 (se a temperatura do paciente sai de 36º para 100º, o paciente morre). O Brasil historicamente (1950-1986) vem crescendo a taxas de 6% a 7%, mas nesse período tem ocorrido expansões de 10% a 12% (ver figura-3). Se a economia crescer e tiver pleno emprego: quem é que vai querer se arriscar indo até o Paraguai para trazer contrabando? Quem se arriscaria a ser traficante? Quem aceitaria o desconforto de trabalhar sob sol e chuva, muitas vezes em pé, como camelô? 2.18 Estabilidade Em todo crescimento sustentado não ocorre inflação nem escassez de bens (que se verificam nas expansões). Portanto estabilizar não é crescer demais. Estabilizar é colocar o país na sua tendência histórica. Um índice para verificar a estabilidade do crescimento é a variância em torno da tendência histórica. A China, por exemplo, cresce muito, com uma variância pequena, enquanto que o Brasil tem expansões e recessões violentas, refletidas numa variância crescente (heterocedasticidade) alterada no Plano Real. O processo de crescimento do Brasil é desordenado. Nos últimos 40 anos foram feitas várias metas setoriais (período de Juscelino) sem uma coordenação central (a Secretaria de Planejamento só foi criada em 1964). Este processo até hoje prevalece nas estatais que são fortemente descentralizadas (cada uma faz seu próprio orçamento) e sem coordenação, o que provoca uma bagunça financeira crescente. 2.19 Modelos Os modelos macroeconômicos que explicam os desvios da economia podem ser classificados em: • Modelos de Conjuntura - estudam e explicam os desvios da tendência histórica referentes a expansões e retrações da economia (ciclos curtos) e tentam definir políticas de estabilização. Exemplo: modelo Keynesiano Expansão: 1,12 X Crescimento: 1,03 X X 1985 1986 Produção anos Figura-2 PIB Nominal (Cr$ milhões) 0 500 1000 1850 1900 1950 2000 Ciclo curto Tendência histórica Tempo Produção 2. A Produção da Economia Página 28 • Modelos de Crescimento - estudam e explicam as mudanças de sentido da tendência histórica (ciclos longos). São aplicados para análises de longo prazo. Exemplo: modelo Marxista. 2.20 Ciclos Econômicos O que têm em comum a batalha de Waterloo, a quebra da bolsa de Viena em 1873, o estilo frenético dos anos 20, o primeiro choque do petróleo e o Levítico 25-10 (livro 3 do Pentateuco da Bíblia)? Esses acontecimentos marcam os primeiros quatro piques do chamado longo ciclo econômico de Kondratieff, oscilações a cada 50 anos cujo nome deriva do economista russo Nicolai Dmitriyevich Kondratieff. Há muito os economistas perceberam que períodos de prosperidade e recessão se alternam a cada 8, 10, 25 ou 50 anos, à medida em que os empresários aumentam seus investimentos e depois são obrigados a se retrair, por excesso de capacidade instalada. Os mais importantes falam em dois tipos de ciclos de amplitude diferenciada: • Ciclo de Juglar - ciclo mais curto, de duração aproximada de 10 anos • Ciclo de Kondratieff - tipo de ciclo econômico de duração de 50 anos, que tem como causa principal as grandes ondas de inovações tecnológicas que varrem o mundo econômico 2.21 Os Ciclos de Kondratieff Em 1922, Nicholai Kondratieff, um oficial russo, publicou um ensaio chamado Longos Ciclos Econômicos. De um estudo de história econômica, ele detectou um ciclo de negócios de longo prazo que vai de 45 a 60 anos. Como outros ciclos na natureza - maré alta e maré baixa, verão e inverno, vida e morte - este, pensou, estava sujeito a leis imutáveis de fluxo e refluxo. Formulou, então, uma variante do ciclo, com cerca de 50 anos entre cada pique e cada derrubada. Os ciclos de Kondratieff são divididos em duas fases: • Fase ascendente - de aproximadamente 25 anos (chamada de fase “a”) • Fase descendente - de mesma duração temporal (chamada de fase “b”) Kondratieff caiu em desgraça com as autoridades soviéticas porque suas teorias sugeriam que o capitalismo se recupera de suas crises periódicas e não está fadado à catástrofe conforme a crença de Marx. Julgado por seus contemporâneos como louco e subversivo, foi mandado à Sibéria onde - recordou Alexander Solzhenitsyn em O Arquipélago Gulag - ficou mentalmente doente e morreu. 