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Fundamentos de Cinética Prof. Thiago Ferreira da Conceição A termodinâmica indica a direção espontânea dos processos e possibilita quantificar os reagentes e os produtos no equilíbrio. Entretanto, a termodinâmica não fornece nenhuma informação a respeito da velocidade com que os processos ocorrem. O estudo da velocidade faz parte da cinética química que, junto com a termodinâmica, forma o conteúdo central de toda a físico- química. Dentre os tópicos de estudo da cinética destacam-se a determinação das leis de velocidade e o estudo dos mecanismos de reação. Os fundamentos da cinética também são essenciais para a compreensão da catálise, como se verá mais adiante. 2 Velocidade de reação A figura abaixo mostra como varia a concentração de um reagente, em uma reação qualquer, em função do tempo. A velocidade de uma reação nada mais é do que a velocidade com que os reagentes são consumidos (ou os produtos são formados). Podemos definir dois tipos de velocidades, uma média e uma instantânea. A velocidade média expressa um valor médio dentro de um intervalo de tempo. 3 Por exemplo, suponha que a concentração de um reagente caiu de 0,25 mol L-1 para 0,03 mol L-1 após 14 minutos de reação. Nesse caso, a velocidade média é dada por: 𝑉𝑒𝑙𝑜𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑚é𝑑𝑖𝑎 = ∆𝐶𝑜𝑛𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎çã𝑜 ∆𝑡 = (0,03 − 0,25)𝑚𝑜𝑙𝐿1 (14 − 0)𝑚𝑖𝑛 𝑉𝑒𝑙𝑜𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑚é𝑑𝑖𝑎 = −1,6𝑥10−2𝑚𝑜𝑙𝐿−1𝑚𝑖𝑛−1 (Observe o arredondamento para dois algarismos significativos e as unidades) Para evitar trabalhar com velocidades negativas, a expressão da velocidade para o consumo de reagentes é escrita com um sinal de “menos” na frente: 𝑉𝑒𝑙𝑜𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑚é𝑑𝑖𝑎 = − ∆𝐶𝑜𝑛𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎çã𝑜 ∆𝑡 4 É importante observar que a velocidade média com que um componente da reação á consumido/formado, não é necessariamente igual para todos os compostos envolvidos. Ex: 2𝐻𝐼(𝑔) → 𝐻2(𝑔) + 𝐼2(𝑔) Na reação acima, quando dois mols de HI são consumidos, formam- se um mol de H2 e um mol de I2. Logo, a velocidade de consumo do HI é o dobro da velocidade de formação dos produtos. Uma forma mais geral de definir a velocidade média é a velocidade média única, que é simplesmente a divisão da velocidade média pelo coeficiente estequiométrico. 5 De maneira geral, a velocidade média única, para a reação genérica mostrada abaixo, pode ser definida como: 𝑎𝐴 + 𝑏𝐵 → 𝑐𝐶 + 𝑑𝐷 𝑉.𝑚é𝑑. 𝑢𝑛𝑖 = − 1 𝑎 Δ 𝐴 Δ𝑡 = − 1 𝑏 Δ[𝐵] Δ𝑡 = 1 𝑐 Δ[𝐶] Δ𝑡 = 1 𝑑 Δ[𝐷] Δ𝑡 Exercícios: 1- Para a reação de decomposição do ácido iodídrico (iodeto de hidrogênio) em hidrogênio e iodo (slide anterior), observou-se que em 100 ms, a concentração de HI caiu de 4,00 mmol L-1 para 3,50 mmol L-1. Calcule a velocidade de decomposição do HI e a velocidade média única. Resp: 5 mol L-1; 2,5 mol L-1 6 2 – A velocidade média do formação da amônia, para a reação abaixo, é de 1,15 mmol L-1 h-1. Calcule a velocidade média de consumo do hidrogênio e a velocidade média única. Resp: 1,72 mmol L-1 h-1; 0,57 mmol L-1 h-1 𝑁2 𝑔 + 3𝐻2(𝑔) → 2𝑁𝐻3(𝑔) A velocidade instantânea é a velocidade em um instante específico da reação. Para se obter essa velocidade, basta calcular a inclinação da reta tangente à curva no tempo de interesse. A figura a seguir compara essas duas velocidades quanto ao seu significado gráfico. 7 A velocidade média corresponde à inclinação da reta vermelha que une os pontos t1 e t2, enquanto que a velocidade instantânea no ponto t2’ corresponde à inclinação da reta tangente a esse ponto. Assim como a velocidade média, a velocidade instantânea também pode ser expressa como única e em relação a um reagente específico. 