Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SEPARAÇÃO DE HIDROGÊNIO DE MISTURAS GASOSAS ATRAVÉS DE MEMBRANA DE CARBONO DO TIPO FIBRA OCA Joel Santana do Nascimento Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Química, COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Engenharia Química. Orientador (es): Vera Maria Martins Salim Cristiano Piacsek Borges Rio de Janeiro Março de 2010 COPPE/UFRJCOPPE/UFRJ � � SEPARAÇÃO DE HIDROGÊNIO DE MISTURAS GASOSAS ATRAVÉS DE MEMBRANA DE CARBONO DO TIPO FIBRA OCA Joel Santana do Nascimento DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA QUÍMICA. Examinada por: ______________________________________________________ Profª. Vera Maria Martins Salim, D.Sc. ______________________________________________________ Prof. Cristiano Piacsek Borges, D.Sc. ______________________________________________________ Prof. Fábio Barboza Passos, D.Sc. ______________________________________________________ Profª. Maria Eugênia Ribeiro de Sena Piacsek Borges, D.Sc. RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL MARÇO DE 2010 iii� � Nascimento, Joel Santana do Separação de Hidrogênio de Misturas gasosas através de Membrana de Carbono do Tipo Fibra Oca / Joel Santana do Nascimento – Rio de Janeiro: UFRJ/ COPPE, 2010. IX, 107 p: Il.; 29,7 cm. Orientadores: Vera Maria Martins Salim Cristiano Piacsek Borges Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de Engenharia Química, 2010. Referências Bibliográficas: p. 89-99. 1. Membrana Fibra Oca de Carbono. 2. Separação de Misturas Gasosas. 3. Hidrogênio. 4. Pirólise. I. Salim, Vera et al. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de Engenharia Química. III. Título. iv� � Dedico este trabalho a meus pais, José Santana e Luzia e a meus irmãos, Luiz, Eliel, Irineu e Míria. v� � AGRADECIMENTOS - A Deus; - A minha família pelo amor incondicional; - A Profª. Vera e Prof. Cristiano pela imprescindível orientação; - A Profª. Eugênia e Prof. Fábio pela aceitação do convite para avaliação deste trabalho; - A todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho, em especial a: Amanda, Alan, Felipe e Walter por me ensinarem a montar extrusora, fazer fiação e utilizar sistema de permeação de gases; Mariana por me ensinar a fazer análises de MEV; Bob pela ajuda durante a montagem de módulos e sistemas de permeação; Antônio (Bebezão) pela ajuda durante preparo das misturas; Anacleto pela imprescindível ajuda durante montagem de sistema e análises em espectrômetro de massas, Ayr pelas análises cromatográficas das misturas; Beth pelas análises de TGA. - A todos os amigos, em especial o pessoal do PAM pelos grandes momentos de alegria e diversão vividos juntos e os colegas de república: Iran e Danilo pela companhia e motivação. vi� � Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M. Sc.) SEPARAÇÃO DE HIDROGÊNIO DE MISTURAS GASOSAS ATRAVÉS DE MEMBRANA DE CARBONO DO TIPO FIBRA OCA Joel Santana do Nascimento Março/2010 Orientadores: Vera Maria Martins Salim Cristiano Piacsek Borges Programa: Engenharia Química Reator com membrana para produção de H2 através da reforma do gás natural demanda membrana com elevada estabilidade térmica. Neste trabalho membrana de carbono (MC) na forma de fibra oca foi obtida a partir da pirólise de membrana polimérica (MP) à base de PEI, PVP e sílica. As MP e MC produzidas foram caracterizadas por microscopia eletrônica de varredura, análise térmica e permeação de gases. Ambas as membranas mostraram-se bem formadas, isentas de defeitos ou macrovazios. Enquanto a MP apresentou baixa seletividade a gases (��1) e baixa resistência térmica (até 400 °C), a MC resultante apresentou alta estabilidade térmica (600 °C em atmosfera oxidante e mais que 900 °C em atmosfera inerte) e alta seletividade (�H2/CO2 > 380 GPU a 30 °C e �H2/CO = 168 a 80 °C). O aumento da temperatura tem provocado ganho significativo na permeabilidade de H2 na MC (de 0,4 GPU a 27 °C a 2,2 GPU a 180 °C). Estes resultados sugerem que a MC produzida mostra-se adequada para separação de H2 em processos onde a estabilidade térmica é necessária. vii� � Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.). HYDROGEN SEPARATION FROM GASEOUS MIXTURES THROUGH CARBON HOLLOW FIBER MEMBRANE Joel Santana do Nascimento Março/2010 Advisors: Vera Maria Martins Salim Cristiano Piacsek Borges Departament: Chemical Engineering Membrane reactor for H2 production by natural gas reforming demands membrane with high thermal stability. In this work, carbon hollow fiber membrane (CM) was prepared by pyrolysis of polymeric membrane (MP) based on PEI, PVP and silica. The produced PM and CM were characterized by scanning electron microscopy, thermal analysis and gas permeation. Both membranes presented good shape and neither defect nor macrovoid was identified. While the PM showed low selectivity to gases (��1) and low thermal resistance (up to 400 °C), the resulting CM showed high thermal stability (up to 600 °C in oxidizing atmosphere and more than 900 °C in inert atmosphere) and high selectivity (�H2/CO2 > 380 GPU at 30 °C and �H2/CO = 168 at 80°C). The temperature increase has caused significant gain in the H2 permeability (from 0.4 GPU at 27 °C to 2.2 GPU at 180 °C). These results suggest that the produced CM is adequate for H2 separation in cases where thermal stability is required. viii� � Sumár io 1.�INTRODUÇÃO�.......................................................................................................................�1� 2.�REVISÃO BIBLIOGRÁFICA�................................................................................................�6� 2.1.�FONTE, DEMANDA E PRODUÇÃO INDUSTRIAL DE HIDROGÊNIO�...................�6� 2.2.�PROCESSOS DE SEPARAÇÃO/PURIFICAÇÃO DE HIDROGÊNIO�........................�8� 2.2.1.� Processos clássicos�...................................................................................................�9� 2.2.2.� Processos com membrana�.......................................................................................�10� 2.3.�PRODUÇÃO DE MEMBRANAS DE CARBONO PARA SEPARAÇÃO DE H2�......�19� 2.3.1.� Precursores poliméricos�..........................................................................................�20� 2.3.2.� Pré-tratamento�........................................................................................................�22� 2.3.3.� Pirólise�....................................................................................................................�24� 2.3.4.� Pós-tratamento�........................................................................................................�25� 2.3.5.� Envelhecimento da membrana�................................................................................�26�2.3.6.� Adição de carga inorgânica�....................................................................................�27� 2.4.�CONFIGURAÇÃO DE MÓDULOS�.............................................................................�28� 2.5.�MECANISMOS DE TRANSPORTE EM MEMBRANAS DE CARBONO�................�32� 3.�METODOLOGIA EXPERIMENTAL�...................................................................................�38� 3.1.�PREPARO DA MEMBRANA POLIMÉRICA�.............................................................�38� 3.1.1.� Materiais�.................................................................................................................�38� 3.1.2.� Preparo da solução�..................................................................................................�39� 3.1.3.� Fiação......................................................................................................................�39� 3.2.�PREPARO DA MEMBRANA DE CARBONO�............................................................�41� 3.2.1.� Sistema de Pirólise�..................................................................................................�41� 3.2.2.� Pré-tratamento e Pirólise.........................................................................................�42� 3.3.�CARACTERIZAÇÃO DAS MEMBRANAS�................................................................�43� 3.3.1.� Análise de Resistência Térmica�..............................................................................�43� 3.3.2.� Análise da Morfologia�............................................................................................�43� 3.3.3.� Permeação Gasosa�..................................................................................................�43� 3.3.3.1.�Sistema de Permeação�............................................................................................�43� 3.3.3.2.�Princípios teóricos�..................................................................................................�45� 3.4.�MONTAGEM DE MÓDULOS COM CONJUNTO DE FIBRAS OCAS�....................�48� 3.4.1.� Preparo da carcaça�..................................................................................................�48� ix� � 3.4.2.� Preparo das fibras�...................................................................................................�49� 3.4.3.� Montagem do módulo�.............................................................................................�49� 3.5.�PERMEAÇÃO EM MÓDULO COM FIBRAS OCAS DE CARBONO�......................