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www.cers.com.br NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL O novo Código de Processo Civil Mauricio Cunha 1 PETIÇÃO INICIAL O princípio da inércia da jurisdição impede que o juiz inicie um processo de ofício, devendo aguardar a manifestação da parte interessada, sendo extremamente excepcional a exceção a essa regra. A forma de materializar o interesse em buscar a tutela jurisdicional é a petição inicial, conceituada pela doutrina como peça escrita no vernáculo e assinada por patrono devidamente constituído em que o autor formula demanda que virá a ser apreciada pelo juiz, na busca de um provimento final que lhe conceda a tutela jurisdicional pretendida. A petição inicial tem duas funções: 1) provocar a instauração do processo 2) identificar a demanda, decorrência natural da necessidade de menção às partes, causa de pedir e pedido. Essa segunda característica da petição inicial – indicar os elementos da ação – gera alguns efeitos processuais: a) permite a aplicação do princípio da congruência, indicando os limites objetivos e subjetivos da sentença; b) permite a verificação de eventual litispendência, coisa julgada ou conexão, quando comparada com outras ações; c) fornece elementos para fixação da competência; d) indica desde logo ao juiz a eventual ausência de alguma das condições da ação; e) pode vir a influenciar na determinação do procedimento. Por tratar-se da peça que inicia o processo, permitindo o seguimento do procedimento mediante a citação do réu, e gerando todos os efeitos referidos, a lei processual exige que tal peça preencha alguns requisitos formais, o que torna a petição inicial um ato processual solene. A ausência de quaisquer deles pode gerar uma nulidade sanável ou insanável, sendo, na primeira hipótese, caso de emenda da petição inicial e, na segunda, de indeferimento liminar de tal peça. REQUISITOS ESTRUTURAIS DA PETIÇÃO INICIAL Os requisitos estruturais da petição inicial estão, primordialmente, elencados no art. 282, CPC, conforme a seguir. Além desse dispositivo, o art. 39, I, CPC, indica outro requisito estrutural, qual seja, o endereço do patrono que a subscreve. Nesse tocante, cumpre esclarecer que a indicação em papel timbrado, nota de rodapé, ou na procuração, cumpre perfeitamente a exigência formal. Nas excepcionais hipóteses de dispensa de advogado, logicamente, esse requisito é dispensado. 1)Juízo singular ou colegiado a que é dirigida a petição inicial O primeiro requisito previsto no art. 282, CPC, e que constará no topo da primeira página da petição inicial, é o “juiz ou tribunal” a que esta é dirigida. Sendo a primeira peça do processo, necessária é a indicação do juízo que a receberá nesse primeiro momento procedimental. A indicação do destinatário da petição é necessária para a remessa da petição inicial e formação dos autos perante o órgão pretensamente competente para o conhecimento da demanda. A indicação jamais será pessoal, mesmo quando a petição inicial for “distribuída por dependência”, ou ainda em comarca de vara única com somente um juiz, exigindo-se a indicação do juízo, e não do juiz (consequência do caráter impessoal do Poder Judiciário). Dessa forma, ainda que seja possível identificar o juiz que receberá a demanda, não será ele indicado no endereçamento, e sim o juízo que representa. Mesmo sabendo-se que será exatamente aquele juiz específico que receberá a petição inicial distribuída por dependência, não é correta a indicação pessoal do juiz. Apesar de incorreto do ponto de vista técnico, a indicação pessoal do juiz, desde que acompanhada da indicação do juízo, caracteriza mera irregularidade. 2) Indicação das partes e sua qualificação Deve constar da petição inicial a qualificação das partes, com indicação de nome completo, estado civil, profissão, domicílio e residência. Tais elementos identificadores se prestam a duas funções principais: permitir a citação do réu e a individualização dos sujeitos processuais parciais, o que se mostrará importante para distingui-los de outros sujeitos e fixar com precisão os limites subjetivos da www.cers.com.br NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL O novo Código de Processo Civil Mauricio Cunha 2 demanda e da futura e eventual coisa julgada material. Diante das razões justificadoras para a indicação de tais dados, o que importa na análise do preenchimento do requisito é se a irregularidade ou mesmo a ausência de algum deles gera alguma espécie de prejuízo ao réu ou ao processo. Sem a comprovação de efetivo prejuízo, não haverá nulidade, aplicando-se ao caso o princípio da instrumentalidade das formas. A indevida troca de um nome por outro é mera irregularidade, podendo ser corrigida a qualquer tempo, se o verdadeiro réu recebe a citação e contesta regularmente a demanda. O mesmo ocorre com os dados pessoais do réu, que nem sempre serão de amplo conhecimento do autor. Caso o autor tenha conhecimento de dados adicionais que possam auxiliar na localização e individualização do réu, deve levar tais informações ao conhecimento do juízo na petição inicial. A indicação de número de RG, CPF e CNPJ é prática comum e bem aceita na prática forense. Pode-se ainda imaginar a indicação de locais onde a pessoa possa ser encontrada, como o local em que comumente desfruta seus momentos de lazer (bar, restaurante, clube social etc.) ou ainda em que exerça função ou profissão (escritório, consultório, empresa etc.). Outra circunstância possível é a indicação do apelido do réu, ou seja, a forma como ele é conhecido na sociedade à qual pertence, o que poderá auxiliar o oficial