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1 INTRODUÇÃO AO AGRONEGÓCIO Coodenador – Prof. Dr. Pedro Valentim Marques - Autores: Daniel Henrique Dario Capitani Daniel Y. Sonoda Jerônimo Alves dos Santos Pedro Valentim Marques PECEGE/ESALQ/USP 2011 2 1. INTRODUÇÃO AO AGRONEGÓCIO Jerônimo Alves dos Santos, Pedro Valentim Marques A agropecuária consiste em retirar o máximo de rendimento da planta/animal nas condições ideais de clima e solo, é a forma como o homem influencia o meio natural com manejo e técnicas para melhor desempenho e adaptação das culturas ao meio natural (DIEHL, 1989). Ela deve ser encarada como um fenômeno social que tem de se adaptar às condições ecológicas e sociais, tem como fundamento principal o domínio da diversidade, seja no enquadramento paisagístico, nos solos, no clima, no comportamento dos homens, no papel da agropecuária na economia global, na tecnologia disponível, no equipamento utilizado e no grau de utilização do potencial produtivo dos terrenos (BARROS, 1975). Em grande parte da existência do homem, a agropecuária foi encarada como uma atividade de subsistência com objetivo primário para a produção de alimentos. Recentemente foi introduzido a ideia da agropecuária como atividade econômica, ou seja, produção com lucro, dessa forma, houve uma acentuada mudança no seu propósito e aumento na dependência das energias fósseis para incrementar a produtividade, isso trouxe conseqüências como a poluição dos solos, das águas e dos alimentos e a problemática dos excedentes (MAZOYER e ROUDART , 2001).. No entanto, a sociedade começa a tender para uma agricultura como uma atividade ecológica, orientada para a produção de bem-estar. Ou seja, além de ser encarado como um produtor de alimentos e matérias-primas pode ser reconhecido como produtor de bens não transacionáveis e na defesa do ambiente, dos recursos naturais, na gestão do espaço rural e a preservação da paisagem (MAZOYER e ROUDART , 2001; ALMEIDA, 2004). 1.1 Evolução da agropecuária Caso o homem deixasse de utilizar os ecossistemas, esses tenderiam depressa ao estado da natureza quando o homem começou a utilizá-lo. No entanto 90% da 3 população deixariam de existir, pois a forma simples de alimentação (caça, pesca e colheita) não permitiria o sustento de mais de meio bilhão de homens. A única alternativa seria continuar cultivando o planeta, multiplicando plantas e animais. Dentre as milhares de espécies que evoluíram em mais de 3,5 bilhões de anos, o Homo sapiens sapiens, é uma das espécie mais recente, com cerca de 50 a 20 mil anos datados, há 10 mil anos pratica a agricultura e criação de gado (MAZOYER e ROUDART , 2001). Há cerca de 12.000 AC observam-se os primeiros indícios de atividade humana sobre espécies de vegetais e animais, e o desenvolvimento de comunidades que se mantiveram por esse tipo de atividade. Teve o seu início há cerca de 10 a 12 mil anos na região situada entre os rios Nilo, Tigre e Eufrates. O cultivo das plantas e da domesticação dos animais foi transmitido para Europa do oriente para o ocidente e chegado à Península Ibérica há cerca de quatro mil anos (ALMEIDA, 2004). A Agricultura moderna teve seu início nos séculos XVII e XIX na Europa, as mudanças tecnológicas, sociais e econômicas tiveram um importante papel na transição do feudalismo para o capitalismo. A nova configuração do conjunto das civilizações germânicas e romanas aproximou novas práticas agrícola com pecuária, o que tornaram essas atividades cada vez mais complementares. Nessa nova fase da humanidade houve umas das mais importantes transformações de bem estar com o fim da escassez de alimentos (VEIGA, 1991; MAZOYER e ROUDART , 2001). Na Europa a agricultura européia manteve-se praticamente estável até ao século XVIII. Com o pousio, alimentação baseada em hidratos de carbono e com produção de ovinos e caprinos. Esse processo iniciou-se na Holanda no século XVII e na Inglaterra no século XVIII com profundas alterações nas técnicas da produção agrícola (ALMEIDA, 2004). Com o crescimento populacional e a queda da fertilidade dos solos na Europa, teve-se como conseqüência a escassez de alimentos. Dessa forma, por volta dos séculos XVII e XIX, houve uma intensa adoção de sistemas de rotação de culturas com plantas forrageiras com integração da pecuária e agricultura. Esta fase é conhecida como “Primeira Revolução Agrícola” (MAZOYER e ROUDART , 2001; MONTOYA et al., 2002; PLANETA ORGANICO, 2010). 4 Entre os séculos XVI ao XIX, a primeira revolução agrícola baseada na substituição dos pousios pelas pradarias artificiais e no aumento do gado, teve como conseqüência o aumento da produtividade nos países temperados, além de ter nesse cenário o desenvolvimento da primeira revolução industrial. Com esse conjunto de transformação, no final do século XIX e no início do século XX a indústria contribuiu para a dinamização da agricultura, com produção de novos meios de transportes (caminhos de ferro, barcos a vapor) e novos materiais mecânicos de tração animal (semeadores, máquinas ceifeiras, ceifeiras-enfardadeiras) o que levou a agricultura à primeira crise de sobreprodução agrícola dos anos 1890 (MAZOYER e ROUDART , 2001). Com o aumento da produtividade, tiveram-se maiores disponibilidade de rendimento para a indústria têxtil, primeiramente lã e depois do algodão. Esse incremento de produtividade foi possível, com a mobilização do solo que exigia aperfeiçoamento nos aparelhos de aração (MAZOYER e ROUDART , 2001; ALMEIDA, 2004). Do final do século XIX ao início do século XX, os problemas de escassez crônica de alimentos na Europa ficaram mais graves, com intuito de resolver o problema de escassez, teve-se um amplo desenvolvimento científico e tecnológico, como os fertilizantes químicos, o melhoramento genético e as máquinas de motores à combustão. A partir do momento que a indústria passou a produzir e ser estrutura de base para certos insumos agrícolas houve rompimento com a prática de rotação de culturas e menor integração animal e vegetal. Com estas inovações houve substanciais rendimentos das culturas. Essas descobertas levaram a uma especialização dos agricultores, observou-se uma nova fase nos sistemas agropecuários, “Segunda Revolução Agrícola”, passa se então a ser chamada de Agricultura Industrial, Agricultura Convencional ou Agricultura Química (MAZOYER e ROUDART , 2001; MONTOYA et al., 2002; PLANETA ORGANICO, 2010). Essa revolução agrícola durante o século XX teve como principal característica a mecanização, os novos meios de produção agrícola (motores de explosão, elétricos, tratores e engenhos) grande mecanização, adubos minerais e produtos de tratamento, com novas variedades de plantas e de raças de animais adaptados ao meio de produção 5 industrial. A motorização dos transportes por meio de caminhões, caminhos de ferro, barcos e aviões tirou o isolamento de determinadas regiões agrícolas e permitiu trazer insumos e escoar os produtos de regiões distantes (MAZOYER e ROUDART , 2001). A Revolução Agrícola e a evolução dos conhecimentos técnicos e dos transportes ferroviários e marítimos tanto influenciou a Revolução Industrial como a indústria e estimulou a modernização da agricultura. Essas contribuições conferiram à agricultura o estímulo do mercado, além disso, teve-se como de extrema importância o apoio de órgãos governamentais; empresas produtoras de insumos; dos incentivo de organizações mundiais como oBanco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e a Agência das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação(FAO) (PLANETA ORGANICO, 2010). A partir da década de 60 esse modelo de agricultura implicou em conceitos agressivos aos ecossistemas com o desflorestamento, diminuição da biodiversidade, erosão e perda da fertilidade dos solos, contaminação da água, dos animais silvestres e dos agricultores por agrotóxicos. Essas conseqüências passaram a ser decorrências quase inerentes à produção agrícola. Mesmo assim, houve avanço da agricultura convencional, particularmente nos países em desenvolvimento, com o agravamento dos danos ambientais (EHLERS, 1993). Mesmo com as grandes revoluções na agricultura, não são todos que têm acesso as novas tecnologias. Cerca de 80% dos agricultores da África, 40 a 60% da América Latina e da Ásia continuam a trabalhar com utensílios manuais, 15 a 30% destes, dispõem de tração animal. A agricultura moderna está muito longe de ter conquistado o mundo (MAZOYER E ROUDART , 2001). 