Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Programa de Educação Continuada a Distância Curso de Oftalmologia Veterinária Aluno: EAD - Educação a Distância Parceria entre Portal Educação e Sites Associados Curso de Oftalmologia Veterinária MÓDULO I PRINCÍPIOS Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na bibliografia consultada. 2 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 3 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores SUMÁRIO Módulo I Estruturas anatômicas e implicações clínico-cirúrgicas Exame clínico oftalmológico Módulo II Doenças clínicas e cirúrgicas dos cílios Doenças congênitas, estruturais e inflamatórias das pálpebras Doenças traumáticas e neoplasias das pálpebras Terceira pálpebra e ducto nasolacrimal Conjuntiva Módulo III Afecções da córnea Ceratites ulcerativas Outras ceratopatias Módulo IV Uveíte Glaucoma Afecções da Lente Técnicas Diversas 4 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores LISTA DE ABREVIATURAS BID a cada 12 horas (Bis in die) FH farmacopéia humana FV farmacopéia veterinária kg Quilograma mL Mililitro mg Miligrama PIO Pressão intra-ocular QID a cada 6 horas (Quarter in die) SID a cada 24 horas (Semel in die) SRD Sem Raça Definida TID a cada 8 horas (Ter in die) 5 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO I Princípios Capítulo 1 - Estruturas anatômicas e implicações clínico-cirúrgicas As afecções que envolvem o bulbo do olho e seus anexos são várias e distintas. É nítida a necessidade do estudante de Medicina Veterinária, sobretudo os que se dedicam à clínica e cirurgia, possuir um conhecimento amplo da anatomia e fisiologia ocular para desempenhar com segurança e efetividade a oftalmologia. Os olhos são órgãos sensitivos complexos que evoluíram de primitivas áreas sensíveis à luz, na superfície dos invertebrados. Protegidos por uma estrutura óssea, muscular e cutânea, os olhos possuem uma camada de receptores, um sistema de lente para focalização da luz e um sistema de nervos para condução dos impulsos dos receptores para o cérebro. Órbita Os crânios das diferentes raças de cães podem ser divididos de acordo com o seu formato em: dolicocéfalo (alongado), mesaticéfalo (comprimento e altura médios) e braquicéfalo (focinho curto). Estas variações têm algum efeito na formação da órbita e podem ser fatores predisponentes para certas afecções como a proptose do bulbo do olho em cães braquicefálicos, como os Pequineses. A órbita é o arcabouço ósseo que circunda o olho, e é formada pelos ossos: frontal, lacrimal, esfenóide, zigomático, palatino e maxilar (Figura 1). A parede dorsolateral da órbita não se compõe de osso, mas é formada pelo colagenoso ligamento orbitário entre o processo zigomático do osso frontal e processo frontal do osso zigomático. Vasos sangüíneos e nervos que servem às estruturas orbitárias transitam através de numerosos forames nas paredes orbitárias ósseas. Os tecidos moles contidos na órbita estão envoltos pela periórbita, formada por tecido conjuntivo e situada junto às paredes ósseas. FIGURA 1: Representação esquemática dos ossos que formam a órbita. Muitos distúrbios orbitários são tratados cirurgicamente, e procedimentos manipulativos são freqüentemente utilizados no diagnóstico das afecções orbitárias. A orbitotomia é a exposição cirúrgica da órbita, que pode ser procedida por várias técnicas, sendo a completa, com ressecção do arco zigomático e dissecação do ligamento orbitário a que prove exposição orbitária mais ampla. Nestes procedimentos deve-se evitar cuidadosamente a artéria maxilar, pois se ocorrer secção acidental, esta deverá ser ligada; em casos que a ligadura esteja impossibilitada, a oclusão temporária da artéria carótida ipsilateral deverá ser procedida. Órgãos oculares acessórios Pálpebras e conjuntivas As pálpebras, superior e inferior, são projeções móveis e delgadas de pele que normalmente cobrem os olhos. Elas convergem e se unem, formando assim, os ângulos (medial e lateral). O espaço entre as pálpebras é chamado de rima palpebral. Em corte sagital, as pálpebras são compostas de superfície epidérmica 6 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores externa, músculo orbicular do olho, placa tarsiana, glândulas tarsais e conjuntiva palpebral, que reveste a pálpebra interiormente (Figura 2). a) superfície epidérmica; b) m. orbicular do olho; c) glândula tarsal; d) conjuntiva palpebral. FIGURA 2. Secção sagital da pálpebra canina em desenho esquemático. Observe as estruturas identificadas. As margens palpebrais são demarcadas a partir da pele por uma borda mucocutânea. As glândulas tarsais produzem a camada lipídica da película lacrimal. A placa tarsiana é um folheto fibroso pouco definido que dá sustentação às pálpebras. Os caninos possuem cílios apenas na pálpebra superior, enquanto os felinos não os possuem. O músculo orbicular do bulbo encontra-se oralmente à placa tarsiana, circunda a fissura palpebral e está fixado medialmente à órbita pela fáscia e lateralmente pelo músculo afastador do ângulo. O músculo elevador da pálpebra superior é inervado pelo oculomotor (nervo craniano III); junto a este, existe um delgado músculo (m. de Müller) que mantém a pálpebra superior elevada sem esforço algum (Figura 3). 