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ESTRUTURAS UMA ABORDAGEM ARQUITETÔNICA Daiçon Maciel da Silva André Kraemer Souto 5a edição ESTRUTURAS UMA ABORDAGEM ARQUITETÔNICA Daiçon Maciel da Silva André Kraemer Souto 5a edição Porto Alegre, 2015 Reitor Telmo Rudi Frantz Pró-Reitora de Graduação Laura Coradini Frantz Pró-Reitora de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão Márcia Santana Fernandes Coordenadora do Curso de Arquitetura Maria Fátima Rosa Beltrão Coordenador do Curso de Engenharia José Luiz Finger CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO Rua Orfanotrófio, 555 - Bairro Alto Teresópolis CEP 90840-440 – Porto Alegre – RS Fone/Fax: (51)3230 3333 www.uniritter.edu.br E-mail: editora@uniritter.edu.br ENTIDADE MANTENEDORA Sociedade de Educação Ritter dos Reis Ltda © Daiçon Maciel da Silva e André Kraemer Souto Estruturas: uma abordagem arquitetônica 5ª edição - 2015 - Uniritter Conselho Científico da Editora UniRitter: Prof. Dr. Beatriz Daut Fischer (Unisinos), Prof. Dr. Bernardo Subercaseaux (Universidad de Chile), Prof. Dr. Diego Rafael Canabarro (UFR- GS), Prof. Dr. Elias Torres Feijó (Universidade de Santiago de Compostela), Prof. Dr. Gilber- to Ferreira da Silva (Unilasalle), Prof. Dr. Günther Richter Mros (Universidade Católica de Brasília), Prof. Dr. Jaqueline Moll (MEC), Prof. Dr. Júlio Van der Linden (UFRGS), Prof. Dr. Lucas Kerr de Oliveira (Universidade Federal da Integração Latino-Americana), Prof. Dr. Marizilda Menezes (UNESP Bauru), Prof. Dr. Taisy Weber (UFRGS) Conselho Editorial: Anna Paula Canez, Ana Paula Ávila, Gladimir de Campos Grigoleti, Hericka Zogbi Jorge Dias, Isabel Cristina Siqueira da Silva, Jacqueline Schaurich dos Santos, Josué Emílio Möller, Júlio César Caetano, Laurise Pugues, Lia C. Hallwass, Luciano Reolon, Marc Antoni Deitos, Maria Luíza de Souza Moreira, Regina da Costa da Silveira, Roger Luiz da Cunha Bundt e Rejane Pivetta Editor Chefe: Marcelo Spalding Arte Capa e Planejamento Gráfico: Tâmisa Trommer Revisão Linguística: William Moreno Boenavides S586 Silva, Daiçon Maciel da Estruturas : uma abordagem arquitetônica / Daiçon Maciel da Silva, André Kraemer Souto. – Porto Alegre: UniRitter Ed., 2015. 148 p. : il. ISBN 978.85.60100.09.5 1. Engenharia de estruturas. 2. Teoria das estruturas. 3. Estruturas – Arquitetura I. Souto, André Kraemer II. Título. CDU 624.01 Ficha catalográfica elaborada por Angela Morel Nitschke - CRB 10/1587. AGRADECIMENTOS Ao Centro Universitário Ritter dos Reis, na pessoa de seu Reitor, Telmo Rudi Frantz, pelo apoio a esta edição. Ao Engenheiro Ruy Cremonini, pelas sugestões. À Tâmisa Trommer, por emprestar o seu talento na atualização e modernização dos desenhos que compõem esta edição, pelo projeto gráfico que tão bem expressa a bela feição arquitetônica da arte de representar. À Professora Regina da Costa Silveira, pela primeira revisão dos textos. SUMÁRIO PREFÁCIO INTRODUÇÃO MORFOLOGIA DAS ESTRUTURAS ESTRUTURAS 21 DEFINIÇÃO 22 FATORES MORFOGÊNICOS 22 EVOLUÇÃO DAS FORMAS ESTRUTURAIS 24 SISTEMAS ESTRUTURAIS FUNDAMENTAIS 25 A ESTRUTURA E A ARQUITETURA ARQUITETO: MESTRE EM ESTRUTURAS 29 ESTRUTURA NA CONSTRUÇÃO: SITUAÇÃO NOVA 29 ESTRUTURA TÉCNICA: MEIOS DE HUMANIZAÇÃO 30 NECESSIDADE DA ESTRUTURA 30 CONHECIMENTO ESTRUTURAL 31 EVOLUÇÃO HISTÓRICA 32 A ARQUITETURA E A ESTRUTURA - O ARQUITETO E O ENGENHEIRO 35 ESTRUTURAS E INTUIÇÃO 37 CONCEITUAÇÃO DAS ESTRUTURAS EQUAÇÕES DE EQUILÍBRIO DA MECÂNICA RACIONAL 41 ESTRUTURA E CLASSIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS ESTRUTURAIS 43 APOIOS ESTRUTURAIS E CLASSES DE APOIO (VÍNCULOS) 44 GRAU DE ESTATICIDADE DAS ESTRUTURAS 45 ESTATICIDADE INTERIOR DOS RETICULADOS PLANOS (TRELIÇAS) 46 CRÍTICA AO MÉTODO PARA A DETERMINAÇÃO DA ESTATICIDADE INTERIOR 47 DETERMINAÇÃO DE ESTATICIDADE INTERIOR PELO SISTEMA DE TRIÂNGULOS 48 CARGAS QUE ATUAM NAS ESTRUTURAS FINALIDADE DAS ESTRUTURAS 53 CARGAS 53 CARGAS PERMANENTES 55 CARGAS ACIDENTAIS 56 CARGAS VARIÁVEIS 56 CARGAS DINÂMICAS 60 COMBINAÇÕES DE AÇÕES 60 MATERIAIS E EXIGÊNCIAS ESTRUTURAIS CARACTERÍSTICAS IMPORTANTES DOS MATERIAIS, MELHORES MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO E O AVANÇO DAS MODERNAS TÉCNICAS DE CONSTRUÇÃO 63 PROPRIEDADES ESSENCIAIS DOS MATERIAIS USADOS EM ESTRUTURAS 64 CONSTANTES ELÁSTICAS DOS MATERIAIS 65 COEFICIENTE DE SEGURANÇA DOS MATERIAIS 67 MATERIAIS ARTIFICIAIS MODERNOS 68 EXIGÊNCIAS BÁSICAS 70 ESTRUTURAS ÓTIMAS 76 ESTADOS BÁSICOS DE TENSÃO E SOLICITAÇÕES ESTADOS BÁSICOS DE TENSÃO 81 SOLICITAÇÕES SIMPLES 82 SOLICITAÇÕES COMBINADAS 88 ASPECTOS DELICADOS DO COMPORTAMENTO ESTRUTURAL 92 ESTRUTURAS SUBMETIDAS À TRAÇÃO E COMPRESSÃO CABOS 97 TRELIÇAS PLANAS 98 ARCOS FUNICULARES 101 COBERTURAS COM CABOS 101 TRELIÇAS ESPACIAIS 103 VIGAS ESTRUTURAS SUBMETIDAS À FLEXÃO E CISALHAMENTO 109 OUTRAS CARACTERÍSTICAS DAS VIGAS EM BALANÇO 111 VIGAS SIMPLESMENTE APOIADAS 111 VIGAS ENGASTADAS E VIGAS CONTÍNUAS 113 TENSÕES SECUNDÁRIAS DE FLEXÃO 114 PÓRTICOS E ARCOS PILAR-E-VIGA 119 PÓRTICO SIMPLES 119 PÓRTICOS MÚLTIPLOS 121 PÓRTICOS DE DUAS ÁGUAS 122 ARCOS 123 COBERTURAS EM ARCO 124 ENTRAMADOS, PLACAS E GRELHAS TRANSFERÊNCIA DE UMA CARGA EM DUAS DIREÇÕES 127 ENTRAMADOS RETANGULARES 127 ENTRAMADOS OBLÍQUOS 129 PLACAS 129 LAJES NERVURADAS 131 PLACAS DOBRADAS 132 MEMBRANAS CARACTERÍSTICAS GERAIS 137 MEMBRANAS PNEUMÁTICAS 138 TENSÕES NAS MEMBRANAS 139 CASCAS DELGADAS ESTRUTURAS RESISTENTES PELA FORMA 143 CURVATURAS E CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS 144 AÇÃO DE MEMBRANA EM CÚPULAS CIRCULARES 145 TENSÕES DE FLEXÃO EM CÚPULAS 146 AÇÃO DE MEMBRANA EM CILINDROS 148 TENSÕES DE FLEXÃO NOS CILINDROS 148 CASCAS DE OUTROS TIPOS 149 PROBLEMAS NA CONSTRUÇÃO DE CASCAS DELGADAS 150 BIBLIOGRAFIA LISTA DE FIGURAS Fig. 1 | Corpo submetido à ação de um sistema de “n” forças 41 Fig. 2 | Vínculos 42 Fig. 3 | Vínculo de primeira ordem 42 Fig. 4 | Vínculo de segunda ordem 42 Fig. 5 | Vínculo de terceira ordem 43 Fig. 6 | Estruturas hipostáticas 43 Fig. 7 | Viga simplesmente apoiada 44 Fig. 8 | Viga em balanço ou Cantilever 44 Fig. 9 | Pórtico 45 Fig. 10 | Estrutura com dois graus de hiperestabilidade 45 Fig. 11 | Estrutura com três graus de hiperestabilidade 46 Fig. 12 | Viga contínua com dois hiperestáticos 46 Fig. 13 | Determinação da estaticidade interna de um sistema reticulado 46 Fig. 14 | Estaticidade de um sistema 47 Fig. 15 | Justaposição de triângulos 47 Fig. 16 | Reticulado composto por triângulos 47 Fig. 17 | Estrutura exposta à variação de temperatura 56 Fig. 18 | Comportamento elástico 64 Fig. 19 | Comportamento elástico linear 64 Fig. 20 | Comportamento plástico 65 Fig. 21 | Estrutura em concreto sob tração 68 Fig. 22 | Estrutura em concreto protendido sob tração 68 Fig. 23 | Equilíbrio à translação 70 Fig. 24 | Equilíbrio de rotação (gangorra) 70 Fig. 25 | Efeito de tombamento 70 Fig. 26 | Tração simples 82 Fig. 27 | Tensão de tração 83 Fig. 28 | Compressão simples 83 Fig. 29 | Flambagem 84 Fig. 30 | Cisalhamento 85 Fig. 31 | Deformação de corte em uma viga engastada 86 Fig. 32 | Torção 88 Fig. 33 | Flexão pura 88 Fig. 34 | Flexão simples 89 Fig. 35 | Flexão composta 90 Fig. 36 | Flexo-compressão e flexo-tração 91 Fig. 37 | Flambagem 91 Fig. 38 | Estrutura de cabos 97 Fig. 39 | Carga aplicada num cabo 97 Fig. 40 | Ponte pensil 98 Fig. 41 | Treliça plana 98 Fig. 42 | Treliças simples 99 Fig. 43 | Treliças com banzo superior curvo 99 Fig. 44 | Treliças de contorno triangular: 100 Fig. 45 | Arco em forma parabólica 101 Fig. 46 | Roda de bicicleta 101 Fig. 47 | Teto de cabos protendidos de Viera 102 Fig. 48 | Teto tipo roda de bicicleta do Auditório de Utica, Nova Iorque 102 Fig. 49 | Ponte com cabos. Arquiteto Santiago Calatrava. Sevilha, Espanha 103 Fig. 50 | Reticulado espacial 104 Fig. 51 | Flexão de uma viga em balanço109 Fig. 52 | Influência da forma da seção na deformação da viga 109 Fig. 53 | Momento de inércia de vigas 110 Fig. 54 | Deformações devidas a cargas concentradas e distribuídas 110 Fig. 55 | Esforço cortante em vigas 111 Fig. 56 | Influência do vão sobre a deformação 111 Fig. 57 | Influência da altura e espessura na deformação 112 Fig. 58 | Influência do tipo de material na deformação 112 Fig. 59 | Influência da posição da carga na deformação 113 Fig. 60 | Influência do tipo de carregamento na deformação 113 Fig. 61 | Deformação e diagramas de momentos fletores (estudo comparativo) 114 Fig. 62 | Deformação e diagramas de momentos fletores 115 Fig. 63 | Deformação e diagramas de momento fletor para uma viga contínua (carga concentrada) 115 Fig. 64 | Sistema de pilar - e - viga 119 Fig. 65 | Pórtico simples 119 Fig. 66 | Pórticos múltiplos 120 Fig. 67 | Edifício Sears Tower (Chicago, EUA) 121 Fig. 68 | Pórtico de duas águas 122 Fig. 69 | Arco atirantado 122 Fig. 70 | Ponte em arcos múltiplos 123 Fig. 71 | Estrutura em arcos radiais 123 Fig. 72 | Transferência de cargas em uma direção 127 Fig. 73 | Transferência de cargas em duas direções 127 Fig. 74 | Entramado retangular 128 Fig. 75 | Entramados retangular e oblíquo 128 Fig. 76 | Placa com transferência de carga em duas direções 130 Fig. 77 | Laje cogumelo ou laje plana 130 Fig. 78 | Laje nervurada 131 Fig. 79 | Placa dobrada de altura “a” e espessura “e” 133 Fig. 80 | Membranas 138 Fig. 81 | Balão, exemplo de membrana pneumática 138 Fig. 82 | Mecanismo de funcionamento estrutural de uma membrana 140 Fig. 83 | Estrutura resistente pela sua forma 143 Fig. 84 | Cobertura em cascas 143 Fig. 85 | Casca esférica 144 Fig. 86 | Casca cilíndrica 144 Fig. 87 | Casca cilíndrica contínua 145 Fig. 88 | Mecanismo do funcionamento estrutural das cascas 145 Fig. 89 | Deformação