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53 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 Unidade II 2 PREÇOS E CONCORRÊNCIA Introdução Na maioria das vezes, quando se inicia uma “guerra de preços” entre dois concorrentes, torna-se difícil estabelecer o momento em que tal disputa por um melhor posicionamento de preço sob a ótica do cliente irá terminar. Cada competidor analisa cuidadosamente os movimentos do seu concorrente, esperando o melhor momento para interromper as reduções de preço e, então, desfrutar de um market share (participação de mercado) que lhe seja conveniente frente às suas reais possibilidades de produção, com ampla cobertura de seus custos variáveis e, na medida do possível, de todos os seus custos fixos, como apresentado no capítulo anterior. Uma disputa mercadológica baseada em preço representa uma forma de concorrência predatória, ou seja, que causa mais danos do que benefícios a quem assim compete. Cada empresa tem uma determinada composição de custos que devem ser cobertos pela receita de vendas. Reduções no preço de venda levam fatalmente a reduções de receita de vendas, que, quando efetuadas de forma desregrada, com vistas unicamente a ganhos na participação de mercado, pode inviabilizar a própria subsistência do negócio. Em alguns momentos muito particulares de suas organizações, empresários sacrificam margem de contribuição em prol da obtenção da encomenda tendo em vista a cobertura dos custos fixos de sua empresa. Trata-se de uma operação que 5 10 15 20 54 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 requer cuidado especial quanto às reduções, concentrando tal cobertura nos custos fixos que impliquem valores calculados – caso dos custos com depreciação de ativos, por exemplo – ou seja, valores que não signifiquem gastos efetivos e, portanto, não constituem saídas de caixa, operacionais ou não operacionais. A rigor, as concessões sobre o preço de venda podem até significar margem de contribuição zero, mas jamais margem negativa, porque isso significa que nem sequer os custos variáveis diretamente apropriados ao custo do produto foram cobertos pelo preço de venda adotado in extremis (no extremo, como uma extrema-unção, uma última reza para quem está prestes a morrer). Representa, portanto, um verdadeiro “suicídio empresarial”. Algo assim como enviar um cheque da empresa que está fornecendo o produto devidamente preenchido, assinado e endossado ao comprador, junto com o produto fornecido! Muito provavelmente, existem outras maneiras de se praticar alguma concessão ao comprador, na maioria dos segmentos de atuação, tanto industriais quanto comerciais, antes de se incorrer em uma concorrência predatória. Para isso, são necessárias, sobretudo, muita criatividade e inovação no tratamento desta importante variável – a concorrência – na formação de preços de venda. Vejamos, a seguir, alguns aspectos relacionados à concorrência, de fundamental importância na precificação de produtos e serviços. Mas, antes, vamos nos deter em uma rápida análise de algumas particularidades estratégicas que envolvem uma organização, qualquer que seja o seu tamanho e, sobretudo, sua potencialidade no mundo dos negócios, isto é, a possibilidade que tal organização reúne de sobrevivência, crescimento e perpetuação no particular segmento de atuação. 2.1 O macroambiente e o ambiente setorial A figura 1 sintetiza a localização de uma empresa industrial, comercial e/ou prestadora de serviços de forma universal no seu particular ambiente de atuação. Aí se pode notar que a empresa está inserida num determinado ambiente setorial, ou seja, o 5 10 15 20 25 30 55 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 setor em que atua. Sendo uma empresa industrial fabricante de autopeças, por exemplo, está inserida no setor automotivo. Um fabricante de armários elétricos está inserido no setor elétrico. Um comerciante de “secos e molhados” (lembra-se dele?) está inserido no setor de comércio. Um escritório de contabilidade pertence ao setor prestador de serviços. Configuram este ambiente operacional, além da própria empresa, quatro outros grupos de agentes interessados nas operações da empresa: os assim chamados stakeholders são os seus fornecedores, os seus clientes, os concorrentes e todos os demais, aí incluídos os agentes de governo – o governo municipal (prefeitura), diretamente responsável pelas licenças de funcionamento do negócio, o governo estadual, responsável pela maior fonte de arrecadação fiscal do país, o ICMS, e o governo federal, que, com sua política econômica, notadamente política fiscal e política monetária, e, para importadores e exportadores, a política cambial, pode interferir diretamente nas operações da empresa, ampliando ou diminuindo a demanda e a oferta, proporcionando melhores ou piores condições de financiamento de capital de giro, capital para investimento e consolidação do negócio, além de sociedades da organização civil diretamente interessadas no negócio, enquanto preservadoras do meio ambiente, prestação de serviços solidários etc. Figura 5 O ambiente de atuação da empresa Fornecedores Empresa Clientes Outros interessados Concorrentes Ambiente social Macroambiente 5 10 15 20 56 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 O macroambiente é composto por forças que atuam sobre as organizações em geral, a saber: forças econômicas, forças político-legais, forças tecnológicas e forças sociais. Alguns exemplos de tais forças macroambientais estão detalhados no quadro 1. Quadro 6 Exemplos de forças macroambientais Forças político- legais Forças sociais Forças econômicas Forças tecnológicas Leis tributárias Atitudes em relação à inovação de produtos, estilos de vida, carreiras e ativismo dos consumidores Fornecimento de dinheiro Gastos em pesquisa e desenvolvimento (do governo e do setor) Regulamentações de comércio internacional Preocupação com a qualidade de vida Política monetária Enfoque em gastos com pesquisa e desenvolvimento Regulamentações de empréstimos a consumidores Expectativas de vida Taxa de desemprego Taxa de introdução de novos produtos Leis de proteção ambiental Expectativas em relação ao local de trabalho Custos com energia Automação Sanção de regulamentações antitruste Mudança na presença de mulheres na força de trabalho Renda pessoal disponível Robótica Leis de contratação, demissão, promoção e pagamento Taxas de nascimento Estágio do ciclo econômico Controles de preços e salário Alterações populacionais Fonte: Adaptado de Wright (2000). 5 57 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 2.2 A estrutura de mercado como determinante da capacidade de competição de uma empresa O ambiente setorial de atuação da empresa configura uma determinada estrutura de mercado, conforme pode ser visto na disciplina Economia de Mercado. Essa estrutura de mercado, de maneira sintética, compreende basicamente a forma como se dá a interação entre compradores e vendedores num particular setor. Sinteticamente, as estruturas de mercado são determinadas por: a. um fator de ordem quantitativa, indicando o número de empresas vendedoras que atuam neste mercado; b. o “poder defogo” destas empresas, no que tange à sua capacidade de compra e negociação; c. o grau de correlação entre as diversas empresas que atuam no mercado, no que se refere à sua interdependência; d. o grau de similitude e diferenciação entre os produtos destas diferentes empresas; e. um outro fator de ordem quantitativa, desta vez relacionado ao número de compradores, tanto empresas quanto indivíduos ou famílias; f. o grau de informação que consumidores e demais empresas vendedoras possuem sobre os produtos que são transacionados neste particular mercado, principalmente aqueles referentes a preços e demais condições que influenciam a aquisição do produto; g. a possibilidade de entrada e saída de empresas do particular segmento de atuação, ou seja, da “indústria”, como é conhecido o setor – ou ramo – de produção. 