de justiça a localizá-lo. O trabalho do patrono do autor nem sempre é fácil na indicação dos requisitos previstos pelo art. 282, II, CPC, considerando-se que nem sempre saberá com exatidão todos os dados do réu demandados pela lei. A indicação de informações não previstas em lei pode ser de extrema utilidade, ao menos para permitir que a citação seja realizada, restando ao próprio réu, em sua contestação ou qualquer outra espécie de resposta, regularizar sua qualificação, com a indicação de dados que faltaram à petição inicial por desconhecimento do autor. A indicação do estado civil das partes é importante em razão de normas processuais que exigem a presença de ambos os cônjuges em determinadas ações (art.10, §§ 1º e 2º, CPC – ações reais imobiliárias), ou ainda o consentimento do cônjuge não litigante. Esse pressuposto processual poderá ser analisado à luz da petição inicial quando houver a exata indicação do estado civil das partes. Há uma interessante exceção à regra prevista pelo inciso ora em comento, qual seja o litisconsórcio passivo multitudinário, que exige do autor a colocação no polo passivo da demanda de número considerável de pessoas (uma verdadeira multidão). Tomem-se como exemplo clássico as ações possessórias decorrentes de esbulho por grupos de pessoas. Nessas situações, sem conseguir responsabilizar o “órgão” ou “entidade” à qual pertencem os invasores – já que esses maliciosamente evitam se constituir em pessoas jurídicas – seria nítida ofensa ao princípio do acesso à justiça exigir do autor a perfeita identificação e qualificação de cada um dos réus, ou ainda a indicação de suas profissões e residências. A solução é permitir a indicação de algumas pessoas que o autor consiga identificar ou ainda do líder do movimento, se identificável, em nítida mitigação do dispositivo legal. Por fim, ainda que se reconheça a existência de dificuldades na indicação de todos os dados exigidos pela lei quanto ao réu, o mesmo não ocorre relativamente ao autor, dado que este é o sujeito responsável pela contratação do patronoque elabora a petição inicial. Somente um desconhecimento considerável da lei ou a má-fé em omitir determinado dado podem explicar uma qualificação deficitária do autor, não se devendo admitir que a demanda prossiga com tal irregularidade. Será caso de emenda da petição inicial em 10 dias (art. 284, CPC), seguida de indeferimento (art. 295, VI, CPC) se o vício não for sanado. 3) Os fatos e os fundamentos jurídicos do pedido Apesar de o art. 282, III, CPC, indicar como requisito da petição inicial “o fato” no singular, e os “fundamentos jurídicos do pedido” no plural, é pacífico o entendimento que a petição inicial pode perfeitamente ter um ou mais fatos e um ou mais fundamentos jurídicos. Trata-se da apresentação fática – causa de pedir próxima – e das consequências jurídicas que o autor pretende que tais fatos tenham no caso concreto – causa de pedir remota. Considerando que dos fatos nasce o direito, cumpre ao autor narrá-los e demonstrar a www.cers.com.br NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL O novo Código de Processo Civil Mauricio Cunha 3 razão jurídica para que, em decorrência desses fatos, seja merecedor da tutela jurisdicional pretendida. Registre-se que a exigência da narrativa dos fatos constitutivos do direito do autor já em sua petição inicial se limita aos fatos jurídicos, também chamados de fato principais. Ainda que seja recomendável a narrativa também dos fatos simples, também chamados de fatos secundários, estes não fazem parte da causa de pedir, de forma que podem ser levados ao processo depois do momento inicial de propositura da demanda. 4) Pedido O Poder Judiciário não pode servir como mero órgão consultivo, devendo sempre ser chamado à atuação para entregar ao autor o que este pretender receber. Dessa forma, é requisito essencial da petição inicial a indicação de sua pretensão jurisdicional. O pedido pode ser analisado sob a ótica processual, conhecido como pedido imediato, representando a providência jurisdicional pretendida – condenação, constituição, mera declaração – e sob a ótica material, conhecido como pedido mediato, representado pelo bem da vida perseguido, ou seja, o resultado prático (vantagem no mundo prático) que o autor pretende obter com a demanda judicial. Enquanto o autor pode pleitear diversas tutelas jurisdicionais diferentes e incalculáveis bens da vida, o réu, ao contestar a pretensão do autor, fará sempre o mesmo pedido: sentença de improcedência (sentença declaratória da inexistência do direito material alegado pelo autor). Em razão dessa circunstância se justifica que a sentença – desde que de improcedência e em demanda que não seja declaratória – possa ser de natureza diversa da natureza da demanda, fixada pelo pedido imediato do autor. 5) Valor da causa O art. 258, CPC, estabelece que “a toda causa será atribuído um valor certo, ainda que não tenha conteúdo econômico imediato”. Desse modo, ainda que o bem material objeto da pretensão do autor não tenha um valor economicamente aferível, é necessária a indicação de valor à causa, ainda que seja calculada de forma meramente estimativa. A exigência de atribuição ao valor da causa decorre de diversos reflexos que esse requisito gera sobre o processo: a)determinação de competência do juízo segundo as leis de organização judiciária, como a fixação de competência dos “Foros Regionais”; b)definição do rito procedimental (ordinário, sumário, sumaríssimo); c) recolhimento das taxas judiciárias; d) fixação do valor para fins de aplicação de multas, no caso de deslealdade ou má-fé processual (art. 14 – ato atentatório à dignidade da jurisdição; art. 17 – litigância de má-fé; art. 538, p.