de flexão numa casca, próximo a apoio rígido 147 Fig. 90 | Cobertura cilíndrica de grande comprimento em relação à largura 149 Fig. 91 | Esforços predominantes em cilindros curtos e longos 149 Fig. 92 | Superfície cônica ondulada 151 15 PREFÁCIO O ensino de estruturas nas Escolas de Arquitetura é, e sempre foi, uma dessas áreas onde a interface de duas profi ssões – a do arquiteto e a do engenheiro – tem revelado a sua mais perversa faceta. O entendimento equivocado desse assunto tem dividido profundamente a forma de ação desses dois atores de construção. A divergência metodológica e conceitual a respeito do papel da tecnologia estrutural e sua apropriação na concepção da obra arquitetô- nica acentuou-se, extraordinariamente, entra as duas profi ssões após a Revolução Industrial, notadamente a partir de meados do século passado. O desenvolvimento do aço e da mecânica racional – ao lado dos engenheiros – e o obstinado apego à tradição artística e ao academi- cismo – pelo lado dos arquitetos – tem cavado um poço enorme no arcabouço conceitual e profi ssional dessas duas áreas. Ainda hoje há quem distinga a Engenharia da Arquitetura, pensando aquela como prática, e esta como tendo a missão divina para ser efetiva. Esses dois pensamentos são, na atualidade, duas doutrinas divergentes que, assim entendida, não estarão aptas a colaborar no avanço da tecnologia da construção do espaço arquitetônico. Apesar da lucidez de alguns que jamais se equivocaram e sempre entenderam a tecnologia como um processo criativo, as contingências históricas foram mais fortes. Os equívocos metodológicos entre as duas áreas aconteceram, ora por extraordinário cientifi cismo, ora por uma estéril e estereopatia dos métodos que se infi ltraram no ensino. Os professores Daiçon Maciel da Silva e André Kraemer Souto, por sua ação docente, aju- daram a construir uma ponte por esse fosso e, agora, de forma ainda mais signifi cativa ao es- creverem este Estruturas: Uma abordagem arquitetônica jogaram luz em seu interior. Com este livro dão um largo passo sobre esta ponte, na busca de um melhore entendimento da “gata borralheira” em que se transformou o ensino de estruturas em nossas escolas. Este livro, escrito por engenheiros, representa um importante gesto de integração concei- tual e profi ssional entre o pensamento e a ação da Engenharia e da Arquitetura. Trata-se de uma obra de rara dedicação à causa do ensino de estruturas, ou seja, à formação tecnológica dos nossos jovens arquitetos, e por que não admiti-lo, dos engenheiros também. A obra é uma contribuição inequívoca para aqueles que pretendem estudar o assunto, sem preconceito, a a partir de uma visão abrangente, aplicada e direta. 16 PREFÁCIO Há grande escassez de livros didáticos que tratem do assunto nos moldes do pensamento conceitual e do funcionamento da tipologia estrutural disponível para a construção de edifi - cações. Esta obra perseguiu como determinação esse intento e logrou êxito. Estruturas: Uma abordagem arquitetônica constitui uma inegável contribuição ao ensino de tecnologia estru- tural. É escrito em linguagem direta e simples, apresenta o essencial para a correta e expedita apropriação daqueles que se iniciam no aprendizado do repertório estrutural dentro do pro- cesso de concepção arquitetônica. Escrever livros didáticos é uma tarefa difícil, ainda mais sobre assunto controverso e que tem abrangência científi ca, tecnológica e estética. Com certeza, a obra dos professores Daiçon e André satisfará plenamente aqueles que buscam compreensão do universo dos sistemas estruturais, na construção, sob o seu ponto de vista físico, intuitivo, bem como, cognitivo e interpretativo. Percebe-se, nitidamente, no contexto da obra, a saudável infl uência de notáveis mestres no assunto, como Mário Salvadori e Robert Heller que, pioneiramente, defrontaram-se com esse desafi o – qual seja, o de escrever de modo estimulante, objetivo e claro sobre tema tão intrincado, complexo e recorrente – sem se enredarem em extensas demonstrações. Desa- fortunadamente, na maioria das obras, os autores se expressam sob impenetrável manto de criptografi as desesperantes, mesmo aos iniciados. Nesse aspecto Estruturas: Uma aborda- gem arquitetônica é uma obra cristalina, como devem ser os livros que objetivam abrir o horizonte ainda limitado dos estudantes, sobre um assunto essencial no processo criativo. Os professores Daiçon Maciel da Silva e André Kraemer Souto, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo UniRitter, estão dando uma inestimável contribuição ao ensino da Arquitetura com esta obra oportuna e bem-vinda para aqueles que advogam a congruência dos objetivos técnicos e estéticos do pensar arquitetônico. Arq. Erico Weidle Universidade de Brasília - UnB 17 INTRODUÇÃO Segundo o dicionário de Aurélio Buarque de Holanda, o conceito de estrutura (na Arquitetura) é “o conjunto das partes de uma construção que se destinam a resistir cargas; armação, esqueleto, arcabouço”. Esta defi nição é incompleta por não incluir alguns fatores, tais como organização do espaço, custo, otimização, forma do espaço, fun- ção de uso, tipo de material, durabilidade, segurança, geometria, estética, etc. Segundo o Professor Érico Weidle (Universidade de Brasília) em curso de especialização proferido na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Porto Alegre - Ensino e Pesquisa na Arquitetu- ra- “estrutura, em arquitetura, é o sistema material da edifi cação capaz de transmitir car- gas e absorver os esforços de modo a garantir a estabilidade, a segurança e a integridade da construção, sob o compromisso da organização espacial e sua expressão no contexto cultural e social, mediante o adequado emprego dos materiais, suas técnicas e processos e de acordo com os recursos econômico-fi nanceiros.” Os métodos científi cos não servem e em nada contribuem ao ensino de estruturas; o ato de conceber independe do conhecimentocientífi co (da ciência); o conhecimento apenas facilita a compreensão. Segundo o Professor Weidle, existem algumas orientações que devem nortear o ensino das estruturas para estudantes da graduação em Arquitetura: o tipo e o conteúdo das informações técnicas a serem ministradas aos estudantes de Ar- quitetura durante seu curso devem ser apresentados na forma de necessidades específi cas dos arquitetos com vistas à concepção do espaço arquitetônico. O desenvolvimento da in- tuição estrutural e da avaliação construtiva deve ter um objetivo concreto. As estruturas devem ser ensinadas no contexto do projeto arquitetônico. Há três domínios do conhecimento tecnológico distintos, mas interdependentes: ini- cialmente absorver conhecimento básico e geral sobre a tipologia estrutural para depois desenvolver o senso do que é apropriado e está ao alcance das possibilidades, depois, fi nal- mente, compreender esses conceitos básicos num nível mais específi co (estática, mecâ- nica elementar, características de resistência dos materiais, condições de carregamento, normas técnicas, procedimentos de projeto). O estudo das estruturas deve ser fundamen- tado na teoria geral, tratando em conjunto a questão do espaço arquitetônico em seu con- texto cultural, de construção e detalhamento como coisas indissociáveis. A abordagem 18 INTRODUÇÃO dos cursos deve ser de ordem prática e estes devem ter seu propósito principal dirigido sobre situações reais. O típico relacionamento entre a aula expositiva e o laboratório, no qual este é usado apenas para ilustrar e evidenciar a preleção, é de fato inadequado. O estudo das estruturas indeterminadas é crucial, visto que é nestas que câmbios sutis na estabilidade alteram a distribuição das forças e consequentemente das formas. Todo trabalho deve ser feito sobre modelação, mediante o emprego dos modelos tridi- mensionais ou computacionais. Nota: Nesta 5ª edição foram inseridas novas fotos. Tal medida deve-se ao interesse em mostrar aplicações em obras e edifi cações contemporâneas com destaque arquitetônico dos diversos sistemas estruturais abordados neste livro. 01 Jockey Clube Arquiteto: Román Fresnedo Siri Porto Alegre - 1952 MORFOLOGIA DAS ESTRUTURAS 01 Jockey Clube Arquiteto: Román Fresnedo Siri Porto Alegre - 1952 MORFOLOGIA DAS ESTRUTURAS 20 MORFOLOGIA DAS ESTRUTURAS ESTRUTURAS A palavra estrutura tem signifi cado de considerável amplitude. De modo genérico, signifi ca a maneira especial por que estão dispostas, em relação umas às outras, as diferentes partes de um corpo. Assim, dizemos estrutura atômica para a distribuição dos átomos na molécula. De modo fi gurado, serve para designar a ordem, a disposição ou a distribuição das diversas partes que compõem uma obra literária, artística ou conceito fi losófi co. De maneira especial, entretanto, a palavra estrutura é usada para designar a composição, construção, organização e disposição arquitetônica de um edifício. Nesse conceito, estrutura compreende todas as partes que compõem o edifício, desde os revestimentos, a pintura, até a sua medula, o seu âmago. De modo ainda mais particu- larizado, quando falamos de estrutura, em Engenharia Civil, por defi nição, designamos as partes que suportam as cargas de uma construção e as transmitem às fundações. Neste caso, estamos diante da estrutura resistente, ou simplesmente estrutura. Frequentemente, os alunos de Arquitetura recebem os primeiros conhecimentos re- lativos às estruturas analisando uma peça estrutural isolada, um pilar ou uma viga, sem considerar o conjunto de elementos que compõem todo o sistema. Parece-nos importante a visão total, partindo da síntese: o conhecimento introdutório de todas as formas estru- turais, quanto a suas concepções lógicas, diante do emprego econômico dos materiais; a origem e a evolução das formas em função das culturas e do progresso tecnológico; a sua fi nalidade e estética. É proveitoso, também, o estudo das formas estruturais desenvolvidas nos seres vivos: a natureza nos ensina processos de otimização em todas as suas manifes- tações. 