7 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores a) contrai a fissura palpebral; b) afasta o ângulo lateral; c) deprime a pálpebra inferior; d) eleva a pálpebra superior. FIGURA 3: Secção frontal da pálpebra evidenciando a musculatura regional. A conjuntiva é a membrana mucosa ocular que reveste as porções mais internas das pálpebras superior e inferior, ambos os lados da terceira pálpebra, e a parte anterior do bulbo, excetuando a córnea. É dividida nas partes bulbar, do fórnix, palpebral ou tarsiana da terceira pálpebra (Figura 4). A mucosa conjuntival, abundantemente vascularizada, permite movimentos suaves, isentos de fricção, entre o bulbo do olho, a terceira pálpebra e as pálpebras, constituindo uma barreira física e imunológica protetora. Principalmente nos fórnices conjuntivais localizam-se grande quantidade de células caliciformes, responsáveis pela produção da fase mucosa do filme lacrimal.8 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores a) Conjuntiva palpebral; b) Conjuntiva do fórnix dorsal e fórnix ventral anterior; c) Conjuntiva bulbar; d) Conjuntiva anterior e posterior da terceira pálpebra; e) Conjuntiva do fórnix ventral posterior. FIGURA 4: Representação esquemática da conjuntiva e suas partes. A inversão da borda da pálpebra (entrópio) pode ocorrer em certos cães, onde os pêlos da face externa da pálpebra poderão irritar a conjuntiva ou córnea. Cães da raça Shar Pei podem apresentar entrópio com menos de três semanas de idade e freqüentemente necessitam de intervenção cirúrgica para evitar afecção corneal grave. A eversão das pálpebras também poderá ocorrer, resultando em exposição da conjuntiva. A ressecção de tumores palpebrais pode provocar grandes defeitos e exigem procedimentos corretivos. Reveste-se de importância a preservação da musculatura palpebral, não comprometendo assim sua dinâmica. Terceira pálpebra A terceira pálpebra é uma estrutura triangular com origem na porção ventromedial oral da órbita. Uma cartilagem em forma de “T” dá sustentação ao conjunto e um retináculo fixa esta estrutura à parte ventromedial da órbita (Figura 5). O músculo orbitário (m. liso) é o responsável pela movimentação desta estrutura. A 9 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores terceira pálpebra protege o globo, secreta e distribui a lágrima. Na base da terceira pálpebra localiza-se a glândula da terceira pálpebra, que será abordada a seguir. Devido à contribuição da terceira pálpebra para produção e distribuição do filme lacrimal, devemos envidar todos os esforços possíveis para que sua integridade seja preservada. A margem afilada e rígida da terceira pálpebra resulta em mecanismo efetivo na remoção de restos teciduais e corpos estranhos presentes entre a córnea e a conjuntiva palpebral. A remoção desta estrutura cria espaço entre a pálpebra e o bulbo, que pode abrigar restos teciduais, microrganismos e corpos estranhos, que danificam a integridade corneal. Portanto, é importante o cuidadoso reparo e preservação da terceira pálpebra. FIGURA 5. Representação esquemática da terceira pálpebra. A. Secção sagital. B. Secção frontal. 10 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 11 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Aparelho lacrimal O aparelho lacrimal tem como função produzir e remover as lágrimas. As glândulas lacrimais, responsáveis pela produção da maior parte da lágrima, estão localizadas na região da órbita, entre o globo nasal e o ligamento orbital e o processo zigomático do osso frontal, temporalmente (Figura 6). Os ductos destas glândulas são em número de 20 a 30, invisíveis a olho nu e se abrem através da conjuntiva, no fórnix temporal. A glândula da terceira pálpebra é glândula lacrimal acessória, circunda a haste da cartilagem da terceira pálpebra, e contribui com uma parte importante do filme lacrimal. Cada pálpebra, superior e inferior, tem pequena abertura, o ponto lacrimal, que é o início do sistema de drenagem lacrimal, que se situa entre 2 e 5 mm do canto nasal. Os pontos têm continuidade com os canais lacrimais que possuem um comprimento de 4 a 7 mm e convergem para o saco lacrimal, que é a terminação caudal do ducto nasolacrimal. O ducto nasolacrimal tem início no saco lacrimal, continua rostralmente e se abre no assoalho da cavidade nasal, a aproximadamente 1 cm da abertura das narinas externas (Figura 7). Abordagens cirúrgicas oculares que atuam agressivamente na glândula lacrimal, ou a extirpação da glândula da terceira pálpebra, podem levar a afecções por diminuição da produção lacrimal, como a ceratoconjuntivite seca. A pressão de seleção imposta pelo homem aos animais alterou muito o perfil frontonasal; com isso, o ducto nasolacrimal sofreu