�50� 3.5.1.� Preparo das Misturas�..............................................................................................�50� 3.5.2.� Sistema de Permeação�............................................................................................�52� 3.5.3.� Curvas de Calibração dos componentes das misturas em EM�................................�54� 4.�RESULTADOS E DISCUSSÕES�.........................................................................................�58� 4.1.�CARACTERIZAÇÃO DAS MEMBRANAS�................................................................�58� 4.1.1.� Análise Termogravimétrica�....................................................................................�58� 4.1.2.� Análise da Morfologia�............................................................................................�61� 4.1.3.� Caracterização por Permeação de Gases Puros�......................................................�65� 4.2.�PERMEAÇÃO DE MISTURAS�....................................................................................�66� 4.2.1.� Mistura H2/He/CO2/CH4�.........................................................................................�67� 4.2.2.� Permeação de He e H2 puros...................................................................................�74� 4.2.4.� Permeação da mistura H2/CO�.................................................................................�80� 5.�CONCLUSÃO�.......................................................................................................................�86� 6.�SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS�.................................................................�88� 7.�BIBLIOGRAFIA�...................................................................................................................�89� ANEXO�.....................................................................................................................................�100� TESTES PRELIMINARES DE PRODUÇÃO DE MEMBRANAS, MONTAGEM DE MÓDULOS E PERMEAÇÃO�..................................................................................................�100� � � 1� � 1. INTRODUÇÃO � � O emprego de processos de separação por membrana na indústria química apresenta uma série de vantagens em relação aos processos tradicionais que vão desde economia de energia e área construída, simplicidade e flexibilidade operacional e de projeto, seletividade, qualidade do produto final e redução dos impactos ambientais. A separação através de membranas em sua grande maioria não envolve mudanças de fases e isto se traduz em grande economia de energia comparada aos processos tradicionais. Os processos de separação por membrana são compactos resultando em economia de espaço e área construída. São sistemas modulares permitindo o aumento de escala sem a necessidade de novo projeto uma vez que as características observadas em unidades menores como em escala piloto, por exemplo, se mantêm em grandes escalas. Os processos de separação por membrana podem substituir ou serem acoplados aos processos tradicionais de separação, melhorando a eficiência do processo sem, contudo exigir transformações bruscas e investimentos elevados. A seletividade é uma característica muito importante dos processos de separação com membrana levando-os a serem, em alguns casos, a única alternativa técnica de separação, exemplo disso é a produção de H2 de alta pureza para uso na indústria eletrônica e para aplicações espaciais. Qualidade do produto e aspectos ambientais são favorecidos por dispensar o uso de outros produtos químicos para efetuar a separação e pela economia de energia. Um dos grandes desafios da humanidade atualmente é assegurar o suprimento de energia concomitante à devida proteção ao meio ambiente. Os combustíveis fósseis têm sido determinantes nas transformações econômicas, políticas e sociais da população moderna. No entanto, as incertezas quanto à disponibilidade e preço do petróleo a curto e longo prazo, bem como, os danos visíveis causados ao meio ambiente pela poluição gerada devido ao uso desta fonte de energia, têm provocado intensiva busca por fontes alternativas de energias, mais eficientes e menos poluidoras. O H2 tem se mostrado bastante promissor na substituição dos combustíveis fósseis devido a sua alta eficiência energética e principalmente por ser não poluente e apresentar grande disponibilidade podendo ser obtido de grande quantidade de fontes 2� � renováveis. Hidrogênio é o elemento químico mais abundante na natureza, constituindo 75% da massa do universo e está presente em 70% da superfície terrestre fazendo parte da composição molecular da água e de compostos orgânicos (SOUZA, 2009). H2 apresenta o maior conteúdo energético por unidade de massa: 1,21x108 J/kg (DOE, 2004 citado por BARBOSA-COUTINHO, 2004), sendo sua utilização em células a combustível muito mais eficiente que a queima de combustíveis fósseis e a fissão nuclear (BOND, 1987) e tanto em combustão quanto em célula a combustível H2 apresenta liberação zero de poluentes. O hidrogênio é uma substância portadora de energia possibilitando com isso a exploração de fontes remotas (ondas,hidroelétricas etc.) ou com distribuição irregular ao longo do tempo (eólica, solar etc.) (SOUZA, 2009). Embora seja enorme a quantidade de fontes de H2, todas elas ainda apresentam barreiras que necessitam ser vencidas até a consolidação do uso destas fontes. Atualmente, a principal fonte de produção de H2 é a reforma com vapor do gás natural. Este processo gera corrente gasosa contendo principalmente H2 e CO. Mas quando o interesse não é a produção de gás de síntese, e sim a produção de H2, uma segunda etapa, reação de deslocamento gás-água, é aplicada ao processo gerando principalmente H2 e CO2 que necessita de posterior etapa de separação para o H2 atingir a pureza necessária para a aplicação a que se destina. Os principais processos de separação de H2 encontrados industrialmente são a adsorção e a destilação criogênica (OCKWIG E NENOFF, 2007). Processos de separação de H2 por membranas ainda ocupam uma pequena parcela das aplicações industriais, sendo representada principalmente por membranas poliméricas, sobretudo devido à facilidade e o baixo custo de fabricação destas membranas. Além disso, estas membranas apresentam alta permeabilidade e boas características mecânicas o que torna fácil a construção de módulos empregando-as. No entanto, estas membranas apresentam limitações quando se necessita altas seletividades e estão sujeitas à compactação em altas pressões, bem como, apresentam baixa resistência térmica e química etc. Como alternativa têm-se as membranas inorgânicas cuja obtenção com propriedades adequadas, como a uniformidade na distribuição de tamanho de poros e ausência de defeitos ou rachaduras, é muitas vezes o fator limitante para o emprego deste tipo de membrana. Dentre as membranas inorgânicas, as membranas de carbono merecem 3� � destaque devido apresentar grande flexibilidade de obtenção. Através da escolha adequada do precursor polimérico, das condições de preparo e pós-tratamento é possível obter membranas de carbono com uma grande variedade de morfologia e propriedades de permeação (SAUFI E ISMAIL, 2004). A separação por mecanismo de peneira molecular tem mostrado superar o limite de permeabilidade e seletividade intrínseca das membranas poliméricas, representado por diagrama primeiramente proposto por ROBESON (1991). Contudo, o custo de produção de membrana de carbono ainda é de uma a três vezes maior que o custo de produção de membranas poliméricas. Então sua utilização é justificada apenas em condições onde seu desempenho é superior ao desempenho de membranas poliméricas (OCKWIG E NENOFF, 2007). Exemplo disso é a aplicação em reator com membrana na reforma do gás natural para produção de H2. Neste caso a membrana deve apresentar alta seletividade e estabilidade térmica, bem como, resistência química e resistência a altas pressões. Neste contexto, este trabalho, desenvolvido no Laboratório de Separação com Membranas e Polímeros em conjunto com o Núcleo de Catálise, ambos pertencentes ao Programa de Engenharia Química da COPPE/UFRJ, dá continuidade a uma linha de pesquisa desenvolvida por MOREIRA (2004), BARBOSA-COUTINHO (2004) e MOREIRA (2008). BARBOSA-COUTINHO (2004) desenvolveu estudos iniciais sobre o preparo de membranas de carbono a partir de membranas poliméricas à base de PEI e PVP, conseguindo membrana de carbono com permeabilidade a Hélio igual a 5,6.10-8 cm3(CNTP).cm-2.s-1.cmHg-1 a 25 °C e seletividade He/N2 igual a 17. A autora avaliou o emprego destas membranas de carbono em reatores catalíticos, bem como o emprego de membrana catalítica, desenvolvidas por MOREIRA (2004) pela deposição de filmes finos de Pt na superfície destas membranas de carbono, em reatores com membranas catalíticas para a geração de hidrogênio a partir do gás natural. Não foi observado efeito significativo do deslocamento de equilíbrio nestes reatores devido à baixa permeabilidade da membrana. Em continuidade a estes trabalhos, MOREIRA (2008) fez estudos relacionados à melhoria das propriedades morfológicas e de transporte das membranas de carbono conseguindo melhor desempenho em termos de permeabilidade a Hélio (6,0.10-7 4� � cm3(CNTP).cm-2.s-1.cmHg-1 