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ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE MARIANA E SEUS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS

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ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE MARIANA E SEUS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS
Resumo
A ruptura da represa que pertencia à mineradora Samarco S/A, localizada na cidade de Mariana, Minas Gerais, causou por circunstâncias ainda não esclarecidas, uma tsunami de lama de rejeitos que dizimou o distrito de Bento Rodrigues, primeira vila de moradores no trajeto da lama, que por sua vez teve como destino final o Oceano Atlântico após afetar diversos rios que eram fonte de renda e subsistência de muitas famílias. O acidente também afetou os ciclos da flora e fauna por onde passou, extinguindo espécies de animais habitantes dos rios e colocando outras na lista de risco de extinção.
Palavras-chave: rompimento de barragem; tragédia de Mariana; impactos socioambientais.
1 INTRODUÇÃO
	A mineradora Samarco é um empreendimento fundado pela sociedade entre as empresas Vale S.A. e Anglo-australiana BHP Billiton. Foi protagonista de um dos maiores desastres socioambiental do Brasil em novembro de 2015 com o rompimento da Barragem de Fundão que funcionava como deposito dos resíduos gerados pelo processo de mineração de ferro.
	O rompimento do dique lançou cerca de 50 milhões de m³ de rejeitos de minério de ferro, que no primeiro momento devastaram o distrito de Mariana, Bento Rodrigues, a partir dai percorreram o Rio Gualaxo do Norte, até encontrar o Rio Carmo que desagua no Rio Doce, e destinou por fim os rejeitos ao Oceano Atlântico. 
	O principal objetivo deste trabalho é realizar uma abordagem crítica, cientifica e pontual sobre as prováveis causas do rompimento da barragem, sem olvidar os efeitos socioambientais e econômicos advindos desse desastre.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
	Em novembro de 2015 a barragem de Fundão rompeu-se, atingindo a barragem de Santarém que se encontrava a jusante da primeira, levando ao transbordamento da segunda. Os rejeitos de ambas somaram o volume de 50 milhões de m³ de lama lançados ao meio ambiente. Foram atingidos 8 distritos de Mariana, sendo Bento Rodrigues aniquilado. Os rios Gualaxo do Norte, Carmo e Rio Doce receberam os rejeitos e que foram desaguados ao Oceano Atlântico, todos sofreram sérios danos na fauna e flora.
	Estudo preliminar sobre os rejeitos advindos do processo de mineração que estavam contidos na barragem de Mariana são classificados pela NBR 10.004 como sólidos não perigosos e não inertes, como ferro e manganês, ou seja, a composição da lama era de areia e metais.
	As barragens operavam por método tradicional de aterro hidráulico, exercendo a função de receber os resíduos separados do ferro decorrentes do processo de mineração. A água é filtrada pela areia, que é projetada na parte frontal das bacias.
	Quanto ao rompimento, especialistas são unanimes em afirmar que a negligência da empresa em relação ao monitoramento, ausência de planos emergenciais e manutenção, além da utilização de técnicas de filtragem ultrapassadas, tudo isso somado a ineficiente fiscalização dos órgãos competentes, colaboraram para o desastre acontecer, que poderia ser evitado ou ter seus impactos minimizados.
	Após o ocorrido, a Policia Civil de Minas Gerais, o Procurador da Republica, José Adércio Leite Sampaio, o Ministério Publico de Minas Gerais e o Ministério Publico Federal, cada um desses órgãos tomou a frente em investigações dentro das suas competências. A Policia Civil apurou os fatos em relação aos crimes ambientais e os contra a vida; o inquérito realizado pela Policia Federal a pedido do Procurador José Sampaio visou os crimes e as causas do acidente; o Ministério Publico de Minas Gerais compôs um grupo de nove procuradores para identificarem por inquérito civil as causas do rompimento, que servirão de base para futuras ações de responsabilidade civil e para as que já estão em andamento; Já o MPF instaurou quatro frentes de investigação civil para identificar os responsáveis e as irregularidades dos órgãos que deveriam fiscalizar, adotou medidas de proteção às comunidades indígenas e quilombolas atingidas, identificar as medidas preventivas adotas pela Samarco na barragem, o MPF também abriu procedimento investigatório criminal para apurar as causas e responsabilidades quanto aos crimes ambientais.
Os laudos periciais indicam que o rompimento da estrutura ocorreu por causa da liquefação estática, que é quando um material sólido passa a se comportar como um fluido, isso começou a acontecer porque passou-se a ter muita água nas fundações da represa, que também é composta de resíduos da mineração. Após a inspeção de uma equipe da própria Samarco identificar o surgimento de trincas em um dos paredões da barragem, a empresa apenas providenciou um aterro na base do paredão, desconsiderando totalmente uma possível liquefação, que é problema recorrente nesse tipo de barragem. 
