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APOSTILA DE DIREITOS HUMANOS OAB 2017

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REDE JURIS 
www.redejuris.com 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APOSTILA DE DIREITOS HUMANOS 
PROF. BRUNO PONTES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo da apostila, sem autorização do autor – Lei 9610/98. 
DIREITOS HUMANOS 
 
1. Conceito e considerações preliminares. 
Apesar de direitos humanos ainda estar em formação1, existem basicamente dois conceitos de 
direitos humanos, um amplo e outro estrito. O amplo está relacionado com a figura humana e que tem 
conexão com o direito natural (vida, liberdade e justiça – dar a cada um o que é seu). O sentido estrito vai 
além, porque não basta se correlacionar com o direito natural, havendo necessidade de estar positivado em 
tratados e convenções internacionais. Por outro lado, se forem incorporados no ordenamento jurídico 
interno de determinado país, passam a ser chamados de direitos fundamentais2. 
Assim, direitos humanos são aqueles que surgem em função da figura humana, conexos aos direitos 
naturais e positivados em tratados ou convenções internacionais, que visam efetivar a dignidade da pessoa 
humana3. 
O núcleo do conceito de Direitos Humanos está na dignidade da pessoa humana, que expressa um 
sistema de valores e orienta toda a ordem jurídica. A expressão “direitos humanos” é moderna, mas o 
princípio invocado é antigo como a própria humanidade, porque são fundamentais na medida em que, sem 
eles, a pessoa humana não consegue existir, se desenvolver e participar da vida em sociedade. 
2. Concepções 
Para a concepção jusnaturalista, os direitos fundamentais do homem são imperativos do direito 
natural, e existem antes mesmo da estruturação estatal. Não haveria, então, nem mesmo necessidade de 
previsão positiva, porque os direitos não podem ser negados, já que são inerentes à natureza humana. Esta 
concepção, como se vê, está presente no Direito e na Filosofia, e serviu para combater o Estado absolutista 
e fundamentar revoluções, em especial para modificar o “status quo”. 
A concepção positivista, pelo contrário, entende que os direitos do homem são faculdades 
concedidas pela lei, e não pela natureza das coisas. Não havendo previsão no direito positivo, ter-se-á 
expectativa de direito, e não direito em si. 
A concepção idealista, por seu turno, entende que os direitos do homem são ideias abstratas, que 
nascem do imaginário e que vão sendo absorvidas pela realidade ao longo do tempo. 
Já para a concepção realista, os direitos do homem não nascem do imaginário e nem são absorvidos 
com o tempo de maneira natural. Muito ao contrário, os direitos fundamentais do homem são resultados 
reais das lutas sociais e políticas travadas na história. Para se chegar a eles, quase sempre há um rasto de 
sangue e muita luta por trás. 
A concepção liberal, que trata os direitos humanos como liberdades fundamentais, porque a 
liberdade é que dá força e possibilita modificar, inclusive, a natureza das coisas, porque os seres humanos 
podem, então, se associar, se reunir e lutar. Os direitos humanos estariam vocacionados para preservar a 
autonomia da vida do homem. 
A concepção histórico-crítica vincula fortemente os direitos humanos à sua característica de 
historicidade, porque estes seriam construções históricas marcadas por contradições, condições e nuanças 
da realidade social, política, econômica e cultural. 
 
 
1 É comum a afirmação que o conceito de direitos humanos é, a um só tempo, polissêmico (porque não há um sentido único, 
mesmo diante do consenso estabelecido na Convenção de Viena), controverso (porque sempre gera debates polêmicos 
sobre a extensão, até em face da mutação constante do direito internacional e do desenvolvimento do tema) e estruturante 
(porque avança sobre as bases lógicas, naturais e fundamentais do ser humano enquanto tal). 
2 Veja que a Constituição de 1988 fala em Direitos e Garantias Fundamentais no Título II, referentes àqueles reconhecidos 
na CF/88, e como princípio das relações internacionais, coloca a prevalência dos “direitos humanos”, justamente em 
referência àqueles universalmente aceitos, indicando a necessidade da nossa República incorporá-los. 
3 É comum diferenciar direitos fundamentais, direitos humanos e direitos de personalidade/naturais. Os direitos naturais 
decorreriam da razão e seriam válidos em todos os momentos e locais; os direitos humanos seriam válidos em toda parte a 
partir de determinado momento; os direitos fundamentais valeriam em um determinado momento, porém em determinados 
locais. 
3. Características 
3.1. Imprescritibilidade. 
Os direitos humanos não prescrevem. Interessante lembrar que na CF/88 a imprescritibilidade é a 
regra, sendo imprescritíveis o racismo e a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem 
constitucional e o Estado Democrático (art. 5º, XLII, XLIV). Existe discussão para saber se estes rol 
constitucional de imprescritibilidade é taxativo ou exemplificativo: a doutrina majoritária entende que é 
exemplificativo, possibilitando inclusão de outros crimes imprescritíveis, desde que para proteção da 
pessoa humana, como ocorre no Estatuto de Roma (criação do TPI), uma vez que seus arts. 5º e 29 preveem 
a imprescritibilidade dos crimes de genocídio, contra a humanidade, de guerra e agressão – este ainda não 
regulamentado. 
3.2. Efetividade. 
O reconhecimento não basta. Somente a positivação não significa que os direitos humanos estão 
sendo respeitados, daí porque se exige a real aplicação na prática no território nacional. Caso o Estado 
partícipe não conseguir efetivar os direitos humanos (no caso, fundamentais), existem garantias como o 
“habeas corpus”. A efetividade realça a dimensão objetiva dos direitos fundamentais, porque é uma garantia 
de estabilidade dos mesmos no ordenamento jurídico e ainda impõe ao Estado a criação de planejamentos 
e procedimentos para sua efetivação para toda a sociedade. 
3.3. Irrenunciabilidade. 
Não podem ser abdicados ou negociados, porque fazem parte da própria existência do ser humano. 
Pode deixar de ser exercido, mas seu titular não pode dispor dos mesmos de forma definitiva (não se pode 
exigir que um doente em estado terminal aceite a eutanásia). É costume dizer que a irrenunciabilidade não 
é absoluta, porque em alguns casos é possível renunciar algum direito fundamental, como é o caso de 
renunciar à integridade física, para fazer doação de rim para parente (vide Lei 9434/97, que trata da doação 
de órgãos, tecidos e partes do corpo humano), ou de fixar cláusula contratual para limitar a liberdade de 
expressão, para que o funcionário não divulgue segredo industrial da empresa em que trabalhou. A 
irrenunciabilidade, diferentemente da inviolabilidade, visa a proteção do próprio titular do direito 
fundamental, e não está previsto explicitamente na Constituição; a inviolabilidade, por seu turno, está 
prevista na Constituição e protege o indivíduo contra terceiros. 
3.4. Inalienabilidade. 
A alienação também está vedada (não são disponíveis como se fosse um patrimônio qualquer). 
3.5. Historicidade. 
Se por trás de cada direito há um rastro, senão de sangue, pelo menos de luta, é evidente que o 
direito fundamental é um direito histórico; 
3.6. Relatividade. 
Nada na vida é absoluto. O direito, mesmo o fundamental, também não é e nem pode ser absoluto, 
porque é preciso, em vários casos, limitá-lo, mesmo em se tratando de um direito fundamental. O direito 
fundamental da liberdade, por exemplo, pode ser limitado, a bem da sociedade. Alguns entendem que o 
direito de não ser torturado e de não sofrer penas cruéis, e o direito denão ser reduzido à condição análoga 
de escravo, seriam direitos fundamentais absolutos. 
3.7. Proibição do retrocesso. 
Se o direito fundamental foi conquistado, não pode mais ser extirpado4. Por exemplo: se o direito 
fundamental contido em uma norma constitucional de eficácia limitada foi regulamentado, não pode uma 
regulamentação posterior acabar com o direito concretizado pela norma anterior. Para quem leva esta 
proibição do retrocesso às últimas consequências, entende que nem mesmo uma nova Constituição poderá 
acabar com os direitos fundamentais, porque os direitos naturais seriam limites ao poder constituinte 
 
4 O art. 4º da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto São José da Costa Rica, de 22.11.1969, aprovado pelo 
Congresso pelo Decreto-Legislativo 27, de 25.09.1992 e promulgado pelo Decreto 678, de 06.11.1992), no art. 4º, item 3, 
diz que: “Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam abolido”. Consta, portanto, no Brasil, como 
norma supralegal, esta expressa disposição a respeito da proibição do retrocesso, em matéria de pena de morte. 
originário (neste caso, o poder constituinte teria natureza jurídica jusnaturalista, e não normativista, como 
entende a maioria). 
3.8. Interdependência. 
Não há choque irremediável entre os direitos fundamentais, porque eles devem se relacionar 
permanentemente para atingirem suas finalidades. 
3.9. Complementaridade. 
A interpretação de um direito fundamental deve levar em conta os outros direitos fundamentais. 
Não se interpreta um direito fundamental isoladamente. 
3.10. Inviolabilidade. 
Não pode ser tolerada violação dos direitos humanos, seja pela lei, pela autoridade ou pelo poder, 
órgão ou entidade pública, sob pena de responsabilização civil, administrativa e criminal. Inviolabilidade, 
como se viu, existe para proteção contra terceiros, e irrenunciabilidade para proteção contra o próprio 
titular. 
3.11. Universalidade e indivisibilidade. 
Os direitos humanos/fundamentais nascem para todos os homens, independentemente de raça, 
nacionalidade, sexo, credo ou convicção político ou filosófica. A Declaração de Direitos Humanos de 
Viena, de 1993, no item 5, diz que “Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis 
interdependentes e inter-relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos humanos 
de forma global, justa e equitativa, em pé de igualdade e com a mesma ênfase. Embora 
particularidades nacionais e regionais devam ser levadas em consideração, assim como diversos 
contextos históricos, culturais e religiosos, é dever dos Estados promover e proteger todos os direitos 
humanos e liberdades fundamentais, sejam quais forem seus sistemas políticos, econômicos e 
culturais.” 
Ainda se fala em exigibilidade e justiciabilidade. A exigibilidade seria o reconhecimento de 
que cada cidadão tem a possibilidade de demandar a satisfação de seus direitos humanos, cabendo ao 
Estado e à própria sociedade, oferecer condições para sua efetivação. A justiciabilidade, por sua vez, 
imporia o reconhecimento de que os direitos humanos, por serem justiciáveis, podem ser demandados 
judicialmente caso não sejam realizados, especialmente nos dias atuais em que, em face do 
neoconstitucionalismo e do pós-positivismo, o Direito se aproxima da Ética, há aumento da jurisdição 
constitucional e o Judiciário é cada dia mais proativo. 
 