8 9 Acompanhando a variação de concentração A variação de concentração de um reagente ou produto pode ser acompanhada de diversas maneiras. Se a reação envolve gases, a variação da concentração pode ser acompanhada medindo-se a pressão do sistema. Exemplo: Mostre como a pressão varia no decorrer da seguinte reação abaixo, com T e V constante: 2𝑁2𝑂5 𝑔 → 4𝑁𝑂2(𝑔) + 𝑂2(𝑔) n 1 − α 2𝛼𝑛 1 2 𝛼𝑛 Início: Meio: 𝑛 0 0 10 O total de mols em um determinado instante será 𝑛 1 + 3 2 𝛼 . Considerando que todos os gases são perfeitos e que a temperatura se mantém constante, a pressão dependerá exclusivamente do número de mols. Logo, pode-se escrever: 𝑃 𝑃0 = 𝑛 1 + 3 2𝛼 𝑅𝑇 𝑛𝑅𝑇 = 1 + 3 2 𝛼 Sabendo que a pressão varia segundo essa equação, basta medir a pressão em função do tempo para se obter o 𝛼, que é a fração que reagiu. Exercício: Diga como varia a pressão total durante a reação abaixo em um recipiente a T e V constante. 11 2𝑁𝑂𝐵𝑟 𝑔 → 2𝑁𝑂(𝑔) + 𝐵𝑟2(𝑔) Se após 2 minutos a pressão no sistema é 10% maior que a pressão inicial, qual será o valor de α ? Quando um dos reagentes ou produtos apresenta cor ou absorção de radiação ultravioleta, a variação de concentração pode ser acompanhada por espectroscopia UV-Vis. Exemplo: A oxidação do catecol na presença de uma enzima e de água oxigenada forma uma quinona que apresenta forte absorção em 458 nm. 12 Ao se medir a absorbância em função do tempo, pode-se calcular a concentração da quinona em função do tempo. A figura abaixo mostra a absorbância em função do tempo para essa reação com diferentes concentrações de catecol. 13 Outra maneira muito comum de se acompanhar a variação de concentração em uma reação é através de medidas de condutividade e pH. Exemplo: Na hidrólise básica do acetato de etila, ocorre um consumo de íons OH- que reduz o pH do meio. A reação também pode ser acompanhada pela condutividade, visto que a troca do íon OH- pelo íon CH3COO- diminui consideravelmente a condutividade. Ver outros métodos na bibliografia da disciplina! A definição de velocidade instantânea é muito importante para a avaliação do efeito da concentração dos reagentes na velocidade da reação. É possível, por exemplo, comparar as velocidades iniciais de uma determinada reação partindo-se de diferentes quantidades de reagentes. Dessa maneira é possível se determinar a ordem de uma reação. Por exemplo, uma reação é dita ser de primeira ordem quando se observa a seguinte relação: − 𝑑 𝐴 𝑑𝑡 ∝ [𝐴] 14 Ou seja, a velocidade com que o reagente “A” é consumido é diretamente proporcional à sua concentração. Podemos escrever essa equação como uma igualdade substituindo o símbolo de “proporcional” por uma constante de proporcionalidade: − 𝑑 𝐴 𝑑𝑡 = 𝑘 𝐴 𝑉 = 𝑘 𝐴 A constante “k” é denominada de constante de velocidade. Essas duas equação são exemplos de leis de velocidade, que são equações que relacionam a velocidade à concentração. Observe que a velocidade (V = -(d[A]/dt)) é a velocidade instantânea em um momento específico (geralmente, no início da reação). 15 A lei de velocidade diz que a velocidade da reação sempre será igual à uma constante que multiplica a concentração. Graficamente, uma reação que segue cinética de primeira ordem apresenta o comportamento mostrado pelo exemplo abaixo: A constante de velocidade pode ser obtida diretamente da inclinação da reta. 