1.2 História da agricultura no Brasil No Brasil, antes da sua “descoberta”, as sociedades indígenas alimentavam-se, de peixes e crustáceos, mandioca, cará, milho, amendoim, feijão, abóbora e bata-doce e praticavam a caça de pequenos animais. Esta agricultura era praticada de forma bem rudimentar, pois utilizava a técnica da coivara (derrubada de mata e queimada para 6 limpar o solo para o plantio). Os índios domesticavam animais de pequeno porte como, por exemplo, porco do mato e capivara (SZMRECSÁNYI, 1936). Os colonizadores europeus, desde o século XVI, iniciaram o extrativismo das vegetações e florestas brasileiras como o pau-brasil. De 1500 a 1822, todas as terras brasileiras pertenciam a coroa portuguesa, que as doava ou cedia seu direito de uso a pessoas de sua confiança ou conveniência, visando a ocupação do território e a exploração agrícola. Portugal controlou a posse da terra, através da criação das capitanias e das sesmarias, que atendiam as suas necessidades de obtenção de lucro a partir da exportação de produtos agrícolas cultivados no sistema de plantation (como a cana-de-açúcar seguida pela pecuária extensiva, passando pelos ciclos do ouro, para chegar à exploração do café), ou seja, em grandes propriedades com monoculturas, escravistas e cuja produção era voltada a exportação (REGO e MARQUES, 2005). A agricultura brasileira, enquanto colônia de Portugal, nunca chegou a se constituir como um setor econômico, confundindo com o extrativismo e com atividades de outra natureza. Só começou a ser considerado um setor econômico diferenciado a partir da independência política e na formação no seu interior de uma economia de mercado (SZMRECSÁNYI, 1936; REGO e MARQUES, 2005). As civilizações que aqui instauraram no período colonial, não foram civilizações agrícolas, pois eram mais voltados para colonizadores além de escassez de mão de obra e obstáculos ambientais para a agricultura. As lavouras tinham caráter nômade e extrativista. A grande propriedade fundiária, a monocultura de exportação e trabalho escravo foram os três componentes fundamentais da organização social do Brasil- colônia. Padrões diversos só podiam ser encontrados em atividades marginais e subsidiarias (pecuárias extensivas dos sertões ou pequenas culturas de subsistência). A economia colonial era dominada pelo sistema de grande lavoura. As técnicas de cultivo eram tão primitivas como no início da colonização. A pecuária se desenvolvia em áreas distante das lavouras, nada existia em relação a práticas agrícolas mais complexas, como irrigação e seleção de variedades, além do beneficiamento de produtos agrícolas serem precários e primitivos. Os motivos do atraso tecnológico na agricultura não podem ser atribuídos a escravidão, mas à má qualidade do empresariado rural, baixo 7 nível cultural e técnico dos produtores rurais (SZMRECSÁNYI, 1936; REGO e MARQUES, 2005). As culturas de subsistência acabaram se especializando na produção de poucos gêneros e destinados praticamente a consumo local (mandioca, milho e o arroz) e alguns produtos podiam ser exportados como o fumo e a aguardente. A maioria dessas culturas era desenvolvida dentro dos domínios das grandes lavouras (nos engenhos, fazendas – eram auto-suficientes para alimentar seus proprietários e escravos). Mas havia casos em que possuíam homens livres que usavam essas terras em troca de favores, esses eram destituídos de qualquer capacidade de barganha ou iniciativa, eram paupérrimos, viviam em condições um pouco melhor que os escravos. De um modo geral, as culturas de subsistência nunca deixaram de ser atividades secundárias e subsidiárias em relação as grandes lavouras escravistas de exportação. Da mesma forma que as grandes lavouras de exportações, as culturas de subsistência eram praticadas em moldes extensivos, nunca chegando a constituir atividades especializadas, intensivas e permanentes. Ao mesmo tempo em que politicamente autônomo, o Brasil reforçou sua condição primário-exportadora, mantendo por muitos anos tanto a grande lavoura como o escravismo no cerne da sua organização social (SZMRECSÁNYI, 1936; REGO e MARQUES, 2005). Os ciclos econômicos no Brasil eram diretamente relacionados com extrativismo e monoculturas. Começando com o pau-brasil sua fase mais intensa da exploração vai do período pré-colonial até meados do século XVI. A extração era feita ao longo do litoral, do Rio Grande do Norte até o Rio de Janeiro, em sistema de arrendamento através de contratos entre o Estado e companhias particulares, que pagavam um quinto da extração ao governo português. Em 1605 a Coroa portuguesa regulamenta a exploração editando o Regimento do Pau-Brasil. Mas como a exploração foi desordenada chegou-se a quase extinção do produto (REGO e MARQUES, 2005; COELHO e GRANZIERA, 2009) O ciclo da cana-de-açúcar promoveu a ocupação da faixa litorânea do Nordeste. A cana, originária do sudeste da Ásia, era plantada pelos portugueses na ilha da Madeira desde meados do século XV. Introduzida no Brasil em 1532, expandiu-se rapidamente, em especial em Pernambuco e na Bahia. Esse ciclo caracterizou-se pela grande 8 propriedade, auto-suficiência das fazendas e pela utilização quase exclusiva da mão-de- obra escrava (COELHO e GRANZIERA, 2009). O ciclo do ouro e dos diamantes no Brasil, começou pela descoberta dos bandeirantes no final do século XVII, deu origem a cidades como Ouro Preto, Mariana, Sabará e S. João Del Rei. Este ciclo foi caracterizado pela intensiva exploração, sem qualquer preocupação de sustentabilidade ou de desenvolvimento (REGO e MARQUES, 2005). O Ciclo do café refletiu-se na sua expansão geográfica. Difundiu-se pelo Vale do Paraíba, Sul de Minas, Espírito Santo, Campinas, Ribeirão Preto, Araraquara, norte do Paraná e Mato Grosso. Na década de 1820 o café ocupava o terceiro lugar (18%) na pauta das exportações do Brasil, atrás do açúcar e algodão, nas duas décadas seguintes passaria para o primeiro lugar (40%). Essa expansão deu origem a um novo ciclo de crescimento da economia primário-exportadora do país; isso fez deslocar o eixo da economia brasileira do Nordeste para o Sudeste e vincularam novos parceiros comerciais e financeiros em especial os EUA e criou bases para industrialização, um processo que acabaria levando a profundas mudanças. O café chegou a representar cerca de 70% das exportações brasileiras na década de 1920. Hoje, os principais produtores são Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Bahia (SZMRECSÁNYI, 1936; REGO e MARQUES, 2005).O cacau no Brasil começou a ser plantado ao invés de apenas coletado na floresta amazônica, com a decadência das plantações no Pará, devido o crescente interesse pela borracha, transferiu-se definitivamente para o sul da Bahia, os métodos do cultivo e beneficiamento dessa planta pouco mudaram. No sul da Bahia o cacau encontrou boas condições edafoclimáticas. Em 1783, a lavoura cacaueira já era importante na região de Ilhéus. A produção na Bahia firmou-se no século XIX, tornando-se um fator importante para o desenvolvimento regional e originando uma importante fase econômica denominado de ciclo do cacau (REGO e MARQUES, 2005). Entre a época da mineração e o advento do café, do final do século XVIII a meados de 1830, passada a euforia inicial da extração do ouro, começou a surgir áreas de agricultura e pecuária ao longo dos caminhos para os depósitos auríferos. Essas atividades passam a ser lucrativas por causa do crescimento demográfico. Algodão, 9 tabaco e cacau tornam-se os principais produtos agrícolas de exportação. Os maiores centros produtores de algodão surgem no Nordeste (Maranhão e Pernambuco), o tabaco funciona, ao longo do século XVII, como moeda de troca para aquisição de escravos nos mercados da costa africana (SZMRECSÁNYI, 1936; COELHO e GRANZIERA, 2009). Importantes progressos ocorreram em compensação na cultura algodoeira, com a introdução do algodão herbáceo e o início da sua produção em larga escala na província de São Paulo, teve um considerável impulso com a guerra civil dos EUA, na década de 1860, depois o algodão brasileiro perdeu acesso aos mercados externos devido a sua falta de competitividade, contudo com a sua repentina expansão ajudou a criar as bases para o surgimento de uma florescente indústria têxtil (SZMRECSÁNYI, 1936). As imigrações proporcionaram um grande avanço quantitativo e qualitativo para a agricultura brasileira, muito mais nas regiões afetadas por mudanças da escravidão para trabalhadores livres. Graças a esse novo regime expandiu outros cultivos e as mais diversas atividades agrícolas e não-agrícolas, foi a imigração que criou condições necessárias para o crescimento e a diversificação da economia (SZMRECSÁNYI, 1936). 