único – embargos meramente protelatórios, todos do CPC); e) fixação do depósito prévio na ação rescisória no valor correspondente a 5% do valor da causa (do processo originário – art. 488, II, CPC); f) nos inventários e partilhas o valor da causa influi sobre a adoção do rito de arrolamento; g) honorários advocatícios também poderão ser fixados à luz do valor da causa. A lei pode expressamente prever uma regra específica a respeito do valor da causa de determinadas ações judiciais, sendo nesse caso afirmado que existe um critério legal ao valor da causa. O art. 259, CPC, indica as regras específicas para o cálculo do valor da causa: I) na ação de cobrança de dívida, a soma do principal, da pena e dos juros vencidos até a propositura da ação, podendo os juros ser convencionais ou legais; moratórios ou compensatórios; II) havendo cumulação de pedidos, a quantia correspondente à soma dos valores de todos eles; III) sendo alternativos os pedidos, o de maior valor; IV) se houver também pedido subsidiário, o valor do pedido principal; V) quando o litígio tiver por objeto a existência, validade, cumprimento, modificação ou rescisão de negócio jurídico, o valor do contrato, sendo admitido valor inferior a esse (valor do benefício econômico) quando a demanda não tiver como objeto o contrato integralmente, mas apenas uma ou algumas cláusulas; VI) na ação de alimentos, a soma de 12 prestações mensais, pedidas pelo autor; VII) na ação de divisão, de demarcação e de reivindicação, a estimativa oficial para lançamento do imposto. www.cers.com.br NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL O novo Código de Processo Civil Mauricio Cunha 4 Não sendo hipótese de aplicação do critério legal caberá ao autor descobrir o valor referente à vantagem econômica que se busca com a demanda judicial. Basta verificar o valor econômico do bem da vida material perseguido e indica-lo como valor da causa. Não tendo o bem da vida valor econômico ou sendo esse valor inestimável, caberá ao autor dar qualquer valor à causa, sendo nesse caso comum a utilização na praxe forense da expressão “meramente para fins fiscais”. Registre-se que, havendo cumulação de pedidos, sempre que o valor da causa para um deles for regido pelo critério legal ou tiver valor economicamente aferível e para o outro for causa de valor da causa meramente estimativo, o valor da causa da ação será tão somente o do primeiro pedido. A indicação de qualquer valor à causa só se justifica quando não há alternativa para o autor, o que não será o caso na situação exposta. 6) Provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados Caso os operadores do direito levassem a regra prevista no art. 282, VI, CPC, mais a sério, as petições iniciais viriam, a exemplo do que ocorre no procedimento sumário, com a devida especificação de provas (assim, por exemplo, o autor já indicaria quais as testemunhas que pretende ouvir ou ainda os quesitos de perícia requerida). Acontece, entretanto, que atualmente o dispositivo legal não encontra tal aplicação, bastando ao autor a indicação genérica de todos os meios de prova em direito admitidos, para que o requisito seja considerado preenchido. Tal prática, já arraigada em nossa praxe forense, enseja ao juiz, na fase de saneamento do processo, a prolação de despacho para que as partes especifiquem as provas que pretendem produzir, indicando e justificando os meios de prova requeridos. É medida tomada pelos juízes justamente em decorrência da generalidade do protesto realizado na petição inicial, sendo bastante improvável – para não dizer impossível – que a parte no momento em que é instada a especificar provas requeira todos os meios de prova admitidos. Há doutrina que entende ser completamente inútil a exigência legal, afirmando não se poder entender que a ausência de requerimento de provas na petição inicial gere preclusão para o autor. Nesse entendimento, mesmo não tendo feito pedido de provas na petição inicial,a partir do momento em que o juiz intima as partes para a especificação de provas, poderá o autor livremente as requerer. O mesmo raciocínio seria aplicado ao réu quanto à exigência de requerer a produção de provas em contestação (art. 300, CPC). O STJ entende que, mesmo tendo sido realizado o pedido genérico na petição inicial (autor) ou contestação (réu), haverá preclusão da prova na hipótese de a parte não reiterar sua vontade de produzi-las no momento em que for intimada para especificá-las. Ainda que se entenda correto o entendimento que aponta a exigência do art. 282, V, CPC, uma “ridícula inutilidade”, entendo ser interessante o requerimento genérico na petição inicial (bem como na contestação), não para evitar a preclusão, mas para permitir a alegação de cerceamento de defesa na hipótese de julgamento antecipado da lide. Em minha visão, o autor que deixa de pedir provas em sua petição inicial permite ao juiz um julgamento antecipado da lide, sem que possa em grau de recurso alegar cerceamento de defesa, visto que nada requerendo em termos de produção de prova permite ao juiz o julgamento imediato, sem a necessidade de produção de provas. 