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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE CIÊNCIAS APLICADAS PRISCILA OHANA DA ROCHA EMPREENDEDORISMO NO BRASIL Análise do empreendedorismo brasileiro através do relatório GEM Limeira 2016 1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE CIÊNCIAS APLICADAS PRISCILA OHANA DA ROCHA EMPREENDEDORISMO NO BRASIL Análise do empreendedorismo brasileiro através do relatório GEM Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Gestão do Comércio Internacional à Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas. Orientador: Prof. Dr. Edmundo Inácio Júnior Limeira 2016 Ficha catalográfica Universidade Estadual de Campinas Biblioteca da Faculdade de Ciências Aplicadas Sueli Ferreira Júlio de Oliveira - CRB 8/2380 Rocha, Priscila Ohana da, 1991- R582e RocEmpreendedorismo no Brasil : análise do empreendedorismo brasileiro através do relatório GEM / Priscila Ohana da Rocha. – Limeira, SP : [s.n.], 2016. RocOrientador: Edmundo Inácio Junior. RocTrabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciências Aplicadas. Roc1. Empreendedorismo - Brasil. I. Inácio Junior, Edmundo,1972-. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Ciências Aplicadas. III. Título. Informações adicionais, complementares Palavras-chave em inglês: Entrepreneurship - Brazil Titulação: Gestão do Comércio Internacional Banca examinadora: Edmundo Inácio Junior [Orientador] Eduardo Avancci Dionisio Data de entrega do trabalho definitivo: 11-07-2016 Powered by TCPDF (www.tcpdf.org) 2 ROCHA, Priscila Ohana. Empreendedorismo no Brasil: análise do empreendedorismo brasileiro através do relatório GEM. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Gestão do Comércio Internacional) – Faculdade de Ciências Aplicadas. Universidade Estadual de Campinas. Limeira, ano. RESUMO O empreendedorismo é um dos principais fatores de mudanças econômicas, sociais e tecnológicas no mundo, e vem crescendo esporadicamente nos últimos anos. A importância de compreender a atividade empreendedora, bem como o perfil do empreendedor, é de suma importância para o desenvolvimento da sociedade. Neste sentido, o presente artigo apresenta o perfil do empreendedor brasileiro, utilizando como base o relatório do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) de 2015 e do IBPQ, cujos dados foram analisados desde o ano de 2007 até 2015. Os resultados apresentam uma análise descritiva dos indicadores de empreendedorismo do GEM quanto à taxa de empreendedores novos e taxa de empreendedores nascentes, taxa de empreendedorismo segundo os estágios do empreendedor (inicial e estabelecido), empreendedores iniciais segundo sua motivação (por oportunidade e por necessidade), empreendedores segundo gênero, faixa etária, área de atuação entre outros. O estudo permite concluir que o Brasil tende a apresentar um crescimento significativo em relação ao empreendedorismo, avanço da contribuição do sexo feminino na economia e aumento de empreendedores por oportunidade. Palavras-chave: Empreendedorismo. GEM. Perfil do empreendedor. 3 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS GEM Global Entrepreneurship Monitor GEDI Global Entrepreneurship and Development Index SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas TEA Taxa de Empreendedores em Estágio Inicial TTE Taxa Total de Empreendedorismo TEE Taxa de Empreendedor Estabelecido IBQP Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade APS Pesquisa com a População Adulta NES Pesquisa com Especialistas IDO Oportunidade de melhoria 4 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 5 1.1 Tema ....................................................................................................................................... 5 1.2 Objetivos Gerais ................................................................................................................... 5 1.3 Objetivos Específicos ........................................................................................................... 6 1.4 Justificativa ............................................................................................................................ 6 1.5 Escolha do GEM ................................................................................................................... 7 2 EMPREENDEDORISMO ............................................................................................................ 9 3 GEM .............................................................................................................................................. 11 3.1 Perspectiva Global ............................................................................................................. 11 3.2 Empreendedorismo por nível economico ....................................................................... 13 4 METODOLOGIA ......................................................................................................................... 16 4.1 Para construção do GEM .................................................................................................. 16 5 ANALISE DO ECOSSISTEMA EMPREENDEDOR BRASILEIRO ..................................... 19 5.1 Iniciando uma atividade empresarial ............................................................................... 21 5.2 Características dos empreendedores ............................................................................. 21 5.3 Inovação nos negócios iniciais ......................................................................................... 25 6 BRASIL X EFFICIENCY-DRIVEN ............................................................................................ 28 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 31 8 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................... 