𝑘 = 3,6 − 0,069 𝑥10−4𝑚𝑜𝑙𝐿−1𝑠−1 0,075 − 0,0050 𝑚𝑜𝑙𝐿−1 = 5,0𝑥10−3𝑠−1 16 Para uma cinética de primeira ordem, a unidade da constante k é o inverso do tempo. Observe que, para uma reação de primeira ordem, a velocidade dobra quando a concentração sobra. Algumas reaçõesapresentam a seguinte relação entre velocidade e concentração: − 𝑑 𝐴 𝑑𝑡 = 𝑘 𝐴 2, 𝑉 = 𝑘 𝐴 2 Ou seja, quando a concentração de A dobra, a velocidade aumenta quatro vezes. Reações que apresentam uma relação quadrática entre velocidade e concentração são denominadas de reações de segunda ordem. 17 Para essas reações, observam-se as relações mostradas no exemplo abaixo: 18 A constante k pode ser obtida da inclinação da reta em um gráfico da velocidade em função do quadrado da concentração. Para o exemplo dado: 𝑘 = 3,3 − 1,0 𝑥10−3𝑚𝑜𝑙𝐿−1𝑠−1 6,0 − 1,9 𝑥10−3 𝑚𝑜𝑙𝐿−1 2 = 0,56𝑥10−3(𝑚𝑜𝑙𝐿−1)−1𝑠−1 Para uma cinética de segunda ordem, a unidade de k é o inverso da concentração multiplicado pelo inverso do tempo. Obs: A ordem de reação pode ser de qualquer valor e, mais importante, não tem nenhuma relação com os coeficientes estequiométricos da reação balanceada. Uma outra relação interessante é aquela onde a concentração não tem influencia na velocidade da reação. 19 Nesses casos, pode-se escrever que: − 𝑑 𝐴 𝑑𝑡 = 𝑘, 𝑉 = 𝑘 Ou seja, a velocidade da reação é constante, independente da concentração do reação. Um exemplo é a decomposição da amônia. 20 Todos os exemplos vistos até então mostram leis de velocidade que dependem de apenas um reagente. Entretanto podem existir leis de velocidade do tipo: 𝑉 = 𝑘 𝐴 𝑎 𝐵 𝑏[𝐶]𝑐 Nesse caso, a, b e c são as ordens de reação em relação a A, B e C, respectivamente. A ordem global da reação é definida por a + b + c. Observe que a unidade de k varia com a ordem global da reação, de tal forma que a velocidade sempre tenha unidade de concentração por tempo. Se a velocidade for expressa em mol L-1 s-1 as unidades de k serão como mostrado na tabela abaixo: 21 Ordem 0 1 2 3 Unidade mol L-1 s-1 s-1 (molL-1)-1s-1 (molL-1)-2s-1 Para se determinar a ordem de reação em relação a um determinado reagente, basta observar o efeito de uma variação de concentração na velocidade. Se quando a concentração for multiplicada por “x” a velocidade também é multiplicada por “x”, a reação é de primeira ordem. Se quando a concentração for multiplicada por “x” a velocidade é multiplicada por “x2”, a reação é de segunda ordem. Se uma mudança de concentração não surtir efeito na velocidade, é porque a ordem de reação é zero. 22 (obs: Os exercícios foram tirados do livro “Princípios de Química: Questionando a Vida Moderna e o Meio Ambiente” de Peter Atkins e Loretta Jones.). As informações dadas, como nos exemplos acima, podem estar condensadas em tabelas, como nos exemplos que seguem. 23 24 25 Leis de velocidade integradas As leis de velocidades podem ser integradas para se obter equações com as quais é possível determinar a concentração de reagente após um determinado tempo de reação. Vejamos, inicialmente, o caso para uma cinética de primeira ordem: − 𝑑 𝐴 𝑑𝑡 = 𝑘 𝐴 , 𝑑 𝐴 [𝐴] = − 𝑘𝑑𝑡 𝑡 𝑡0 [𝐴] [𝐴]0 Resolvendo-se a integral, obtém-se: 26 ln 𝐴 − ln 𝐴 0 = −𝑘 𝑡 − 𝑡0 , ln 𝐴 = ln 𝐴 0 − 𝑘𝑡 Onde se considerou o tempo inicial (t0) igual a zero. Observe que a equação destacada é uma equação de reta. Logo, para uma equação de primeira ordem, um gráfico do logaritmo da concentração pelo tempo resulta em uma reta cujo coeficiente angular é igual a –k. A lei de velocidade integrada, para uma cinética de primeira ordem, também pode ser escrita das seguintes formas: ln 𝐴 𝐴 0 = −𝑘𝑡, 𝐴 𝐴 0 = 𝑒−𝑘𝑡 27 Essa última forma nos mostra que, para uma cinética de primeira ordem, a concentração de reagente decai exponencialmente com o tempo. O exemplo acima, à direta, é para a reação de conversão do ciclo propano à propeno, a 773 K. A constante k pode ser obtida do coeficiente angular da reta: 28 −𝑘 = −7,02 − −6,56 13,3 − 1,7 𝑚𝑖𝑛 = −4,0𝑥10−2𝑚𝑖𝑛−1 Ou seja, k = 4,0 x 10-2 min-1. Para uma cinética de segunda ordem, a lei de velocidade integrada fica: − 𝑑 𝐴 𝑑𝑡 = 𝑘 𝐴 2, 𝑑 𝐴 [𝐴]2 = − 𝑘𝑑𝑡 𝑡 𝑡0 [𝐴] [𝐴]0 − 1 𝐴 − − 1 𝐴 0 = −𝑘𝑡, 1 𝐴 = 1 𝐴 0 + 𝑘𝑡 29 A equação destacada é uma equação de reta. Logo, para uma cinética de segunda ordem, um gráfico do inverso da concentração pelo tempo resulta em uma reta cujo coeficiente angular é igual a k. A lei de velocidade integrada, para uma cinética de segunda ordem, também pode ser escrita da seguinte forma: [𝐴] = [𝐴]0 1 + 𝑘𝑡[𝐴]0 A figura ao lado compara as cinéticas de primeira (linhas cinza) com a de segunda ordem, com mesmo k. Observe que a concentração cai mais rapidamente para cinética de primeira ordem 30 Comparação entre as equações de reta para essas duas ordens. Exercício: Obtenha a lei de velocidade integrada para uma cinética de ordem zero e faça uma representação gráfica adequada. 31 Os links abaixo são para alguns vídeos que podem auxiliar a entender o que foi discutido até então: https://www.youtube.com/watch?v=gXeoLZQD-Rk https://www.youtube.com/watch?v=CvMlSXWfDgk Tempo de meia-vida Outro conceito importante em cinética química, relacionado ao tema em questão, é o tempo de meia vida (t1/2), que corresponde ao tempo necessário para que a concentração de reagente caia para a metade do valor inicial. Para se obter uma expressão que permita calcular t1/2, basta substituir [A] por [A]0/2 nas leis de velocidades integradas. 32 Resolvendo-se para as três ordens estudadas, obtém-se as seguintes equações: 𝑡1 2 = 0,6963 𝑘 𝑡1 2 = 1 𝐴 0𝑘 𝑡1 2 = [𝐴]0 2𝑘 Ordem zero Primeira ordem Segunda ordem Para a cinética de primeira ordem, o tempo de meia-vida independe da concentração inicial. Isso faz com o tempo necessário para que a concentração caia a um quarto, um oitavo, um dezesseis avos e etc., seja, respectivamente, duas meia-vidas, três meia-vidas quatro meia- vidas, e etc., respectivamente. 33 Resolva esse exemplo de duas maneiras. Primeiramente, determine o valor de “k” pelas informações dadas e coloque na fórmula. Depois resolva contando quantas meia- vidas corresponde ao período de tempo desejado. (Ao figura ao lado ilustra esse princípio ) 34 Efeito da temperatura na velocidade das reações A temperatura tem grande influência na velocidade das reações químicas. Esse é um dos motivos pelo qual os alimentos são armazenados em baixa temperatura, visto que, para a grande maioria dos processos, a velocidade da reação reduz com a temperatura. A temperatura atua diretamente na constante de velocidade k. Ou seja, a constante k só é constante enquanto a temperatura da reação permanecer constante. Por esse motivo, os experimentos cinéticos precisam ser realizados com rigoroso controle de temperatura. 35 Essa equação nos mostra que a constante de velocidade cresce exponencialmente com a temperatura. Os parâmetros Ea e A são conhecidos como os parâmetros de Arrhenius. Ea é a energia de ativação e A é denominado simplesmente de fator pré-exponencial. É importante mencionar que essa equação foi obtida de maneira empírica. Posteriormente, buscou-se interpretações para os parâmetros de Arrhenius, como será visto mais adiante. A equação que relaciona constante de velocidade com a temperatura é a equação de Arrhenius, mostrada abaixo. 36 Ou seja, um gráfico de “lnk” por (1/T) resulta em uma reta que tem por coeficiente angular (- Ea/R) e coeficiente linear “lnA”. O gráfico a seguir foiconstruído através de valores de k, medidos a diferentes temperaturas, para a reação descrita abaixo. Analisando-se a inclinação da reta foi possível determinar a energia de ativação Essa equação pode ser escrita na forma linear tirando-se o logaritmo natural nos dois lados: 𝐶2𝐻5𝐵𝑟(𝑎𝑞) + 𝑂𝐻 −(𝑎𝑞) → 𝐶2𝐻5𝑂𝐻(𝑎𝑞) + 𝐵𝑟 −(𝑎𝑞) 37 Exercício: Com os dados mostrados acima, construa o gráfico e calcule a energia de ativação e o parâmetro “A”. Compare os seus resultados com os aqui mostrados. 