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8. Os sinais de pontuação no português
Comentário ouvido num bonde
Que moça culta, a Maria Eduarda: usa ponto e vírgula!
Mário Quintana
A pontuação tem um papel muito importante no sentido de expressar o pensamento do escritor ou produtor de texto e, por conseguinte, orientar o leitor durante o processo de leitura.
Embora os sinais de pontuação tenham surgido com a função primordial de “indicar pausas para respirar”, durante a leitura em voz alta, isto é, durante a oralização dos textos, não podem mais ser considerados desse modo, constituindo-se, na realidade, recursos linguísticos necessários à construção da textualidade.
É inquestionável, portanto, que a pontuação é de natureza racional, sintática e até semântica, em alguns casos especiais.
Como a pontuação também é de ordem sintática, atua no sentido de unir e separar partes do discurso, realizando junções, disjunções, inclusões, exclusões, dependências e hierarquizações no âmbito da organização do texto escrito, auxiliando o leitor a perceber as relações entre as partes do texto que o compõem e, desse modo, reconhecer que a pontuação é um grande recurso coesivo textual.
Atualmente, firma-se que, entre os instrumentos que a língua dispõe a todos aqueles que dela fazem uso, encontra-se a pontuação, que é fundamental para que o efeito do sentido se faça coerentemente compreensível: “Pontuar bem é ter visão clara da estrutura do pensamento e da frase”. “Pontuar bem é governar as rédeas da frase”. “Pontuar bem é ter ordem no pensar e na expressão”.
Para estudar a pontuação da Língua Portuguesa, é importante observar a organização mais usual das sentenças. Geralmente, os enunciados seguem certa sequência – chamada ordem direta –, que se inicia com o sujeito, seguido de verbo, de complementos e, finalmente, de expressões adverbiais (sujeito + verbo + o restante).
Segundo Bechara (1999, p. 581-582), entre os casos de colocação usual ou normal (ordem direta), em português sobressaem-se os seguintes:
	Colocação do adjunto preposicionado depois do seu substantivo (O carro de Paulo);
	Colocação do adjunto adjetivo depois do seu substantivo (Homem rico);
	Colocação do adjunto não representado por adjetivo (artigo, pronome adjunto, quantificadores) antes do substantivo (a mulher generosa, minha tia rica, sete pecados capitais, muitos livros raros);
	Colocação do verbo depois do sujeito (Paulo mudou de colégio.);
	Colocação do complemento verbal depois do verbo (Assistiram à peça teatral.);
	Colocação do objeto direto antes do indireto, quando constituídos por substantivos (Escreveram cartas à família de Lílian Telles.);
	Colocação do objeto indireto antes do direto, quando constituídos por pronomes ou o direto por substantivos (Escreveram-lhe cartas. / Escreveram-lhas [= lhe + as]).
MULTIMÍDIA
Vamos estudar, agora, mais alguns sinais de pontuação e estabelecer a relação que possuem com o sentido. Clique aqui e assista a um vídeo. (acesso em: 19 nov. 2015.)
8.1 Uso dos sinais de pontuação
8.1.1 A vírgula
A vírgula serve apenas para separar os termos de uma oração ou as orações de um período, assim como os elementos frasais deslocados.
A ordem normal dos termos na frase é:
Sujeito + verbo +complemento (o restante)
Quando há uma frase nessa ordem, não se separam seus termos imediatos.
Ressalta-se que não pode haver vírgula entre o sujeito e o verbo, e o verbo e seu complemento, nem entre o nome e seu complemento nominal.
COMENTÁRIO
As palavras em sua posição natural não precisam de vírgula, ou seja, não se coloca vírgula entre sujeito e verbo, entre verbo e complementos – desde que atendam ao requisito da sequência natural sem intercalações ou deslocamentos.
O preceito básico é usar a vírgula somente onde haja uma quebra da estrutura lógica da frase, porque a vírgula marca justamente um deslocamento de palavras ou orações da sua ordem normal, ou uma quebra, uma interrupção do pensamento, que é o caso das duas vírgulas que marcam as intercalações.
Emprego da vírgula
Utiliza-se a vírgula nos casos descritos a seguir.
1. Para separar o adjunto adverbial deslocado.
	Um dia, na fronteira, um homem lutador levantou a nossa bandeira.