33 5 1 INTRODUÇÃO O termo "empreendedor" (derivado da palavra francesa entrepreneur) foi usado pela primeira vez em 1725 pelo economista Richard Cantillon, que o definia como um indivíduo que assume riscos (Chiavenato, 2012). A partir daí, surgiram outros autores com outras definições sobre empreendedorismo, tornando seu conceito muito subjetivo. Assim como são inúmeros os conceitos de empreendedorismo, muitos são os estudos e pesquisas para identificar características, comportamentos, e atitudes do empreendedor. A dificuldade tem sido a ausência de uma definição de consenso, levando a discordâncias na conceituação do empreendedor (Souza et al. 2008). Todos estes fatores levaram um grupo de pesquisadores a organizar, em 1999, o projeto GEM, uma iniciativa conjunta do Babson College, nos Estados Unidos, e da London Business School, na Inglaterra, com o objetivo de medir a atividade empreendedora dos países e observar seu relacionamento com o crescimento econômico (Kelley et al. 2016). O Brasil participa deste esforço desde 2000. A pesquisa é conduzida pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP) e conta com o apoiotécnico e financeiro do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) (IBQP, 2015). 1.1 Tema Alguns trechos deste documento, por tratarem de conteúdos sobre empreendedorismo e aspectos metodológicos da pesquisa ou análises gerais do empreendedorismo global, são adaptações diretas do texto Global Entrepreneurship Monitor 2015/2016 – Executive Report, o relatório internacional do GEM. 1.2 Objetivos Gerais Ajudar a compreender um pouco mais sobre a atividade empreendedora, principalmente no Brasil, através dos relatórios do GEM e do IBQP. O melhor caminho é sempre o do conhecimento, quanto mais informação o empresário tiver, mais competitiva será sua empresa. 6 1.3 Objetivos Específicos Identificar o perfil do empreendedor brasileiro; Estruturar informações que possam servir de base para compreender a definição de empreendedorismo. 1.4 Justificativa A prática empreendedora tem sido cada vez mais vista como uma fonte de geração de empregos, riqueza e desenvolvimento, fazendo com que uma sociedade atrasada, avance progressivamente. E os países, principalmente os em desenvolvimento, como o Brasil, estão aprendendo a ver no empreendedorismo uma fonte de desenvolvimento e uma melhor oportunidade de mercado, pois essa ascensão do empreendedorismo vem paralelamente ao processo de privatização das grandes estatais e abertura do mercado interno para concorrência externa. Daí a grande importância de desenvolver empreendedores que ajudem o país no seu crescimento e gere possibilidade de trabalho, renda e maiores investimentos (SILVEIRA et. al. 2007). O empreendedorismo desempenha um papel importante, tanto para os países que venceram a recessão e voltaram a ter uma saúde econômica, quanto os que ainda tentam sair da enorme dívida e o baixo crescimento, pois ele traz oportunidades estratégicas para o crescimento, mesmo que em diferentes escalas. Iniciativas econômicas de empreendedores tendem a ser a chave para enfrentar os desafios de produtividade a longo prazo nos países ricos, enquanto os países de baixa renda lutam para encontrar a maneira mais produtiva para integrar suas populações que crescem rapidamente em suas economias. De acordo com Dornelas (2005), as chances de sucesso diminuem à medida que o candidato a empreendedor tem uma ideia brilhante dirigida a um mercado que ele conhece muito pouco e em um ramo de atividade no qual nunca atuou profissionalmente (BERNARDO et al. 2013). A partir daí, surge a necessidade de se fazer um benchmarking, visando atingir metas quantitativas ou mensuráveis a partir de dados coletados dos outros países que apresentam as melhores práticas de uma determinada atividade. E sua capacidade de quantificar pode ser usada para apoiar as atividades e as decisões gerenciais (VASCONCELOS et al. 2006). 7 1.5 Escolha do GEM O presente trabalho utilizou como base o relatório do GEM, pois ele pode ser considerado o maior estudo contínuo sobre empreendedorismo do mundo, com 17 anos de dados, mais de 100 países associados, 200.000 entrevistas por ano e mais de 500 especialistas em pesquisa sobre empreendedorismo (Kelley et al. 2016). A pesquisa do GEM pode ser considerada única, pois enquanto a maioria dos dados sobre empreendedorismo mede novas e pequenas empresas, o GEM estuda, em nível detalhado, o comportamento dos indivíduos com respeito à criação e gerenciamento de novos negócios. Os dados e informações gerados pela pesquisa enriquecem sobremaneira o conhecimento sobre a atividade empreendedora, além do que é encontrado nos dados oficiais dos países (IBQP, 2016). Outro grande relatório de empreendedorismo é do Global Entrepreneurship and Development Index (GEDI), que oferece uma visão detalhada sobre o caráter empreendedor das nações, fornecendo ferramentas para compreender os pontos fracos e fortes das economias dos países, tanto em nível individual, quanto em nível institucional. Sua base de dados é de cerca de três décadas de pesquisa, com mais de 130 países associados (Ács, Szerb & Autio, 2014). Apesar disso, seu primeiro relatório de empreendedorismo foi publicado somente em 2011, fazendo com que os dados comparativos do GEM fossem mais fáceis de trabalhar. Desde que foi criado, o GEM seguiu um certo padrão na publicação de suas pesquisas, enquanto o GEDI não, ele dividiu suas pesquisas em diversas publicações, como "Global Entrepreneurship Index", ou "2015 Female Entrepreneurship Index", ou "Santander Entrerprise Index", ou "Sample country snapshot...", entre outros. Outro fator que fez com que o GEM fosse escolhido foi a acessibilidade. Os antigos relatórios do GEDI são pagos, enquanto os do GEM estão todos disponíveis