38 Quanto mais negativa for a inclinação de lnk por (1/T) maior é a energia de ativação. Reações que se comportam segundo esta equação são ditas como tendo comportamento de Arrhenius. No exemplo acima, a reação vermelha só tem velocidade semelhante a da reação azul em temperaturas bem elevadas. Reações com energia de ativação baixas (por volta de 10 kJ) são mais rápidas em temperaturas baixas, em comparação com reações com elevada energia de ativação. 39 Uma das maiores utilidades da equação de Arrhenius é que ela permite que se calcule o valor de k em uma determinada temperatura, a partir do valor de k em uma outra temperatura. Da equação para o cálculo do coeficiente angular da equação de Arrhenius, pode-se chegar na seguinte equação: Exercício: Deduza essa expressão! 45 Teorias da cinética Como foi dito anteriormente, a equação de Arrhenius foi desenvolvida de forma empírica, sendo que apenas posteriormente à sua “descoberta” é que se procurou interpretações para os parâmetros “A” e “Ea”. Duas teorias se destacam: a teoria das colisões, aplicada à reações no estado gasoso, e a teoria do estado de transição, mais aplicada a reações em solução. Veremos rapidamente os principais aspectos dessas teorias e como elas auxiliam no entendimento das reações químicas. 46 Teoria das colisões Podemos interpretar as reações que ocorrem em fase gasosa como sendo a consequência de colisões entre moléculas, que resultam em quebra e formação de ligações. Para que os produtos sejam formados, a colisão precisa ocorrer com uma energia mínima Emin. 47 As colisões que ocorrem com essa energia mínima são denominadas de “colisões efetivas”. A teoria das colisões considera que a velocidade de uma reação depende da frequência de colisão e a fração de colisões efetivas, segundo a equação abaixo Com essas considerações, é possível obter uma lei de velocidade a partir de considerações puramente teóricas. Para uma reação entre um gás A e um gás B, temos: 48 Sendo vrel a velocidade média relativa e σ a secção transversal de colisão. A secção transversal de colisão é a área de uma molécula que pode ser alvo de uma colisão. A velocidade relativa é a velocidade com que uma molécula se move em relação a outra, e é dada por: Um aumento de temperatura produz um aumento na velocidade média das moléculas, e consequentemente, aumenta a frequência de colisões efetivas. 49 A fração de colisões que ocorrem com Emin é dada por: Portanto, a velocidade de reações gasosas, segundo o modelo da teoria das colisões, pode ser escrita como: Constante de velocidade k Portanto: 50 Comparando-se essa equação com a equação de Arrhenius, chega- se à seguinte conclusão Frequência de colisões Energia das colisões efetivas 51 Em outras palavras, o fator pré-exponencial indica a frequência de colisão e a energia de ativação é igual a energia de colisão mínima necessária para que ocorra a reação. Essa equação permite que as constantes de velocidade sejam calculadas por meios puramente teóricos. Entretanto, o modelo da teoria das colisões frequentemente resulta em constantes de velocidade teóricas maiores que as experimentais. Essa observação levou à consideração da importância da orientação molecular para a efetividade da reação. Esse efeito é denominado de efeito estérico! O efeito estérico pode ser introduzido na equação através de um parâmetro empírico “P”. A equação fica, portanto: 52 O fator estérico P é sempre menor que 1 visto que as constantes experimentais são menores. Podemos generalizar o modelo da teoria das colisões da seguinte forma: Reações em fase gasosa só ocorrem se as moléculas reagentes colidirem com energia cinética no mínimo igual a energia de ativação e com orientação adequada. 