01 Jockey Clube Arquiteto: Román Fresnedo Siri Porto Alegre - 1952 21 MORFOLOGIA DAS ESTRUTURAS ESTRUTURAS A palavra estrutura tem signifi cado de considerável amplitude. De modo genérico, signifi ca a maneira especial por que estão dispostas, em relação umas às outras, as diferentes partes de um corpo. Assim, dizemos estrutura atômica para a distribuição dos átomos na molécula. De modo fi gurado, serve para designar a ordem, a disposição ou a distribuição das diversas partes que compõem uma obra literária, artística ou conceito fi losófi co. De maneira especial, entretanto, a palavra estrutura é usada para designar a composição, construção, organização e disposição arquitetônica de um edifício. Nesse conceito, estrutura compreende todas as partes que compõem o edifício, desde os revestimentos, a pintura, até a sua medula, o seu âmago. De modo ainda mais particu- larizado, quando falamos de estrutura, em Engenharia Civil, por defi nição, designamos as partes que suportam as cargas de uma construção e as transmitem às fundações. Neste caso, estamos diante da estrutura resistente, ou simplesmente estrutura. Frequentemente, os alunos de Arquitetura recebem os primeiros conhecimentos re- lativos às estruturas analisando uma peça estrutural isolada, um pilar ou uma viga, sem considerar o conjunto de elementos que compõem todo o sistema. Parece-nos importante a visão total, partindo da síntese: o conhecimento introdutório de todas as formas estru- turais, quanto a suas concepções lógicas, diante do emprego econômico dos materiais; a origem e a evolução das formas em função das culturas e do progresso tecnológico; a sua fi nalidade e estética. É proveitoso, também, o estudo das formas estruturais desenvolvidas nos seres vivos: a natureza nos ensina processos de otimização em todas as suas manifes- tações. 01 Jockey Clube Arquiteto: Román Fresnedo Siri Porto Alegre - 1952 22 MORFOLOGIA DAS ESTRUTURAS DEFINIÇÃO Diante dos conceitos expostos, podemos defi nir morfologia das estruturas como o estudo das estruturas resistentes sob o ponto de vista da forma, considerando as suas origens (morfogênese) e evolução, tendo como objetivo dar aos alunos conhecimentos básicos para síntese, análise e concepção de estruturas que respondam aos anseios fun- cionais, técnicos e culturais. FATORES MORFOGÊNICOS Os fatores morfogênicos são as razões determinantes de certas formas estruturais, tanto no conjunto do sistema como em cada uma de suas partes constitutivas. O corpo humano, por exemplo, é um tipo de estrutura que denominamos de arcabouço: possui um esqueleto que permite à estrutura manter-se em pé. Existe correlação perfeita entre todas as peças, não só do esqueleto, mas também entre este e o restante da estrutura, os músculos e todos os órgãos. Esta correlação permite aos arqueólogos, diante de um fêmur fóssil, avaliar a forma do ser original completo, pois o ser apresenta forma compatível com a sua especialização. Muitos fatores cooperam na geração e defi nição dessa forma; a estes, denominamos fatores morfogênicos. A condição precípua de uma estrutura resistente é manter a construção em pé. A esta- bilidade da construção deve manifestar-se não só através de cálculos estáticos, mas tam- bém pela forma comunicada visualmente. E a forma só poderá ser considerada verdadeira quando é expressão franca e espontânea de todas as raízes morfogênicas que lhe deram origem. É praticamente impossível tentar enumerar toda a morfogênese estrutural. Para efeito didático, entretanto, podemos classifi car os fatores morfogênicos em três grupos: funcio- nais, técnicos e estéticos. Fatores Funcionais Os fatores funcionais são os preponderantes na defi nição da forma estrutural.Todos os outros elementos morfológicos estão subordinados a estes. A Arquitetura, dentro do seu amplo campo de atividade, necessita construir estruturas para as mais variadas fun- ções, apresentando formas particulares diferenciadas correspondentes. Todas as estrutu- ras estão subordinadas, direta ou indiretamente, às dimensões humanas: o ser humano é 23ESTRUTURAS | uma abordagem arquitetônica a escala, pois é ele a medida de todas as coisas. As obras estruturais da Arquitetura se des- tinam às seguintes funções fundamentais: habitação, tráfego, condução e contenção. a • Habitação - Considerada, neste caso, como toda a estrutura que se destina ao abrigo do homem e de seus pertences (residência, escritório, armazém, indústria, etc.), apresenta elementos estruturais comuns, paredes de vedação, paredes portantes e cobertura. É a estrutura mais ligada à Arquitetura e, indubitavelmente, de maior riqueza formal. b • Tráfego - São consideradas as estruturas das construções destinadas a facilitar a circulação de pessoas, animais, veículos e materiais em modo geral. Elas apresentam formas particulares, entretanto variadas. Estão incluídas as estruturas destinadas a vias (caminhos, ruas, estradas, ferrovias, teleféricos, cremalheiras, hidrovias), revelando as estruturas de túneis e viadutos. Especialmente os viadutos, utilizando variados sistemas e materiais estruturais, possibilitam a realização das mais belas formas de Arquitetura. c • Condução - A função de condução de líquidos e gases é fator morfogênico característico. Para os líquidos, canais e tubos; para os gases, dutos e chaminés. d • Contenção - A função de contenção defi ne, de acordo com o conteúdo, as mais diversas formas estruturais: reservatórios, silos, barragens, escoras e arrimos. Fatores Técnicos Depois dos fatores morfogênicos funcionais, os fatores técnicos seguem a ordem de importância como determinantes formais. Os fatores técnicos de maior importância são os decorrentes dos materiais utilizados na construção das estruturas: a técnica de cons- trução empregada, o estágio dos processos de cálculo estrutural e a economia diante dos recursos disponíveis. A evolução da sociedade humana, em todos os sentidos (cultural, tecnológico, etc.), determina, evidentemente, maiores exigências nas soluções construti- vas, tanto no que concerne aos aspectos funcionais quanto técnicos. Como exemplo, po- demos citar um dos fatores técnicos, o cálculo estrutural, como morfogênico. O adven- to e posterior desenvolvimento da teoria matemática da elasticidade, nos fi ns do século XVIII, permitiu avaliar com maior precisão os esforços e tensões das peças e do conjunto estrutural submetidas a determinadas forças. Hoje tanto a Teoria da Plasticidade como o Método dos Elementos Finitos ocupam um papel preponderante nessa questão. Assim, a “materialização” dos valores obtidos através de análise estrutural matemática pode apre- sentar formas esbeltas, ao mesmo tempo estáveis e econômicas, diante das características particulares de cada material empregado. 24 MORFOLOGIA DAS ESTRUTURAS Fatores Estéticos A estrutura resistente é o elemento construtivo de maior força estética na composição arquitetônica. A condição precípua de qualquer constru- ção é que seja estável, isto é, que suporte as cargas às quais será submetida. A estrutura resistente, resolvida com lógica e simplicidade (por qualquer meio disponível, com materiais de alta ou baixa resistência), comunica ao observador sensações de equilíbrio e estabilidade que confortam. A mate- rialização de formas geométricas puras - como a catenária de uma ponte pênsil - desperta por si só sensação estética. Em todos os tempos, as obras notáveis de Arquitetura mostram, de modo fundamental e até ostensivo, a sua estrutura resistente. Os chamados elementos decorativos, como mol- duras e ornatos, nada mais são do que apêndices aos elementos estruturais, que dão maior simplicidade às estruturas racionais ou clássicas e passam à maior complexidade nas arquiteturas fl orais ou barrocas. Por outro lado, é necessário salientar que uma simples e imediata solu- ção estrutural não defi ne, por si só, boa Arquitetura. Devem ser levadas em conta a escala e as proporções dos espaços, sempre vinculadas às dimen- sões do ser humano, dimensões estas de ordem física e, especialmente, psicológica. EVOLUÇÃO DAS FORMAS ESTRUTURAIS Para efeito didático, convém que as formas estruturais sejam estudadas diante de cada sistema fundamental construtivo de modo evolutivo histó- rico. Este procedimento faz com que os estudantes, de modo interessante, acompanhem o raciocínio evolutivo dos povos, diante das correspondentes necessidades funcionais e recursos técnicos. A evolução das abóbadas, por exemplo: sabemos que vários povos foram os “inventores” desde o período neolítico; seria conveniente mostrar que aqueles povos também estavam diante de problemas de ordem funcional e técnica e puderam vencer maio- res vãos sem formas ou cimbramentos, com materiais que suportam espe- cialmente forças normais de compressão. Deveriam ser mostradas desde as estruturas dos nuragues; as abóba- das sumérias e egípcias; as cúpulas com “trompas” persas; as cúpulas mi- 1 | Estrutura de Forma Ativa, Palácio Vergara, Viña Del Mar, Chile. 2 | Estrutura de Vetor Ativo, Centro George Pompidou, Paris, França. 