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INTRODUÇÃO AO AGRONEGÓCIO USP

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 INTRODUÇÃO AO AGRONEGÓCIO 
 
Coodenador – Prof. Dr. Pedro Valentim Marques - 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Autores: 
Daniel Henrique Dario Capitani 
Daniel Y. Sonoda 
Jerônimo Alves dos Santos 
Pedro Valentim Marques 
 
 
 
PECEGE/ESALQ/USP 
 2011 
 
 
2 
1. INTRODUÇÃO AO AGRONEGÓCIO 
Jerônimo Alves dos Santos, Pedro Valentim Marques 
 
 
A agropecuária consiste em retirar o máximo de rendimento da planta/animal 
nas condições ideais de clima e solo, é a forma como o homem influencia o meio 
natural com manejo e técnicas para melhor desempenho e adaptação das culturas ao 
meio natural (DIEHL, 1989). 
Ela deve ser encarada como um fenômeno social que tem de se adaptar às 
condições ecológicas e sociais, tem como fundamento principal o domínio da 
diversidade, seja no enquadramento paisagístico, nos solos, no clima, no 
comportamento dos homens, no papel da agropecuária na economia global, na 
tecnologia disponível, no equipamento utilizado e no grau de utilização do potencial 
produtivo dos terrenos (BARROS, 1975). 
Em grande parte da existência do homem, a agropecuária foi encarada como 
uma atividade de subsistência com objetivo primário para a produção de alimentos. 
Recentemente foi introduzido a ideia da agropecuária como atividade econômica, ou 
seja, produção com lucro, dessa forma, houve uma acentuada mudança no seu propósito 
e aumento na dependência das energias fósseis para incrementar a produtividade, isso 
trouxe conseqüências como a poluição dos solos, das águas e dos alimentos e a 
problemática dos excedentes (MAZOYER e ROUDART , 2001).. 
No entanto, a sociedade começa a tender para uma agricultura como uma 
atividade ecológica, orientada para a produção de bem-estar. Ou seja, além de ser 
encarado como um produtor de alimentos e matérias-primas pode ser reconhecido como 
produtor de bens não transacionáveis e na defesa do ambiente, dos recursos naturais, na 
gestão do espaço rural e a preservação da paisagem (MAZOYER e ROUDART , 2001; 
ALMEIDA, 2004). 
1.1 Evolução da agropecuária 
 
