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150348042015 NOVO CPC 03

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NOVO CODIGO DE PROCESSO CIVIL 
Mauricio Cunha 
1 
PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES E 
JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO 
PROCESSO 
 
 
SANEAMENTO E FASE DE SANEAMENTO. 
AS PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES 
Diante da apresentação, ou não, da resposta 
do réu, inicia-se uma fase do procedimento 
ordinário que se denomina de “fase de 
saneamento” ou “fase de ordenamento do 
processo”. 
Durante este período, o magistrado, se for o 
caso, deve adotar providências que deixem o 
feito apto para que nele seja proferida uma 
decisão, chamada de “julgamento conforme o 
estado do processo” (art. 323, CPC). 
A atividade de saneamento do magistrado, 
porém, não se esgota nessa fase, que se 
caracteriza, apenas, pela concentração de 
atos de regularização do processo. É que 
desde o momento em que recebe a petição 
inicial, pode adotar medidas para regularizar 
eventuais defeitos processuais – a 
determinação de emenda da petição inicial 
(art. 284, CPC) e a possibilidade de controle a 
qualquer tempo das questões relativas à 
admissibilidade do procedimento (art. 267, § 
3º, CPC) são exemplos disso. O dever de o 
magistrado sanear o processo deve ser 
exercido ao longo de todo o procedimento, 
mas há uma fase em que a sua atuação revela-
se mais concentrada. 
A “fase de saneamento” inicia-se após o 
escoamento do prazo de resposta do réu. No 
entanto, é possível que, após esse momento, 
a “fase postulatória” se prolongue, pois o réu 
pode ter reconvindo ou denunciado a lide a um 
terceiro. É possível, ainda, que o autor requeira 
a modificação do pedido ou da causa de pedir, 
com o consentimento do réu, com base no art. 
264, CPC. Os primeiros atos da “fase de 
saneamento” podem coincidir, portanto, com a 
prática dos últimos atos da fase postulatória. 
As “providências preliminares” que podem ser 
adotadas são, basicamente, as seguintes: 
a) tendo sido apresentada defesa indireta, 
deve o juiz intimar o autor para apresentar a 
sua réplica, em 10 (dez) dias (arts. 326/327, 
CPC), que consiste na manifestação deste 
último sobre os fatos novos deduzidos pelo réu 
em sua defesa. Se a defesa for direta, não 
haverá intimação para a réplica. Se o autor 
trouxer documentos na réplica, o réu deverá 
ser intimado para manifestar-se sobre eles, em 
5 (cinco) dias, conforme a regra do art. 398, 
CPC. 
b) se o réu apresentar defesa direta, mas 
trouxer documentos, deve o juiz intimar o autor 
para manifestar-se sobre eles, no prazo de 5 
(cinco) dias (art. 398, CPC). 
c) se o réu apresentar defesa direta, 
consistente na negação da relação jurídica 
prejudicial deduzida pelo autor, deve o juiz 
intimar este último para que possa, querendo, 
em 10 (dez) dias, promover “ação declaratória 
incidental”, ampliando o objeto litigioso do 
processo, nos termos dos arts. 5º e 325, CPC. 
A “ação declaratória incidental” consiste em 
demanda, formulada pelo autor, para que o 
magistrado declare a existência da relação 
jurídica prejudicial, de modo que essa decisão 
possa ficar imune pela coisa julgada material 
(art. 470, CPC). O réu também pode promover 
“ação declaratória incidental” que terá, porém, 
natureza de reconvenção. 
d) se há defeitos processuais que possam ser 
corrigidos, inclusive aqueles relacionados aos 
requisitos de admissibilidade do procedimento, 
deve o juiz providenciar a sua correção, 
fixando, para tanto, prazo não superior a 30 
(trinta) dias (art. 327, parte final, CPC). 
e) se houve revelia, deve o juiz verificar a 
regularidade da citação. 
f) se, não obstante a revelia, a confissão ficta 
não se tiver produzido, o autor será intimado 
para especificar as provas que pretenda 
produzir em audiência (art. 324, CPC). O prazo 
para especificação das provas é de 5 (cinco) 
dias, aplicando-se a regra supletiva do art. 
185, CPC, tendo em vista o silêncio da lei 
sobre o assunto. 
g) se a revelia decorrer de citação ficta, será 
designado curador especial (art. 9º, II, CPC). 
h) se o réu reconveio, o autor será intimado 
para contestá-la, em 15 (quinze) dias. É 
possível, assim, que o autor seja intimado para 
replicar, em 10 (dez) dias, e contestar a 
reconvenção, em 15 (quinze) dias. Poderá 
apresentar as suas manifestações em 10 (dez) 
dias, mas não poderá replicar em 15 (quinze) 
dias, valendo-se do prazo maior de 
reconvenção. 
i) se o réu promover alguma das modalidades 
de intervenção de terceiros (uma denunciação 
da lide, um chamamento ao processo ou uma 
 
 
 
 
 
 
 
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NOVO CODIGO DE PROCESSO CIVIL 
Mauricio Cunha 
2 
nomeação à autoria), o juiz adotará as 
providências inerentes a essas intervenções, 
tal como determinar a comunicação do terceiro 
cujo ingresso no processo se pleiteia. 
j) o magistrado deve verificar se é o caso de 
intervenção do Ministério Público (art. 82, 
CPC), da Comissão de Valores Mobiliários 
(CVM, art. 31, Lei nº 6.385/1976), do 
Conselho Administrativo de Defesa Econômica 
(CADE, art. 89, Lei nº 8.884/1994) ou de 
qualquer outro órgão/entidade cuja presença o 
processo seja obrigatória, por força de lei. 
 
JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO 
PROCESSO 
O “julgamento conforme o estado do processo” 
pode ter diversos conteúdos. 
Como já consignado, depois de cumpridas as 
“providências preliminares” (arts. 323/327, 
CPC), ou não havendo necessidade delas, o 
juiz examinará os autos para que tome uma 
dessas decisões: 
a) extinção sem julgamento do mérito (art. 267, 
c/c art. 329, CPC); 
b) resolução do mérito, em razão de 
autocomposição total (art. 269, II, III e V, c/c 
art. 329, CPC); 
c) resolução do mérito em razão de 
decadência ou prescrição (art. 269, IV, c/c art. 
329, CPC); 
d) julga antecipadamente o mérito da causa 
(art. 330, CPC); 
e) marca audiência preliminar de conciliação 
(art. 331, CPC); 
f) não sendo o caso de audiência preliminar, 
determina imediatamente a realização da 
audiência de instrução e julgamento, 
proferindo o chamado “despacho saneador”, 
ordenando o processo para a fase probatória 
(art. 331, § 2º, CPC); 
g) profere uma decisão parcial, com o 
conteúdo dos arts. 267 ou 269, mas sem 
extinguir o processo, pois diz respeito a 
apenas uma parcela do objeto litigioso 
(transação parcial, p.ex.). 
 