Em dezembro de 2016, José Carlos Sales Campos, diretor do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), assumiu falha na fiscalização “Se tudo isso aconteceu com uma barragem considerada de baixo risco por todos os critérios técnicos, com laudos entregues em 2013, 14 e 15 atestando a estabilidade da barragem e ela ruiu, lógico que uma falha aconteceu.”
Sendo assim, não restam duvidas que a tragédia socioambiental poderia ter sido evitada se a Samarco e os órgãos responsáveis tivessem tomada as medidas cabíveis de manutenção e fiscalização da barragem.
3 MÉTODO
Em decorrência do desastre de Mariana ser fato recente, poucas obras científicas foram publicadas, por isso optou-se por desenvolver a pesquisa com matérias jornalísticas, reportagens e laudos técnicos de órgãos públicos e privados.
4 DISCUSSÃO
	Após a catástrofe, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (IBAMA), órgão responsável pelo controle ambiental em nível federal, acompanhou a evolução do desastre no local que resultou no documento “Laudo Técnico Preliminar: Impactos ambientais decorrentes do desastre envolvendo o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais” este apresenta os impactos decorrentes da destruição direta do ecossistema, prejuízos à fauna e flora, que afetaram o equilíbrio da Bacia Hidrográfica do rio Doce, com desestruturação da resiliência do sistema.
	O distrito de Bento Rodrigues foi o primeiro a ser atingido pela onda de rejeitos e devido à velocidade da mesma foi dizimado, restando apenas escombros no lugar do antigo vilarejo que habitava cerca 612 habitantes. Apenas 17 pessoas do vilarejo vieram a óbito, somando dois funcionários da Samarco, sendo o total de 19 vitimas fatais da tragédia.
	Bento Rodrigues, embora vilarejo fosse um distrito que possuía uma história majestosa e digna de orgulho entre os seus concidadãos. Com 317 anos de existência, abrigava igrejas centenárias com obras sacras importantes e monumentos de notória relevância cultural, além de fazer parte da rota da Estrada Real no século XVII. Além das perdas de vidas humanas, cujos valores são incalculáveis, em apenas onze minutos de avalanche todo patrimônio histórico e cultural, construído ao longo de séculos, fora dizimado pelo mar de rejeitos (GONÇALVES; VESPA; FUSCO, 2015).
	O novo Código Florestal (Lei nº 12.651/12) traz na inteligência do seu artigo 3º, inciso II entende como Área de Preservação Permanente (APP) “área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”.
	O IBAMA ainda considera as florestas que percorrem o curso dos rios de vital importância para o equilíbrio do ecossistema e da biodiversidade, principalmente do que diz respeito ao sistema hídrico, que evitam a erosão do solo, regularizam os fluxos hídricos e impedem o processo de assoreamento dos cursos da água. As APPs possuem função de vital importância para o ciclo da bacia hidrográfica.
	Com a secagem da lama sob o solo, cria-se uma camada de espécie de cimento que impede o desenvolvimento deespécies animais, além de impedir a construções no local. O elevado pH da lama acarreta na desestruturação química do solo o tornando inapto por tempo indeterminado para agrícola novamente e para o desenvolvimento das espécies vegetais existentes nas regiões antes do ocorrido pela pobreza em matéria orgânica.
	Para ter-se conhecimento da dimensão dos danos decorrentes do rompimento da barragem serão necessários muitos anos para calcula-los precisamente, quanto ao tempo de recuperação do meio ambiente, não é possível nem mesmo ter-se uma estimativa. 
	Outra conclusão refere-se aos danos sofridos pelo rio Doce, que veio a óbito com o avançar da lama e por ser habitat de muitos animais, consequentemente a maioria desses não resistiram. A principal causa foi o alto nível de turbidez na água que resultou no fechamento das brânquias nos peixes os levando a morte por asfixia. As populações dependentes do abastecimento de água fornecido pelo rio Doce também foram afetados, já que nos primeiros dias a água estava imprópria para consumo humano. 
	A Agencia Nacional de Águas (ANA) apresentou laudo técnico em novembro de 2016 que serviu de base para ajuizamento de uma Ação Civil Pública, do Ministério Público Federal que resultou em fevereiro de 2017 em acordo judicial onde a Samarco se compromete em pagar R$ 2,2 bilhões como garantia para o cumprimento das obrigações de custeio das analises, financiamento dos programas de reparação ao meio ambiente e as populações atingidas. 