Caso o homem deixasse de utilizar os ecossistemas, esses tenderiam depressa ao 
estado da natureza quando o homem começou a utilizá-lo. No entanto 90% da 
3 
população deixariam de existir, pois a forma simples de alimentação (caça, pesca e 
colheita) não permitiria o sustento de mais de meio bilhão de homens. A única 
alternativa seria continuar cultivando o planeta, multiplicando plantas e animais. Dentre 
as milhares de espécies que evoluíram em mais de 3,5 bilhões de anos, o Homo sapiens 
sapiens, é uma das espécie mais recente, com cerca de 50 a 20 mil anos datados, há 10 
mil anos pratica a agricultura e criação de gado (MAZOYER e ROUDART , 2001). 
Há cerca de 12.000 AC observam-se os primeiros indícios de atividade humana 
sobre espécies de vegetais e animais, e o desenvolvimento de comunidades que se 
mantiveram por esse tipo de atividade. Teve o seu início há cerca de 10 a 12 mil anos na 
região situada entre os rios Nilo, Tigre e Eufrates. O cultivo das plantas e da 
domesticação dos animais foi transmitido para Europa do oriente para o ocidente e 
chegado à Península Ibérica há cerca de quatro mil anos (ALMEIDA, 2004). 
A Agricultura moderna teve seu início nos séculos XVII e XIX na Europa, as 
mudanças tecnológicas, sociais e econômicas tiveram um importante papel na transição 
do feudalismo para o capitalismo. A nova configuração do conjunto das civilizações 
germânicas e romanas aproximou novas práticas agrícola com pecuária, o que tornaram 
essas atividades cada vez mais complementares. Nessa nova fase da humanidade houve 
umas das mais importantes transformações de bem estar com o fim da escassez de 
alimentos (VEIGA, 1991; MAZOYER e ROUDART , 2001). 
Na Europa a agricultura européia manteve-se praticamente estável até ao século 
XVIII. Com o pousio, alimentação baseada em hidratos de carbono e com produção de 
ovinos e caprinos. Esse processo iniciou-se na Holanda no século XVII e na Inglaterra 
no século XVIII com profundas alterações nas técnicas da produção agrícola 
(ALMEIDA, 2004). 
Com o crescimento populacional e a queda da fertilidade dos solos na Europa, 
teve-se como conseqüência a escassez de alimentos. Dessa forma, por volta dos séculos 
XVII e XIX, houve uma intensa adoção de sistemas de rotação de culturas com plantas 
forrageiras com integração da pecuária e agricultura. Esta fase é conhecida como 
“Primeira Revolução Agrícola” (MAZOYER e ROUDART , 2001; MONTOYA et al., 
2002; PLANETA ORGANICO, 2010). 
4 
Entre os séculos XVI ao XIX, a primeira revolução agrícola baseada na 
substituição dos pousios pelas pradarias artificiais e no aumento do gado, teve como 
conseqüência o aumento da produtividade nos países temperados, além de ter nesse 
cenário o desenvolvimento da primeira revolução industrial. Com esse conjunto de 
transformação, no final do século XIX e no início do século XX a indústria contribuiu 
para a dinamização da agricultura, com produção de novos meios de transportes 
(caminhos de ferro, barcos a vapor) e novos materiais mecânicos de tração animal 
(semeadores, máquinas ceifeiras, ceifeiras-enfardadeiras) o que levou a agricultura à 
primeira crise de sobreprodução agrícola dos anos 1890 (MAZOYER e ROUDART , 
2001). 
Com o aumento da produtividade, tiveram-se maiores disponibilidade de 
rendimento para a indústria têxtil, primeiramente lã e depois do algodão. Esse 
incremento de produtividade foi possível, com a mobilização do solo que exigia 
aperfeiçoamento nos aparelhos de aração (MAZOYER e ROUDART , 2001; 
ALMEIDA, 2004). 
Do final do século XIX ao início do século XX, os problemas de escassez 
crônica de alimentos na Europa ficaram mais graves, com intuito de resolver o problema 
de escassez, teve-se um amplo desenvolvimento científico e tecnológico, como os 
fertilizantes químicos, o melhoramento genético e as máquinas de motores à combustão. 
A partir do momento que a indústria passou a produzir e ser estrutura de base para 
certos insumos agrícolas houve rompimento com a prática de rotação de culturas e 
menor integração animal e vegetal. Com estas inovações houve substanciais 
rendimentos das culturas. Essas descobertas levaram a uma especialização dos 
agricultores, observou-se uma nova fase nos sistemas agropecuários, “Segunda 
Revolução Agrícola”, passa se então a ser chamada de Agricultura Industrial, 
Agricultura Convencional ou Agricultura Química (MAZOYER e ROUDART , 2001; 
MONTOYA et al., 2002; PLANETA ORGANICO, 2010). 
Essa revolução agrícola durante o século XX teve como principal característica a 
mecanização, os novos meios de produção agrícola (motores de explosão, elétricos, 
tratores e engenhos) grande mecanização, adubos minerais e produtos de tratamento, 
com novas variedades de plantas e de raças de animais adaptados ao meio de produção 
5 
industrial. A motorização dos transportes por meio de caminhões, caminhos de ferro, 
barcos e aviões tirou o isolamento de determinadas regiões agrícolas e permitiu trazer 
insumos e escoar os produtos de regiões distantes (MAZOYER e ROUDART , 2001). 
A Revolução Agrícola e a evolução dos conhecimentos técnicos e dos 
transportes ferroviários e marítimos tanto influenciou a Revolução Industrial como a 
indústria e estimulou a modernização da agricultura. Essas contribuições conferiram à 
agricultura o estímulo do mercado, além disso, teve-se como de extrema importância o 
apoio de órgãos governamentais; empresas produtoras de insumos; dos incentivo de 
organizações mundiais como oBanco Mundial, o Banco Interamericano de 
Desenvolvimento (BID), a Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional 
(USAID) e a Agência das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação(FAO) 
(PLANETA ORGANICO, 2010). 
A partir da década de 60 esse modelo de agricultura implicou em conceitos 
agressivos aos ecossistemas com o desflorestamento, diminuição da biodiversidade, 
erosão e perda da fertilidade dos solos, contaminação da água, dos animais silvestres e 
dos agricultores por agrotóxicos. Essas conseqüências passaram a ser decorrências 
quase inerentes à produção agrícola. Mesmo assim, houve avanço da agricultura 
convencional, particularmente nos países em desenvolvimento, com o agravamento dos 
danos ambientais (EHLERS, 1993). 
Mesmo com as grandes revoluções na agricultura, não são todos que têm acesso 
as novas tecnologias. Cerca de 80% dos agricultores da África, 40 a 60% da América 
Latina e da Ásia continuam a trabalhar com utensílios manuais, 15 a 30% destes, 
dispõem de tração animal. A agricultura moderna está muito longe de ter conquistado o 
mundo (MAZOYER E ROUDART , 2001). 
1.2 História da agricultura no Brasil 
 