 
 
JULGAMENTO ANTECIPADO DO MÉRITO 
DA CAUSA 
Conforme visto, após as providências 
preliminares, o magistrado deve proferir uma 
decisão, que se denomina “julgamento 
conforme o estado do processo”. 
O julgamento antecipado da lide (rectius: 
julgamento antecipado do mérito da causa) é 
uma das possíveis decisões que podem ser 
tomadas neste momento do procedimento. 
Trata-se de decisão de mérito em que o 
magistrado decide o objeto litigioso, julgando 
procedente ou improcedente a demanda 
formulada. Perceba-se que em outras duas 
variantes do “julgamento conforme o estado do 
processo” há, também, exame de mérito: a) 
extinção por autocomposição (reconhecimento 
da procedência do pedido, transação ou 
renúncia ao direito sobre o que se funda a 
demanda, art. 269, II, III e V, CPC); b) extinção 
pelo reconhecimento da 
prescrição/decadência (art. 269, IV, CPC). 
Nessas situações, só há julgamento de mérito 
nos casos da letra “b”. 
No julgamento antecipado da lide, porém, o 
magistrado julga o mérito com base no inciso 
I do art. 269, CPC. 
Assim, como se vê, o julgamento conforme o 
estado do processo pode implicar decisão de 
mérito tomada com base em qualquer dos 
incisos do art. 269, CPC. São hipóteses de 
abreviação do procedimento. 
O julgamento antecipado da lide é uma 
decisão de mérito, fundada em cognição 
exauriente, proferida após a fase de 
saneamento do processo, em que o 
magistrado reconhece a desnecessidade de 
produção de mais provas em audiências de 
instrução e julgamento (provas orais, perícia e 
inspeção judicial). Diz o caput do art. 330, 
CPC que “O juizreconhecerá diretamente do 
pedido, proferindo sentença”. Aqui, o juiz 
entende ser possível proferir decisão de mérito 
apenas com base na prova documental 
produzida pelas partes. 
O julgamento antecipado da lide é uma técnica 
de abreviamento do processo. É manifestação 
do princípio da adaptabilidade do 
procedimento, pois o magistrado, diante de 
peculiaridades da causa, encurta o 
procedimento, dispensando a realização de 
toda uma fase do processo. 
É bom frisar que o adjetivo “antecipado” 
justifica-se exatamente no fato de o 
procedimento ter sido abreviado, tendo em 
vista as particularidades do caso concreto. 
 
 
 
 
 
 
 
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3 
O art. 330, CPC, prevê as hipóteses em que 
se admite o julgamento antecipado da lide. 
“O juiz conhecerá diretamente do pedido, 
proferido sentença: I – quando a questão de 
mérito for unicamente de direito, ou sendo 
de direito e de fato, não houver 
necessidade de produzir prova em 
audiência; II – quando ocorrer a revelia 
(art.319)”. 
É preciso, porém, fazer algumas anotações 
sobre esse artigo: 
a) em primeiro lugar, o “princípio da 
cooperação” impõe que o magistrado 
comunique às partes a intenção de abreviar o 
procedimento, julgando antecipadamente a 
lide. Essa intimação prévia é importantíssima, 
porquanto profilática, pois, a uma, evita uma 
decisão-surpresa, que abruptamente encerre o 
procedimento, frustrando expectativas das 
partes; a duas, se a parte não concordar com 
essa decisão, deve interpor agravo (no mais 
das vezes, será o agravo retido, art. 522/523, 
CPC) – se não o fizer, não poderá, 
posteriormente, alegar cerceamento de 
defesa, pela restrição que se fez ao seu direito 
à prova, em razão da preclusão. 
b) essa possibilidade de abreviação do 
procedimento deve ser utilizada com cautela e 
parcimônia, não só porque pode implicar 
restrição ao direito à prova, mas também 
porque, sem a audiência de instrução e 
julgamento, podem os autos subir ao tribunal, 
em grau de recurso, com fraco conjunto 
probatório. Como de praxe, em órgãos 
colegiados, a realização de atividade de 
instrução probatória complementar é mais 
raro, sendo possível que, diante de um 
processo “mal-instruído”, o tribunal resolva 
anular a sentença, para que se reinicie a 
atividade probatória – e isso não é desejável. 
c) não há questão de mérito que seja 
“unicamente de direito”, como está escrito no 
inciso I, do art. 330, CPC. O fenômeno 
jurídico não prescinde do suporte fático, sobre 
o qual incide a hipótese normativa. As 
hipóteses previstas no inciso I podem ser 
resumidas em uma: é possível o julgamento 
antecipado quando não for necessária a 
produção de provas em audiência, ou seja, 
quando a prova exclusivamente documental 
for bastante para a prolação de uma decisão 
de mérito. 
d) sobre o inciso II, é preciso esclarecer que a 
revelia só implica julgamento antecipado da 
lide se ela produzir o efeito típico da confissão 
ficta, pois, assim, os fatos tornar-se-iam 
incontroversos, o que dispensa a prova, 
consoante o art. 334, III, CPC. Ocorre que nem 
sempre a revelia gera confissão ficta. É 
possível, ainda, que, não obstante a revelia e 
o julgamento antecipado da lide, o autor perca 
a demanda; nada impede que o magistrado 
julgue improcedente o pedido, a despeito de 
reputar existentes os fatos alegados – p.ex., os 
fatos deduzidos não têm aptidão para conferir 
ao autor o direito pleiteado. 
e) não se permite que o magistrado, no 
julgamento antecipado da lide, conclua pela 
improcedência, sob o fundamento de que o 
autor não provou o alegado. Se o magistrado 
convoca os autos para julgamento antecipado, 
é porque entende provados os fatos alegados. 
Entende, enfim, que não há necessidade de 
prova. Essa decisão impede comportamento 
contraditório do juiz (venire contra factum 
proprium); há preclusão lógica para o 
magistrado, que, então, não pode proferir 
decisão com aquele conteúdo. A sentença de 
improcedência por falta de prova, em 
julgamento antecipado da lide, além de violar 
o dever de lealdade processual, a boa-fé 
objetiva, que orienta a relação entre os sujeitos 
processuais, e o “princípio da cooperação”, 
poderá ser invalidade por ofensa à garantia do 
contraditório, em sua dimensão de direito à 
prova. 
f) quando for o caso, o “julgamento antecipado 
não é faculdade, mas dever que a lei impõe ao 
julgador”, em homenagem ao princípio da 
economia processual (art. 125, I, CPC). 
 