2. AGRONEGÓCIO Dentro de qualquer país a atividade econômica é dividida em três setores, o primário, secundário e terciário. No setor primário encontram-se os produtos poucos processados, utilizam grande quantidade de trabalho e terra. No setor secundário encontram-se atividades que processam e/ou combinam produtos primários, nesse setor há grande uso do fator capital. No setor terciário define-se como o conjunto de atividades que prestam serviços, seja para ele mesmo ou para os outros setores da economia (BACHA, 2007). No entanto, a agricultura não pode ser abordada de maneira independente dos outros setores responsáveis por todas as atividades que garantam a produção, deve se considerar a atividade agrícola como parte de uma extensa rede de agentes econômicos que vai desde a produção de insumos, transformação industrial até armazenagem e distribuição de produtos agrícolas e derivados (BATALHA, 2001). 10 Como exemplo que diferencia os setores da economia e o agronegócio, tem-se o caso brasileiro. O Brasil sendo a oitava economia do mundo em 2009, com um Produto Interno Bruto – PIB de 1.572 bilhões de dólares, cerca de 2,7% do PIB mundial. Tem na economia uma grande participação do setor de serviços (setor terciário) com 68,53% do PIB, seguidos da indústria (setor secundário) com 25,40% e a agropecuária (setor primário) com 6,07%. No entanto ao se analisar o agronegócio, a sua participação ficou com 26,5% do PIB brasileiro (IBGE, 2010). Observa-se que nesses três setores existe uma intensa complementaridade entre eles. Dentro dessa forte relação surgem agrupamentos de novas atividades e subsetores que se confundem entre eles, através dessa inter-relação encontra-se o conceito de agronegócio. Esse conceito teve como ponto de partida pelos dos trabalhos de dois pesquisadores John David e Ray Goldberg da Universidade de Havard, eles criaram o conceito Agribusiness (agronegócio) como sendo a soma das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção nas unidades agrícolas, do armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles (BATALHA, 2001). Durante a década de 60 surge na escola francesa a noção de analyse de filière que traduzida fica sendo cadeia de produção, isso se aplica a seqüência de atividades que transformam uma commodity em um produto para o consumo final. No entanto, esse conceito pode ser definido de diversas maneiras, ficando um termo vago ((BATALHA, 2001; MONTOYA et al, 2002). Ambos os conceitos realizam cortes verticais no sistema econômico a partir de determinado produto final ou parte de uma matéria prima de base para estudar sua lógica e funcionamento, ou seja, ambos abandonam a velha divisão em três setores (agricultura, indústria e serviço). Parte da noção de que a agricultura deve ser vista dentro de um sistema mais amplo, utilizam a noção sucessão de etapas produtivas, desde a produção de insumos até o produto acabado, destacam os aspectos dinâmicos do sistema. As diferenças dos conceitos são relativas na importância dada ao consumidor final como agente dinamizador da cadeia (BATALHA, 2001). 11 Segundo Malassis (1969), a estrutura do agronegócio está dividida em três partes: parte anterior à produção rural ou montante do agronegócio; a produção rural e setores que recebem a produção dos produtores rurais ou jusante do agronegócio. O setor agropecuário como o restante das economias capitalistas, não tem função apenas de produzir, mas é preciso interagir com outros setores; com outros estabelecimentos agropecuários, intermediários comerciais ou industriais e para consumo final. As indústrias que compram ou recebe produtos agropecuários para transformá-los em produtos industrializados são denominadas em agroindústrias, fazem parte de vários ramos ou subsetores do setor industrial e juntamente com o setor agropecuário com as indústrias fornecedoras de insumos e equipamentos. Enquanto que os ramos dos produtores de insumos e equipamentos são definidos como indústria para a agricultura, os ramos propriamente agroindustriais constituem a chamada industria da agricultura (SZMRECSÁNYI, 1936; BACHA, 2007). O que é novo na agroindústria é também na produção industrial de insumos e equipamentos para a agricultura. Por industrialização da agricultura entende-se a adaptação dos processos produtivos da indústria de transformação aos processos produtivos do setor agropecuário. Foi no período de 1930 a 1970 que se completou a integração funcional dos setores agropecuários e industrial na economia brasileira. Como resultados dessa integração ambos tiveram desenvolvimento não apenas regional mais em níveis nacionais, diversificação da produção, crescimento agropecuário, maior migração rural-urbana, expansão da fronteira agrícola e aumento da produtividade (SZMRECSÁNYI, 1936). A partir dessa visão, é importante mensurar o agronegócio em 3 partes 1 (setores do agronegócio) para sua análise evolutiva . No entanto, ao se analisar o que significa fazer ou não parte do agronegócio dentro do setor industrial e comercial, observa-se limitações metodológicas para determinar a dimensão econômica desse conceito. Existem alguns trabalhos que abordam de diferentes formas esse conceito, ou seja, alguns trabalhos definem uma indústria e comercialização como parte do agronegócio se existe uma considerável participação do produto rural novalor total dos insumos utilizados na transformação; outros conceitos apresentam como à natureza do 1 Esses setores são: a indústria para a agricultura; agropecuária; e agroindústria-comercialização 12 processamento da matéria-prima oriunda do setor rural e, outros consideram a capacidade de investimento, inovação tecnológica, níveis de concentração de mercados e os impactos sobre o setor (MONTOYA e GUILHOTO, 2000). Segundo Furtuoso e Guilhoto (2000), cerca de 70% da produção agropecuária são utilizados em outros setores da economia, sendo que agroindústria e comercialização absorve, aproximadamente, 72% desse total. Esses são os segmentos que mais crescem no agronegócio, enquanto que a participação relativa da agropecuária e indústria para a agricultura tende a diminuir. O resultado é que o segmento de agroindústria e a comercialização são os que mais concentram renda no agronegócio. 2.1 Sistema agroindústrial (SAI) Segundo Batalha (2001), pode ser considerado o conjunto de atividades que concorrem para a produção de produtos agroindustriais, desde a produção de insumos (sementes, adubos, máquinas agrícolas etc.) até a chegada do produto final (queijo, biscoito, massa etc.) ao consumidor. Aproxima-se bastante do termo agronegócio 2 , pode ser visto como composição de seis conjuntos de atores (1) agricultura, pecuária e pesca; (2) indústrias agroalimentares; (3) distribuição agrícola e alimentar; (4) comércio internacional; (5) consumidor e (6) indústria e serviço de apoio. Na figura 1, encontra-se um exemplo de um SAI do agronegócio brasileiro do milho, observa-se todos os setores interagindo entre si, começando com “Fornecedores de Insumos, Máquinas e Equipamentos” até o segmento mais próximo do consumidor final “Distribuição e Varejo Nacional e Internacional” 2 São definições muito próximas, o que diferencia são os aspectos dinâmicos associados ao agronegócio 13 Figura 1 - Sistema Agroindustrial do Milho no Brasil Fonte: Adaptado de SOUZA et al.(1998). 2.2 Complexo agroindústrial Denomina-se complexo agroindustrial 3 (CAI) ou agribusiness (agronegócio) o conjunto de atividades realizadas pela agropecuária e pelos setores diretamente a ela vinculados. Apresenta uma visão sistêmica da economia, como segmentos que fornecem insumos à agropecuária e segmentos que trabalham com a transformação industrial e distribuição dos produtos in natura ou transformados (BACHA, 2007). Dessa forma, tem como ponto de partida determinada matéria-prima de base (complexo de soja, complexo cana-de-açúcar, complexo café etc.), ou seja, é ditada pela matéria-prima que originou os diferentes processos industriais e comerciais que ela pode sofrer até se transformar em diferentes produtos finais. Portanto, formação de um complexo agroindustrial exige a participação de um conjunto de cadeias de produção, 3 Complexo agroindustrial pode se considerado como a definição limitada do agronegócio para determinada cultura; ex: “ Agronegócio da soja”. 