7) Requerimento para citação do réu A última exigência do art. 282, CPC, é o requerimento de citação do réu. Parece que a única utilidade de tal requisito é a do autor indicar a forma pela qual pretende que ocorra a citação, sempre que lhe for possível a escolha, segundo os termos do art. 222, CPC. Ademais, seria importante tal indicação quando o autor optasse, desde já, pela citação editalícia, respondendo, no caso de opção temerária, nos termos do art. 233, CPC. Fora da indicação da forma de citação, o requisito se mostra, no mínimo, uma obviedade, considerando que naturalmente o juiz procederá à citação no caso de entender que a petição inicial preenche os requisitos mínimos formais exigidos pela lei e não é caso de aplicação do art. 285-A, CPC. A ausência de pedido expresso de citação não impede que esta ocorra, em pronunciamento oficioso do juiz, não podendo o réu alegar em contestação inépcia da petição inicial se a citação, embora www.cers.com.br NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL O novo Código de Processo Civil Mauricio Cunha 5 não requerida expressamente pelo autor, tenha sido regularmente realizada. DOCUMENTOS INDISPENSÁVEIS À PROPOSITURA DA DEMANDA Determina o art. 283, CPC, que a petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da demanda. A ausência de tais documentos enseja a possibilidade de emenda da petição inicial, considerando-se que o vício gerado pela não juntada de tais documentos é sanável. Não ocorrendo a emenda com a juntada dos documentos indispensáveis à propositura da demanda, a petição inicial será indeferida (art. 295, VI, CPC). Caso o juiz só perceba a ausência de tais documentos após a citação do réu, não mais se admitirá o indeferimento da petição inicial, que deve ocorrer sempre liminarmente, mas diante da resistência do autor em não juntar aos autos tais documentos, o processo deve ser extinto sem resolução de mérito por falta de pressuposto processual (art. 267, IV, CPC). Documentos indispensáveis à propositura da demanda são aqueles cuja ausência impede o julgamento de mérito da demanda, não se confundindo com documentos indispensáveis à vitória do autor, ou seja, ao julgamento de procedência de seu pedido. Esses são considerados documentos úteis ao autor no objetivo do acolhimento de sua pretensão, mas, não sendo indispensáveis à propositura da demanda, não impedem a continuidade da demanda, tampouco a sua extinção com resolução do mérito. Numa demanda de divórcio, a certidão de casamento é um documento indispensável à propositura da demanda, porque sem esse documento é impossível o julgamento de mérito, o mesmo não se podendo dizer de um documento que comprove o adultério do cônjuge, que pode ser importante a parte que o apresente em juízo, mas cuja ausência não impedirá o julgamento de mérito da demanda. Registre-se que o STJ permite o ingresso de ação revisional de contrato mesmo que o autor não apresente com a petição inicial uma cópia do contrato que se busca rever. É interessante porque, na sociedade massificada em que vivemos, com ampla presença dos contratos de adesão, é possível a elaboração de uma petição inicial nesse tipo de ação sem a necessidade de sua instrução com cópia do contrato celebrado entre as partes. Diante dessa nova realidade, o STJ entende pela viabilidade do pedido de exibição do contrato, ao invés de ser elaborado por meio de ação cautelar precedente de exibição de documento, seja elaborado incidentalmente, ainda que continue a acreditar ser o contrato documento indispensável à propositura da ação (Informativo 413/STJ: 3ª Turma, REsp 896.435/PR, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 27.10.2009). POSTURAS DO JUIZ DIANTE DA PETIÇÃO INICIAL O processo se inicia com a petição inicial. Autuado e registrado os autos são encaminhados ao juiz. O juiz deve conhecer de ofício a incompetência absoluta, determinado a remessa dos autos ao órgão competente. O juiz ainda pode: a)determinar a emenda da petição inicial (art. 284, CPC – arts. 282 e 283); b) indeferir a petição inicial (art. 295, CPC); Hipóteses: 1. inépcia da petição inicial (art. 282, III e IV – art. 460, CPC) 2. manifesta ilegitimidade de parte (art. 295, II, CPC) 3. falta de interesse de agir 4. prescrição e decadência (art. 295, IV, CPC) 5. procedimento inadequado (art. 295, V, CPC) 6. ausência de indicação do nome do patrono do autor e não realização de emenda (art. 295, VI, CPC) c) julgamento de improcedência liminar; d)citação. EMENDA DA PETIÇÃO INICIAL Em razão do caráter instrumentalista que norteia o processo civil moderno, a emenda ou complementação da petição inicial prevista no art. 284, CPC, ganha espaço. Sempre que for possível a escolha entre a emenda e indeferimento, o juiz deve optar pelo primeiro caminho, reservando-se o indeferimento para www.cers.com.br NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL O novo Código de Processo Civil Mauricio Cunha 6 situações impossíveis de serem corrigidas ou saneadas. O STJ entende que a emenda da inicial é direito do autor, não podendo o juiz indeferir a petição inicial antes de oportunizar ao autor seu saneamento, sempre que isso se mostrar possível. De acordo com o art. 284, CPC, sempre que a petição inicial deixar de preencher os requisitos dos arts. 282 e 283, CPC, ou, ainda, apresentar defeitos ou irregularidades capazes de dificultar o julgamento do mérito, o juiz concederá o prazo de 10 dias para que o autor emende a inicial. O juiz poderá ampliar esse prazo quando entendê-lo exíguo para o saneamento exigido. Na hipótese de ausência de indicação do endereço do patrono, o prazo para a emenda será, excepcionalmente, de 48 horas (art. 39, p. único, CPC). A decisão que determina a emenda da inicial (decisão interlocutória agravável por instrumento) deve ser, como qualquer decisão, devidamente motivada. O juiz deve indicar precisamente o vício que entende presente na inicial, justificando seu entendimento. A omissão em indicar e justificar o vício deve ser afastada com a interposição de embargos de declaração. O