No Brasil, antes da sua “descoberta”, as sociedades indígenas alimentavam-se, 
de peixes e crustáceos, mandioca, cará, milho, amendoim, feijão, abóbora e bata-doce e 
praticavam a caça de pequenos animais. Esta agricultura era praticada de forma bem 
rudimentar, pois utilizava a técnica da coivara (derrubada de mata e queimada para 
6 
limpar o solo para o plantio). Os índios domesticavam animais de pequeno porte como, 
por exemplo, porco do mato e capivara (SZMRECSÁNYI, 1936). 
Os colonizadores europeus, desde o século XVI, iniciaram o extrativismo das 
vegetações e florestas brasileiras como o pau-brasil. De 1500 a 1822, todas as terras 
brasileiras pertenciam a coroa portuguesa, que as doava ou cedia seu direito de uso a 
pessoas de sua confiança ou conveniência, visando a ocupação do território e a 
exploração agrícola. Portugal controlou a posse da terra, através da criação das 
capitanias e das sesmarias, que atendiam as suas necessidades de obtenção de lucro a 
partir da exportação de produtos agrícolas cultivados no sistema de plantation (como a 
cana-de-açúcar seguida pela pecuária extensiva, passando pelos ciclos do ouro, para 
chegar à exploração do café), ou seja, em grandes propriedades com monoculturas, 
escravistas e cuja produção era voltada a exportação (REGO e MARQUES, 2005). 
A agricultura brasileira, enquanto colônia de Portugal, nunca chegou a se 
constituir como um setor econômico, confundindo com o extrativismo e com atividades 
de outra natureza. Só começou a ser considerado um setor econômico diferenciado a 
partir da independência política e na formação no seu interior de uma economia de 
mercado (SZMRECSÁNYI, 1936; REGO e MARQUES, 2005). 
As civilizações que aqui instauraram no período colonial, não foram civilizações 
agrícolas, pois eram mais voltados para colonizadores além de escassez de mão de obra 
e obstáculos ambientais para a agricultura. As lavouras tinham caráter nômade e 
extrativista. A grande propriedade fundiária, a monocultura de exportação e trabalho 
escravo foram os três componentes fundamentais da organização social do Brasil-
colônia. Padrões diversos só podiam ser encontrados em atividades marginais e 
subsidiarias (pecuárias extensivas dos sertões ou pequenas culturas de subsistência). A 
economia colonial era dominada pelo sistema de grande lavoura. As técnicas de cultivo 
eram tão primitivas como no início da colonização. A pecuária se desenvolvia em áreas 
distante das lavouras, nada existia em relação a práticas agrícolas mais complexas, 
como irrigação e seleção de variedades, além do beneficiamento de produtos agrícolas 
serem precários e primitivos. Os motivos do atraso tecnológico na agricultura não 
podem ser atribuídos a escravidão, mas à má qualidade do empresariado rural, baixo 
7 
nível cultural e técnico dos produtores rurais (SZMRECSÁNYI, 1936; REGO e 
MARQUES, 2005). 
As culturas de subsistência acabaram se especializando na produção de poucos 
gêneros e destinados praticamente a consumo local (mandioca, milho e o arroz) e alguns 
produtos podiam ser exportados como o fumo e a aguardente. A maioria dessas culturas 
era desenvolvida dentro dos domínios das grandes lavouras (nos engenhos, fazendas – 
eram auto-suficientes para alimentar seus proprietários e escravos). Mas havia casos em 
que possuíam homens livres que usavam essas terras em troca de favores, esses eram 
destituídos de qualquer capacidade de barganha ou iniciativa, eram paupérrimos, viviam 
em condições um pouco melhor que os escravos. De um modo geral, as culturas de 
subsistência nunca deixaram de ser atividades secundárias e subsidiárias em relação as 
grandes lavouras escravistas de exportação. Da mesma forma que as grandes lavouras 
de exportações, as culturas de subsistência eram praticadas em moldes extensivos, 
nunca chegando a constituir atividades especializadas, intensivas e permanentes. Ao 
mesmo tempo em que politicamente autônomo, o Brasil reforçou sua condição 
primário-exportadora, mantendo por muitos anos tanto a grande lavoura como o 
escravismo no cerne da sua organização social (SZMRECSÁNYI, 1936; REGO e 
MARQUES, 2005). 
Os ciclos econômicos no Brasil eram diretamente relacionados com extrativismo 
e monoculturas. Começando com o pau-brasil sua fase mais intensa da exploração vai 
do período pré-colonial até meados do século XVI. A extração era feita ao longo do 