14 cada uma delas associadas a um produto ou família de produtos (BATALHA, 2001). Na figura 2 observa-se um exemplo de complexo agroindustrial no Brasil. Figura 2 – Complexo Agroindustrial Citrícola Brasileiro Fonte: Adaptado de Paulilo (1999). 2.3 Cadeia de produção agroindustrial As complexas cadeias dos agronegócios são compostas por empresas fornecedoras de insumos, dos produtores, das indústrias processadoras e seus insumos (embalagens, aditivos), dos distribuidores (atacadistas, varejistas, restaurantes) e prestadores de serviços (transportadoras, bancos, certificadoras, estocadores, financeiras, operadores logísticos) visando a satisfazer o consumidor final (NEVES, 2005). Elas podem ser analisadas de uma escala macroeconômica (agregados econômicos) para uma escala microeconômica (unidades da base da economia), são consideradas como um sistema organizado de processo de fabricação e operações, ou 15 seja, cada operação só poderá ser executada quando a anterior estiver sendo concluída. Pode ser definida como conjugado de subsetores de produção que se relacionam com cumplicidade simultânea, são sucessões de operações de transformações dissociáveis, capazes de serem agregadas ou desagregadas de acordo com a necessidade da tecnologia e de resposta do mercado, são também consideradas como o conjunto de relações de comércio e financeiro, um fluxo de trocas de montante a jusante, ou seja, de fornecedor a cliente, assegurando as operações do sistema (ZUIN et al., 2006) Ela pode ser segmentada, em três macros segmentos: 1) Comercialização – empresas em contato com o cliente final da cadeia de produção e que viabilizam o consumo e o comércio dos produtos finais (supermercados, mercearias, restaurantes, logística etc.); 2) Industrialização – firmas responsáveis pela transformação de matérias-primas em produtos finais destinados ao consumidor (pode ser tanto uma família quanto outra firma); 3) Produção de matérias-primas – Firmas que fornecem as matérias primas iniciais para que as outras empresas avancem no processo de produção do produto final (agricultura, pecuária, pesca etc.). Segundo Batalha (2001) as principais utilizações para o conceito de cadeia agroindustrial são: 1) Cadeias de produção como ferramentas de análise e formulação de políticas públicas e privadas que busca identificar os elos fracos da cadeia de produção e incentivá-los através de uma política adequada, permite uma melhor coordenação entre os agentes envolvidos diretamente com as atividades da cadeia de produção. 2) Na definição de uma cadeia sobre a ótica técnica-econômica, como soma de todas as operações de produção e comercialização que foram necessárias para passar de uma ou várias matérias primas de base a um produto final. 3) A cadeia de produção como metodologia de análise da estratégia das firmas pode ser analisada como estratégia de maximização de lucro trabalhando nas duas pontas da cadeia (venda do produto – custo de produção), também são considerados os aspectos ambientais de sobrevivência da firma no meio concorrencial. É preciso observar às diversificações dentro dos setores as atividades existentes [as relações 16 comerciais diretas (clientes e fornecedores); relações comerciais indiretas (fluxo de compra e venda dos clientes e fornecedores); as relações tecnológicas (elemento base da construção da cadeia)]. Outra estratégia seria a penetração em uma cadeia de produção na qual a empresa está ausente, essa estratégia deve permitir-lhe influenciar a dinâmica concorrencial da cadeia de produção com objetivo de conseguir vantagens competitivas (uma das estratégias seria obter controle da cadeia de produção). 4) A cadeia de produção como espaço de análise das inovações tecnológicas tem como objetivo dinamizar a concorrência no interior de uma cadeia de produção, as operações técnicas podem ser classificadas segundo seu conteúdo tecnológico como: tecnologia de base (operações necessárias a atividade, porém sem impacto competitivo importante); tecnologias chaves (determinadas do ponto de vista concorrencial, estão associadas às operações chaves); tecnologias emergentes (ligadas a tecnologias importantes da evolução do sistema). Na figura 3, encontra-se um exemplo em disposição de duas cadeias de produção agroindustrial (CPA), observa-se a segmentação em 3 setores (Produção de matérias- primas, Industrialização e Comercialização) cada qual exigindo determinadasoperações; dependendo do segmento, as operações podem interagir de forma complementar (operações 7 e 10) para suprir determinada demanda de matéria- prima/serviços. Figura 3 – Sistema de Produção Composta por duas Cadeias de Produção Agroindustriais. Fonte: Adaptado de Batalha (1995). 17 2.4 Gestão de cadeias de suprimentos Segundo Zuin et al. (2006) as principal diferença entre cadeia de produção e cadeia de suprimentos, é que a primeira define somente as atividades envolvidas no processo de fabricação, e a segunda, além de englobar o primeiro conceito, amplia o conceito também para as atividades relacionadas à logística das unidades produtivas. As principais ideias sobre cadeia de suprimentos são: 1) É responsável por todo o esforço envolvido na produção e distribuição do produto final, do fornecedor do fornecedor ao cliente do cliente. Esse esforço é assegurado pelo planejamento, compras, fabricação e distribuição, além de abranger a gestão de fornecimento, a demanda, a compra de matérias-primas e de produtos intermediários, a fabricação e montagem, a gestão de estoques, a distribuição através de vários canais e a entrega ao cliente; 2) Conjunto de todas as atividades envolvidas com a movimentação de bens, desde as matérias-primas até o usuário final. Incluindo compras e aquisições, programação da produção, ordem de fabricação, inventário, transporte, armazenamento e serviços ao cliente. Dessa forma, com a necessidade de dar respostas mais rápidas e dinâmicas às oportunidades de negócios tona-se necessário a coordenação entre as atividades de produção e de distribuição desenvolvidas nas empresas ao longo de uma cadeia de produção. A gestão desse conjunto de etapas chama se de gestão de cadeias e suprimentos, a eficiência ao longo do canal de distribuição pode ser melhorada pelo compartilhamento de informação e do planejamento conjunto entre seus diversos agentes, com integração de todas as atividades da cadeia mediante melhoria nos relacionamentos entres seus diversos elos ou agentes, construindo vantagens competitivas sustentáveis (BATALHA, 2001; ZUIN et al., 2006). A busca dessa sintonia é exatamente o que a gestão de cadeias e suprimentos tem como objetivo. A grande questão enfrentada pelos varejos, indústrias e prestadores de serviços é como construir essa sintonia, aumentando a competitividade de toda a cadeia. A base conceitual da gestão de cadeias e suprimentos é composta por três elementos relacionados: a sua estrutura (elos envolvidos), os componentes de gestão 18 [planejamento e controle (estrutura de produtos); estrutura do trabalho (método de gestão); estrutura organizacional (estrutura de poder de liderança); estrutura de instalações para o fluxo de produtos (estrutura de riscos e recompensas); estrutura de instalações para o fluxo de informações (cultura e atitude)] e os processos de negócios (administração do relacionamento com clientes; administração do serviço ao cliente; administração da demanda; atendimento dos pedidos; administração do fluxo de produção; suprimentos; desenvolvimento e comercialização de produtos; canais de devolução) (BATALHA, 2001). Figura 4 – Exemplo de Gestão de Cadeias e Suprimentos Fonte: Elaborado pelos autores 19 3. IMPERFEIÇÕES DE MERCADO E INTEGRAÇÃO Segundo Vian e Pitelli (2005), as imperfeições de mercado são responsáveis por mudanças estruturais no comportamento das empresas/firmas. Podem-se encontrar características de mercado que define a maneira e a forma que