No Oriente, as mulheres curvam-se na presença dos homens. No Ocidente, é o inverso.
A decisão de deslocar o adjunto adverbial ou oração subordinada adverbial para o início da frase tem, geralmente, a finalidade de definir um pano de fundo antes de apresentar a ideia principal. Nem sempre o deslocamento do adjunto adverbial será usado como recurso estilístico, pois, em determinadas situações, o deslocamento é necessário para desfazer as frequentes ambiguidades textuais.
2. Para separar complementos verbais ou nominais que foram deslocados.
	De sua terra natal, ela sente saudades.
Uma dor pavorosa, Paulo sentiu quando quebrou a braço.
3. Quando os sujeitos forem diferentes ou quando o e aparecer repetido.
	Eles sairão de férias, e eu tomarei conta do sítio.
Trabalhava, e estudava, e tomava conta dos pais.
4. Para separar orações interferentes, justapostas ou intercaladas, que são aquelas que aparecem no período de maneira independente, a fim de oferecer um esclarecimento, uma citação ou um comentário.
	Irei à praia, disse Antônio Tito, quando ninguém mais esperava.
O ladrão, perguntei eu, foi preso ou não?
Toda inserção na frase básica deve ser indicada ao leitor por meio de alguma forma de pontuação; portanto, no caso de intercalações, devem-se usar vír-gulas, travessões, parênteses ou colchetes, sinais esses que marcam uma espécie de gradação natural, dando mais rapidez e organização à leitura.
5. Para indicar, às vezes, a elipse de um verbo.
	Maria Antônia deu a todos os seus primos um presente no Dia das Crianças; ao seu irmão, apenas um beijo.
	Há elipse quando se omite um termo ou oração que facilmente se pode identificar ou subentender no contexto. Pode ocorrer na supressão de pronomes, conjunções, preposições ou verbos.
6. Para isolar expressões corretivas, continuação, conclusão, concessão e explicativas, como: isto é, a saber, por exemplo, ou seja, aliás, digo, ou melhor e outras similares.
	O ministro afirmou, aliás, que não haverá aumento de impostos durante o seu governo.
Neste caso, como se vê, além dos componentes básicos da frase – sujeito, verbo, objeto direto, objeto indireto e adjunto adverbial –, há outros elementos, geralmente, com função persuasiva, que são adicionados depois que a frase básica está completa e que, portanto, sempre virão separados por vírgulas.
7. Para separar os elementos paralelos de um provérbio.
	Mocidade ociosa, velhice vergonhosa.
Um dia é da caça, outro é do caçador.
8. Para separar elementos coordenados de uma mesma classe ou função sintática.
	Comprei um livro, um caderno, um lápis e um dicionário.
	Observação: Na série de sujeitos seguidos imediatamente de verbo, o último sujeito da série não é separado do verbo por vírgula.
	Teus irmãos, tu e eu tomaremos a decisão.
9. As demais conjunções (porém, entretanto, contudo, no entanto entre outras) devem ser antecedidas por vírgula e, se deslocadas para o meio da oração, ficam, neste caso, isoladas por duas vírgulas:
	O assunto, porém, já estava esquecido.
Há aqueles que se esforçam muito, contudo nunca são premiados.
10. Para separar nome de lugar nas datações e endereços.
	Rio de Janeiro, 13 de outubro de 2014.
11. Para separar ou intercalar vocativos:
	Não tenho como terminar o livro, Tereza.
Você é incontrolável, Lívia.
O vocativo é o único termo isolado dentro da oração, pois não se liga ao verbo nem ao nome; portanto, não faz parte do sujeito nem do predicado. A função do vocativo é chamar ou interpelar o elemento a que se está dirigindo.
O vocativo é sempre marcado por sinal de pontuação (vírgula ou entre vírgulas).
12. Para separar ou intercalar apostos:
	Vitória, capital do Espírito Santo, é uma ilha que possui belas praias.
13. O aposto especificativo, diferentemente dos demais tipos, nãopode vir marcado por sinais de pontuação (dois pontos, travessões ou vírgulas).
	Gosto do poeta Carlos Drummond de Andrade.
Gosto da cidade de Natal.
14. O conector pois pode ser inserido na frase de duas formas, e isso acarretará classificações distintas. Quando vier no início da oração que introduz será antecedido de vírgula (explicativo); mas se estiver deslocado, virá sempre entre vírgulas (conclusivo), equivalente, nesse caso, a portanto:
	Cumprimente-o, pois hoje é o seu aniversário.