5 10 15 20 25 58 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 A construção sintética de uma matriz estrutural de mercado leva em consideração, como executado por Stakelberg, em 1934, a quantidade de agentes econômicos – vendedores e compradores – que agem no mercado. Este autor concebeu três situações possíveis, tanto do lado da oferta quanto do lado da procura: apenas um agente econômico, uma pequena quantidade de agentes econômicos e uma grande quantidade de agentes. Relacionando cada uma dessas situações com todas as demais, Stakelberg compôs a seguinte matriz de nove diferentes estruturas possíveis: Quadro 7 Estrutura de Mercado, segundo Stakelberg Co ns um id or es Gr an de qu an tid ad e de co ns um id or es Monopólio Oligopólio Concorrência perfeita Pe qu en a qu an tid ad e de co ns um id or es Quase- monopólio Oligopólio bilateral Oligopsônio Um ú ni co co ns um id or Monopólio bilateral Quase- monopsônio Monopsônio Um único vendedor Pequena quantidade de vendedores Grande quantidade de vendedores Vendedores Fonte: Jorge; Moreira (2009). Vejamos mais detalhadamente tal classificação: ali, na confluência de uma grande quantidade de vendedores com uma grande quantidade de compradores – o extremo nordeste do quadro – situa-se a concorrência perfeita. Na realidade, uma 5 10 59 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 utopia. Impossível imaginar, nos dias de hoje, um mercado que seja dominado pela existência de elevado número tanto de compradores como de vendedores, tal que nenhum deles, de per si (isoladamente) teria condições de determinar preços e quantidades neste mercado. Mais realista supor que os mercados apresentam, sim, uma típica concorrência imperfeita, o próprio conjunto das demais configurações na matriz de Stakelberg. Ali se denota que um monopólio caracteriza uma situação em que existe somente uma empresa vendedora de determinado produto e/ou serviço, para uma grande quantidade de compradores. É o caso, por exemplo, do abastecimento de energia elétrica, considerado um monopólio “natural”, dadas as condições de economia de escala, preços administrados, regulação do Estado e outras características típicas. No caso em que só existisse uma empresa compradora – a Petrobras, por exemplo, com um determinado tipo de válvula fabricado sob encomenda – e muitos vendedores, ter-se-ia uma situação típica, caracterizada por um monopsônio. No canto inferior esquerdo do quadro – extremo sudoeste – observa-se a zona de interação entre um único vendedor e um único comprador. Este é um mercado em que prevalece o monopólio bilateral. Um quase-monopólio e um quase- monopsônio seriam caracterizados na situação em que o único vendedor interage com um pequeno número de compradores e, no segundo caso, na situação em que um único comprador se relaciona com um pequeno número de vendedores. O uso do termo “quase” também se aplica no estudo da moeda, indicando cartões de crédito, depósito em poupança, vale-refeição e outros como “quase-moeda”. Configurando as situações que mais se aproximam das estruturas de mercado encontradas atualmente, despontam os oligopólios – uma pequena quantidade de empresas vendedoras de algum produto e/ou serviço se relacionando com uma grande quantidade de compradores. É o caso do setor automobilístico, de transporte aéreo de passageiros, de dentifrícios e outros. 5 10 15 20 25 30 35 60 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 Também os oligopsônios – que configuram uma interação entre uma pequena quantidade de empresas compradoras e uma grande quantidade de empresas vendedoras, como, por exemplo, no caso de fornecedores de frangos de um dia para a indústria alimentícia especializada – fazem parte da concentração de empresas em diversos segmentos econômicos. No centro do quadro está localizado o oligopólio bilateral, que demonstra uma inter-relação entre uma pequena quantidade de vendedores e, do outro lado, uma pequena quantidade de compradores. Cada um desses agentes vendedores considera os seus concorrentes de maneira peculiar na sua formação de preços de venda. Evidentemente, no caso de um monopolista, sua maior preocupação consiste em oferecer a quantidade de produto que maximiza seu lucro, dada pela igualdade entre receita marginal RMg e custo marginal CMg vista na Unidade 1 desta disciplina e, por outro lado, um preço tal que impossibilite a entrada de novos competidores. Se o seu preço for muito elevado, isso certamente irá atrair outros potenciais ofertantes, significando um fator a mais a ser considerado na competitividade entre as empresas, ao lado de outros, como é o caso do acesso a fontes de matéria-prima, componentes, mão de obra especializada, estrutura organizacional, vocação da empresa etc. 2.3 Preços, quantidade ofertada e quantidade demandada A rivalidade no mercado de atuação da empresa se situa, em particular, nos mercados de oligopólio e, sobretudo, naqueles em que o mecanismo da demanda e da oferta mais se fazem sentir, como num mercado de suposta concorrência perfeita. Por este mecanismo, em situação de plena competitividade, quando há substitutos próximos de vários ofertantes, existirá um preço de equilíbrio que igualará os interesses de ofertantes e demandantes do produto. Esse preço de equilíbrio P* irá regular a quantidade que será oferecida e a quantidade que será 5 10 15 20 25 30 61 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 demandada, configurando, assim, a quantidade de equilíbrio Q*, como demonstrado no gráfico 6: Gráfico 6 Equilíbrio entre a oferta e a demanda Preço Quantidade P* Q* Demanda Oferta É fácil perceber que, se algum dos competidores forçar preços acima do preço de equilíbrio, haverá uma retração da quantidade demandada, determinada pela confluência do novo preço P1 no gráfico 7. Desta maneira, a quantidade demandada cairá para Qd1, coeteris paribus. Gráfico 7 Equilíbrio entre a oferta e a demanda e um aumento de preço Preço Quantidade P* Q* Demanda Oferta Qd1 P1 5 62 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 Isso originará também um excedente de oferta, dado pela diferença entre Qs1 e Qd1, conforme demonstrado no gráfico 3, que exercerá uma pressão sobre os preços, forçando a uma redução e a uma reconduçãoao preço original P*. Gráfico 8 Equilíbrio entre a oferta e a demanda e o excedente de oferta Preço Quantidade P* Q* Demanda Oferta Qd1 P1 Qs1 Excedente de oferta No caso de uma diminuição de preço, observadas as mesmas condições de atuação dos concorrentes, também ocorrerão desequilíbrios, conforme apontado no gráfico 9. Diminuições de preço têm como consequência uma diminuição da disposição dos produtores do bem em relação a tal produto. Haverá, portanto, uma contração da oferta, com a quantidade oferecida deslocando-se para Qs2, conforme apontado neste gráfico. Gráfico 9 Equilíbrio entre a oferta e a demanda e uma diminuição de preço Preço Quantidade P* Q* Demanda Oferta Qs2 P2 5 10 63 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 Mas a preços menores correspondem quantidades maiores sendo demandadas. Os consumidores responderão favoravelmente a diminuições de preço, aumentando a quantidade demandada para Qd2, conforme apontado no gráfico 5. Este aumento também se processa pela entrada de novos consumidores, atraídos pelos preços mais baixos. Com a retração da quantidade ofertada e a expansão da quantidade demandada, observar-se-á um excesso de demanda, demonstrado no gráfico 5. Como consequência da expansão da demanda e da retração da oferta, os preços tenderão a subir, retornando ao preço de equilíbrio. Isso porque, à medida que o preço aumenta, haverá maior interesse em aumentar a quantidade ofertada. Por sua vez, a quantidade demandada irá diminuir, na medida em que o preço do bem ou serviço em questão aumentar. Gráfico 10 Equilíbrio entre a oferta e a demanda e um excesso de demanda Preço Quantidade P* Q* Demanda Oferta Qs2 P2 Qd2 Excesso de demanda Nagle e Holden (2003) apresentam um interessante estudo de caso de uma produtora atacadista de plantas e flores, a Ritter & Sons, no capítulo 3 de sua obra, página 53, sobre precificação e ponto de equilíbrio. Vale a pena dar uma olhada neste caso, para ilustração do que foi visto até aqui. 5 10 15 64 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 A elasticidade da demanda e sua importância na formação de preços de venda a. A elasticidade-preço da demanda Nem todos os produtos ou serviços reagem de uma mesma maneira às flutuações no seu preço. Variações percentuais de preço podem, indubitavelmente, provocar variações percentuais da quantidade demandada, porém, em magnitude diferente, ou seja, a uma variação percentual de 20% no preço, por exemplo, pode ocorrer uma variação percentual da quantidade demandada maior, igual ou menor do que 20%. Com isto, os formadores de preço precisam ficar atentos a estes apelos de variações percentuais no preço provocando variações percentuais de quantidade demandada, para cima ou para baixo, ao formularem sua política de preços. O comerciante de “secos e molhados” a que nos referimos na apresentação da unidade 1 descobriu qual era a “elasticidade- preço da demanda” – sem saber que era esse o nome do fenômeno – quando procedeu a uma redução no preço do bem A, de 10%. Ele vendia 100 unidades por mês ao preço unitário de R$ 10,00 cada unidade. Repassou aos seus clientes um desconto que obtivera numa aquisição de um volume maior de produto junto ao atacadista e, como consequência, a quantidade vendida saltou de 100 para 120 unidades. Acostumado a acreditar só no que via, fez um rápido cálculo de sua receita total com este produto: vendia 100 unidades a R$ 10,00 cada, faturando R$ 1.000,00 com este produto. Ao preço de R$ 9,00 – dera um desconto de 10% no preço anterior, lembra-se? – vendeu 120 unidades, ou seja, 20% a mais do que vendia antes, o que