alterações importantes, sobretudo as tortuosidades que podem levar à obstrução. Freqüentemente, o oftalmologista se depara com obstruções do ducto nasolacrimal e precisa lançar mão de procedimentos desobstrutivos ou criação de novo canal de eliminação, o que torna imprescindível o conhecimento anátomo-cirúrgico. FIGURA 6: Representação esquemática das glândulas lacrimais. A. Glândulas lacrimais principais. B. Canto medial. C. Canto lateral FIGURA 7: Ducto nasolacrimal e a representação de seu trajeto. Músculos do bulbo A musculatura extra-ocular é composta por quatro músculos retos (medial, lateral, dorsal e ventral), que se inserem na esclera, posteriormente ao limbo, dois oblíquos (dorsal e ventral) e os retratores do bulbo. Afecções como proptose do bulbo do olho podem causar rupturas musculares e consequentemente estrabismo. 12 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 13 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Bulbo do olho O bulbo do olho é formado por três camadas ou túnicas. A mais externa é a fibrosa, e compreende a córnea e a esclera. A média é a túnica vascular e a mais interna é a túnica nervosa. Túnica fibrosa Córnea e esclera A córnea é a janela transparente no revestimento fibroso do olho. É a parte posterior opaca e o limbo é a zona de transição entre estas duas estruturas. A córnea, em cães, tem aproximadamente 0,61 ± 0,01 mm de espessura central e 0,67 ± 0,01 mm de espessura periférica. A esclerótica tem cerca de 1 mm na região ciliar, 0,3 mm na região equatorial e 0,55 nas proximidades do disco óptico. A córnea possui 5 camadas: a película lacrimal pré-corneal, o epitélio anterior e sua membrana basal, o estroma (substância própria), a membrana de Descemet (lâmina limitante posterior) e o endotélio (epitélio posterior) (Figura 8). As principais características da córnea que garantem refração e transparência são: ausência de vasos sangüíneos, ausência de pigmentos, superfície óptica lisa, proporcionada pela película lacrimal pré-corneal, e disposição extremamente arranjada das fibrilas de colágeno. Os vasos ciliares anteriores passam através da esclera, posteriormente ao limbo, e as veias do vórtice, em número de quatro, passam através da esclera, em um ponto posterior ao equador do bulbo. a) filme lacrimal; b) epitélio; c) estroma; d) Descemet; e) endotélio. FIGURA 8. Representação esquemática das camadas da córnea incluindo o filme lacrimal. A córnea possui características peculiares, com importância cirúrgica prática. A manipulação de suas camadas exige o conhecimento das características. A preensão da córnea depende do uso de pinças dentadas que fixam com firmeza as bordas da córnea e em hipótese alguma pode tocar o endotélio. As dissecções superficiais da córnea exigem tensão tecidual difusa e baixa pressão intra-ocular. A sutura da córnea necessita aplicação e direcionamento precisos da agulha. As suturas são aplicadas profundamente, mas não totalmente através do estroma.Túnica vascular Íris, corpo ciliar e coróide A íris é formada por uma delicada rede de vasos sangüíneos, tecido conjuntivo, fibras musculares e nervos. Por estar em contato direto com a lente, tem a mesma curvatura que sua superfície anterior. Seu epitélio é intensamente pigmentado com melanina. A parte basilar da camada anterior está constituída por musculatura lisa, que forma o músculo dilatador da íris. Este mecanismo, juntamente com as pálpebras, controla a passagem da luz através da pupila. O corpo ciliar é estrutura caudal à íris, de constituição semelhante. Apresenta fibras musculares indistintas no cão, que possuem pouca capacidade de 14 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores acomodação. Possui como função acomodação da lente e constitui-se no local de maior produção do humor aquoso. Uma excisão cirúrgica acima de 25% do corpo ciliar pode prejudicar a dinâmica do humor aquoso. A porção anterior do corpo ciliar é a parte pregueada (pars plicata), e consiste dos músculos ciliares e processos ciliares; a porção posterior é a parte plana (pars plana), que se estende posteriormente até a coróide. As fibras zonulares (Figura 9), que sustentam a lente, originam-se na parte plana. A coróide é a parte da camada vascular compreendida entre o corpo ciliar e a retina. a) Íris; b) corpos ciliares; c) coróide. FIGURA 9: Representação da túnica vascular e lente sustentada pelas fibras zonulares. Túnica nervosa Retina A retina, camada mais interna do bulbo do olho, é formada por células nervosas distribuídas em 10 camadas. A papila óptica é formada pela confluência das fibras nervosas da retina. Localiza-se na extremidade posterior do olho e mede aproximadamente 1 mm de diâmetro. Seu formato varia de oval, triangular, redonda a quadrangular, nas diferentes espécies domésticas. 