O relógio é de ouro; não enferruja, pois.
A situação econômica é delicada; devemos, pois, agir cuidadosamente.
8.1.2 O ponto e vírgula
O ponto e vírgula denota que o período não se encontra encerrado totalmente, mas que também não pertence à oração anterior, evitando-se fragmentar as partes do período em nome da clareza e buscando um emprego coesivo com melhor qualidade.
1. Usa-se o ponto e vírgula, a depender do contexto, não só para alongar a coesão do período, mas também para atribuir mais clareza ao texto quando se tratar de enumerações complexas, facilitando, assim, a leitura e a compreensão do texto.
	a) Um traz água pura, fonte de vida; o outro leva embora dejetos pútridos.
b) Assim, os livros ficam proibidos; a população, mais ignorante; os editores, cautelosos na seleção do que publicar.
2. O ponto e vírgula separa orações coordenadas extensas.
	a) Era incrível a variedade dos adornos; contudo, a pessoa não gostou de nenhum.
b) As doses eram diminutas; tinham, portanto, de aguardar longo prazo pelo efeito.
c) A natureza das relações sociais constitui a base do desenvolvimento das capacidades humanas; logo, das qualificações.
d) Mas a curiosidade por Roma é eterna; por isso a vanguarda da arqueologia mudou.
3. O ponto e vírgula é usado, inclusive, para separar parágrafos e sequência enumerativa, como decretos, leis, portarias, regulamentos ou outro documento:
	Há feitos, porém, que têm curso normal no período de férias, isto é, processam-se durante as férias e não se suspendem, como os demais pela superveniência delas. Acham-se eles enumerados pelo artigo 174 do Código de Processo Civil e são os seguintes:
I. os atos de jurisdição voluntária bem como os necessários à conservação de direitos, quando possam ser prejudicados pelo adiamento;
II. as causas de alimentos provisionais, de dação ou remoção de tutores e curadores, bem como as mencionadas no art. 275;
III. todas as causas que a lei federal determinar.
Em linhas gerais, quando os itens enumerados forem relativamente simples, as vírgulas serão suficientes para separá-los; mas se houver frases completas ou elementos simples misturados com apostos, em uma estrutura mais complexa, o ponto e vírgula é mais aconselhável para tornar clara a divisão.
LEITURA
Ponto e vírgula
[...] Jamais usei ponto e vírgula. Já usei “outrossim”, acho que já usei até “deveras” e vivo cometendo advérbios, mas nunca me animei a usar ponto e vírgula. Tenho um respeito reverencial por quem sabe usar ponto e vírgula e uma admiração ainda maior por quem não sabe e usa assim mesmo, sabendo que poucos terão autoridade suficiente para desafiá-lo. Além de conhecimento e audácia, me falta convicção: ainda não escrevi um texto que merecesse ponto e vírgula. Um dia o escreverei e então tirarei o ponto e vírgula do estojo com o maior cuidado e com a devida solenidade e o colocarei, assim, provavelmente no lugar errado, mas quem se importará?
Luis Fernando Veríssimo. Zero Hora, 18/4/1999
8.1.3 Os dois pontos
Os dois pontos apresentam uma função bastante própria: a da enunciação; aparecem em frases não concluídas com o objetivo de organizar e separar as partes componentes do período.
Usam-se dois pontos:
1. Antes de uma citação:
	Gregório de Matos Guerra criticou asperamente a Justiça de seu tempo:
Que falta nesta cidade?
Verdade
Que mais por sua desonra
Honra
Falta mais que se lhe ponha
Vergonha. [...]
2. Antes de uma enumeração:
	Os convidados da festa que já chegaram; são estes: Júlia, Renata, Paulo e Antônio.
	Observação: São os dois pontos o sinal de pontuação preferível após o vocativo que encabeça ou inicia uma carta, requerimento, ofício (quando menos por motivos estéticos, já que acaba uma linha, e a seguinte começa com inicial maiúscula), embora muitos empreguem vírgula, ponto de exclamação, ponto, ou mesmo dispensem qualquer sinal:
	Caros amigos:
Prezados Senhores:
Senhor Diretor:
8.1.4 O ponto final
O ponto simples final serve para encerrar períodos que terminem por qualquer tipo de oração que não seja a interrogativa direta, a exclamativa e as reticências. É empregado, ainda, para acompanhar muitas palavras abreviadas. Com frequência, aproxima-se das funções do ponto e vírgula e do travessão, que, às vezes, aparecem em seu lugar.