25ESTRUTURAS | uma abordagem arquitetônica cênicas; as cúpulas romanas, bizantinas, renascentistas, até as modernas cascas. SISTEMAS ESTRUTURAIS FUNDAMENTAIS A seguir, procurou-se dar uma classifi cação aos sistemas estruturais dentro do estágio tecnológico atual. Os pilares, embora constituam, a ri- gor, elemento e não sistema estrutural, foram assim introduzidos a fi m de estabelecer a ligação entre as vigas, para defi nir os chamados pórticos. Com base nessa realização, a questão da extensão e do conteúdo dos conhecimentos exigidos pelo arquiteto no projeto estrutural pode ser res- pondida precisamente. Desde que seja admitido que a essência do projeto estrutural é o desenvolvimento de um sistema de forma material que diri- ge as forças para certas direções e as conduz às fundações com o máximo de estética e efi ciência material e com o mínimo de observação do espaço interior, o conhecimento do arquiteto nesse assunto deve prender-se então predominantemente a: • Conhecimento do mecanismo que faz as forças mudarem sua direção; • Conhecimento dos sistemas para cobrir espaços e resistir a deformações. Esta meta não somente conduz a uma limitação saudável do vasto cam- po da Engenharia Estrutural, como também ao estabelecimento estrutural de uma organização simples e convincente dos sistemas de estrutura ar- quitetônica: a • Estruturas que atuam principalmente através de sua forma material: sistemas de estruturas de forma ativa ou sistemas estruturais em estado de tração simples. Exemplos: cabos e tirantes. b • Estruturas que atuam principalmente por meio de composição de elementos com compressão e tração: sistemas estruturais de vetor ativo ou sistemas estruturais com tração e compressão concorrentes. Exemplos: treliças e planas e espaciais. c • Estruturas que atuam principalmente por massa e continuidade material: sistemas estruturais de massa ativa ou sistemas estruturais em estado de fl exão. Exemplos: vigas e placas. d • Estruturas que atuam principalmente por continuidade de superfície: sistemas estruturais de superfície ativa ou sistemas 3 | Estrutura de Massa Ativa, Estrutura de Vigas e Lajes de Uma Residência em Guaíba, RS, Projeto Estrutural do Engº André Kraemer Souto. 4 | Residência da foto 3 na fase fi nal da obra. 26 MORFOLOGIA DAS ESTRUTURAS estruturais de tensão de membrana. Exemplos: membranas e cascas delgadas. e • Estruturas que atuam principalmente por transmissão verticalde carga: sistemas estruturais verticais. Exemplo: pilares e colunas de um edifício. De fato, em cada sistema estrutural deve-se sempre encontrar, além da maior distinção, uma combinação de qualidades que sejam diferentes das de outros sistemas estruturais. Se for considerada, contudo, a maior ação resistente, cada estrutura pode ser facilmente classifi cada em apenas um dos cinco tipos de sistemas estruturais. Esta classifi cação tem, mais adian- te, sua justifi cativa. Já que a forma e o espaço são menos infl uenciados por essas qualidades secundárias, mas adquirem caráter e distinção predomi- nantemente pelo sistema que provoca a maior tensão, essas qualidades se- cundárias podem ser desprezadas no conceito estrutural inicial de uma construção e na discussão teórica dos sistemas estruturais. Isso possibilita também colocar as estruturas de arranha-céus na ca- tegoria de sistemas estruturais verticais. Uma vez que a primeira função dessas estruturas é a transferência da carga vertical e sua maior distinção é dada pelos sistemas particulares de absorção e transmissão de carga, bem como de estabilização lateral, sem relacionamento com o fato de que esses sistemas têm que empregar, necessariamente, para a reorientação das for- ças, um mecanismo que pertença à categoria de um dos quatro sistemas anteriormente enumerados. De acordo com essa subdivisão, podem se tornar acessíveis ao arquite- to inúmeras possibilidades estruturais. Já que esta estrutura é organizada exclusivamente na base de sistemas principais que podem mudar a direção das forças, é de se esperar que o arquiteto seja bastante astuto, principal- mente nesta fase de realização estrutural, que, por sua alta signifi cância para o espaço arquitetônico, não é de muito interesse para o engenheiro estrutural, mas pertence à função primária do arquiteto. De fato, delegar essa função a outros equivalerá a desistir totalmente do projeto. 5 | Estrutura de superfície Ativa, Membranas – Construção da “Plaza de Abastos Y Pérgolas de las Flores” Próxima ao mercado Público, Secretaria de obras públicas do Governo do Chile, Santiago, Chile. 6 | Estrutura de Edifícios Altos, Edifício Costaneira Center com 101 pavimentos em construção. Santiago, Chile. 02 Indústrias Memphis Arquitetos: Cláudio Luiz Araújo e Cláudia Obino Frota Porto Alegre - 1976 A ESTRUTURA E A ARQUITETURA 02 Indústrias Memphis Arquitetos: Cláudio Luiz Araújo e Cláudia Obino Frota Porto Alegre - 1976 A ESTRUTURA E A ARQUITETURA 28 A ESTRUTURA E A ARQUITETURA ARQUITETO: MESTRE EM ESTRUTURAS “Como um Arquiteto prático e como um Arquiteto educador, tenho me relacionado tanto com a teoria quanto a prática. Há muito percebi que os métodos normais de apresentar e ensinar estruturas arquitetônicas aos jovens Arquitetos têm sido insatisfatórios, muito complicados e geralmente confusos e mal orientados. Falham no estabelecimento de relações com a ação integral do Projeto Arquitetônico, e não do tipo que estimula a aplicação criativa das bases estruturais por parte do jovem projetista. Com a convicção de que a participação ativa nas construções atualmente representa fortes impulsos, especialmente no ensinamento de cada assunto específi co do treinamento arquitetônico, considero o Arquiteto prático, progressista na concepção e com talento e interesses especiais em dado assunto o mais qualifi cado para apresentar uma matéria de assunto especializado ao jovem Arquiteto.” (Ralph Rapson) ESTRUTURA NA CONSTRUÇÃO: SITUAÇÃO NOVA De todos os elementos componentes que contribuem para a existência da forma ma- terial rígida (casa, máquina, árvores ou seres animados), a estrutura é o principal. Sem estrutura, a forma material não pode ser preservada e, sem preservação da forma, o orga- nismo interno não pode funcionar. Sem estrutura material não há, portanto, organismo animado ou inanimado. Para a Arquitetura, há, naturalmente, muitos elementos que constituem uma constru- ção, mas sua presença não é vital para a existência. Uma construção pode existir sem pin- tura e sem aquecimento; porém, não pode existir sem estrutura. Ainda que uma simples 02 Indústrias Memphis Arquitetos: Cláudio Luiz Araújo e Cláudia Obino Frota Porto Alegre - 1976 29 A ESTRUTURA E A ARQUITETURA ARQUITETO: MESTRE EM ESTRUTURAS “Como um Arquiteto prático e como um Arquiteto educador, tenho me relacionado tanto com a teoria quanto a prática. Há muito percebi que os métodos normais de apresentar e ensinar estruturas arquitetônicas aos jovens Arquitetos têm sido insatisfatórios, muito complicados e geralmente confusos e mal orientados. Falham no estabelecimento de relações com a ação integral do Projeto Arquitetônico, e não do tipo que estimula a aplicação criativa das bases estruturais por parte do jovem projetista. Com a convicção de que a participação ativa nas construções atualmente representa fortes impulsos, especialmente no ensinamento de cada assunto específi co do treinamento arquitetônico, considero o Arquiteto prático, progressista na concepção e com talento e interesses especiais em dado assunto o mais qualifi cado para apresentar uma matéria de assunto especializado ao jovem Arquiteto.” (Ralph Rapson) ESTRUTURA NA CONSTRUÇÃO: SITUAÇÃO NOVA De todos os elementos componentes que contribuem para a existência da forma ma- terial rígida (casa, máquina, árvores ou seres animados), a estrutura é o principal. Sem estrutura, a forma material não pode ser preservada e, sem preservação da forma, o orga- nismo interno não pode funcionar. Sem estrutura material não há, portanto, organismo animado ou inanimado. Para a Arquitetura, há, naturalmente, muitos elementos que constituem uma constru- ção, mas sua presença não é vital para a existência. Uma construção pode existir sem pin- tura e sem aquecimento; porém, não pode existir sem estrutura. Ainda que uma simples 02 Indústrias Memphis Arquitetos: Cláudio Luiz Araújo e Cláudia Obino Frota Porto Alegre - 1976 30 A ESTRUTURA E A ARQUITETURA estrutura não constitua Arquitetura, esta pode tornar-se possível, tanto no que se refere ao primitivo abrigo, quanto ao moderno arranha-céu. O signifi cado de estrutura para a construção e seu projeto sugere um novo caminho e justifi ca reconsiderar os pontos básicos subordinados aos conceitos de estrutura arquitetônica e projeto estrutural. A análise do que essencialmente é a estrutura técnica e de que papel desempenha na criação da Arquitetura dará uma base sólida para uma sugestão sobre o que o arquiteto deve saber sobre estruturas e sobre quanto ele deve conhe- cê-la. ESTRUTURA TÉCNICA: MEIOS DE HUMANIZAÇÃO Toda humanização é, essencialmente, uma extensão da estrutura inte- lectual. O homem, antes de sua tentativa de coordenar o meio ambiente com seu próprio ser, estuda as ações necessárias para isso e as ordena em um sistema de interdependência: ele forma uma estrutura intelectual para suas ações, isto é, planeja. Tal estrutura intelectual, quando imposta por outra, natural, torna-se estrutura técnica. Técnica, portanto, é qualquer estrutura do meio ambiente humanizado que produz e preserva uma forma; técnica é também a estrutura que con- duz à existência do homem civilizado, distinguindo-o do selvagem. O papel que a estrutura técnica desempenha na formação da Arquitetu- ra está intimamente associado à função da Arquitetura: criação do espaço humanizado. Somente através da estrutura o espaço pode ser medido, de modo que a vida do indivíduo, família