uma empresa/firma deve atuar. Dependendo da estrutura/características de mercado (demanda, oferta, estrutura, conduta e desempenho) e da estrutura de produção (preços, custos, receitas, lucros), esse mercado pode ser de concorrência perfeita (número pulverizado de empresa/firma,), monopólios (uma só empresa/firma), oligopólios (poucas empresa/firma) e concorrência monopolística (empresa/firma atua no mercado diferenciando produtos). Dentro de cada uma dessas abordagens encontra-se o sistema de comercialização dos produtos agropecuários que são afetados por essas características de mercado, esse sistema é diferente para cada produto/empresa/firma/elo/cadeia, pois são as mudanças institucionais, tecnológicas e de hábitos de consumo que podem mudar o comportamento competitivo. Dessa forma, para analisar o desempenho dos mercados agropecuários é importante conhecer sua estrutura através de modelos econômicos que explicam seu comportamento (AGUIAR, 2000). Uma teoria que explica o processo de estratégias das firmas para otimizar a utilização dos recursos e buscar competitividade, é a economia dos custos de transações. Os custos de transações são custos associados à coleta de informações e estabelecimentos de contratos, ou seja, a empresa/firma poderia se organizar na busca de redução de custos (COASE, 1937). Através desse processo, surgem ferramentas e mudanças estruturais que auxiliam as empresas na tomadas de decisões, como viabilidade de diferentes formas de contratos entre empresas/firmas, bolsa de mercadorias e futuros, associações, cooperativas, integrações verticais e horizontais, diversificação na produção, escala de produção e diferenciação de produto (BLAIR, 1983; AGUIAR, 2000; MARQUES e MELLO, 1999). Uma das estratégias bastante utilizada pelas empresas/firmas agropecuárias é o processo de integração. No agronegócio é comum verificar empresa/firma com maior poder de barganha, mais organizada e com maior poder de mercado, ditar o 20 comportamento de uma determinada cadeia. Esse processo está diretamente relacionado com o custo de transação, ou seja, quando o custo de transação excede o preço recebido pelo produtor/vendedor, existe uma grande possibilidade de se integrar vertical ou horizontalmente com as outras empresas (BLAIR, 1983). Segundo Frei (2003) integração vertical é a execução de vários processos dos elos da cadeia por uma só empresa para estratégia competitiva da mesma. Os tipos de integração vertical podem ser: Parcial (realiza parte de uma atividade, mas depende de outro elo); quase-integração (contratos de longo prazo); integração a montante (a empresa realiza atividade que antes era do fornecedor); e integração vertical a jusante (a empresa realiza atividade que antes era do cliente). No caso de uma integração horizontal se estabelece quando é viável implantar cooperativas para aumentar o poder de barganha e redução de custos para os produtores; para clusters ou arranjos produtivos locais elos da cadeia com produtos similares na mesma região; nos investimento entre o setor produtivo e o de infra-estrutura de transporte e em parcerias de produção de empresas diferentes (ROSA, 2004). Ao estudar os conceitos do agronegócio é preciso entender todo o processo de sua formação como a evolução da agropecuária, modernização dos meios de produção, tecnologia e mudanças conjunturais e a partir daí entender as principais abordagens que auxiliam na sua análise. Esse conhecimento é importante para o desenvolvimento de estratégias e metodologias que auxiliam na tomada de decisões em cada elo da cadeia, na harmonia/sinergia de sua estrutura e nos elementos externos que afetam diretamente sua competitividade. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABDALLAH, P.R. Atividade pesqueira no Brasil: política e evolução. Piracicaba, 1998. 137p. Tese (Doutorado) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, 1998. ALMEIDA, D. P.F. Apontamentos de produção agrícola. Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa. Porto, 2004. 21AGUIAR, D. R. D. Tendências da comercialização agrícola na virada do século. 2000, p. 219-244. 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A globalização forçou que muitos setores reduzissem seus custos, seja através de investimentos em novas tecnologias, seja em reestruturação dos procedimentos gerenciais adotados. Além disso, possibilitou que o comércio mundial se elevasse, com quedas de barreiras tarifárias entre países, principalmente no setor industrial. Em suma, 25 incentivou que os países investissem nos setores com maior vantagem competitiva, e que gerassem superávits no saldo da balança comercial, e consequentemente, maiores divisas. Entretanto, muitos países se mostraram resistentes à redução de barreiras tarifárias na agricultura, sobretudo países desenvolvidos, como EUA, Japão e União Européia, com a alegação de que a persistência de barreiras se dá com o intuito de garantir a segurança alimentar de sua população e sustentar práticas ambientalmente corretas no campo. Contudo, mesmo com algumas restrições ao comércio mundial de commodities o Brasil se destacou neste período. Ganhos de produtividade, redução de custos, maior independência de produtores e desenvolvimento de uma agroindústria integrada, impulsionaram o setor, mesmo com a redução de suportes do governo e elevadas taxas de juros, oriundas de uma política fiscal rígida, que por sua vez, desestimulava a aquisição de empréstimos ao mesmo tempo em que expunha os produtores a maiores riscos de preços 4 . De acordo com dados da Food and Agricultural Organization - FAO (2008), as exportações brasileiras de produtos agrícolas ganharam destaque no mercado mundial, sobretudo pelo baixo custo de produção, se comparados a outros países, e devido a menores oscilações de preços, dado um aumento no consumo interno e situação macroeconômica estável. O choque positivo nas exportações estimularam o aumento da produção agrícola brasileira, a qual foi superior a 100% entre 1990 e 2005 (IBGE, 2005). Algumas culturas se consolidaram como carro-chefe do agronegócio brasileiro, como a cana-de- açúcar, e outras tiveram um aumento expressivo, devido tanto ao aumento do comércio internacional, quanto ao maior consumo interno, como o caso da carne de frango. 4 Pois com a redução de suporte gorvernamental, muitos setores em que o governo garantia um preço mínimo, passaram a concorrer diretamente com preços de mercados, muitas vezes influenciados pelos preços das commodities no mercado internacional. 26 O Brasil ocupa atualmente posições de destaque na produção mundial de cana- de-açúcar, carne bovina, carne de frango, carne suína, laranja, café, soja, milho, algodão, leite, arroz e frutas tropicais, além do setor florestal (para produção de papel e celulose) e bio-energético (como os bio-combustíveis etanol e biodiesel), sendo um dos maiores produtores agrícolas do mundo, atrás de China, União Européia e EUA (FAO, 2008). Em termos de comércio internacional, o país se destaca na exportação das seguintes commodities: açúcar, etanol, carne bovina, carne de frango, carne suína, suco de laranja, café, soja, algodão e frutas tropicais, ficando aquém apenas dos EUA e União Européia. Vale salientar que a taxa de crescimento da produção e exportação agrícola brasileira tem permanecido acima da média mundial nas últimas décadas, e a expectativa é de que a participação brasileira aumente ainda mais no cenário internacional, por diversas razões. A primeira se dá pela gradual queda de barreiras tarifárias e sanitárias de países desenvolvidos, que necessitam reduzir o dispêndio com o protecionismo local, além de perder recentes “batalhas” na Organização Mundial do Comércio - OMC, a partir de pedidos de retaliações por parte de países que alegam desvios de comércio decorrentes do protecionismo de alguns países e blocos econômicos. Segundo, devido ao fato do Brasil possuir áreas agricultáveis ainda não aproveitadas, em áreas que hoje já foram incorporadas aos cinturões produtivos das regiões de fronteiras agrícolas. O terceiro ponto se refere ao avanço tecnológico, mecanização no campo, capitalização dos produtores e maior integração com a indústria e desenvolvimento de variedades adaptadas a condições climáticas diversas, assim como ocorreu com a expansão da soja no Centro-Oeste, a partir do meio da década de 1990. Por fim, espera- se um crescimento considerável na economia brasileira nos próximos anos, de acordo com estimativas do Fundo Monetário Internacional - FMI, e Banco Central do Brasil - BACEN, e consequentemente, um aumento no consumo e demanda por alimentos 27 processados, o que deve impulsionar a agropecuária local, ao mesmo tempo em que investirá em qualidade e produtos diferenciados, abrindo oportunidades de exportação destes produtos agregados a outros mercados, hoje abertos apenas às commodities in- natura, ou seja, ao produto bruto. O agronegócio brasileiro desempenha, historicamente, importante papel desenvolvimentista em todas as regiões do país, cada qual com suas particularidades e características próprias. As áreas de fronteiras agrícolas estabelecidas ao longo do último século se destacam no cenário nacional, como a região Sul, na produção de grãos, suínos, aves e pecuária de corte, a região Centro-Oeste, na produção de grãos e pecuária, e recentemente suínos e aves, a região Nordeste, com a tecnificada produção de frutas no semi-árido, além da cana-de-açúcar no litoral, e a região Sudeste, com diversas culturas, entre elas a cana-de-açúcar, pecuária em geral, café, citricultura e grãos. 