	“Para avaliar a oportunidade desta carteira, é preciso saber que Honório tem de pagar amanhã uma dívida, quatrocentos e tantos mil-réis, e a carteira trazia o bojo recheado”. (A carteira, Machado de Assis)
8.1.5 O ponto parágrafo
Um grupo de períodos cujas orações se prendem pelo mesmo centro de interesse é separado por ponto. Quando se passa de um para outro centro de interesse, impõe-se a obrigatoriedade do emprego do ponto parágrafo iniciando-se a escrever, na outra linha, com a mesma distância da margem com que foi começado o escrito.
	“A verdade é que ia mal. Poucas causas, de pequena monta, e constituintes remissos; por desgraça perdera ultimamente um processo, em que fundara grandes esperanças. Não só recebeu pouco, mas até parece que ele lhe tirou alguma coisa à reputação jurídica; em todo caso, andavam mofinas nos jornais.
D. Amélia não sabia nada; ele não contava nada à mulher, bons ou maus negócios. Não contava nada a ninguém. Fingia-se tão alegre como se nadasse em um mar de prosperidades. Quando o Gustavo, que ia todas as noites à casa dele, dizia uma ou duas pilhérias, ele respondia com três e quatro; e depois ia ouvir os trechos de música alemã, que D. Amélia tocava muito bem ao piano, e que o Gustavo escutava com indizível prazer, ou jogavam cartas, ou simplesmente falavam de política.” 
(A carteira, Machado de Assis)
8.1.6 O ponto de exclamação
É importante recurso para dar expressividade à leitura e à escrita além de ser responsável pela variação melódica que se imprime à voz. Põe-se no fim da oração enunciada com entonação exclamativa.
Funções desse sinal de pontuação:
1. Para indicar, dependendo da intenção da mensagem, surpresa, espanto, animação, alegria, ironia, dor, além de acompanhar as interjeições e intensificar as mensagens imperativas:
	a) Subitamente, ouvi uma pancada na janela, do lado de fora e uma voz que bradava: “Missa do Galo! Missa do Galo!” (Machado de Assis)
b) – Viva o meu príncipe! Sim, senhor... Eis aqui um comedouro muito compreensível e muito repousante, Jacinto!
– Então janta, homem! (Eça de Queiroz)
2. Pode ser associado ao ponto de interrogação para indicar uma atitude de surpresa ou uma expectativa diante de algum fato, com ausência de resposta:
	“– Que é que a gente podia fazer?!”
3. Algumas vezes aparece nas exclamações que contêm certo tom interrogativo:
	– “Que faremos com os mortos!”
8.1.7 O ponto de interrogação
O uso do ponto de interrogação implica uma inflexão de voz bem característica quando se lê o texto em que ele aparece ou mesmo quando ao suscitar dúvida ou expectativa nas interrogações diretas. Normalmente, é usado para indicar interrogações diretas – típicas dos diálogos – e nas interrogações indiretas livres – fusão das linguagens do narrador e personagem.
Enquanto a interrogação conclusa final de enunciado requer maiúscula inicial da palavra seguinte, a interrogação interna, quase sempre fictícia, não exige essa inicial maiúscula da palavra seguinte:
	“– Esqueceu-se alguma coisa? perguntou Marcela de pé, no patamar”. (M.A.)
Vejamos três situações em que se usa o ponto de interrogação:
1
2
3
Quando o período pede uma resposta:
“O criado pediu licença paraentrar:
– O senhor não precisa de mim?
– Não obrigado. A que horas janta-se?
– Às cinco, se o senhor não der outra ordem.
– Bem.
– O senhor sai a passeio depois do jantar? de carro ou a cavalo?
– Não”.
(Senhora, José de Alencar)
8.1.8 As reticências
Usadas com o propósito da sugestão, as reticências dizem respeito à natureza emocional do escritor que intenta tocar a imaginação do leitor com a interrupção violenta ou suave em determinado pensamento.
São empregadas para:
1. Indicar a supressão de pensamento ou suspensão do sentido da frase:
	És tu que tens um primo que na loja...