a 25 °C) e seletividade He/CO2 (60). A autora investigou ainda a adição de sílica como aditivo inorgânico gerador de porosidade na membrana de carbono conseguindo permeabilidade igual a 1,5.10-6 cm3(CNTP).cm-2.s-1.cmHg-1 a 25 °C mantendo a seletividade He/CO2 igual a 60. Devido a riscos encontrados durante avaliação da permeação de H2 em sistema elétrico (transdutor de pressão) e à necessidade de quantificação do permeado de misturas, as propriedades de separação da membrana de carbono nestas condições, bem como empregando temperatura, ainda não haviam sido averiguadas. Dentro deste contexto, o objetivo geral deste trabalho de dissertação de mestrado é a avaliação das propriedades de transporte e separação de H2 de misturas gasosas através de membrana de carbono em diferentes pressões e temperaturas. Os objetivos específicos são: • Obtenção de membrana fibra oca de carbono sintetizada a partir de membrana polimérica à base de PEI e PVP contendo sílica dispersa em sua matriz para geração de poros, empregando metodologia previamente desenvolvida pelo grupo (BARBOSA, 2004 E MOREIRA, 2008); • Configuração de módulo empregando estas membranas fibras ocas de carbono e montagem de sistema de permeação acoplado a espectrômetro de massas para quantificação do permeado;� • Avaliação do desempenho deste módulo, em diferentes pressões e temperaturas, durante a permeação de gases puros e separação de H2 de misturas contendo os principais constituintes de corrente resultante de reforma com vapor do gás natural e de reação de deslocamento gás- água. � Esta dissertação está estruturada contendo, além desta introdução, uma revisão bibliográfica, metodologia experimental, resultados e discussões, conclusões, sugestões para trabalhos futuros e anexo. Na revisão bibliográfica são apresentados de forma geral assuntos relacionados à produção e purificação industrial de H2, possibilidade de aplicação de processos com membrana, com ênfase principalmente na produção e aplicação de membrana de carbono. Na metodologia experimental são descritos os procedimentos experimentais empregados durante a realização deste trabalho. Nos 5� � resultados e discussões, os principais dados experimentais são apresentados e analisados. Na conclusão são apresentadas as conclusões a que se chegaram a partir da análise destes resultados. Por fim, na parte de sugestões para trabalhos futuros, são apresentadas áreas que podem ser exploradas para melhor compreensão dos fenômenos aqui observados e no anexo são citados testes preliminares envolvendo a produção de membranas, montagem de módulos e testes de permeação de gases.� 6� � 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. FONTE, DEMANDA E PRODUÇÃO INDUSTRIAL DE HIDROGÊNIO � Hidrogênio é o elemento químico mais abundante na natureza, constituindo 75% da massa do universo e presente em 70% da superfície terrestre, fazendo parte da composição molecular da água e de compostos orgânicos (SOUZA, 2009). Na forma molecular (H2) é altamente inflamável e reage facilmente com outras substâncias sendo possível encontrá-lo, apenas em quantidades muito pequenas (traços) na atmosfera (SHREVE E BRINK, 1997). Para aplicação industrial ou como combustível é, então, necessária a síntese desta substância a partir de hidrocarbonetos ou água (GRAINGER, 2007). O hidrogênio apresenta crescente demanda nas refinarias para vários processos, tais como o de hidrotratamentos, hidrocraqueamento, hidrodessulfurizaçãoe hidrodesnitrogenação. Assim como no controle da quantidade de aromáticos e compostos com enxofre presentes na gasolina, e controle da emissão de NOx. É também utilizado nas indústrias: químicas (sobretudo para produção de amônia, metanol e peróxido de hidrogênio), siderúrgicas (produção do aço), indústrias de alimento (hidrogenação de óleos e gorduras), farmacêuticas (vitaminas), eletrônicas (semicondutores) e têxteis. Além disso, a crescente preocupação com os efeitos ambientais causados pela poluição gerada pela queima de combustíveis derivados do petróleo tem levado a crescente busca por combustíveis alternativos menos poluidores. Acredita-se que o hidrogênio seja uns dos mais promissores, devido sua alta eficiência energética e pela não emissão de poluentes durante a sua utilização em células a combustível (SOUZA, 2009, OCKWIG E NENOFF, 2007). Os combustíveis fósseis são as principais matérias-primas para a produção de hidrogênio, sendo o gás natural responsável por 48%, o petróleo por 30% e o carvão por 18% da produção mundial (ARMOR, 1999). Entre estes, o gás natural é o mais adequado para utilização como matéria-prima devido apresentar maior conteúdo relativo de hidrogênio, o que resulta em menores quantidades de CO2 liberados durante 7� � a geração de hidrogênio. Além disso, as reservas mundiais comprovadas de gás natural excedem as reservas de petróleo (LUNSFORD, 2000, SOUZA, 2009). O hidrogênio pode ser obtido do gás natural (cujo principal constituinte é CH4) através da oxidação parcial, reforma com vapor, reforma com CO2, reforma autotérmica ou conversão direta em condições não oxidativas. A reforma com vapor é o processo mais utilizado industrialmente. Neste processo, metano (CH4) e excesso de vapor (H2O) reagem formando gás de síntese: monóxido de carbono (CO) e hidrogênio (H2) (Reação 1). Este processo é altamente endotérmico, e geralmente ocorre em temperaturas superiores a 800 °C, o que acaba por consumir elevada quantidade de energia. Excesso de vapor é normalmente utilizado para redução da formação de coque sobre o catalisador e aumento da conversão do metano (DYBKJAER, 1995) e, isto provoca aumento no tamanho dos equipamentos e redução de eficiência energética, com conseqüente elevação nos custos operacionais (SOUZA, 2009). ��� � ��� � � �� � 3�� ������ � 206 �� ��� Rea��o 1 Quando se visa à produção de hidrogênio e não de gás de síntese, hidrogênio adicional pode ser obtido empregando-se um segundo processo, onde monóxido de carbono reage com vapor formando H2 e CO2 (Reação 2). �� � ��� � � ��� � �� ������ � �41 �� ��� Rea��o 2 Esta reação é conhecida como reação de deslocamento de gás – água (reação de shift) e é considerada como sendo de alta temperatura quando ocorre na faixa de 340 a 400 °C ou de baixa temperatura, quando ocorre na faixa de 190 a 210 °C. Enquanto a reação de baixa temperatura favorece a conversão do CO, a de alta temperatura permite 8� � a recuperação do calor da reação em um nível de temperatura suficiente para gerar vapor de alta pressão (SOUZA, 2009, OCKWIG E NENOFF, 2007). A composição do gás efluente depende da natureza do processo de reação de deslocamento. Geralmente, reação a alta temperatura (~ 350 °C) e reação a baixa temperatura (~ 200 °C) geram correntes com as composições próximas àquelas apresentadas na Tabela 2.1 (MOLBURG, 2003, OCKWIG E NENOFF, 2007). Tabela 2.1. Composição do gás efluente resultante da reforma com vapor do gás natural de acordo com a temperatura da reação de deslocamento gás-água empregada. Condição de Reação Temperatura Composição (% ) H2 CO2 CH4 CO Alta Temperatura 350 °C 73,9 17,7 6,9 1 Baixa Temperatura 200 °C 74,1 18,5 6,9 0,1 Para a grande maioria das aplicações a que se destina, o hidrogênio produzido deste processo necessita de uma posterior etapa de purificação a fim de atingir a composição desejada. 2.2. PROCESSOS DE SEPARAÇÃO/PURIFICAÇÃO DE HIDROGÊNIO A indústria de petróleo apresenta crescente necessidade de separação de hidrogênio de outros gases. Além da separação de H2 durante sua produção, há também a necessidade de recuperação de H2 de gases de purga em refinarias, tais como corrente de purga de hidrodessulfurização (separação de H2/CH4) e corrente de purga da amônia 9� � (H2/N2), ajuste da composição de gás de síntese (H2/CO) e a recuperação de H2 de correntes contendo H2 e H2S na gaseificação do carvão, entre outros (NATIONAL RESEARCH COUNCIL U.S., 1998). 2.2.1. Processos clássicos � A separação de hidrogênio de correntes gasosas em escala industrial é em sua grande maioria realizada por processos tradicionais: adsorção, processo conhecido como PSA (sigla originada da expressão inglesa: Pressure Swing Adsorption) ou destilação criogênica. A destilação criogênica ou destilação fracionada é um processo de separação baseado na diferença da temperatura de condensação dos componentes da mistura de alimentação (MILLER E STOECKER, 1989, ADHIKARI E FERNANDO, 2006). H2 tem volatilidade muito elevada quando comparado com hidrocarbonetos, sendo possível atingir alto grau de recuperação. No entanto só é possível atingir moderado grau de pureza (até 95 %), não sendo prática a obtenção de hidrogênio de alta pureza através deste processo. Por ser um processo de separação a baixíssimas temperaturas, há um considerável consumo de energia (HINCHLIFFE E PORTER, 2000, ADHIKARI E FERNANDO, 2006). Os primeiros usos da adsorção datam de 1980 e por ser mais econômico em energia, resultou em ganho de produtividade e se tornou o processo mais extensivamente utilizado para separação de H2 de misturas gasosas. O princípio de separação por adsorção se baseia em interações entre os componentes da mistura gasosa e o adsorvente (peneira molecular, sílica gel ou carvão ativado), submetidos a altas pressões, já que os adsorventes têm capacidade de adsorver mais impurezas a altas pressões parciais que em baixas pressões parciais. Ao aproximar das condições de ponto de orvalho os componentes menos voláteis são adsorvidos. A adsorção é ainda favorecida por forças eletrostáticas, sendo, portanto, favorecida a adsorção de moléculas mais polares ou polarizáveis enquanto que o hidrogênio e o hélio, compostos altamente voláteis e de baixa polaridade, são preferencialmente não adsorvidos (STOCKER, 2005). O processo é dividido em 5 etapas: (i) adsorção, (ii) despressurização, (iii) despressurização contracorrente, (iv) purga e (v) pressurização. Para ativação do 10� � adsorvente, o sistema necessita ser despressurizado e lavado com H2 puro. Além disso, este é um processo operado em batelada sendo necessária a utilização de vários adsorventes para a obtenção de fluxo contínuo. A quantidade de H2 recuperada é dependente da pressão de alimentação, pressão do gás de purga, grau de impurezas e concentração de H2, sendo, contudo, possível atingir altas seletividades (99,99 %) (STOCKER, 2005, ADHIKARI E FERNANDO, 2006). 