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150368042015 ATUALIZACAO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL AULA 05

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ATUALIZAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 
MAURÍCIO CUNHA 
1 
PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES E 
JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO 
PROCESSO 
 
 
SANEAMENTO E FASE DE SANEAMENTO. 
AS PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES 
 
Diante da apresentação, ou não, da resposta 
do réu, inicia-se uma fase do procedimento 
ordinário que se denomina de “fase de 
saneamento” ou “fase de ordenamento do 
processo”. 
Durante este período, o magistrado, se for o 
caso, deve adotar providências que deixem o 
feito apto para que nele seja proferida uma 
decisão, chamada de “julgamento conforme o 
estado do processo” (art. 323, CPC). 
 
A atividade de saneamento do magistrado, 
porém, não se esgota nessa fase, que se 
caracteriza, apenas, pela concentração de 
atos de regularização do processo. É que 
desde o momento em que recebe a petição 
inicial, pode adotar medidas para regularizar 
eventuais defeitos processuais – a 
determinação de emenda da petição inicial 
(art. 284, CPC) e a possibilidade de controle 
a qualquer tempo das questões relativas à 
admissibilidade do procedimento (art. 267, § 
3º, CPC) são exemplos disso. O dever de o 
magistrado sanear o processo deve ser 
exercido ao longo de todo o procedimento, 
mas há uma fase em que a sua atuação 
revela-se mais concentrada. 
 
A “fase de saneamento” inicia-se após o 
escoamento do prazo de resposta do réu. No 
entanto, é possível que, após esse momento, 
a “fase postulatória” se prolongue, pois o réu 
pode ter reconvindo ou denunciado a lide a 
um terceiro. É possível, ainda, que o autor 
requeira a modificação do pedido ou da causa 
de pedir, com o consentimento do réu, com 
base no art. 264, CPC. Os primeiros atos da 
“fase de saneamento” podem coincidir, 
portanto, com a prática dos últimos atos da 
fase postulatória. 
 
As “providências preliminares” que podem ser 
adotadas são, basicamente, as seguintes: 
a) tendo sido apresentada 
defesa indireta, deve o juiz 
intimar o autor para apresentar a sua réplica, 
em 10 (dez) dias (arts. 326/327, CPC), que 
consiste na manifestação deste último sobre 
os fatos novos deduzidos pelo réu em sua 
defesa. Se a defesa for direta, não haverá 
intimação para a réplica. Se o autor trouxer 
documentos na réplica, o réu deverá ser 
intimado para manifestar-se sobre eles, em 5 
(cinco) dias, conforme a regra do art. 398, 
CPC. 
 
b) se o réu apresentar defesa direta, mas 
trouxer documentos, deve o juiz intimar o 
autor para manifestar-se sobre eles, no prazo 
de 5 (cinco) dias (art. 398, CPC). 
 
c) se o réu apresentar defesa direta, 
consistente na negação da relação jurídica 
prejudicial deduzida pelo autor, deve o juiz 
intimar este último para que possa, querendo, 
em 10 (dez) dias, promover “ação declaratória 
incidental”, ampliando o objeto litigioso do 
processo, nos termos dos arts. 5º e 325, 
CPC. A “ação declaratória incidental” consiste 
em demanda, formulada pelo autor, para que 
o magistrado declare a existência da relação 
jurídica prejudicial, de modo que essa decisão 
possa ficar imune pela coisa julgada material 
(art. 470, CPC). O réu também pode 
promover “ação declaratória incidental” que 
terá, porém, natureza de reconvenção. 
 
d) se há defeitos processuais que possam ser 
corrigidos, inclusive aqueles relacionados aos 
requisitos de admissibilidade do 
procedimento, deve o juiz providenciar a sua 
correção, fixando, para tanto, prazo não 
superior a 30 (trinta) dias (art. 327, parte 
final, CPC). 
 
e) se houve revelia, deve o juiz verificar a 
regularidade da citação. 
 
f) se, não obstante a revelia, a confissão ficta 
não se tiver produzido, o autor será intimado 
para especificar as provas que pretenda 
produzir em audiência (art. 324, CPC). O 
prazo para especificação das provas é de 5 
(cinco) dias, aplicando-se a regra supletiva do 
art. 185, CPC, tendo em vista o silêncio da lei 
sobre o assunto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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ATUALIZAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 
MAURÍCIO CUNHA 
2 
g) se a revelia decorrer de citação ficta, será 
designado curador especial (art. 9º, II, CPC). 
h) se o réu reconveio, o autor será intimado 
para contestá-la, em 15 (quinze) dias. É 
possível, assim, que o autor seja intimado 
para replicar, em 10 (dez) dias, e contestar a 
reconvenção, em 15 (quinze) dias. Poderá 
apresentar as suas manifestações em 10 
(dez) dias, mas não poderá replicar em 15 
(quinze) dias, valendo-se do prazo maior de 
reconvenção. 
 
i) se o réu promover alguma das modalidades 
de intervenção de terceiros (uma denunciação 
da lide, um chamamento ao processo ou uma 
nomeação à autoria), o juiz adotará as 
providências inerentes a essas intervenções, 
tal como determinar a comunicação do 
terceiro cujo ingresso no processo se pleiteia. 
 
j) o magistrado deve verificar se é o caso de 
intervenção do Ministério Público (art. 82, 
CPC), da Comissão de Valores Mobiliários 
(CVM, art. 31, Lei nº 6.385/1976), do 
Conselho Administrativo de Defesa 
Econômica (CADE, art. 89, Lei nº 
8.884/1994) ou de qualquer outro 
órgão/entidade cuja presença o processo seja 
obrigatória, por força de lei. 
 
JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO 
PROCESSO 
 
O “julgamento conforme o estado do 
processo” pode ter diversos conteúdos. 
Como já consignado, depois de cumpridas as 
“providências preliminares” (arts. 323/327, 
CPC), ou não havendo necessidade delas, o 
juiz examinará os autos para que tome uma 
dessas decisões: 
 
a) extinção sem julgamento do mérito (art. 
267, c/c art. 329, CPC); 
 
b) resolução do mérito, em razão de 
autocomposição total (art. 269, II, III e V, c/c 
art. 329, CPC); 
 
c) resolução do mérito em razão de 
decadência ou prescrição (art. 269, IV, c/c 
art. 329, CPC); 
 
d) julga antecipadamente o mérito da causa 
(art. 330, CPC); 
e) marca audiência preliminar de conciliação 
(art. 331, CPC); 
 
f) não sendo o caso de audiência preliminar, 
determina imediatamente a realização da 
audiência de instrução e julgamento, 
proferindo o chamado “despacho saneador”, 
ordenando o processo para a fase probatória 
(art. 331, § 2º, CPC); 
 
g) profere uma decisão parcial, com o 
conteúdo dos arts. 267 ou 269, mas sem 
extinguir o processo, pois diz respeito a 
apenas uma parcela do objeto litigioso 
(transação parcial, p.ex.). 
 