53 Exemplo de efeito estérico: 54 Teoria do estado de transição A teoria do estado de transição é, em muitos aspectos semelhante à teoria das colisões. No entanto essa teoria pode ser aplicada para reações em soluções. Essa teoria considera que as moléculas dos reagentes se aproximam, sofrendo deformações provenientes das interações, resultando em um aumento da energia potencial. Os reagentes formam então um complexo ativado, que é um estado onde as ligações dos reagentes foram enfraquecidas e as do produto estão sendo formadas. 55 A figura ao lado é um exemplo de um perfil de reação, que é um gráfico que mostra como a energia potencial varia no decorrer da reação. O exemplo mostrado é para uma reação exotérmica, onde a energia dos produtos é menor que a dos reagentes. O pico corresponde à energia do complexo ativado, e a diferença de energia ente o complexo ativado e os reagentes é igual à energia de ativação Ea. 56 Essa teoria é muito utilizada para estudo de reações por meio de cálculos computacionais. A chamada química computacional utiliza equações da quântica para determinar a estrutura de reagentes, produtos e estados de transição. Com esses dados, é possível calcular a energia de ativação do processo. 57 E = - 2 kcal mol -1 E h = 26 kcal mol -1 Reaction Coordenate E h Exemplo: Perfil de reação obtido experimentalmente 58 Acelerando reações Vimos que a velocidade das reações químicas aumenta com a temperatura (k aumenta com T). Para muitas reações, a relação entre constante de velocidade e temperatura é expressa pela equação de Arrhenius. No entanto, aumentar a temperatura de reações tem os seguintes pontos negativos: Desloca o equilíbrio para os reagentes, em reações exotérmicas. Pode degradar certos reagentes. Representa aumento de custos. 59 Em reações exotérmicas, um aumento de temperatura aumenta a reação inversa mais que a direta. Como consequência a constante de equilíbrio diminui! Essa equação é melhor expressa pela equação de Van’t Hoff. Para reações exotérmicas, a constante de equilíbrio diminui com T. 60 Aumentar a temperatura aumenta a velocidade da reação, mas desloca o equilíbrio de reações exotérmicas para os produtos. Um exemplo histórico desse problema é a síntese da amônia que é uma reação exotérmica. Em temperaturas baixas, a velocidade do processo era muito baixa. Em temperaturas altas, o rendimento era muito baixo. Esses e outros dilemas químicos ajudaram no desenvolvimento de uma importante área da química: a catálise 61 Catálise O termo catálise se refere ao aumento na velocidade de uma reação pela adição de uma substância denominada de catalisador. Um catalisador é uma substância química que altera o mecanismo de reação para um outro com menor energia de ativação. Por definição, um catalisador não é consumido ao término do processo. Dessa forma, uma pequena quantidade é suficiente para catalisar grande quantidade de reagente. Esse fato deu origem ao termo quantidade catalítica. 62 Alguns pontos importantes sobre a utilização de catalisadores: 1 - Catalisadores não interferem nas energias dos produtose reagentes . Ex: ( ΔrU, ΔrH, ΔrG e ΔrS não variam) 2 – A reação inversa também é catalisada de forma que a constante de equilíbrio não muda. Em outras palavras, um catalisador tem efeito puramente cinético e não termodinâmico! 