15 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Câmaras do olho Clinicamente o bulbo do olho pode ser dividido em dois segmentos. O anterior, cranial à lente e o posterior, caudal à lente. Anteriormente à lente, o olho é dividido em duas câmaras (anterior e posterior). A câmara anterior do bulbo está circundada anteriormente pela córnea e posteriormente pela íris. Ela se comunica com a câmara posterior através da pupila. A câmara posterior é um pequeno espaço limitado anteriormente pela íris e posteriormente pela lente e seus ligamentos. As câmaras são preenchidas pelo humor aquoso. A câmara vítrea do bulbo está situada entre a lente e a retina e contém o corpo vítreo. Quando a drenagem do humor aquoso está dificultada e a produção continua, ocorre uma situação chamada clinicamente de glaucoma (Figura 10). FIGURA 10: Ilustração representativa das câmaras do bulbo. 16 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 17 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Meios de refração Lente A lente é uma estrutura biconvexa composta de células e seus processos, formada por lâminas celulares concêntricas. O diâmetro da lente do cão é de aproximadamente 10 mm e a espessura ântero-posterior é de aproximadamente 7 mm. A cápsula da lente é muito mais espessa na superfície anterior, de 30 a 45 μm, do que na superfície posterior, onde é de aproximadamente 5 μm. As proteínas da lente são seqüestradas e potencialmente antigênicas, devido às seguintes razões: a cápsula da lente forma-se antes do sistema imune, a lente é avascular e a cápsula é impermeável a células e grandes moléculas. A condição clínica onde há opacidade lenticular é chamada de catarata e sua remoção cirúrgica exige conhecimento anatômico e fisiológico para não provocar alterações irreversíveis. A cápsula posterior da lente é extremamente delgada e sua ruptura pode levar ao deslocamento do vítreo. O extravasamento de proteínas lenticulares provoca uveíte faco induzida e esta condição deve ser evitada nas cirurgias de catarata ou luxação de lente. Vasos e nervos O principal suprimento sangüíneo para o bulbo do olho origina-se da artéria maxilar, que apresenta um ramo importante, a artéria oftálmica externa, que passa sobre a face dorsal do nervo óptico e anastomosa-se com a artéria oftálmica interna. A anastomose produz as artérias ciliares posteriores. O sangue é drenado através das veias oftálmicas dorsal e ventral. O nervo óptico, que passa através do canal óptico, circundado pelo músculo retratator do bulbo, é o nervo sensorial da retina. O outro nervo sensorial para a retina é o trigêmio. O principal nervo sensorial para o olho é o oftálmico, menor divisão do trigêmio. O nervo maxilar é parte do nervo trigêmio, e seus ramos participam da inervação das pálpebras. O nervo oculomotor supre o maior número de músculos extra-oculares. O nervo troclear inerva apenas o músculo oblíquo dorsal. O nervo abducente supre o músculo reto lateral e retrator do bulbo. O nervo facial fornece apenas uma quantidade limitada da inervação do olho, importante 18 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores para mímica facial incluindo movimento das pálpebras. O controle da glândula lacrimal também é da responsabilidade deste nervo. Em situações cirúrgicas como enucleação, o reconhecimento e a preservação da musculatura extra-ocular são importantes para o preenchimento orbital por ocasião da sutura. Importância fundamental deve ser dada ao reconhecimento das estruturas anatômicas, tanto para preservação quanto para se evitar lesões acidentais em segmentos importantes. Capítulo 2 - Exame clínico oftalmológico O objetivo deste tema é descrever o exame clínico dos olhos, órbita e anexos oculares. A Figura 11 representa o modelo de ficha usado no Hospital Veterinário – Campus Palotina. FIGURA 11: Modelo de ficha usada no Hospital Veterinário – Campus Palotina. Instalação e equipamentos para o diagnóstico É fundamental que a sala para se realizar o exame oftálmico seja calma e com luminosidade controlada, com a possibilidade de fornecer escuridão completa. 19 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 20 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores A iluminação controlada permite avaliar a simetria pupilar e fazer testes como o do labirinto, em ambiente iluminado (condições fotópicas) e de pouca luminosidade (condições escotópicas). Os instrumentos necessários para se fazer um exame oftálmico são: - lanterna; - oftalmoscópico; - tonômetro; - testes lacrimais de Schirmer; - corante de fluoresceína; - anestesia ocular tópica; - sedativos; - midriáticos tópicos. Os instrumentos requerem prática e paciência para serem manipulados corretamente, mas facilitam o veterinário no sentido de completar o exame ocular. Swabs estéreis para cultura e lâmina de microscopia são necessários para obter amostras para cultura e citologia. Formulários ajudam a fazerum exame oftálmico completo sem correr o risco de pular etapas. Didaticamente dividiremos o exame em três partes (resenha, anamnese e exame oftalmológico). 