JULGAMENTO ANTECIPADO DO MÉRITO 
DA CAUSA 
 
Conforme visto, após as providências 
preliminares, o magistrado deve proferir uma 
decisão, que se denomina “julgamento 
conforme o estado do processo”. 
O julgamento antecipado da lide (rectius: 
julgamento antecipado do mérito da causa) é 
uma das possíveis decisões que podem ser 
tomadas neste momento do procedimento. 
Trata-se de decisão de mérito em que o 
magistrado decide o objeto litigioso, julgando 
procedente ou improcedente a demanda 
formulada. Perceba-se que em outras duas 
variantes do “julgamento conforme o estado 
do processo” há, também, exame de mérito: 
 
a) extinção por autocomposição 
(reconhecimento da procedência do pedido, 
transação ou renúncia ao direito sobre o que 
se funda a demanda, art. 269, II, III e V, 
CPC); b) extinção pelo reconhecimento da 
prescrição/decadência (art. 269, IV, CPC). 
Nessas situações, só há julgamento de mérito 
nos casos da letra “b”. 
No julgamento antecipado da lide, porém, o 
magistrado julga o mérito com base no inciso 
I do art. 269, CPC. 
 
Assim, como se vê, o julgamento conforme o 
estado do processo pode implicar decisão de 
mérito tomada com base em qualquer dos 
incisos do art. 269, CPC. São hipóteses de 
abreviação do procedimento. 
 
 
 
 
 
 
 
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ATUALIZAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 
MAURÍCIO CUNHA 
3 
 
O julgamento antecipado da lide é umadecisão de mérito, fundada em cognição 
exauriente, proferida após a fase de 
saneamento do processo, em que o 
magistrado reconhece a desnecessidade de 
produção de mais provas em audiências de 
instrução e julgamento (provas orais, perícia e 
inspeção judicial). Diz o caput do art. 330, 
CPC que “O juiz reconhecerá diretamente do 
pedido, proferindo sentença”. Aqui, o juiz 
entende ser possível proferir decisão de 
mérito apenas com base na prova documental 
produzida pelas partes. 
 
O julgamento antecipado da lide é uma 
técnica de abreviamento do processo. É 
manifestação do princípio da adaptabilidade 
do procedimento, pois o magistrado, diante de 
peculiaridades da causa, encurta o 
procedimento, dispensando a realização de 
toda uma fase do processo. 
É bom frisar que o adjetivo “antecipado” 
justifica-se exatamente no fato de o 
procedimento ter sido abreviado, tendo em 
vista as particularidades do caso concreto. 
O art. 330, CPC, prevê as hipóteses em que 
se admite o julgamento antecipado da lide. 
“O juiz conhecerá diretamente do pedido, 
proferido sentença: I – quando a questão 
de mérito for unicamente de direito, ou 
sendo de direito e de fato, não houver 
necessidade de produzir prova em 
audiência; II – quando ocorrer a revelia 
(art.319)”. 
 
É preciso, porém, fazer algumas anotações 
sobre esse artigo: 
 
a) em primeiro lugar, o “princípio da 
cooperação” impõe que o magistrado 
comunique às partes a intenção de abreviar o 
procedimento, julgando antecipadamente a 
lide. Essa intimação prévia é importantíssima, 
porquanto profilática, pois, a uma, evita uma 
decisão-surpresa, que abruptamente encerre 
o procedimento, frustrando expectativas das 
partes; a duas, se a parte não concordar com 
essa decisão, deve interpor agravo (no mais 
das vezes, será o agravo retido, art. 522/523, 
CPC) – se não o fizer, não poderá, 
posteriormente, alegar 
cerceamento de defesa, pela 
restrição que se fez ao seu direito à prova, em 
razão da preclusão. 
b) essa possibilidade de abreviação do 
procedimento deve ser utilizada com cautela 
e parcimônia, não só porque pode implicar 
restrição ao direito à prova, mas também 
porque, sem a audiência de instrução e 
julgamento, podem os autos subir ao tribunal, 
em grau de recurso, com fraco conjunto 
probatório. Como de praxe, em órgãos 
colegiados, a realização de atividade de 
instrução probatória complementar é mais 
raro, sendo possível que, diante de um 
processo “mal-instruído”, o tribunal resolva 
anular a sentença, para que se reinicie a 
atividade probatória – e isso não é desejável. 
 
c) não há questão de mérito que seja 
“unicamente de direito”, como está escrito no 
inciso I, do art. 330, CPC. O fenômeno 
jurídico não prescinde do suporte fático, sobre 
o qual incide a hipótese normativa. As 
hipóteses previstas no inciso I podem ser 
resumidas em uma: é possível o julgamento 
antecipado quando não for necessária a 
produção de provas em audiência, ou seja, 
quando a prova exclusivamente documental 
for bastante para a prolação de uma decisão 
de mérito. 
 
d) sobre o inciso II, é preciso esclarecer que 
a revelia só implica julgamento antecipado da 
lide se ela produzir o efeito típico da confissão 
ficta, pois, assim, os fatos tornar-se-iam 
incontroversos, o que dispensa a prova, 
consoante o art. 334, III, CPC. Ocorre que 
nem sempre a revelia gera confissão ficta. É 
possível, ainda, que, não obstante a revelia e 
o julgamento antecipado da lide, o autor perca 
a demanda; nada impede que o magistrado 
julgue improcedente o pedido, a despeito de 
reputar existentes os fatos alegados – p.ex., 
os fatos deduzidos não têm aptidão para 
conferir ao autor o direito pleiteado. 
 
e) não se permite que o magistrado, no 
julgamento antecipado da lide, conclua pela 
improcedência, sob o fundamento de que o 
autor não provou o alegado. Se o magistrado 
convoca os autos para julgamento 
antecipado, é porque entende provados os 
fatos alegados. Entende, enfim, que não há 
necessidade de prova. Essa decisão impede 
 
 
 
 
 
 
 
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ATUALIZAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 
MAURÍCIO CUNHA 
4 
comportamento contraditório do juiz (venire 
contra factum proprium); há preclusão lógica 
para o magistrado, que, então, não pode 
proferir decisão com aquele conteúdo. A 
sentença de improcedência por falta de prova, 
em julgamento antecipado da lide, além de 
violar o dever de lealdade processual, a boa-
fé objetiva, que orienta a relação entre os 
sujeitos processuais, e o “princípio da 
cooperação”, poderá ser invalidade por 
ofensa à garantia do contraditório, em sua 
dimensão de direito à prova. 
 
f) quando for o caso, o “julgamento 
antecipado não é faculdade, mas dever que a 
lei impõe ao julgador”, em homenagem ao 
princípio da economia processual (art. 125, I, 
CPC). 
 