no site para download. Outro ponto favorável à escolha do GEM é a divisão por nível econômico dos países, divididos em três categorias, para facilitar a apresentação dos resultados: (i) economias baseadas na extração e comercialização de recursos naturais, doravante tratadas aqui como países factor-driven, acompanhando a nomenclatura reconhecida internacionalmente; (ii) economias orientadas para a eficiência e a produção industrial em escala, que se configuram como os principais motores de desenvolvimento, doravante denominados países efficiency-driven; (iii) economias 8 baseadas na inovação ou simplesmente innovation-driven (Schwab, 2009, apud MACHADO et al, 2010). Porém, o principal motivo para a escolha do GEM foi um maior foco no indivíduo empreendedor, mais do que o empreendimento em sim, além de captar os diferentes tipos de empreendedores (formais e informais), diferenciado dos outros estudos sobre empreendedorismo. 9 2 EMPREENDEDORISMO O empreendedorismo é um tema recente, no qual seus primeiros movimentos, diz Souza (2001), surgiram nos anos 1940, com a criação de disciplinas e pesquisas na Harvard Business School e, nos anos 1950, com a instituição da International Council for Small Business. Desde 1946, a Universidade de Harvard possui linha de pesquisa e estudos específicos sobre empreendedorismo, associando o termo muito mais a uma maneira de gerenciar do que a uma função econômica específica ou características de um indivíduo (Souza et. al. 2008). Porém, seu conceito ainda é muito subjuntivo, devido as diferentes concepções ainda não consolidadas sobre o assunto. Só no início do século XX, a palavra empreendedorismo foi utilizada pelo economista Joseph Schumpeter em 1950 como sendo, de forma resumida, uma pessoa com criatividade e capaz de fazer sucesso com inovações (SILVEIRA et. al. 2007). A partir daí, novos estudiosos deste tema começaram a introduzir conceitos sobre o empreendedorismo, como é o caso: de K. Knight (1967) e Peter Drucker (1970) e o conceito de risco; de Weick (1979) e da percepção de oportunidades; de McClelland (1972) e a "necessidade de realização"; de Carland et al. (1997) com a propensão a assumir riscos, a preferência pela inovação e pela criatividade, e a necessidade de realização (SOUZA et. al. 2008); e de muitos outros autores. Um pouco mais tarde, Schumpeter (1982) faz uma abordagem econômica vinculando empreendedorismo à inovação e ao desenvolvimento econômico e define, de um modo geral, como sendo a introdução de uma nova técnica, um novo produto, novas fontes de recursos ou, ainda, uma nova forma de organização industrial. Estando, assim, a essência do empreendedorismo na percepção e no aproveitamento das novas oportunidades no âmbito dos negócios, em uma nova maneira de combinar e utilizar os recursos. Para Schumpeter (1982), o sistema capitalista pode ser explicadopelas condições criadas pelo empreendedorismo, que proporcionam novas formas de organização industrial. O empreendedorismo, diz esse autor, pode ser a caricatura de uma sociedade, mas, é, também, o cenário institucional para o capitalismo, que, por sua vez proporciona o desenvolvimento de sua cultura (SOUZA et al. 2008). 10 No entanto, uma das maiores dificuldades encontradas para entender o papel do empreendedor no desenvolvimento de novos empreendimentos é a ausência de informações seguras sobre diferentes avaliações de seu comportamento. Além disso, cada definição de empreendedorismo está sob uma perspectiva ligeiramente distinta. Por exemplo, para o economista, um empreendedor é aquele que amplia valores; para um psicólogo, empreendedor é quem é impulsionada por inovação; para um homem de negócio, o empreendedor é interpretado ou como uma ameaça ou como um aliado. Ou seja, cada definição é um pouco restritiva, pois existe empreendedor em todas as áreas (Hisrich et al.,2009). Hoje está disseminado no país que o empreendedorismo é fundamental para a geração de riquezas, promovendo o crescimento econômico e aprimorando as condições de vida da população. É também um fator importantíssimo na geração de empregos e renda. (Greco et al. 2010) 11 3 GEM Para compreender um pouco mais sobre o GEM, esta parte do trabalho é dedicada a explicar brevemente alguns conceitos presentes no relatório, como a divisão da Perspectiva Global e a divisão dos países por nível econômico. 3.1 Perspectiva Global 1. Valores sociais sobre o empreendedorismo: Mostra como o empreendedorismo é visto em uma sociedade. 2. Auto-percepção sobre empreendedorismo: É medida de duas formas, através da percepção de oportunidade e da capacidade de percepção. A percepção de oportunidade avalia se o indivíduo enxerga as oportunidades em sua volta e se ele tem medo de fracassar. Já a capacidade de percepção avalia se o indivíduo acredita que é capaz de começar um negócio e se ele pretende fazê-lo dentro dos próximos três anos. 3. Fases/Tipos de atividade empresarial • TEA - Total de atividade empreendedora: é a proporção de pessoas com idade entre 18 e 64 anos envolvidas em atividades empreendedoras na condição de empreendedores de negócios nascentes ou empreendedores à frente de negócios novos, com menos de 42 meses de existência. • Negócios estabelecidos: analisa o nível da atividade de negócio em relação à criação de empresas. • Aumento da atividade empresarial e negócios estabelecidos • Descontinuidade • Atividade do funcionário empreendedor 4. Motivação para o início da atividade empresarial: São os motivos os quais os empresários de oportunidade de melhoria (IDO) buscam para melhorar sua situação financeira. Para avaliar a prevalência relativa dos empreendedores de oportunidade de melhoria em comparação com os que são motivados pela necessidade, GEM criou o Índice Motivacional. 