ou sociedade possa se desenvolver; através da estrutura, o espaço pode ser controlado, de modo que o homem possa viver seguramente, mover-se e trabalhar; através da estrutura, esse espaço pode ser enriquecido, avaliado e receber qualidade estética. A es- trutura é, então, instrumentale integral para o espaço arquitetônico. NECESSIDADE DA ESTRUTURA A estrutura é uma necessidade da Arquitetura. Sem estrutura, não existe Arquitetura. Através do projeto estrutural, as cargas gravitacionais, as forças externas e as tensões internas são mantidas sob controle e cana- lizadas ao longo de trajetos previstos; a intenção é mantê-los num sistema 7 | Estação de hospedagem “Mirador Del Plomo Restaurant”, Parque Nevada, Chile 31ESTRUTURAS | uma abordagem arquitetônica de ação e reação interdependente que dê o equilíbrio a cada componente individual, assim como ao sistema estrutural como um todo. Através do projeto estrutural, essas forças são impedidas de atingir uma concentração destrutiva e são mantidas sob controle. O projeto estrutural é estratégia, é o planejamento intelectual de um sistema dinâmico que luta com uma multiplicidade de forças. De fato, o projetista, quando está desenvolvendo um sistema estrutural, encontra-se no papel de um comandante de campo, que precisa enfrentar as diversas forças inimigas e maquinar um plano estratégico para controlá-las. O modo como ele luta com as forças adversárias - quão racional é o entrosamento mate- rial, quão engenhoso é o esquema e quão longe vão as consequências fi nais - distingue o planejador medíocre do genial, seja ele uma corporação militar ou do tipo técnico. A estratégia do projeto estrutural é multiforme, como o é o caráter específi co que cada estratégia pode exprimir: a suavidade das superfícies que uniformemente distribuem as forças, de modo que sua intensidade decresce a um valor não prejudicial (cascas), a arti- culabilidade multicomponente que distribui as forças em diversas direções nas quais elas podem ser medidas (treliças), a leveza evasiva que orienta o caminho natural das forças a pontos em que elas não possam ser prejudiciais (tetos suspensos), etc. Basicamente, todas são simples dispositivos mecânicos de controle de forças, mas, na variedade, intensidade e universalidade dessas expressões, todos os requisitos devem também ser encarados como arte. Finalmente, estas forças serão absorvidas e dirigidas ao solo, onde não há confl ito de direções (necessidade de espaços para movimentação do homem), uma vez que aí não há espaço para movimento. CONHECIMENTO ESTRUTURAL Delineação da forma estrutural básica, dimensionamento global de seus componentes, introdução de rigidez lateral, comprovação dos possíveis efeitos de variações térmicas, assentamentos de fundações, condições de carga e envelhecimento e, fi nalmente, escolha do material da estrutura e do método construtivo: nenhuma dessas fases diferenciadas de desenvolver um sistema estrutural requer o uso de fórmulas matemáticas. Isso quer dizer que nenhuma fase na formação de uma ideia estrutural é dependente do uso da matemática. Somente depois que todas as fases tiverem sido examinadas separadamente e o sistema estrutural assim concebido em seus elementos essenciais, pode-se e deve-se aplicar fórmulas matemáticas para testar o sistema, dimensionando cuidadosamente seus componentes e garantindo, desse modo, a segurança e a economia. É certo que alguns rudimentos de conceitos estruturais, como resistência, braço de alavanca, centro de gravidade, momento de inércia ou equilíbrio podem ser melhor com- 32 A ESTRUTURA E A ARQUITETURA preendidos ao se usar uma simples álgebra. Mas é contestável que o conhecimento da análise estrutural matemática seja exigido para que se possa compreender o funciona- mento das estruturas, ou que este conhecimento estimule a aplicação criativa de concei- tos estruturais. Para entender o mecanismo de um sistema estrutural, não é necessário confi ar em escalas absolutas. O mesmo se aplica à construção material. O funcionamento básico (embora não a grandeza dos esforços e a ordem dos vãos econômicos) de um sistema es- trutural é independente de suas dimensões e do material que o constitui. Os mecanismos numa casca cilíndrica de concreto de 7,50m de vão são essencialmente os mesmos que em uma casca de plástico com 15,00m de vão. Qualquer vinculação entre vão e material necessita de dados defi nidos de projeto. Isso pode tornar individual ao invés de universal o modelo ou desenho e não vai acrescentar nada à compreensão básica. As estruturas são exemplos e, por conseguinte, acessórios de projeto. Os sistemas estruturais são ordenações e, portanto, princípios de projeto. EVOLUÇÃO HISTÓRICA Antigamente, o vocabulário do projeto estrutural era limitado a relativamente poucos sistemas, padrões e técnicas artesanais; ambos limitavam as possibilidades da forma e do vão e exerciam um controle saudável. Atualmente, a ciência da Engenharia e as técni- cas construtivas já removeram as barreiras naturais da impossibilidade estrutural. Qua- se toda forma pode ser executada, e qualquer contradição estrutural pode ser feita para existir, apoiar e durar. Antigamente, o conhecimento da forma estrutural correta era empírico e vago. Além disso, a técnica artesanal sempre convidava à modifi cação pessoal da forma convencional. Atualmente, a teoria matemática e as técnicas construtivas determinam precisamente a forma e a expressão estruturais e permitem a variação individual apenas às custas da economia. As formas estruturais tornaram-se padrões absolutos e incontestáveis da Ar- quitetura. Antigamente, a falta de variedade de sistemas estruturais conhecidos ia além da livre execução das ideias do Arquiteto. Era inevitável um lapso entre a estrutura possível e a forma, e era escassa a economia. Atualmente, inúmeras formas estruturais bem ensaia- das permitem que qualquer espaço arquitetônico seja precisamente sincronizado com uma forma estrutural positiva que realce a ideia arquitetônica. A forma estrutural e o envolvimento espacial têm apenas pequena tolerância e podem mesmo alcançar a indivi- dualidade. 33ESTRUTURAS | uma abordagem arquitetônica Antigamente, o sistema estrutural de um edifício desempenhava apenas um papel me- nor ou indireto na experiência estática da Arquitetura. Estruturas simples eram raramen- te empregadas como forma estética, ou mesmo experimentadas como tal. Atualmente, o homem deriva cada vez mais a sensação estética da pura compreensão intelectual de um sistema lógico e, consequentemente, experimenta a lógica da forma estrutural como fonte de sensação estética. Antigamente, havia poucas grandes construções e, em razão de sua importância so- cial, o projeto estava rigorosamente ligado às considerações de ordem econômica, e a escolha de seu esquema estrutural não era limitada. Atualmente, a grande civilização necessita de uma proporção cada vez maior de edifícios com muitas unidades e em grande escala, havendo de sujeitar sua construção a um pressuposto afi nado e, necessitando de uma enorme resistência estrutural, o conceito estrutural é de proeminente importância para o espaço e em função do edifício e, consequentemente, um assunto de projeto arqui- tetônico primário. “A estrutura é, e tem sido sempre, um componente essencial da Arquitetura. Ao construir residências, igrejas, edifícios comerciais e públicos, o homem tem necessidade de dar forma a certos materiais e usá-los em determinadas quantidades, a fi m de que sua Arquitetura se mantenha de pé, resistindo à atração da terra e a outras cargas perigosas. É imprescindível resistir ao vento, descargas atmosféricas, terremotos e incêndios, e é possível resisti-los com um razoável custo de mão-de-obra e materiais, tendo em conta a disponibilidade de ambos. E, como desde os primeiros tempos de sua existência o homem teve um sentido inato de beleza, toda a construção se concebeu conforme certos postulados estéticos que, muitas vezes, impuseram à estrutura exigências muito mais estritas que as de resistência e economia. Poder-se-ia então pensar que sempre se temdado importância à estrutura e que, em certo sentido, ela tem ditado o tipo de Arquitetura. Não é assim, em regra geral. Na Antiguidade, criaram-se edifícios magnífi cos com uma notável despreocupação com a estrutura correta. Muitas formas estruturais em mármore, sob o ponto de vista estrutural, deveriam ter sido construídas em madeira. Na realidade, a madeira é um material resistente a esforços de tração, e é correto construir com ela elementos horizontais, que necessitam resistência tanto à tração quanto à compressão. A pedra resiste somente a esforços de compressão, e é possível construir 34 A ESTRUTURA E A ARQUITETURA elementos horizontais com ela somente diminuindo o seu vão e apoiando-a em elementos verticais (pilares ou colunas). Logo, concluímos que os elementos horizontais de pedra são inadequados. Por outro lado, as catedrais góticas podiam vencer grandes vãos usando o arco, elemento estrutural curvo no qual não se geram esforços de tração. Assim, a pedra é o material correto para a estrutura tipo arco (abóbada). Alguns historiadores da Arquitetura (e também alguns engenheiros especializados em estruturas) têm argumentado que a grande preocupação da resistência estrutural conduzirá inevitavelmente à beleza. É inegável que uma estrutura correta satisfaz o olho do espectador e, ao contrário, uma estrutura incorreta ofende o ponto de vista estético. No entanto, é difícil demonstrar que a estética depende da estrutura. Por outro lado, é fácil demonstrar que algumas estruturas incorretas são encantadoras, enquanto