AUDIÊNCIA PRELIMINAR 
Generalidades 
Ultrapassada a fase das “providências 
preliminares”, e não ocorrendo as hipóteses 
previstas nos arts. 329/330, CPC – extinção do 
processo sem exame do mérito, ou com exame 
do mérito em razão de autocomposição, 
prescrição, decadência ou julgamento 
antecipado da lide – caberá ao juiz designar 
audiência preliminar, situação em que tentará 
promover a conciliação das partes (art. 331, 
CPC). Cabe, inicialmente, uma observação. 
Nada impede, não obstante o texto legal, que 
o magistrado, mesmo sendo caso de 
 
 
 
 
 
 
 
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Mauricio Cunha 
4 
julgamento antecipado da lide (art. 330, CPC), 
marque a audiência preliminar, com o objetivo 
de tentar conciliar as partes. Isso com base no 
inciso IV, art. 125, CPC, que atribui ao 
magistrado o dever de tentar conciliar as 
partes a qualquer tempo. Não obtida a 
conciliação, o magistrado julgaria a demanda 
imediatamente. 
Seguindo tendência mundial, foram 
acrescentados ao CPC, nas últimas reformas 
das leis processuais, dois dispositivos que, 
somados ao art. 448, CPC (que já previa uma 
tentativa de conciliação no início da audiência 
de instrução), compõem o tripé normativo em 
favor da conciliação (da solução do litígio por 
autocomposição): o art. 125, IV e o art. 331. 
O inciso IV do art. 125 estabelece o dever do 
magistrado conciliar as partes a qualquer 
tempo; o art. 331 introduz no procedimento 
ordinário uma audiência preliminar à fase de 
instrução probatória, cujo objetivo principal é 
ensejar uma tentativa de conciliação das 
partes. 
Denominação e objetivos da audiência 
A audiência de conciliação obrigatória, 
introduzida no art. 331, CPC, em dezembro de 
1994, sofreu sua primeira reforma com a 
edição da Lei Federal nº 10.444/2002. 
Uma das mudanças foi terminológica: a 
audiência passou a chamar-se de “audiência 
preliminar”. 
A mudança do nome do instituto para 
“audiência preliminar” justifica-se plenamente. 
É que a doutrina, de modo geral, já reconhecia 
nessa audiência funções outras além da 
simples tentativa de conciliação. Como bem 
afirma Dinamarco, possuía essa audiência um 
tríplice escopo: conciliação, saneamento do 
processo e delimitação da instrução. 
Iniciada a audiência, o magistrado tentará 
alcançar a conciliação. Não obtida a 
conciliação, o magistrado deverá resolver as 
questões processuais pendentes e fixar os 
pontos controvertidos do processo – isto é, 
identificar as questões que devem ser objeto 
da fase de instrução probatória. 
O § 2º do art. 331, CPC, por sua vez, 
prescreve que o magistrado, frustrada a 
conciliação, “decidirá as questões 
processuais pendentes”. Esse enunciado 
causa certa perplexidade, uma vez que o caput 
indica que é pressuposto para a ocorrência da 
audiência preliminar o exame prévio do 
magistrado acerca da admissibilidade do 
processo e, por conseguinte, “questões 
pendentes” não haveriam de estar 
relacionadas nem com o juízo de 
admissibilidade do processo, nem com a 
existência de prescrição ou decadência e nem 
com a existência de autocomposição do litígio. 
Como bem diz Calmon de Passos, esse 
momento processual não comportaria, a bem 
da verdade, “questões pendentes”, por faltar 
um iter processual que permitisse novas 
alegações: assim,concluir-se-ia serem 
pendentes as questões processuais 
suscitadas pelo réu e não abordadas em 
decisão anterior. Se isso ocorrer, então, 
poderá o magistrado examinar essas questões 
pendentes e, se for o caso, extinguir o 
processo sem exame do mérito (art. 267, CPC) 
ou com exame do mérito (art. 269, IV, 
prescrição e decadência). 
Após isso, o magistrado deve se limitar a fase 
de produção de provas: admitir e não admitir a 
produção de certos meios de prova, designar 
perito e formular o rol de quesitos (se for o 
caso), marcar audiência de instrução e 
julgamento, determinar a inspeção judicial, 
oitiva de testemunhas ou depoimento da parte 
etc.. 
A audiência, por não ser simplesmente de 
conciliação, não merecia o nome que tinha. 
Muda-se com isso também o nome da Seção 
III, que passa a chamar-se “Da audiência 
preliminar”, conforme o art. 3º da Lei Federal 
nº 10.444/2002. 
A não marcação de audiência preliminar, 
quando for o caso, implica em invalidade do 
procedimento (nulidade) apenas se houver 
prejuízo. Antecipa-se, porém, que dificilmente 
esse prejuízo ocorrerá, tendo em vista que há 
sempre a possibilidade de correção do defeito 
do procedimento, quer pela designação de 
uma data para a realização da audiência, quer 
pela tentativa de conciliação que o magistrado 
pode efetuar por ocasião da abertura da 
audiência de instrução e julgamento. 
Direitos que admitam transação (rectius: 
conciliação) 
Generalidades 
A audiência preliminar deve ser designada se 
os direitos puderem ser objeto de transação. A 
Lei nº 10.444/2002 promoveu a troca da “infeliz 
expressão” “direitos disponíveis” por outra 
 
 
 
 
 
 
 