litoral, do Rio Grande do Norte até o Rio de Janeiro, em sistema de arrendamento 
através de contratos entre o Estado e companhias particulares, que pagavam um quinto 
da extração ao governo português. Em 1605 a Coroa portuguesa regulamenta a 
exploração editando o Regimento do Pau-Brasil. Mas como a exploração foi 
desordenada chegou-se a quase extinção do produto (REGO e MARQUES, 2005; 
COELHO e GRANZIERA, 2009) 
O ciclo da cana-de-açúcar promoveu a ocupação da faixa litorânea do Nordeste. 
A cana, originária do sudeste da Ásia, era plantada pelos portugueses na ilha da Madeira 
desde meados do século XV. Introduzida no Brasil em 1532, expandiu-se rapidamente, 
em especial em Pernambuco e na Bahia. Esse ciclo caracterizou-se pela grande 
8 
propriedade, auto-suficiência das fazendas e pela utilização quase exclusiva da mão-de-
obra escrava (COELHO e GRANZIERA, 2009). 
 O ciclo do ouro e dos diamantes no Brasil, começou pela descoberta dos 
bandeirantes no final do século XVII, deu origem a cidades como Ouro Preto, Mariana, 
Sabará e S. João Del Rei. Este ciclo foi caracterizado pela intensiva exploração, sem 
qualquer preocupação de sustentabilidade ou de desenvolvimento (REGO e 
MARQUES, 2005). 
O Ciclo do café refletiu-se na sua expansão geográfica. Difundiu-se pelo Vale do 
Paraíba, Sul de Minas, Espírito Santo, Campinas, Ribeirão Preto, Araraquara, norte do 
Paraná e Mato Grosso. Na década de 1820 o café ocupava o terceiro lugar (18%) na 
pauta das exportações do Brasil, atrás do açúcar e algodão, nas duas décadas seguintes 
passaria para o primeiro lugar (40%). Essa expansão deu origem a um novo ciclo de 
crescimento da economia primário-exportadora do país; isso fez deslocar o eixo da 
economia brasileira do Nordeste para o Sudeste e vincularam novos parceiros 
comerciais e financeiros em especial os EUA e criou bases para industrialização, um 
processo que acabaria levando a profundas mudanças. O café chegou a representar cerca 
de 70% das exportações brasileiras na década de 1920. Hoje, os principais produtores 
são Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Bahia (SZMRECSÁNYI, 1936; REGO e 
MARQUES, 2005).O cacau no Brasil começou a ser plantado ao invés de apenas coletado na 
floresta amazônica, com a decadência das plantações no Pará, devido o crescente 
interesse pela borracha, transferiu-se definitivamente para o sul da Bahia, os métodos do 
cultivo e beneficiamento dessa planta pouco mudaram. No sul da Bahia o cacau 
encontrou boas condições edafoclimáticas. Em 1783, a lavoura cacaueira já era 
importante na região de Ilhéus. A produção na Bahia firmou-se no século XIX, 
tornando-se um fator importante para o desenvolvimento regional e originando uma 
importante fase econômica denominado de ciclo do cacau (REGO e MARQUES, 2005). 
Entre a época da mineração e o advento do café, do final do século XVIII a 
meados de 1830, passada a euforia inicial da extração do ouro, começou a surgir áreas 
de agricultura e pecuária ao longo dos caminhos para os depósitos auríferos. Essas 
atividades passam a ser lucrativas por causa do crescimento demográfico. Algodão, 
9 
tabaco e cacau tornam-se os principais produtos agrícolas de exportação. Os maiores 
centros produtores de algodão surgem no Nordeste (Maranhão e Pernambuco), o tabaco 
funciona, ao longo do século XVII, como moeda de troca para aquisição de escravos 
nos mercados da costa africana (SZMRECSÁNYI, 1936; COELHO e GRANZIERA, 
2009). 
Importantes progressos ocorreram em compensação na cultura algodoeira, com a 
introdução do algodão herbáceo e o início da sua produção em larga escala na província 
de São Paulo, teve um considerável impulso com a guerra civil dos EUA, na década de 
1860, depois o algodão brasileiro perdeu acesso aos mercados externos devido a sua 
falta de competitividade, contudo com a sua repentina expansão ajudou a criar as bases 
para o surgimento de uma florescente indústria têxtil (SZMRECSÁNYI, 1936). 
As imigrações proporcionaram um grande avanço quantitativo e qualitativo para 
a agricultura brasileira, muito mais nas regiões afetadas por mudanças da escravidão 
para trabalhadores livres. Graças a esse novo regime expandiu outros cultivos e as mais 
diversas atividades agrícolas e não-agrícolas, foi a imigração que criou condições 
necessárias para o crescimento e a diversificação da economia (SZMRECSÁNYI, 
1936). 
2. AGRONEGÓCIO 
 
