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Robert Kurz Os Paradoxos dos Direitos Humanos - Fichamento 2ª Unidade

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FICHAMENTO – Estudo dirigido
Universidade Católica do Salvador
Curso: Direito 
Professor: Érica Carvalho
Aluno: Pedro Henrique A. Guerreiro.
Teórico estudado: Robert Kurz
Texto estudado: OS PARADOXOS DOS DIREITOS HUMANOS
Data: 18/11/2017
No escrito “Os Paradoxos dos Direitos Humanos”, de Robert Kurz o autor adentra falando sobre os ideais que ensejam a marcha de exércitos, de seres humanos mortos e a devastação consequente das guerras. O exemplo da invasão ao Iraque, a ideia de direitos humanos é novamente movimentada para poder apresentar ao mundo um documento legitimador. Mas o notável é que os críticos desse processo apelam aos mesmos ideais. Os milhões que protestaram no mundo todo contra os planos de guerra não falam uma língua ideológica diferente daquela do governo norte-americano. Em um tom irônico o autor cita o pensamento de Noam Chomsky, que diz, o mesmo que George W. Bush. “É em nome dos direitos humanos que cai a chuva de bombas; e é em nome dos direitos humanos que as vítimas são assistidas e consoladas.”
Além disso, os críticos falam que a realidade não concorda com os ideais. Se há um direito humano à vida e à integridade física, como se pode aceitar então, com concordância, que as intervenções militares ocidentais matem mais pessoas inocentes que as atrocidades dos ditadores e dos terroristas? Os EUA, é o que se diz, utilizam os direitos humanos apenas como pretexto para os interesses totalmente profanos do poder e da economia; não lhes interessa a situação jurídica da população, mas apenas o petróleo.
Nesse sentido, deve-se levar em consideração a veracidade de tais argumentos. Quem argumenta desse modo esquece que o procedimento totalmente normal e cotidiano da socialização global através dos mercados implica um não reconhecimento permanente de inúmeras vidas humanas. Os bombardeiros high-tech dos EUA jogam sua carga letal sobre justos e injustos, eles só executam ativa e violentamente a mesma lógica que se efetua, numa extensão muito maior, passiva e silenciosamente, através do processo econômico. Ano após ano morrem milhões de pessoas (inclusive crianças) de fome e enfermidades pela simples razão de não serem solventes. O universalismo ocidental sugere o reconhecimento irrestrito de todos os indivíduos, em igual medida, como "seres humanos em geral", dotados dos célebres "direitos inalienáveis". Mas, ao mesmo tempo, é o mercado universal que forma o fundamento de todos os direitos, incluindo os direitos humanos elementares. A guerra pela ordem do mundo, que mata pessoas, é conduzida em prol da liberdade dos mercados, que igualmente mata pessoas e, com isso, também em prol dos direitos humanos, visto que estes não são imagináveis sem a forma do mercado. Temos de lidar com uma relação paradoxal: reconhecimento por meio do não reconhecimento, ou, inversamente, não reconhecimento justamente por meio do reconhecimento.
Um exemplo intrigante apresentado pelo autor diz o seguinte: “Se um milionário excêntrico lega em testamento sua fortuna a seu cão, segundo essa lógica o animal assim enriquecido é um ser humano em grau mais elevado que uma criança da favela”. E por, mas absurdo que isso seja, é dessa forma que as pessoas se veem hoje em dia. Uma total banalização da vida dia após dia maltrata o planeta terra por dinheiro. Se entendermos a definição de ser humano como uma relação social, que naturalmente um cachorro não pode contrair então a característica da solvência indica que se trata de um sujeito do sistema produtor de mercadorias. Seguindo essa lógica, Somente um ser que ganha dinheiro pode ser um sujeito do direito. A capacidade de entrar numa relação jurídica está ligada, portanto, à capacidade de participar de alguma maneira no processo de valorização do capital.
Diante disso, o ser humano tem de ser capaz de trabalhar, ele precisa vender a si mesmo ou alguma coisa (em caso de necessidade, os próprios órgãos do corpo), sua existência deve satisfazer o critério da rentabilidade. Esse é o pressuposto tácito do direito moderno em geral, ou seja, também dos direitos humanos. O ser humano, até hoje, socializa-se através de mercadorias, dinheiro e mercado segundo "leis naturais", exatamente como o castor constrói diques e a abelha recolhe néctar para a colmeia. E, visto que o mercado total pressupõe que os seres humanos fechem contratos jurídicos para todos seus processos vitais, a suposta naturalidade do capital e do mercado precisava incluir também uma suposta naturalidade do ser humano como sujeito de direito. Os direitos humanos deveriam ser apenas a garantia elementar dessa forma social: o reconhecimento universal do "homem" segundo essa definição somente. Nesse sentido, o "trabalho" abstrato não foi um "direito" pelos quais todos teriam ansiado, mas uma relação de coerção, imposta com violência de cima para baixo, a fim de transformar os seres humanos em "máquinas de fazer dinheiro". O direito implica, segundo sua essência, uma relação de inclusão e exclusão.
Assim caminha a humanidade, mesmo com a criação de mais leis, mais direitos conquistados, tal compreensão insiste em existir de forma constante na sociedade no sentido de que, o "ser humano em geral" visado pelos direitos humanos é o ser humano meramente abstrato, isto é, o ser humano enquanto portador e ao mesmo tempo escravo da abstração social dominante. E somente como este ser humano abstrato ele é universalmente reconhecido.
Uma aberta a lacuna sistemática entre a pura existência dos seres humanos e o "direito de se submeter", os indivíduos não são por natureza "homens" nesse sentido, eles só podem se transformar em seres humanos assim definidos e em sujeitos de direito mediante um seletivo "procedimento de reconhecimento". 
Por fim, a jura dos direitos humanos é sempre uma ameaça: se não podem ser preenchidas as condições tácitas que definem na modernidade "o ser humano", então deve faltar o reconhecimento. No entanto, para a maioria das pessoas, essas condições tácitas não são mais preenchíveis atualmente, mesmo que se esforcem até chegar à auto renúncia, que consiste em acatar a submissão à forma abstrata do dinheiro e do direito. O final da espécie terrestre, na qualidade de "danos colaterais" do mercado mundial ou das intervenções da polícia mundial, é previsível. Essa constatação amarga não depõe contra os motivos de muitos indivíduos e organizações que defendem as vítimas em nome dos direitos humanos e muitas vezes demonstram coragem contra as forças predominantes.

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