2. Indicar hesitações naturais do falante, sugerindo ironia, alegria, distância, surpresa, dúvida, ameaça, sonho, melancolia, receio, censura; as partes omitidas em uma citação; pausas propositadas para explorar o poder de sugestão de uma ideia, atribuindo-lhe mais ênfase:
	“– D. Conceição, creio que vão sendo horas, e eu...” (Missa do Galo, Machado de Assis)
3. Quando forem reticências iniciais, indicam que se omitiu parte do texto. Nesse caso devem vir entre colchetes:
	“[...] Há impressões dessa noite, que me aparecem truncadas ou confusas. Contradigo-me, atrapalho-me. Uma das que ainda tenho frescas é que, em certa ocasião, ela, que era apenas simpática, ficou linda, ficou lindíssima.” (Machado de Assis)
4. Salientar os silêncios em uma situação de diálogo, nas narrativas.
	“– De barbeiro? A senhora nunca foi à casa de barbeiro...” (Missa do Galo, Machado de Assis)
8.1.9 As aspas
As aspas, também conhecidas por vírgulas dobradas (às vezes em forma de cunhas), são sinais com que, normalmente, se abrem e fecham citações.
As palavras e as expressões estrangeiras, de igual modo, devem vir entre aspas, permitindo-se também explicitar tal circunstância com o uso de grifo equivalente, sublinhado, itálico ou negrito:
	“[...] O voltarete, o dominó e o ‘whist’ são remédios aprovados. O ‘whist’ tem até a rara vantagem de acostumar ao silêncio, que é a forma mais acentuada da circunspecção. Não digo o mesmo da natação, da equitação e da ginástica, embora elas façam re-pousar o cérebro; mas por isso mesmo que o fazem repousar, restituem-lhe as forças e as atividade perdidas. O bilhar é excelente”. (Teoria do Medalhão, Machado de Assis)
8.1.10 Os parênteses
Os parênteses são empregados para isolar, em algum momento do texto, pa-lavras, locuções ou frases intercaladas no período com caráter explicativo ou acessório.
	“Um gaiato anônimo, que sempre os há, comentou (e a piada se espalhou pela cidade) que só faltavam ao arranjo floral alguns cravos-de-defunto”.
8.1.11 O travessão
Não pode ser confundido com o hífen, já que é um traço maior. Pode também funcionar como um importante recurso expressivo, no caso de se querer dar ênfase a certa expressão ou palavra especial. É o sinal do diálogo.
Dos sinais de pontuação, o travessão é um dos mais requisitados atualmente, pelo fato de proporcionar mais clareza do que as vírgulas nas intercalações longas e maior ênfase nos destaques.
Emprega-se um só travessão:
Para indicar mudança de interlocutor nos diálogos (discurso direto):
	Transcreve-se, como exemplo, o centro da teoria do “humanitismo” — “Ao vencedor as batatas” —, o momento em que Quincas Borba defende o caráter benéfico da guerra, como “seleção natural” do mais forte:
“— Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra.”
(Quincas Borba, Machado de Assis)
RESUMO
A pontuação aparece sempre em posições que indicam fronteiras sintático-semânticas; aliás, é principalmente para isso que ela serve, ou seja, para separar termos deslocados, evitando sentidos confusos, incoerentes e ambiguidades.
Há mais de uma possibilidade de pontuar um texto; daí muitos gramáticos apresentarem-na como “a arte de dividir, por meio de sinais gráficos, as partes do discurso que não têm entre si ligação íntima, e de mostrar do modo mais claro as relações que existem entre essas partes”.
9. Qualidades da comunicação escrita: clareza, concisão, adequação vocabular e correção gramatical
Para que se estabeleça um processo de comunicação eficaz é imprescindível que a redação do texto possua certas qualidades básicas, como clareza; conci-são; adequação vocabular; correção gramatical.
Créditos: Fernando Gonsales / Benedito Cujo
9.1 Clareza: palavras simples e ordem direta
Em nome da clareza deve-se fazer uso de palavras simples e conhecidas, porque as palavras de uso corrente são de mais fácil entendimento. O texto escrito com palavras conhecidas é mais transparente e legível; ao contrário do texto que tem palavras difíceis porque se torna confuso, de difícil entendimento.
É importante o leitor entender o que o texto quer passar instantaneamente; isso faz com que ele continue a leitura até o final.
