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Curso de Fisiologia 2007 Ciclo de Neurofisiologia Departamento de Fisiologia, IB Unesp-Botucatu Profa. Silvia M. Nishida 1 INTRODUÇÃO À FISIOLOGIA As células do organismo metazoário se associam e formam níveis diferentes de organização: tecidos, órgãos e sistemas de órgãos. Um tecido deve ser sempre interpretado morfo-funcionalmente como o produto da interação entre grupos de células e de substâncias intercelulares que desempenham uma ou mais tarefas especificas. Já um órgão é constituído por mais de um tipo de tecido em diferentes proporções e padrões. Um sistema de órgãos envolve mais de um órgão interagindo física, química e funcionalmente para que uma determinada tarefa seja efetuada. Cada célula realiza atividades metabólicas essenciais para a sua própria sobrevivência e, ao mesmo tempo, desempenha a função especifica do tecido de cujo órgão faz parte. Todos organismos vivos, independentemente de ter ou não organização metazoária compartilham características e propriedades comuns: 1. Manutenção equilibrada do meio interno operando dentro de condições toleráveis às extremas variações do meio ambiente; 2. Aquisição de nutrientes e outras substâncias do meio ambiente externo garantindo a distribuição pelo corpo; 3. Excreção de produtos finais do metabolismo e outras substâncias indesejáveis para o organismo; 4. Proteção contra injúrias; 5. Reprodução; A figura acima mostra os diferentes sistemas de órgãos do corpo humano. Para que o organismo funcione como uma unidade funcionalmente integrada são necessários mecanismos de Os principais sistemas de órgãos do ser humano: muscular; esquelético; nervoso; endócrino e circulatório Curso de Fisiologia 2007 Ciclo de Neurofisiologia Departamento de Fisiologia, IB Unesp-Botucatu Profa. Silvia M. Nishida 2 Resistência e Sobrevivência de um organismo submetido a amplas variações de temperatura do ambiente. Sistema de banho-maria com temperatura controlada monitoramento dos acontecimentos ambientais externo e interno (ou seja, de órgãos sensoriais), de processamento dos sinais e produção de comandos (ou seja, do sistema nervoso e endócrino) e, finalmente, de execução coordenada das tarefas de ajustes (ou seja de um sistema muscular e glandular). HOMEOSTASIA E SISTEMAS DE CONTROLE Por mais que os seres vivos apresentem uma ampla capacidade de ajuste frente às variações que ocorrem no meio ambiente, todos estão sujeitos aos seus respectivos limites de tolerância. O gráfico mostra que o peixe possui uma ampla zona de tolerância em relação à variação da temperatura ambiental. Denominamos de temperatura crítica inferior (Tci) e superior (Tcs) os respectivos limites em que a taxa de sobrevivência destes animais é de 100%. Quando a temperatura diminui ou aumenta, aquém ou além das temperaturas críticas, a taxa de sobrevivência vai diminuindo até que nenhum animal suporte mais as variações. A zona de resistência corresponde à faixa de variações térmicas em que a sobrevivência dos animais fica comprometida. Cada espécie possui um perfil típico de tolerância e de resistência às variações da temperatura ambiental. Essa idéia pode ser aplicada a outras variáveis de importância biológica como tensão de oxigênio, osmolaridade, pH etc. Os seres vivos sofrem desafios contínuos frente à instabilidade e à imprevisibilidade do meio ambiente externo. O ideal é se manter dentro da zona de tolerância e, se submetido às variações críticas (zona de resistência), esquivar-se dela. Para realizar esses ajustes, os organismos necessitam de mecanismos detectores das variações, mecanismos que proponham soluções corretivas e mecanismos que efetuam esses reajustes. Controle e Integração Controlar ou Regular significa ajustar uma quantidade em um determinado nível e mantê-lo estável. Sabemos instintivamente que uma determinada taxa no fornecimento de oxigênio é importante para o organismo e é fácil deduzir que a quantidade ideal deve ser controlada em função da demanda dos tecidos. Quando nos referimos à quantidade de oxigênio, devemos pensar não só no trabalho do sistema respiratório, mas em todos os processos que participam coordenadamente na captação, transporte e troca do oxigênio. Na disciplina de Fisiologia integrar significa coordenar todos os componentes funcionais de um organismo de tal modo que ele opere como um todo. A idéia de sistemas de controle, ou mais precisamente a teoria do controle nasceu originalmente em outra disciplina, a engenharia, onde a identificação dos componentes, as respectivas funções e o planejamento de como estes devem operar no tempo e no espaço são essenciais para que um determinado mecanismo funcione. Para compreender seus princípios, vamos examinar um sistema de controle simples. Desejamos que a temperatura de um aquário seja controlada em