1873 Quebra das bolsas de Londres, Viena e Nova York; 1929 Quebra da bolsa de Nova York 1987 Colapso da bolsa de Nova York 58 anos 56 anos Ciclo longo Tendência histórica Tempo Produção 2. A Produção da Economia Página 29 Kondratieff não desagradou apenas as autoridades soviéticas. Seu trabalho continua um anátema para os economistas ortodoxos, que observam as economias tendendo ao equilíbrio. A teoria de Kondratieff diz que a maior parte do que fazem e dizem é irrelevante. Para investidores, os ciclos de Kondratieff são importantes por reconhecer as tendências de alta e de queda. Mas, o russo não previu um ciclo de duração fixa. O que disse foi que a onda longa tinha uma média de 54 anos, ou um período entre45 e 60 anos. Embora os trabalhos de Kondratieff fossem publicados na década de 20, é possível se fazer extrapolações levando sua marcação até os dias de hoje. • A primeira subida detectada por Kondratieff, entre 1790 e 1815, refletiu a ampliação do uso do vapor e o início da revolução industrial. À medida que essa tecnologia caiu em domínio geral, seguiu-se um declínio. • A segunda subida (1847 - 1873) coincidiu com as ferrovias, os navios a vapor e o estímulo ao comércio que eles possibilitaram. Pânico financeiro marcou seu pique nos 1870s, quando as bolsas de Londres e de Viena foram feçhadas. Mas o declínio subsequente não foi totalmente compartilhado pelos Estados Unidos, onde a atividade econômica foi sustentada por um influxo de novos imigrantes e pela marcha para o Oeste. • A utilização da energia elétrica e a invenção do motor de combustão interna impulsionou a terceira alta de Kondratieff, que teve início no limiar deste século (1896 - 1920). A Primeira Guerra Mundial deu-lhe maior ímpeto, até que o "boom" dos anos 20 desapareceu na quebra de 29. • A fim da Segunda Guerra Mundial lançou o quarto pique (1948 - 1973), que foi impulsionado pelas novas matérias-plásticas, indústrias de bens de consumo duráveis e pela expansão dos transportes aéreos e terrestres. Então a inflação se tornou endêmica e o mundo entrou no primeiro choque crise do petróleo. Kondratieff notou uma tendência para a ocorrência de guerras próximo aos piques da fase b de cada ciclo. A explicação está nas tensões criadas pela prosperidade e pela escassez, incluindo a escassez de matérias-primas e de terras, e da espiral da depressão: Espiral da Depressão: mais concentração de renda queda do consumo redução de produção desemprego menos consumo Observação: A principal dificuldade do ciclo de Kondratieff é que sua determinação depende de levantamentos estatísticos, e a maioria das estatísticas das Bolsas (e outras estatísticas econômicas) não recua muito aquém de 1789. Além disso, os números pré-século XX são pouquíssimo confiáveis. 2.22 Os ciclos da economia e a tecnologia Conforme Wesley Mitchell, as crises econômicas que se repetem em ritmo quase regular tem por causa a introdução de: 2. A Produção da Economia Página 30 • Invenções revolucionárias, • Revisões tarifárias, • Modificações monetárias, • Fracasso de colheitas, • Modificações de gosto, e • Outras semelhantes. Portanto cada crise tem sua causa especial que deve ser procurada entre os acontecimentos de anos precedentes. Kondratieff não ofereceu explicação para seus ciclos de 50 anos, mas seus discípulos geralmente concordam que os períodos de prosperidade coincidem com novas invenções industriais, a descobertas (novos continentes, ouro, etc.) A essência da teoria da longa onda é que a economia mundial passa por ascensão, crise e depressão. Muitos tentaram explicar o que causa este longo ciclo: • O professor Jay Forrester do Instituto de Tecnologia de Massachusetts argumentou em anos recentes que as ondas são causadas pelo aumento e queda de investimento de capital; • Um financista com base no Arizona, Sr Douglas Kirkland, acredita que a onda de Kondratieff é causada pelo acúmulo e não pagamento de dívidas. Ele registrou sua versão dos 3,5 ciclos de Kondratieff que, acredita, o mundo tenha passado desde 1789. A interpretação do Sr Kirkland é de que tudo isso aconteceu anteriormente, mas cada geração, em sua arrogância, prefere esquecer. 