2.2.2. Processos com membrana Nos últimos anos, os processos com membrana para separação de gases estão ganhando grande aceitação da indústria e estão competindo no mercado com operações consolidadas, tais como, a adsorção e a destilação criogênica (BERNARDO et al., 2009). Isto se deve às melhorias conseguidas nas propriedades das membranas e à série de vantagens apresentadas pelos processos de separação por membrana em relação aos processos clássicos. Algumas destas vantagens são apresentadasa seguir (HABERT et al., 2006). • Os processos de separação por membrana não necessitam de mudanças de fases, traduzindo em elevada economia de energia em relação aos processos clássicos; • São sistemas compactos o que representa economia em área construída; • São sistemas modulares o que possibilita aumento de escala aproveitando as unidades já construídas; • Apresentam facilidade de operação e possibilidade de funcionamento contínuo; • Permitem a integração de processos (sistemas híbridos) possibilitando ganhos em desempenho. Por exemplo: Combinação de processos de separação com membranas e processos clássicos para separação gasosa (ESTEVES E MOTA, 2007) e reator com membrana (ITOH E HARAYA, 2000, BARBOSA-COUTINHO, 2004). 11� � Os processos de separação por membranas se expandiram na década de 50 com a descoberta de produção de membranas poliméricas assimétricas através da técnica de inversão de fase por imersão-precipitação por LOEB E SOURIRAJAN (1963). A melhoria na seletividade e a redução da resistência ao transporte das espécies permeantes representavam alterações que poderiam tornar os processos de separação por membrana mais competitivos do que os processos de separação tradicionais. O procedimento de preparar membranas compostas, sugerido nos trabalhos de CADOTTE e FRANCIS (1996), permitiu a exploração comercial de processos de separação por membrana para separação de misturas gasosas e a empresa americana Monsanto, no início dos anos 80, foi a pioneira na aplicação industrial de membranas para separação de gases (HABERT et al., 2006). Acredita-se que para a hegemonia dos processos de separação por membranas em separações gasosas, além da conscientização de suas vantagens, serão, ainda, necessárias melhorias na qualidade das membranas e configuração de processos (BURGGRAAF E COT, 1996). No entanto, em algumas situações, os processos de separação por membrana já vêm encontrando seus espaços e se consolidando como a melhor opção. Exemplo disso é a utilização de membranas poliméricas para recuperação de H2 em indústrias de amônia e o uso de membranas de paládio para produção de H2 puro para uso em indústrias eletrônicas. Neste caso, o alto custo de produção da membrana de paládio é justificado pela necessidade de H2 de alta pureza (CLUITERS, 2004). Membrana é, sem dúvida, uma possibilidade na estratégia de intensificação de processos através de configurações e métodos inovadores de desenvolvimento baseados na redução dos custos de produção, redução do consumo de energia e rejeitos gerados (DAUTZEMBERG E MUKHERJEE, 2001, BERNARDO et al., 2009). Membranas para separação de H2 podem ser dividas em dois grandes grupos de acordo com sua composição: membranas poliméricas e membranas inorgânicas. Fazem parte deste último grupo as membranas metálicas e ligas metálicas, membranas cerâmicas (óxidas, vidro e zeólitas) e membranas de carbono (BURGGRAAF E COT, 1996, CLUITERS, 2004). Quanto à morfologia, elas podem ser densas ou porosas, isotrópicas (simétricas) ou anisotrópicas (assimétricas), simples ou compostas 12� � (HABERT et al., 2006). Como mostrado na Figura 2.1, ao contrário das membranas anisotrópicas, as membranas isotrópicas possuem morfologia constante ao longo de toda a seção transversal mantendo-se ou porosa ou densa. No caso de membranas anisotrópicas a classificação em densa ou porosa é feita com base na superfície responsável pela separação (superfície menos porosa ou densa, também conhecida como pele), sendo assim, se a superfície for porosa a membrana é dita porosa, caso contrário, a membrana é classificada como densa. Ela será integral quando a pele e suporte forem do mesmo material e, composta quando forem de materiais diferentes. Na Figura 2.1 é mostrada uma representação esquemática da seção transversal de membranas com as morfologias previamente discutidas. Figura 2.1. Representação esquemática da seção transversal de membranas de diferentes tipos de morfologia (HABERT et al., 2006). As membranas mais empregadas em sistemas de separação de hidrogênio são poliméricas, as quais são mais estudadas e com maior número de aplicações 13� � (CLUITERS, 2004). Isto porque membranas inorgânicas apresentam custo de produção bastante superior ao custo de produção de membranas poliméricas, sendo, portanto investigadas para aplicação em condições onde as membranas poliméricas não apresentam desempenhos desejáveis, como em ambientes com elevadas temperaturas e/ou em presença de substâncias nocivas às membranas poliméricas. Um exemplo é a aplicação em reatores catalíticos com membrana (MULDER, 2000, BURGGRAAF E COT, 1996). Membranas poliméricas para separação gasosa são membranas densas, sintetizadas de polímeros elastoméricos ou vítreos. Enquanto membranas de material elastomérico apresentam altos fluxos de permeação, com baixa seletividade, as membranas de material vítreo apresentam alta seletividade e baixo fluxo. As membranas seletivas a H2 são geralmente vítreas, as quais apresentam capacidade de discriminar moléculas gasosas por tamanho, sendo possível separar, por exemplo, H2 de CO2, cuja diferença de diâmetro cinético é de apenas 0,41Å (SHAO et al., 2009). Mas poderia ser empregada, também, membrana seletiva a CO2, mantendo o H2 enriquecido na corrente de alimentação. Neste caso deveria ser empregada membrana de material elastomérico onde o transporte de CO2 é favorecido pela sua maior solubilidade no polímero. As vantagens das membranas poliméricas são o baixo custo de produção, facilidade de fabricação e montagem de módulos. Encontra-se em estágio avançado de desenvolvimento sendo encontradas comercialmente (Air Products, Lind, Air Liquid etc.). Exemplo disso é o módulo Prisma® de membranas poliméricas lançado pela empresa Monsanto e hoje de propriedade da empresa Air Products para separação de hidrogênio. Por outro lado, essas membranas possuem limitada estabilidade térmica ( < 100 °C), alta sensibilidade a plasticização e compactação e, baixa resistência química (CLUITERS, 2004) e limitado desempenho de separação. O desempenho é geralmente representado por diagrama, primeiramente proposto por ROBESON (1991), de correlação entre a permeabilidade e seletividade. Na Figura 2.2 é apresentado um diagrama de permeabilidade de H2 em função da seletividade H2/CO2 para membranas poliméricas seletivas a H2 a 25 °C (ROBESON et al., 1994). 14� � Figura 2.2. Diagrama de ROBESON para membranas poliméricas seletivas a H2 (adaptado de SHAO, et al., 2009). Em membranas metálicas, apesar do elevado custo dos materiais e a baixa permeabilidade, é característica a elevada seletividade a H2, sendo, portanto, bastante investigadas para aplicação em reator com membrana para produção de H2, recentemente. Embora reatores com membrana de ligas de Pd tenha sido disponíveis já nos anos 80 para reforma de CH4/CH3OH para produção de H2 (BURGGRAAF E COT, 1996), membranas metálicas têm sido mais empregadas na produção de produtos químicos de alto valor agregado, como a síntese de vitamina K a partir de quinona e anidrido acético, hidrogenação de cis/trans-butanodiol etc. Estas membranas, geralmente densas, apresentam além da alta seletividade a hidrogênio (o que permite a obtenção de hidrogênio de alta pureza), elevada resistência térmica permitindo seu emprego em altas temperaturas (OCKWIG E NENOFF, 2007). Contudo, são constantes as buscas por metais mais permeáveis e produção de membranas suportadas com pele 15� � metálica bastante fina (1 a 5 micrômetros), sendo que, neste caso, a diferençade dilatação térmica e interdifusão de átomos/íons do metal (pele) e suporte entre si podem afetar a resistência mecânica e propriedades da membrana (BURGGRAAF E COT, 1996). Pd e Pt são os materiais mais empregados na fabricação de membranas metálicas devido serem