6. ETAPAS DOS PRINCIPAIS SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIOS 5 Respeitanto as peculiaridades de cada sistema agronômico de produção, pretende-se apresentar algumas características comuns de cultivo para familiarizar o leitor da ordem em que os eventos agrícolas ocorrem. Primeiramente, deve-se ter em mente que as etapas básicas das atividades agrícolas, em geral, se referem ao preparo do solo, plantio, manejo da cultura, colheita e pós colheita (secagem ou acondicionamento e armazenamento), até a comercialização das commodities, conforme figura 1. 5 Este tópico objetiva apenas dar a noção básica ao leitor sobre as principais etapas nos processos produtivos agrícolas e pecuários das principais commodities produzidas no Brasil. Para maior detalhamento, consultar trabalhos mencionados nas referências desta apostila, ou materiais específicos presentes em diversas bases de artigos, livros e teses da literatura nacional e internacional. 28 Figura 4 - Fluxograma generalizado dos sistemas produtivos agrícolas Fonte: Dados da pesquisa. Obviamente, cada cultura apresenta características peculiares a elas próprias, podendo haver etapas intermediárias adicionais às apresentadas 6 , ou mesmo diferenças quanto ao tipo de atividade, como por exemplo, se a cultura é sazonal (grãos), semi perene (cana de açúcar), perene (laranja). No caso de culturas perenes e semi perenes, adicionam-se ao processo a reforma da área cultivada após o término do ciclo ótimo de produção da cultura, a abertura de covas antes do plantio de mudas, entre outros. Em relaçãoao preparo do solo, pode-se considerar o plantio convencional, ou o plantio direto. No primeiro, há maior movimentação de solo (uso de grades e arados), enquanto no segundo, a implantação de novo ciclo da cultura é feito em solo pouco ou não-revolvido, e protegido por cobertura morta proveniente de restos culturais ou cobertura vegetal cultivadas para esta finalidade. No plantio de grãos, em geral 7 , utiliza-se a semeadora-adubadora, implemento que realiza a semeadura e a adubação no sulco de plantio numa mesma operação, tomando cuidado para não deixar a semente em contato direto com o fertilizante. 6 Como por exemplo, o caso do arroz irrigado, cuja irrigação é realizada após o manejo, alagando-se a área cultivada, e posteriormente, drenando-se esta área alagada para a colheita do ceral. 7 Como o caso das culturas graneleiras, como soja, milho, arroz e trigo. 29 Já na etapa de manejo, se dá o controle preventivo, cultural, mecânico e químico. O método preventivo pode ser feito através do uso de sementes de boa procedência. Como controle cultural, o espaçamento deve ser adequado de maneira a favorecer o fechamento e sombreamento do solo, aplicação de adubo em linha, adubação de cobertura e rotação de cultura. O controle mecânico é a capina da área, que pode ser feita manualmente ou através de cultivadores, arados e grades. O controle químico é o mais utilizado atualmente por produtores e se dá pela aplicação de herbicidas para combate de plantas daninhas. Além disso, a aplicação de fungicidas (combate a doenças fúngicas) e pesticidas (combate a insetos e ácaros) são realizadas, costumeiramente, nesta etapa. No que se refere a colheita, esta constitui uma importante etapa no processo produtivo agrícola. A colheita deve ser realizada no momento exato em que a planta atinge o estágio fenológico ideal, para que não haja perdas quantitativas e/ou qualitativas. Terminada a colheita, a produção deve ser transportada para os locais de beneficamento e armazenagem, a fim de que passem por processo de pós colheita, limpeza, secagem (grãos) ou seleção e embalagem (frutas), depois sejam armazenadas ou comercializadas. Conforme mencionado, outras atividades podem ser consideradas, dependendo do tipo de cultura. No caso do café, existe ainda a etapa de preparo, após a colheita, onde haverá a separação das impurezas, a maturação dos frutos, a eliminação da casca e secagem do fruto. Na citricultura e viticultura, existe ainda a etapa de beneficiamento da fruta que não irá para mesa, transformando as mesmas em sucos concentrados ou vinhos, respectivamente. Já o caso da orizicultura em sistema irrigado, há o alagamento das áreas de lavoura após o manejo e a drenagem anterior à colheita. No caso da triticultura, cotonicultura e cana de açúcar, verifica-se a necessidade da aplicação de maturadores. Na cotonicultura, ainda, existe a etapa de aplicação de desfolhantes, dessecantes e maturadores dias antes da colheita, além da destruição dos restos vegetais após a colheita (a fim de se evitar a proliferação de pragas e doenças). Ao considerar as principais atividades de criação animal no Brasil, ressaltam-se as etapas do processo anteriores ao início do ciclo produtivo, principalmente no que se refere ao confinamento. Estas atividades vão desde o cruzamento de espécies 30 selecionadas até o fornecimento de matrizes para produção. Outras etapas referentes à pecuária são o período de acompanhamento do crescimento dos animais e manejo, que se referem à alimentação dos mesmos, vacinação, estrutura física, ventilação e temperatura do local, entre outros. Após o ciclo de crescimento e abate, sucedido pela comercialização, deve-se ater à limpeza e desinfecção do local, até o período de produção do novo ciclo. Estas características são peculiares, principalmente, à suinocultura, avicultura e bovinocultura leiteira. Para maior elucidação, observa-se na figura 2, o fluxograma de produção da suinocultura. Figura 5 - Fluxograma do sistema produtivo de suínos Fonte: Dados da pesquisa. No caso de confinamento de bovinos para corte, adiciona-se ainda a etapa de adaptação e separação de lotes homogêneos por baia, respeitando-se o peso, raça e sexo dos bovinos. Além disso, novas etapas de pesagem dos animais são incluídas no processo. Já no caso do confinamento de bovinos leiteiros, incluem-se as etapas de ordenha e armazenagem do leite em condições apropriadas. No caso da ordenha, os animais são submetidos em média (à ordenha) duas vezes por dia, o que explica o fato do cuidado com o deslocamento mínimo dos animais ao longo do dia, evitando-se estresse do animal e otimizando o tempo para extração do leite . 31 7. DESCRIÇÃO DOS SETORES 6.1 Dados gerais da produção de café O café, produto de grande importância para agricultura brasileira, sobretudo no século XIX, é atualmente um dos itens mais tradicionais da pauta de exportação do agronegócio brasileiro. O Brasil se apresenta como o principal produtor mundial, com 34,5 milhões de sacas em 2009 8 (equivalente a 2,4 milhões de toneladas). Atualmente, a produção brasileira correspondente a aproximadamente 30% do volume total mundial produzido, sendo que seus principais concorrentes no mercado mundial estão muito aquém desse percentual de participação. Apesar disso, de acordo com dados fornecidos anualmente pelo IBGE, a produção de café brasileira decresceu a um patamar próximo de 30% na última década, onde chegou a alcançar entre 1998 a 2001, patamares de produção acima de 3,2 milhões de toneladas. É necessário salientar, entretanto, que o consumo de café no Brasil também está entre os maiores do mundo, atrás somente dos EUA. Atualmente o Brasil consume cerca de metade de sua produção, com o restante sendo destinados à exportação ou estocagem. Entretanto, destaca-se que este consumo interno tem crescido a uma taxa média de 4% ao ano, desde a última década, em detrimento a 1,5% ao ano na média 8 Contudo, deve-se prestar atenção ao fato de que a cafeicultura apresenta uma alteração significativa de produção de um ano para outro, em decorrência da bi anualidade da cultura. 