Questões de concursos 
 
01) Prova: NUCEPE - 2012 - PM-PI - Agente de Polícia - Sargento 
Em relação ao conceito dos Direitos Humanos, identifique com V as alternativas VERDADEIRAS e F, as FALSAS e 
marque, em seguida, a sequência CORRETA. 
 
( ) O núcleo do conceito de Direitos Humanos se encontra no reconhecimento da dignidade da pessoa humana. Essa 
dignidade expressa num sistema de valores, exerce uma função orientadora sobre a ordem jurídica porquanto estabelece 
“o bom e o justo” para o homem. 
 
( ) Direitos Humanos é uma expressão moderna, mas o princípio que invoca é tão antigo quanto a própria humanidade. É 
que determinados direitos e liberdades são fundamentais para a existência humana. 
 
( ) Os Direitos Humanos surgiram a partir do século XX, e devem ser utilizados apenas nos países democráticos. 
 
( ) Os Direitos Humanos são considerados fundamentais porque sem eles a pessoa humana não consegue existir ou não é 
capaz de se desenvolver e de participar plenamente da vida. 
 
( ) Os Direitos Humanos devem privilegiar apenas a parcela da população mais carente, fato que justifica sua própria 
existência. 
 
a) V, V, F, V, F; 
b) V, V, V, V, V; 
c) V, V, F, F, V; 
d) F, F, V, F, V; 
e) V, V, F, F, F 
 
 
4. Natureza e classificação 
Existe uma classificação positiva pela CF/88, em relação aos direitos fundamentais, e várias 
classificações doutrinárias. No Título II (Dos Direitos e Garantias Fundamentais), a Constituição de 1988 
classifica os direitos fundamentais em 05 capítulos: 
a) Capítulo I – dos direitos e deveres individuais e coletivos; 
b) Capítulo II – dos direitos sociais; 
c) Capítulo III – da nacionalidade; 
d) Capítulo IV – dos direitos políticos; 
e) Capítulo V – dos partidos políticos. 
Cada doutrinador, entretanto, costuma fazer sua própria classificação, daí a dificuldade em se adotar 
esta ou aquela, até porque nenhuma ganhou, ao longo do tempo, um destaque maior. Por isso, a seguir serão 
destacadas aquelas mais importantes e didáticas. 
Classificação de José Carlos Vieira de Andrade: 
01) Direitos fundamentais de defesa: caráter negativo, porque exige uma abstenção do Estado 
(Constituição-garantia), para que ele não se intrometa arbitrária e despropositadamente na autonomia do 
homem, respeitando, assim, as liberdades públicas; 
02) Direitos fundamentais de prestação: caráter positivo, porque exige uma prestação do Estado 
para o homem atingir a felicidade (Constituição-dirigente). O Estado tem o dever de agir para interferir na 
sociedade, quando isto for necessário para proteger os bens jurídicos, seja pela intervenção indireta ou 
jurídica, como na expedição de normas, seja pela intervenção direta ou material, pela intervenção policial 
ou pela prestação direta das necessidades básicas de saúde, educação e segurança; 
03) Direitos fundamentais de participação – direito do cidadão de participar na governança da coisa 
pública. 
Outra classificação bastante difundida é aquela que os classifica em gerações (a doutrina está 
evoluindo para abandonar a expressão “gerações”, substituindo por “dimensões”, justamente para evitar a 
falsa impressão de que uma geração substui a outra, quando na verdade a completa). De toda forma, seriam 
04 gerações/dimensões: 
01 - Direitos fundamentais de 1ª geração (liberdade) - Surgidos influenciados pelas revoluções 
burguesas do final do século XVIII, especialmente aquelas ocorridas nos Estados Unidos e na França, são 
conhecidos como direitos civis e políticos. Ligados à liberdade, surgiram em oposição ao Estado para 
limitar seus poderes absolutos. Exigia do Estado uma abstenção, daí o caráter negativo, próprio das 
constituições garantia (ou constituições quadro). Seu titular é o indivíduo, e são conhecidos como direitos 
negativos, ou direitos de defesa. Exemplos: liberdades físicas, liberdades de expressão, liberdades de 
consciência, direitos de propriedade privada, direitos da pessoa acusada e as garantias de direitos (“habeas 
corpus”, mandado de segurança, mandado de injunção, “habeas data”); 
02 - Direitos fundamentais de 2ª geração (igualdade). Surgidos no século XX, estão ligados à 
igualdade, já que se referem aos direitos sociais, econômicos e culturais conquistados pela luta do 
proletariado (saúde, educação, segurança, habitação, cultura,esporte etc.). Visam a igualdade material (na 
lei). Têm caráter positivo, porque exigem uma prestação do Estado, e não só uma abstenção, para que sejam 
reduzidas as desigualdades, próprios das constituições dirigentes. Seu titular é a coletividade. São 
conhecidos como direitos positivos ou direitos de prestação. Exemplos: art. 6º da Constituição de 1988: 
“São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a 
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta 
Constituição. O Título VIII da Constituição de 1988 (Da Ordem Social), prevê as seguintes categorias de 
direitos: Seguridade Social (Saúde, Previdência Social e Assistência Social), Educação, Cultura, Desporto, 
Ciência e Tecnologia, Comunicação Social, Meio Ambiente, Família, Criança, Adolescente, Jovem, Idoso, 
Índios. Entretanto, os direitos relacionados à Comunicação Social e ao Meio Ambiente se inserem nos 
direitos fundamentais de 3ª geração; 
03 - Direitos fundamentais de 3º geração (fraternidade). A consciência de que o mundo, cada vez 
mais, estava se dividindo até perigosamente entre nações desenvolvidas e nações subdesenvolvidas, surge 
a consciência de que o mundo precisa de solidariedade, de fraternidade. Daí porque os principais direitos 
de 3ª geração são os direitos ao desenvolvimento, a paz, o meio ambiente, a autodeterminação dos povos, 
à comunicação, ao patrimônio comum e histórico da humanidade. Seu titular é o gênero humano. 
Exemplos: Direito ao desenvolvimento, à paz, ao meio ambiente, à autodeterminação dos povos, à 
comunicação e ao patrimônio comum da humanidade. 
04 - Direitos fundamentais de 4ª geração. São direitos relacionados ao futuro da sociedade, com o 
futuro da própria cidadania, como é o caso do direito à democracia, à informação e ao pluralismo, além das 
questões éticas relacionadas com a biotecnologia (engenharia genética), ainda um campo sem fronteiras 
seguras. Referem-se à possibilidade de regulamentação jurídica da globalização política. Se a sociedade, 
um dia, ter como um grande problema o lixo ou a espionagem espacial, ou ainda com a clonagem humana, 
que interferirá no conteúdo das informações, na restrição da utilização da Internet e na característica básica 
do ser humano? Neste sentido, o julgamento da ADI sobre células tronco embrionárias seria um caso em 
que esta dimensão foi analisada pelo STF. Paulo Bonavides prefere incluir na quarta dimensão a 
democracia, pluralismo, informação. Coloca a paz como quarta dimensão, para outros, seria incluída na 
terceira dimensão. 
Paulo Bonavidades considera o Direito à Paz como um direito fundamental de 5ª geração. 
 
Questões de concurso 
 
02)Prova: CESPE - 2012 - PM-AL - Oficial Combatente da Polícia Militar 
 
Com relação ao conceito, à evolução e à abrangência dos direitos humanos, assinale a opção correta. 
a) Os chamados direitos de solidariedade correspondem, no plano dos direitos fundamentais, aos direitos de segunda 
geração, que se identificam com as liberdades concretas, acentuando o princípio da igualdade; 
b) No século XX, inaugurou-se uma nova fase no sistema de proteção dos direitos fundamentais, na medida em que 
foi nele que os Estados passaram a acolher as declarações de direitos em suas Constituições; 
c) A individualidade é uma das características dos direitos humanos fundamentais, e, nesse sentido, eles são dirigidos 
a cada ser humano isoladamente considerado, o que se justifica em razão das diferenças de nacionalidade, sexo, raça, 
credo ou convicção político-filosófica; 
d) Os direitos fundamentais são os direitos humanos reconhecidos como tais pelas autoridades às quais se atribui o 
poder político de editar normas, tanto no interior dos Estados quanto no plano internacional; são, assim, os direitos 
humanos positivados nas Constituições, nas leis, nos tratados internacionais; 
e) Com o fim da Primeira Guerra Mundial, a estrutura do direito internacional dos direitos humanos começou a se 
consolidar. A essa época, os direitos humanos tornaram-se uma legítima preocupação internacional e, então, foram 
criados mecanismos institucionais e de instrumentos que levaram tais direitos a ocupar um espaço central na agenda 
das organizações internacionais. 
 