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NOVO CODIGO DE PROCESSO CIVIL 
Mauricio Cunha 
5 
tecnicamente mais correta: “direitos que 
admitam transação”. 
A mudança foi importante, pois são inúmeros 
os casos de direitos considerados 
indisponíveis que admitem transação 
(alimentos, guarda de filhos e outras causas de 
família, causas coletivas, causas que 
envolvem entes públicos, por exemplo), sendo 
forçoso reconhecer que há distinção entre 
disponibilidade e intransigibilidade (rectius: 
inconciliabilidade). 
Deve-se ressaltar que não se pode, 
atualmente, aplicar de forma indistinta o art. 
841, CC, que afirma somente ser possível a 
transação em relação a direitos patrimoniais 
de caráter privado. Não se pode, ainda assim, 
confundir transação com conciliação, esta 
gênero do qual aquela é espécie. É possível 
conciliação sem transação, como nas 
hipóteses de renúncia ao direito sobre o qual 
se funda a ação ou reconhecimento da 
procedência do pedido. O que visou o 
legislador, com a criação da audiência 
preliminar, foi ensejar um momento processual 
propício ao fim do litígio por conciliação, não 
necessariamente por transação. Assim, onde 
se lê “direitos que admitem transação”, leia-se 
“direitos que admitem conciliação”. A mudança 
legislativa, embora elogiável, poderia ter sido 
ainda melhor. 
Conforme já se apontou, em causas de família 
(direitos não patrimoniais) a conciliação revela-
se como a melhor e mais eficaz forma de 
solução de conflitos. Interessante citar a 
lembrança de Barbosa Moreira, em relação à 
doutrina que comentou a legislação de 1994: 
registra o autor a sustentação de alguns 
autores (como Cândido Dinamarco), que, à 
época, à revelia do comando normativo – que 
previa apenas a conciliação em causas com 
direitos disponíveis em disputa -, a audiência 
de conciliação seria também obrigatória nos 
casos de direitos indisponíveis: é que apesar 
da impossibilidade de conciliação em virtude 
da natureza da contenda, ainda assim 
justificar-se-ia a audiência de conciliação pelas 
suas demais funções: o saneamento do 
processo e a preparação para a instrução 
probatória. 
Um exemplo de causa que não admite 
transação e, pois, conciliação, é a ação de 
improbidade administrativa (art. 17, §1º, da Lei 
Federal nº 8.429/1992). O STJ entendeu que 
não é admissível transação em processo que 
envolve discussão sobre a transposição de 
cargos públicos. 
Conciliação em causas que envolvam pessoas 
jurídicas de direito público 
Há certo dissenso na prática forense em 
relação à possibilidade de conciliação nas 
causas que envolvem pessoas jurídicas de 
direito público. Existe um mau vezo de se 
relacionarem tais causas com suposto 
interesse público, a não permitir a realização 
de qualquer espécie de autocomposição. 
Trata-se de equívoco lamentável. 
São inúmeras as hipóteses de 
autocomposição envolvendo interesse de ente 
público, não sendo temerário afirmar, por 
exemplo, que a maior parte dos conflitos fiscais 
se resolve por acordo de parcelamento firmado 
perante a repartição pública, longe das mesas 
de audiência do Poder Judiciário. A lei, 
inclusive, prevê expressamente a 
possibilidade de conciliação em demandas 
que dizem respeito os entes federais: “Em 
regra são situações em que a cobrança 
integral do valor é muito dispendiosa, se 
comparada com o seu possível resultado. A 
renúncia ou a transação acaba sendo de 
interesse público”. 
A possibilidade de conciliação envolvendo 
entes estaduais e municípios dependerá de lei 
estadual ou municipal específica. 
Assim, é plenamente possível o acordo em tais 
causas. Pouco importa se lhes atribua a 
característica da indisponibilidade, pois é 
induvidosa a possibilidade de conciliação, 
justificando-se a realização de audiência 
preliminar. 
O comparecimento à audiência. O preposto 
(representante voluntário) 
Generalidades 
Uma outra novidade, trazida pela Lei Federal 
nº 10.444/2002 à audiência preliminar, foi a 
possibilidade expressa de a parte fazer-se 
representar por preposto – possibilidade já 
prevista para as audiências nos ritos sumário 
(art. 277, § 3º, CPC) e dos Juizados Especiais 
Cíveis (art. 9º, § 4º, da Lei Federal nº 
9.099/95). 
O preposto representará a parte na audiência, 
e apenas nela, desde que tenha poderes 
expressos para conciliar (art. 331, fine, CPC). 
Trata-se de delegado da parte com o poder 
especial de transigir (rectius: conciliar). Seu 
 
 
 
 
 
 
 