STJ entende esse posicionamento do juiz como mero despacho, posicionando-se pela irrecorribilidade, o que Daniel Assumpção reputa equivocado. Tanto a doutrina quanto a jurisprudência entendem pela possibilidade de emendas sucessivas, abrindo-se mais de uma oportunidade para a emenda da inicial. Se a emenda se der de forma incompleta, também à luz do princípio da instrumentalidade dasformas, é possível abertura de novo prazo para que complemente a primeira emenda. O limite das emendas sucessivas deve ser apreciado no caso concreto, não se podendo eternizar o início de um processo com sucessivas determinações de emendas cumpridas de forma falha. A possibilidade de emendas sucessivas deve ser analisada ainda à luz do disposto no art. 284, CPC, ou seja, se o juiz determinar a emenda e o autor não agir positivamente, o único caminho viável ao juiz é o indeferimento da petição inicial. Se o autor não emendar a inicial, o juiz não poderá dar andamento à demanda, visto que no caso concreto se operou a preclusão pro iudicato. O STJ admite a emenda a destempo, em razão da possibilidade de dilação dos 10 dias, mas nunca a continuidade da demanda sem saneamento do vício. A emenda da petição inicial, por mais interessante que seja a sobrevivência do processo, não poderá ser determinada na hipótese de outras posturas já terem sido tomadas. No caso de indeferimento da inicial ou julgamento liminar de improcedência (art. 285- A, CPC), será impossível a determinação da emenda da inicial por obstáculo material intransponível: extinção do processo. Mas, mesmo o processo não sendo extinto, o que ocorrerá com a determinação de citação do réu, já não mais será possível a emenda da inicial, operando-se a preclusão lógica para o juiz. ADITAR – diz respeito ao fato de acrescentar mais pedido e/ou mais causa de pedir, mantendo-se incólumes o pedido e a causa de pedir originariamente indicados (art. 294, CPC). MODIFICAR – equivale a alterar o pedido e/ou a causa de pedir, de uma maneira tal que o pedido e/ou a causa de pedir originários passam a ser outros (art. 264, CPC). EMENDAR – aqui, o objetivo é o de retirar incorreção da inicial, uma vez que o sistema impõe que, ao propor uma demanda, atenda a certas exigências formais. Caso não sejam satisfeitas tais exigências ou sejam realizadas de modo equivocado, a petição inicial deverá ser emendada (art. 284, CPC). COMPLETAR – completar significa que algo não está inteiro, é suprir uma falta, preencher uma lacuna da petição inicial. Difere de emendar, vez que a emenda se faz necessária não para preencher uma lacuna, mas para corrigir uma imperfeição cometida. INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL Nas hipóteses em que o juiz se deparar com vícios insanáveis, de nada adiantará abrir www.cers.com.br NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL O novo Código de Processo Civil Mauricio Cunha 7 prazo de 10 dias ao autor para emendar a petição inicial, considerando-se que o autor não será capaz de sanar a irregularidade ou vício constatado no caso concreto. Nestes casos não restará alternativa ao juiz senão o indeferimento liminar da petição inicial, nos termos do art. 295, CPC. Também deverá indeferir a inicial quando a emenda ou sucessão delas não tiver sido apta a sanar a irregularidade ou vício, ou nos casos de omissão do autor em realizar a emenda no prazo de 10 dias (art. 295, VI, CPC). Existe indeferimento total ou parcial da inicial. No caso de indeferimento parcial, mesmo que tenha a decisão matéria de mérito como objeto, a doutrina majoritária entende tratar-se de decisão interlocutória recorrível por agravo de instrumento. No caso de indeferimento total, o pronunciamento será uma sentença, recorrível por apelação. Havendo indeferimento da inicial no Tribunal (em casos de competência originária) o recurso cabível dependerá de quantos julgadores participaram do julgamento. Sendo o julgamento monocrático (em aplicação extensiva do art. 557, CPC), caberá agravo interno para órgão colegiado (art. 10, §1º, Lei 12.016/2009). Tratando-se de decisão colegiada, caberá recurso especial, recurso extraordinário ou ainda embargos infringentes, dependendo do caso. Tanto em primeiro grau como no Tribunal, só haverá indeferimento da inicial antes da citação do réu. Se o réu já foi integrado no processo, ainda que o juiz acolha uma das causas previstas no art. 295, CPC, não será o caso de indeferimento da inicial, sendo simplesmente o processo extinto sem resolução do mérito por ausência de condição da ação ou de pressupostos processuais positivos (ou negativos). Como regra, o juiz só pode modificar sua sentença nos casos de erros materiais ou de cálculo (de ofício) ou quando houver omissão, obscuridade ou contradição (embargos de declaração). Sendo, entretanto, uma sentença de indeferimento da inicial, o art. 296, CPC, prevê a possibilidade do juiz, diante da apelação do autor, se retratar em 48 horas (prazo impróprio). A primeira condição para a retratação é a interposição de apelação. Sabendo-se que o juiz de primeiro grau é responsável pelo juízo de admissibilidade desse recurso, para que possa se retratar deve antes receber o recurso, ou seja, deve entender que o recurso preenche todos os requisitos de admissibilidade. Não há nenhuma necessidade de o apelante pedir expressamente a retratação, bastando que a apelação seja recebida. O réu não é intimado para participar do julgamento desse recurso, que constará exclusivamente com a participação do autor. No caso de provimento e retorno dos autos ao primeiro grau para continuação do procedimento, o réu, uma vez citado, poderá alegar