abundantes e apresentarem preços relativamente menores quando comparados aos outros metais capazes de separar hidrogênio (Nióbio, Vanádio, Tântalo, Ferro, Níquel e Titânio) (OCKWIG E NENOFF, 2007, ADHIKARI E FERNANDO, 2006). Além disso, BREDSEN et al. (2004) têm conseguido altos fluxos de hidrogênio em membranas de paládio (3,2 a 160 m3(CNTP)/m2.bar.h). Para consolidação do uso de membranas metálicas, vários desafios ainda existem como a produção de pele metálica livre de defeitos, a descoberta de suportes adequados e solução para o envenenamento por monóxido de carbono (CO), vapor de água e hidrocarbonetos altamente adsorventes, bem como de substâncias contendo enxofre (S) e cloro (Cl). Gases contendo impurezas de S (compostos com S como dimetildisulfato, H2S etc.) ou contendo Cl (CCl4) estão presentes em várias correntes industriais de hidrocarbonetos e provocam grande perda de permeabilidade. Além disso, membranas de paládio devem operar a temperaturas altas (300 a 600 °C) caso contrário, o metal em presença de H2 se torna frágil devido sofrer transições de fases entre diferentes fases híbridas de Pd-H (fase � e fase �) acarretando perda de resistência mecânica. Para minimizar estes efeitos, é necessária a formação de ligas de Pd com outros metais (Ag, Ru, Rh) o que diminui a temperatura de transição de fase e, em alguns casos, melhora a permeabilidade a H2. Além dos problemas previamente apresentados, carbono (comumente produzido em reações de reforma) em deposição na superfície da membrana tem tendência a se dissolver no seio do metal resultando em falha mecânica da membrana (BURGGRAAF E COT, 1996). Membranas cerâmicas, porosas ou densas, são construídas pela combinação de um metal com não-metal na forma de óxido, nitreto ou carbeto. Membranas cerâmicas porosas são geralmente feitas de duas camadas, a pele responsável pela separação (mais fina e com tamanho de poros menor) e o suporte (mais espesso e com poros maiores). A camada de separação é geralmente à base de alumina, zircônia, titânia ou sílica. 16� � Estas membranas são mais empregadas em nanofiltração, para separação de gases estão ainda em estágio inicial, mas apresentam fluxos promissores de hidrogênio (capazes de superar o desempenho de membranas poliméricas em termos de permeabilidade e seletividade) e apresentam resistência química e térmica sendo adequadas para operação em temperaturas entre 200 e 600 °C (KLUITERS, 2004). A preocupação com este tipo de membranas é a ocorrência de densificação e sinterização de poros principalmente em presença de vapor. Membranas microporosas, zeólitas (ZSM-5 e vários outros tipos de zeólitas-A), têm chamado bastante a atenção devido à alta estabilidade e excelente eficiência de separação (LI et al., 2008). No entanto, devido à natureza catalítica das zeólitas, elas são passíveis de envenenamentos e bloqueio dos poros mais estreitos pela formação de coque resultante da quebra catalítica de hidrocarbonetos (BURGGRAAF E COT, 1996). BARRER e colaboradores (1973) foram os pioneiros no preparo de membrana de carbono para separação gasosa. Estes autores prepararam uma membrana microporosa pela adição sucessiva de pequenas quantidades de pó de grafite em um tubo de aço inox seguida de alta compressão a cada adição. Em seguida fizeram testes de difusão de gases puros (He, H2, D2, N2 e NH3) e de misturas binárias (H2/N2, He/NH3, H2/NH3 e N2/NH3) em temperaturas menores ou iguais a 0 °C. Eles observaram que a permeabilidade de NH3 (gás condensável) em mistura era maior que a dos outros gases menos condensáveis. Isto é explicado pelo mecanismo de difusão superficial/condensação capilar. Neste mecanismo, o gás mais condensável, presente na alimentação lado de alta pressão, é seletivamente adsorvido na superfície e difunde através da superfície da membrana até o lado de baixa pressão sendo, subseqüentemente, dessorvido. A difusão de componentes não condensáveis pode ser impedida pelo bloqueio de poros (condensação capilar) devido à sorção do componente desejado, possibilitando atingir altas seletividades (BARRER et al., 1963). Este tipo de membrana mostra-se atrativa para enriquecimento de H2 em correntes com baixa quantidade de H2, uma vez que promove o enriquecimento da corrente em H2 mantendo-a pressurizada para posterior purificação por adsorção (PSA) (RAO E SIRCAR, 1993a, SIRCAR E RAO, 1999). A grande desvantagem deste tipo de membrana é que devem atuar em temperaturas baixas, uma vez que a adsorção é desfavorecida pelo aumento da temperatura. Além disso, só é possível separar 17� � substâncias com significativa diferença na capacidade de adsorção e, se uma substância fortemente adsorvente estiver presente na corrente de alimentação, mesmo que em pequenas quantidades, a capacidade de separação da membrana será governada pela adsorção-difusão deste componente, impedindo a permeação do gás de interesse (LI et al., 2008, NUNES E PEINNEMANN, 2006). Membranas de carbono do tipo peneira molecular são consideradas como muito promissoras. Estas apresentam poros menores que 5Å e são capazes de desempenhar separação de gases com pequena diferença de diâmetro cinético. Este tipo de membrana apresenta, entre os materiais não tradicionais (cerâmicas, zeólitas etc.), um grande potencial, pois além da alta seletividade, permeabilidade e, estabilidade em operações a altas temperaturas e em ambientes corrosivos, é de obtenção relativamente fácil. Membranas de carbono são geralmente obtidas da decomposição térmica (pirólise) de membranas poliméricas precursoras (LI et al. 2008). Neste processo, a membrana mantém a forma da membrana precursora o que torna fácil a produção de membranas em geometrias de elevada área superficial (capilar e fibra oca) e possibilita o controle de suas propriedades de separação através do ajuste de parâmetros envolvidos durante a síntese da membrana. Tais parâmetros envolvem a seleção do precursor, preparo da membrana polimérica, pré-tratamento do precursor, processo de pirólise e pós- tratamentos (SAUFI E ISMAIL, 2004). KORESH E SOFFER (1980) foram os pioneiros no preparo de membrana de carbono do tipo peneira molecular. Estes autores obtiveram membrana plana de carbono pela pirólise de folha de papel (fonte de celulose). Devido à baixa resistência mecânica desta configuração para a montagem de módulos eles passaram a produzir membrana fibra oca de carbono a partir de membrana polimérica fibra oca obtidas de celulose e polímeros termorresistentes. Estes trabalhos geraram algumas patentes que foram compradas pela empresa “Carbon Membrane LTDA. (1990-2001)”, primeira empresa a comercializar membrana peneira molecular de carbono. Em 2001 foi criada na Alemanha a empresa “Membrana Mundi” que tinha o objetivo de desenvolver membrana peneira molecular de carbono para separação gasosa com uma nova tecnologia, membranas planas, em forma de ondas, organizadas em módulos na forma de favos. Essa nova configuração era proposta com objetivo de melhorar as propriedades mecânicas da membrana em relação às fibras ocas. Devido à 18� � biocompatibilidade do carbono, além do ajuste das propriedades mecânicas e de adesão a superfícies metálicas de implantes, esta empresa se tornou, mais tarde, especializada em equipamentos medicinais a base de carbono (“CINVENTION AG”, http://www.cinvention.com). Atualmente a empresa inglesa MASTCarbon LTDA produz membrana microporosa de carbono assimétrica (plana, tubular ou monolito) através da carbonização de um substrato macroporos (Resina NovacarbTM) recoberta com poliimida (http://www.tech.mastcarbon.co.uk). Membranas de carbono apresentam custos de produção de um a três vezes superiores aos custos de produção de membranas poliméricas. Isto faz com que seu uso seja justificado apenas em condições onde seu desempenho é expressivamente superior ao das membranas poliméricas (OCKWIG E NENOFF, 2007). Assim as membranas de carbono são principalmente aplicadas em condições onde resistência química e/ou resistência térmica é necessária. Em processos termoquímicos para produção de hidrogênio a partir de combustíveis fósseis, o emprego de reator com membrana se mostra muito promissor devido ao deslocamento de equilíbrio pela retirada seletiva de hidrogênio (LU et al., 2007). ITOH E HARAYA (2000) foram os primeiros a realizarem testes laboratoriais empregando membrana de carbono em reator com membrana. Eles partiram de fibras ocas assimétricas de poliimidas, fornecidas pela empresa Japonesa UBE Industry. Estas fibras foram pré – tratadas em ar a 400 °C por 30 minutos (para evitar o amolecimento e perda da estrutura assimétrica) e depois pirolisadas a 750 °C sob vácuo por 60 min. Um módulo foi montado com 20 fibras coladas em uma das extremidades com cola resistente termicamente e colocadas dentro de um tubo de metal para evitar quebra das fibras. O módulo foi então colocado no centro do reator de desidrogenação do ciclohexano, a 195 °C e pressão atmosférica, utilizando argônio como gás diluente. Foi observado deslocamento no equilíbrio de conversão pela retirada seletiva de H2 (ITOH E HARAYA, 2000). 