5. Distribuição de gênero no início da atividade empresarial: 12 Diferença entre o homem e a mulher como empreendedores. É analisado, por exemplo, em quais ocasiões o homem e a mulher se tornam empreendedores; o motivo e a finalidade os quais eles se envolvem com o empreendedorismo; etc. 6. Distribuição de idade no início da atividade empresarial: O padrão geral de idade para o empreendedorismo mostra as maiores taxas de participação entre os 25 e 44 anos. Os chamados jovens empresários (25-34 anos), são aqueles que estão no início da sua carreira; os empresários adultos (35- 44 anos) são aqueles que já possuem uma certa experiência laboral. Há também jovens empreendedores entre 18 e 24 anos e empresários mais velhos com idade entre 45 e 54 anos, porém com taxas bem baixas. 7. Participação do setor industrial: Compara a participação industrial dos diversos países, ou seja, quais países operam mais nos setores agrícola, de mineração, de transportes, etc. Através da visão do desenvolvimento econômico, a participação industrial é dividida em dois grupos: o mercado varejista e atacadista, e as áreas de , informação e comunicação, financeiro, profissional, saúde, educação e outros serviços. 8. Criação de emprego: Existem dois tipos de empresários, os não-empregadores e os empregadores. São considerados não-empregadores aqueles empresários que não pretendem contratar ninguém nos próximos cinco anos. No entanto, as projeções representadas podem, em alguns caso, não condizer com a realidade. Alguns empresários podem ser mais otimista do que os outros, e suas previsões entusiastas podem estar longe da realidade eventual. Ao mesmo tempo, a fim de ter alguma chance de crescimento, os empresários devem ter a ambição de chegar para as suas aspirações. 9. Inovação: A inovação representa novidade para um mercado e dentro de uma indústria. GEM avalia, assim, os empresários que estão introduzindo produtos ou serviços que são novos para alguns ou todos os clientes, e que são oferecidos por poucos ou nenhum concorrente. 13 10. Internacionalização: A internacionalização mede a porcentagem de empresários que relatam que 25% ou mais de suas vendas vêm de fora de sua economia. 3.2 Empreendedorismo por nível economico Conforme citado anteriormente, o GEM divide os países analisados em 3 categorias através do nível econômico, pontuando os países da seguinte maneira: 1) factor-driven, 2) em transição para efficiency-driven, 3) efficiency-driven, 4) em transição para innovation-driven, e 5) innovation-driven. Empreendedorismo em países factor-driven. Os países com baixos níveis de desenvolvimento econômico (factor-driven countries) têm tipicamente um grande setor agrícola, que fornece subsistência para grande parte da população, que na sua maioria ainda vive no campo. Essa situação altera-se assim que a atividade industrial começa a se desenvolver, muitas vezes em torno da extração de recursos naturais. Com a indústria extrativista se desenvolvendo, ocorre crescimento econômico, levando a população excedente da agricultura a migrar em direção a setores industriais intensivos em mão de obra, que são muitas vezes localizados em regiões específicas. O resultado do excesso de oferta de mão de obra alimenta o empreendedorismo de subsistência (por necessidade) em aglomerações regionais, com os trabalhadores procurando criar oportunidades de autoemprego a fim de ganhar a vida. (Machado et al. 2010) Em 2015/16, os países participantes da pesquisa GEM enquadrados nessa categoria são: Botsuana, Burquina Faso, Camarões, Cazaquistão, Egito, Filipinas, Índia, Irã, Senegal e Vietnã. Empreendedorismo em países efficiency-driven Com o setor industrial se desenvolvendo mais, instituições começam a surgir para apoiar a industrialização e a busca de maior produtividade por meio de economias de escala. Normalmente, as políticas econômicas nacionais nessas economias emergentes moldam suas instituições econômicas e financeiras para favorecerem grandes empresas nacionais. Como o aumento da produtividade 14 econômica contribui para a formação do capital financeiro, nichos podem ser abertos nas cadeias de fornecimento de serviços industriais. Combinado com o fornecimento de capital financeiro do setor bancário, isso estimula oportunidades para o desenvolvimento de pequenas e micro empresas da indústria de transformação que atuam em pequena escala. (Machado et al. 2010) Em 2015/16, os países participantes da pesquisa GEM enquadrados nessa categoria são: África do Sul, Argentina, Barbados, Brasil, Bulgária, Chile, China, Colômbia, Croácia,Equador, Guatemala, Hungria, Indonésia, Líbano, Lituânia, Macedônia, Malásia, Marrocos, México, Panamá, Peru, Polônia, Romênia, Tailândia, Tunísia, Turquia e Uruguai. Empreendedorismo em economias baseadas na inovação – innovation-driven Quando uma economia amadurece e aumenta sua riqueza, pode-se esperar que a ênfase na atividade industrial mude gradualmente em direção a uma expansão em setores voltados às necessidades de uma população cada vez mais rica, provendo serviços normalmente esperados em uma sociedade de alta renda. O setor industrial evolui, gerando melhorias em termos de variedade e sofisticação da produção. Tal desenvolvimento está tipicamente associado ao aumento nas atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e à intensidade de conhecimento empregado nas atividades produtivas. Concomitantemente, ganham destaque instituições geradoras de conhecimento, tais como institutos de pesquisa, universidades, incubadoras de empresas, entre outros arranjos institucionais. Esse desenvolvimento abre o caminho para o desenvolvimento do empreendedorismo inovador baseado na oportunidade. Muitas vezes, as pequenas empresas inovadoras e empreendedoras desfrutam de uma vantagem em relação às grandes empresas: a capacidade de inovar permite-lhes funcionar como “agentes de destruição criativa”. À medida que as instituições econômicas e financeiras criadas durante a fase expansão da escala de produção da economia são capazes de acolher e apoiar a atividade empreendedora inovadora, baseada na oportunidade, podem emergir como importantes motores do crescimento econômico e da criação de riqueza. (Machado et al. 2010) Em 2015/16, os países participantes da pesquisa GEM enquadrados nessa categoria são: Alemanha, Austrália, Bélgica, Canadá, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, Grécia, Irlanda, Israel, Itália, Japão, 15 Luxemburgo, Noruega, Países Baixos, Porto Rico, Portugal, Reino Unido, República da Coreia, Suécia, Suíça e Taiwan. 