1. Resenha A raça, idade e sexo trazem informações importantes para o diagnóstico e o prognóstico. Raça - muitas raças têm predisposição para doenças oculares como, por exemplo, o entrópio em cães Shar-Pei e luxação primária da lente em cães Terriers. Idade - a idade é fator predisponente para certas doenças oculares como a nictalopatia e comprometimento visual em filhotes de cães e gatos com displasia dos fotorreceptores. A esclerose nuclear da lente ocorre com mais freqüência em cães com mais de seis a oito anos de idade. Filhotes de cães e gatos têm as pálpebras fundidas (anciloblefaro) nos primeiros sete a 14 dias de vida, o que impede o exame ocular. A visão é limitada no neonato, pois o desenvolvimento das vias visuais e do olho prossegue durante os primeiros meses de vida; a retina e a coróide nos cães e 21 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores gatos se completa aos três meses de idade. O reflexo de ameaça é aprendido e em geral não está presente até o animal completar três meses. Sexo - a atrofia progressiva da retina, ligada ao cromossomo X, no Husky Siberiano macho, é uma doença ocular relacionada ao sexo. 2. Anamnese É um dos passos mais importantes para se chegar ao diagnóstico. Corrimento ocular, olho congestionado, dor no olho, alteração da cor, tamanho ou forma do globo ocular ou das pupilas e cegueira, são as queixas mais comuns. Com estas informações o clínico chega a uma lista de problemas provisórios e obtém uma anamnese ocular abrangente e específica. É importante determinar: - duração dos sinais clínicos e velocidade da evolução; - comprometimento uni ou bilateral; - corrimento ou alteração de cor, com o tempo; - doença sistêmica associada e medicamentos que já foram ou estão sendo usados; - antecedentes familiares de doenças oculares. 3. Exame oftalmológico O exame oftálmico segue uma ordem cronológica. O exame dos componentes é feito sistematicamente na seqüência dos tecidos oculares superficiais para os profundos, de forma ordenada e minuciosa. Alguns procedimentos (testes) interferem no resultado de outros, portanto deve-se seguir a cronologia dos gestos diagnósticos: Teste lacrimal de Schirmer. Obtenção de amostras para citologia e cultura. Exame dos reflexos. Anestesia tópica e tonometria. Instilação de midriáticos e oftalmoscopia. Corantes (fluoresceína e rosa bengala). 22 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores A descrição detalhada dos testes diagnósticos será abordada após a seqüência do exame dos componentes oftálmicos. 3.1. Exame dos componentes oftálmicos Neste tópico discute-se a realização do exame oftálmico (principalmente os componentes oftálmicos) em sua seqüência lógica, como segue: 1. Deambulação; 2. Inspeção da simetria; 3. Órbita, músculos extra-oculares, pálpebras e cílios; 4. Drenagem e terceira pálpebra; 5. Conjuntivas; 6. Córnea; 7. Câmara anterior, humor aquoso e íris; 8. Lente; 9. Retina. 1 - Deambulação Procura-se observar a reação do paciente perante o ambiente. Para avaliação do comprometimento visual, indica-se o teste do labirinto, onde objetos são distribuídos no ambulatório e o animal transita entre eles em condições fotópicas e escotópicas. O fato de o animal esbarrar nos objetos em um ambiente novo é indicativo de comprometimento da visão. Forma de andar, movimentação da cabeça, possíveis alterações no posicionamento da cabeça e alterações na configuração física podem ser detectados. 2 - Inspeção da simetria Observe atentamente a simetria da face. Inspecione a simetria dos músculos da mastigação, atentando à movimentação da mandíbula. Observe também se há presença de pêlos faciais irritando a córnea; isso pode causar dois problemas graves, lesão de córnea por atrito e ceratoconjuntivite seca por atuarem como sifões removendo lágrima do olho. 23 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 3 - Órbita, músculos extra-oculares, pálpebras e cílios Inicia-se com a observação da simetria bilateral. A seguir palpa-se a borda óssea e procede-se retropulsão do globo ocular para avaliação de aumento de volume, dor ou resistência, que podem indicar presença de massas retrobulbares. Podem ser necessários procedimentos adicionais como radiografias (contrastadas ou não) e ultra-sonografias. Os músculos extra-oculares são avaliados pela posição ocular. Doenças palpebrais como introversão ou eversão do tarso palpebral e posicionamento ciliar devem ser observadas. 4 -Sistema de drenagem e terceira pálpebra O sistema de drenagem é avaliado principalmente pelo teste lacrimal de Shirmer. Epífora refere-se ao transbordamento de lágrima pela face, enquanto a diminuição pode levar ao “olho-seco”. A obstrução dos ductos nasolacrimais pode ser avaliada mediante o teste de Robert Jones (que será descrito a seguir). Devemos nos atentar ainda às secreções e protusão da glândula da terceira pálpebra. A terceira pálpebra pode ser avaliada mediante pressão no canto dorso- medial, por sobre a pálpebra. Deve ser inspecionada em ambas as superfícies palpebral e bulbar e respectivos fórnices. Recomenda-se avaliar quanto à presença de inflamação, secreção, folículos e corpos estranhos. A membrana nictitante pode ser retraída com uma pinça após anestesia tópica. 