Devem-se usar também as palavras no seu sentido denotativo, respeitando as acepções registradas em nossos dicionários, evitando-se palavras em sentido figurado.
Não se pode confundir simplicidade com vulgarismo, logo palavras e expressões populares ou chulas são inadequadas ao texto escrito.
Além disso, devem-se explicitar com clareza os elementos centrais do texto.
A presença de passagens ambíguas frequentemente provoca dificuldades de compreensão de um texto e deve ser evitada.
A interpretação ambígua pode ser desencadeada pelo uso de uma palavra que não permite identificação precisa de seu referente no texto. É o caso, por exemplo, do uso indevido do pronome relativo. Não é incomum o resultado de um mau uso desse pronome gerar interpretações problemáticas.
Assim como deve-se evitar também a construção de orações intercaladas, porque alongam a frase e separam palavras que se complementam, dificultan-do o entendimento do texto.
MULTIMÍDIA
Antes de dar continuidade a seus estudos, assista ao vídeo adequação de linguagem, clicando aqui e sua continuação, clicando aqui. (acesso em: 20 nov. 2015.)
LEITURA
Antes de avançar com seus estudos, leia sobre a ambiguidade e o emprego de pronomes. (acesso em: 22 nov. 2015.)
CONCEITO
Sentido literal (ou denotativo)
É o significado referencial, “básico” das palavras, expressões e enunciados da língua.
Sentido figurado (ou conotativo)
É aquele que as palavras, as expressões e os enunciados adquirem em situações particulares de uso, quando o contexto exige que o falante/leitor perceba que o sentido literal foi modificado, e as palavras e as expressões ganham um novo significado ou sentido.
Ambiguidade
É a indeterminação de sentido que certas palavras ou expressões apresentam, dificultando a compreensão do enunciado.
9.1.1 Ordem direta: sujeito + verbo + o restante
Em nome da clareza, deve-se fazer uso da ordem direta, ou seja, o sujeito deve ser colocado antes do predicado e a oração principal antes da subordinada, pois as informações mais importantes devem vir no início da frase.
Deve-se priorizar a construção da voz ativa porque ela dinamiza, acelera a leitura, facilitando mais a compreensão, diferentemente do que ocorre na voz passiva, que alonga o texto e dificulta o entendimento.
Observe:
	“Governo anuncia pacote de medidas”
(voz ativa)
“Pacote de medidas é anunciado pelo Governo”
(voz passiva).
É perfeitamente perceptível a clareza e a dinamicidade dada ao enunciado no primeiro exemplo.
Construir uma frase invertendo a posição natural dos termos não é erro, mas dificulta a leitura. Logo, se hoje o objetivo principal é a clareza da frase ou do enunciado, é preferível o uso de frases curtas, em ordem direta (sujeito + verbo + o restante).
CONCEITO
Voz passiva
É a estrutura sintática em que o sujeito é o paciente do processo expresso pelo verbo, ou melhor, em que esse sujeito sintático sofre a ação verbal.
Voz passiva analítica
É expressa por meiode uma locução verbal formada pelo verbo ser + particípio passado do verbo principal.
Agente da passiva
É o termo que exprime, nas estruturas da voz passiva analítica, o agente da ação verbal, sofrida pelo sujeito da oração.
9.1.2 Períodos curtos ou frases curtas
Os períodos curtos são mais fáceis de ler e não cansam, enquanto o período longo é exaustivo e complicado. Alguns períodos, de tão longos, se tornam ininteligíveis. O leitor tem que reler, voltando atrás para entender a ideia central do texto, o que pode fazê-lo desistir da leitura.
9.2 Concisão
Ser conciso é dizer o necessário com o mínimo de palavras. É ser objetivo e direto. Concisão é, pois, antônimo de prolixidade.
Em nome da concisão, deve-se evitar: repetição de palavras, redundâncias e o desnecessário.
Alguns pleonasmos são considerados, inclusive, vícios de linguagem, por isso devem ser evitados, pois representam má qualidade na escrita. Eles ocorrem sempre que a ideia repetida informa uma obviedade e não desempenha qualquer função expressiva no enunciado.
EXEMPLO
Exemplos comuns de pleonasmo viciosos são as expressões subir para cima, descer para baixo, entrar para dentro, sair para fora, ser o principal protagonista, evidências concretas.