torno de 27º C (ponto de ajuste). Para isso precisamos de um componente sensor que detecte as variações fora Curso de Fisiologia 2007 Ciclo de Neurofisiologia Departamento de Fisiologia, IB Unesp-Botucatu Profa. Silvia M. Nishida 3 Variação da temperatura corporal de um animal homeotérmico e a respectiva variação da taxa metabólica. dos limites desejados (detector de erro). Será ainda necessário um componente efetuador que possa ser ativado/desativado, todas as vezes que ocorra uma variação térmica indesejada. Para que este sistema funcione é necessário um sistema eficiente de comunicação capaz de integrar os componentes: o sensor deverá enviar um sinal sobre a temperatura da água (metal termo par) para o elemento controlador que realiza a comparação da temperatura real da água e o desejado (termostato) e este, por sua vez, deverá enviar o sinal adequado para o efetuador fornecer ou deixar de fornecer calor para a água (aquecedor). Repare que a própria resposta efetuada (aumento ou diminuição da temperatura da água) servirá de informação térmica para o elemento de comando, retroalimentando o sistema. Em outras palavras, esse sistema de controle têm a capacidade de auto-corrigir a variação, todas as vezes que o valor se afastar do ponto de ajuste. A temperatura corpórea dos animais é uma variável importante já que está intimamente relacionada com a velocidade das reações bioquímicas e com a integridade funcional de várias macromoléculas. No caso do peixe, que é um animal ectotérmico, a temperatura corporal tende a se conformar com a variação da temperatura ambiental, entretanto, esta capacidade de ajuste tem limites críticos para a sua sobrevivência. Nos seres humanos (bem como nos demais animais homeotérmicos, a condição de operacionalidade do meio interno exige estabilidade estreita e constante da temperatura corporal (em torno de 37oC), sendo que a hipertermia ou a hipotermia se tornam perigosas. Denominamos HOMEOSTASE a condição de estabilidade operacional do meio interno e inclui não só o controle de parâmetros térmicos como de vários outros parâmetros biológicos. Nos animais homeotérmicos a homeostasia tem a ver com a regulação constante da temperatura corporal dentro de limites estreitos, pois não toleram grandes oscilações da temperatura. O fato de os animais ectotérmicos serem termoconformadores (dentro dos limites de tolerância) quer dizer que as condições de homeostase térmica são diferentes. Nos animais homeotérmicos os sensores térmicos (termorreceptores) monitoram constantemente as variações térmicas do corpo e essa informação é enviada para um termostato situado no sistema nervoso. A temperatura detectada é comparada com o ponto de ajuste e, se for necessário, são executados ajustes nos mecanismos produtores e trocadores de calor no sentido de restabelecera condição desejada. Quaisquer que seja o mecanismo de ajuste da homeostase corporal são necessários no mínimo três componentes essenciais: a) Órgãos sensoriais: altamente sensíveis à detecção de mudanças específicas dos meios interno ou externo. b) Órgãos de processamento e de integração: local de recebimento e processamento da informação; está capacitado para a analisar e elaborar comandos de ação. c) Órgãos Efetuadores: sistemas de órgãos que executam as tarefas necessárias para o restabelecimento do controle. MECANISMOS HOMEOSTÁTICOS Há dois mecanismos universais utilizados pelos sistemas vivos para se realizar a regulação dos parâmetros biológicos. 1) Controle por retroalimentação negativa (Feedbak negativo) Quando uma determinada alteração é detectada pelos receptores sensoriais, esta é comunicada ao integrador. Este compara a variação com o ponto de ajuste ideal e elabora comandos apropriados para que os órgãos efetuadores contrabalancem o efeito do estimulo cancelando-o ou agindo contra ela. Curso de Fisiologia 2007 Ciclo de Neurofisiologia Departamento de Fisiologia, IB Unesp-Botucatu Profa. Silvia M. Nishida 4 Vamos reexaminar a regulação da temperatura corporal. Suponha que você esteja correndo num dia bem quente: a atividade muscular produz muito calor e o meio interno "esquenta". O aumento da temperatura corporal estimula os receptores térmicos e estes informam o sistema nervoso central sobre a nova situação térmica do meio interno. Imediatamente, comandos nervosos são enviados aos órgãos efetuadores no sentido de contrabalançar os efeitos do aumento de temperatura: você então pára, deita-se à sombra, continua a suar profusamente e a ofegar (forma de perder calor por evaporação). Esses e outros mecanismos contra o superaquecimento são desencadeados para refrear as atividades geradoras de calor e estimular as atividades que facilitam a perda de calor para o meio. Veremos ao longo do curso de Fisiologia, vários exemplos sobre os mecanismos que operam regulando o meio interno por meio da retroalimentação negativa como forma de restabelecer e manter a homeostasia. 