32 mundial. Segundo relatório da FIESP (2008), este avanço tem sido obtido graças à consolidação dos mercados de cafés gourmet e especiais no país, algo já recorrente há algum tempo em países desenvolvidos e que se destacam pelo alto consumo per capita de café, como a Alemanha, França e Itália, e EUA. Com uma área cultivada acima de 2,3 milhões de hectares em 2009, o café é a 5ª cultura agrícola em uso de terras no Brasil, situando-se atrás apenas das culturas da soja, milho, cana-de-açúcar e arroz. Mais da metade da produção está concentrada no Estado de Minas Gerais. Além deste, São Paulo, Paraná, Espírito Santo e Bahia são os outros Estados com alguma representatividade do cultivo de café, sendo os três primeiros, historicamente tradicionais produtores de café, e o quarto, produtor recente e que vem ganhando espaço na cultura cafeeira desde a década de 1990. Outro ponto importante a se ressaltar é que a cultura do café gerou um valor de produção de aproximadamente R$ 8 bilhões ao ano nas últimas safras, o que ratifica sua importância econômica como um dos produtos agrícolas que mais geram divisas ao país, impactando positivamente no saldo da balança comercial do país. De acordo com o último Censo Agropecuário Brasileiro, realizado pelo IBGE (2007), a cultura cafeeira se dá em um total de 200.859 estabelecimentos produtores espalhados pelo país, com mais de 1,5 milhõesde hectares de área colhida F 9 F. Na Tabela 1 pode-se observar que poucos são os estabelecimentos com mais de 500 hectares, ou seja, grandes propriedades, embora o café seja uma cultura com alta produtividade por hectare o que já classifica propriedades com 100 hectares como grandes. Se considerar os tais estabelecimentos com mais de 100 hectares, estes correspondem a 0,76% do total, porém correspondem a aproximadamente 21% da área colhida, 25,8% da produção, e 26,3% do valor da produção gerado pelo setor. 9 Nota: o último censo agropecuário foi divulgado em 2006, sendo seus dados, portanto, referentes a 2006. Ao longo do relatório será observado que os dados de produção, área colhida e valor da produção deste censo não será igual ao apresentado na última safra, em decorrência da defasagem de três anos- safras entre os mesmos. Porém, é importante a ilustração dos dados do censo para se entender o perfil das propriedades rurais produtoras das diferentes commodities que aqui serão apresentadas. 33 Tabela 1 - Características gerais dos estabelecimentos cafeeiros no Brasil Tamanho da propriedade Estabelecimentos Produção (ton) Valor da produção (mil R$) Área colhida (ha) Produtor sem propriedade 22.400 0 1 80.497 Maior de 0 a menos de 1 ha 35.971 44.879 119.636 37.611 De 1 a menos de 2 ha 32.804 68.799 206.172 52.669 De 2 a menos de 5 ha 60.689 253.417 823.779 222.224 De 5 a menos de 10 ha 24.324 220.911 917.728 192.373 De 10 a menos de 20 ha 13.028 230.533 881.588 199.747 De 20 a menos de 50 ha 7.726 336.521 1.427.560 259.477 De 50 a menos de 100 ha 2.395 247.112 1.045.238 178.674 De 100 a menos de 200 ha 1.057 218.022 830.236 157.535 De 200 a menos de 500 ha 415 198.383 828.189 123.092 De 500 ha e mais 50 71.142 276.013 43.186 Total 200.859 1.889.719 7.356.140 1.547.085 Fonte: IBGE, 2007 Mesmo com grande representatividade dos estabelecimentos com mais de 100 hectares sobre a área colhida, produção e valor da produção, o potencial da cadeia se encontra em médios produtores, inseridos entre as faixas de 10 a 100 hectares, os quais representam pouco mais de 11% dos estabelecimentos, e cerca de 45% do valor de produção do setor. É necessário observar, entretanto, que parte da produção está pulverizada de maneira semelhante entre os estratos de propriedades com mais de 2 hectares, ou seja, ao analisar-se qualquer projeto de investimento ou mapeamento deste mercado, deve-se considerar pequenos, médios e grandes produtores com a mesma atenção. Detalhando um pouco mais as características do setor cafeeiro no Brasil, e analisando a participação das principais regiões produtoras, vê-se que Minas Gerais tem uma grande importância no cenário nacional. A produção mineira representou em 2009, 50% da área colhida e produção, além de mais de 50% do valor de produção do café no Brasil, o que reforça o importante papel deste Estado nesta cultura. Vale ressaltar que a maior parte da produção mineira se dá com o café arábica, reconhecido pela melhor qualidade, e consequentemente, pelo maior valor de mercado. Além de Minas Gerais, o Espírito Santo mostra força neste setor, com cerca de 25% da produção em 2009, e 22% da área plantada. Diferentemente de Minas Gerais, a produção capixaba é basicamente de café conilon, o qual não tem o mesmo valor de mercado que o café arábica. 34 Outros Estados que possuem alguma representatividade na cultura cafeeira são São Paulo com 7,6%, Bahia com 7%, e Paraná com 3,6% aproximadamente da produção e área cultivada. Tanto para Minas Gerais, quanto para São Paulo, a grande representatividade do perfil de produtores está na faixa onde os estabelecimentos possuem de 20 a 500 hectares, caracterizando o perfil de médio a grande produtor, declinando em maior parte aos médios produtores, com até 100 hectares. Entretanto, Paraná e Espírito Santo concentram sua produção em estabelecimentos pequenos, com até 10 hectares, enquanto na Bahia, Estado que tem absorvido grande parte das novas áreas cafeeiras do Brasil, o perfil é de grande produtor, com mais de 100 hectares, indicando que por ser uma área nova, tem recebido investimento de produtores mais capitalizados. Analisando as grandes regiões produtoras de café no país, Minas Gerais e Espírito Santo, deve-se atentar a algumas micro-regiões geográficas que se destacam na produção. Em Minas Gerais três áreas destoam das demais, na ordem: o sul do Estado, sobretudo nas proximidades dos municípios de Varginha, São Sebastião do Paraíso, Guaxupé, Alfenas, Poços de Caldas, Passos, Piuí e Oliveira; o Triângulo Mineiro, incluindo Patrocínio, Araxá, Patos de Minas, Ituiutaba e Uberlândia; e o sudeste do Estado, próximos à divisa com Espírito Santo, onde se localizam Caratinga, Manhuaçu, Ponte Nova, São Lourenço e Viçosa. No Espírito Santo, a maior parte da produção está situada nas micro-regiões dos municípios de Alegre e Afonso Cláudio, próximos à divisa com o sudeste de Minas Gerais. Em suma, o desempenho da economia cafeeira brasileira tem se mantido em patamar elevado em parte pelo aumento do consumo doméstico acima da média mundial e pela diversificação desta demanda, e em outra, pelas conquistas de novos mercados no comércio mundial. Além disso, deve-se ressaltar a integração das ações do governo, produtores, cooperativas e indústrias, quanto às inovações produtivas, certificação da qualidade e programas de incentivo ao consumo, que sustentaram o setor ao cenário atual. 35 Figura 5 - Sistema Agroindustrial do Café no Brasil Fonte: Adaptado de SAES, M. S. S. et al. (1998). Bibliografia Recomendada CAMARGO. F.T. de. Crescimento e maturação do fruto do café (Coffea arabica L.) em sistema arborizado e em monocultivo. 2007. 42 p. Dissertação (Mestrado em Fitotecnia) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2007. CARVALHO, G.R. Avaliação de sistemas de produção de café na região sul de Minas Gerais: um modelo de análise de decisão. 2002. 68 p. Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2002. JESUS. J. de. Atributos do solo e da nutrição do cafeeiro em sistema agroflorestal e em monocultivo. 2008. 147 p. Tese (Doutorado em Fitotecnia) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2008. MALAVOLTA, E. Nutrição mineral e adubação do cafeeiro: colheitas econômicas máximas. São Paulo: Agronômica Ceres, 1993. 210 p. SAES, M. S. S.; JAYO, M.; NAKAZONE, D.; SILVEIRA, R. L. F. Competitividade no Agribusiness Brasileiro: Competitividade do Sistema Agroindustrial do Café. São Paulo. PENSA/FIA/FEA/USP. 1998. 