19� � 2.3. PRODUÇÃO DE MEMBRANAS DE CARBONO PARA SEPARAÇÃO DE H2 É crescente o interesse pelo desenvolvimento de membranas com melhor desempenho em termos de seletividade, resistência térmica e resistência química do que as membranas comercialmente disponíveis (membranas poliméricas) para separação de gases (FUERTES E CENTENO, 1998a). Dentre os materiais não poliméricos, aqueles com capacidade de separação por peneira molecular, tais como, sílica, zeólitas e carbono apresentam potencial para superar o limite de permeabilidade e seletividade para membranas poliméricas representados no diagrama de Robeson (ROBESON, 1991, BURNS E KOROS, 2003, FREEMAN, 1999, SAUFI E ISMAIL, 2004). Membranas de carbono têm apresentado bom desempenho na separação de alcano/alqueno (SUDA E HARAYA, 1997a; HAYASHI et al., 1997; HAYASHI et al., 1996), separação de isômeros de hidrocarbonetos entre normais e ramificados (SOFFER et al., 1999), produção de nitrogênio de alta pureza, separação e/ou purificação de hidrogênio, separação de metano de hidrocarbonetos pesados e separação dos gases gerados em reações de reforma (SEDIGH E ONSTOT, 1998). Além disso, tem sido observada alta hidrofobicidade, resistência à corrosão e resistência térmica (KYOTANI, 2000). Contudo, a aplicação mais promissora para membranas de carbono é a aplicação em reator com membrana, onde é necessário o uso de membrana resistente térmica e quimicamente. A retirada seletiva de um dos produtos da reação desloca o equilíbrio da reação, limitada pelo equilíbrio termodinâmico, como tem sido comprovado pelo uso de membranas de carbono seletivas a hidrogênio (ITOR E HARAYA, 2000; BARBOSA- COUTINHO, 2004, SAUFI E ISMAIL, 2004). A fabricação de membranas de carbono envolve as seguintes etapas: seleção do precursor, preparo da membrana polimérica, pré-tratamento da membrana polimérica, pirólise e pós-tratamento. O precursor deve ser resistente termicamente, capaz de resistir à deformação e amolecimento durante todas as fases de pirólise (MORTHON-JONES, 1984). Material 20� � adequado leva a produção de membranas sem quebra e defeitos (SOFFER et al., 1989). Membranas de carbono têm sido produzidas através de pirólise (em atmosfera inerte ou vácuo) de uma variedade de materiais naturais contendo carbono, tais como: resina, grafite, carvão, piche e plantas e de precursores sintéticos tais como poliamidas e derivados, poliacrilonitrila, resina fenólica, álcool polifurfúrico, formaldeído fenólico, celulose entre outros (SAUFI E ISMAIL, 2004). Poliimidas estão entre as classes de polímeros mais estáveis, sendo possível utilizá-las em temperaturas de até 300 °C ou superior e geralmente se decompõe antes de atingir o ponto de ebulição. As melhores membranas de carbono, em termos de separação e propriedades mecânicas são aquelas produzidas de poliimidas aromáticas (JONES E KOROS, 1994). Devido à alta resistência, poli (éter imida) (PEI) tem sido muito utilizada na produção de membranas poliméricas precursoras de membranas de carbono (FUERTES E CENTENO, 1998b, SEDIGH et al., 1999, BARBOSA-COUTINHO, 2004, MOREIRA, 2008). 2.3.1. Precursores polimér icos � Membranas de carbono são geralmente sintetizadas a partir de membranas poliméricas microporosas. Membranas poliméricas deste tipo podem ser obtidas por sinterização de particulados, estiramento a quente de filmes densos, gravação por bombardeamento de partículas radioativas e por inversão de fases sendo destas técnicas, a mais utilizada para preparação de membranas poliméricas isotrópicas ou anisotrópicas, a inversão de fases (HABERT et al., 2006). Nesta técnica, a solução polimérica é desestabilizada pela indução do estado de supersaturação, o que pode ser atingida pela mudança de temperatura da solução (precipitação térmica), pela retirada do solvente (precipitação por evaporação do solvente em solução contendo um não- solvente menos volátil que o solvente) ou pela adição de um não-solvente para o polímero (precipitação por imersão). A solução, então, torna-se termodinamicamente instável e tende a se separar em pelo menos duas fases: rica e pobre em polímero. A fase rica se torna a estrutura da membrana enquanto a fase pobre, os poros. A técnica de 21� � precipitação por imersão permite uma grande flexibilidade, dependendo da característica do sistema como: natureza do polímero, do solvente e não-solvente, da presença de aditivos e das condições em que é realizada a precipitação, pode-se controlar o processo, obtendo-se diferentes tipos de morfologias (DI LUCCIO, 1997, HABERT et al., 2006, BARBOSA-COUTINHO, 2004, MORREIRA, 2008).� Estas membranas podem ser produzidas em duas principais configurações: suportadas ou não-suportadas. As não-suportadas podem ser plana (filme), capilar e fibra oca enquanto que as suportadas são geralmente planas ou tubulares. Na maioria dos casos, membranas suportadas são produzidas devido à baixa resistência mecânica (a fácil quebra) das membranas de carbono não-suportadas. Há uma variedade de métodos de recobrimento, apropriados à deposição de um filme sobre o suporte para obtenção de membranas poliméricas suportadas. O método de recobrimento deve ser eficiente no controle da quantidade e homogeneidade do material depositado além de preservar a textura original do suporte (ACHARYA, 1999). Devido à redução de volume do material polimérico durante a pirólise, o procedimento de recobrimento deve ser repetido até a obtenção de membranas de carbono, do tipo peneira molecular, livre de defeitos (LINKOV et al., 1994a, ANDERSON et al., 2008). Defeitos presentes no suporte podem ser transmitidos para o filme de carbono, gerando poros de grandes dimensões ou orifícios que destroem a propriedade de peneira molecular, necessária para separação de gases. Para minimizar esses problemas, é necessário recobrimento prévio da superfície do suportecom uma camada intermediária (FUERTES E CETENO, 1999). Além disso, ainda é preciso considerar a disponibilidade, custo, durabilidade, morfologia, características de transferência de calor, reatividade química e compatibilidade com carbono (SAUFI E SMAIL, 2004). Desta forma, a escolha da configuração do módulo depende de sua aplicação. Para separação de gases, a maioria das membranas é do tipo fibras ocas (BAKER, 2002) porque estas chegam a apresentar densidade de empacotamento (área de permeação por volume do módulo) até 40 vezes maior que membranas planas (DAVID E SMAIL, 2003), veja Tabela 2.5, resultando em sistemas muito mais compactos. Para membrana fibra oca (não-suportada), parâmetros de fiação da solução polimérica são fatores cruciais que devem ser controlados durante o seu preparo. Estes parâmetros incluem a quantidade e tipo de polímeros, solventes e aditivos misturados na 22� � solução, o fluxo de solução e de líquido interno durante a extrusão, a velocidade de saída da fibra, distância extrusora – banho de precipitação e a temperatura do banho (GEISZLER, 1997, CLAUSI E KOROS, 2000, BARBOSA-COUTINHO, 2004, MOREIRA, 2008). Isto porque há importantes correlações entre as propriedades da precursora polimérica e a membrana de carbono final. A utilização de membranas de carbono derivadas de membranas poliméricas à base de PEI e PVP teve início com o trabalho de BARBOSA-COUTINHO (2004) que tomou como base a experiência do grupo na obtenção de membranas desses polímeros com morfologia bem formada (BORGES, 1993). Mais tarde, MOREIRA (2008) avaliou a influência das propriedades destas nas membranas de carbono resultante. Alterações nas propriedades da membrana polimérica foram conseguidas através da mudança em parâmetros durante a síntese, tais como, o teor de aditivo e a distância extrusora-banho. Segunda a autora, membrana polimérica com macrovazios levaram à formação de membranas de carbono com defeitos, sugerindo o rompimento destes vazios durante a pirólise. Enquanto que membranas poliméricas bem formadas, sem macrovazios e com poros interconectados geraram membranas de carbono bem formadas, com alta estabilidade térmica e mecânica e, com alta seletividade na separação de gases em função do diâmetro cinético. Outros aditivos, glicerol e álcool propiônico, foram testados por BARBOSA-COUTINHO (2004) e embora gerassem membranas poliméricas bem formadas, estas não se mostraram adequadas para produção de membranas de carbono devido à fusão incipiente e colapso das fibras durante o tratamento térmico. Para comprovar a eficiência da PVP como aditivo, a autora produziu membrana de carbono contendo apenas PEI e observou deformação de sua estrutura durante a pirólise. Estes resultados evidenciam a influência exercida pela PVP nas reações durante a pirólise evitando que haja a fusão da fibra. 2.3.2. Pré-tratamento � O pré-tratamento de membranas poliméricas antes do processo de pirólise é importante para garantir a estabilidade e a preservação da estrutura da membrana. 