2.23 A Saturação da Demanda A continuidade do crescimento da demanda de bens de consumo não é eterna. Esbarra em dois fatos: • A demanda é feita de consumidores (que é um número finito), e o atendimento dessa demanda é limitada exatamente pelo número e pela taxa de crescimento desses consumidores. • Uma vez satisfeita a demanda pelos bens, sua produção irá depender, daí em diante, de um crescimento vegetativo dessa demanda e da taxa de reposição desses bens (poucos trocam um aparelho de som ou um condicionador de ar a cada ano) 2. A Produção da Economia Página 31 Nesta situação, o mercado chega a um nível de saturação que é uma espécie de patamar logístico, até que um novo ciclo de forte demanda tenha início. O arrefecimento da demanda implica em menores importações de produtos, ou seja uma queda periódica no relacionamento com o exterior. Na natureza nada pode crescer indefinidamente pois acaba esbarrando em limites de matéria prima, ausência de recursos, ausência de espaço, ausência de ... Toda vez que uma coisa cresce muito acaba encontrando um limite e retrocede para crescer adiante. Assim surgem os ciclos. 2.24 Conclusão Episódios recorrentes de crescimento e recessão são fenômenos típicos da livre economia de mercado. Estes episódios tornaram-se parte da história ao longo dos anos e dos séculos. Porém ainda não se estudou com profundidade os elementos comuns de tais episódios, as marcas que nos advertem do seu retorno certo. Como reflexo do otimismo gerado pelo crescimento econômico forte e constante, os jovens passam a ser vistos pelos demais (e, como sempre, por eles mesmos) como sendo dotados de uma maneira nova e altamente inovadora de abordar as oportunidades. Porém sem memória, sem experiência, eles estão destinados a cometer os mesmos erros e repetir as mesmas cenas de seus pais e avós. "Aqueles que desconhecem o passado estão condenados a repeti-lo." [George Santayana] 2.25 Exercícios 2.25.1 Assinalar quais das atividades abaixo são incluídas no PIB: (A) Lavar o carro no lava-jato, (B) Contratar empresa para limpeza da casa (C) Comer em restaurante 2.25.2 Sabendo-se que o preço de mercado de um determinado produto é R$650,00. Determine os custos de transporte e comercialização do referido produto, dado que o preço do produtor do produto é R$550,00. 2.25.3 Qual o valor dos impostos indiretos e subsídios de um produto que a custo de fatores sai por R$158,00, sendo seu preço do produtor R$300,00? 2.25.4 Que taxa de câmbio foi utilizada para obter o valor US$ 605,00 bilhões para o PIB brasileiro de 2003 cujo valor em reais foi de R$ 1.767,00 bilhões? 2.25.5 Qual foi a taxa de crescimento do PIB brasileiro em 2010 se o valor do PIB corrente no final de 2009 era de R$ 1.531,51 bilhões, e no final de 2010 era de R$ 2.090,00 bilhões correntes. 2. A Produção da Economia Página 32 2.25.6 Considere um país que em 1990 tenha um PIB de R$ 1.000,00 e no ano de 2000 de 1.800 reais. Nestes 10 anos os preços aumentaram 60% (se o índice de preços de 1990 é base 100, então o de 2000 é 160). Calcular o crescimento do PIB nominal e do PIB real. 2.25.7 Assinalar quais das atividades abaixo são incluídas no PIB: (A) A produção realizada por estrangeiros com recursos de estrangeiros no Brasil (B) A produção realizada por brasileiros com recursos de estrangeiros no Exterior (C) A produção realizada por brasileiros com recursos de estrangeiros no Brasil (D) A produção realizada por estrangeiros com recursos de brasileiros no Brasil (E) A produção realizada por estrangeiros com recursos de brasileiros no Exterior2.26 Para saber mais [1] MOCHÓN, Francisco. Princípios da Economia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. [2] GLEISER, Ilan. Caos e Complexidade. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2002 [3] WONNACOTT, Paul; WONNACOTT, Ronald. Introdução à Economia. São Paulo: Editora McGraw-Hill do Brasil, 1994. [4] MANKIW, N. Gregory. Introdução À Economia. São Paulo: Cengage Learning, 2014. [5] IBGE / série estatística: http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/lista_tema.aspx?op=1&no=1 (acessado em 02/09/2014) [6] IBGE / Sidra: http://www.sidra.ibge.gov.br/ (acessado em 11/09/2014) [7] IBGE / indicadores: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendiment o/pme_nova/defaulttab_hist.shtm (acessado em 02/09/2014) [8] Datasus: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2012/matriz.htm (acessado em 11/09/2014) [9] Banco Central do Brasil: http://www.bcb.gov.br/pec/sdds/port/sddsp.htm?perfil=1 (acessado em 11/09/2014) [10] Trading Economics: http://pt.tradingeconomics.com/brazil/gdp- growth (acessado em 11/09/2014) [11] SEI - Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia http://www.sei.ba.gov.br/index.php?option=com_content&id=135&Itemid =218 (acessado em 02/09/2014) [12] CEIC Data Euromoney Institutional Investor http://www.ceicdata.com/ (acessado em 02/09/2014)
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