AUDIÊNCIA PRELIMINAR 
Generalidades 
 
Ultrapassada a fase das “providências 
preliminares”, e não ocorrendo as hipóteses 
previstas nos arts. 329/330, CPC – extinção 
do processo sem exame do mérito, ou com 
exame do mérito em razão de 
autocomposição, prescrição, decadência ou 
julgamento antecipado da lide – caberá ao 
juiz designar audiência preliminar, situação 
em que tentará promover a conciliação das 
partes (art. 331, CPC). Cabe, inicialmente, 
uma observação. Nada impede, não obstante 
o texto legal, que o magistrado, mesmo sendo 
caso de julgamento antecipado da lide (art. 
330, CPC), marque a audiência preliminar, 
com o objetivo de tentar conciliar as partes. 
Isso com base no inciso IV, art. 125, CPC, 
que atribui ao magistrado o dever de tentar 
conciliar as partes a qualquer tempo. Não 
obtida a conciliação, o magistrado julgaria a 
demanda imediatamente. 
 
Seguindo tendência mundial, foram 
acrescentados ao CPC, nas últimas reformas 
das leis processuais, dois dispositivos que, 
somados ao art. 448, CPC (que já previa uma 
tentativa de conciliação no início da audiência 
de instrução), compõem o tripé normativo em 
favor da conciliação (da solução do litígio por 
autocomposição): o art. 125, IV e o art. 331. 
O inciso IV do art. 125 
estabelece o dever do 
magistrado conciliar as partes a qualquer 
tempo; o art. 331 introduz no procedimento 
ordinário uma audiência preliminar à fase de 
instrução probatória, cujo objetivo principal é 
ensejar uma tentativa de conciliação das 
partes. 
 
Denominação e objetivos da audiência 
 
A audiência de conciliação obrigatória, 
introduzida no art. 331, CPC, em dezembro 
de 1994, sofreu sua primeira reforma com a 
edição da Lei Federal nº 10.444/2002. 
Uma das mudanças foi terminológica: a 
audiência passou a chamar-se de “audiência 
preliminar”. 
 
A mudança do nome do instituto para 
“audiência preliminar” justifica-se plenamente. 
É que a doutrina, de modo geral, já 
reconhecia nessa audiência funções outras 
além da simples tentativa de conciliação. 
Como bem afirma Dinamarco, possuía essa 
audiência um tríplice escopo: conciliação, 
saneamento do processo e delimitação da 
instrução. 
 
Iniciada a audiência, o magistrado tentará 
alcançar a conciliação. Não obtida a 
conciliação, o magistrado deverá resolver as 
questões processuais pendentes e fixar os 
pontos controvertidos do processo – isto é, 
identificar as questões que devem ser objeto 
da fase de instrução probatória. 
 
O § 2º do art. 331, CPC, por sua vez, 
prescreve que o magistrado, frustrada a 
conciliação, “decidirá as questões 
processuais pendentes”. Esse enunciado 
causa certa perplexidade, uma vez que o 
caput indica que é pressuposto para a 
ocorrência da audiência preliminar o exame 
prévio do magistrado acerca da 
admissibilidade do processo e, por 
conseguinte, “questões pendentes” não 
haveriam de estar relacionadas nem com o 
juízo de admissibilidade do processo,nem 
com a existência de prescrição ou decadência 
e nem com a existência de autocomposição 
do litígio. Como bem diz Calmon de Passos, 
esse momento processual não comportaria, a 
bem da verdade, “questões pendentes”, por 
faltar um iter processual que permitisse novas 
 
 
 
 
 
 
 
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ATUALIZAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 
MAURÍCIO CUNHA 
5 
alegações: assim, concluir-se-ia serem 
pendentes as questões processuais 
suscitadas pelo réu e não abordadas em 
decisão anterior. Se isso ocorrer, então, 
poderá o magistrado examinar essas 
questões pendentes e, se for o caso, extinguir 
o processo sem exame do mérito (art. 267, 
CPC) ou com exame do mérito (art. 269, IV, 
prescrição e decadência). 
 
Após isso, o magistrado deve se limitar a fase 
de produção de provas: admitir e não admitir 
a produção de certos meios de prova, 
designar perito e formular o rol de quesitos 
(se for o caso), marcar audiência de instrução 
e julgamento, determinar a inspeção judicial, 
oitiva de testemunhas ou depoimento da parte 
etc.. 
 
A audiência, por não ser simplesmente de 
conciliação, não merecia o nome que tinha. 
Muda-se com isso também o nome da Seção 
III, que passa a chamar-se “Da audiência 
preliminar”, conforme o art. 3º da Lei Federal 
nº 10.444/2002. 
 
A não marcação de audiência preliminar, 
quando for o caso, implica em invalidade do 
procedimento (nulidade) apenas se houver 
prejuízo. Antecipa-se, porém, que dificilmente 
esse prejuízo ocorrerá, tendo em vista que há 
sempre a possibilidade de correção do defeito 
do procedimento, quer pela designação de 
uma data para a realização da audiência, 
quer pela tentativa de conciliação que o 
magistrado pode efetuar por ocasião da 
abertura da audiência de instrução e 
julgamento. 
 
Direitos que admitam transação (rectius: 
conciliação) 
Generalidades 
 
A audiência preliminar deve ser designada se 
os direitos puderem ser objeto de transação. 
A Lei nº 10.444/2002 promoveu a troca da 
“infeliz expressão” “direitos disponíveis” por 
outra tecnicamente mais correta: “direitos que 
admitam transação”. 
 
A mudança foi importante, pois são inúmeros 
os casos de direitos 
considerados indisponíveis 
que admitem transação (alimentos, guarda de 
filhos e outras causas de família, causas 
coletivas, causas que envolvem entes 
públicos, por exemplo), sendo forçoso 
reconhecer que há distinção entre 
disponibilidade e intransigibilidade (rectius: 
inconciliabilidade). 
 