Dentro de qualquer país a atividade econômica é dividida em três setores, o 
primário, secundário e terciário. No setor primário encontram-se os produtos poucos 
processados, utilizam grande quantidade de trabalho e terra. No setor secundário 
encontram-se atividades que processam e/ou combinam produtos primários, nesse setor 
há grande uso do fator capital. No setor terciário define-se como o conjunto de 
atividades que prestam serviços, seja para ele mesmo ou para os outros setores da 
economia (BACHA, 2007). 
No entanto, a agricultura não pode ser abordada de maneira independente dos 
outros setores responsáveis por todas as atividades que garantam a produção, deve se 
considerar a atividade agrícola como parte de uma extensa rede de agentes econômicos 
que vai desde a produção de insumos, transformação industrial até armazenagem e 
distribuição de produtos agrícolas e derivados (BATALHA, 2001). 
10 
Como exemplo que diferencia os setores da economia e o agronegócio, tem-se o 
caso brasileiro. O Brasil sendo a oitava economia do mundo em 2009, com um Produto 
Interno Bruto – PIB de 1.572 bilhões de dólares, cerca de 2,7% do PIB mundial. Tem na 
economia uma grande participação do setor de serviços (setor terciário) com 68,53% do 
PIB, seguidos da indústria (setor secundário) com 25,40% e a agropecuária (setor 
primário) com 6,07%. No entanto ao se analisar o agronegócio, a sua participação ficou 
com 26,5% do PIB brasileiro (IBGE, 2010). 
Observa-se que nesses três setores existe uma intensa complementaridade entre 
eles. Dentro dessa forte relação surgem agrupamentos de novas atividades e subsetores 
que se confundem entre eles, através dessa inter-relação encontra-se o conceito de 
agronegócio. 
Esse conceito teve como ponto de partida pelos dos trabalhos de dois 
pesquisadores John David e Ray Goldberg da Universidade de Havard, eles criaram o 
conceito Agribusiness (agronegócio) como sendo a soma das operações de produção e 
distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção nas unidades 
agrícolas, do armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e 
itens produzidos a partir deles (BATALHA, 2001). 
Durante a década de 60 surge na escola francesa a noção de analyse de filière 
que traduzida fica sendo cadeia de produção, isso se aplica a seqüência de atividades 
que transformam uma commodity em um produto para o consumo final. No entanto, 
esse conceito pode ser definido de diversas maneiras, ficando um termo vago 
((BATALHA, 2001; MONTOYA et al, 2002). 
 Ambos os conceitos realizam cortes verticais no sistema econômico a partir de 
determinado produto final ou parte de uma matéria prima de base para estudar sua 
lógica e funcionamento, ou seja, ambos abandonam a velha divisão em três setores 
(agricultura, indústria e serviço). Parte da noção de que a agricultura deve ser vista 
dentro de um sistema mais amplo, utilizam a noção sucessão de etapas produtivas, 
desde a produção de insumos até o produto acabado, destacam os aspectos dinâmicos do 
sistema. As diferenças dos conceitos são relativas na importância dada ao consumidor 
final como agente dinamizador da cadeia (BATALHA, 2001). 
11 
Segundo Malassis (1969), a estrutura do agronegócio está dividida em três 
partes: parte anterior à produção rural ou montante do agronegócio; a produção rural e 
setores que recebem a produção dos produtores rurais ou jusante do agronegócio. 
O setor agropecuário como o restante das economias capitalistas, não tem função 
apenas de produzir, mas é preciso interagir com outros setores; com outros 
estabelecimentos agropecuários, intermediários comerciais ou industriais e para 
consumo final. As indústrias que compram ou recebe produtos agropecuários para 
transformá-los em produtos industrializados são denominadas em agroindústrias, fazem 
parte de vários ramos ou subsetores do setor industrial e juntamente com o setor 
agropecuário com as indústrias fornecedoras de insumos e equipamentos. Enquanto que 
os ramos dos produtores de insumos e equipamentos são definidos como indústria para 
a agricultura, os ramos propriamente agroindustriais constituem a chamada industria da 
agricultura (SZMRECSÁNYI, 1936; BACHA, 2007). 
O que é novo na agroindústria é também na produção industrial de insumos e 
equipamentos para a agricultura. Por industrialização da agricultura entende-se a 
adaptação dos processos produtivos da indústria de transformação aos processos 
produtivos do setor agropecuário. Foi no período de 1930 a 1970 que se completou a 
integração funcional dos setores agropecuários e industrial na economia brasileira. 
Como resultados dessa integração ambos tiveram desenvolvimento não apenas regional 
mais em níveis nacionais, diversificação da produção, crescimento agropecuário, maior 
migração rural-urbana, expansão da fronteira agrícola e aumento da produtividade 
(SZMRECSÁNYI, 1936). 
A partir dessa visão, é importante mensurar o agronegócio em 3 partes
1
 (setores 
do agronegócio) para sua análise evolutiva . No entanto, ao se analisar o que significa 
fazer ou não parte do agronegócio dentro do setor industrial e comercial, observa-se 
limitações metodológicas para determinar a dimensão econômica desse conceito. 
Existem alguns trabalhos que abordam de diferentes formas esse conceito, ou seja, 
alguns trabalhos definem uma indústria e comercialização como parte do agronegócio 
se existe uma considerável participação do produto rural novalor total dos insumos 
utilizados na transformação; outros conceitos apresentam como à natureza do 
 