5. Evolução dos direitos humanos 
A doutrina costuma dividir a evolução dos direitos humanos de duas formas. A primeira, em 
períodos axial, do cristianismo, do iluminismo e do período do pós-guerra, além de referência aos 
documentos históricos. A segunda segue a divisão clássica da história, em Idade Antiga, Média, Moderna 
e Contemporânea, que é a divisão mais seguida. 
Assim, temos a primeira divisão: 
 Período axial (600 a 480 a.C). 
Grandes princípios e diretrizes fundamentais da vida (Buda, Confúcio, Pitágoras, Isaías), quando 
então surge a filosofia, com grande importância para o saber racional em detrimento do saber 
mitológico. Isto propiciou um grande salto para a igualdade; 
 Período do Cristianismo. 
Este período trouxe grande conquista aos direitos humanos porque propagou a igualdade entre os 
seres humanos no plano divino (todos são filhos de Deus). Não se pode esquecer, porém, que houve 
continuidade da escravidão e da inferioridade da mulher, dentre outros tantos problemas, como foi 
o caso da Inquisição. Como o cristianismo valorizou o homem, acabou ajudando, em alguma 
medida, para as políticas de conteúdo econômico e social; 
 Período do Iluminismo. 
A fé na ciência e na razão foi um salto na humanidade, propagadas pelo Iluminismo, inclusive 
incentivando decisivamente os direitos naturais e a Revolução Francesa (igualdade, liberdade, 
fraternidade). 
 Período Pós-2ª Guerra. 
Depois dos horrores da 2ª Guerra Mundial é que a sociedade definitivamente acordou para a 
necessidade de proteção dos direitos humanos. Houve, então, criação da ONU, a Declaração dos 
Direitos do Homem de 1948 e outros tantos documentos internacionais, que acabaram significando 
outro período. 
 
 Documentos remotos e históricos. 
Importante citar, nesta evolução, os principais documentos de força e entusiasmo internacional, que 
protegeram, em boa medida, os direitos humanos: Magna Carta de 1215; Petition of Rights de 1628; 
Habeas Corpus Act de 1679; Bill of Rights de 1689; Declaração de Direitos do Estado da Virgínia 
de 1776; Declaração de Independência dos EUA e Constituição de 1787; Declaração dos Direitos 
do Homem e do Cidadão da França de 1789; Constituição do México de 1917; Constituição de 
Weimar de 1919; Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. No Brasil, a Constituição 
de 1988 e os chamados Planos Nacionais de Direitos Humanos: PNDH1 (1996); PNDH2 (2002); 
PNDH3 (2009) 
Na segunda divisão, mais aceita, temos: 
 Idade Antiga (4000 a.C até 476 d.C, quando da tomada do Império Romano pelos povos bárbaros). 
Neste período, não havia previsões normativas, e a regulação se baseava praticamente na justiça 
privada, com desproporção e injustiça. Poucas normas surgiram neste período, podendo ser citados 
o Código de Manu, o Código de Hamurabi e a Lei das 12 Tábuas. O Código de Hamurabi5 se 
notabilizou pela lei do talião (“olho por olho e dente por dente”6), mas tratava as pessoas com 
desproporcionalidade e ainda considerando três classes sociais de pessoas: 1ª classe mais alta 
(“awelum”): punição com patrimônio e sem sanções cruéis; 2ª classe intermediária 
(“mushkenum”): as vezes com penas cruéis, mas também punição com retirada do patrimônio; 3ª 
classe (“wardum”, ou bárbaros”: tinham direito à propriedade, mas a regra eram penas cruéis, 
difamantes e de morte7. Leis das 12 Tábuas8: regulava a vida do povo romano e tinha por base o 
princípio da igualdade, para tratamento igual de todos, aocontrário do Código de Hamurabi. 
 
5 O Código de Hamurabi, de aproximadamente 1700 a.C., foi uma necessidade para a sociedade da época, porque unificou 
os reinos sumérios e consagrando o primeiro imperador mesopotâmico (Rei Dhammu-rabi). Assim, eram necessárias regras 
de condutas unificadas para o império, o que acabou por ratificar a figura estatal conhecida na época e ainda trazer a noção 
de segurança e prévia definição de condutas. Estas regras de conduta estavam inseridas na pedra (estela em diorito), com 
21 colunas e 282 cláusulas. 
6 A lei do talião estava espalhada por todo o Código de Hamurabi, mas especialmente nos artigos 196 (“Se um homem 
arrancar o olho de outro homem, o olho do primeiro deverá ser arrancado - Olho por olho”) e 200 (“Se um homem quebrar 
o dente de um seu igual, o dente deste homem também deverá ser quebrado - Dente por dente”. A parte criminal (“lex 
talionis”) atingia inclusive os filhos dos causadores dos danos. No entanto, o Código também regulava o comércio (com 
importância especial para o caixeiro viajante), a família (inclusive prevendo divórcio, pátrio poder, adoção, adultério e o 
incesto), o trabalho (indicativo de salário mínimo, categorias profissionais e leis trabalhistas básicas) e a propriedade 
(inclusive o escravo tinha direito à propriedade). 
7 O tratamento punitivo diferenciado entre as classes ficava bem evidente nas seguintes passagens: “198. Se ele arrancar o 
olho de um homem livre, ou quebrar o osso de um homem livre, ele deverá pagar uma mina em ouro”; “199. Se ele arrancar 
o olho do escravo de outrem, ou quebrar o osso do escravo de outrem, ele deve pagar metade do valor do escravo.” “201. 
Se ele quebrar o dente de um homem livre, ele deverá pagar 1/3 de uma mina em ouro. 202. Se alguém bater no corpo de 
um homem de posição superior, então este alguém deve receber 60 chicotadas em público”. 
8 A Lei das Doze Tábuas, ou “Leis das Doze Tábuas” (Lex Duodecim Tabularum), deu origem ao Direito Romano, e 
organizava o procedimento judicial, estipulava normas conta os inadimplentes, pátrio poder, sucessões e tutela, 
propriedade, servidões e previa os delitos, e ainda tratava de normas atinentes ao Direito Público e Sagrado. Isto serviu 
para evitar a surpresa para os plebeus, que costumavam ser punidos sem saber o motivo, daí porque fixadas em 12 tabletes 
de madeira e colocados à frente do Fórum Romano, para todos lerem. Assim, foi formado um grupo de dez grandes homens 
(“decenvirato”), para redigir o projeto do Código, realizado o trabalho no período de 451 a 450 a.C., com promulgação em 
 Idade Média (iniciada com a queda do Império Romano, 476 d.C, e termina com a transição para a 
Idade Moderna, por volta de 1453 d.C). 
Apesar do período obscuro, com Inquisição, houve significativa evolução na proteção dos direitos 
humanos, com o surgimento da Magna Carta de 1215, do Rei João Sem Terra. Neste documento, o 
Rei começava a ser restringido, algo inusitado para a época, inclusive com previsão de “habeas 
corpus”, do direito de propriedade, do devido processo legal, da proporcionalidade, da proibição 
dos tributos com efeito de confisco. 
 
 
 Idade Moderna (período que vai de 1453, com a tomada de Constantinopla pelos Turco Otomanos, 
até 1789, com a Revolução Francesa). 
Surgiu o chamado “Tratado de Vestfália” (ou Paz de Vestfália ou ainda Tratados de Münster e 
Osnabrück), conjunto de acordos internacionais celebrados em 1648 para encerrar a Guerra dos 
Trinta Anos, série de guerras entre nações na primeira metade do Século XV, especialmente 
motivadas por rivalidades religiosas e territoriais. O Tratado, então, fez surgir a concepção do 
Estado moderno, com elementos objetivos (povo, território e governo soberano) e subjetivos 
(reconhecimento da sua existência) e, consequentemente, um sistema internacional à vista das 
soberanias estatais. A soberania, neste tratado, surge como algo novo, capaz de propiciar a paz entre 
os povos, porque a hierarquia religiosa foi afastada, gerando aquietação territorial nas regiões, 
respeito e desenvolvimento dos povos. Também nesta Idade Moderna é que surgiram na Inglaterra 
a Petition of Rights, de 1628, que requeria direitos e liberdades para os súditos do Rei e ainda 
estabelecia, expressamente, que os impostos só poderiam ser cobrados com o consentimento do 
Parlamento, que não poderia haver prisão sem justa causa apresentada e que a lei marcial (restrição 
dos direitos) não poderia ser utilizada em tempo de paz; o Bill of Rights, de 1689, que repetia os 
direitos protegidos pela Magna Carta de 1215 e previa independência do Parlamento e, assim, a 
divisão dos poderes; o “Habeas Corpus Act”, de 1679, lei do Parlamento criada durante o reinado 
de Rei Charles II, e reforçava o já existente “habeas corpus” como garantia da liberdade individual 
contra prisão ilegal, abusiva ou arbitrária; o “Act of Settlement”, de 1701, que estabeleceu 
procedimentos e garantias para sucessão protestante do trono inglês e o poder do Parlamento, e 
ainda reafirmou que os governantes se submetiam ao princípio da legalidade, independência e 
autonomia dos órgãos jurisdicionais, inclusive acima da vontade da Coroa, além da 
responsabilidade política dos agentes políticos e possibilidade de “impeachment”. Nos EUA, digno 
de nota foi o surgimento da Declaração de Direitos do Bom Povo de Virgínia, de 16 de junho de 
1776 (antes mesmo da Declaração da Independência dos EUA, de 04 de julho de 1776, e da sua 
Constituição, de 17 de setembro de 1787), estabelecendo que todo poder emana do povo, que em 
seu nome deve ser exercido, reconhecendo que todo ser humano tem direitos fundamentais, como 
a igualdade, a liberdade, os direitos inatos, a previsão e a separação dos poderes executivo, 
legislativo e judiciário etc. 
 Idade Contemporânea9 (período iniciado com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, 
surgido na França em 1789, influenciado pela Revolução Francesa e pela Declaração dos Direitos 
do Povo da Virgínea, de 1776, até o presente momento). 
Esta Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi baseada no direito natural, e estabelece 
o Estado laico, o princípio da legalidade, da anterioridade e da presunção da inocência. Insere-se 
neste período contemporâneo, as Emendas à Constituição dos EUA, de 1791, que constituíram as 
10 primeiras emendas como “Bill of Rights” norte-americana, com ratificação por três quartos dos 
estados, prevendo vários direitos fundamentais, como liberdade religiosa e proibição de 
estabelecimento oficial de religião, direito à vida, devido processo legal, imparcialidade dos 
julgamentos,. Logo depois das Revoluções Americana (1776-1783) e Francesa (1789-1799), 
 