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NOVO CODIGO DE PROCESSO CIVIL 
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6 
agir é essencialmente material (transação, por 
exemplo, é ato de direito material), consistente 
na prática de determinado ato jurídico, sem 
qualquer função postulatória, daí por que não 
precisa ser advogado. 
A preposição regulada no Código Civil é figura 
de direito material, mais especificamente de 
direito empresarial, e cujo regramento legal 
tem por fim precípuo regular as relações do 
preposto com a sociedade a que pertence e 
com terceiros (arts. 1.169/1.178, CC). A 
preposição, aqui prevista, assemelha-se 
(repita-se: assemelha-se) à figura do mandato, 
com poder específico de proceder à 
conciliação judicial, administrando os 
interesses do preponente. Trata-se de 
representação voluntária, regulada, 
genericamente, pelos arts. 115/120, CC. A 
utilização, pelo legislador, do termo “preposto”, 
de conteúdo dogmático mais restrito, deve-se, 
induvidosamente, à consagração do seu uso 
nas causas trabalhistas e no âmbito dos 
Juizados Especiais. Para que não houvesse 
confusão, seria de bom alvitre a mudança do 
termo: de “preposto” para “representante 
voluntário”, ou simplesmente “representante”. 
É possível, entretanto, representação 
voluntária sem a existência do contrato 
subjacente de mandato. O Código Civil de 
1916 parecer ter equiparado, 
equivocadamente, as duas figuras; já o Código 
Civil de 2002 procurou dar um tratamento 
normativo mais aprimorado, criando 
regulamentação geral da representação, legal 
ou voluntária. Aplicam-se, entretanto, 
supletivamente, à representação voluntária, as 
normas relativas ao mandato representativo 
(art. 120, CC; arts. 653/691, CC). 
A outorga do poder de representaré provada 
pela procuração, que é o seu instrumento. A 
representação, normalmente, legitima-se em 
outra relação jurídica, de onde esse poder é 
retirado; relação essa que não é, 
necessariamente, a de mandato, pois há 
outras relações negociais básicas que 
autorizam a concessão do poder de agir em 
nome de outrem, por exemplo: prestação de 
serviços, empreitada, expedição, agência, 
sociedade e preposição mercantil. 
Não se pode confundir, ainda, a preposição, 
aqui examinada, com aquela típica das 
demandas trabalhistas. É que lá – processo do 
trabalho – o preposto assume outras funções 
processuais, sendo inclusive fonte de prova 
(prestará depoimento oral), enquanto cá – 
processo civil – a função do preposto é 
puramente de direito material – conciliação -, 
não lhe restando qualquer outra. Embora 
rotulado com o mesmo nome, são figura 
distintas, com papéis distintos e que merecem, 
pois, tratamento distinto. 
Preposto de pessoa jurídica ou firma individual 
não precisa ter com esses entes vínculo 
empregatício. A propósito, a nova redação do 
§ 4º do art. 9º da Lei nº 9.099/1995, trazida 
pela Lei nº 12.137/2009, aplicável por analogia 
aos procedimentos ordinário e sumário: “§4º O 
réu, sendo pessoa jurídica ou titular de 
firma individual, poderá ser representado 
por preposto credenciado, munido de carta 
de preposição com poderes para transigir, 
sem haver necessidade de vínculo 
empregatício”. 
Pessoa física pode utilizar-se de “preposto”? 
É claro que pessoa física pode valer-se de 
“preposto”. Embora o termo seja utilizado, 
costumeiramente, quando se está diante de 
representante de pessoa jurídica, nada indica 
a inadmissibilidade do manejo da preposição – 
essa, com função de representação judicial 
para fins conciliatórios – pela pessoa física. 
Trata-se, enfim, de representante voluntário, 
com poder específico de conciliação, e a 
pessoa física, obviamente, pode constituir 
representante voluntário. 
Ademais, não permitir à pessoa física valer-se 
da preposição, para fins conciliatórios, é ferir o 
princípio da igualdade, pois não se justifica 
tratamento processual tão desigual entre 
pessoa humana e pessoa jurídica. Há pessoas 
muito hábeis na tarefa conciliatória, enquanto 
outras são totalmente despreparadas para 
tanto. Enquanto a pessoa jurídica treina seus 
prepostos em cursos profissionalizantes, a 
pessoa física, normalmente litigante eventual, 
se vê diante de uma situação que lhe não é 
peculiar, o que torna a negociação bem 
desigual. Por mais que o advogado e o juiz 
possam ser fatores de equilíbrio, não vemos 
como repelir a ideia de pessoa física constituir 
representante para esse fim específico. É 
possível até mesmo a nomeação de 
“profissionais”: pessoas especializadas na 
“arte de negociar”. 
Quem pode ser representante 
 
 
 
 
 
 
 
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7 
Qualquer pessoa capaz pode sê-lo. O maior de 
dezesseis e menor de dezoito não 
emancipados também podem ser prepostos, 
por força do art. 666, CC. No caso de pessoa 
jurídica, não precisa sequer ser seu 
empregado. 
Há proibição de atuação de advogado como 
preposto (art. 23 do Código de Ética da 
OAB). Parece, no entanto, que essa proibição 
não se aplica à preposição processual, 
porquanto a participação do advogado, aqui, 
na qualidade de preposto, restringir-se-á à 
tentativa de conciliação – típica, portanto, do 
exercício da advocacia. A restrição do Código 
de Ética refere-se à preposição em causas 
trabalhistas, nas quais a figura do preposto 
assume outras funções processuais, como já 
examinado. 
Além disso, o próprio texto normativo é muito 
claro ao permitir a representação, na 
audiência, por procurador habilitado com 
poderes de transigir (rectius: conciliar), 
consagrando, a propósito, o regramento que já 
existia antes dessa reforma. 
O instrumento da representação 
O preposto precisa apresentar a carta de 
preposição (art. 118, CC), pois, conforme 
vimos, essa é modalidade daquela, e a 
audiência preliminar pode gerar qualquer 
espécie de conciliação, e não apenas a 
transação. Importa frisar, entretanto, que a 
procuração deve conter expressamente o 
poder conciliatório, sob pena de não-
realização da tentativa de conciliação e 
ineficácia (art. 662, CC) do acordo porventura 
homologado. 
Os prepostos podem conciliar sem a 
presença de advogados? Sim, não haveria 
qualquer problema, pois a conciliação, como já 
se disse, é ato de direito material, e envolve 
interesses a princípio apenas das partes 
envolvidas no litígio. 
 
O DESPACHO SANEADOR 
A dispensa de realização da audiência 
preliminar 
A Lei Federal nº 10.444/2002 mitigou a 
obrigatoriedade da audiência preliminar (§ 3º 
do art. 331, CPC). Cabe agora ao juiz verificar, 
in concreto, se é o caso de marcar a audiência 
preliminar, sugerindo a lei, para tanto, dois 
critérios, ambos baseados na viabilidade da 
conciliação: a) inviabilidade da transação 
(rectius: conciliação) em razão dos direitos em 
jogo (critério mais objetivo); b) “se as 
circunstâncias da causa evidenciarem ser 
improvável sua obtenção” (critério mais 
subjetivo). 
Reforça-se, também aqui, o poder do juiz de 
adequação do regramento processual ao caso 
concreto – o princípio da adaptabilidade do 
procedimento. Em vez de impor etapa 
procedimental obrigatória, enrijecendo o 
procedimento, o legislador transfere ao 
magistrado a tarefa de examinar a 
oportunidade da realização da audiência, a ser 
verificada a partir das peculiaridades do caso 
concreto. 
Já se defendia, mesmo antes dessa reforma, 
que, versando a causa sobre direitos 
inconciliáveis, não se marcaria a audiência de 
conciliação, devendo o magistrado 
providenciar a preparação do feito para a 
instrução no célebre “despacho saneador”. O 
legislador reformista foi além, pois permitiu a 
dispensa da audiência quando esta for 
improvável, mesmo havendo possibilidade 
teórica da conciliação. Quando não se puder 
vislumbrar em concreto o acordo, pode o 
magistrado sanear/ordenar o feito sem a 
realização da audiência. 
Assim, a audiência preliminar é, em princípio, 
etapa obrigatória do procedimento, mas será 
facultativa sempre que, conforme o § 3º, o 
direito em litígio não admitir transação. 
Não sendo caso de marcação da audiência 
preliminar, surge a última hipótese de 
julgamento conforme o estado do processo: o 
“despacho saneador”. 
Conteúdo do despacho saneador 
Se não for caso de extinção do processo sem 
julgamento do mérito, nem de extinção do 
processo com julgamento do mérito 
(prescrição/decadência, autocomposição ou 
julgamento antecipado da lide), e não sendo 
hipótese de audiência preliminar, deverá o 
magistrado proferir uma decisão escrita, em 
que deverá examinar as questões processuais 
suscitadas, declarar saneado o feito, fixar os 
pontos controvertidos e delimitar a atividade 
probatória. 
Na célebre síntese de Barbosa Moreira: “O 
despacho saneador tem lugar justamente nas 
hipóteses restantes..., o órgão judicial chega à 
convicção de que é necessário o 
prosseguimento do feito – porque ainda não 
 