36 6.2 Dados gerais da produção de cana-de-açúcar A cana-de-açúcar é um dos cultivos mais tradicionais do Brasil, desde os tempos de colônia e segue, atualmente, com um lugar de destaque entre os produtos agrícolas brasileiro, sendo o Brasil o maior produtor mundial deste produto, seguido da Índia. A cultura ocupou cerca de 9,6 milhões de hectares em 2009, o que a coloca como 3ª cultura mais cultivada no Brasil, atrás apenas da soja e do milho. Além disso, nos últimos quinze anos, as exportações brasileiras do complexo sucroalcooleiro (açúcar e álcool) foram significativamente expandidas. Resultado disso é o tamanho do valor desta produção, acima dos R$25 bilhões, resultado da colheita de 690 milhões de toneladas no referido ano-safra. Esta expansão da produção canavieira é refletida ao se analisar os números dovolume de produção acumulado ano a ano. Na última década, a produção cresceu a um patamar médio de 7% ao ano, e um acumulado de 80% neste período (IBGE, 2010). Para melhor compreender o complexo sucroalcooleiro, é necessário analisar separadamente o açúcar, o álcool e a capacidade de co-geração de energia, os quais são 37 os principais produtos derivados da atividade canavieira, e que possuem características absolutamente distintas, embora seus problemas, desafios e potenciais sejam relacionados. De acordo com o censo agropecuário de 2006 (IBGE, 2007), existem quase 200 mil estabelecimentos produtores de cana-de-açúcar no Brasil. Embora a maior parte dos estabelecimentos produtores esteja na faixa entre 5 a 100 hectares, as poucas centenas de produtores com mais de 2.500 hectares representam algo em torno de 55% da quantidade produzida, e 50% da área colhida e valor da produção, mostrando uma alta concentração deste setor. Ao se considerar propriedades com mais de 100 hectares, algo em torno de 10% do total de estabelecimentos produtores, esta proporção salta para mais de 90% no volume, tanto para área colhida como para valor da produção, reiterando ainda mais a concentração do setor. Tabela 2 - Características gerais dos estabelecimentos canavieiros no Brasil Tamanho da propriedade Estabelecimentos Produção (ton) Valor da produção (mil R$) Área colhida (ha) Produtor sem propriedade 2.089 63.254 4.556 2.257 Mais de 0 a menos de 0,1 ha 1.960 11.758 1.613 290 De 0,1 a menos de 0,2 ha 791 6.893 747 179 De 0,2 a menos de 0,5 ha 1.842 24.710 1.907 700 De 0,5 a menos de 1 ha 3.535 83.580 6.395 2.142 De 1 a menos de 2 ha 9.088 305.508 26.047 9.155 De 2 a menos de 3 ha 9.530 1.289.826 70.018 23.588 De 3 a menos de 4 ha 9.086 517.243 32.395 13.005 De 4 a menos de 5 ha 8.562 459.532 34.387 12.686 De 5 a menos de 10 ha 32.322 3.187.672 202.187 73.578 De 10 a menos de 20 ha 40.244 5.209.346 373.268 108.874 De 20 a menos de 50 ha 38.758 12.225.604 928.558 233.475 De 50 a menos de 100 ha 15.309 14.161.678 973.294 244.118 De 100 a menos de 200 ha 9.236 22.371.677 1.181.260 354.313 De 200 a menos de 500 ha 6.511 34.368.260 2.114.708 554.237 De 500 a menos de 1000 ha 2.187 30.062.974 1.415.162 447.425 De 1000 a menos de 2500 ha 1.126 46.392.606 2.212.252 657.213 De 2500 ha e mais 669 213.423.037 10.127.367 2.840.416 Total 192.845 384.165.158 19.706.121 5.577.651 Fonte: IBGE, 2007 Mesmo assim, é necessário considerar que este grupo (acima de 100 hectares) corresponde a quase 20 mil estabelecimentos produtores, o que acarreta em um considerável mercado potencial para investimento em novas tecnologias, maquinários e insumos agrícolas em geral. Ainda, salienta-se que a participação das usinas processadoras de açúcar e álcool na produção da cana-de-açúcar, arrendamento de terras 38 e relações contratuais com os produtores, abre um nicho de oportunidade ainda maior, na medida em que se negocia com grupos capitalizados. Ao se analisar os principais Estados brasileiros produtores de cana-de-açúcar, nota-se que o Estado de São Paulo concentra mais de 60% do volume produzido e valor gerado, com Minas Gerais, Paraná, Alagoas e Pernambuco representando cada um, respectivamente, em torno de 8,5%, 8%, 4% e 3% da produção nacional. É necessário frisar, entretanto, que as características dos estabelecimentos produtores em todos os principais Estados na cultura canavieira, apresentam comportamento semelhante ao cenário observado nacionalmente, ou seja, em todos os Estados, destacam-se os grandes produtores, sobretudo aqueles com mais de 2.500 hectares. A produção paulista é presente na maior parte do interior do Estado, situada acima do Trópico de Capricórnio. São três as meso-regiões predominantes: Ribeirão Preto no norte e nordeste, Piracicaba no centro, e Araçatuba no noroeste e oeste paulista. Detalhando as principais micro-regiões produtoras pode-se apontar como destaque no primeiro grupo: Ribeirão Preto, Jaboticabal, São Joaquim da Barra, São José do Rio Preto, Catanduva e Barretos; no segundo grupo: Piracicaba, Limeira, Araraquara, São João da Boa Vista; e no terceiro grupo: Araçatuba, Bauru, Jaú, Lins, Birigui, Assis, Presidente Prudente, Adamantina e Ourinhos. A produção mineira é encontrada nas áreas próximas à região de Ribeirão Preto, sobretudo no Triângulo Mineiro, em Uberaba, Uberlândia, e Frutal, com crescimento cada vez acentuado em direção ao sul de Goiás. Já a produção paranaense é encontrada no norte daquele Estado, circundando as áreas que fazem divisa com sudoeste e oeste de São Paulo, onde se localizam Cornélio Procópio, Londrina, Paranavaí, Astorga e Cianorte. Nos Estados de Alagoas e Pernambuco, o cultivo da cana é muito próxima ao litoral, com destaque à região de São Miguel dos Campos, Maceió e Mata Alagoana, todos em Alagoas. Os Estados do Centro-Sul, especialmente São Paulo e Paraná possuem vantagem na produção tanto de etanol quanto de açúcar, estando então mais propensos a receberem maiores investimentos, em decorrência do grande aumento da demanda por 39 etanol, e da pressão no mercado internacional por combustíveis alternativos aos de origem fóssil, ous seja, de origem vegetal. Contudo, nota-se desde então, uma rápida expansão desta produção pelo Triângulo Mineiro, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, os quais devem aumentar sua participação sobre o montante total produzido em escala nacional. Conclui-se que este é um setor de expressiva representatividade ao agronegócio brasileiro, ainda mais ao se considerar a tendência de maior expansão da cultura canavieira em antigas áreas de pastagens ou em substituição a outras culturas nos Estados mencionados. Um ponto importante a se considerar se dá em relação ao fato de que a partir de 2013, será erradicada de vez a queima da cana-de-açúcar no Estado de São Paulo, o que levará com que produtores de tradicionais regiões onde a colheita mecanizada é inviável na maioria das áreas (como Piracicaba-SP) adotem tecnologias eficientes para colheita da “cana verde”, que não seja manual, dado à expressiva queda de produtividade do trabalhador no corte desta cana, abrindo potencial de mercado para desenvolvimento decolhedoras menores, mais leves e adaptadas a maior declividade, ou mesmo, a uma maior expansão às áreas de cana-de-açúcar no Centro-Oeste brasileiro. Figura 5 - Sistema Agroindustrial da Cana-de-açúcar no Brasil Fonte: Adaptado de WAACK, R. S. et al. (1998). 40 Bibliografia recomendada ALVES, L.R.A. Transmissão de preços entre produtos do setor sucroalcooleiro do Estado de São Paulo. 2002. 107 p. Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2002. CARUSO, R.C. Análise da oferta e demanda de açúcar no Estado de São Paulo. 2002. 79 p. Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2002. MARQUES, P.V.; SONODA, D. Y. ; ZILIO, L. B. ; XAVIER, C. E. O. Custos de Produção de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Etanol no Brasil - safra 2007/2008. PECEGE/ESALQ/USP, Piracicaba, 2009. 194 p. RIPOLI. C; VILLANOVA, N.A. Colheita mecanizada da cana-de-açúcar: novos desafios. Stab Açúcar, Álcool e Subprodutos, Piracicaba, 11(1):28-31, set./out. 1992. WAACK, R. S.; NEVES, M. F.; MORAES, S.; MARINO, M. K.; SZASZ, A. H. Competitividade no Agribusiness Brasileiro: Competitividade do Sistema Agroindustrial da Cana-de-Açúcar. São Paulo. PENSA/FIA/FEA/USP. 1998. 41 6.3
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