16 4 METODOLOGIA Trata-se de um pesquisa descritiva, qualitativa com bases em análises quantitativas. Para a construção deste trabalho, analisou-se o relatório GEM de 2015/16 e como o foco era o Brasil, foram analisados os relatórios do IBQP e SEBRAE dos anos de 2007 para frente, obtendo assim um trabalho mais estruturado, visto que cada ano o relatório possui um tema e abordagem diferente, além da leitura de bibliografias acadêmicas e livros de empreendedorismo. A abordagem inicia com uma descrição sobre o empreendedorismo e uma breve introdução sobre o GEM. A partir daí, é contado brevemente como é construído o relatório GEM e no final, é abordado, de acordo com a estrutura do GEM um pouco sobre os resultados do Brasil. Gostaria de resaltar que para a construção do tópico 3.1, foi utilizado como fonte principalmente o relatório GEM de 2015/2016. 4.1 Para construção do GEM O relatório do GEM é divido em três partes: na primeira parte, chamada de perspectiva global, é discutido os resultados da pesquisa de 2015/16. Cada indicador é analisado pelo nível de desenvolvimento econômico, a região geográfica e pela economia individual (ver tópico 3.1). A segunda parte mostra os perfis dos países estudados, com informações sobre cada país, como bandeira, localização geográfica, população, PIB etc; os dados e valores obtidos com a pesquisa GEM; e sua posição em cada indicador no ranking em relação aos 62 países. Os dados são divididos em seis temas: 1) Auto percepção sobre o empreendedorismo, 2) Atividade, 3) Índice de motivação, 4) Igualdade de gênero, Impacto do empreendedorismo e 6) Valores sociais sobre o empreendedorismo. Esses temas são baseados na Perspectiva Global. E a parte três refere-se a tabela de dados, com todos os resultados dos países analisados em 2015/16 pelo GEM. Possui também um comparativo com todos os países de acordo com cada indicador, mostrando as posições no ranking, o nível econômico (avaliado de 1 a 5), os valores obtidos e uma média geral. Aqui, diferentemente da parte dois, que mostra somente os dados individuais de cada país, é possível ter uma maior visualidade de como cada país está em 17 relação ao mundo, já que é disponibilizado uma tabela com todos os países e valores. Além disso, as principais informações produzidas pelo GEM são organizadas em dois grupos. O primeiro refere-se ao comportamento, atitudes, atividades e aspirações da população com relação ao empreendedorismo, sendo os dados obtidos a partir da “Pesquisa com a População Adulta” (APS), que engloba 60 países. O segundo refere-se a avaliações sobre o ambiente para iniciar novos negócios no país, realizadas junto a profissionais dos vários setores da sociedade por meio da chamada “Pesquisa com Especialistas” (NES), que engloba 62 países (Kelley et al. 2016). A Pesquisa com a população adulta consiste em um levantamento domiciliar conduzido junto a uma amostra representativa de indivíduos da população de 18 a 64 anos do país. Os dados são coletados anualmente e os resultados obtidos fornecem, principalmente, as informações quantitativas sobre a parcela da população envolvida com o empreendedorismo no ano da coleta (IBQP, 2014). Os empreendedores são classificados de duas formas: iniciais (nascentes e novos) e estabelecidos. Os empreendedores nascentes são aqueles que possuem um negócio próprio, mas que ainda não tiveram gastos com salário por mais de três meses. Diferentemente dos empreendedores novos, que tiveram gastos por mais de três e menos de 42 meses. Já os empreendedores estabelecidos administram e são proprietários de um negócio tido como consolidado, tiveram gastos com salário por mais de 42 meses (3,5 anos). Os resultados da pesquisa com a população adulta são representados na forma de taxas gerais e específicas, indicando o percentual da população que é considerada empreendedora. As taxas gerais são calculadas em relação ao total da amostra pesquisada formada por indivíduos adultos com idade entre 18 e 64 anos. As taxas específicas são calculadas em relação a subdivisões (estratos) da amostra total, definidos para avaliar principalmente variáveis sociodemográficas, como gênero, idade, escolaridade e outras. A Pesquisa com especialistas tem como objetivo identificar os fatores que auxiliam ou dificultam a atividade empreendedora no país, através de uma escala Likert, e é realizada por meio de entrevistas com pessoas escolhidas por seu perfil profissional. O especialista é alguém diretamente envolvido com algum aspecto 18 importante relacionado às condições que interferem na atividade empreendedora, com conhecimento ou experiência expressiva para opinar sobre condições que interferem na atividade empreendedora como finanças, políticas e programas governamentais, educação e treinamento, transferência de tecnologia, infraestrutura de suporte e sociedade e cultura em geral. Em 2015 foram entrevistados 74 especialistas no Brasil (IBQP, 2015). 