 
 
 
 
 
 
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8 
pode ser julgado o mérito -, e além disso é útil 
fazê-lo prosseguir – porque tudo indica que o 
mérito poderá ser julgado. Configura-se, pois, 
o despacho saneador como o ato pelo qual o 
juiz, verificando ser admissível a ação e regular 
o processo, o impede em direção à audiência 
de instrução e julgamento, por não estar ainda 
madura a causa para a decisão de mérito”. 
Perceba-se o seguinte: a) o “despacho 
saneador” não é despacho, mas decisão 
interlocutória; b) o “despacho saneador” nada 
saneia; na verdade, declara saneado; c) o seu 
conteúdo é equivalente ao da decisão, já 
examinada, que o magistradoproferiria acaso, 
tendo marcado audiência preliminar, restasse 
frustrada a tentativa de conciliação. 
Há, pois, nessa decisão, um capítulo decisório 
em que se reconhece a admissibilidade do 
processo (juízo declaratório) e outro capítulo 
decisório em que se fixam os pontos 
controvertidos e se delimita a atividade de 
instrução (juízo constitutivo). 
EFICÁCIA PRECLUSIVA DA DECISÃO DE 
SANEAMENTO 
Consideração introdutória 
O juízo de admissibilidade positivo, quer tenha 
sido feito no despacho saneador, quer tenha 
ocorrido durante a audiência preliminar, tem 
eficácia preclusiva? Proferido o juízo de 
admissibilidade positivo, é possível que a 
questão decidida possa ser reexaminada, 
ainda no mesmo processo? 
A doutrina não costuma atentar para uma 
circunstância bastante relevante: concluindo 
pela admissibilidade ou inadmissibilidade, o 
juízo que o magistrado faça sobre a validade 
do procedimento é o mesmo, não se altera de 
acordo com a conclusão alcançada. Se o juízo 
de admissibilidade é uma decisão (e parece 
indiscutível que o seja), positivo ou negativo, 
pouco importa, deverá submeter-se à 
preclusão. 
O juízo de admissibilidade positivo e a 
preclusão 
Prevalece, na doutrina brasileira, a concepção 
de que a decisão judicial que reconhece a 
presença dos requisitos de admissibilidade do 
processo (principalmente o denominado 
“despacho saneador”, pelo qual o magistrado 
declara a regularidade do processo) não se 
submete à preclusão pro iudicato: enquanto 
pendente a relação jurídica processual, será 
sempre possível o controle ex officio dos 
requisitos de admissibilidade, inclusive com o 
reexame daqueles que já houverem sido 
objeto de decisão judicial. O fundamento legal 
dessa concepção é o § 3º do art. 267, CPC, 
que teria imunizado as decisões sobre os 
requisitos de admissibilidade do processo à 
preclusão. Afirma-se que o enunciado nº 424 
da Súmula do STF, embora ainda em vigor, 
não se aplica a esse tipo de questão. Fala-se 
que não se pode cogitar de preclusão para as 
matérias que podem dar ensejo à ação 
rescisória. 
Não é essa a concepção, porém, a que ora se 
adota. 
a) em primeiro lugar, convém precisar a correta 
interpretação que se deve dar ao enunciado do 
§ 3º do art. 267, CPC. O que ali se permite é o 
conhecimento, a qualquer tempo, das 
questões relacionadas à admissibilidade do 
processo – não há preclusão para a verificação 
de tais questões, que podem ser conhecidas 
ex officio, até o trânsito em julgado da decisão 
final, mesmo pelos tribunais. Não há qualquer 
referência no texto julgado da decisão final, 
mesmo pelos tribunais. Não há qualquer 
referência no texto legal, porém, à inexistência 
de preclusão em torno das questões já 
decididas. A qualquer tempo é possível 
conhecer tais questões, controlar a 
regularidade do processo, desde que o 
processo ainda esteja pendente e que não 
tenha havido preclusão a respeito. 
Não se permite que o tribunal, no julgamento 
do recurso, reveja questão que já fora 
anteriormente decidida, mesmo se de natureza 
processual, e em relação à qual se operou a 
preclusão. O que se permite ao tribunal é 
conhecer, mesmo, sem provocação, das 
questões relativas à admissibilidade do 
processo, respeitada, porém, a preclusão. 
Parece haver uma confusão entre a 
possibilidade de conhecimento ex officio de 
tais questões, fato indiscutível, com a 
possibilidade de decidir de novo questões já 
decididas, mesmo as que poderiam ter sido 
conhecidas de ofício. São coisas diversas: a 
cognoscibilidade ex officio de tais questões 
significa, tão-somente, que elas podem ser 
examinadas pelo Judiciário sem a provocação 
das partes, o que torna irrelevante o momento 
em que são apreciadas. Não há preclusão para 
o exame das questões, enquanto pendente o 
processo, mas há preclusão para o reexame. 
 