5 - Conjuntiva A conjuntiva deve ser avaliada quanto à congestão capilar, quemose, trauma e/ou hemorragias, presença de corpos estranhos, secreções e alteração folicular. Em casos de secreção ou massas, pode-se solicitar exames complementares como cultura e antibiograma, citologia e/ou biópsia conjuntival. 24 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 6 - Córnea Esta estrutura deve ser inspecionada quanto à perda de transparência, neoformações, falhas na integridade corneal (úlceras) e corpos estranhos. A fluoresceína é um teste diagnóstico de rotina e coloração com corante rosa bengala; é particularmente útil em diagnóstico de úlceras dendríticas causada por herpesvírus felino em gatos. 7 - Câmara anterior, humor aquoso e íris A câmara anterior é avaliada quanto à profundidade, qualidade do humor aquoso (límpido e claro), inflamação intra-ocular e perfurações oculares. Este exame inclui a avaliação da íris, que deve ser observada quanto ao diâmetro, simetria, coloração, hemorragia e presença de vasos visíveis. 8 - Lente A alteração mais comum em lente é a catarata. Esta estrutura intra-ocular deve ser observada quanto à perda da transparência, presença de sinéquias (anteriores ou posteriores) e mudanças posicionais (luxação anterior ou posterior). 9 - Retina Finalmente, a retina, deve ser analisada mediante oftalmoscopia (direta ou indireta) quanto à presença de atrofias, transudato ou exsudato, edema, colobomas, hemorragias e descolamentos. 3.2. Seqüência dos testes e procedimentos diagnósticos A seguir são descritas sucintamente as formas mais apropriadas e a seqüência de realização das manobras etestes. 1 - Teste lacrimal de Schirmer Avalia a produção lacrimal em milímetros de umidade (fase aquosa do filme lacrimal). O teste pode ser comprado no comércio (fitas de Schirmer). A tira é colocada no fórnix conjuntival ventral deixando-a durante um minuto e, posteriormente, observa-se o quanto a fita umedeceu (Figura 12). Durante o exame a cabeça do paciente é contida, mas não se deve manipular o olho. Bovinos, ovinos, caprinos e eqüinos em geral produzem quantidades abundantes de lágrima ultrapassando 20 a 30mm de umidade em 60 segundos. Valores baixos são indicativos de déficit na produção lacrimal. Valores de referência: entre 15 e 25 mm/min (cães) e 10 a 20 mm/min (gatos). FIGURA 12: Desenho representativo da forma correta de utilizar as fitas de Schirmer. 2 - Obtenção de amostras para citologia e cultura A obtenção de amostras da córnea e da conjuntiva para citologia ou cultura deve ser realizada antes da instilação de colírios e corantes, pois podem alterar o resultado do exame. A citologia é indicada em presença de nódulos ou massas, e pode ser feita mediante raspado, após anestesia tópica, com espátula de aço inoxidável (Kimura) ou aspiração com agulha fina. 25 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 26 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Recomenda-se a cultura em infecções severas, crônicas ou não responsivas ao tratamento. Para tanto utiliza-se swabs umedecidos em solução salina 0,9%. 3 - Exame dos reflexos Este exame tem como objetivo avaliar os reflexos que seguem: - ameaça e o teste da “bolinha de algodão”; - luminoso pupilar fotomotor direto e consensual; - palpebral; Completa-se o exame antes de se administrar sedativos ou tranqüilizantes, anestésicos tópicos, midriáticos e bloqueios nervosos regionais, pois eles impedem ou interferem na interpretação dos reflexos. Reflexo de ameaça e o teste da “bolinha de algodão” O reflexo de ameaça avalia a acuidade visual (nervo óptico e córtex cerebral). Faz-se um movimento direto e súbito com a mão no campo visual do olho ipsilateral enquanto o olho contralateral está coberto. A resposta esperada é o piscar do olho, deve-se tomar cuidado para não deslocar corrente de ar que ativará o reflexo corneano. O nervo óptico é a via aferente e o nervo facial é a via eferente desse reflexo, ou seja, estamos testando o nervo óptico e o nervo facial. Também é necessário que o músculo orbicular do olho esteja funcional. Um animal cego irá piscar com o contato da mão nos pêlos faciais. Pode ocorrer reflexo de ameaça falso negativo em um animal dócil com a visão normal. Esses animais devem ser avaliados deixando-se cair uma bola de algodão de cima do olho ipsilateral enquanto o contralateral estiver coberto. O olho com visão normal irá acompanhar o trajeto da bolinha de algodão. Quando se suspeita de cegueira unilateral é necessário repetir o exame do labirinto com um olho coberto com uma venda temporária. Todos os procedimentos citados proporcionam uma avaliação grosseira da visão. A eletrorretinografia é um exame funcional sofisticado. 