a mesma matéria que já foi objeto de apelação, levando-se em consideração que, por não ter participado do julgamento, não pode sofrer seus efeitos, o que afrontaria o princípio da ampla defesa e do contraditório. Hipóteses de indeferimento da petição inicial (art. 295, p. único, CPC): 1. Inépcia da petição inicial A petição será considerada inepta quando: - faltar o pedido ou causa de pedir; - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; - o pedido for juridicamente impossível; - os pedidos forem incompatíveis entre si. O pedido e a causa de pedir compõem os elementos que identificam a ação, sendo exigência expressa do art. 282, III e IV, a narração na inicial da causa de pedir e do pedido. A importância dessa descrição na inicial deriva da necessidade de fixação dos limites objetivos da ação e da pretensão do autor, sem o que o réu não poderá exercer ativamente seu direito de defesa. O julgamento do juiz também restará prejudicado caso o autor não indique tais elementos, não se podendo respeitar o art. 460, CPC. Eventual incompatibilidade lógica entre os argumentos e a conclusão também gera o indeferimento da inicial. Não pode, por exemplo, narrar fatos e fundamentos jurídicos típicos da anulação de casamento – ser parte um enfermo mental sem discernimento para os atos da vida civil – e concluir requerendo o divórcio. www.cers.com.br NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL O novo Código de Processo Civil Mauricio Cunha 8 O pedido juridicamente possível é uma das condições da ação e não estando presente acarretará o indeferimento da inicial. Pedido juridicamente impossível é o vedado pelo ordenamento jurídico, não podendo, por expressa previsão legal, ser concedido pelo juiz. Por fim, a petição inicial não poderá conter pedidos incompatíveis. É preciso atenção para essa causa de inépcia da petição inicial, considerando-se que nem toda espécie de cumulação exige a compatibilidade dos pedidos. Havendo cumulação imprópria (em sentido geral), ou seja, cumulação subsidiária ou cumulação alternativa, não há problema em coexistirem pedidos incompatíveis. Se o juiz somente pode conceder um entre os pedidos cumulados, estes podem ser incompatíveis, não havendo nenhuma razão para o indeferimento da petição indeferimento da petição inicial na cumulação própria-simples e sucessiva, sendo que numa visão mais instrumentalistado processo seria caso de emenda da inicial, permitindo-se que o autor escolha entre os pedidos originalmente formulados. 2. Manifesta ilegitimidade de parte Menciona o art. 295, II, CPC, que a parte deve ser “manifestamente ilegítima”, levando a crer que a mera ilegitimidade não seria o suficiente para o indeferimento. É claro que, se o juiz, ao analisar a petição inicial, se convencer da ilegitimidade de uma das partes – ou mesmo de ambas -, deverá indeferir a inicial. 3. Falta de interesse de agir Ausência de interesse processual. 4. Prescrição e decadência O art. 295, IV, CPC, cria hipótese de indeferimento da petição inicial que contém uma especialidade que a diferencia de forma bastante clara das outras formas de indeferimento. Como expressamente previsto no art. 269, IV, CPC, a sentença que reconhece prescrição e decadência é sentença de mérito, geradora da coisa julgada material. É interessante a situação em que o réu, apesar de nem ter sido integrado ao processo – não houve citação - , se beneficia de uma sentença definitiva. Como não participar do processo, o réu deverá ser intimado do resultado do mesmo, tomando ciência da coisa julgada material que o favorece, podendo utilizar tal alegação no caso de o autor repetir a propositura da mesma demanda (art. 219, §6º, CPC). O art. 219, §5º, CPC, passar a permitir ao juiz o conhecimento de ofício da prescrição independentemente dos sujeitos processuais ou do direito material tutelado, o que proporciona uma amplitude significativa de casos de indeferimento da petição inicial. A doutrina processual não gostou da novidade legislativa, lembrando que essa atuação oficiosa do juiz impede que o réu renuncie à prescrição, direito material expressamente previsto no art. 191, CC. O interesse do réu em renunciar a prescrição pode ser moral, ao preferir uma sentença de improcedência que o declare não ser devedor, ou econômico, considerando que o art. 940, CC, prevê o direito a cobrar em dobro aquele que demanda por dívida já paga ou o valor cobrado do que demanda valor superior ao da dívida, salvo se houver prescrição. Apesar da resistência, a jurisprudência vem admitindo o indeferimento com base na literalidade da lei. 5. Procedimento adequado O art. 295, V, CPC, aponta como causa de indeferimento a inicial o procedimento inadequado escolhido pelo autor. Embora se trate de causa de indeferimento, o próprio artigo prevê que este só ocorrerá se não for possível a adequação ao procedimento adequado. Assim, sempre que for possível a adaptação, essa oportunidade deve ser dada ao autor, através de emenda à inicial. Seria também possível a conversão de processos e não só de procedimentos ? A doutrina majoritária e o STJ não admitem a conversão de um processo em outro, mas Daniel Assumpção tem entendimento diverso, entendendo que o juiz não pode modificar de ofício, mas não há nenhum inconveniente prático ou jurídico a impedir que o juiz determine ao autor a emenda da petição inicial para que providencie a adequação do processo às exigências do caso concreto. 