Deve-se ressaltar que não se pode, 
atualmente, aplicar de forma indistinta o art. 
841, CC, que afirma somente ser possível a 
transação em relação a direitos patrimoniais 
de caráter privado. Não se pode, ainda assim, 
confundir transação com conciliação, esta 
gênero do qual aquela é espécie. É possível 
conciliação sem transação, como nas 
hipóteses de renúncia ao direito sobre o qual 
se funda a ação ou reconhecimento da 
procedência do pedido. O que visou o 
legislador, com a criação da audiência 
preliminar, foi ensejar um momento 
processual propício ao fim do litígio por 
conciliação, não necessariamente por 
transação. Assim, onde se lê “direitos que 
admitem transação”, leia-se “direitos que 
admitem conciliação”. A mudança legislativa, 
embora elogiável, poderia ter sido ainda 
melhor. 
 
Conforme já se apontou, em causas de 
família (direitos não patrimoniais) a 
conciliação revela-se como a melhor e mais 
eficaz forma de solução de conflitos. 
Interessante citar a lembrança de Barbosa 
Moreira, em relação à doutrina que comentou 
a legislação de 1994: registra o autor a 
sustentação de alguns autores (como 
Cândido Dinamarco), que, à época, à revelia 
do comando normativo – que previa apenas a 
conciliação em causas com direitos 
disponíveis em disputa -, a audiência de 
conciliação seria também obrigatória nos 
casos de direitos indisponíveis: é que apesar 
da impossibilidade de conciliação em virtude 
da natureza da contenda, ainda assim 
justificar-se-ia a audiência de conciliação 
pelas suas demais funções: o saneamento do 
processo e a preparação para a instrução 
probatória. 
 
Um exemplo de causa que não admite 
transação e, pois, conciliação, é a ação de 
improbidade administrativa (art. 17, §1º, da 
 
 
 
 
 
 
 
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ATUALIZAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 
MAURÍCIO CUNHA 
6 
Lei Federal nº 8.429/1992). O STJ entendeu 
que não é admissível transação em processo 
que envolve discussão sobre a transposição 
de cargos públicos. 
Conciliação em causas que envolvam 
pessoas jurídicas de direito público 
 
Há certo dissenso na prática forense em 
relação à possibilidade de conciliação nas 
causas que envolvem pessoas jurídicas de 
direito público. Existe um mau vezo de se 
relacionarem tais causas com suposto 
interesse público, a não permitir a realização 
de qualquer espécie de autocomposição. 
Trata-se de equívoco lamentável. 
 
São inúmeras as hipóteses de 
autocomposição envolvendo interesse de 
ente público, não sendo temerário afirmar, por 
exemplo, que a maior parte dos conflitos 
fiscais se resolve por acordo de parcelamento 
firmado perante a repartição pública, longe 
das mesas de audiência do Poder Judiciário. 
 
A lei, inclusive, prevê expressamente a 
possibilidade de conciliação em demandas 
que dizem respeito os entes federais: “Em 
regra são situações em que a cobrança 
integral do valor é muito dispendiosa, se 
comparada com o seu possível resultado. 
A renúncia ou a transação acaba sendo de 
interesse público”. 
 
A possibilidade de conciliação envolvendo 
entes estaduais e municípios dependerá de 
lei estadual ou municipal específica. 
Assim, é plenamente possível o acordo em 
tais causas. Pouco importa se lhes atribua a 
característica da indisponibilidade, pois é 
induvidosa a possibilidade de conciliação, 
justificando-se a realização de audiência 
preliminar. 
 
O comparecimento à audiência. O 
preposto (representante voluntário) 
Generalidades 
 
Uma outra novidade, trazida pela Lei Federal 
nº 10.444/2002 à audiência preliminar, foi a 
possibilidade expressa de a parte fazer-se 
representar por preposto – possibilidade já 
prevista para as audiências 
nos ritos sumário (art. 277, § 
3º, CPC) e dos Juizados Especiais Cíveis 
(art. 9º, § 4º, da Lei Federal nº 9.099/95). 
 
O preposto representará a parte na audiência, 
e apenas nela, desde que tenha poderes 
expressos para conciliar (art. 331, fine, CPC). 
Trata-se de delegado da parte com o poder 
especial de transigir (rectius: conciliar). Seu 
agir é essencialmente material (transação, por 
exemplo, é ato de direito material), 
consistente na prática de determinado ato 
jurídico, sem qualquer função postulatória, daí 
por que não precisa ser advogado. 
A preposição regulada no Código Civil é 
figura de direito material, mais 
especificamente de direito empresarial, e cujo 
regramento legal tem por fim precípuo regular 
as relações do preposto com a sociedade a 
que pertence e com terceiros (arts. 
1.169/1.178, CC). A preposição, aqui prevista, 
assemelha-se (repita-se: assemelha-se) à 
figura do mandato, com poder específico de 
proceder à conciliação judicial, administrando 
os interesses do preponente. Trata-se de 
representação voluntária, regulada, 
genericamente, pelos arts. 115/120, CC. A 
utilização, pelo legislador, do termo 
“preposto”, de conteúdo dogmático mais 
restrito, deve-se, induvidosamente, à 
consagração do seu uso nas causas 
trabalhistas e no âmbito dos Juizados 
Especiais. Para que não houvesse confusão, 
seria de bom alvitre a mudança do termo: de 
“preposto” para “representante voluntário”, ou 
simplesmente “representante”. 
 
É possível, entretanto, representação 
voluntária sem a existência do contrato 
subjacentede mandato. O Código Civil de 
1916 parecer ter equiparado, 
equivocadamente, as duas figuras; já o 
Código Civil de 2002 procurou dar um 
tratamento normativo mais aprimorado, 
criando regulamentação geral da 
representação, legal ou voluntária. Aplicam-
se, entretanto, supletivamente, à 
representação voluntária, as normas relativas 
ao mandato representativo (art. 120, CC; 
arts. 653/691, CC). 
 
A outorga do poder de representar é provada 
pela procuração, que é o seu instrumento. A 
representação, normalmente, legitima-se em 
 
 
 
 
 
 
 
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outra relação jurídica, de onde esse poder é 
retirado; relação essa que não é, 
necessariamente, a de mandato, pois há 
outras relações negociais básicas que 
autorizam a concessão do poder de agir em 
nome de outrem, por exemplo: prestação de 
serviços, empreitada, expedição, agência, 
sociedade e preposição mercantil. 
 