Acrescenta-se, ainda, que se devem priorizar sempre as palavras com o menor número possível de sílabas em busca de um texto mais enxuto, conciso.
O estilo deve ser o mais objetivo possível (impessoal), evitando-se o subjetivismo (marcas pessoais) e tudo o que possa dificultar a progressão do pensamento.
Analise este exemplo:
É uma triste realidade – tradicional e costumeira – que a diversão popular (e ela abrange várias modalidades circunscritas a épocas ou regiões diversas) geralmente é oferecida ao povo (podemos remontar à Roma Antiga), visando não ao objetivo precípuo da diversão – dar lazer a quem dele necessite –, mas sim visando a uma alienação dos seres pensantes em relação à situação política vigente, a fim de que eles não pensem na fome, na miséria e na injustiça, suas companheiras de infortúnio e dor.
Percebe-se que o texto acima é prolixo, trazendo muitas informações desnecessárias, dificultando o entendimento textual. A prolixidade é uma característica muito negativa no texto escrito, deve, pois, ser evitada.
Apresentando apenas as informações essenciais, o parágrafo poderia ser reescrito da seguinte forma: “A diversão oferecida ao povo visa, em geral, à alienação política.”
9.3 Adequação vocabular
MULTIMÍDIA
Agora, assista ao vídeo Desvios da Norma Culta. (acesso em: 20 nov. 2015.)
Muitas palavras podem assumir significados diferentes segundo o contexto. É como dizia Carlos Drummond de Andrade em Procura da poesia: “cada uma (a palavra) tem mil faces sob a face neutra”. Isso quer dizer que por meio do contexto pode-se atribuir significados diferentes a uma mesma palavra.
Agostinho Dias Carneiro (2001, p. 66) descreve seis critérios de adequação vocabular, listados a seguir:
9.3.1 A adequação ao referente
Esse critério baseia-se na utilização de vocábulos gerais em frente a vocábulos específicos. O exemplo que o autor dá é a palavra ver, que tem emprego mais amplo que observar, contemplar, distinguir, espiar, fitar.
EXEMPLO
Ao se dizer “Paulo estava muito triste com a separação, por isso, foi à praia, sentou-se na areia e viu o sol.” certamente causar-se-á estranhamento no interlocutor. Mas se se disser “Pedro estava muito triste com a separação, por isso foi à praia, sentou-se na areia e contemplou o sol.”, não haverá nenhum problema na comunicação, pois houve adequação quanto ao uso do vocábulo.
9.3.2 Adequação ao ponto de vista
Aqui serão levados em consideração os vocábulos positivos, neutros e negativos.
Em “Você me deu um café gelado”, a palavra gelado assume valor negativo. Assume valor positivo, entretanto, em “Depois do trabalho vamos tomar uma cerveja gelada?”
9.3.3 Adequação aos interlocutores
Há, nesse critério, quatro tipos de seleção vocabular: quanto à atividade profissional, com o uso dos jargões; quanto à imagem social de um dos interlocutores, ou seja, um chefe de Estado se expressa como o que se espera de alguém que ocupa tal cargo; quanto à idade, com o uso de vocábulos modernos (luminária) ou antigos (abajur), ou quanto à origem dos interlocutores, com emprego do vocábulo regional (piá – criança).
9.3.4 Adequação à situação de comunicação
Refere-se, esse critério, ao uso de vocábulos formais ou informais e ainda aos estrangeirismos.
Lembrando que palavras estrangeiras devem ser grafadas entre aspas nas redações e só devem ser usadas quando necessárias, ou melhor, quando forem importantes para o entendimento; em uma situação de estilo, ou quando não houver palavra equivalente na Língua Portuguesa.
9.3.5 Adequação ao código
É relevante, para esse critério, a correção não só ortográfica, mas também semântica, respeitando os significados dicionarizados.
9.3.6 Adequação ao contexto
As situações textuais revelam-se nas relações desenvolvidas entre as palavras do texto.
EXEMPLO
Se há relação de causa e consequência – tropeçar/cair;
Se há relação de finalidade – livro/estudar;
Se há relação de parte e todo – rei/xadrez;
Se há relação de sinonímia – aroma/perfume;
Se há relação de antonímia – entrar/sair;
Se há relação de unidade e coletivo – livro/biblioteca;
Se há relação de objeto e ação – cadeira/sentar e 
Se há relação simbólica – pomba/paz.