algumas estruturas corretas não satisfazem esteticamente. Será mais prudente dizer que a correção de uma estrutura é, na maioria das vezes, uma condição necessária da beleza. Podemos concluir que o conhecimento das estruturas por parte dos arquitetos é ao menos altamente desejável e que uma estrutura correta só pode contribuir para a beleza da Arquitetura.” (Mario Salvadori) “Nos últimos anos, surgiu uma importante evolução no projeto estrutural das edifi cações. Além do desenvolvimento de novos materiais, a aplicação de modernas técnicas de construção, o emprego dos computadores e a concepção de princípios avançados de projeto, o maior estímulo para uma nova era no projeto estrutural é o interesse e a vontade dos arquitetos em exprimir a forma lógica e a beleza de uma estrutura bem proporcionada.” (Hannskarl Bandel) 35ESTRUTURAS | uma abordagem arquitetônica A ARQUITETURA E A ESTRUTURA - O ARQUITETO E O ENGENHEIRO Nos últimos anos, a especialização chegou ao campo da Arquitetura e diferentes pessoas exercem diversas funções outrora reunidas em uma única. Duas são essenciais para a construção de uma obra importante: o arquiteto e o engenheiro civil. Atualmente, nenhum arquiteto se atreveria a projetar um edifício, ainda que de tamanho modesto, sem consultar um Engenheiro especialista em estruturas. As raízes dessa relação de depen- dência surgiram da crescente importância dos fatores econômicos, da ten- dência de nossa cultura e, sobretudo, da necessidade de grandes estruturas que tem nossa civilização de massas. Esse tema provoca um sério desafi o ao arquiteto, porque o público adquire consciência da importância da Arquitetura em sua própria vida através do número crescente de grandes obras, tais como estádios, igrejas, teatros, etc. Nesse saudável clima de interesse público, os especialistas se reúnem para resolver problemas novos, difíceis, que chegam ao povo em geral. “Embora existam diferenças de formação, são duas profi ssões que se completam. Enquanto o arquiteto é essencialmente criativo, o engenheiro é tecnicamente inventivo. Portanto, para que algo seja criado é indispensável que seja inventado um processo racional e científi co para transformá-lo em realidade. O ideal, na verdade está plenamente comprovado, é o perfeito entrelaçamento entre as duas profi ssões. O trabalho realizado harmonicamente, formado por equipe dessas atividades liberais, trará sempre os melhores resultados conforme demonstram as grandes obras da arquitetura e da engenharia. Grande e profundo deve ser o conhecimento humanístico dos arquitetos e engenheiros para poderem, irmanados num mesmo ideal, projetar e construir em perfeita harmonia de técnica e beleza, sem alterar o ambiente natural. Entretanto, sendo o homem sociável por excelência não é possível considerar o indivíduo apenas em 8 | Fotografi a dos prédios da Rua Rosário Norte, obtida do Parque Arauto – o prédio da esquerda (1º plano) é do Banco do Chile, Santiago. 36 A ESTRUTURA E A ARQUITETURA função de si mesmo, mas em relação à sua vivência comunitária, onde sonha, projeta e vive em íntima correlação com a natureza e com seus semelhantes. Não unicamente na edifi cação, mas também em todas as obras de construção civil, enfi m, em todo e qualquer lugar onde o homem em coletividade, labuta, viaja, diverte-se ou repousa, a função social dos arquitetos e engenheiros é notória, valiosa, imprescindível.” Conhecer a origem estrutural da Arquitetura é básico para a profi ssão de arquiteto. Contudo, enquanto o construtor primitivo podia facilmente resolver os poucos proble- mas estruturais de sua construção com um conhecimento baseado na experiência e na tradição, o arquiteto em desenvolvimento, para resolver os problemas estruturais de sua construção, defronta-se com um campo tão extenso que um simples engenheiro não teria a pretensão de ser hábil em todos os seus diversos assuntos. O mais difícil para o arquiteto será atingir o nível de conhecimentos no campo da Engenharia Estrutural de modo a qualifi cá-los, a formular ideias estruturais e propor sis- temas estruturais. Há muitas construções projetadas por engenheiros que se qualifi cam como exemplos marcantes de boa Arquitetura. Mas a excelência dessas construções não se dá em virtude de seu sistema estrutural, e sim porque tiveram êxito ao gerar espaço arquitetônico. Esses engenheiros não se distinguem por suas qualidades de engenheiros, mas por sua visão arquitetônica, que os torna aptos a trazer suas ideias estruturais na correta dependência do objetivo arquitetônico. Todo arquiteto ou estudante de Arquitetura está convencido da importância do co- nhecimento estrutural, mas sua aquisição é mais difícil do que esperava. O rápido desen- volvimento de técnicas construtivas baseadas no uso de materiais como alumínio, con- creto armado e protendido, assim como as difi culdades matemáticas inerentes ao projeto de novas formas estruturais, torna quase impossível a uma pessoa de formação artística conhecer todos os métodos de projeto e construção. O arquiteto deve estar familiarizado com a estética, Engenharia, Sociologia, Economia e planejamento. Seu conhecimento de Matemática, Física e Química é limitado. Um diálogo entre eles resulta praticamente im- possível, pois carece de um vocabulário comum a ambos. Como esse diálogo é necessário, deve-se saber quem será o líder da equipe construtiva, e essa tarefa cabe ao arquiteto, sendo o calculista somente um prestador de serviços. Surge, então, uma questão: será possível o Arquiteto (ou qualquer pessoa inteligente) compreender os problemas estruturais que apresenta um problema técnico sem o co- nhecimento profundo das ciências físicas e matemáticas? A resposta a esta pergunta é afi rmativa, se se estabelecer uma clara distinção entre a compreensão dos conhecimentos estruturais básicos e o conhecimento cabal da análise de estruturas. 37ESTRUTURAS | uma abordagem arquitetônica ESTRUTURAS E INTUIÇÃO “Ao criar o homem, Deus, o Supremo Construtor, projetou o mundo, e a par da beleza das fl ores, deu-lhe o calor do sol, e a visão do luar e de uma noite estrelada, proporcionou-lhe a tranquilizadora segurança do solo fi rme... Dosou os elementosde acordo com as necessidades e recursos do ser criado e, o homem, desde os tempos mais remotos, usou a intuição e a inteligência para extrair do seu ‘habitat’, a satisfação de seus instintos e aspirações. A construção deverá reunir sempre num mesmo amplexo criador, o corpo e a alma; o ideal e a prática; a beleza e a segurança; pois o homem, por sua própria condição de indivíduo racional, não se satisfaz somente com o prazer físico que lhe proporciona uma edifi cação confortável. A estética que cada um de nós possui como qualidade inerente, exige uma composição tão artística e harmoniosa, quanto sólida e durável. Pode- se mesmo afi rmar que o encontro da arquitetura e engenharia é a ponte que liga o soma ao psíquico e a ligação deverá ser tão íntima que se refl ita no indivíduo em seu todo, proporcionando-lhe o bem-estar geral. (Nelson L.M.Bruck) Para inventar uma estrutura e dar-lhe proporções exatas, deve-se seguir tanto o caminho intuitivo como o matemático. As grandes obras do passa- do, construídas em uma época em que não existiam as teorias científi cas, atestam a efi cácia e o poderio da intuição. Em nossa época, desenvolvem-se sem cessar teorias modernas, e seu acerto tem-se verifi cado na construção de estruturas maiores e mais ousadas. Se a invenção estrutural há de per- mitir a solução efi ciente de novos problemas que aparecem diariamente, devido ao crescimento de atividades da construção, deve chegar a ser uma combinação harmônica de nossa intuição pessoal com uma ciência estru- tural impessoal, objetiva, realista e rigorosa. Em outras palavras, a teoria deve encontrar na intuição uma força ca- paz de dar vida às fórmulas, de torná-las mais humanas e compreensíveis e 9 | vv Gabriela Mistral, Localizado na Av. Libertador Bernardo O’higgins, Santiago do Chile. 38 A ESTRUTURA E A ARQUITETURA de minorar sua impessoal fragilidade técnica. Por outro lado, as fórmulas devem nos dar os resultados exatos necessários para obter o termo médio, pois esse é o objetivo fi nal de todas as atividades humanas. É particularmente útil estudar e refl etir sobre o problema estrutural, pois, mesmo quando se pode confi ar o cálculo de uma estrutura a um especia- lista, primeiro deve-se ser capaz de inventá-la e dar-lhe proporções corretas. Só então terá nascido uma estrutura sã, vital e, se possível, esbelta. A análise de uma estrutura completa, com o alto grau de perfeição exigido pela tec- nologia moderna, só é acessível a um subgrupo de profi ssionais: o dos especialistas em estruturas. Muitas vezes, eles se especializam de acordo com o material utilizado, ou seja, concreto armado, protendido, aço, alumínio, madeira, pneumático, etc. Recorre-se a esses especialistas em busca de assessoramento sobre um determinado tipo de estrutura. Na vida cotidiana, todos estamos, em certo grau, familiarizados com estruturas. Sa- bemos em que ângulo devemos colocar uma escada de mão para que suporte nosso peso; sabemos que um pedaço de madeira colocado sobre uma vala se romperá quando cami- nharmos sobre ele; sabemos se a corda é sufi cientemente forte para içar um balde de água do fundo de um poço, assim como se o vento fará voar a nossa barraca. Absorvendo tais experiências e sistematizando esse conhecimento, poderemos compreender o comporta- mento de uma estrutura, imprescindível ao arquiteto. Uma vez captados os fundamentos, ele deve chegar a dominar os pontos úteis da teoria das estruturas. Isso lhe permitirá aplicar com inteligência uma grande quantidade de novas ideias e métodos. Essa liberdade de idéias e métodos, entretanto, apresenta o perigo evidente da anar- quia (limitações). Embora hoje seja possível construir praticamente qualquer estrutura, existem limitações provocadas por difi culdades técnicas e econômicas. O nosso livro tem a intenção de introduzir o estudante no campo das estruturas, sem recorrer ao conhecimento formal de Matemática e Física. Isso não quer dizer que trata- remos as estruturas de maneira elementar, incompleta ou simplifi cada. Os conceitos es- truturais apresentados deverão ser captados e reconhecidos em situações arquitetônicas, sobre uma base puramente intuitiva. O maior conhecimento do comportamento das es- truturas conduzirá o estudante interessado a uma melhor compreensão dos pontos mais delicados do projeto estrutural. 