gerou um faturamento de R$ 1.080,00! Com preço menor, faturamento maior! Recapitulando: concedeu um desconto de 10% e a quantidade vendida aumentou 20%! E colocou os dados em uma tabela – a tabela 7 –, para pensar neles depois. Até fez um gráfico com os elementos daí derivados, o gráfico 11: 5 10 15 20 25 30 65 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 Tabela 7 O caso de um produto “elástico em relação a preço” Momento Preço P0 Quantidade Q0 Receita RT0 Preço P1 Quantidade Q1 Receita RT1 0 10,00 100 1.000,00 1 9,00 120 1.080,00 Gráfico 11 O caso de um produto “elástico em relação a preço” Variação % do preço 20% 10% ad c d Variação % da quantidade E, num repente, nosso comerciante percebeu que, para dispor a curva de demanda num gráfico que pudesse retratar posteriormente qualquer produto, ele não indicaria os preços no eixo vertical, mas sim a variação percentual do preço. E faria a mesma coisa com o eixo horizontal, onde dispôs a variação percentual da quantidade demandada. Traçou retas paralelas a cada um destes eixos, a partir de uma escolha de um intervalo equivalente a 10% no eixo de variação percentual dos preços, observando a mesma proporção no espaço equivalente a 20% no eixo da variação percentual da quantidade. “Quebrou” os eixos, porque o que interessava mesmo era o intervalo de 10% e de 20% no eixo de preços e quantidades, respectivamente, com 5 10 66 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 perfeita equivalência no seu dimensionamento. No cruzamento das linhas, indicou, no sentido horário, o ponto a, b, c e d. Agora sim ele poderia associar as variações percentuais e, conhecedor do conceito de demanda, que reza que “a preços menores corresponde uma quantidade demandada maior”, escolheu os pontos d e b, dando origem a uma reta de demanda. Com grande probabilidade, a cada desconto adicional, ele poderia esperar uma elevação da quantidade mais do que proporcional ao desconto concedido. É isso o que reza uma “demanda elástica em relação a preço”: ∆q > ∆p Ou seja, a variação percentual da quantidade demandada ∆q é maior do que a variação percentual do preço ∆p. Veja como fica fácil comprovar a elevação da receita total, no caso de uma demanda elástica em relação a preço, com a ajuda do gráfico 12: Gráfico 12 O caso de um produto “elástico em relação a preço” e a elevação da receita total com preço decrescente Preço Quantidade Área comum RT1 = P1 • Q1 RT0 = P0 • Q0 P0 P1 Q0 Q1 5 10 15 67 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 O retângulo azul (mais forte) corresponde à receita total no momento 0, dada por P0 que multiplica Q0, ou seja, o faturamento de R$ 1.000,00 quando o preço P0 é R$ 10,00 e a quantidade vendida Q0 é 100. O retângulo azul-claro corresponde à receita total no momento 1, dada por P1 que multiplica Q1, ou seja, o faturamento de R$ 1.080,00 quando o preço P1 é R$ 9,00 e a quantidade vendida Q1 é 120. Evidentemente, um aumento de preço, no caso de uma demanda elástica em relação a preço, poderá significar uma redução do faturamento, porque a quantidade demandada cairá mais do que proporcionalmente à variação do preço, ou seja, o aumento percentual do preço poderá provocar uma queda percentual da quantidade demandada em volume mais acentuado. Para ver como isto seria disposto num gráfico, basta imaginar uma substituição dos coeficientes 0 e 1 no gráfico 12. E como ficaria o caso em que uma redução de preço não provoque aumento da quantidade demandada?Pois bem! O comerciante de secos e molhados fez uma nova experiência: reduziu o preço do produto B de R$ 4,00 para R$ 3,00, concedendo um desconto de 25% sobre o preço usualmente praticado. No entanto, a quantidade demandada, que era de 80 unidades, passou para 88 após o desconto. Sua receita com este produto saiu de R$ 320,00 para R$ 264,00. Neste caso, o desconto não possibilitou um aumento da receita, mas sim uma queda. E o comerciante colocou estas informações numa tabela e num gráfico, como fez com o outro produto, para pensar mais tarde no assunto. Tabela 8 O caso de um produto “inelástico em relação a preço” Momento Preço P0 Quantidade Q0 Receita RT0 Preço P1 Quantidade Q1 Receita RT1 0 4,00 80 320,00 1 3,00 88 264,00 5 10 15 20 25 68 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 Gráfico 13 O caso de um produto “inelástico em relação a preço” Variação % do preço 10% 25% ad c b Variação % da quantidade Neste caso, então, pode-se notar que ∆q < ∆p Ou seja, a variação percentual da quantidade demandada ∆q é menor do que a variação percentual do preço ∆p. E a receita total, no caso de uma demanda inelástica em relação a preço, fica assim: Gráfico 14 O caso de um produto “inelástico em relação a preço” e a diminuição da receita total com preço decrescente Preço Quantidade RT0 = P0 • Q0 RT1 = P1 • Q1 Área comum P0 P1 Q0 Q1 5 69 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 Viu agora, por que é que alguns produtos só aumentam de preço? São aqueles bens ou serviços considerados essenciais, como é o caso do combustível, por exemplo. Quando o preço deste produto sobe, a quantidade demandada não se retrairá na mesma proporção, o que levará a um aumento da receita total. Basta seguir aquela mesma orientação anterior e imaginar uma inversão entre os preços e as quantidades no gráfico 9 para ver como isso é verdade. Isto porque a elasticidade-preço da demanda, que chamaremos de Edn, é definida por Variação % na quantidade demandada do bem n Edn = ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Variação % no preço do bem n Esta notação indica que a elasticidade-preço da demanda de um bem n qualquer é dada pela relação existente entre a variação % na quantidade demandada deste bem e a variação % no preço deste mesmo bem. E, para ficar mais fácil ainda de identificar qual é o tipo de elasticidade-preço da demanda de um produto, basta verificar que: a. se Edn > |1|, então a demanda é elástica em relação a preço; b. se Edn < |1|, então a demanda é do tipo inelástica em relação a preço; c. se Edn = |1|, então a demanda é de elasticidade unitária. A notação |1| indica que devemos considerar o número que resultar da divisão entre a variação % da quantidade pela variação % no preço do mesmo bem, não nos preocupando com o sinal daí derivado que, no caso da demanda, será sempre negativo. Isso porque quando o preço aumenta (sinal positivo, portanto), a quantidade demandada diminui (sinal negativo). Ou, quando o preço diminui (sinal negativo), a quantidade 5 10 15 20 25 70 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 demandada aumenta (sinal positivo, portanto). Esta notação indica o módulo do resultado da divisão. A propósito: o produto A a que nos referimos no início deste tópico tem Edn determinado por: 20% 0,20 Edn = -------------------------- = -------------------------- = |2| 10% - 0,10 Como visto, se Edn > |1|, então a demanda será elástica em relação a preço. Quedas no preço provocarão aumento na quantidade demandada mais do que proporcional, elevando, assim, a receita total daí derivada. O produto B, por sua vez, apresenta Edn como segue: 10% 0,10 Edn = --------------------------- = ---------------------------- = |0,4| 25% - 0,25 Sendo Edn < |1|, a demanda será inelástica em relação a preço. A redução no preço provoca aumento na quantidade demandada menos do que proporcional à redução no preço, o que fará com a receita total daí derivada diminua, como demonstrado no gráfico 14. b. A elasticidade-preço cruzada da demanda No tópico anterior abordamos a elasticidade-preço da demanda de um bem em particular. As variações percentuais no preço deste bem provocam variações percentuais na quantidade demandada deste mesmo bem. Existem, no entanto, alguns produtos e/ou serviços que têm sua quantidade demandada dependente das variações percentuais de preço de outro bem correlacionado. Esta correlação poderá indicar um bem substituto ou um bem complementar. O primeiro caso, o do bem substituto, é o caso de bens que não apresentam grandes diferenças entre si, sendo fácil a substituição de um pelo outro. Você pede uma 5 10 15 20 25 71 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 Coca-Cola, por exemplo. O garçom lhe oferece uma Pepsi-Cola e você aceita. Você quer um mamão de sobremesa e o garçom o convence de que o abacaxi está ótimo. E você aceita o abacaxi, sem pestanejar. Estes são caracteristicamente bens substitutos. O preço de um interfere na quantidade demandada de outro. Observe o gráfico 15. Movimentos para cima no preço do mamão, por exemplo, podem provocar um aumento da quantidade demandada de abacaxi, coeteris paribus (tudo o mais constante, lembra-se?). Gráfico 15 Variação de preço e quantidade no caso de bens substitutos Preço QuantidadeQ0 P1 Demanda de mamão Q1 P0 Preço QuantidadeQ0 Demanda de abacaxi Q1 P0 D D’ 5 72 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 Observa-se, à esquerda do gráfico 15, um