452 a.C. Posteriormente, no Século VI, o imperador Justiniano, ao assumir o poder, quis salvaguardar a herança do Direito 
Romano e organizar a legislação, e assim determinou a compilação e a codificação das principais leis, perfazendo então o 
chamado Corpus Juris Civilis. 
9 Entretanto, a concepção contemporânea de direitos humanos surgiu após a 2ª Guerra Mundial. 
inúmeras constituições, além da Americana de 1789 e da Francesa de 1791, consagraram o 
constitucionalismo, com tentativas de limitar e separar os poderes e ainda prever direitos 
fundamentais, como foi o caso da Constituição da Espanha de 1812, de Portugal de 1822, do Brasil 
de 1824, da Bélgica de 1831. Depois, já no Século XX, merece destaque a Constituição Mexicana 
de 1917 e a Alemã, de 1919 (Constituição de Weimar), que, em meio à 1ª Guerra Mundial e logo 
depois do Tratado de Versalhes10, elegeram os direitos trabalhistas e previdenciários à condição de 
direitos fundamentais11. Foi neste Século, logo depois da 2ªGuerra Mundial, que surgiu a ONU, 
em 1945, além de inúmeros tratados internacionais e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, 
em 1948, com três dimensões: liberdades públicas, direitos econômicos e sociais e 
fraternidade/solidariedade, porém apenas como recomendação, sem força normativa de tratado; o 
Pacto Internacional de Direitos Internacional de Civis e Políticos, de 1966, e o Pacto Internacional 
de Direitos Econômicos, Culturais e Sociais, também de 1966. 
6. Princípio da máxima efetividade (eficiência ou interpretação efetiva) 
A Constituição de 1988 diz, claramente, que “as normas definidoras dos direitos e garantias 
fundamentais têm aplicação imediata” (§1º do art. 5º). Isto não quer dizer que a dignidade humana será 
sempre respeitada, que o detento não sofrerá nas prisões e que ninguém passará fome. Sendo isto inconteste, 
a doutrina adotou o princípio da máxime efetividade, ao entender que o § 1º deve ser entendido como uma 
norma principiológica, influenciando o intérprete a atribuir aos direitos fundamentais um sentido que, em 
cada caso, tenha a maior efetividade possível. Este §1º não pode servir para a incorreta conclusão de que 
todos os direitos fundamentais têm eficácia plena, porque aplicabilidade imediata não se confunde com os 
graus de eficácia, vistos oportunamente. Daí porque este princípio da máxima efetividade, para os direitos 
fundamentais, significa que o intérprete e o aplicador deverá expandir o máximo possível estes direitos, 
sempre que for possível. 
7. Teorias monista e dualista 
Estas duas teorias analisam a relação de ordenamentos jurídicos existentes no mundo. Monismo é, 
segundo nossos dicionários, o “sistema filosófico que, por oposição ao dualismo ou ao pluralismo, admite 
que tudo, no Universo, é redutível a uma única realidade ou substância.” Esta concepção, quando levada 
para o campo jurídico, entende que todos os ordenamentos jurídicos do mundo são redutíveis a um só. A 
teoria monista, então, defende que tanto o Direito Internacional quanto o Direito Interno de cada país 
constituem um só ordenamento jurídico, que é a origem tanto das normas internacionais quanto das 
nacionais, daí porque os tratados internacionais sobre direitos humanos não precisariam ser incorporados 
ao sistema jurídico nacional, até porque “as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm 
aplicação imediata” (art. 5º, §1º). É o entendimento de Hans Kelsen, conforme se depreende do seguinte 
trecho da “Teoria Pura do Direito”: "Se esta norma, que fundamenta os ordenamentos jurídicos de cada 
um dos Estados, é considerada como norma jurídica positiva - e é o caso, quando se concebe o direito 
internacional como superior a ordenamentos jurídicos estatais únicos, abrangendo esses ordenamentos de 
delegação - então a norma fundamental- no sentido específico aqui desenvolvido, de norma não 
estabelecida, mas apenas pressuposta- não mais se pode falar em ordenamentos jurídicos estatais únicos, 
mas apenas como base do direito internacional". 
O monismo ainda dá margem para uma cisão interna, quando envolve a questão da hierarquia das 
normas: se há origem comum das normas nacionais e internacionais, como se dá seu escalonamento? A 
primeira corrente entende que o Direito Interno tem supremacia, sendo o Direito Internacional 
desdobramento lógico; a segunda corrente entende que o Direito Internacional tem supremacia, daí porque 
o Direito Interno estará limitado pelas normas internacionais, não podendo contrapô-las; a terceira corrente, 
moderada, entende ambos se equivalem, e o eventual conflito deverá ser solucionado por critérios próprios, 
 
10 O Tratado de Versalhes, assinado pelas potências europeias em 1919, pôs fim à 1ª Guerra Mundial, com imposição, à 
Alemanha, a responsabilidade por ter causado a guerra, com reparações às nações da Tríplice Entente (Reino Unido, França 
e Império Russo), o que acabou por impulsionar o surgimento do movimento ultranacionalista na Alemanha, liderado por 
Hitler (nazismo). 
11 Também pode ser citada a Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado, de 12.01.1918, da União Soviética, 
e logo depois a Lei Fundamental Soviética, de 10.07.1918. Tida por muitos como autoritária por acabar com o direito de 
propriedade, proclamou o princípio da igualdade, independentemente de raça ou nacionalidade e o direito ao asilo contra 
perseguições políticas e religiosas, dentre outros. 
como o da revogação da lei mais antiga pela mais recente. Daí porque o monismo não defende que é 
impossível o conflito entre as normas nacionais (internas) e internacionais (externas). 
A teoria dualista, por sua vez, separa claramente o ordenamento jurídico internacional do nacional. 
O internacional (externo) seria a reunião dos tratados e das demais normas e critérios que regulam o 
relacionamento entre os países, e o nacional (interno) seria a reunião da Constituição e das demais leis do 
país (os dois ordenamentos regulam realidades próprias e distintas). Deste modo, a norma internacional só 
teria vigência no ordenamento nacional se este a recepcionasse, por compatibilidade, e a ratificasse, não 
podendo valer sem tal ratificação. E se o país descumprisse a norma internacional, não teria qualquer 
consequência interna, pois só poderia sofrer consequências em nível internacional. 
Portanto, independentemente do novo parágrafo 3º do art. 5º, a CF/88 adota a teoria dualista, até 
porque o acatamento dos tratados internacionais é ato jurídico complexo, já que precisam de referendum 
do Congresso Nacional e promulgação pelo Presidente da República, como vimos e como, aliás, entende o 
STF. 
O que ocorre, nos dias atuais, é cada vez mais uma aproximação com o monismo, no sentido de 
valorizar as normas internacionais, seja pelo estímulo para que os países adotem as regras internacionais, 
seja pela elevação de status das normas internacionais, quando elas entrarem no ordenamento nacional, 
como ocorreu com o §3º do art. 5º da nossa Constituição. Inclua-se também os fenômenos da Internet, da 
Globalização, dos Blocos Econômicos, da submissão ao Tribunal Penal Internacional, assim como a 
transformação da Europa por mecanismos uníssonos de relacionamento jurídico, político e social, como 
ocorre com a União Europeia, ganhando força, neste ponto, a interpretação do art. 5º, §2º, da CF/88, no 
sentido de que ali estaria uma mensagem clara de recepção automática de outros direitos e garantias 
decorrentes de tratados internacionais em que a República brasileira seja parte. 
Outro ponto importante é que algumas normas internacionais são absorvidas automaticamente pelo 
ordenamento jurídico interno dos países, inclusive no Brasil, como ocorre com os costumes e princípios 
gerais, que não precisam da internalização por meio de aprovação do Congresso, via Decreto-Legislativo, 
e posteriormente o ato final do Presidente da República, via Decreto Presidencial. É que este procedimento 
de internalização é destinado para os tratados internacionais, e não para as demais normas, como os 
costumes e os princípios gerais de direito, que são tratados como fontes do Direito Internacional, da mesma 
forma que os tratados (esta posição, inclusive, foi adotada pelo STF no RE 94.084, julgado em 12/03/1986). 
Lembre-se que o Estatuto da Corte Internacional de Justiça diz, no seu art. 38, que são fontes do direito 
internacional os tratados, os costumes e os princípios gerais de direito, e ainda faz referência à 
jurisprudência e à doutrina como meios auxiliares na determinação das regras jurídicas, inclusive com 
possibilidade de utilização da equidade. 
Assim, via de regra, a norma internacional não tem autoridade para, imediatamente, ser exigida no 
âmbito interno, masos costumes e os princípios gerais seriam exceções, situação que ratificaria a adoção, 
neste ponto, da teoria monista no Brasil. 
 