19 5 ANALISE DO ECOSSISTEMA EMPREENDEDOR BRASILEIRO No Brasil, o empreendedorismo ganhou forças e se popularizou a partir da década de 90 com a abertura da economia, que propiciou a criação de diversas entidades voltadas para o tema, o processo de privatização das grandes estatais e a abertura do mercado interno para concorrência externa. Antes disso, o termo empreendedor era praticamente desconhecido e a criação de pequenas empresas era limitada em função do ambiente político e econômico, nada favorável ao país (Greco et al. 2010). De acordo com os dados da pesquisa do IBQP de 2015, ataxa total de empreendedorismo (TTE) foi de 39,3%, ou seja, cerca de 52 milhões de brasileiros com idade entre 18 e 64 anos estavam envolvidos com atividades empreendedoras. Ou seja, a crise econômica mundial não abalou o empreendedorismo no Brasil; a Taxa de empreendedores em estágio inicial (TEA) foi a mais alta desde o início da realização da pesquisa no país, conforme o Gráfico 1. Gráfico 1 - Evolução das taxas de empreendedorismo segundo estágio do empreendimento TEA, TEE, TTE - Brasil 2002-2015 Fonte: GEM Brasil 2015 A TEA brasileira foi de 21%, o que significa que a cada 100 brasileiros, 21 realizavam alguma atividade empreendedora até o momento da pesquisa, o que coloca o país entre os dez mais empreendedores. Em relação ao TEA de 2014, houve um aumento de 4 pontos. A taxa de empreendedores estabelecidos (TEE) foi de 18,9%, aumentando bem pouco se compararmos com o ano de 2014 (17,5%), exercendo pouca influência no aumento do TTE, diferentemente do TEA. 20 Em geral, os brasileiros são favoráveis à atividade empreendedora e têm uma visão positiva a respeito dos indivíduos envolvidos com negócios próprios. Isso pode ser constatado pelo fato de que, em 2015, 77,7% dos brasileiros concordam que abrir um negócio é uma opção desejável de carreira, valorizam o sucesso dos empreendedores e acompanham na mídia histórias sobre empreendedores bem sucedidos. Ter o próprio negócio continua figurando entre os principais sonhos dos brasileiros, sendo que a proporção observada em 2015 (34%) foi superior à de 2014 (31%) (IBQP, 2015). Apesar disso, apenas 24,4% dos brasileiros têm realmente intenções empresariais, pois muitos ainda têm um certo receio em abrir um negócio, e muitas vezes o medo de empreender e de fracassar é capaz de impedir que os indivíduos queiram transformar as oportunidades percebidas em negócios. O Brasil ficou em nono lugar no ranking de "Medo de fracasso", com 44,7%, e a percepção de oportunidade caiu de 61% em 2014, para 42,4% em 2015. No entanto, podemos destacar aqueles que começam um negócio e transformam o risco de fracasso em oportunidade, levando o Brasil ao quarto lugar em relação á taxa de propriedade estabelecida, com 18,9%. Há, também, aqueles que começaram seu negócio e acabaram desistindo, porém somam apenas 6,7% do total. De acordo com o gráfico 2, nota-se que uma grande parte da interrupção do negócio é por falta de retorno lucrativo, o que faz sentido, já que a maior parte dos indivíduos que começam uma atividade empreendedora normalmente buscam manter ou aumentar sua renda pessoal. Em seguida, vem os motivos pessoais, que podem ser falta de tempo para se dedicar ao negócio, por não ter se adaptado com o negócio ou o segmento escolhido, por não ser aquilo que esperava, discordância com o(s) sócio(s), etc. E o terceiro motivo mais citado como desistência são os problemas com as finanças. A burocracia, que antigamente era um dos principais motivos para a saída dos negócios, hoje é apenas 1,2%. Isso se deve, principalmente ao desenvolvimento da economia, e ações do governo para diminuir as empresas não registradas e as atividades informais. 21 Gráfico 2 - Motivos para saída dos negócios. Fonte: GEM 2015/16 5.1 Iniciando uma atividade empresarial Há dois principais motivos para se iniciar uma atividade empresarial, por necessidade ou por oportunidade. Segundo conceitos que vem sendo adotados na pesquisa, os empreendedores por necessidade são aqueles que iniciam um empreendimento autônomo por não possuírem melhores opções de ocupação, abrindo um negócio a fim de gerar renda para si e suas famílias. Já os empreendedores por oportunidade são os que identificaram uma chance de negócio e decidiram empreender, mesmo possuindo alternativas de emprego e renda (Matos et al. 2013). O Brasil possui uma maioria de empreendedores que encontra oportunidades de negócio antes de iniciar um empreendimento, chegando a quase 57% do TEA. Os outros 43% são aqueles que entram em algum negócio por necessidade. 5.2 Características dos empreendedores Entre os empreendedores iniciais a proporção de homens e mulheres é praticamente a mesma, 51% e 49% respectivamente. Essa proximidade se deve fatores que vão desde o maior nível de escolaridade em relação aos homens até as mudanças na estrutura familiar. Hoje, as famílias possuem menor número de filhos e novos valores relativos á inserção da mulher na sociedade brasileira (Greco et al. 22 2010). Já entre os empreendedores estabelecidos, os homens são em maior número do que as mulheres. São 56% e 44% respectivamente. Os homens que iniciam um negócio, o fazem por oportunidade em quase 70% das vezes, enquanto a mulher inicia um negócio por necessidade (54%), pois ela tem uma maior necessidade em econtrar maneiras de ganhar dinheiro extra para complementar a renda familiar e pagar as necessidades como escola, roupas e comida para alimentar a família. Gráfico 3 - Motivos para iniciar um negócio - Homem e Mulher Fonte: GEM 2015/16 Com relação a idade, a maioria dos empreendedores iniciais possui entre 18 a 34 anos, representando 52%, diferentemente dos estabelecidos, que possui maioria entre 45 a 64 anos, representando 50%. Podemos observar de acordo com a Tabela 2, que um é praticamente o inverso do outro; enquanto os empreendedores iniciais são compostos por indivíduos mais jovens, os empreendedores estabelecidos são compostos por pessoas mais maduras. Se traçarmos um perfil básico que mais se adéqua ao empreendedor inicial, poderíamos dizer que possui entre 25 a 34 anos, segundo grau completo e com renda familiar entre 6 a 9 salários mínimos. O que é bem diferente do perfil básico do empreendedor estabelecido, que seria homem, de 45 a 54 anos, com primeiro grau incompleto, com renda familiar entre 3 a 6 salários mínimos. 