Não se pode confundir, ainda, a preposição, 
aqui examinada, com aquela típica das 
demandas trabalhistas. É que lá – processo 
do trabalho – o preposto assume outras 
funções processuais, sendo inclusive fonte de 
prova (prestará depoimento oral), enquanto 
cá – processo civil – a função do preposto é 
puramente de direito material – conciliação -, 
não lhe restando qualquer outra. Embora 
rotulado com o mesmo nome, são figura 
distintas, com papéis distintos e que 
merecem, pois, tratamento distinto. 
 
Preposto de pessoa jurídica ou firma 
individual não precisa ter com esses entes 
vínculo empregatício. A propósito, a nova 
redação do § 4º do art. 9º da Lei nº 
9.099/1995, trazida pela Lei nº 12.137/2009, 
aplicável por analogia aos procedimentos 
ordinário e sumário: “§4º O réu, sendo 
pessoa jurídica ou titular de firma 
individual, poderá ser representado por 
preposto credenciado, munido de carta de 
preposição com poderes para transigir, 
sem haver necessidade de vínculo 
empregatício”. 
 
Pessoa física pode utilizar-se de 
“preposto”? 
 
É claro que pessoa física pode valer-se de 
“preposto”. Embora o termo seja utilizado, 
costumeiramente, quando se está diante de 
representante de pessoa jurídica, nada indica 
a inadmissibilidade do manejo da preposição 
– essa, com função de representação judicial 
para fins conciliatórios – pela pessoa física. 
Trata-se, enfim, de representante voluntário, 
com poder específico de conciliação, e a 
pessoa física, obviamente, pode constituir 
representante voluntário. 
 
Ademais, não permitir à 
pessoa física valer-se da 
preposição, para fins conciliatórios, é ferir o 
princípio da igualdade, pois não se justifica 
tratamento processual tão desigual entre 
pessoa humana e pessoa jurídica. Há 
pessoas muito hábeis na tarefa conciliatória, 
enquanto outras são totalmente 
despreparadas para tanto. Enquanto a 
pessoa jurídica treina seus prepostos em 
cursos profissionalizantes, a pessoa física, 
normalmente litigante eventual, se vê diante 
de uma situação que lhe não é peculiar, o que 
torna a negociação bem desigual. Por mais 
que o advogado e o juiz possam ser fatores 
de equilíbrio, não vemos como repelir a ideia 
de pessoa física constituir representante para 
esse fim específico. É possível até mesmo a 
nomeação de “profissionais”: pessoas 
especializadas na “arte de negociar”. 
 
Quem pode ser representante 
 
Qualquer pessoa capaz pode sê-lo. O maior 
de dezesseis e menor de dezoito não 
emancipados também podem ser prepostos, 
por força do art. 666, CC. No caso de pessoa 
jurídica, não precisa sequer ser seu 
empregado. 
Há proibição de atuação de advogado como 
preposto (art. 23 do Código de Ética da 
OAB). Parece, no entanto, que essa proibição 
não se aplica à preposição processual, 
porquanto a participação do advogado, aqui, 
na qualidade de preposto, restringir-se-á à 
tentativa de conciliação – típica, portanto, do 
exercício da advocacia. A restrição do Código 
de Ética refere-se à preposição em causas 
trabalhistas, nas quais a figura do preposto 
assume outras funções processuais, como já 
examinado. 
 
Além disso, o próprio texto normativo é muito 
claro ao permitir a representação, na 
audiência, por procurador habilitado com 
poderes de transigir (rectius: conciliar), 
consagrando, a propósito, o regramento que 
já existia antes dessa reforma. 
 
O instrumento da representação 
 
O preposto precisa apresentar a carta de 
preposição (art. 118, CC), pois, conforme 
vimos, essa é modalidade daquela, e a 
audiência preliminar pode gerar qualquer 
 
 
 
 
 
 
 
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espécie de conciliação, e não apenas a 
transação. Importa frisar, entretanto, que a 
procuração deve conter expressamente o 
poder conciliatório, sob pena de não-
realização da tentativa de conciliação e 
ineficácia (art. 662, CC) do acordo porventura 
homologado. 
Os prepostos podem conciliar sem a 
presença de advogados? Sim, não haveria 
qualquer problema, pois a conciliação, como 
já se disse, é ato de direito material, e envolve 
interesses a princípio apenas das partes 
envolvidas no litígio. 
 
O DESPACHO SANEADOR 
A dispensa de realização da audiência 
preliminar 
 
A Lei Federal nº 10.444/2002 mitigou a 
obrigatoriedade da audiência preliminar (§ 3º 
do art. 331, CPC). Cabe agora ao juiz 
verificar, in concreto, se é o caso de marcar a 
audiência preliminar, sugerindo a lei, para 
tanto, dois critérios, ambos baseados na 
viabilidade da conciliação: a) inviabilidade da 
transação (rectius: conciliação) em razão dos 
direitos em jogo (critério mais objetivo); b) “se 
as circunstâncias da causa evidenciarem ser 
improvável sua obtenção” (critério mais 
subjetivo). 
 
Reforça-se, também aqui, o poder do juiz de 
adequação do regramento processual ao 
caso concreto – o princípio da adaptabilidade 
do procedimento. Em vez de impor etapa 
procedimental obrigatória, enrijecendo o 
procedimento, o legislador transfere ao 
magistrado a tarefa de examinar a 
oportunidade da realização da audiência, a 
ser verificada a partir das peculiaridades do 
caso concreto. 
 
Já se defendia, mesmo antes dessa reforma, 
que, versando a causa sobre direitos 
inconciliáveis, não se marcaria a audiência de 
conciliação, devendo o magistrado 
providenciar a preparação do feito para a 
instrução no célebre “despacho saneador”. O 
legislador reformista foi além, pois permitiu a 
dispensa da audiência quando esta for 
improvável, mesmo havendo possibilidade 
teórica da conciliação. 
Quando não se puder 
vislumbrar em concreto o acordo, pode o 
magistrado sanear/ordenar o feito sem a 
realização da audiência. 
 
Assim, a audiência preliminar é, em princípio, 
etapa obrigatória do procedimento, mas será 
facultativa sempre que, conforme o § 3º, o 
direito em litígio não admitir transação. 
Não sendo caso de marcação da audiência 
preliminar, surge a última hipótese de 
julgamento conforme o estado do processo: o 
“despacho saneador”. 
 