Questões de concurso 
 
03) Prova: FUMARC - 2011 - BDMG - Advogado 
Leia as assertivas abaixo e coloque à frente de cada um dos parênteses (F) se FALSA e (V) se for VERDADEIRA: 
( ) Dois ordenamentos jurídicos distintos e totalmente independentes entre si – Dualismo. 
( ) Uma ordem jurídica internacional e uma ordem jurídica interna – Monismo. 
( ) Impossibilidade de conflito entre Direito Internacional e o Interno – Monismo. 
( ) O Direito Internacional é que dirige a convivência entre os Estados, ao passo que o Direito interno disciplina as 
relações entre os indivíduos e entre estes e o ente estatal – Dualismo. 
Marque a alternativa CORRETA, na ordem de cima para baixo: 
a) V – F – V – V. 
b) V – F – F – V 
c) F – V – F – F. 
d) F – V – V – F. 
 
04) Prova: CESPE - 2012 - ANAC - Analista Administrativo - Área 3 
No que concerne ao direito internacional público, julgue os itens a seguir. 
De acordo com o dualismo, as normas de direito internacional e de direito interno existem separadamente e não afetam 
umas às outras. No Brasil, a teoria adotada é o monismo, de acordo com a qual há unidade do ordenamento jurídico, ora 
prevalecendo as normas de direito internacional sobre as de direito interno, ora prevalecendo estas sobre aquelas. 
 
 
8. Sistemas normativos global, regional, geral e específico de proteção dos direitos humanos 
Desde a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, foram desenvolvidos 
sistemas de proteção a tais direitos, especialmente internacionais. Por isso, já em 2010, o Pacto 
Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais contava com 160 Estados-artes; o Pacto 
Internacional dos Direitos Civis e Políticos contava com 165 Estados-partes; a Convenção sobre a 
Eliminação da Discriminação Racial, com 173 Estados-partes; a Convenção sobre a Eliminação da 
Discriminação contra a Mulher, com 186; e a Convenção sobre os Direitos da Criança, com 193. “Formou-
se, então, um sistema global de proteção dos direitos humanos, no âmbito das Nações Unidas. Esse sistema 
normativo, por sua vez, é integrado por instrumentos de alcance geral (como os Pactos Internacionais de 
Direitos Civis e Políticos e de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966) e por instrumentos de 
alcance específico, como as Convenções Internacionais que buscam responder a determinadas violações 
de direitos humanos, como a tortura, a discriminação racial, a discriminação contra as mulheres, a 
violação dos direitos das crianças, dentre outras formas de violação” (Flávia Piovesan, Temas de Direitos 
Humanos, pp. 48/49). 
Portanto, o sistema global ora é geral (com abstração e generalidade, isto é, para todos sem 
distinção), ora é especial (relacionado ao sujeito do direito e especificidade e concreticidade, como criança, 
mulheres etc.), ambos complementares entre si, para integração, sempre na perspectiva de maior proteção 
possível dos direitos humanos. 
O sistema normativo regional de proteção “busca internacionalizar os direitos humanos no plano 
regional, em especial na Europa, América e África. Consolida-se, assim, a convivência do sistema global 
– integrado pelos instrumentos das Nações Unidas como a Declaração Universal de Direitos Humanos, 
o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais e as demais Convenções internacionais – com instrumentos do sistema regional, por 
sua vez integrados elos sistemas interamericano, europeu e africano de proteção aos direitos humanos” 
(Piovesan, op. Cit., p. 49). 
Veja, então, que os sistemas mundiais de proteção aos direitos humanos são: global (considerando 
a universalidade territorial); regional (para determinadas regiões, em especial Europa, América e África); 
geral (considerando que atinge todos os seres humanos, indistintamente); especial (destinados para 
determinadas categorias de pessoas, normalmente minoritárias, como deficientes, mulheres, crianças). 
Como lembra Piovesan, o Brasil começou a ser relacionar efetivamente com tais sistemas após o 
início da redemocratização, em 1985. O marco inicial deste processo de relacionamento se deu com a 
ratificação, em 1989, da Convenção contra Tortura e outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou 
Degradantes, iniciando inúmeros instrumentos internacionais, de que são exemplos: 
a) Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, de 20.07.1989 (aprovada pelo CN 
via Decreto Legislativo 05, de 31.05.1989 e promulgado pelo Presidente pelo Decreto 98.386, de 
09.12.1989); 
b) Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, de 
24.09.1989; 
c) Convenção sobre os Direitos da Criança, de 24.09.1990; 
d) pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, de 24.01.1992; 
e) pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de 24.01.1992; 
f) Convenção Americana de Direitos Humanos, em 25.09.1992; 
g) Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, em 
27.11.1995; 
h) Protocolo à Convenção Americana referente à Abolição da Pena de Mote, em 13.08.1996; 
i) Protocolo à Convenção Americana referente aos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais 
(Protocolo de San Salvador), em 21 de agosto de 1996; 
j) Convenção Interamericana para Eliminação de todas as formas de Discriminação contra Pessoas 
Portadoras de Deficiência, em 15.08.2001; 
k) Estatuto de Roma (TPI), de 20.06.2002; 
l) Protocolo Facultativo à Convenção sobre eliminação de todas as formas de Discriminação contra 
a Mulher, em 29.06.2002; 
m) Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança sobre o Envolvimento de 
Crianças em Conflitos Armados, de 27.01.2004; 
n) Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura, de 11.01.2007; 
p) Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, de 
01.08.2008; 
q) Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e segundo Protocolo 
visando Abolição da penal de Morte, em 25.09.2009. 
Em 2009, como visto, a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência 
foi aprovada, inclusive na forma do art. 5º, §3º, da CF (aprovado pelo Congresso pelo Decreto Legislativo 
186, de 09.07.2008 e promulgado pelo Presidente pelo Decreto 6.949, de 25.08.2009). 
A mesma Piovesan elenca inúmeros direitos que, embora não previstos no âmbito nacional, 
encontram-se enunciados em tratados internacionais: 
a) direito de toda pessoa a um nível de vida adequado para si próprio e sua família, inclusive à 
alimentação, vestimenta e moradia, nos termos do art. 11 do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais; 
b) proibição de qualquer propaganda em favor da guerra e proibição de qualquer apologia ao ódio 
nacional, racial ou religioso, que constitua incitamento à discriminação, á hostilidade ou á violê4ncia, em 
conformidade com o art. 20 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e art. 13 (5) da Convenção 
Americana; 
c) direito das minorias étnicas, religiosas ou linguísticas de ter sua própria vida cultural, professar 
e praticar sua própria religião e usar sua própria língua, nos termos do art. 27 do Pacto Internacional dos 
Direitos Civis e Políticos e art. 30 da Convenção sobre os Direitos da Criança; 
d) proibição do restabelecimento da pena de morte nos Estados que a hajam abolido, de acordo com 
o art. 4º (3) a Convenção Americana; 
e) Possibilidade de adoção pelos Estados de medidas, no âmbito social, econômico e cultural, que 
assegurem a adequada proteção de certos grupos raciais, no sentido de quea eles seja garantido o pleno 
exercício dos direitos humanos e liberdades fundamentais, em conformidade com o art. 1º (4) da Convenção 
sobre Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial; 
f) possibilidade de adoção pelos Estados de medias temporárias e especiais que objetivem acelerar 
a igualdade de fato entre homens e mulheres, nos termos do art. 4º da Convenção sobre a Eliminação de 
todas as formas de Discriminação contra a mulher; 
g) vedação da utilização de meios destinados a obstar a comunicação e a circulação de ideias e 
opiniões, nos termos do art. 13 da Convenção Americana; 
h) direito ao duplo grau de jurisdição como garantia judicial mínima, nos termo dos arts. 8, h, e 25, 
§1º, da Convenção Americana; 
i) direito de o acusado ser ouvido, nos temo do art. 8º, §1º, da Convenção Americana12; 
j) direito de toda pessoa detida ou retida de ser julgada em prazo razoável ou ser posta em liberdade, 
sem prejuízo de que prossiga o processo, nos termos do art. 7 (5) da Convenção Americana;13 
k) proibição da extradição ou expulsão de pessoa a outro Estado quando houver fundadas razoes 
que poderá ser submetida à tortura ou a outro tratamento cruel, desumano ou degradante, nos termos do art. 
3º da Convenção contra a Tortura e do art. 22, VIII, da Convenção Americana. 
Outro aspecto destacado pela autora citada, diz respeito ao preenchimento de lacunas internas pelos 
tratados internacionais, cuja transcrição segue: 
“O Direito Internacional dos Direitos Humanos ainda permite, em determinadas hipóteses, o 
preenchimento de lacunas apresentadas pelo Direito brasileiro. A título de exemplo, merece destaque 
decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal acerca da existência jurídica do crime de tortura 
 
12 Atualmente, o art. 400 do CPP, com redação dada pela Lei 11719/08, obriga a ouvida do acusado ao final da instrução. 
13 A duração razoável do processo, como se sabe, foi incorporada na CF/88 pela EC 45/04 (art. 5º, LXXVIII). Antes desta 
EC 45/04, como se vê, já existia esta garantia em norma supralegal. 
contra criança e adolescente, no HC 70.389-5 (São Paulo, Tribunal Pleno, 23-6-1994, rel. Min. Disney 
Sanches, relator para o acórdão Min. Celso de Mello),. Neste caso, o Supremo Tribunal Federal 
enfocou a norma constante do Estatuto da Criança e do Adolescente que estabelece como crime a 
prática de tortura contra criança e adolescente (art. 233 do Estatuto). A polêmica se instaurou dado o 
fato de essa norma consagra um ‘tipo penal aberto’, passível de complementação no que se refere à 
definição dos diversos meios de execução do delito de tortura. Nesse sentido, entendeu o Supremo 
Tribunal Federal que os instrumentos internacionais de direitos humanos – em particular, a Convenção 
de Nova York sobre os Direitos da Criança (1990), a Convenção contra a Tortura adotada pela 
Assembleia Geral da ONU (1984), a Convenção Interamericana contra a Tortura, concluída em 
Cartagena (1985), e a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa 
Rica), formada no âmbito do OEA (1969) – permitem a integração da norma penal em aberto, a partir 
do reforço do universo conceitual relativo ao termo ‘tortura’. Note-se que apenas em 07 de abril de 
1997 foi editada a Lei 9.455, que define o crime de tortura. 
Com esta decisão claramente demonstra, os instrumentos internacionais de direitos humanos podem 
integrar e complementar dispositivos normativos do Direito brasileiro, permitindo o reforço de direitos 
nacionalmente previstos – no caso, o direito de não ser submetido à tortura.” 
 