63 Quando o catalisador está na mesma fase que os reagentes diz- se ser uma catálise homogênea. Quando o catalisador está em outra fase diz-se ser uma catálise heterogênea. Catalisadores e mecanismo de reação Um catalisador age fornecendo um mecanismo de reação alternativo que tem menor energia de ativação. Exemplo: Reação muito lenta em 298K! 64 No entanto, na presença de bromo, a reação é praticamente instantânea. O mecanismo proposto é o seguinte: Observe que a reação global é igual a do processo sem catalisador. Ou seja, o catalisador não aparece na equação global da reação! Essa reação é um exemplo de catálise homogênea! 65 Apesar de o catalisador não aparecer na equação global, ele pode aparecer na lei de velocidade da reação. Exemplo: O dissulfeto de carbono acelera a reação pelo seguinte mecanismo: Observe que a ordem de reação é 1 para o dissulfeto de carbono e a azida e zero para o íon triiodeto! 66 Exercícios: 1 - Diga se as seguintes afirmações são verdadeiras ou falsas. a) A constante de velocidade da reação direta aumenta mais que a da reação inversa pela ação de um catalisador. b) Catalisadores precisam ser adicionados em quantidade equimolar aos reagentes para surtir o efeito desejado. c) A presença de um catalisador faz com que as reações sejam mais espontâneas. d)Reações exotérmica são mais rápidas em maiores temperaturas. 2 – Pesquise sobre o dilema de Fritz Haber sobre a reação de síntese da amônia. 67 A forma mais comum de catálise heterogênea é a utilização de catalisadores sólidos em reações em meio gasoso ou líquido. A catálise heterogênea se caracteriza pela adsorção das moléculas de reagente em sítios ativos na superfície dos sólidos, o que facilita a quebra de ligações. Quando moléculas se adsorve muito fortemente nos sítios ativos, o catalisador perde sua eficiência. Esse processo é chamado de envenenamento. 68 Os conversores catalíticos em automóveis promovem uma série de reações por catálise heterogênea que têm importância fundamental no desempenho e na emissão de poluentes. A importância de se usar gasolina sem chumbo reside no fato do chumbo envenenar os catalisadores no conversor catalítico. 69 Os conversores catalíticos utilizam sólidos microporosos, como as zeólitas, para catalisar esse tipo de reação Os catalisadores para catálise heterogênea são geralmente microporosos pois assim tem uma maior área superficial (mais sítios ativos disponíveis). O tamanho dos poros tem a função de manter os reagentes por tempo suficiente para provocar a reação. O desenvolvimento desse tipo de catalisador é um exemplo de colaboração entre química inorgânica e cinética. 70 Outra importante aplicação da catálise heterogênea é nas células a combustível: O catalisador das células a combustível pode ser envenenado por traço de CO. 71 72 Catálise enzimática As enzimas são proteínas que catalisam diversos processos biológicos. As proteínas agem por um modelo de chave-fechadura. A enzima age como uma fechadura, que pode se ajustar ao substrato. Esse processos de ajuste é denominado de mecanismo do ajuste induzido. A amilase é um exemplo de enzima, que catalisa a conversão de amido em glicose. 73 A catálise enzimática é tratada pelo mecanismo de Michaelis- Menten. Primeira etapa: Segunda etapa: Constante de Michaelis 74 Essa equação prevê que, em baixas concentrações de substrato [S], a velocidade depende bastante de [S]. Em altas concentrações, a velocidade independe de [S], e depende apenas da concentração inicial da enzima Exercício: Deduza a equação de Michaelis-Menten sabendo que [E] = [E]0 – [ES]. 75 Invertendo-se a equação de Michaelis, chega-se a uma equação que fornece a velocidade máxima de uma reação catalisada por enzimas: 76
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