Conteúdo do despacho saneador 
 
Se não for caso de extinção do processo sem 
julgamento do mérito, nem de extinção do 
processo com julgamento do mérito 
(prescrição/decadência, autocomposição ou 
julgamento antecipado da lide), e não sendo 
hipótese de audiência preliminar, deverá o 
magistrado proferir uma decisão escrita, em 
que deverá examinar as questões 
processuais suscitadas, declarar saneado o 
feito, fixar os pontos controvertidos e delimitar 
a atividade probatória. 
 
Na célebre síntese de Barbosa Moreira: “O 
despacho saneador tem lugar justamente nas 
hipóteses restantes..., o órgão judicial chega 
à convicção de que é necessário o 
prosseguimento do feito – porque ainda não 
pode ser julgado o mérito -,e além disso é útil 
fazê-lo prosseguir – porque tudo indica que o 
mérito poderá ser julgado. Configura-se, pois, 
o despacho saneador como o ato pelo qual o 
juiz, verificando ser admissível a ação e 
regular o processo, o impede em direção à 
audiência de instrução e julgamento, por não 
estar ainda madura a causa para a decisão 
de mérito”. 
 
Perceba-se o seguinte: a) o “despacho 
saneador” não é despacho, mas decisão 
interlocutória; b) o “despacho saneador” nada 
saneia; na verdade, declara saneado; c) o seu 
conteúdo é equivalente ao da decisão, já 
examinada, que o magistrado proferiria 
acaso, tendo marcado audiência preliminar, 
restasse frustrada a tentativa de conciliação. 
Há, pois, nessa decisão, um capítulo 
decisório em que se reconhece a 
admissibilidade do processo (juízo 
 
 
 
 
 
 
 
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declaratório) e outro capítulo decisório em 
que se fixam os pontos controvertidos e se 
delimita a atividade de instrução (juízo 
constitutivo). 
EFICÁCIA PRECLUSIVA DA DECISÃO DE 
SANEAMENTO 
Consideração introdutória 
 
O juízo de admissibilidade positivo, quer 
tenha sido feito no despacho saneador, quer 
tenha ocorrido durante a audiência preliminar, 
tem eficácia preclusiva? Proferido o juízo de 
admissibilidade positivo, é possível que a 
questão decidida possa ser reexaminada, 
ainda no mesmo processo? 
 
A doutrina não costuma atentar para uma 
circunstância bastante relevante: concluindo 
pela admissibilidade ou inadmissibilidade, o 
juízo que o magistrado faça sobre a validade 
do procedimento é o mesmo, não se altera de 
acordo com a conclusão alcançada. Se o 
juízo de admissibilidade é uma decisão (e 
parece indiscutível que o seja), positivo ou 
negativo, pouco importa, deverá submeter-se 
à preclusão. 
 
O juízo de admissibilidade positivo e a 
preclusão 
 
Prevalece, na doutrina brasileira, a concepção 
de que a decisão judicial que reconhece a 
presença dos requisitos de admissibilidade do 
processo (principalmente o denominado 
“despacho saneador”, pelo qual o magistrado 
declara a regularidade do processo) não se 
submete à preclusão pro iudicato: enquanto 
pendente a relação jurídica processual, será 
sempre possível o controle ex officio dos 
requisitos de admissibilidade, inclusive com o 
reexame daqueles que já houverem sido 
objeto de decisão judicial. O fundamento legal 
dessa concepção é o § 3º do art. 267, CPC, 
que teria imunizado as decisões sobre os 
requisitos de admissibilidade do processo à 
preclusão. Afirma-se que o enunciado nº 424 
da Súmula do STF, embora ainda em vigor, 
não se aplica a esse tipo de questão. Fala-se 
que não se pode cogitar de preclusão para as 
matérias que podem dar ensejo à ação 
rescisória. 
 
Não é essa a concepção, porém, a que ora se 
adota. 
 
a) em primeiro lugar, convém precisar a 
correta interpretação que se deve dar ao 
enunciado do § 3º do art. 267, CPC. O que ali 
se permite é o conhecimento, a qualquer 
tempo, das questões relacionadas à 
admissibilidade do processo – não há 
preclusão para a verificação de tais questões, 
que podem ser conhecidas ex officio, até o 
trânsito em julgado da decisão final, mesmo 
pelos tribunais. Não há qualquer referência no 
texto julgado da decisão final, mesmo pelos 
tribunais. Não há qualquer referência no texto 
legal, porém, à inexistência de preclusão em 
torno das questões já decididas. A qualquer 
tempo é possível conhecer tais questões, 
controlar a regularidade do processo, desde 
que o processo ainda esteja pendente e que 
não tenha havido preclusão a respeito. 
Não se permite que o tribunal, no julgamento 
do recurso, reveja questão que já fora 
anteriormente decidida, mesmo se de 
natureza processual, e em relação à qual se 
operou a preclusão. O que se permite ao 
tribunal é conhecer, mesmo, sem provocação, 
das questões relativas à admissibilidade do 
processo, respeitada, porém, a preclusão. 
Parece haver uma confusão entre a 
possibilidade de conhecimento ex officio de 
tais questões, fato indiscutível, com a 
possibilidade de decidir de novo questões já 
decididas, mesmo as que poderiam ter sido 
conhecidas de ofício. São coisas diversas: a 
cognoscibilidade ex officio de tais questões 
significa, tão-somente, que elas podem ser 
examinadas pelo Judiciário sem a provocação 
das partes, o que torna irrelevante o momento 
em que são apreciadas. Não há preclusão 
para o exame das questões, enquanto 
pendente o processo, mas há preclusão para 
o reexame. 
 
b) a preclusão aqui defendida obviamente não 
se opera tendo em vista fato superveniente. 
Conforme já se disse, é possível que, por 
superveniente, deixe de existir um requisito 
de admissibilidade do processo (exemplo: 
incompetência absoluta superveniente e 
perda da capacidade processual). 
Exatamente por tratar-se de fato 
superveniente, a anterior decisão que 
 
 
 
 
 
 
 
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reconheceu a regularidade do processo não 
lhe diz respeito, impondo-se nova decisão, 
que terá outro objeto: a questão nova. Não se 
deve confundir a possibilidade de controle a 
qualquer tempo da regularidade do processo 
com a inexistência de preclusão a respeito. A 
confusão é parecida com aquela que se faz 
em relação à coisa julgada da sentença de 
alimentos: porque fatos supervenientes 
podem alterar a realidade sobre que incidiu a 
primeira sentença, nova decisão deve ser 
proferida, que cuide desta nova realidade. 
Isso não retira a força da coisa julgada 
material, que indiscutivelmente recaiu sobre a 
primeira decisão. 
 
