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1 Mudança de Paradigma As relações sociais são extremamente ricas em detalhes emocionais e culturais e, ao mesmo tempo, demasiadamente frágeis. Diante dessas características, os conflitos não podem ser tratados de forma generalizada e superficial, sendo necessária e fundamental uma ruptura com o paradigma vigente que é o da lógica determinista binária. O paradigma da lógica determinista binária é o paradigma do ganhar/perder, em que a perpetuação do litígio é quase inevitável, podendo chegar a níveis patológicos. Quem é ferido, quer ferir, depois há o revide, e, por causa dessa reação, ocorre outra reação. Essa situação é infinitamente alimentada pelos sentimentos que desperta. As partes são dominadas pela emoção, perdem a noção de responsabilidade pelos seus atos e a importância de uma convivência pacífica com o próximo. Como você percebeu, é importante a adoção de novas técnicas e posturas que possibilitem a minimização das consequências geradas pelo litígio. Fica claro, então, que não basta, para a solução dos conflitos, a mera aplicação da Lei. Essas relações não são matemáticas. Normalmente, para os envolvidos em um conflito, dois mais dois nunca é quatro. Há sempre este ou aquele detalhe, e que teve consequências determinantes e irreparáveis na maneira de ver a realidade que se apresenta. Portanto, percebe-se como urgente e necessária uma mudança de paradigmas para o manejo dos conflitos. Em vez de privilegiar os processos litigiosos, deve-se buscar o entendimento entre as partes, sempre visando à manutenção e responsabilização correlatas. Dessa maneira, percebe-se claramente a importância dessa nova postura, que privilegia a formação de novos paradigmas em substituição àquele do “ganhar/perder”. Esses novos paradigmas têm como matriz a cooperação e a construção conjunta das soluções. E o que está sendo feito? 2 Desde o fim dos anos 90, a demora na prestação judicial e o acesso à justiça vem sendo destacada em nosso país. De acordo com o Manual de Mediação para a Defensoria Pública (cf. ROSENBLATT, KIRCHNER e BARBOSA, 2014), há um movimento conjunto dos três poderes, Legislativo, Executivo e Judiciário, para modificar o sistema judiciário brasileiro e a cultura do litígio (lógica determinista binária), que ainda é predominante em nosso país. Algumas ações são destacadas: a) Prevenção do litígio por meio de políticas que garantam uma melhor prestação de serviços à população, por parte de empresas que hoje representam um dos polos da maioria dos processos judiciais; b) Promoção de alternativas ao Judiciário para resolução de conflitos, com ênfase no uso de técnicas autocompositivas (autocompositivas “são aquelas em que as próprias partes interessadas, com ou sem a colaboração de um terceiro, encontram, através de um consenso, uma maneira de resolver o problema.” (SANTOS, 2004, p. 14); nas heterocompositivas, “o conflito é administrado por um terceiro, escolhido ou não pelos litigantes, que detém o poder de decidir, sendo a referida decisão vinculativa em relação às partes.” (SANTOS, 2004, p. 14).) como a mediação, a conciliação e a negociação; c) Capacitação de profissionais que possam atuar como mediadores extrajudiciais, judiciais e no âmbito da Administração Pública (cf. ROSENBLATT, KIRCHNER e BARBOSA, 2014). Não podemos esquecer do incentivo às Universidades para criar disciplinas voltadas a essa temática. Referências ROSENBLATT, A.; KIRCHNER, F.; BARBOSA, R. V. M.; CAVALCANTI, R. R. B. (Orgs.). Manual de mediação para a Defensoria Pública. Brasília, DF: CEAD/ENAM, 2014. SANTOS, R. S. S. dos. Noções gerais da arbitragem. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004.
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