 
 
 
 
 
 
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b) a preclusão aqui defendida obviamente não 
se opera tendo em vista fato superveniente. 
Conforme já se disse, é possível que, por 
superveniente, deixe de existir um requisito de 
admissibilidade do processo (exemplo: 
incompetência absoluta superveniente e perda 
da capacidade processual). Exatamente por 
tratar-se de fato superveniente, a anterior 
decisão que reconheceu a regularidade do 
processo não lhe diz respeito, impondo-se 
nova decisão, que terá outro objeto: a questão 
nova. Não se deve confundir a possibilidade de 
controle a qualquer tempo da regularidade do 
processo com a inexistência de preclusão a 
respeito. A confusão é parecida com aquela 
que se faz em relação à coisa julgada da 
sentença de alimentos: porque fatos 
supervenientes podem alterar a realidade 
sobre que incidiu a primeira sentença, nova 
decisão deve ser proferida, que cuide desta 
nova realidade. Isso não retira a força da coisa 
julgada material, que indiscutivelmente recaiu 
sobre a primeira decisão. 
c) o art. 471, CPC, é peremptório ao 
prescrever que nenhum juiz decidirá de novo 
as questões já decididas – “precisamente por 
falta em nenhum juiz o texto dessa disposição 
abrange também o juiz da causa, 
manifestamente compreendido na 
generalidade do advérbio”. Esse artigo 
também se aplica às decisões interlocutórias. 
O art. 473, CPC, determina: é defesa a parte 
discutir, no curso do processo, as questões já 
decididas, a cujo respeito se operou a 
preclusão. Nada há em tais artigos que leve à 
conclusão de que as questões de 
admissibilidade, mesmo já decididas, podem 
ser rediscutidas. 
d) como bem apontou Calmon de Passos, se 
as decisões interlocutórias são recorríveis (art. 
522, CPC), não se pode cogitar, no direito 
brasileiro, da possibilidade de preclusão, não 
somente para as partes, mas também para o 
juiz. 
e) por imposição do dever da motivação (art. 
93, IX, CF), a decisão sobre a validade do 
procedimento deve ser expressa: não se 
admite a preclusão do exame de questões 
implicitamente decididas, até porque não se 
pode admitir decisão implícita. A preclusão 
somente pode operar-se em relação às 
questões decididas, contra as quais ou não 
houve interposição de recurso, ou se o 
interpôs, tendo sido rejeitado. Assim, não há 
preclusão se o magistrado deixa, na decisão 
saneadora, ainda que indevidamente, para 
examinar as questões de admissibilidade por 
ocasião da sentença. 
f) há um dado curioso nesta discussão: não se 
nega a existência de preclusão em torno das 
questões de mérito já decididas (rejeição da 
alegação de prescrição, por exemplo), mas, 
em relação às questões de admissibilidade, 
permite-se a rediscussão a qualquer tempo. 
Dá-se a essas últimas um tratamento 
diferenciado, como se fossem as questões 
mais relevantes a ser resolvidas pelo 
Judiciário, que estaria autorizado, mesmo já se 
tendo manifestado a respeito, a voltar a discutir 
o tema e concluir pela inadmissibilidade do 
processo. 
Parece haver uma intenção não-revelada de 
permitir sempre a possibilidade do não-
enfrentamento do mérito, como se isso fosse o 
desejável, como se isso fosse o mais 
importante. Bem pensadas as coisas, se o 
caso é de não existir preclusão, que o seja 
para as questões de mérito, pois assim se 
permitirá a revisão de decisões 
equivocadas/injustas. Em relação a elas, 
porém, há a coisa julgada, instituto secular, 
construído a partir da percepção de que a 
função jurisdicional deve ter (as questões de 
fundo, o objeto litigioso, o objeto do 
procedimento, a razão de ser do processo), 
que deve realmente existir, pois corolário do 
princípio da segurança jurídica, como não há 
em relação a questões processuais já 
decididas? Por que em relação a elas permite-
se instabilidade? 
Não há razão para esse tratamento 
diferenciado. A o contrário, a preclusão 
justifica-se muito mais em relação às questões 
processuais. É que,solucionada a questão 
sobre a regularidade do processo, e 
ressalvados os fatos supervenientes, ao Poder 
Judiciário somente restaria o exame do mérito 
da causa. Isso é positivo, pois resolver o litígio 
é a tarefa principal da atividade jurisdicional. 
g) esse posicionamento, tomado ao pé-da-
letra, ainda gera situações absurdas. 
Será, realmente, que, arguido o impedimento 
(falta de requisito processual, que autoriza 
inclusive ação rescisória), com decisão do 
tribunal a respeito, é possível o reexame da 
matéria, em outra oportunidade, por esse 
 
 
 
 
 
 
 
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10 
mesmo tribunal? Será que, após o 
processamento desse incidente, que 
suspende o andamento do processo e em que 
se permite a interposição de recursos, é 
possível ao litigante arguir a parcialidade do 
magistrado novamente, pelas mesmas razões, 
porque não haveria preclusão? Formulam-se 
as mesmas perguntas, mutatis mutandis, em 
relação a qualquer outro “pressuposto 
processual”, pois a falta de qualquer deles 
autoriza o ajuizamento de ação rescisória 
(incisos II e IV, especificamente, e o inciso V, 
genericamente, todos do art. 485, CPC). 
A circunstância de a questão de 
admissibilidade poder ensejar ação rescisória 
não suficiente para que se impeça a preclusão 
da decisão judicial a seu respeito. É que o fato 
de a questão ser decidida no processo 
originário não impede a propositura da ação 
rescisória; ou seja, o fundamento para que a 
questão não se submeta à preclusão é bem 
frágil: permite-se a discussão da questão de 
ordem pública a qualquer tempo, mas não se 
proíbe, a despeito disso, o ajuizamento da 
rescisória. A prévia discussão da questão no 
processo originário não é obstáculo ao 
ajuizamento da ação autônoma de 
impugnação. 
Enfim, adotar essa postura é comprometer 
totalmente a segurança jurídica, além de não 
se conferir o mínimo de respeitabilidade à 
decisão judicial sobre questões processuais. 
h) há ainda o problema em torno das 
condições da ação. Distingui-las das questões 
de mérito é tarefa hercúlea. Permitir a 
rediscussão sobre a existência de uma 
condição da ação é, muitas vezes, dar ensejo 
a nova decisão sobre a questão de mérito já 
decidida. 
i) não se descarta a hipótese de que, em certos 
casos, não haja preclusão para o juiz. É o caso 
da possibilidade de produção de provas, a 
qualquer tempo. 
Perceba-se, porém, que essa flexibilidade está 
relacionada ao julgamento da causa: permite-
se ao magistrado, com isso, aprimorar a 
qualidade do seu julgamento. A ausência de 
preclusão, aqui, justifica-se plenamente, pois 
de acordo com a finalidade principal do 
processo, que é a correta decisão do mérito. 
Não se deve, pois, utilizar a inexistência de 
preclusão em tais casos como fundamento 
para que não exista preclusão sobre a decisão 
que examina a admissibilidade do processo. 
j) muitos dos doutrinadores, que defendem a 
inexistência de preclusão sobre a regularidade 
do processo (juízo de admissibilidade 
positivo), seguem orientação diversa em 
relação ao juízo de admissibilidade negativo. 
Nesse caso, extinto o processo pela falta de 
um “pressuposto processual”, a demanda 
somente poderia ser reproposta se o defeito 
fosse corrigido, ou seja, a primeira decisão 
haveria de ser respeitada, tendo, pois, eficácia 
preclusiva, ou não a tem; essa eficácia não 
pode ser secundum eventum litis. 
 