9. O sistema interamericano de proteção dos direitos humanos 
 Compreender este sistema regional é importante para compreensão do próprio ordenamento jurídico 
internacional, neste tema, e das possibilidades reais de proteção dos direitos humanos. 
 A existência deste sistema regional14 parte do reconhecimento de que há uma desigualdade social 
de consolidação da própria democracia nos Estados da região, em especial pelas várias ditaduras que se 
instalaram na América do Sul nas décadas de 70 e 80 nestes países15, com execuções, desaparecimentos, 
perseguições, prisões sem fundamento e torturas. 
 Neste contexto, a Convenção Americana de Direitos Humanos, de 1969 (Pacto de São José da Costa 
Rica), trouxe grandes conquistas para a região, na defesa dos direitos humanos, entrando em vigor em 1978, 
após alcançar o mínimo de 11 ratificações. Como se verá á frente, assegura direitos civis e políticos, mesmo 
priorizando os chamados direitos fundamentais de 1ª geração (vida, não escravidão, personalidade etc.), 
tanto é verdade que somente em 1988 houve aprovação do protocolo adicional, de San Salvador, para 
incluir os direitos sociais, culturais e econômicos, omitidos originariamente. 
Além de prever os direitos humanos, a Convenção Americana estabeleceu um aparado de 
monitoramento, como é o caso da Comissão Interamericana de Direitos Humanos16, que fiscaliza seus 
 
14 Na verdade, existe no continente americano tanto o subsistema da OEA, baseado no Pacto Internacional dos Direitos 
Civis e Políticos de 1966, quanto o subsistema que agora se trata, baseado na Convenção Americana de 1969. Por isso, um 
país pode fazer parte do subsistema da OEA, como os EUA, mas não fazer parte do segundo, mas todo Estado-parte do 
subsistema criado pela Convenção Americana necessariamente integra o primeiro. 
15 O próprio “neoconstitucionalismo” iniciou-se mais intensamente na Europa depois da 2ª Guerra Mundial e só tardiamente 
chegou ao Brasil e na América Latina. Por isso, é comum a afirmação de que, enquanto o neoconstitucionalismo sempre 
valorizou a dimensão jurídica da Constituição Federal, o novo constitucionalismo democrático latino americano se 
preocupou mais com a legitimidade democrática e, assim, com mais mecanismos de participação popular, inclusive em 
face de ditaduras e regimes militares ao longo da história recente: no Brasil, de 1964 a 1985; na Argentina, de 1966 a 1973; 
no Peru, de 1968 a 1980; no Chile, de 1973 a 1990; no Uruguai, de 1973 a 1985; na Bolívia, de 1964 a 1982 etc.). Não foi 
por outro motivo que, em Viena, em 1993, após a Conferência Mundial sobre Direitos Humanos, ficou clara a relação entre 
democracia e direitos humanos: constou no item 8 da “Declaração de Viena e Programa de Ação”, o seguinte: “A 
democracia, o desenvolvimento e o respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais são conceitos 
interdependentes que se reforçam mutuamente. A democracia se baseia na vontade livremente expressa pelo povo de 
determinar seus próprios sistemas políticos, econômicos, sociais e culturais e em sua plena participação em todos os 
aspectos de suas vidas. Nesse contexto, a promoção e proteção dos direitos humanos e liberdades fundamentais, em níveis 
nacional e internacional, devem ser universais e incondicionais. A comunidade internacional deve apoiar o fortalecimento 
e a promoção de democracia e o desenvolvimento e respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais no mundo 
inteiro.” 
16 A Convenção Americana prevê, no art. 33, dois órgãos competentes para conhecer de assuntos relacionados ao 
cumprimento dos compromissos assumidos pelos Estados-partes: a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (com 
sede em San José da Costa Rica) e a Corte Interamericana de Direitos Humanos (com sede em Washington). A Comissão 
Interamericana já existia desde 1959, com a função de receber e examinar as reclamações de indivíduos contra violação de 
direitos humanos, mas foi ratificada somente com a Convenção, em 1969, depois que foram superados os debates sobre a 
conveniência política ou não de ser criado um arcabouço institucionalde supervisão no continente. O modelo, portanto, é 
signatários, composta por 07 membros, eleitos pela Assembleia Geral depois de encaminhamento de listas 
pelos Estados, para mandatos de 04 anos, com apenas uma reeleição, mas precisam ser nacionais de 
qualquer Estado da OEA e ainda possuírem alta idoneidade moral e reconhecido saber em matéria de 
direitos humanos (cada Estado pode propor até 03 nomes, e se assim o fizer, deve constar na lista pelo 
menos um nome que não seja seu nacional). 
A principal missão é fazer recomendações aos governos, a respeito da proteção de direitos humanos, 
mas também divulga estudos e relatórios, busca informações aos Estados mediante solicitação e submete, 
anualmente, um relatório à Assembleia Geral da OEA, já que deve estimular a consciência dos direitos 
humanos nos povos da América. Importante atribuição da Comissão está no recebimento de denúncias 
encaminhadas por indivíduos, grupos de indivíduos ou organizações não governamentais, mas a Comissão 
exige que, antes da denúncia ser conhecida, tenha se esgotado no âmbito interno todas as possibilidades de 
recurso ou, pelo menos, que haja uma infundada demora no andamento do processo, sem esquecer que a 
denúncia não terá andamento se houver uma litispendência internacional (isto é, quando o mesmo caso 
esteja sendo analisado por alguma instância internacional de proteção dos direitos humanos17). A Comissão 
tem autoridade na medida em que os Estados, ao assinarem a Convenção, reconhecem as competências da 
Comissão e se compromete em auxiliá-la. 
Importante regulação da Convenção se dá no âmbito da Corte Interamericana. É que, se o caso não 
for resolvido no âmbito administrativo, depois da atuação da Comissão, haverá uma litigiosidade naquela 
Corte. Não havendo possibilidade de acordo entre o requerente e o Estado, no âmbito da Comissão, esta 
dará o prazo de 03 meses para solução do caso, de modo que, diferentemente das Cortes Europeias de 
Direitos Humanos, o indivíduo não tem o direito de acessar diretamente a Corte Interamericana, porque 
necessariamente deve passar pela Comissão, que tem a missão de iniciar o processo (início do processo na 
Corte pela Comissão ou pelo Estado-parte envolvido)18. 
A Corte, então, é o órgão jurisdicional do sistema regional, composta por 7 (sete) juízes eleitos 
pelos Estados partes da Convenção, pelo período de 6 (seis) anos, com uma única reeleição, nacionais de 
países membros da OEA19, com quórum sempre constituído no mínimo por 5 (cinco) juízes e participação 
da Comissão em todos os casos. Tanto os juízes da Corte quanto os membros da Comissão terão imunidades 
reconhecidas aos agentes diplomáticos desde o momento da eleição e enquanto durar o mandato, além de 
possuírem ampla proteção quanto aos votos e opiniões emitidos no exercício de suas funções (não pode 
haver responsabilidade dos mesmos), e perceberão honorários e despesas de viagem na forma e nas 
condições que determinarem os seus estatutos, “levando em conta a importância e a independência de suas 
funções” (art. 72 da Convenção). Os membros da Comissão poderão ser punidos, conforme o caso, pela 
Assembleia Geral da Organização, nos casos previstos nos respectivos estatutos, via resolução decidida por 
 