03 Clube do Professor Gaúcho Arquitetos: Moacyr Moojen Marques e João José Vallandro Porto Alegre - 1966 CONCEITUAÇÃO DAS ESTRUTURAS 03 Clube do Professor Gaúcho Arquitetos: Moacyr Moojen Marques e João José Vallandro Porto Alegre - 1966 CONCEITUAÇÃO DAS ESTRUTURAS 40 CONCEITUAÇÃO DAS ESTRUTURAS EQUAÇÕES DE EQUILÍBRIO DA MECÂNICA RACIONAL Consideremos um corpo submetido à ação de um sistema formado por “n” forças, conforme mostrado na Fig. 1. A resultante do sistema é uma força “R” e a sua ação é sentida em um ponto O do corpo. Em um ponto O1 que não seja pertencente ao suporte da resultante, o sistema das “n” forças aplicadas torna-se equivalente a uma força equipolente da resultante, aplicada no ponto, e um momento “M”, atuante no plano defi nido pelo suporte da resultante e pelo ponto conside- rado. Tanto a resultante “R”, deslocada para o ponto O1, como o momento “M” relativamente a esse, podem ser decompostos segundo o estado tridi- mensional, sendo X, Y e Z as componentes de “R” e Mx, My e Mz os mo- mentos componentes de “M”. Podemos considerar, também, que X é igual ao somatório das componentes, segundo a direção Ox, de todas as forças “F”, integrantes do sistema inicial. Procedendo analogamente para Y e Z e, ainda, para os momentos Mx, My e Mz, podemos escrever as seguintes expressões: X = Σxi = x1 + x2 + x3 + ... + xn Y = Σyi = y1 + y2+ y3 + ... + yn Z = Σzi = z1 + z2 + z3 + ... + zn n i = 1 n i = 1 n i = 1 Mx = Σmxi = mx1 + mx2 + mx3 + ... + mxn My = Σmyi = my1 + my2 + my3 + ... + myn Mz = Σmzi = mz1 + mz2 + mz3 + ... + mzn n i = 1 n i = 1 n i = 1 A condição de equilíbrio do corpo é satisfeita quando, para qualquer ponto dele, são nulos tanto a resultante do sistema de forças aplicadas, como o momento resultante relativamente ao ponto. Assim, torna-se ne- cessário que sejam satisfeitas as equações: 03 Clube do Professor Gaúcho Arquitetos: Moacyr Moojen Marques e João José Vallandro Porto Alegre - 1966 M R R F1 F2 F3 F4 Fn O O1 O O1 Fig. 1 | Corpo submetido à ação de um sistema de “n” forças 41 CONCEITUAÇÃO DAS ESTRUTURAS EQUAÇÕES DE EQUILÍBRIO DA MECÂNICA RACIONAL Consideremos um corpo submetido à ação de um sistema formado por “n” forças, conforme mostrado na Fig. 1. A resultante do sistema é uma força “R” e a sua ação é sentida em um ponto O do corpo. Em um ponto O1 que não seja pertencente ao suporte da resultante, o sistema das “n” forças aplicadas torna-se equivalente a uma força equipolente da resultante, aplicada no ponto, e um momento “M”, atuante no plano defi nido pelo suporte da resultante e pelo ponto conside- rado. Tanto a resultante “R”, deslocada para o ponto O1, como o momento “M” relativamente a esse, podem ser decompostos segundo o estado tridi- mensional, sendo X, Y e Z as componentes de “R” e Mx, My e Mz os mo- mentos componentes de “M”. Podemos considerar, também, que X é igual ao somatório das componentes, segundo a direção Ox, de todas as forças “F”, integrantes do sistema inicial. Procedendo analogamente para Y e Z e, ainda, para os momentos Mx, My e Mz, podemos escrever as seguintes expressões: X = Σxi = x1 + x2 + x3 + ... + xn Y = Σyi = y1 + y2+ y3 + ... + yn Z = Σzi = z1 + z2 + z3 + ... + zn n i = 1 n i = 1 n i = 1 Mx = Σmxi = mx1 + mx2 + mx3 + ... + mxn My = Σmyi = my1 + my2 + my3 + ... + myn Mz = Σmzi = mz1 + mz2 + mz3 + ... +mzn n i = 1 n i = 1 n i = 1 A condição de equilíbrio do corpo é satisfeita quando, para qualquer ponto dele, são nulos tanto a resultante do sistema de forças aplicadas, como o momento resultante relativamente ao ponto. Assim, torna-se ne- cessário que sejam satisfeitas as equações: 03 Clube do Professor Gaúcho Arquitetos: Moacyr Moojen Marques e João José Vallandro Porto Alegre - 1966 M R R F1 F2 F3 F4 Fn O O1 O O1 Fig. 1 | Corpo submetido à ação de um sistema de “n” forças 42 CONCEITUAÇÃO DAS ESTRUTURAS Σxi = 0 Σyi = 0 Σzi = 0 R = 0 N = 0 n i = 1 n i = 1 n i = 1 n i = 1 n i = 1 n i = 1 Σmxi = 0 Σmyi = 0 Σmzi = 0 I 2 3 4 5 6 Então, no caso tridimensional (caso mais geral), as equações de equi- líbrio da mecânica racional podem ser representadas por duas equações vetoriais ou por seis equações algébricas. O primeiro grupo exprime que a resultante geral do sistema é nula e, consequentemente, que a soma das projeções de todas as forças, sobre três eixos quaisquer, é nula (equações 1, 2 e 3). O segundo grupo exprime que o momento do sistema é nulo e, portanto, nulas são as somas dos momentos de todas as forças em relação a três eixos coordenados (equações 4, 5 e 6). Se todas as forças do sistema se situam num único plano (por exemplo, o plano xy), as equações 3, 4 e 5 perdem a razão de ser, pois cada força individualmente terá projeção nula sobre o eixo z e momentos nulos em relação aos eixos x e y, coplanares com a força. Os momentos em relação ao eixo z (únicos que subsistem) se confundem, portanto, com os momentos em relação à origem das coordenadas, que é um ponto arbitrário no plano das forças. Assim, as seis equações (três de forças e três de momentos) que constituem as equações de equilíbrio da mecânica racional reduzem-se a três: duas de projeção e uma de momento em relação a um ponto O1 qual- quer do plano, isto é: Σxi = 0 Σyi = 0 R = 0 N = 0 n i = 1 n i = 1 n i = 1 Σmzi = 0I 2 3 Sempre que for possível, os problemas relacionados ou que envolvem o cálculo estrutural deverão ser convertidos para o estado plano, também denominado duplo, facilitando sobremaneira a agilização do processo de solução. Mais ainda: se todas as forças, além de se situarem num único plano, convergirem num único ponto - que é o caso dos sistemas reticu- A y x F VB MB HA VA MA B HB Fig. 2 | Vínculos VA VA = 0 Fig. 3 | Vínculo de primeira ordem A VA HA = 0 HA VA = 0 Fig. 4 | Vínculo de segunda ordem 43ESTRUTURAS | uma abordagem arquitetônica lados (treliças de um modo geral, que podem ser planas ou espaciais) - as equações se reduzem a duas, pois, neste caso, o centro de redução O1 (ori- gem das coordenadas) pode ser tomado no próprio ponto de convergência, perdendo a equação 3 sua razão de ser, uma vez que cada força, individual- mente, terá momento nulo em relação ao ponto, ou seja, O1: Σxi = 0 Σyi = 0 R = 0 n i = 1 n i = 1 I 2 Isso signifi ca que, se isolarmos cada nó de um sistema reticulado plano, de modo a transparecerem os esforços nas suas barras, teremos um siste- ma de forças concorrentes num ponto único. Cada nó está, portanto, em equilíbrio sob a ação de um sistema de forças complanares e concorrentes. ESTRUTURA E CLASSIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS ESTRUTURAIS Peças ou elementos estruturais são todos os sólidos dotados de proprie- dades elásticas, capazes de receber e transmitir cargas. A associação de elementos estruturais convenientemente ligados constitui uma estrutura. Os elementos estruturais podem ser classifi cados em lineares, de super- fície e de volume. a • Elementos Lineares: São gerados por uma superfície plana na qual o baricentro percorre uma curva plana, ou reversa, cujo comprimento é consideravelmente maior que as dimensões da superfície. São exemplos a viga, o arco, a mola, o pilar, as árvores de transmissão (eixos), a escora, o tirante, o cabo, o pórtico, etc. b • Elementos de Superfície: Caracterizam-se por duas dimensões consideravelmente maiores que a terceira (espessura). São exemplos a viga-parede, a placa, a casca, a membrana, etc. c • Elementos de Volume: Nestes, as três dimensões são consideráveis e, em geral, as cargas são predominantemente compressivas. São exemplos os blocos de fundação, as sapatas, os blocos de coroamento (sobre estacas de fundação), etc. A VA HA = 0 HA VA = 0 MA = 0 F Fig. 5 | Vínculo de terceira ordem Hipostática internamente pela falta de barra hachurada A VA HA A B VA VB P P P A B VA VB Fig. 6 | Estruturas hipostáticas 44 CONCEITUAÇÃO DAS ESTRUTURAS APOIOS ESTRUTURAIS E CLASSES DE APOIO (VÍNCULOS) Uma estrutura constituída de peças componentes (colunas, vigas, lajes, etc.) é interligada por elementos de apoio, também denominados vínculos. Através deles, as cargas são transmitidas aos demais órgãos participan- tes da estrutura, podendo os apoios reagirem diferentemente às ações das forças e dos momentos aplicados. O vínculo ou apoio fi ca, então, caracte- rizado por reações as quais impedem ou restringem o deslocamento da seção de apoio da peça ou sua rotação, isto é, impedem ou restringem os deslocamentos lineares ou angulares. Para melhor entendimento das defi nições da classifi cação das classes de apoio, consideremos a estrutura formada por uma viga apoiada nas ex- tremidades (Fig. 2). A carga oblíqua F atuante na viga AB induz, nas seções de extremidade, forças e momentos que podem ou não ser transferidos aos apoios de sustentação da viga. Vínculo de Primeira Ordem É