2) Controle por retroalimentação positiva (Feedback Positivo) Algumas vezes, os sistemas de controle agem exacerbando uma mudança, porém por um determinado limite de tempo. Uma vez iniciadas as atividades de interação sexual, sinais de receptividade sexual estimulam fortemente o parceiro. A reação positiva do parceiro excita a mulher mais ainda e, assim reciprocamente, até que a penetração ocorre e, eventualmente, a fertilização do óvulo. Note que a exacerbação da atividade sexual foi sendo retroalimentada progressivamente, mas até que o orgasmo fosse atingido. O trabalho de parto inicia-se com o bebê exercendo pressão mecânica sobre a parede do útero. A distensão mecânica da parede uterina estimula a secreção da ocitocina, um hormônio hipotalâmico. A função da ocitocina é a de estimular a contração causando aumento da pressão intra-uterina num ciclo vicioso até que finalmente o bebe é expulso. Quais são os principais órgãos efetuadores do corpo e quem os controla? Podemos deduzir que os órgãos efetuadores do corpo são aquelas estruturas que executam tarefas determinadas por um determinado comando. Podemos reconhecer como sistemas executores de tarefas do corpo: 1) Sistema músculo esquelético: efetua os movimentos e posturas do corpo e relaciona o organismo com o meio externo. 2) Sistema cárdio-circulatório: efetua os ajustes do bombeamento sanguíneo, da pressão e do seu fluxo nos tecidos. Curso de Fisiologia 2007 Ciclo de Neurofisiologia Departamento de Fisiologia, IB Unesp-Botucatu Profa. Silvia M. Nishida 5 ������ � � � � � �� 3) Sistema digestório: efetua a digestão e absorção do alimento 4) Sistema respiratório: efetua a captação de O2 e a eliminação de CO2 5) Sistema renal: efetua a regulação hidro-eletrolítica dos fluidos corporais Esses sistemas de órgãos efetuadores estão sob o controle do Sistema Nervoso (e do Sistema Endócrino). Os elementos funcionais do sistema nervoso são os neurônios cujas células são altamente especializadas e classificadas funcionalmente em: Neurônios sensoriais: monitoram e detectam as variações do ambiente Neurônios associativos: processam as informações e elaboram comandos apropriados Neurônios motores: enviam os comandos apropriados para respectivos os órgãos efetuadores. Estímulos do ambiente (interno/ externo) Sistema Nervoso Órgãos efetuadores Movimentos e Posturas do Corpo; Ajustes homestáticos; Secreção glandular Além do sistema nervoso, o Sistema Endócrino atua regulando a função celular dos mesmos órgãos efetuadores, porém fazendo ajustes que afetam o metabolismo celular. Ambos operam de maneira mais ou menos independente, mas o sistema nervoso controla o sistema endócrino. Enquanto o sistema nervoso exerce a sua influência rápida e localizadamente sobre os órgãos efetuadores por meio de impulsos elétricos, o sistema endócrino age mais lenta, difusa e sustentadamente, através de mediadores químicos que chegam até os órgãos efetuadores através da circulação. Mais adiante estudaremos como ocorre a integração do sistema nervoso e endócrino. �������������� ���������������������� � ��������������� ����������������������������������� ������� ��� ��� ��������������� � � � �� ��� ������������������ � �� ��������������������������������� � � � � �� � �� � �� Curso de Fisiologia 2007 Ciclo de Neurofisiologia Departamento de Fisiologia, IB Unesp-Botucatu Profa. Silvia M. Nishida 6 ������ � � � � � ��� ������ � � � � � ��� � �� �� � � Sistemas de Controle sobre os Órgãos Efetuadores do Corpo SISTEMA ENDÓCRINO �������������� ��������������������������� � ������������������� ����������������������������������� ������� ��� ��� ������������������� � � � �� ��� ������������������� � �� ��������������������������������� � � � � �� � �� � �� � � � � � ��� � �� � ��� � � � � � � �� � �� �� � � � � � � � � �� �� � � � � �� � � � � � ��� � � � � � � ����� �� � � � �� ��� � ����� � ���� � �� �� �� ���� � ���� �� � � �� � � ��� ��� �� � �� �� � � ! � � � �� � �" ���� � #�� � ��� $ % �� �� � �� ���� � � � � � � �� � �" ���� � &� ' �� � ������ ���� #�� � ��� $ % �� � �� �� �� � � ���� � ��� ��� � �� �� ��$ % �" ( � ���� � � �) �" � �����( ��� #��� � � * �� � ��� �� � �� �) �" � � + ��� #�� �� �� � � �� � � �� � � � �� �� ��� � �� � #�� �� ��� � � � �� � � � � �� , � ���� � - ���.� ��� � � � � � � � ��� � �� � ��� � / �" � � &�0 �� � ' �� �� �� � �� � � ' �� �� �1 � � � � � �� � � � � � � � �� � � � � � � �� � �� �� � � � � �� � � � � � � �� 2 �� .�� �� � � ��� � � � ��� � �� � �� � � � �� � � � �� $ % �� ��� �� � ��� � �����" � ��� � �� ��$ % � � ���� �� �� � � ��� Curso de Fisiologia 2002 Ciclo de Neurofisiologia Departamento de Fisiologia, IB Unesp-Botucatu Profa. 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