aumento do preço do mamão reduzindo a quantidade demandada do produto. No gráfico da direita, em que pese o preço do produto abacaxi estar constante, houve um deslocamento da curva de demanda do produto, de D – linha pontilhada – para D’ – linha cheia. Isto porque a demanda de um produto é função não só do preço deste produto, mas também do preço de bens substitutos, bens complementares, gosto, cor, tamanho, renda do consumidor e muitas outras variáveis. Neste caso, já não prevalece a hipótese coeteris paribus, porque, agora, todos os demais fatores interferem na demanda do produto. Esta notação matemática se faz, portanto, assim: Dn = f(Pn; Ps; Pc; G; C; T; R;... ; K) Vejamos o caso de produtos complementares. Café e açúcar, por exemplo, comum para a maioria dos consumidores. Quem bebe café, geralmente o faz com açúcar. A demanda de um destes produtos pode sofrer a interferência de variações no preço do outro. Um aumento no preço do café pode influenciar negativamente a quantidade demandada de café e, por extensão, a demanda do açúcar pode se retrair, com sua curva de demanda deslocando-se para a esquerda, ainda que o preço do açúcar permaneça constante. Veja a demonstração gráfica no gráfico 16: Gráfico 16 Variação de preço e quantidade no caso de bens complementares Preço QuantidadeQ0 P1 Demanda de café Q1 P0 Preço Quantidade Demanda de açúcar P0 D’ DQ0Q1 5 10 15 20 73 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 A elasticidade-preço cruzada da demanda Edx é definida por uma relação entre a variação percentual da quantidade do bem n e a variação percentual do preço do bem k, tal que: Variação % na quantidade demandada do bem n Edx = --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Variação % no preço do bem k A correlação entre os bens será deduzida a partir da magnitude deste Edx: a. se Edx > 0, então n e k são bens substitutos, porque variações positivas no preço de k induzem um aumento da quantidade demandada de n. Com o numerador e o denominador da fração com sinal positivo, o resultado desta operação será um número maior do que zero, ou seja, um número positivo; b. se Edx < 0, então n e k são bens complementares, porque variações positivas no preço do bem k, por exemplo, provocam uma diminuição na quantidade demandada de n. Ou, então, queda no preço do bem k provoca um aumento na quantidade demandada de n. Com sinais inversos no numerador e denominador, isto é, positivo em cima e negativo embaixo, ou negativo em cima e positivo embaixo, o resultado desta operação será um número negativo e, portanto, menor do que zero; c. se Edx = 0, então não há correlação entre os bens. Isso ocorre quando variações no preço do bem k não provocam variações na quantidade demandada do bem n. Com o numerador da fração igual a zero, o resultado será zero. Como se pode observar, os aspectos relacionados à elasticidade-preço interferem na formação de preços de venda 5 10 15 20 25 74 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 de um produto ou serviço. Por isso, é preciso ficar atento aos preços de bens substitutos e bens complementares no momento da precificação, analisando sua evolução ao longo do tempo e o próprio grau de correlação, dado pelo tamanho – ou pela magnitude – do Edx. Em situações de competitividade-preço, é recomendável que o price-maker (o responsável pela precificação) tenha plena consciência do grau de elasticidade-preço da demanda do seu produto, dadas as interferências na receita total do negócio e, consequentemente, no potencial de lucro do negócio. Veja mais sobre a “economia da sensibilidade a preço”, como designado por Nagle e Holden (2003), no Apêndice 4A de sua obra, páginas 107-108. As cinco forças competitivas básicas Porter (1992) evidenciou em sua obra as cinco forças competitivas que determinam a rentabilidade de uma determinada indústria – no sentido de “setor” ou conjunto de firmas que atuam em determinado segmento de mercado, como, por exemplo, a indústria automotiva, a indústria bancária, a indústria gráfica –, influenciando os preços, os custos e o investimento necessário das empresas que atuam no setor. Segundo Porter, a primeira força reside no grau de rivalidade entre as empresas existentes. Em alguns segmentos, esta rivalidade não é de todo percebida nem pelos clientes, nem pelos acionistas. Neste caso, as empresas que aí atuam geralmente apresentam elevada lucratividade. É o caso, por exemplo, da extração mineral, com empresas como a Vale, que apresentam um considerável lucro e faturamento crescente ao longo do tempo. Em outros, a rivalidade pode assumir características predatórias, afetando 5 10 15 20 25 30 75 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 seriamente a rentabilidade do negócio. Tome-se, por exemplo, o caso da indústria de computadores pessoais, em que as marcas disputam palmo a palmo cada cliente ou grande distribuidor. A segunda força diz respeito à ameaça de novos concorrentes. A preocupação com os preços, neste caso, faz com que ele funcione como uma barreira à entrada de novos concorrentes neste setor, ao lado de outros elementos como economia de escala (lembramos que economia de escala significa obtenção de maior quantidade de produto, utilizando uma mesma quantidade de fatores de produção), identidade de marca, produtos licenciados ou patenteados, acesso a canais de distribuição, política governamental e retaliação esperada, ou seja, “castigos” que seriam impostos a novos entrantes no mercado. A terceira força preconizada por Porter, um economista operando na área industrial, reside no poder de negociação dos fornecedores, que é determinado por fatores como a diferenciação dos insumos, a existência de insumos substitutos, o grau de concentração dos fornecedores, a importância de volume para o fornecedor, o custo de mudança de fornecedor e outros aspectos desta natureza. A quarta força demarca o poder de negociação dos compradores. Este poder se dá quando o mercado é altamente concentrado do lado da clientela, ou seja, quando existem poucos compradores, o que faz com que o poder de negociação de cada um seja suficientemente grande para impor condições à indústria. Também colabora para o aumento do poder de negociação dos compradores o volume de compras, os custos de mudança do comprador em relação aos custos de mudança da empresa, o grau de informação do comprador, a existência de produtos substitutos e outros aspectos que denotam a alavancagem da negociação. 5 10 15 20 25 30 76 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 A quinta força diz respeito à ameaça de produtos substitutos, um aspecto que está ligado à percepção do comprador e sua propensão a substituir, além dos custos de mudança e o desempenho do preço relativo dos substitutos. A figura 6 sintetiza estas cinco forças competitivas numa clássica abordagem de Porter. Figura 6 As cinco forças competitivas que determinam a rentabilidade da indústria Concorrentes na indústria Rivalidade entre empresas existentes Poder de negociação dos fornecedores Ameaça de novos entrantes Ameaça de serviços ou produtos substitutos Poder de negociação dos compradores Entrantes potenciais Compradores Fornecedores Substitutos Fonte: Adaptado de Porter (1986) Cinco condições para uma adequada precificação e uma curta lição da teoria dos jogos Uma eficaz formação de preços de venda de um produto e/ou serviço, que possibilite uma adequada lucratividade frente aos investimentos realizados, além de confortável participação 5 10 77 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 de mercado, não é tarefa simples, como já se pode perceber. Ela dependerá fundamentalmente da observação de certas condições, dentre as quais destacamos: • implementação de um sistema de informações gerenciais que possa diagnosticar com rapidez as eventuais alterações nos custos fixos e custos variáveis, com adequada mensuração destas alterações em cada produto ou linha de produto; • um adequado sistema de informações mercadológicas deve municiar a organização com dados do mercado que constituirão a base para as decisões de fixação de preços; • um registro sistemático das mudanças de comportamento, tanto da concorrência como dos clientes, principalmente no caso de modificações sucessivas de preços; • centralização das decisões relacionadas à estratégia de preços,sem delegá-las às filiais; • limitar as decisões de modificações nos preços como uma resposta, prevista e planejada, às condições do mercado e ao comportamento dos concorrentes. Nagle e Holden (2003) destacam que “o apreçamento é um ‘jogo’, como definido pela teoria dos jogos, porque o sucesso depende não apenas das decisões de apreçamento da própria empresa, mas também de como os clientes e concorrentes respondem a elas”. Estes autores destacam a importante diferenciação entre um jogo de soma positiva e um jogo de soma negativa. O primeiro evidencia um processo de competição que cria