6. Ausência de indicação do nome do patrono do autor e não realização de emenda Por fim, o art. 295, VI, CPC, prevê que a inicial será indeferida quando não atendidas as www.cers.com.br NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL O novo Código de Processo Civil Mauricio Cunha 9 prescrições dos arts. 39, p. único, e 284, CPC. Se não indicados o nome e endereço do patrono do autor e a irregularidade não for sanada quando dada a oportunidade de emenda, a inicial será indeferida. Julgamento de improcedência liminar Lei nº 11.277/2006 Rejeição liminar pedido com enfrentamento do direito material alegado pelo autor (art. 285-A, CPC). Objetivo: encerrar demandas repetitivas, típicas da sociedade de massa em que vivemos. O art. 285-A, CPC, foi objeto da ADIn 3.695/DF proposta pela OAB, intervindo como amicus curiae o IBDP, em peça subscrita por Cassio Scarpinella Bueno, opinando pela constitucionalidade do dispositivo legal. Requisitos para julgamento de improcedência liminar: - matéria controvertida unicamente de direito; - já houver no juízo sido proferida sentença de total improcedência em casos idênticos. Como o disposto fala de “matéria controvertida” não está excluída sua aplicação quando houver matéria de fato. “Casos idênticos” – entendem-se similares, afinal não há casos idênticos. É possível julgamento imparcial de improcedência liminar? Não. A razão de ser da norma é celeridade e economia processual, o que não seria atingido se o processo prosseguir. ENUNCIADOS DOS FÓRUNS PERMANENTES DE PROCESSUALISTAS CIVIS 283. (art. 319, §1º; art. 320; art. 396) Aplicam- se os arts. 319, §1º, 396 a 404 também quando o autor não dispuser de documentos indispensáveis à propositura da ação (Grupo: Petição inicial, resposta do réu e saneamento). 285. (art. 322, §2º) A interpretação do pedido e dos atos postulatórios em geral deve levar em consideração a vontade da parte, aplicando-se o art. 112 do Código Civil. (Grupo: Petição inicial, resposta do réu e saneamento). 287. (art. 326) O pedido subsidiário somente pode ser apreciado se o juiz não puder examinar ou expressamente rejeitar o principal. (Grupo: Petição inicial, resposta do réu e saneamento). 288. (art. 326) Quando acolhido o pedido subsidiário, o autor tem interesse de recorrer em relação ao principal. (Grupo: Petição inicial, resposta do réu e saneamento). 292. (arts. 330 e 321; art. 4º) Antes de indeferir a petição inicial, o juiz deve aplicar o disposto no art. 321. (Grupo Sentença, Coisa Julgada e Ação Rescisória). 293. (art. 331; art. 332, § 3º; art.1.010, § 3º) Se considerar intempestiva a apelação contra sentença que indefere a petição inicial ou julga liminarmente improcedente o pedido, não pode o juízo a quo retratar-se. (Grupo: Petição inicial, resposta do réu e saneamento). TEXTO CORRESPONDENTE NO NOVO CPC PARTE ESPECIAL LIVRO I DO PROCESSO DE CONHECIMENTO E DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA TÍTULO I DO PROCEDIMENTO COMUM CAPÍTULO II DA PETIÇÃO INICIAL Seção I Dos Requisitos da Petição Inicial Art. 319. A petição inicial indicará: I – o juízo a que é dirigida; II – os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu; III – o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; IV – o pedido com as suas especificações; V – o valor da causa; VI – as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; VII – a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação. § 1º Caso não disponha das informações previstas no inciso II, poderá o autor, na petição inicial, requerer ao juiz diligências necessárias a sua obtenção. www.cers.com.br NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL O novo Código de Processo Civil Mauricio Cunha 10 § 2º A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de informações a que se refere o inciso II, for possível a citação do réu. § 3º A petição inicial não será indeferida pelo não atendimento ao disposto no inciso II deste artigo se a obtenção de tais informações tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça. Art. 320. A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação. Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamentode mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado. Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial. Seção II Do Pedido Art. 322. O pedido deve ser certo. § 1º Compreendem-se no principal os juros legais, a correção monetária e as verbas de sucumbência, inclusive os honorários advocatícios. § 2º A interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio da boa-fé. Art. 323. Na ação que tiver por objeto cumprimento de obrigação em prestações sucessivas, essas serão consideradas incluídas no pedido, independentemente de declaração expressa do autor, e serão incluídas na condenação, enquanto durar a obrigação, se o devedor, no curso do processo, deixar de pagá-las ou de consigná- las. Art. 324. O pedido deve ser determinado. § 1º É lícito, porém, formular pedido genérico: I – nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens demandados; II – quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato; III – quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu. § 2º O disposto neste artigo aplica-se à reconvenção. Art. 325. O pedido será alternativo quando, pela natureza da obrigação, o devedor puder cumprir a prestação de mais de um modo. Parágrafo único. Quando, pela lei ou pelo contrato, a escolha couber ao devedor, o juiz lhe assegurará o direito de cumprir a prestação de um ou de outro modo, ainda que o autor não tenha formulado pedido alternativo. Art. 326. É lícito formular mais de um pedido em ordem subsidiária, a fim de que o juiz conheça do posterior, quando não acolher o anterior. Parágrafo único. É lícito formular mais de um pedido, alternativamente, para que o juiz acolha um deles. Art. 