assim denominado porque oferece reação às forças aplicadas numa única direção, comumente a direção y. Signifi ca que não impede desloca- mentos lineares na direção x, nem angulares (ou rotações) decorrentes da aplicação de momentos no plano xy. É conhecido como apoio simples ou, ainda, charlot. Sua representação simbólica é dada na Fig.3. Vínculo de Segunda Ordem Oferece reações às forças N e Q, respectivamente, nas direções x e y; todavia, não reage aos momentos atuantes no plano xy. Impede desloca- mentos lineares; porém, não impede rotações. É comumente denominado de rótula. Sua representação simbólica é dada na Fig.4. Vínculo de Terceira Ordem Apresenta reações tanto às forças como aos momentos atuantes no pla- no xy. Consequentemente, impede deslocamentos lineares e rotações. Tem o nome de engaste, podendo, em tal caso, ser concebido por uma conexão A VA HA VB F Fig. 7 | Viga simplesmente apoiada VA HA F Fig. 8 | Viga em balanço ou Cantilever 45ESTRUTURAS | uma abordagem arquitetônica rígida, sendo denominado de vínculo perfeito. Restringe todos os movi- mentos do apoio. Sua representação simbólica é dada na Fig.5. GRAU DE ESTATICIDADE DAS ESTRUTURAS Como vimos, no estado duplo ou plano, a mecânica racional institui duas equações de equilíbrio para forças e somente uma para os momentos. Quando os apoios envolvidos nas estruturas possuem reações em número inferior, igual ou superior ao número de equações, diz-se que as estruturas são hipostáticas, isostáticas ou hiperestáticas, respectivamente. Veja- mos as respectivas defi nições e exemplos sobre cada caso. Estruturas Hipostáticas São aquelas em que o número de reações vinculares é inferior ao nú- mero de equações de equilíbrio, caracterizando o excesso de equações em relação ao número de reações (o número de vínculos é incapaz de manter o equilíbrio). Diz-se, então, que o sistema apresenta “n” soluções e, portanto, não serve como proposta de solução estrutural. Sistemas estruturais dessa espécie não devem ser utilizados como proposta estrutural nos projetosde Engenharia Estrutural. Quatro exemplos justifi cam essa categoria na Fig. 6. Estruturas Isostáticas São aquelas em que os apoios envolvidos possuem reações em número igual ao número de equações. Nesse caso, diz-se que as estruturas são isos- táticas ou determinadas, posto que, sendo as reações incógnitas a serem levantadas, é possível a formação de um sistema perfeitamente determi- nado, caracterizado por equações de forças e de momentos. Os elementos estruturais representados nas Fig. 7, 8 e 9 são casos típicos de estruturas isostáticas. P P P P 1 3 2 V1 V3 H3 Fig. 9 | Pórtico A VA HA MA F HB B VB Fig. 10 | Estrutura com dois graus de hiperestabilidade 46 CONCEITUAÇÃO DAS ESTRUTURAS Estruturas Hiperestáticas Quando o número de reações é superior ao número de equações de equilíbrio, tais estruturas são chamadas de hiperestáticas. O excesso das reações em relação às equações caracteriza o grau de hiperestaticidade. O levantamento da hiperestaticidade é possível mediante a utilização de re- lações especiais, condicionadas a deslocamentos ou deformações elásticas dos elementos estruturais, por princípios instituídos pela Resistência dos Materiais. As Fig. 10 e 11 são exemplos de estruturas hiperestáticas. Por exemplo (Fig. 12), se o problema contém cinco incógnitas e a está- tica fornece três equações, são necessárias duas equações complementares para suplementá-las (que podem ser duas equações de deslocamentos, uma de deslocamento e outra de deformação, ou as duas serem de deformações). ESTATICIDADE INTERIOR DOS RETICULADOS PLANOS (TRELIÇAS) O que foi abordado anteriormente está associado tão-somente à estati- cidade externa. O que vimos foi se a estrutura era externamente hipostá- tica, ou externamente isostática, ou externamente hiperestática. Nos reti- culados planos, a análise da estaticidade interna recairá sobre as treliças, de grande interesse nas aplicações da Engenharia Estrutural. Não será feita a apreciação das treliças no espaço tridimensional, pois o desenvolvimen- to prático do cálculo estrutural para as treliças desse tipo merece uma orientação teórica profunda e a utilização de processos computacionais apropriados, o que não é o objetivo, neste momento. Há, evidentemente, um problema preliminar de estática exterior que deve ser resolvido inicialmente, isto é, deve ser o ponto de partida, e este é um problema elementar que não pode oferecer a menor difi culdade, pois toda a abordagem anterior foi sobre aquele assunto. Assim, as fi guras apre- sentadas sequer fazem menção aos tipos de vínculos (apoios) externos das treliças apresentadas. Chamemos de “n” o número de nós de um reticulado, e de “b” o nú- mero de barras. O reticulado apresenta-se, portanto, interiormente, com “b” incógnitas, que são os esforços nas barras. Em cada nó, como vimos em item anterior, temos duas equações disponíveis. Nos “n” nós teremos, A VA HA MA MB F HB B VB Fig. 11 | Estrutura com três graus de hiperestabilidade HA F B VB A VA C VC D VD Fig. 12 | Viga contínua com dois hiperestáticos b = 17 (números de barras) 2n - 3 = (2x10) - 3 = 17 n = 10 (números de nós) 1 2 4 3 6 5 8 7 10 9II VI XI XIV IV IX XII XVI I III VII XV VIIIV X XIII XVII Fig. 13 | Determinação da estaticidade interna de um sistema reticulado 47ESTRUTURAS | uma abordagem arquitetônica então, 2n equações disponíveis. Como três delas devem ser usadas para a determinação das reações de apoio, restam-nos 2n-3 equações suscetíveis de serem utilizadas exclusivamente na determinação dos esforços nas bar- ras. Logo, a condução de estaticidade interior (isto é, a condição capaz de nos informar se um reticulado, com as reações de apoio já calculadas, pode ser resolvido unicamente com as equações da estática) é: b = 2n - 3 Se essa relação for observada, teremos um sistema de 2n - 3 equações, a “b = 2n - 3” incógnitas, que é, em geral, passível de solução unívoca, qualquer que seja o carregamento plano exterior. O reticulado é, então, interiormente isostático. Se b > 2n - 3, teremos mais incógnitas do que equações, e não pode ser resolvido exclusivamente com os recursos da es- tática. O reticulado é, então, interiormente hiperestático. Mede-se o grau de hiperestaticidade justamente pela diferença entre os dois membros: g = b - (2n - 3) = b - 2n + 3 Se, fi nalmente, b < 2n - 3, o equilíbrio só é possível mediante certas condições, e, neste caso, o reticulado é interiormente hipostático. CRÍTICA AO MÉTODO PARA A DETERMINAÇÃO DA ESTATICIDADE INTERIOR Não se pode aplicar a expressão estabelecida no item anterior com rigor absoluto. Diz-se que as expressões b = 2n - 3, b > 2n - 3 e b < 2n - 3, sob o ponto de vista matemático, são necessárias, mas não sufi cientes. De fato, a discussão dos sistemas de equações lineares nos ensina que um sistema de “n” equações a “n” incógnitas nem sempre tem solução. O sistema só é bem determinado quando seu determinante é diferente de zero. A discussão que fi zemos estabeleceu apenas a condição básica para que o número de equações (2n - 3) seja igual ao número de incógnitas (b). Pode acontecer, evidentemente, que a condição básica se verifi que sem que o reticulado seja isostático internamente. Observemos, por exemplo, o caso represen- tado pela Fig. 13. Sistema hiperestático Sistema deformável Sistema isostático Fig. 14 | Estaticidade de um sistema D C B A 1 2 4 3 5 II N I III Fig. 15 | Justaposição de triângulos Barra Supérflua Fig. 16 | Reticulado composto por triângulos 48 CONCEITUAÇÃO DAS ESTRUTURAS Se 2n - 3 = b; logo, estaríamos dizendo que o reticulado é isostático internamente, o que não é verdade. Um exame detido da questão nos mostra que ele é a combinação de um reticulado hiperestático com um isostático (Fig. 14). Em certos casos, como no exemplifi cado, é fácil reconhecer a priori que o sistema é apenas aparentemente isostático. Em algumas treliças complexas, entretanto, só o estudo circunstanciado do problema permite uma conclusão defi nitiva, que também não é o ob- jeto neste momento. No item seguinte, melhora-se o aspecto comprobatório da verifi ca- ção da estaticidade interna dos reticulados planos; porém ainda não em defi nitivo, já que ainda há as excepcionalidades (Adhemar Fonseca, 1967). DETERMINAÇÃO DE ESTATICIDADE INTERIOR PELO SISTEMA DE TRIÂNGULOS Se, partindo de um triângulo (que é a fi gura mais simples), construirmos um reticu- lado, de tal modo que cada novo ponto seja exclusivamente agregado ao conjunto por intermédio de duas barras somente, o sistema obtido será estaticamente determinado in- teriormente, de vez que as novas incógnitas introduzidas (esforços nas barras) encontram sempre, para sua determinação, as duas equações de equilíbrio referentes ao novo ponto agregado. A sequência de tal formação leva, em geral, a uma justaposição de triângulos (Fig. 15), sendo fácil estabelecer uma relação entre o número de vértices e de lados. Se, partindo da barra AB, quisermos agregar o nó C, devemos introduzir as barras 2 e 3. Formamos, assim, o triângulo I. Se agora quisermos agregar ao conjunto o nó D, devemos utilizar as barras 4 e 5, fi cando formado o triângulo II, e assim sucessivamente. Durante esta formação, observamos: triângulos I II III IV ... N vértices 3 3+1 3+2 3+3 ... 3+(N-1) lados 3 3+2x1 3+2x2 3+2x3 ... 3+2(N-1) Número de 49ESTRUTURAS | uma abordagem arquitetônica Chamando, então, de “n” o número de nós (ou vértices), e de “b” o número de barras (ou lados), teremos: n = 3 + (N - 1) e b = 3 + 2(N-1), onde N - 1 = n - 3 e b = 3 + 2(n - 3) = 2n - 3; logo, b = 2n - 3, que é a relação
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