benefícios. Como nos esportes, na escola ou nas vendas de uma empresa. Aí, quanto mais intenso e prolongado o jogo, maiores as recompensas para os jogadores. Tanto para 5 10 15 20 25 30 78 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 o vencedor quanto para os demais competidores, que tiram proveito de sua participação na disputa, como uma vivência que contará pontos no aprendizado rumo a futuras conquistas. Nos jogos de soma negativa, o processo de competição impõe custos aos jogadores. O perdedor nunca se beneficia de ter participado. Estes jogos estão presentes em guerras, duelos, ações trabalhistas e, especialmente, em competição de preço. E frisam Nagle e Holden: “Quanto maior o tempo pelo qual o conflito se arrastar, maior é a probabilidade de que até mesmo o vencedor ache que não valeu a pena ter jogado, em vista dos custos”. Uma reação pensada a respeito da competição de preço Você já reagiu de maneira tempestiva, impensada, precipitada, quando o seu concorrente o enfrentou em seu próprio mercado, oferecendo produtos e/ou serviços a preços menores ou com alguma condição especial de pagamento? Certamente, não ficou contente com sua reação, não foi mesmo? Estas reações geralmente acarretam mais prejuízos do que algum benefício. Covey (1994) nos oferece duas frases para uma reflexão sadia a este respeito. A primeira diz: Nós simplesmente presumimos enxergar as coisas da maneira como elas realmente são ou como deveriam ser. E nossos comportamentos nascem dessa presunção. A segunda frase é pouquinho mais longa que a primeira, mas igualmente precisa em sua formulação: Não é o que acontece conosco, mas a nossa resposta ao que acontece conosco que nos magoa. Naturalmente, podemos nos machucar física ou economicamente, e isso vai nos fazer 5 10 15 20 25 30 79 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 sofrer. Mas o caráter, a identidade básica não precisam absolutamente ser afetados. Na verdade, as experiências mais difíceis se tornam o tubo de ensaio onde se forja nosso caráter e se desenvolvem nossos poderes interiores, a liberdade de lidar com circunstâncias difíceis no futuro e de inspirar outras pessoas a fazerem o mesmo. Então, que tal agir com a cabeça na hora de enfrentar um concorrente em nosso campo de ação? De cara, pra levantar o moral da tropa, pense que este concorrente tem algo que nós não temos: um concorrente com real poder de reação calculada. Ou seja, nós. E, pra melhorar este modo de agir, busquemos em Nagle e Holden (2003) a inspiração. Eles nos oferecem algumas questões para nossa reflexão e guiam nossas atitudes na competição de preço ou entrada de novo produto, sintetizadas na figura 4. Vejamos cada uma destas questões a seguir, bem como as alternativas de resposta e as consequências derivadas de cada alternativa. As alternativas levam a novas perguntas que indicarão as atitudes a tomar, no final do processo. 1. Há uma resposta que custaria menos à empresa que a perda evitável de vendas? Ninguém gosta de perder vendas. Por isto, a maioria dos executivos de vendas se vê tentada a cortar preços de maneira genérica para combater uma redução de preços empreendida pelo seu concorrente. Mas é preciso considerar que tal reação será interpretada pelo mercado como um indício de atitude futura. Clientes leais poderão se sentir explorados caso não obtenham as mesmas reduções de preços que, muito provavelmente, tomaram conhecimento pela boca do vendedor do concorrente. E estes autores sugerem alguns princípios a serem 5 10 15 20 25 30 80 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 observados como forma de redução do custo de reação a uma ameaça de preço: • focar o corte de preço reativo apenas nos clientes que provavelmente seriam atraídos pela oferta do concorrente, ou seja, criando alternativas de produto para segmentos específicos de mercado; • focar o corte de preço apenas no volume incremental em risco, o que significa dizer que tal redução de preço irá afetar o volume adicional de vendas que se poderia obter com o preço reduzido; • focar o corte de preço reativo em uma determinada região geográfica de atuação ou linha de produto particular em que o concorrente tenha o máximo a perder, em relação a você, com o corte de preço; • eleve os custos dos descontos para o concorrente, especialmente nos casos em que o concorrente esteja oferecendo preços mais atraentes para novos clientes. Se este concorrente dispuser de clientes correntes, divulgue tais descontos para estes clientes tradicionais do concorrente. Em pouco tempo, ele será bombardeado por solicitações e exigências de descontos semelhantes por parte destes clientes correntes, o que o fará retroceder em suas ofertas agressivas; • alavanque todas as vantagens competitivas para aumentar o valor de sua oferta como alternativa à equiparação de preço, ressaltando e ampliando aspectos como o período de garantia, se efetivamente o seu produto apresentar qualidade melhor. Ou serviços mais rápidos, caso sua rede de serviços pós-venda seja efetivamente maior do que a de seu concorrente. 5 10 15 20 25 30 81 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 Se qualquer destas atitudes apresentar um custo menor do que simplesmente permitir ao seu concorrente que ganhe alguns negócios, então siga pelo lado direito da figura 4. Mas, se custa mais responder do que aceitar a perda de vendas, passe pro lado esquerdo. 2. Se você reagir, seu concorrente está disposto e capacitado a cortar o preço novamente para restabelecer a diferença de preços? Esta pergunta também requer um reconhecimento da estratégia do concorrente em relação à redução de preços. Concorrentes que buscam entrar em determinados mercados a qualquer preço certamente irão reagir com novas reduções de preços. Entrar, portanto, no jogo de reduções de preços infindáveis só pode trazer prejuízos. Nagle e Holden trazem o exemplo de uma indústria farmacêutica entrante no mercado que, tendo custos afundados em pesquisa e desenvolvimento – os chamados sunk costs, ou seja, custos já incorridos e que dificilmente serão recuperados –, não considera estes custos em sua tomada de decisão com relação ao preço a ser cobrado pelo produto daí derivado, no curto prazo. “Este novo entrante nada tinha a perder baixando o preço, pois ele não vendia nada de qualquer maneira”, fato que os levou, enquanto consultores de outra empresa farmacêutica que lhes pediu que recomendassem uma estratégia de apreçamento para se defender de um novo entrante, a afirmarem que defender as vendas da empresa com preço era algo temerário. Para eles, “a conclusão óbvia era a de que o concorrente cortaria o preço tantas vezes quantas fossem necessárias para estabelecer uma vantagemde preço”. Supondo que a resposta a esta pergunta seja “sim”, passemos à pergunta seguinte. 5 10 15 20 25 30 82 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 3. As múltiplas respostas necessárias para se equiparar a um concorrente ainda custarão menos do que a perda evitável de vendas? Imagine que, no caso das indústrias farmacêuticas concorrentes citadas na pergunta anterior, a guerra de preços prosseguisse, levando a novas reduções nos preços, tanto por um como pelo outro concorrente. O custo total desta guerra teria sido extremamente elevado e, no final, teria sido melhor interromper o processo de diminuições de preço quando o preço estivesse num patamar mais elevado. Neste estágio superior de preço, os dois concorrentes teriam algo a perder, e não apenas aquele que antes dominava a maior parte do mercado. É quando “a competição deve ser redirecionada para atividades de soma mais positiva, tais como visitas de vendas, melhoria de produto e educação do paciente”, como um esforço para deter os descontos. Se a resposta foi um “não”, ou seja, se a perda de rentabilidade provocada pelos descontos nos preços for maior do que a perda de vendas, passe para as próximas questões, inter-relacionadas. 