23� � KUSUKI et al. (1997) reportaram que certos precursores, quando não pré-oxidados, sofreram amolecimento durante a pirólise e a membrana de carbono resultante apresentou baixa permeação. CETENO E FUERTES (2001) observaram que a oxidação de filmes de resina fenólica em ar, antes da etapa de pirólise, melhorou significativamente a taxa de permeação gasosa da membrana de carbono resultante. Essa observação sugere que a oxidação antes da carbonização provoca o aumento de tamanho dos poros do filme (CETENO e FUERTES, 2001). Estes autores observaram também perda de permeabilidade e ganho em seletividade em membranas peneira molecular de carbono obtidas de poli (cloreto co-vinil cloreto) (PVDC-VC) pré-tratadas em ar a 200 °C por 6 h (CETENO E FUERTES, 2000). Pode-se então concluir que é necessário aperfeiçoar as condições de pré-tratamento para obtenção do melhor relação entre permeabilidade e seletividade de membranas de carbono. Além de tudo isso, a etapa de estabilização ou oxidação tem também o objetivo de evitar a fusão das membranas, a volatilização de carbono elementar e, com isso, maximizar o rendimento final de carbono. Membranas de carbono com diferentes características em termos de estabilidade e desempenho de separação podem ser obtidas utilizando-se método adequado de pré- tratamento do precursor. O pré-tratamento pode ser dividido em métodos físicos e químicos. Os primeiros consistem de estiramento (tensão) da membrana antes da pirólise (CHEN, 1998, YONEYAMA E NISHIHARA, 1990, SCHINDLER E MAIER, 1990, GRUPTA et al., 1991), enquanto os métodos químicos envolvem a aplicação, no precursor polimérico, de reagentes químicos (tais como hidrazina, dimetilformamida, ácido hipoclórico, cloreto de amônia, ácido fosfórico, ácido clorídrico, cloreto de amônio entre outros (SOFFER et al., 1989, SCHINDLER E MAIER, 1990, LINKOV et al., 1994b). O método mais empregado na obtenção de membranas de carbono por pesquisadores tem sido a oxidação, através do aquecimento em presença de oxigênio, ar ou outra atmosfera oxidativa, no entanto, o precursor pode ser submetido a mais de um pré-tratamento a fim de atingir a propriedade desejada. 24� � 2.3.3. Pirólise � Pirólise é o aquecimento do precursor polimérico em atmosfera inerte ou vácuo. Uma vasta faixa de temperatura pode ser empregada, desde a temperatura de decomposição à temperatura de grafitização do precursor (geralmente entorno de 3.000 °C). Porém para produção de membrana de carbono, a pirólise é geralmente realizada na faixa de 500 ºC a cerca de 1.000 ºC (SUDA E HARAYA, 1997b, GEISZLER E KOROS, 1996). A temperatura, a taxa de aquecimento, tempo de exposição ao patamar de temperatura, bem como, a atmosfera de pirólise (vácuo ou inerte), vazão do gás em atmosfera inerte, pressão e concentração são parâmetros que afetam significativamente o processo de pirólise. Uma pequena mudança nesses parâmetros tem grande impacto nas propriedades finais da membrana de carbono (JONES E KOROS, 1995, OGAWA E NAKANO, 1999, SAUFI E ISMAIL, 2004). Foi observado por BARBOSA- COUTINHO (2008) que quanto maior o tempo de exposição à atmosfera oxidante durante o pré-tratamento de membranas de PEI/PVP menor é a deformação na seção transversal da membrana de carbono resultante. Enquanto que para o período de carbonização, tempos longos levam à formação de estrutura do tipo grafite com freqüentes fissuras da membrana. A autora avaliou ainda a taxa de aquecimento concluindo que taxas de aquecimentos muito baixas levam à formação de membranas de carbono frágeis. A avaliação destes parâmetros permitiu a investigação de condições adequadas para obtenção de membranas de carbono com características adequadas para separação de gases por peneira molecular. Durante a pirólise de polímeros uma grande quantidade de subprodutos de diferentes volatilidades é liberada causando uma grande perda de massa (STEEL, 2000). Alguns desses subprodutos são: amônia (NH3), ácido cianídrico (HCN), metano (CH4), hidrogênio (H2), nitrogênio (N2), monóxido de carbono (CO), dióxido de carbono (CO2) e outros, dependendo do polímero (GEISZLER E KOROS, 1996). A pirólise de poli (éter imida), polivinilpirrolidona e da membrana polimérica obtidas destes polímeros foram acompanhadas por BARBOSA-COUTINHO (2004) e por MOREIRA (2008). MOREIRA (2008) observou que durante a pirólise da PEI, acompanhada por espectrômetro de massas, não houve consumo de oxigênio. No entanto, durante a pirólise de PVP e da membrana polimérica, oxigênio foi consumido acompanhado da 25� � liberação de H2O, CO, CO2 eH2. Isto caracteriza a susceptibilidade de degradação da PVP, tanto pura, como na matriz da membrana polimérica onde as reações (durante a degradação) são importantes para estabilização e formação de poros na membrana de carbono. A liberação desses gases resulta na formação de ligações de reticulação entre os segmentos das cadeias poliméricas do precursor, impedindo a formação de estruturas ordenadas e favorecendo a obtenção de um material amorfo com estreita distribuição de tamanho de poros (SAUFI E SMAIL, 2004). Os poros variam em tamanho, forma e grau de conectividade dependendo da morfologia do precursor orgânico e das condições de pirólise. Uma estrutura idealizada foi proposta por STEEL (2000) que considerou os poros de membrana de carbono como sendo não homogêneos, apresentando regiões com diâmetro relativamente grande acompanhados por constrições, Figuras 2.3. � Figura 2.3. Estrutura idealizada de poros em material de carbono apresentando regiões com diâmetro relativamente grande acompanhado por constrições (STEEL, 2000 citado por LI et al., 2008). 2.3.4. Pós-tratamento Vários métodos de pós-tratamentos podem ser aplicados à membrana de carbono para minimizar defeitos, aperfeiçoar a estrutura de poros e propriedades de separação. Dentre estes métodos estão a oxidação ou ativação, deposição química de vapor pós- pirólise e recobrimento. A oxidação é o pós-tratamento preferido pelos pesquisadores para alteração da estrutura dos poros de membranas de carbono, geralmente aumentando o tamanho dos poros (SOFFER et al., 1989, SCHINDLER E MAIER, 1990, SOFFER et al., 1997, SOFFER et al., 1987, FUERTES, 2001). Esta etapa pode ser feita utilizando oxigênio puro, mistura de oxigênio com outros gases, ar, vapor, dióxido de carbono, óxidos de nitrogênio, óxidos de cloro, soluções de ácido nítrico, misturas de ácidos 26� � nítricos e sulfúricos, soluções de ácido crômico e peróxido a elevadas temperaturas (SOFFER et al., 1987). KUSAKABE et al. (1998) mostraram que a oxidação de membranas de carbono de poliimidas em uma mistura de O2-N2 aumentou a permeabilidade de CO2 e O2 sem alterar significativamente a seletividade. O volume microporoso aumentou significativamente devido ao processo de oxidação, contudo a distribuição de tamanho de poros não sofreu alteração (SAUFI E ISMAIL, 2004). Já FUERTES (2001) observou que o aumento da temperatura de oxidação aumentou a permeação de todos os gases (permanentes e hidrocarbonetos) e diminuiu a seletividade de pares de gases permanentes (O2/N2 ou CO2/N2). No entanto, hidrocarbonetos (n- C4H10, C2H4, C3H6) exibiram permeação maior que gases permanentes (He, N2) o que é conseqüência do transporte através da adsorção em microporos. A variação observada na seletividade sugere que para gases permanentes o mecanismo de transporte através da membrana altera com o progresso da oxidação de mecanismo de peneira molecular para difusão superficial para amostras altamente oxidadas (FUERTES, 2001, SAUFI E ISMAIL, 2004). Contudo, foi observado por ANDERSON et al. (2008) que quanto mais porosa as membranas de carbono (obtidas a maiores temperaturas de pirólise) mais quebradiças são estas membranas. 2.3.5. Envelhecimento da membrana Membranas peneira molecular de carbono sofrem queda de permeabilidade com o tempo de vida (envelhecimento). Isto ocorre porque o carbono apresenta, na superfície, sítios ativos com alta capacidade de fisissorção e mesmo de quimissorção de substâncias presentes na atmosfera, principalmente oxigênio resultando em redução do diâmetro efetivo dos poros (LAGORSSE et al., 2008, JONES E KOROS, 1994, DUBININ, 1980 citado por GRAINGER, 2007). ANDERSON, et al. (2008) destacaram o fato de membranas nanoporosas de carbono ser muito afetadas pela presença combinada de água e oxigênio, quimissorção de oxigênio e fisissorção de água da atmosfera. Para evitar este comportamento, estes autores mantinham as membranas, quando não utilizadas, em dessecador de umidade sobre purga de argônio de alta pureza. 27� � Vários métodos de regeneração têm sido testados por outros pesquisadores. Para remover a água, a membrana pode ser evacuada (<1mbar) ou aquecida a 120 °C sob purga de N2. Para remoção do O2 quimissorvido, temperaturas cerca de 600-800 °C são necessárias. Como não é possível remover o oxigênio quimissorvido sem alterar a estrutura de carbono, apenas recuperação parcial do desempenho original pode ser conseguida removendo água fisissorvida através de regeneração (SAUFI E ISMAIL, 2004). 