bifásico perante estes dois órgãos, que não são permanentes, na medida em que se reúnem em períodos pré-determinados 
de sessões ao longo do ano. 
17 O art. 46 da Convenção diz que a petição ou comunicação será admitida se: a) forem i interpostos e esgotados os recursos 
da jurisdição interna, de acordo com os princípios de Direito Internacional geralmente reconhecidos, além da apresentação 
no prazo de seis meses, a partir da data em que o presumido prejudicado tenha sido notificado da decisão definitiva (salvo 
se na legislação interna do Estado não existir o devido processo legal para proteção, ou não tiver oportunidade de exercer 
direito aos recursos ou ficar impedido de esgotá-los ou, ainda, houver demora injustificada na decisão dos recursos); b) a 
matéria da petição ou comunicação não esteja pendente de outro processo de solução internacional; e c) a petição contiver 
o nome, a nacionalidade, a profissão, o domicílio e a assinatura da pessoa ou pessoas ou do representante legal da entidade 
que submeter a petição. A petição também precisa expor os fatos que caracterizam violação à Convenção e não repetir outra 
petição ou comunicação anterior à Comissão ou a outro organismo internacional. O processo e seu andamento, perante a 
Comissão, estão previstos nos arts. 48/51 da Convenção. 
18 O art. 51-1, da Convenção Americana, diz que, se no prazo de 03 meses o assunto não for solucionado ou ainda não tiver 
sido submetido à Corte (submissão que se dá tanto pela Comissão quanto pelo Estado envolvido), a Comissão poderá emitir, 
pelo voto da maioria absoluta dos seus membros, sua opinião e conclusões sobre a questão. O art. 61-1, por sua vez, diz 
que “Somente os Estados-partes e a Comissão têm direito de submeter um caso à decisão da Corte”. 
19 Se o Juiz for originário de um Estado que esteja envolvido em uma lide na Corte, não estará impedido ou suspeito, 
continuando com o direito de conhecer o caso. Porém, se houver mais de um Estado-parte envolvido na demanda, e apenas 
um deles tiver um juiz de sua origem, o outro Estado que não tem juiz poderá designar outra pessoa de sua escolha para 
fazer parte da Corte na condição de juiz “ad hoc”. Por outro lado, se a demanda envolver Estados-partes que não tenham 
juízes de suas nacionalidades, cada um poderá designar juízes “ad hoc”, sempre com os requisitos pertinentes aos demais 
(art. 55, 1, 2 e 3, da Convenção). 
dois terços dos votos dos Estados membros da Organização, e os juízes da Corte também poderão ser 
punidos, mas por dois terços dos votos dos Estados Pares na Convenção (art. 73). 
A Corte tem competência consultiva e contenciosa: a consultiva diz respeito à interpretação das 
disposições da Convenção Americana e contenciosa diz respeito à solução de conflitos acerca da 
interpretação da Convenção. Interessante anotar que qualquer membro da OEA, mesmo não sendo 
signatário da Convenção Americana, pode pedir à Corte pareceres consultivos em relação à proteção dos 
direitos humanos nos Estados americanos e, neste caso, pode emitir opiniões sobre a compatibilidade entre 
a legislação interna do Estado com os instrumentos internacionais, nos termos do art. 64-2 ( “controle de 
convencionalidade das leis”). 
No entanto, a função contenciosa da Corte Interamericana não recai sobre países que não fazem 
parte da Convenção: sua competência contenciosa, então, se limita aos Estados-partes que reconheçam a 
sua jurisdição. Esta competência contenciosa é iniciada pela Comissão, que faz um papel importante de 
filtragem e ainda impedindo, como se viu, que o indivíduo tenha acesso direto à Corte20. A Corte não 
substitui os tribunais interno dos países, e nem serve de instância recursal: sua missão é conferir 
conformidade das obrigações internacionais dos Estados signatários, em matéria de direitos humanos, 
muito embora sua decisão tenha caráter vinculante e de cumprimento imediato por todos eles. 
O Brasil passou a ter atuação efetiva no sistema interamericano de direitos humanos a partir de 10 
de dezembro 1998, ano do cinquentenário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, quando 
reconheceu a jurisdição obrigatória da Corte Interamericana. Lembre-se que, na década de 80, com o fim 
do governo militar e especialmente com o arrefecimento da Guerra Fria, o Brasil intensificou seu 
comprometimento com a proteção dos direitos humanos. Porém, a ratificação da Convenção Americana só 
ocorreu em 1992, depois da Constituição de 1988 e a elevação da prevalência dosdireitos humanos como 
princípio da relação internacional (Art. 4º da CF/88). A defesa do Estado brasileiro, então, passou a ser uma 
grande necessidade, em especial diante do aumento significativo de casos perante a Comissão e da maior 
estruturação das organizações não-governamentais, ficando a cargo, tal tarefa, à Advocacia-Geral da União, 
junto com o Ministério das Relações Exteriores e a Secretaria Especial dos Direitos Humanos. 
A República Federativa do Brasil já se envolveu em alguns casos perante a Corte Interamericana, 
dos quais21 merecem destaques os seguintes: 
a) Irene Ximenes Lopes Miranda vs. Brasil. 
Neste caso, a Corte condenou o Estado brasileiro em 2006, em U$ 130.000,00, por violação do 
direito à integridade pessoal, à vida, à proteção judicial e às garantias judiciais, por conta do tratamento 
desumano e degradante a Damião Ximenes Lopes, doente mental, que veio a óbito em 1999 na Casa de 
Repouso Guararapes de Sobral/CE, instituição privada integrante do SUS, atualmente desativada pelo 
 
20 Uma das principais críticas à Corte Interamericana é justamente este impedimento para o indivíduo iniciar sua jurisdição, 
ao contrário do que ocorre nas Corte Europeias. Por isso mesmo, a partir de 1996, houve inovação trazida pelo III 
Regulamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos, porque ampliou a possibilidade de participação do indivíduo 
no processo: é que agora a vítima passou a ser autorizada, por meio de representantes e familiares, a fazer alegações de 
forma autônoma, inclusive apresentar provas, durante a etapa de discussão sobre as reparações devidas. Também com as 
alterações produzidas pelo IV Regulamento, é possível que as vítimas, seus representantes e familiares não só ofereçam 
suas próprias peças de argumentação e provas em todas as etapas do procedimento, como também podem fazer uso da 
palavra durante as audiências públicas celebradas, acabando por ratificar a condição de parte no desenvolvimento do 
processo, mesmo sem poder para iniciá-lo. 
21 De 1998 até 2009 foram mais de 507 demandas apresentadas na Comissão Interamericana, envolvendo o Brasil, das 
quais 29 foram admitidas, inclusive com várias recomendações ao Brasil pela Comissão (O Estado de São Paulo, de 
10.08.09, p. A6). Vide GOMES, Luiz Flávio. Aumenta procura por corte internacional: 507 demandas. Jus Navigandi, 
Teresina, ano 14, n. 2262, 10 set. 2009. Disponível em: http://jus.com.br/artigos/13476. Acesso em: 2 fev. 2014. Veja, por 
exemplo, a medida cautelar 383/2010 (MC-382-10) emitida pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, depois 
de acatar pedido do Movimento Xingu Vivo Para Sempre, solicitando ao governo brasileiro que suspendesse as obras da 
Usina Hidrelétrica de Belo Monte, para que não se efetivasse risco de dano irreparável às comunidades atingidas. O governo 
brasileiro emitiu a Nota 142/2011, pelo Ministério das Relações Exteriores, argumentando que a medida cautelar era 
injustificável e precipitada. Esta Comissão acabou acatando pedido do Brasil e revogou a medida cautelar, passando apenas 
a recomendar proteção da vida, saúde, cultura e integridade dos membros das comunidades indígenas, se resguardando para 
análise do mérito final. 
Governo estadual (ficou comprovado que, depois de 4 dias da internação, o mesmo havia falecido com 
várias marcas de tortura). A irmã de Damião Ximenes, Irene Ximenes, junto com a ONG Justiça Global, 
acionaram a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Ceará, ocasião em que foi 
encaminhada para a Comissão Interamericana. O Estado brasileiro reconheceu o pedido quanto à violação 
do direito à vida e à integridade pessoal, assim como os fatos relacionados à morte de Damião Ximenes, os 
maus tratos e a falta de prevenção, mas não reconheceu os pedidos específicos de reparação, até porque 
tentara conciliação oferecendo pensão vitalícia à mãe da vítima, proposta recusada. Ficou comprovado que 
estava em trâmite, por mais de seis anos, ação civil de reparação de danos promovida pelos familiares da 
vítima, além da ação penal contra os acusados da sua morte (na condenação do Estado brasileiro, em 2006, 
as ações ainda não haviam sido julgadas, mesmo com a morte em 1999). Este caso foi paradigmático, 
especialmente para ratificar a proteção internacional dos direitos humanos, em particular dos pacientes 
psiquiátricos (a Corte nunca tinha julgado violação de direitos humanos de deficiente mental). Em 14 de 
agosto de 2007, decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi publicado, com autorização para que a 
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência (SEDH) pagasse a indenização em torno de R$ 
250.000,00 aos familiares da vítima. 
 
 
b) Nogueira de Carvalho e outro vs. Brasil. 
Em 13.01.2005, a Comissão Interamericana submeteu à Corte Interamericana a demanda contra a 
República Federativa do Brasil, depois de quase 08 anos da denúncia, datada de 11.12.1997. O advogado 
Gilson Nogueira de Carvalho havia sido assassinado em 20.10.1996, e era defensor dos direitos humanos 
(fazia denúncia contra grupo de extermínio no Rio Grande do Norte supostamente integrado por policiais, 
e recebia constantes ameaças de morte, tendo por isso recebido proteção policial do Ministério da Justiça 
por mais de um ano). Assim, a Comissão solicitou à Corte pronunciamento sobre o episódio, em especial 
violações ocorridas após 10.12.1998 (data em que o Brasil reconheceu a jurisdição obrigatória da Corte), 
no sentido de ausência de diligências na investigação do crime e punição dos responsáveis, e também para 
adoção de determinadas medidas e reparação. O Inquérito Policial havia sido arquivado por decisão da 1ª 
Vara da Comarca de Macaíba/RN, e chegou a ser reaberto em 1998 em face de investigação particular 
realizada por particular, quando então houve indiciamento de policial civil aposentado, porém sem 
condenação criminal. Assim, depois de esgotar os recursos no ordenamento jurídico interno, os pais da 
vítima, por meio da ONG Justiça Global, levaram o caso à Comissão Interamericana. Porém, a Corte, 
suscitada pela Comissão, absolveu o Brasil e determinou, à unanimidade, arquivar o expediente em virtude 
do “limitado suporte fático” (questão que incrementou a ausência de provas foi o fato de que a Corte julgou 
apenas eventuais violações do Brasil para com os pais da vítima, ocorridas depois de 10.12.1998). 
Importante observar que, neste caso, o Brasil havia apresentado exceção de incompetência da Corte para 
conhecer o caso, porque havia ocorrido antes do reconhecimento da sua jurisdição obrigatória pelo Brasil, 
e também porque não teriam sido esgotados os recursos internos. A Corte, nestes pontos, reconheceu sua 
competência para conhecer de violações que teriam ocorrido posteriormente, por serem contínuas ou 
permanentes, mesmo sobre fato ocorrido antes de 10.12.1998 e, em relação ao esgotamento dos recursos, 
enfatizou que não procede porque caberia ao Brasil demonstrar quais recursos deveriam ter sido esgotados 
e que os mesmos seriam adequados e eficazes, o que não ocorreu. 
 