4. A sua posição em outros mercados (geográficos ou de produto) estará ameaçada se um concorrente tiver sucesso em ganhar participação de mercado? O valor dos mercados sob risco justifica o custo de uma resposta? Estas questões remontam a razões estratégicas não relacionadas com a lucratividade. Nagle e Holden sugerem que, antes da aprovação de qualquer corte retaliatório de preço por razões estratégicas, duas coisas devem ser exigidas. “A primeira é uma clara definição de quais os benefícios e riscos estratégicos de longo prazo”. Dentre os prováveis benefícios podem se situar: 5 10 15 20 25 30 83 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 • vendas adicionais neste mercado no futuro; • vendas adicionais imediatas de produtos complementares; • custo mais baixo de vendas futuras devido a uma vantagem competitiva (vantagem competitiva constitui um “algo mais” possibilitado pelo produto ou serviço em relação aos atributos de um produto ou serviço similar do concorrente, reconhecidos como valor pelo consumidor) de custo resultante do volume adicional. Como riscos, os autores citam a possibilidade de que o corte de preço acabe se alastrando “para outros clientes e outros mercados e que os concorrentes reajam, criando novamente uma espiral descendente de preços, que mina os lucros e qualquer possibilidade de ganho no longo prazo”. Como segundo requisito para justificar um corte estratégico de preço, os autores citam a necessidade de uma estimativa quantitativa do valor do benefício estratégico. Isto significa que a mensuração adequada dos efeitos decorrentes de um corte estratégico de preços vis- à-vis (em comparação com) outras ações promocionais em determinados segmentos de mercados, produtos ou regiões pode indicar a validade ou não de se proceder ao corte estratégico de preços. Depreende-se, portanto, nas palavras de Nagle e Holden, que “a estratégia de apreçamento competitivo envolve mais do que apenas decidir entre reagir ou não com preço. Ela também envolve decidir como adaptar a estratégia competitiva de sua empresa à nova situação”. E, para melhor situar a decisão a ser tomada, estes autores construíram uma matriz de opções, conforme disposto na figura 7: 5 10 15 20 25 30 84 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 Figura 7 Opções para reação à competição em preço Concorrente estrategicamente é... ...mais fraco. ...neutro ou mais forte. A re aç ão d e pr eç o é. .. ...c us to sa de m ai s. Ignore Acomode ...j us tifi ca da pe lo c us to Ataque Defenda Fonte: Adaptado de Nagle e Holden (2003) Esta matriz comporta a visão do concorrente do ponto de vista estratégico como sendo mais fraco ou, por outro lado, neutro ou mais forte, como indicado no eixo horizontal da figura 3. Estes conceitos de “fraqueza” e “força” estratégicas referem-se às vantagens competitivas relativas de um concorrente, tanto no aspecto da estrutura de custos, linha de produtos ou serviços quanto na diferenciação destes produtos em relação aos demais que concorrem num determinado mercado. No eixo vertical, as opções estão vinculadas à reação de preço, que pode ser justificada pelo custo, ou seja, que se dispõe de lucratividade suficiente para o enfrentamento via descontos, ou, por outro lado, que tal reação de preço pode ser custosa demais para a empresa, com perdas insuportáveis de lucratividade. Para finalizar este capítulo referente a preços e concorrência, reproduzimos Nagle e Holden que apontam que (...) a chave para sobreviver a um jogo de apreçamento de soma negativa é evitar o confronto, a menos que você possa estruturá-lo de maneira que o ganho e os prováveis benefícios da vitória superem os prováveis custos. Não inicie descontos de preço, a menos que o 5 10 15 20 85 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 ganho de curto prazo valha a pena depois de considerar as reações de longo prazo dos concorrentes. Não reaja a descontos de preço de um concorrente, exceto com táticas de preço ou não de preço [outras táticas que não tática de preço] que custem menos que a acomodação do comportamento do concorrente custaria. Se os gerentes em geral seguissem essas duas regras simples, bem menos ramos seriam devastados por competição de preço destrutiva. Figura 8 Reagindo de maneira bem pensada à competição de preço Não SimNão Não Há uma resposta que custaria menos à empresa que a perda evitável de vendas? A sua posição em outros mercados estará ameaçada se um concorrente obtiver participação de mercado? Se você reagir, seu concorrente está disposto e capacitado a cortar o preço novamente para restabelecer a diferença de preços? RespondaAcomode ou ignore O valor dos mercados sob risco justifica o custo de uma resposta? As múltiplas respostas necessárias para se equiparar a um concorrente ainda custarão menos do que a perda evitável de vendas? RespondaResponda Preço reativo competitivo ou entrada de novo produto Não Não Sim SimSim Sim 5 86 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 3 PREÇOS E CLIENTES Introdução No capítulo 1 abordamos a formação de preços de venda a partir de uma constatação: a de que os produtos e/ou serviços objeto da precificação são resultado da apropriação de custos e despesas inerentes à sua obtenção e satisfação das necessidades do cliente. Ao estabelecermos uma margem de contribuição representada por um acréscimo aos custos diretos do produto e/ou serviço oferecido, suficiente para a cobertura das despesas e geração líquida de caixa do negócio, baseamo-nos exclusivamente nos custos e despesas como determinantes do preço de venda. No capítulo 2 apontamos a necessidade de um olho na competição entre os diversos concorrentes no particular mercado de atuação. Os conceitos de demanda e oferta, aliados à elasticidade da demanda e uma visão estratégica racional da atuaçãodo concorrente e maneiras de se lidar com descontos de preços foram estudados como mais um aspecto que influencia as decisões de formação de preços de venda em economias competitivas, concentradas ou não. Este capítulo 3 evidencia como o cliente utiliza o preço em suas decisões de compra. Uma adequada precificação deve considerar, sobretudo, que o preço deve ser o maior que o consumidor esteja disposto a pagar. Desta maneira, este enfoque visa destacar as potencialidades de lucro do negócio, com base na percepção de valor do cliente. Esforcemo-nos, portanto, em entender e interpretar o que seja valor e percepção de valor para os diversos tipos de clientes. A conjunção de preço e valor reside no fato de que, na sua mais simples concepção, preço é a expressão monetária do valor do produto e/ou serviço. 5 10 15 20 25 30 87 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 O conceito de valor econômico Segundo Jorge e Moreira (2009), (...) durante muito tempo, o conceito de valor econômico foi alvo das mais acirradas discussões entre os teóricos da análise econômica. Para uns, o valor de um bem seria determinado pelo trabalho aplicado na sua obtenção. Este é o enfoque da oferta. Para outros, o valor econômico seria determinado pela escassez relativa dos bens, na sua utilidade nas escalas de preferência dos indivíduos. Este é o enfoque da procura. Esta diferenciação conceitual nos remete a um valor de troca – no caso da oferta – e a um valor de uso – no caso da demanda. Precificar um produto a partir do seu valor de troca é o que faz, por exemplo, um vendedor de refrigerantes numa praia abarrotada de potenciais consumidores. Ele, certamente, cobra um preço maior pelo fato de estar ali, no exato momento em que o consumidor está mais disposto a consumir o seu produto. Mas este ofertante não está sozinho. Ele é acompanhado por outras dezenas de comerciantes deste cobiçado produto que, naquele particular momento e local, oferece uma alta lucratividade. O consumidor, percebendo isto, se vale do “excedente do consumidor”: ele sabe que, na disputa entre ofertantes e consumidores, o preço que equilibrará os interesses de um e de outro irá proporcionar um “ganho” para todos aqueles que estariam dispostos – e aptos – a consumirem tal produto a um preço maior. Este “ganho” é o excedente do consumidor. Por sua vez, o ofertante também se valerá do “excedente do ofertante” que, analogamente, representa um preço de equilíbrio a nível maior do que aquele que ele estaria disposto – e apto – a oferecer seu produto no mercado, proporcionando, assim, um “ganho” a este ofertante. Este “ganho” é o excedente do ofertante. O preço de equilíbrio entre a oferta e a procura garante, portanto, excedente do consumidor equivalente ao excedente do 5 10 15 20 25 30 88 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 ofertante. A este preço, a quantidade oferecida no mercado é igual à quantidade demandada neste mesmo mercado. Tomando-se o caso particular da demanda, que é onde se localiza o cliente, nosso objetivo principal neste capítulo sobre a formação de preços de venda, é possível imaginar que existam diferentes percepções de valor distribuídas ao longo de uma curva de demanda. Porque esta percepção é subjetiva, ou seja, é própria de cada consumidor. Em outras palavras, a utilidade de cada produto é própria de cada potencial adquirente deste produto. Sendo assim, seria extremamente difícil estabelecer um preço para cada um dos consumidores. Por isto, os profissionais de marketing, diretamente responsáveis pela adequada mensuração do benefício esperado do produto, levam em consideração em sua estratégia mercadológica o valor de troca – na concepção dos economistas – ou o valor econômico para o cliente – na concepção destes profissionais de marketing. Um valor econômico é determinado, sobretudo, pelas alternativas disponíveis aos clientes. Mesmo que numa lanchonete a trinta metros da praia se consiga pagar um preço menor pelo refrigerante, o consumidor está disposto a pagar um pouco mais por aquele que lhe é oferecido ali onde ele se localiza, porque