23 Tabela 1 - Distribuição percentual dos empreendedores segundo características sociodemográficas - Brasil - 2015. Fonte: GEM Brasil 2015 O perfil da maioria dos empreendedores iniciais ainda se concentra nas atividades relacionadas aos serviços prestados aos consumidores. A maioria dos serviços prestados nessa categoria está relacionada à comercialização de alimentos e roupas. Esse tipo de atividade em 2015 chegou a quase 40% dos negócios. 24 Atividades relacionadas a saúde, educação, governo e serviços sociais englobam 22,5%, conforme gráfico 4. Gráfico 4 - Distribuição Industrial do TEA Fonte: GEM 2015/16. Apesar de não estarem relacionadas às atividades mais produtivas desse setor (que seriam aquelas relacionadas à informática e às telecomunicações), essas atividades utilizam, na sua maioria, ferramentas computacionais, como site próprio, vendas através de páginas em redes sociais etc., que agilizam sobremaneira o processo e geram maior produtividade. De acordo com a pesquisa de 2015, mais da metade dos empreendedores (57%) não espera criar empregos dentre os próximos cinco anos, e no caso daqueles que esperam gerar novas oportunidades de trabalho a maioria se concentra na faixa de um a cinco empregos, conforme gráfico 5. 25 Gráfico 5 - Expectativa de criação de emprego do TEA. Fonte: GEM 2015/16. 5.3 Inovação nos negócios iniciais O Brasil, em 2015, ficou em 40º entre os 60 países analisados em relação a inovação, onde apenas 19,7% consideram que o produto é novo para todos ou para alguns consumidores. Uma das hipóteses para explicar uma baixa posição do Brasil no ranking internacional, emtermos de conhecimento do produto por parte do consumidor, é o elevado índice de empreendedores por necessidade. Esse tipo de empreendedor normalmente desenvolve suas atividades produzindo bens já existentes no mercado, com baixos índices de inovação. Durante décadas, o setor produtivo brasileiro foi altamente protegido, criando uma cultura pouco inovadora no empreendedor brasileiro. Outros fatores que criam obstáculos à geração de inovação são a fragilidade do sistema brasileiro de apoio à inovação, a falta de educação empresarial no período escolar, as políticas governamentais, como taxas e burocracias, entre outros, conforme gráfico 5, onde 1 é muito insuficiente e 9 é muito suficiente. Além disso, ao iniciar suas atividades sem conhecer as condições de mercado e as possibilidades de sucesso do seu negócio, o empreendedor é mais um imitador do que um inovador, e dessa forma mina suas economias e sonhos em atividades pouco inovadoras e com raras possibilidades de sustentabilidade no mercado. 26 Gráfico 6 - Condições estruturais do empreendedorismo brasileiro Fonte: GEM 2015/16 O surgimento das incubadoras no Brasil ainda é muito recente. Embora as incubadoras tenham apresentado uma rápida expansão nos últimos anos, ainda dispõem de capacidade de apoio a empresas de base tecnológica muito aquém das necessidades de um país com as dimensões geográficas e com as sérias fragilidades sociais e econômicas do Brasil. Outro parâmetro utilizado pelo GEM para medir a inovação dos empreendimentos é o grau de concorrência a que os negócios enfrentam, ou seja, o número de empresas operando no mesmo ambiente do empreendimento, oferecendo produtos ou serviços similares. A maior parte dos empreendedores afirmaram enfrentar muita concorrência em seus negócios (entre 60 a 80%). Menos de 10% afirmaram não haver concorrentes. Os empreendedores brasileiros enfrentam maior concorrência que muitos dos países analisados na pesquisa, como podemos ver se acordo com a posição no ranking global; o Brasil ficou em 75º de 140. Em relação a internacionalidade, a maioria dos empreendedores iniciais não espera exportar (entre 80 a 95%), e, para aqueles com expectativas de comercializarem seus produtos ou serviços no mercado internacional, menos de 27 18% esperam ter até 25% de seus consumidores estrangeiros e menos de 1% espera ter entre 25 a 75% de seus consumidores vivendo fora do país (nenhum empreendedor brasileiro em 2015 possuía mais de 75% de consumidores no exterior). 28 6 BRASIL X EFFICIENCY-DRIVEN De acordo com o GEM, o Brasil encontra-se no grupo chamado de efficiency- driven, porém em transição para o grupo de inovação. E quando comparado ao grupo, o Brasil ocupa a 6ª posição, juntamente com Barbados e México, ficando abaixo do Peru, com 22,2%, da Colômbia, com 22,7%, do Chile, com 25,9%, do Líbano, com 30,1% e do Equador , com 33,6%. O que demonstra que os países da América Latina e Caribe tendem a ocupar altas posições em relação a taxa de empreendedorismo. A média da TEA nos países movidos à eficiência ficou em torno de 15%, ou seja, o Brasil possui seis empreendedores, a cada cem, a mais que os países do grupo. Em média, dois terços da população adulta dos país do efficiency-driven acreditam que o empreendedorismo é uma boa opção de carreira, o que mostra que o empreendedorismo aqui no Brasil é mais bem visto que em relação ao grupo (78%). Além disso, a média de propriedades brasileiras estabelecidas é maior que os outros países do grupo, que possui média de 8%. Em relação à desistência, os números são parecidos, 6,7% contra 5% no grupo, e o principal motivo também é a falta de lucros ou finanças, porém chegando a metade ou mais das saídas. Assim como o Brasil, o grupo possui maioria de empreendedores por oportunidades, porém os números são relativamente maiores. Enquanto um pouco