c) o art. 471, CPC, é peremptório ao 
prescrever que nenhum juiz decidirá de novo 
as questões já decididas – “precisamente por 
falta em nenhum juiz o texto dessa disposição 
abrange também o juiz da causa, 
manifestamente compreendido na 
generalidade do advérbio”. Esse artigo 
também se aplica às decisões interlocutórias. 
O art. 473, CPC, determina: é defesa a parte 
discutir, no curso do processo, as questões já 
decididas, a cujo respeito se operou a 
preclusão. Nada há em tais artigos que leve à 
conclusão de que as questões de 
admissibilidade, mesmo já decididas, podem 
ser rediscutidas. 
 
d) como bem apontou Calmon de Passos, se 
as decisões interlocutórias são recorríveis 
(art. 522, CPC), não se pode cogitar, no 
direito brasileiro, da possibilidade de 
preclusão, não somente para as partes, mas 
também para o juiz. 
 
e) por imposição do dever da motivação (art. 
93, IX, CF), a decisão sobre a validade do 
procedimento deve ser expressa: não se 
admite a preclusão do exame de questões 
implicitamente decididas, até porque não se 
pode admitir decisão implícita. A preclusão 
somente pode operar-se em relação às 
questões decididas, contra as quais ou não 
houve interposição de recurso, ou se o 
interpôs, tendo sido rejeitado. Assim, não há 
preclusão se o magistrado deixa, na decisão 
saneadora, ainda que indevidamente, para 
examinar as questões de admissibilidade por 
ocasião da sentença. 
 
f) há um dado curioso nesta discussão: não 
se nega a existência de preclusão em torno 
das questões de mérito já decididas (rejeição 
da alegação de prescrição, por exemplo), 
mas, em relação às questões de 
admissibilidade, permite-se a rediscussão a 
qualquer tempo. Dá-se a essas últimas um 
tratamento diferenciado, como se fossem as 
questões mais relevantes a ser resolvidas 
pelo Judiciário, que estaria autorizado, 
mesmo já se tendo manifestado a respeito, a 
voltar a discutir o tema e concluir pela 
inadmissibilidade do processo. 
 
Parece haver uma intenção não-revelada de 
permitir sempre a possibilidade do não-
enfrentamento do mérito,como se isso fosse 
o desejável, como se isso fosse o mais 
importante. Bem pensadas as coisas, se o 
caso é de não existir preclusão, que o seja 
para as questões de mérito, pois assim se 
permitirá a revisão de decisões 
equivocadas/injustas. Em relação a elas, 
porém, há a coisa julgada, instituto secular, 
construído a partir da percepção de que a 
função jurisdicional deve ter (as questões de 
fundo, o objeto litigioso, o objeto do 
procedimento, a razão de ser do processo), 
que deve realmente existir, pois corolário do 
princípio da segurança jurídica, como não há 
em relação a questões processuais já 
decididas? Por que em relação a elas 
permite-se instabilidade? 
 
Não há razão para esse tratamento 
diferenciado. A o contrário, a preclusão 
justifica-se muito mais em relação às 
questões processuais. É que, solucionada a 
questão sobre a regularidade do processo, e 
ressalvados os fatos supervenientes, ao 
Poder Judiciário somente restaria o exame do 
mérito da causa. Isso é positivo, pois resolver 
o litígio é a tarefa principal da atividade 
jurisdicional. 
 
g) esse posicionamento, tomado ao pé-da-
letra, ainda gera situações absurdas. 
Será, realmente, que, arguido o impedimento 
(falta de requisito processual, que autoriza 
inclusive ação rescisória), com decisão do 
 
 
 
 
 
 
 
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tribunal a respeito, é possível o reexame da 
matéria, em outra oportunidade, por esse 
mesmo tribunal? Será que, após o 
processamento desse incidente, que 
suspende o andamento do processo e em 
que se permite a interposição de recursos, é 
possível ao litigante arguir a parcialidade do 
magistrado novamente, pelas mesmas 
razões, porque não haveria preclusão? 
Formulam-se as mesmas perguntas, mutatis 
mutandis, em relação a qualquer outro 
“pressuposto processual”, pois a falta de 
qualquer deles autoriza o ajuizamento de 
ação rescisória (incisos II e IV, 
especificamente, e o inciso V, genericamente, 
todos do art. 485, CPC). 
 
A circunstância de a questão de 
admissibilidade poder ensejar ação rescisória 
não suficiente para que se impeça a 
preclusão da decisão judicial a seu respeito. É 
que o fato de a questão ser decidida no 
processo originário não impede a propositura 
da ação rescisória; ou seja, o fundamento 
para que a questão não se submeta à 
preclusão é bem frágil: permite-se a 
discussão da questão de ordem pública a 
qualquer tempo, mas não se proíbe, a 
despeito disso, o ajuizamento da rescisória. A 
prévia discussão da questão no processo 
originário não é obstáculo ao ajuizamento da 
ação autônoma de impugnação. 
Enfim, adotar essa postura é comprometer 
totalmente a segurança jurídica, além de não 
se conferir o mínimo de respeitabilidade à 
decisão judicial sobre questões processuais. 
 
h) há ainda o problema em torno das 
condições da ação. Distingui-las das questões 
de mérito é tarefa hercúlea. Permitir a 
rediscussão sobre a existência de uma 
condição da ação é, muitas vezes, dar ensejo 
a nova decisão sobre a questão de mérito já 
decidida. 
 
i) não se descarta a hipótese de que, em 
certos casos, não haja preclusão para o juiz. 
É o caso da possibilidade de produção de 
provas, a qualquer tempo. 
Perceba-se, porém, que essa flexibilidade 
está relacionada ao julgamento da causa: 
permite-se ao magistrado, 
com isso, aprimorar a 
qualidade do seu julgamento. A ausência de 
preclusão, aqui, justifica-se plenamente, pois 
de acordo com a finalidade principal do 
processo, que é a correta decisão do mérito. 
Não se deve, pois, utilizar a inexistência de 
preclusão em tais casos como fundamento 
para que não exista preclusão sobre a 
decisão que examina a admissibilidade do 
processo. 
 
j) muitos dos doutrinadores, que defendem a 
inexistência de preclusão sobre a 
regularidade do processo (juízo de 
admissibilidade positivo), seguem orientação 
diversa em relação ao juízo de 
admissibilidade negativo. Nesse caso, extinto 
o processo pela falta de um “pressuposto 
processual”, a demanda somente poderia ser 
reproposta se o defeito fosse corrigido, ou 
seja, a primeira decisão haveria de ser 
respeitada, tendo, pois, eficácia preclusiva, ou 
não a tem; essa eficácia não pode ser 
secundum eventum litis. 
 