se trata de uma “oferta de produto diferenciada”. E se este ambulante da praia encontrasse outras formas de diferenciação do seu produto, devidamente valorizadas pelo seu potencial consumidor, ele certamente venderia mais para o mesmo cliente e cativaria outros consumidores do seu particular segmento de mercado. Por exemplo, oferecendo copos plásticos devidamente protegidos. Ou mesmo guardanapos de papel. E, quem sabe, também alguns pacotinhos de amendoim japonês expostos adequadamente em sua loja ambulante. Tem-se, então, que “o ‘valor econômico’ de um produto (...) é o preço da melhor alternativa para o cliente (chamado de valor de referência) mais o valor de tudo quanto diferencie o produto dessa alternativa (chamado de valor de diferenciação)”, conforme Nagle e Holden. Este conceito é explicitado na figura 9: 5 10 15 20 25 30 35 89 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 Figura 9 Análise de valor econômico Valor de diferenciação negativo Valor de referência Valor de diferenciação é o valor para o cliente (positivo ou negativo) de quaisquer diferenças entre a oferta de um fornecedor e o produto de referência. Valor econômico total Valor de referência é o custo (ajustado para diferenças em unidades) do produto concorrente que o cliente vê como a melhor alternativa à oferta de um fornecedor. Valor de diferenciação positivo Fonte: Adaptado de Nagle e Holden (2003) O que é que influencia a percepção de valor? Em se tratando de pessoas e de sua total subjetividade com relação ao valor percebido nos produtos e/ou serviços de que elas necessitam – e também o próprio conceito de necessidade é altamente subjetivo, porque uma roupa de marca famosa, por exemplo, pode ser um objeto de desejo para uns e não significar absolutamente nada para outros – torna-se relevante descobrir o que é que influencia tal percepção de valor. Nagle e Holden (2003) apresentam “nove ‘efeitos’ que influenciam a disposição em pagar e tornam os compradores mais ou menos sensíveis à diferença entre preço e valor ao tomarem decisões de compra”: 1. O efeito preço de referência Você já se deu conta de que, em uma loja de calçados, mesmo que você indique expressamente ao vendedor que gostaria de provar aquele sapato na vitrine, ele sempre traz outros pares? E qual é o que ele apresenta primeiro 5 10 15 90 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 e insiste pra você provar? Um modelo mais caro do que aquele que você escolheu, não é mesmo? Isto se ele for um bom vendedor de sapatos, é claro. Essa é uma das muitas táticas utilizadas em vendas, conhecida por “venda de cima para baixo”. Aplica-se também a óculos, veículos, malas, roupas e até mesmo imóveis. Assim se constrói o “preço de referência”. A lembrança de preços vistos no passado também influencia a ideia de preço de referência. Lançamentos de novos produtos são efetuados geralmente com preços abaixo do seu parâmetro julgado ideal, com o objetivo de induzir à experimentação. Depois, quando o consumo se consagrar e ocorrer repetição da compra, o preço poderá ser aumentado. Mas é preciso tomar cuidado na quantificação do volume de vendas de repetição, porque o consumidor poderá associaro produto ao preço de introdução no mercado e julgar – acertadamente, neste caso – que houve um aumento indevido e, por isto, adquirir um produto substituto cujo preço permanece o mesmo. É daí que surge o conceito que os psicólogos denominam de expectativa de preço de referência do cliente para a categoria do produto em si. Porque, na realidade, a maioria dos consumidores não guarda em sua memória o preço de cada um dos produtos que adquire, mas, sim, têm tal expectativa de preço de referência. Essa expectativa também se aplica a preços futuros, quando o consumidor adia suas compras na esperança de que, um pouco mais à frente, os preços poderão ser reduzidos em função da prática de determinado desconto. Como nas liquidações de início de ano, por exemplo. 2. O efeito comparação difícil A percepção de valor é, por vezes, adiada em função da superposição de outros atributos do produto usualmente adquirido. É o caso de alguns remédios não genéricos, 5 10 15 20 25 30 91 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 por exemplo, que invocam uma confiança na marca. Os consumidores continuarão a pagar um preço mais alto pela segurança que sua marca habitual oferece: esta confiança. Também existem casos em que o preço é de difícil comparação entre produtos similares. É o caso de vendas via Internet, que, além do preço do produto, também cobram frete, processamento e outros encargos. Ou produtos que, aparentemente iguais externamente, apresentam pesos diferentes em embalagens com forma e tamanho diferentes. Nagle e Holden citam o caso de estudo de apreçamento unitário que evidenciou que “a participação de mercado de marcas mais baratas cresceu substancialmente depois de as lojas terem ordenado as marcas pelos seus preços unitários”. Além disso, muitos consumidores estão dispostos a pagar um preço-prêmio por alguns produtos que sejam provenientes de marcas conhecidas e já testadas, com a qualidade já conhecida e julgada adequada, ainda que esta não seja a melhor qualidade do mundo. Os compradores do jornal Folha de São Paulo não o fazem por comparação com o seu concorrente O Estado de São Paulo, ou vice- versa, mas sim porque acreditam que este produto tem aquilo que eles precisam para satisfazer sua necessidade de informação. O mesmo se processa com certos tipos e marcas de veículos, computadores, tratores, implementos agrícolas e tantos outros bens. 3. O efeito custo de mudança O proprietário de uma frota de ônibus da marca “A” pode pensar em adquirir ônibus da marca “B”? Quais os custos envolvidos? Estoque de peças de reposição, treinamento do pessoal de oficina, pesquisa de custos de componentes vitais fabricados por terceiros, como pneus, por exemplo, levantamento de dados, na prática, sobre consumo e manutenção e tantos outros, não é mesmo? Por isto, é 5 10 15 20 25 30 92 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 comum acontecer de o concorrente entrante – a marca “B”, no caso – oferecer um substancial desconto nos seus preços, tornando o seu produto muito atraente neste particular aspecto. Até mesmo determinados serviços executados por profissionais, como contadores, advogados e mesmo a babá dos filhos são relativamente cativos. Quem os contrata pensa duas vezes antes de mudar de profissional. Por isto, “quanto maior o investimento específico de um produto que o comprador precisa fazer para trocar de fornecedor, menos sensível a preço se torna esse comprador ao escolher entre alternativas”, nos dizeres de Nagle e Holden. Este é o efeito custo de mudança. Para estes autores, “quanto maior o custo adicional (tanto monetário como não monetário) associado à mudança de fornecedores, menos sensíveis os compradores se mostram ao preço de um produto”. 4. O efeito preço-qualidade Este efeito indica que os compradores são menos sensíveis a preço de um produto porque, para eles, o preço mais alto sinaliza melhor qualidade. E é claro que “qualidade”, aqui no caso, é um conceito igualmente subjetivo. A qualidade de um renomado veículo de passeio pode não ser nada significativa para um consumidor apaixonado por utilitários. Neste caso, o importante é o reflexo pessoal sobre o consumidor que tais objetos de desejo despertam nos outros. Em outras palavras, a aquisição de um produto reconhecidamente caro dá prestígio ao seu adquirente, porque ele comunica aos outros que tem condições de adquirir tal bem. É por isto que o prestígio da loja interessa no momento em que se está comprando um presente para alguém, mas é irrelevante quando se trata de um item para uso pessoal. Existem outros motivos para se estabelecer um preço elevado, mais alto do que os dos concorrentes, como um 5 10 15 20 25 30 93 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 indicador de qualidade. Ao cobrar preços altos, profissionais liberais – médicos, dentistas, advogados, cabeleireiros – podem agendar o atendimento de seus clientes espaçadamente, porque estes preços altos contribuem para reduzir a clientela. Os efeitos indesejados de uma viagem aérea de longa distância com crianças pequenas do lado ou um turista conversando em alto volume são eliminados quando se compra uma passagem de primeira classe. O preço alto desta passagem certamente elimina este tipo de inconveniente. E veja, ainda, o caso de banheiros públicos que possuem unidades pagas ao lado de outras gratuitas. Conheci um empresário que resolveu diversificar seus investimentos, adquirindo um ponto comercial em uma atraente rua de São Paulo, famosa pelos seus requintados restaurantes, para ali montar uma churrascaria à moda argentina. Seus filhos, bem educados e frequentadores de ambientes selecionados nesta que é a capital da gastronomia, quando visitaram o empreendimento pela primeira vez imediatamente detectaram algumas importantes modificações a empreender no negócio: melhorar a decoração e a iluminação, substituir o papel toalha... E, o que foi mais contundente: uma substancial elevação nos preços do cardápio. Esta recomendação, em particular, foi seguida à risca, o que contribuiu para a atração de importantes e badalados frequentadores, acostumados ao efeito preço-qualidade, condizente com a reputação de um ponto comercial numa das mais importantes localizações de São Paulo. 