TEXTO CORRESPONDENTE NO NOVO CPC 
CAPÍTULO IX 
DAS PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES E DO 
SANEAMENTO 
Art. 347. Findo o prazo para a contestação, o 
juiz tomará, conforme o caso, as providências 
preliminares constantes das seções deste 
Capítulo. 
Seção I 
Da Não Incidência dos Efeitos da Revelia 
Art. 348. Se o réu não contestar a ação, o juiz, 
verificando a inocorrência do efeito da revelia 
previsto no art. 344, ordenará que o autor 
especifique as provas que pretenda produzir, 
se ainda não as tiver indicado. 
Art. 349. Ao réu revel será lícita a produção de 
provas, contrapostas às alegações do autor, 
desde que se faça representar nos autos a 
tempo de praticar os atos processuais 
indispensáveis a essa produção. 
Seção II 
Do Fato Impeditivo, Modificativo ou Extintivo 
do Direito do Autor 
Art. 350. Se o réu alegar fato impeditivo, 
modificativo ou extintivo do direito do autor, 
este será ouvido no prazo de 15 (quinze) dias, 
permitindo-lhe o juiz a produção de prova. 
Seção III 
Das Alegações do Réu 
Art. 351. Se o réu alegar qualquer das matérias 
enumeradas no art. 337, o juiz determinará a 
oitiva do autor no prazo de 15 (quinze) dias, 
permitindo-lhe a produção de prova. 
Art. 352. Verificando a existência de 
irregularidades ou de vícios sanáveis, o juiz 
determinará sua correção em prazo nunca 
superior a 30 (trinta) dias. 
 
 
 
 
 
 
 
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11 
Art. 353. Cumpridas as providências 
preliminares ou não havendo necessidade 
delas, o juiz proferirá julgamento conforme o 
estado do processo, observando o que dispõe 
o Capítulo X. 
CAPÍTULO X 
DO JULGAMENTO CONFORME O ESTADO 
DO PROCESSO 
Seção I 
Da Extinção do Processo 
Art. 354. Ocorrendo qualquer das hipóteses 
previstas nos arts. 485 e 487, incisos II e III, o 
juiz proferirá sentença. 
Parágrafo único. A decisão a que se refere o 
caput pode dizer respeito a apenas parcela do 
processo, caso em que será impugnável por 
agravo de instrumento. 
Seção II 
Do Julgamento Antecipado do Mérito 
Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o 
pedido, proferindo sentença com resolução de 
mérito, quando: 
I – não houver necessidade de produção de 
outras provas; 
II – o réu for revel, ocorrer o efeito previsto no 
art. 344 e não houver requerimento de prova, 
na forma do art. 349. 
Seção III 
Do Julgamento Antecipado Parcial do Mérito 
Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito 
quando um ou mais dos pedidos formulados ou 
parcela deles: 
I – mostrar-se incontroverso; 
II – estiver em condições de imediato 
julgamento, nos termos do art. 355. 
§ 1º A decisão que julgar parcialmente o mérito 
poderá reconhecer a existência de obrigação 
líquida ou ilíquida. 
§ 2º A parte poderá liquidar ou executar, desde 
logo, a obrigação reconhecida na decisão que 
julgar parcialmente o mérito, 
independentemente de caução, ainda que haja 
recurso contra essa interposto. 
§ 3º Na hipótese do § 2º, se houver trânsito em 
julgado da decisão, a execução será definitiva. 
§ 4º A liquidação e o cumprimento da decisão 
que julgar parcialmente o mérito poderão ser 
processados em autos suplementares, a 
requerimento da parte ou a critério do juiz. 
§ 5º A decisão proferida com base neste artigo 
é impugnável por agravo de instrumento. 
Seção IV 
Do Saneamento e da Organização do 
Processo 
Art. 357. Não ocorrendo nenhuma das 
hipóteses deste Capítulo, deverá o juiz, em 
decisão de saneamento e de organização do 
processo: 
I – resolver as questões processuais 
pendentes, se houver; 
II – delimitar as questões de fato sobre as 
quais recairá a atividade probatória, 
especificando os meios de prova admitidos; 
III – definir a distribuição do ônus da prova, 
observado o art. 373; 
IV – delimitar as questões de direito relevantes 
para a decisão do mérito; 
V – designar, se necessário, audiência de 
instrução e julgamento. 
§ 1º Realizado o saneamento, as partes têm o 
direito de pedir esclarecimentos ou solicitar 
ajustes, no prazo comum de 5 (cinco) dias, 
findo o qual a decisão se torna estável. 
§ 2º As partes podem apresentar ao juiz, para 
homologação, delimitação consensual das 
questões de fato e de direito a que se referem 
os incisos II e IV, a qual, se homologada, 
vincula as partes e o juiz. 
§ 3º Se a causa apresentar complexidade em 
matéria de fato ou de direito, deverá o juizdesignar audiência para que o saneamento 
seja feito em cooperação com as partes, 
oportunidade em que o juiz, se for o caso, 
convidará as partes a integrar ou esclarecer 
suas alegações. 
§ 4º Caso tenha sido determinada a produção 
de prova testemunhal, o juiz fixará prazo 
comum não superior a 15 (quinze) dias para 
que as partes apresentem rol de testemunhas. 
§ 5º Na hipótese do § 3º, as partes devem 
levar, para a audiência prevista, o respectivo 
rol de testemunhas. 
§ 6º O número de testemunhas arroladas não 
pode ser superior a 10 (dez), sendo 3 (três), no 
máximo, para a prova de cada fato. 
§ 7º O juiz poderá limitar o número de 
testemunhas levando em conta a 
complexidade da causa e dos fatos 
individualmente considerados. 
§ 8º Caso tenha sido determinada a produção 
de prova pericial, o juiz deve observar o 
disposto no art. 465 e, se possível, 
estabelecer, desde logo, calendário para sua 
realização. 
 
 
 
 
 
 
 
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12 
§ 9º As pautas deverão ser preparadas com 
intervalo mínimo de 1 (uma) hora entre as 
audiências.

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