O uso do vocábulo fora de um desses critérios e, até mesmo em critério inadequado à situação, será erro.
CURIOSIDADE
Leia agora o texto Antigamente, de Carlos Drummond de Andrade, que viveu no século XX (1902-1987).
Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não fazia manos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E, se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. As pessoas, quando corriam, antigamente, era para tirar o pai da forca, e não caíam de cavalo magro. Algumas jogavam verde para colher maduro e sabiam com quantos paus se faz uma canoa. O que não impedia que, nesses entrementes, esse ou aquele embarcasse em canoa furada. Encontravam alguém que lhes passavam a manta e azulava dando às de vila-diogo. Os mais idosos, depois da janta, faziam o quilo, saindo pra tomar a fresca; e também tomavam cautela de não apanhar sereno. Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo, chupando balas de alteia. Ou sonhavam andar de aeroplano; os quais, de pouco siso, se metiam em camisa de onze varas, e até em calças pardas; não admira que dessem com os burros n’água.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. “Antigamente”. In: Seleta em prosa e verso. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1971. p. 3)
9.4 Correção gramatical
Devem-se produzir textos na modalidade culta da língua, com competência linguística, obedecendo rigorosamente às normas gramaticais, estabelecidas pela nossa Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), de ortografia, acentuação, concordância, regência, crase, pontuação, sintaxe, entre outras.
RESUMO
Um texto coeso, coerente, conciso, correto linguisticamente e com uma boa seleção de palavras é, em geral, elegante. E a elegância de um texto escrito não está em seu rebuscamento ou dimensão, mas em sua simplicidade, adequação vocabular e nas demais qualidades da comunicação escrita aqui estudadas.
REFLEXÃO
E-mail
O correio eletrônico e-mail, por seu baixo custo e celeridade, transformou-se na principal forma de comunicação para transmissão de documentos. O e-mail institucional já é considerado como documento comprobatório, por essa razão deve-se também ficar atento à formalidade, nesse tipo de comunicação, fazendo uso adequado das normas gramaticais, da modalização da linguagem e do uso adequado dos pronomes pessoais de tratamento, não se esquecendo, em momento algum, da obrigatoriedade do uso da modalidade culta da língua.
LEITURAO Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry I06
O Pequeno Príncipe, do francês Antoine de Saint-Exupéry, já foi traduzido em mais de 200 línguas diferentes.
O Pequeno Príncipe foi escrito e ilustrado por Antoine de Saint-Exupéry um ano antes de sua morte, em 1944. Piloto de avião, durante a Segunda Grande Guerra, o autor se fez o narrador da história, que começa com uma aventura vivida no deserto depois de uma pane no meio do Saara. Certa manhã, é acordado pelo Pequeno Príncipe, que lhe pede: "Desenha-me um carneiro"? É aí que começa o relato das fantasias de uma criança como as outras, que questiona as coisas mais simples da vida com pureza e ingenuidade.
O principezinho havia deixado seu pequeno planeta, onde vivia apenas com uma rosa vaidosa e orgulhosa. Em suas andanças pela galáxia, conheceu uma série de personagens inusitados – talvez não tão inusitados para as crianças! O pequeno príncipe é uma obra aparentemente simples, mas, apenas aparentemente. É profunda e contém todo o pensamento e a "filosofia" de Saint-Exupéry.
Apresenta personagens plenos de simbolismos: o rei, o contador, o geômetra, a raposa, a rosa, o adulto solitário e a serpente, entre outros.
O pequeno príncipe vivia sozinho em um planeta do tamanho de uma casa que tinha três vulcões, dois ativos e um extinto. Tinha também uma flor, uma formosa flor de grande beleza e igual orgulho. Foi o orgulho da rosa que arruinou a tranquilidade do mundo do pequeno príncipe e o levou a começar uma viagem que o trouxe finalmente à Terra, onde encontrou diversos personagens a partir dos quais conseguiu descobrir o segredo do que é realmente importante na vida.
É uma obra que nos mostra uma profunda mudança de valores, que ensina como nos equivocamos na avaliação das coisas e das pessoas que nos rodeiam e como esses julgamentos nos levam à solidão. Nós nos entregamos a nossas preocupações diárias, nos tornamos adultos de forma definitiva e esquecemos a criança que fomos.

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