	O IBAMA instaurou a Operação Áugias após vistoria em abril de 2016 nas áreas afetadas pelo rompimento, a região recebeu o nome de Área Ambiental 1 no Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC), situa-se entre a Barragem de Fundão e a Usina Hidrelétrica – UHE Risoleta Neves (Candonga). Foi o trecho mais fortemente afetado pelo incidente, com grande quantidade de matas ciliares destruídas e um elevado volume de rejeito depositado nas margens de cursos d’água e de seus tributários. 
	A Operação Áugias foi adotada como estratégia para analisar o cumprimento das Cláusulas 158 a 160 do TTAC em atendimento à Deliberação CIF nº 11/2016. Seus objetivos principais são: i) realizar um diagnóstico completo do estado de degradação das áreas atingidas; ii) avaliar as intervenções que estão sendo realizadas pela Fundação Renova; e iii) monitorar as ações de recuperação durante todo o processo de restauração ambiental. (BRASIL, 2017).
		O TTAC é um acordo judicial firmado no dia 02 de março de 2016 entre a União, os Estados de Minas Gerais e do Espírito Santo, a SAMARCO S.A., a Vale S.A. e a BHP BILLITON BRASIL LTDA. com fins de estabelecer: a) instâncias colegiadas públicas para tomada conjunta de decisões técnico-administrativas sobre as ações a serem executadas para o estabelecimento de um processo de recuperação ambiental; b) uma estrutura responsável pela execução das ações a serem tomadas para a promoção dessa recuperação ambiental na área afetada pelo evento e; c) ações mínimas obrigatórias para a recuperação ambiental da área afetada e ações compensatórias na Bacia do Rio Doce. (BRASIL, 2017).
	Apesar de já haver medidas de reparação dos danos nas áreas afetadas, é de consentimento entre especialistas diante dos estudos e laudos técnicos realizados que ainda falta muito para se atingir um efetivo reparo nos locais devido a extensão das lesões sofridas pelo meio ambiente. 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A queda da barragem da Samarco foi resultado da deficiente fiscalização dos órgãos públicos e legislação desatualizada com as novas realidades vividas, em consequência a empresa também foi negligente já que não havia o governo para lhes cobrar a prestação de um serviço seguro.
As consequências do acidente atingiram espécies de animais e vegetais aquáticas dos rios e do oceano, levando algumas à extinção total e outras a entrarem para a lista de risco de extinção, principalmente por falta de oxigênio devido à grossa camada de lama que flutuou nas águas há época. Além disso, as populações dependentes do abastecimento de água do Rio Doce sofreram com a contaminação, uma vez que a água tornou-se imprópria para consumo humano, agropecuária e as que dependiam dos rios e do mar em decorrência da pratica da pesca que servia tanto para consumo próprio, como para comercialização.
Embora os estudos sobre o caso não tenham obtido uma conclusão definitiva, é certo que há necessidade de mudanças na postura dos órgãos públicos no que diz respeito às normas vigentes, as concessões das licenças ambientais e o mais evidente, maior atuação dos órgãos fiscalizadores, pois são detentores de poder de policia com objetivo de atuar em face do interesse público, este por sua vez deve priorizar o “interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato, em razão do interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.” é o exposto no artigo 78 da Lei Federal 5.172/1966.
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Laudo Técnico Preliminar: Impactos ambientais decorrentes do desastre envolvendo o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais. In: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. Minas Gerais, 2015. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/phocadownload/noticias_ambientais/laudo_tecnico_preliminar.pdf.> Acesso em: 23 de nov. 2017.
VITAL. Antonio. Tragédia em Mariana: afinal, o desastre poderia ter sido evitado? In: Câmara noticia. 2016. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/radio/materias/REPORTAGEM-ESPECIAL/520884 TRAGEDIA-EM-MARIANA-(MG)-O-DESASTRE-PODERIA-TER-SIDO-EVITADO-BLOCO-3.html> Acesso em: 22 de nov. 2017.
GONÇALVES, E.; VESPA, T.; FUSCO, N. Tragédia em Mariana. Para que não se repita. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/especiais/tragedia-em-mariana-para-que-nao-se-repita/> Acesso em: 22 de nov. 2017.
BRASIL. Relatório Fase Argos III da Operação Áugias – IBAMA. Minas Gerais, 2017. Disponível em: < http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/relatorios/2017-03-16_Relatrio%20Geral_Argos%20III_FINAL.pdf> Acessado em: 23 de nov. 2017.
MIRANDA, Sandro Ari Andrade de. O exercício do poder de polícia administrativo pelos Municípios em matéria ambiental. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 10, n. 728, 3 jul. 2005. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/6952>. Acesso em: 23 nov. 2017.

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