327. É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda que entre eles não haja conexão. § 1º São requisitos de admissibilidade da cumulação que: I – os pedidos sejam compatíveis entre si; II – seja competente para conhecer deles o mesmo juízo; III – seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento. § 2º Quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de procedimento, será admitida a cumulação se o autor empregar o procedimento comum, sem prejuízo do emprego das técnicas processuais diferenciadas previstas nos procedimentos especiais a que se sujeitam um ou mais pedidos cumulados, que não forem incompatíveis com as disposições sobre o procedimento comum. § 3º O inciso I do § 1º não se aplica às cumulações de pedidos de que trata o art. 326. Art. 328. Na obrigação indivisível com pluralidade de credores, aquele que não participou do processo receberá sua parte, deduzidas as despesas na proporção de seu crédito. Art. 329. O autor poderá: I – até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, independentemente de consentimento do réu; II – até o saneamento do processo, aditar ou alterar o pedido e a causa de pedir, com consentimento do réu, assegurado o contraditório mediante a possibilidade de manifestação deste no prazo mínimo de 15 www.cers.com.br NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL O novo Código de Processo Civil Mauricio Cunha 11 (quinze) dias, facultado o requerimento de prova suplementar. Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo à reconvenção e à respectiva causa de pedir. Seção III Do Indeferimento da Petição Inicial Art. 330. A petição inicial será indeferida quando: I – for inepta; II – a parte for manifestamente ilegítima; III – o autor carecer de interesse processual; IV – não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321. § 1º Considera-se inepta a petição inicial quando: I – lhe faltar pedido ou causa de pedir; II – o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido genérico; III – da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; IV – contiver pedidos incompatíveis entre si. § 2º Nas ações que tenham por objeto a revisão de obrigação decorrente de empréstimo, de financiamento ou de alienação de bens, o autor terá de, sob pena de inépcia, discriminar na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter, além de quantificar o valor incontroverso do débito. § 3º Na hipótese do § 2º, o valor incontroverso deverá continuar a ser pago no tempo e modo contratados. Art. 331. Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no prazo de 5 (cinco) dias, retratar-se. § 1º Se não houver retratação, o juiz mandará citar o réu para responder ao recurso. § 2º Sendo a sentença reformada pelo tribunal, o prazo para a contestação começará a correr da intimação do retorno dos autos, observado o disposto no art. 334. § 3º Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença. CAPÍTULO III DA IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO PEDIDO Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar: I – enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça; II – acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; III – entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; IV – enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local. § 1º O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição. § 2º Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença, nos termos do art. 241. § 3º Interposta a apelação, o juiz poderá retratar-se em 5 (cinco) dias. § 4º Se houver retratação, o juiz determinará o prosseguimento do processo, com a citação do réu, e, se não houver retratação, determinará a citação do réu para apresentar contrarrazões, no prazo de 15 (quinze) dias. CAPÍTULO V DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU DE MEDIAÇÃO Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência. § 1º O conciliador ou mediador, onde houver, atuará necessariamente na audiência de conciliação ou de mediação, observando o disposto neste Código, bem como as disposições da lei de organização judiciária. § 2º Poderá haver mais de uma sessão destinada à conciliação e à mediação, não podendo exceder a 2 (dois) meses da data de realização da primeira sessão, desde que necessárias à composição das partes. § 3º A intimação do autor para a audiência será feita na pessoa de seu advogado. § 4º A audiência não será realizada: I – se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual; II – quando não se admitir a autocomposição. § 5º O autor deverá indicar, na petição inicial, seu desinteresse na autocomposição, e o réu deverá fazê-lo, por petição, apresentada com www.cers.com.br NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL O novo Código de Processo Civil Mauricio Cunha 12 10 (dez) dias de antecedência, contados da data da audiência. § 6º Havendo litisconsórcio, o desinteresse na realização da audiência deve ser manifestado por todos os litisconsortes. § 7º A audiência de conciliação ou de mediação pode realizar-se por meioeletrônico, nos termos da lei. § 8º O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado. § 9º As partes devem estar acompanhadas por seus advogados ou defensores públicos. § 10. A parte poderá constituir representante, por meio de procuração específica, com poderes para negociar e transigir. § 11. A autocomposição obtida será reduzida a termo e homologada por sentença. § 12. A pauta das audiências de conciliação ou de mediação será organizada de modo a respeitar o intervalo mínimo de 20 (vinte) minutos entre o início de uma e o início da seguinte.
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