5. O efeito gasto Este efeito deve ser analisado sob duas óticas: a de uma empresa que vai empreender um gasto e a ótica de um consumidor doméstico. No caso da empresa, interessa o volume deste gasto como determinante da escolha pela 5 10 15 20 25 30 94 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 melhor opção, ou seja, o tamanho do gasto. No ambiente doméstico, é a relação entre o gasto e a renda, ou seja, a proporção do gasto em relação à renda disponível que irá nortear as avaliações a serem empreendidas no aspecto preço como determinante da escolha. É fácil perceber que, quanto maior o gasto, maior será o interesse em obter vantagens de preço. Mesmo o comprador doméstico, que normalmente faz pequenas compras em lojas de conveniência, geralmente mais caras do que um supermercado, não deixa de buscar alguma vantagem de preço em suas compras mensais. Isto demonstra sua sensibilidade a preço, neste particular aspecto. 6. O efeito benefício final Para Nagle e Holden, “a relação de uma compra com um benefício maior é a base do efeito benefício final,que pode ser dividido em duas partes: a demanda derivada e a proporção do preço”. A primeira parte diz respeito à relação entre o benefício final desejado e a sensibilidade a preço do comprador quanto a um dos produtos em particular, que contribui para a obtenção do benefício final. “Quanto mais sensíveis forem os compradores ao custo do benefício final, mais sensíveis eles serão ao preço dos produtos que contribuem para tal benefício”, dizem estes autores. O custo proporcional do preço, por sua vez, refere-se à porcentagem do custo total do benefício final representada pelo preço do produto ou serviço. Tome-se, por exemplo, o caso de uma empresa especializada em tecnologia do vácuo, que executa testes de estanqueidade em tanques de gás nobre. O preço deste seu serviço, altamente especializado, não se baseia no custo da mão de obra e depreciação e amortização dos equipamentos e instrumentos utilizados para isto, mas, principalmente, no benefício que a descoberta de um vazamento proporcionaria ao seu cliente. Ou, sob outra ótica, no prejuízo que um vazamento, diminuto e imperceptível a olho nu, está causando ao seu cliente e 5 10 15 20 25 30 35 95 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 que, graças ao teste de estanqueidade, cessará após os devidos reparos. “Quanto menor for a participação da proporção, menos sensível a diferenças de preço será o consumidor”, apregoam Nagle e Holden. 7. O efeito custo compartilhado Responda depressa: o que é mais caro, um curso de graduação ou um MBA? Se você respondeu que é o MBA, acertou. As escolas sabem que uma boa parte da anuidade será paga pelos empregadores dos executivos que frequentarão tal curso. Se o consumidor sabe que só uma parcela do preço será paga por ele, quanto menor for esta parcela, menos sensível a preço ele será. As despesas de viagem e de representação, como um jantar num restaurante fino, quando são ressarcidas pela empresa, tornam o consumidor menos sensível a preço. Anuidades escolares, consultas médicas, aluguéis de veículos e de imóveis se encaixam nesta sensibilidade a preço, quando seu custo é parcialmente ou integralmente coberto pela empresa. O efeito de reembolso parcial ou total na sensibilidade a preço é chamado de efeito custo compartilhado. 8. O efeito justiça Cada consumidor imagina o que seja um preço “justo” ou “razoável” com base no contexto de sua compra. Diversos experimentos e pesquisas realizadas apontam para o fato de que as percepções de justiça são subjetivas e, por isso, mais gerenciáveis do que se poderia imaginar. Nagle e Holden citam o caso em que (...) as pessoas deviam imaginar-se deitadas em uma praia, sedentas por sua marca favorita de cerveja. Um amigo estava caminhando até um local próximo e traria cerveja se o preço não fosse alto demais. Cada pessoa foi solicitada a especificar a quantia máxima que pagaria. 5 10 15 20 25 30 96 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 Metade das pessoas foi informada de que o amigo visitaria um hotel de lazer luxuoso e a outra metade, de que ele iria a uma pequena e mal conservada mercearia. Embora as pessoas não fossem pessoalmente ao local de compra (ou aproveitar das amenidades dele), o nível mediano de preço daqueles que esperavam que a cerveja viesse do hotel – $2,65 – foi muito maior do que o preço mediano aceitável por aqueles que esperavam que ela viesse da mercearia – $1,50. Referências ao passado do vendedor ou ao contexto da compra podem interferir neste senso de justiça. Saber que uma importante indústria do setor de cosméticos mantém programas de responsabilidade social de repercussão internacional torna o seu preço mais aceitável do que se ela anunciasse aumentos de preços com vistas à preservação de sua lucratividade em prol da valorização de suas ações negociadas em bolsa. Diversas táticas podem e devem ser desenvolvidas para tornar a sensibilidade a preço derivada do efeito justiça como uma ferramenta de alavancagem de negócios, como, por exemplo, a associação do preço a benefícios diretos e mesmo indiretos. No caso de aluguéis, a ênfase em melhorias pode contribuir para tornar o seu custo mais “justo” para o consumidor. Nagle e Holden (2003) comentam, no destaque 4.1, páginas 96-98, capítulo 4, a influência que a Internet provocará nos preços em geral, dadas as suas características no mundo dos negócios. Veja por que, lendo agora estas poucas páginas da obra recomendada. 9. O efeito moldura Para entender este efeito, vamos buscar a explicação na teoria prospectiva, uma linha de pesquisa que oferece inúmeras implicações importantes para o gerenciamento da sensibilidade a preço. Segundo essa teoria, 5 10 15 20 25 30 97 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 (...) as pessoas colocam a decisão de compra dentro de uma ‘moldura’ em suas mentes, como um pacote de ganhos e perdas. (...) O efeito moldura estabelece que os compradores são mais sensíveis a preço quando veem o preço como uma ‘perda’ em vez de um ‘ganho’ renunciado, e que eles são mais sensíveis a preço quando o preço é pago separadamente, e não como parte de um pacote. Nagle e Holden citam o exemplo de abastecimento de combustível em dois postos diferentes, que reproduzimos na íntegra: Para ilustrar esse efeito, pergunte a você mesmo em qual dos postos de gasolina descritos abaixo você estaria mais disposto a abastecer seu carro (assumindo que você considere ambas as marcas igualmente boas e pagaria pela transação do mesmo modo em qualquer dos postos): • Posto A: vende gasolina a US$1,60 o galão (medida de volume que equivale a 3,78541178 litros) e dá um desconto de US$0,10 por galão se o cliente pagar em dinheiro. • Posto B: vende a gasolina a US$1,50 o galão e cobra um acréscimo de US$0,10 se o cliente pagar com cartão de crédito. Claro que o custo econômico da compra de gasolina é idêntico em ambos os postos. No entanto, a maioria das pessoas considera a oferta do posto A mais atrativa do que a do posto B. Por quê? Porque o desconforto psicológico associado a comprar do posto A (com um desconto) é menor do que o (esforço psicológico) associado a comprar do posto B (com um acréscimo). A razão para a diferença, de acordo com a teoria prospectiva, é que quando avaliam uma transação, as 5 10 15 20 25 30 98 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Di ag ra m aç ão : L éo 1 1/ 11 /0 9 pessoas atribuem mais peso às ‘perdas’ do que aos ‘ganhos’ de igual tamanho”. O gráfico 17 traz uma versão gráfica da teoria prospectiva. O ponto A sinaliza a posição do posto A, que concede desconto para pagamento a vista. Isto significa um ganho para o consumidor. Já o ponto B indica a posição do posto B, que não oferece nenhum desconto e, caso o consumidor opte por compra com cartão de crédito, deverá arcar com um sobrepreço, o que significa um ônus – ou perda – para o consumidor. Por esta e outras razões, a aplicação de uma lista de preços com descontos sob determinadas condições é sempre mais atraente do que uma lista de preços baixos com acréscimos sob outras condições. Gráfico 17 Função de valor da teoria prospectiva Valor + Perdas Ganhos Valor - B A Função valor Ponto de referência Fonte: Adaptado de Nagle e Holden (2003) 5 10 99 FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA Re vi sã o: A na M ar so n - Di
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