 
c) Escher e outros vs. Brasil. 
Em 20.12.2007, a Comissão Interamericana submeteu à Corte Interamericana uma demanda 
originada em 26.12.2000 pelas organizações Rede nacional de Advogados Populares e Justiça Global em 
nome dos membros das organizações Cooperativa Agrícola de Conciliação Avante Ltda. e Associação 
Comunitária de Trabalhadores Rurais, porque teriam ocorrido interceptações telefônicas e monitoramento 
ilegais no ano de 1999 pela Polícia Militar do Paraná, divulgação das conversas telefônicas e ausência de 
justiça e reparação adequadas, o que violaria as garantias judiciais, a proteção à honra, a liberdade de 
associaçãoe a proteção judicial previstas na Convenção Americana. Neste caso, o Brasil alegou 
preliminarmente: a) o descumprimento dos prazos pelos representantes (rejeitado, por não constituir tema 
de exceção); b) a impossibilidade de alegar violações no decorrer do procedimento (rejeitado, por não ser 
a conduta contrária às disposições da Convenção Americana, além de verificar que o Brasil teve 
oportunidade de se manifestar e se defender); c) a falta de esgotamento dos recursos judiciais (o Brasil 
alegou que os representantes impetraram mandado de segurança, quando deveria ter impetrado “habeas 
corpus”, sendo ainda possível ação ordinária para declarar a ilegalidade da prova e destruição, mas não o 
fizeram, e ainda que a ação penal, com as gravações telefônicas, tramitou dentro do devido processo legal, 
inclusive com declaração de legalidade das condutas policias e das interceptações à vista das autorizações 
judiciais, mas houve rejeição porque os recursos internos não seriam efetivos porque a interceptação e a 
divulgação da conversa já haviam ocorrido); d) inexistência de prévia ação penal devidamente julgada e 
processada (o TJ/PR havia determinado arquivamento da representação contra os policiais militares e contra 
a juíza que autorizou a interceptação, e determinou o recebimento e processamento contra o Secretário de 
Segurança Pública, que havia divulgado, mas o Secretário foi absolvido, de modo que a Corte 
Interamericana estava sendo usada como uma “quarta instância”, o que foi rejeitado porque a Corte não faz 
papel de quarta instância, mas apenas analisa se os procedimentos e casos internos se adequam ou não à 
Convenção Americana, daí porque a preliminar foi rejeitada porque não seria exceção preliminar, para ser 
julgada no mérito). Existiram outras preliminares, mas o importante deste caso é que a Corte Interamericana 
deixou claro que não é uma “quarta instância”, e condenou o Brasil por ter violado o direito à vida privada, 
à honra e à reputação (previstos no art.11 da Convenção), em prejuízo a Arlei José Escher, Dalton Luciano 
de Vargas, Delfino José Becker, Pedro Alves Cabral e Celso Aghinoni, pela interceptação, gravação e 
divulgação das suas conversas telefônicas, além da violação da liberdade de associação e das garantias 
judiciais e proteção judicial, muito embora não tenha condenado pela violação de proteções judiciais 
(condenou o Brasil em reparação por danos imateriais, estimados em US$ 20.000,00 para cada vítima, a 
ser paga no prazo de um ano, além de publicação no Diário Oficial, em jornal de ampla circulação nacional 
e em jornal de circulação no Paraná, de determinadas partes da sentença, investigação dos fatos e restituição 
de aproximadamente US$ 10.000,00 pelas custas e gastos). 
 
 
d) Garibaldi vs. Brasil. 
Neste caso, a Comissão submeteu à Corte a demanda contra o Brasil, originada de petição de 
06.05.2003 apresentada pelas organizações Justiça Global, Rede nacional de Advogados e Advogadas 
Populares (RENAP) e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em nome de Sétimo 
Garibaldi e seus familiares. A demanda envolvia responsabilidade do Estado brasileiro pelo 
descumprimento da obrigação de investigar e punir o homicídio de Sétimo Garibaldi, ocorrido em 
27.11.1998 durante uma operação extrajudicial de despejo das famílias de trabalhadores sem terra, que 
ocupavam uma fazenda no Município de Querência do Norte/PR, violando as garantias judiciais do art.8º, 
as proteções judiciais do art. 25, com relação à obrigação geral de respeito e garantia dos direitos humanos 
e ao dever de adotar medidas legislativas e de outro caráter no âmbito interno (arts. 1.1 e 2 da Convenção) 
e outros. O crime ocorreu em 1998, quando vinte pistoleiros entraram em um acampamento do MST na 
Fazenda São Francisco, afirmando serem policiais, para fins de despejo de todos, quando Garibaldi foi 
ferido na perna e, sem atendimento, veio a óbito. Um ano depois, o caso foi arquivado perante o Judiciário 
brasileiro. A Corte declarou a violação, pelo Estado brasileiro, dos direitos às garantias judiciais e à 
proteção judicial reconhecidos nos artigos 8.1 e 25.1 da Convenção Americana, em relação com o artigo 
1.1 da mesma, em prejuízo de Iracema Garibaldi, Darsônia Garibaldi, Vanderlei Garibaldi, Fernando 
Garibaldi, Itamar Garibaldi, Itacir Garibaldi e Alexandre Garibaldi, além do descumprimento da cláusula 
federal do art. 2822 da Convenção, e por isso determinou: a) reparação, visando publicação no Diário 
Oficial, em jornal de ampla circulação nacional e em jornal de ampla circulação no Estado do Paraná, a 
página de rosto, a parte resolutiva da sentença, e sua íntegra, por no mínimo um ano, em página web oficial 
da União e do Estado do Paraná; b) obrigação do Estado em conduzir eficazmente e dentro de um prazo 
razoável o Inquérito e qualquer processo que for aberto, para identificar, julgar e eventualmente sancionar 
os autores da morte de Garibaldi, além de faltas funcionais de funcionários públicos; e) pagar, no prazo de 
um ano, o valor de US$23 1.000,00 para Iracema Garibaldi, a título de reposição de gastos de transporte e 
gestões pessoais em virtude do tema, mais US$ 8.000,00 a título de reposição de gastos e custas, além de 
 
22 “Artigo 28. Cláusula federal. 1. Quando se tratar de um Estado Parte constituído como Estado federal, o governo 
nacional do aludido Estado Parte cumprirá todas as disposições da presente Convenção, relacionadas com as matérias 
sobre as quais exerce competência legislativa e judicial. 2. No tocante às disposições relativas às matérias que 
correspondem à competência das entidades componentes da federação, o governo nacional deve tomar imediatamente as 
medidas pertinente, em conformidade com sua constituição e suas leis, a fim de que as autoridades competentes das 
referidas entidades possam adotar as disposições cabíveis para o cumprimento desta Convenção. 3. Quando dois ou mais 
Estados Partes decidirem constituir entre eles uma federação ou outro tipo de associação, diligenciarão no sentido de que 
o pacto comunitário respectivo contenha as disposições necessárias para que continuem sendo efetivas no novo Estado 
assim organizado as normas da presente Convenção.” 
23 Apesar da condenação em dólares, a Lei 10.192/2001 determina que os valores devam ser convertidos em real, calculados 
com o câmbio vigente na bolsa de Nova Iorque no dia anterior ao pagamento. 
US$ 50.000,00 em favor de Iracema Garibaldi e US$ 20.000,00 em favor de cada uma das seguintes 
vítimas: Darsônia Garibaldi, Vanderlei Garibaldi, Fernando Garibaldi, Itamar Garibaldi, Itacir Garibaldi e 
Alexandre Garibaldi, a título de indenização. O Decreto Presidencial 7.307, de 22 de setembro de 2010, 
autorizou a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência a dar cumprimento à referida sentença, inclusive 
para fins de indenização; 
 
 
e) Gomes Lund e outros vs. Brasi (“Caso Guerrilha do Araguaia”). 
A Corte Interamericana, neste caso, apresentado pela Comissão em 26.03.2009, condenou o Brasil 
a fazer a investigação penal da operação empreendida pelo Exército brasileiro entre 1972 e 1975 para 
erradicar a Guerrilha do Araguaia, inclusive para esclarecer, determinar as responsabilidades penais e 
aplicar as sanções previstas em lei pela detenção arbitrária, tortura e desaparecimento forçado de 70 
pessoas, especialmente membros do Partido Comunista do Brasil e camponeses da região (declarou também 
o Estado brasileiro como responsável pelo desaparecimento forçado e pela violação dos direitos ao 
reconhecimento da personalidade jurídica, à vida, à integridade pessoal e à liberdade pessoal, além de 
descumprimento da obrigação de adequar seu direito interno à Convenção etc.). A demanda

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