27 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Reflexo pupilar fotomotor direto e consensual O reflexo pupilar fotomotor direto (RPFMd) é obtido incidindo-se uma luz brilhante através da pupila, observando-se uma imediata miose daquele olho. Este processo requer: - ativação dos fotorreceptores; - nervo óptico ipsilateral como uma via aferente; - via parassimpática no nervo oculomotor ipsilateral como uma via eferente e o músculo constritor da íris funcional. O reflexo pupilar fotomotor consensual (RPFMc) é provocado observando-se a pupila contralateral enquanto se dirige um foco luminoso brilhante através da pupila ipsolateral. Este exame requer: - ativação de fotorreceptores; - nervo óptico ipsolateral como uma via aferente; - via parassimpática contralateral, no nervo oculomotor ipsolateral, como uma via eferente; - músculo constritor da íris contralateral funcional. O RPFMc ocorre devido à decussação de algumas fibras do nervo óptico, no quiasma óptico e na região pré-tectal. Pode ocorrer em animais cegos que apresentem lesão central. Também ocorre quando a doença é retiniana ou do nervo óptico, em que permanecem poucos fotorreceptores e axônios do nervo óptico funcionais. Tanto o consensual como o direto necessitam de poucos fotorreceptores funcionais enquanto a visão necessita de um grande número de fotorreceptores funcionais. Reflexo palpebral Este reflexo é desencadeado quando ocorre um toque no canto temporal e nasal do olho. A resposta normal é uma piscadela, e a falha em piscar indica uma lesão na via nervosa ou no músculo encarregado desse reflexo. Os ramos aferentes para esse reflexo incluem o ramo oftálmico do nervo trigêmeo, a partir do canto nasal, e o ramo maxilar do nervo trigêmeo no canto temporal. O nervo eferente é o 28 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores ramo auriculopalpebral do nervo facial. Também é necessário que o músculo orbicular do olho esteja funcional. 4 - Tonometria A tonometria é o exame para mensuração da pressão intra-ocular (PIO), que pode estar alterada em algumas doenças oculares. Para isto, anestesia-se a córnea com uma a duas gotas de anestésico tópico e posiciona-se o tonômetro na região central da córnea, enquanto paralisam-se as pálpebras. Para uma boa mensuração é necessário: - boa contenção da cabeça do animal tomando o cuidado para não fazer pressão sobre as jugulares; - posicionamento cuidadoso do tonômetro e do animal (posicionamento vertical ou horizontal da cabeça); - anestesia da córnea e integridade da córnea. O tonômetro de edentação (Shiötz) é indicado para a mensuração da pressão intra-ocular em pequenos animais, pois estes permitem o posicionamento vertical da cabeça. Para uma estimativa acurada das pressões intra-ocular calcula- se a média de três leituras em cada olho. A média destas leituras é convertida em milímetros de mercúrio (mmHg) em uma tabela que foi elaborada para cães e gatos e que normalmente vem anexada ao tonômetro (Figura 13). A tonometria de aplanação (Tonopen®), estima a pressão pelo achatamento da córnea. A força desse achatamento é automaticamente convertida em mmHg. O tonômetro é posicionado perpendicularmente à superfície encurvada da córnea onde ocorre uma leve pressão. Faz-se esse movimento durante três vezes e o próprio tonômetro lhe dá a média da pressão com um erro de apenas 5%. O aparelho é caro (Figura 14). FIGURA 13. Tonômetro de Shiötz e forma de utilização. FIGURA 14. Tonômetro de Tonopen e forma de utilização. 29 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 30 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 5 - Midriáticos (oftalmoscopia) A midríase é obtida com a administração tópica de um midriático na córnea.A tropicamida 5% é o midriático mais indicado por ter início rápido, curta duração e ausência da cicloplegia (paresia do músculo ciliar). Instila-se uma gota na córnea e repete-se após 10 minutos. Em 20 minutos as pupilas estarão dilatadas e ficam assim por cerca de 4 horas. A dilatação permite o exame das estruturas mais profundas do globo. A sala para esse exame deve ser completamente escura. Um foco luminoso é direcionado para a córnea para avaliar a transparência e a curvatura. A câmara anterior e a íris são examinadas da mesma forma, porém o ângulo do feixe de luz é agudo e obtuso com o olho. Para a avaliação da lente e da câmara posterior é necessário um oftalmoscópio direto, transiluminador ou oftalmoscópio indireto e lentes convergentes com dilatação pupilar (midríase). Quando é incidido um feixe de luz em direção ao olho midriático, em um ambiente escuro, é possível observar três reflexões: (córnea, cápsula anterior da lente e cápsula posterior da lente). Essas três reflexões permitem ao examinador localizar a posição aproximada da lesão. Por exemplo, uma lesão na cápsula anterior da lente pode alterar a terceira imagem, já uma lesão na córnea altera a visão das duas estruturas subseqüentes (cápsula anterior e posterior da lente). Exame das estruturas do olho com oftalmoscópio direto Ao se iniciar o exame de fundo de olho com o oftalmoscópio direto, a primeira estrutura a ser observada é a retina em dioptria zero. De início, o disco óptico deve ser localizado. Observa-se seu contorno, bem como os vasos retinianos, à medida que cruzam o disco. Para examinar o fundo do olho, devemos dividi-lo em quadrantes. Em espécies cuja retina é holangiótica (completamente vascularizada), como bovinos, ovinos, caprinos, suínos, cães e gatos os vasos dividem o fundo de olho em quadrantes. A retina dos eqüinos é paurangiótica, o que significa que os vasos estão limitados à periferia do disco óptico. Nessa espécie os quadrantes são estabelecidos de forma arbitrária. Examina-se cada quadrante, começando-se no disco óptico e prosseguindo para fora dos orifícios ciliares da retina. 