2.3.6. Adição de carga inorgânica Com o objetivo de funcionalizar membranas de carbono obtidas a partir de poliimida, BARSEMA e colaboradores (2003) adicionaram nitrato de prata ou acetato de prata à membrana precursora. Foi observado que a maior parte da prata migra para a superfície da membrana, formando uma camada que provoca a redução da permeabilidade, sendo maior, quanto maior a temperatura de pirólise e o tempo na temperatura máxima. No entanto, para temperatura abaixo de 600 °C foi constatado aumento de permeabilidade e redução da seletividade devido à prata agir como espaçador de poros, sendo que altas concentrações de prata resultaram em membranas muito frágeis. LIE E HÄGG (2005) investigaram a adição de óxidos de cálcio, magnésio, ferro (III) e silício e, nitratos de prata, cobre e ferro às membranas de carbono obtidas de celulose. Nitrato de cobre e nitrato de prata melhorou a seletividade de separação dos pares O2/N2 e CO2/CH4 e a permeabilidade de H2 chegando a atingir 1100 e 1500 Barrer (ou 1,1.10-7 e 1,5.10-7 cm3(CNTP).cm.cm-2.s-1.cmHg-1) para o nitrato de cobre e de prata, respectivamente (GRAINGER, 2007). MOREIRA (2008) estudou a adição de sílica à membrana polimérica como carga inorgânica, a fim de aumentar a porosidade da membrana de carbono. A membrana de carbono obtida era submetida à lixiviação ácida para retirada da sílica resultando em membrana de carbono com alta porosidade. No entanto, a membrana resultante mostrou-se altamente frágil, sendo impossível o seu manuseio. A 28� � permeabilidade da membrana de carbono com sílica, antes da lixiviação ( � � � ���� He = 1,5 GPU), foi superior à permeabilidade obtida para membrana de carbono (obtida do mesmo precursor) sem o aditivo inorgânico ( � � � ���� He = 0,6 GPU) enquanto que a seletividade foi mantida (���/ ��� � 60). Desta forma, nesta dissertação foi preparada membrana de carbono com sílica, sem, contudo, aplicar o processo de lixiviação. 2.4. CONFIGURAÇÃO DE MÓDULOS � A eficiência do processo com membrana em uma dada aplicação depende da escolha adequada da geometria da membrana bem como da forma de confecção do módulo (STRATHMANN, 1999, YONEYAMA et al., 1992). A seleção do módulo é principalmente determinada por razões econômicas, o que deve levar em conta todos os fatores de custo e não apenas o custo do módulo. A configuração mais barata não é sempre a melhor escolha dependendo do tipo de aplicação e com isso a funcionalidade do módulo, é também um fator importante (YONEYAMA et al., 1992). Para aplicações industriais é preferível a fabricação de módulos com estrutura assimétrica e configurações capilares ou fibra oca para aumentar a taxa de permeação dos produtos (PETERSEN et al., 1997). Em geral, as características de módulos que devem ser consideradas para sistemas de todas as configurações são resumidas na Tabela 2.2. Várias configurações de módulos têm sido propostas para membranas de carbono, mas o maior desafio é melhorar a resistência mecânica da membrana principalmente para o caso de fibra ocaque são membranas auto-suportadas (SAUFI E ISMAIL, 2004). � Módulos são os elementos centrais em sistemas de separação e purificação por membranas, suas configurações podem afetar drasticamente o desempenho do sistema, devendo, portanto, ser adotadas configurações apropriadas durante suas fabricações (LI et al., 2004). 29� � Tabela 2.2. Considerações importantes para a construção de módulos com membrana (SMITH et al., 1995, YONEYAMA et al., 1992, BAKER, 2004). Categor ias Caracter ísticas Produção Alta densidade de empacotamento Facilidade de obtenção em uma dada configuração e estrutura Natureza do material da membrana Custo Baixo custo de operação Baixo custo de investimento Durabilidade Baixa tendência à queda de permeação (“ fouling”) Facilidade de limpeza Possibilidade de troca de membrana Eficiência Extensão do uso Natureza da separação desejada Resistência estrutural Em geral, módulos de membrana podem ser classificados nos seguintes tipos: plana (placa e quadro, espiral), tubular, capilar e fibra oca (outras geometrias possíveis, mas menos comum, são monolito e na forma de favos). Mais de 80% dos sistemas com membrana em aplicação industrial para separação de gases utilizam módulos do tipo fibra oca (SOFFER et al., 1999, LI et al., 2004) por ser auto-suportadas, apresentarem alta densidade de empacotamento e alta relação de área superficial por volume. Módulos do tipo fibra oca chegam a apresentar densidade de empacotamento de 8 a 40 vezes maior que módulos em geometria plana (LI et al., 2004). A tabela 2.3 mostra uma classificação geral de módulos de geometria cilíndrica. Tabela 2.3. Classificação geral de membranas de geometria cilíndrica de acordo com o diâmetro das mesmas. Geometria cilíndrica Diâmetro Tubular > 5mm Capilar 0,5 < diâmetro < 5mm Fibra oca < 0, 5 mm 30� � As principais características desejadas na construção de módulos com fibra oca para separação de gases são: • Resistência mecânica: membrana e carcaça devem resistir às condições como pressão e temperatura de operação, ataques químicos e, além disso, apresentar longa vida útil. • Fibras e arranjo das fibras: a qualidade das fibras deve ser controlada e elas devem apresentar uma alta densidade de empacotamento no módulo. • Padrão de escoamento: o escoamento dos gases pode ser no mesmo sentido, contracorrente ou tangencial de acordo com as necessidades e especificações do produto. O gás pode ser alimentado tanto internamente como externamente as fibras. • Economia: Os custos da membrana e da carcaça do módulo, juntamente com o período de vida útil devem ser considerados bem como conveniência para manutenção e troca de membranas se necessário. Módulos com fibras ocas podem apresentar diferentes configurações para atender as necessidades de diferentes aplicações. A configuração mais comum é aquela onde a alimentação é feita pela carcaça do módulo, parte externa das fibras como no módulo Prisma® de membranas poliméricas fabricado pela empresa Monsanto para recuperação de hidrogênio, Tabela 2.4. Isto possibilita o uso de pressões maiores que as que seriam possíveis se a alimentação fosse feita pelo orifício interno das fibras, como é o caso do módulo Generon® lançado em 1985 pela empresa Dow Chemical para separação de ar (SHIFLETT E FOLEY, 2000). A aplicação de gás de arraste durante a separação pode melhorar a eficiência do processo, embora seja necessária uma etapa posterior de separação para recuperação do gás de arraste. O tamanho do módulo, também, afeta o desempenho de separação. Normalmente módulos feitos com uma pequena quantidade de fibras, para avaliação do desempenho em escala de laboratório, podem não promover suficiente informação sobre aplicações industriais, pois negligenciam fatores como variação de temperatura, padrão de escoamento e variação da fibra. LI et al. (2004) propuseram um método simples de obtenção de módulos de fibras ocas em escala laboratorial, com densidade de 31� � empacotamento próxima à dos módulos comerciais e usando conexões disponíveis comercialmente. Basicamente o procedimento de fabricação de módulos envolve cinco etapas: preparo da carcaça (que deve ser de montagem simples, confiável em termo de desempenho do módulo e possibilidade de reutilização dos materiais), preparo do conjunto de fibras, montagem do módulo e colagem (para isolamento da corrente de permeado do concentrado). Tabela 2.4. Características de módulo comercial (empresa Monsanto) de membrana polimérica para recuperação de H2 (KING et al., 1978, LI et al., 2004). Material da membrana Polisulfona (P3500) Diâmetro interno (µm) Diâmetro externo (µm) 120-260 450-540 Permeabilidade de H2 (GPU) 50 Seletividade do módulo (H2/CH4) 30 Diâmetro interno do módulo (cm) 10 Comprimento (m) 3 Número de fibras ~ 20.000 Área efetiva de membranas (m2) ~ 93 Densidade de empacotamento (%) 43-56 Padrão de escoamento Contracorrente Gradiente de pressão através da membrana (MPa) ~ 6,6 Temperatura (°C) ~ 30 A Tabela 2.5 apresentada a seguir, compara os diferentes tipos de módulos em termos de densidade de empacotamento (área de permeação/volume do módulo) (HABERT et al., 2006). Tabela 2.5. Densidade de empacotamento para diferentes tipos de módulos. Tipo de módulo Densidade de empacotamento (m2/m3) Tubular 30 Plana (arranjada na forma de placa e quadro) 500 Capilar 1.000 Fibra oca 10.000 32� � 2.5. MECANISMOS DE TRANSPORTE EM MEMBRANAS DE CARBONO � Membrana pode ser definida como uma barreira seletiva, entre duas fases, capaz de restringir total ou parcialmente o transporte de uma ou mais espécies químicas em detrimento da passagem de outra(s) espécie(s) através de sua matriz (MULDER, 2000). Independente da estrutura da membrana, a força motriz para a separação é o gradiente de potencial químico devido à diferença de concentração, pressão, temperatura ou potencial elétrico. No caso de gases, a diferença de potencial químico é devida à diferença na fugacidade (ou pressão parcial se o gás se comporta como ideal) dos componentes entre os lados da alimentação e do permeado. Em membranas densas, o transporte ocorre pelo mecanismo de sorção e difusão originalmente proposto por GRAHAM (1866). As principais variáveis envolvidas na separação são a temperatura, pressão, concentração, massa molar, tamanho e forma da molécula penetrante etc. A sorção está associada a aspectos termodinâmicos (incorporação da molécula na matriz da membrana), enquanto a difusão está associada a fatores cinéticos (mobilidade da molécula/íon na membrana) (HABERT et al., 2006). Uma equação descrevendo a difusão em estado estacionário foi proposta por Fick em 1855 considerando a força motriz como o gradiente de concentração (Equação 2.1): ��� ��� ��� �� Equa��o 2.1 Onde �� é o fluxo da espécie i (cm 3/s), �� é o coeficiente de difusão da espécie permeante através da membrana, �� a concentração e x a espessura da membrana onde a difusão é considerada. Se a concentração da espécie permeante na interface da membrana (��) está em equilíbrio com a pressão parcial desta mesma espécie na fase vapor ��� em cmHg) e se essas variáveis seguem uma relação linear (Lei de Henry) (Equação 2.2): ��� ��� �� Equa��o 2.2 33� � Onde �� é o coeficiente de solubilidade do permeante na matriz da membrana. Então ��� ���
Compartilhar