mais que a metade dos brasileiros começam um negócio por oportunidade em vez de necessidade, o grupo atingiu quase 70% do TEA. Os outros 30% são aqueles que começam seu negócio por necessidade. E dentre os iniciantes, cerca de metade ou mais dos empreendedores escolhem o atacado e o varejo também. A expectativa de criação de emprego do grupo é bem diferente da brasileira. Enquanto mais da metade dos empreendedores brasileiros não pretendem criar empregos dentro de um período de cinco anos, apenas 39% do efficiency-driven não tem a intenção de empregar pessoas. E a maior diferença é em relação à contratação de seis ou mais empregados, onde no Brasil, apenas 6,8% desejam atingir esse numero de funcionários, contra 21% do grupo. As maiores taxas de empreendedores de crescimento de médio a alto podem ser encontradas em economias da América Latina e do Caribe (Colômbia e Chile). 29 De acordo com o GEM, o nível médio de inovação do grupo foi de 24%. Os níveis médios de inovação aumentam com o nível de desenvolvimento, e dentro das economias individuais, os níveis mais altos pode ser visto no Chile, onde mais da metade dos empresários têm produtos ou serviços inovadores. O nível de internacionalização ficou em 13% no grupo, um nível menor que o brasileiro, que chega a atingir cerca de 19%. Ou seja, os países desse grupo não anseiam ter muitos consumidores que não sejam nacionais. O Chile, que também pertence ao grupo, possui o maior índice de inovação em comparação com todos os países analisados, com 14,1% e sua TEA é cerca de 26%, ficando em 6º lugar no ranking total. E se compararmos ele com o Brasil e até mesmo com a média do grupo de eficiência, podemos notar uma relativa diferença nos índices de empreendedorismo, conforme o gráfico abaixo. Gráfico 7 - Condições estruturais do empreendedorismo comparando o grupo efficiency-driven com o Brasil e o Chile. Fonte: GEM 2015/16. O Brasil possui valores bem próximos à média do grupo, porém o Chile ultrapassa quase todos os pilares do grupo, com exceção das finanças empresariais, dinâmicas de mercado interno, educação empresarial no período escolar e finanças 30 empresarias. O Chile vem reformando o ambiente regulamentar para facilitar o registro de novas empresas e para que elas operem com redução de custos e diminuindo a quantidade de regulamentações (Kelley et al. 2016). 31 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS A finalidade deste trabalho foi apresentar dados e informações básicas sobre o GEM e sobre o empreendedorismo no Brasil. Como o tema empreendedorismo é um tanto quanto vago ainda, conforme dito anteriormente, a visão que foi seguida foi do próprio relatório GEM de 2015/2016. Ou seja, o empreendedorismo consiste em qualquer tentativa de criação de um novo empreendimento, como, por exemplo, uma atividade autônoma, uma nova empresa ou a expansão de um empreendimento existente. No Brasil, o envolvimento com o empreendedorismo se dá por oportunidade, apesar das taxas de desemprego só aumentarem nesses últimos anos, e somente as mulheres que iniciam um novo negócio, começam por necessidade. Independente dos motivos de entrada nos negócios, os homens são levemente mais empreendedores que as mulheres; diferença de 6%. Há uma tendência indicando que as mulheres buscam alternativa de empreendimentos para complementar a renda familiar, além do que nos últimos anos elas vêm assumindo cada vez mais o sustento do lar como chefe da família, ampliando a participação na economia do país (Greco et al. 2010). A maioria dos empreendedores possuem entre 25 a 54 anos, ganham até 3 salários mínimos, não chegaram a cursar ou terminar o ensino superiro, possuindo somente osegundo grau completo, são casados. Esse conjunto de características define o perfil do empreendedor brasileiro, que busca uma maneira de ganhar dinheiro, para sustentar sua família, ou complementar com a renda familiar. Segundo a pesquisa feita pelo IBQP de 2015, a criatividade e a resiliência são citadas como características dos brasileiros que favorecem o empreendedorismo, mesmo em uma conjuntura marcada pela incerteza. Na opinião dos especialistas, há no Brasil amplo acesso a informação sobre negócios e empreendedorismo. Há conteúdo de qualidade gratuito disponível na internet, além de variados eventos e organizações de fomento e apoio ao empreendedorismo, o que tem contribuído para a disseminação do conhecimento, favorecendo a minimização de riscos do negócio. Por outro lado, políticas governamentais (54%), educação e capacitação (49%) e apoio financeiro (28%) são as condições proporcionalmente mais citadas como limitantes à atividade empreendedora. Sem contar com o medo de fracasso (45%), o que impede que aquele individuo que gostaria de começar um negócio, não o faz. Como vimos anteriormente, onde 78% dos brasileiros acreditam que o 32 empreendedorismo é um bom negócio, porém somente 24% têm a intenção de seguir em frente. Outro ponto que podemos destacar são os empresários que estão iniciando agora, além de serem mais jovens, possuem maior conhecimento, e maiores aspirações financeiras. Isso é bom, pois os empreendedores estão mais preparados para desenvolverem negócios, principalmente por oportunidade, e não por necessidade, gerando empresas mais eficientes e produtivas, com mais tecnologia. E em relação ao grupo que o Brasil pertence, o efficiency-driven, pode-se notar que o país está bem próximo aos resultados do grupo, porém com diversas oportunidades de melhoria, principalmente em relação à infraestrutura física. Porém, os brasileiros estão evoluindo cada vez mais no universo do empreendedorismo, à caminho de entrar para o grupo movido à inovação. 33 BIBLIOGRAFIA ÁCS, Zoltán et.al. Global Entrepreneurship & Development Index 2014. 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