31 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores As estruturas a serem examinadas são: retina (normalmente translúcida); vasos sanguíneos retinianos; região tapetal e extra tapetal. Quando o fundo de olho for albino é possível observar os vasos da coróide e partes da esclerótica. Após completar o exame fúndico é necessário alterar a dioptria tornando-a mais positiva, tomando-se o cuidado de manter a mesma distância entre o oftalmoscópio e o animal, possibilitando a visualização das estruturas anteriores (corpo vítreo e lente), onde qualquer alteração observada deve ser anotada em um prontuário. 6 – Corantes Coloração com fluoresceína Faz-se a aplicação da fluoresceína através de um tira de papel ou colírio de fluoresceína. O colírio, após aberto, é meio de cultura para bactérias produtoras de colagenase. Este teste tem como objetivo: - detectar úlceras; - avaliar a integridade da córnea; - determinar a qualidade da película lacrimal; - avaliar a potência do ducto nasolacrimal. A fluoresceína cora primeiramente a película lacrimal, estroma (quando houver lesão) e a conjuntiva bulbar. Quando o epitélio estiver lesado (úlcera de córnea) a fluoresceína irá se ligar ao estroma (segunda camada da córnea), confirmando assim a presença de ceratite e tendo a possibilidade de avaliar a profundidade da lesão (o estroma é hidrofílico e tem afinidade pelo corante de fluoresceína). A fluoresceína é utilizada da seguinte forma: 1 - instile uma gota do corante ou coloque a tira de papel na córnea do olho a ser testado; 2 - aguarde quinze segundos; 3 - remova o excesso do corante com solução fisiológica; 32 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 4 - observa-se em sala com pouca luminosidade (escotópica) com a luz azul cobalto ou ultravioleta (lâmpada de Wood). Onde o corante estiver presente é o local da lesão. Com o mesmo corante procede-se ao teste de Robert Jones. Instila-se o colírio na córnea e, se o ducto estiver patente, observa-se o corante na narina ipsilateral ou na língua, dentro de três a cinco minutos. Coloração com rosa bengala O corante de rosa bengala, que é vendido em colírio ou tiras, é um corante supravital utilizado para corar tecidos necróticos ou células epiteliais em degeneração. O colírio é aplicado sobre a córnea e logo em seguida o olho é lavado exaustivamente. Quando o corante impregnar-se na córnea é porque existe lesão. Ele é mais sensível que o teste de fluoresceína, pois cora células epiteliais desvitalizadas. O corante causa grande desconforto ocular. 3.3. Procedimentos específicos Dentre eles podemos citar a gonioscopia (para avaliação direta e indireta do ângulo iridocorneal); biomicroscopia com lâmpada de fenda (permite um exame abrangente do segmento anterior, obtendo-se uma imagem aumentada da córnea, íris, câmara anterior e posterior da lente e do vítreo anterior); paracentese da câmara anterior (obtenção de humor aquoso para exames, principalmente a citologia); eletrorretinografia (para avaliar a função da retina) e ultra-sonografia (útil no diagnóstico de neoplasias, hemorragias, luxações de lentes, descolamento de retina, entre outros). Sondagem do ducto nasolacrimal: o sistema de drenagem da lágrima do olho é composto por dois pontos (inferior e superior) localizados no canto medial de cada olho, e na seqüência o ducto propriamente dito. A gravidade e certa pressão negativa exercida pelo músculo orbicular do olho faz com que a lágrima flua do saco lacrimal até o ponto nasal. Quando o animal apresenta epífora crônica são necessárias a canulação e a irrigação deste ducto. Faz-se necessário anestesiar as conjuntivas, os canalículos e o ducto nasolacrimal com solução tópica anestésica. A 33 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores irrigação pode ser normógrada (pequenos animais) ou retrógrada (grandes animais). Em pequenos animais pode-se utilizar uma cânula lacrimal curva ou um cateter intravenoso de calibre 20 a 24 sem o mandril. Após a adaptação da sonda, deve-se injetar, com auxílio de uma seringa, solução fisiológica ou colírio, até que o líquido, saia na narina. --------------FIM DO MÓDULO I-------------- LISTA DE ABREVIATURAS Capítulo 1 - Estruturas anatômicas e implicações clínico-cirúrgicas Aparelho lacrimal Lente Capítulo 2 - Exame clínico oftalmológico
Compartilhar