NOVO CPC 
CAPÍTULO IX 
DAS PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES E DO 
SANEAMENTO 
 
Art. 347. Findo o prazo para a contestação, o 
juiz tomará, conforme o caso, as providências 
preliminares constantes das seções deste 
Capítulo. 
 
Seção I 
Da Não Incidência dos Efeitos da Revelia 
 
Art. 348. Se o réu não contestar a ação, o 
juiz, verificando a inocorrência do efeito da 
revelia previsto no art. 344, ordenará que o 
autor especifique as provas que pretenda 
produzir, se ainda não as tiver indicado. 
Art. 349. Ao réu revel será lícita a produção 
de provas, contrapostas às alegações do 
autor, desde que se faça representar nos 
autos a tempo de praticar os atos processuais 
indispensáveis a essa produção. 
 
Seção II 
Do Fato Impeditivo, Modificativo ou 
Extintivo do Direito do Autor 
 
 
 
 
 
 
 
 
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12 
Art. 350. Se o réu alegar fato impeditivo, 
modificativo ou extintivo do direito do autor, 
este será ouvido no prazo de 15 (quinze) dias, 
permitindo-lhe o juiz a produção de prova. 
Seção III 
Das Alegações do Réu 
 
Art. 351. Se o réu alegar qualquer das 
matérias enumeradas no art. 337, o juiz 
determinará a oitiva do autor no prazo de 15 
(quinze) dias, permitindo-lhe a produção de 
prova. 
 
Art. 352. Verificando a existência de 
irregularidades ou de vícios sanáveis, o juiz 
determinará sua correção em prazo nunca 
superior a 30 (trinta) dias. 
 
Art. 353. Cumpridas as providências 
preliminares ou não havendo necessidade 
delas, o juiz proferirá julgamento conforme o 
estado do processo, observando o que dispõe 
o Capítulo X. 
 
CAPÍTULO X 
DO JULGAMENTO CONFORME O ESTADO 
DO PROCESSO 
Seção I 
Da Extinção do Processo 
 
Art. 354. Ocorrendo qualquer das hipóteses 
previstas nos arts. 485 e 487, incisos II e III, o 
juiz proferirá sentença. 
Parágrafo único. A decisão a que se refere o 
caput pode dizer respeito a apenas parcela do 
processo, caso em que será impugnável por 
agravo de instrumento. 
 
Seção II 
Do Julgamento Antecipado do Mérito 
 
Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o 
pedido, proferindo sentença com resolução de 
mérito, quando: 
 
I – não houver necessidade de produção de 
outras provas; 
II – o réu for revel, ocorrer o efeito previsto no 
art. 344 e não houver requerimento de prova, 
na forma do art. 349. 
 
Seção III 
Do Julgamento Antecipado Parcial do 
Mérito 
 
Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito 
quando um ou mais dos pedidos formulados 
ou parcela deles: 
I – mostrar-se incontroverso; 
II – estiver em condições de imediato 
julgamento, nos termos do art. 355. 
 
§ 1º A decisão que julgar parcialmente o 
mérito poderá reconhecer a existência de 
obrigação líquida ou ilíquida. 
 
§ 2º A parte poderá liquidar ou executar, 
desde logo, a obrigação reconhecida na 
decisão que julgar parcialmente o mérito, 
independentemente de caução, ainda que 
haja recurso contra essa interposto. 
 
§ 3º Na hipótese do § 2º, se houver trânsito 
em julgado da decisão, a execução será 
definitiva. 
 
§ 4º A liquidação e o cumprimento da decisão 
que julgar parcialmente o mérito poderão ser 
processados em autos suplementares, a 
requerimento da parte ou a critério do juiz. 
 
§ 5º A decisão proferida com base neste 
artigo é impugnável por agravo de 
instrumento. 
 
Seção IV 
Do Saneamento e da Organização do 
Processo 
 
Art. 357. Não ocorrendo nenhumadas 
hipóteses deste Capítulo, deverá o juiz, em 
decisão de saneamento e de organização do 
processo: 
 
I – resolver as questões processuais 
pendentes, se houver; 
II – delimitar as questões de fato sobre as 
quais recairá a atividade probatória, 
especificando os meios de prova admitidos; 
III – definir a distribuição do ônus da prova, 
observado o art. 373; 
IV – delimitar as questões de direito 
relevantes para a decisão do mérito; 
V – designar, se necessário, audiência de 
instrução e julgamento. 
 
 
 
 
 
 
 
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13 
 
§ 1º Realizado o saneamento, as partes têm o 
direito de pedir esclarecimentos ou solicitar 
ajustes, no prazo comum de 5 (cinco) dias, 
findo o qual a decisão se torna estável. 
 
§ 2º As partes podem apresentar ao juiz, para 
homologação, delimitação consensual das 
questões de fato e de direito a que se referem 
os incisos II e IV, a qual, se homologada, 
vincula as partes e o juiz. 
 
§ 3º Se a causa apresentar complexidade em 
matéria de fato ou de direito, deverá o juiz 
designar audiência para que o saneamento 
seja feito em cooperação com as partes, 
oportunidade em que o juiz, se for o caso, 
convidará as partes a integrar ou esclarecer 
suas alegações. 
 
§ 4º Caso tenha sido determinada a produção 
de prova testemunhal, o juiz fixará prazo 
comum não superior a 15 (quinze) dias para 
que as partes apresentem rol de 
testemunhas. 
 
§ 5º Na hipótese do § 3º, as partes devem 
levar, para a audiência prevista, o respectivo 
rol de testemunhas. 
 
§ 6º O número de testemunhas arroladas não 
pode ser superior a 10 (dez), sendo 3 (três), 
no máximo, para a prova de cada fato. 
 
§ 7º O juiz poderá limitar o número de 
testemunhas levando em conta a 
complexidade da causa e dos fatos 
individualmente considerados. 
 
§ 8º Caso tenha sido determinada a produção 
de prova pericial, o juiz deve observar o 
disposto no art. 465 e, se possível, 
estabelecer, desde logo, calendário para sua 
realização. 
 
§ 9º As pautas deverão ser preparadas com 
intervalo mínimo de 1 (uma) hora entre as 
audiências.

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