1
 Esses setores são: a indústria para a agricultura; agropecuária; e agroindústria-comercialização 
12 
processamento da matéria-prima oriunda do setor rural e, outros consideram a 
capacidade de investimento, inovação tecnológica, níveis de concentração de mercados 
e os impactos sobre o setor (MONTOYA e GUILHOTO, 2000). 
Segundo Furtuoso e Guilhoto (2000), cerca de 70% da produção agropecuária 
são utilizados em outros setores da economia, sendo que agroindústria e 
comercialização absorve, aproximadamente, 72% desse total. Esses são os segmentos 
que mais crescem no agronegócio, enquanto que a participação relativa da agropecuária 
e indústria para a agricultura tende a diminuir. O resultado é que o segmento de 
agroindústria e a comercialização são os que mais concentram renda no agronegócio. 
 
2.1 Sistema agroindústrial (SAI) 
 
Segundo Batalha (2001), pode ser considerado o conjunto de atividades que 
concorrem para a produção de produtos agroindustriais, desde a produção de insumos 
(sementes, adubos, máquinas agrícolas etc.) até a chegada do produto final (queijo, 
biscoito, massa etc.) ao consumidor. Aproxima-se bastante do termo agronegócio
2
, pode 
ser visto como composição de seis conjuntos de atores (1) agricultura, pecuária e pesca; 
(2) indústrias agroalimentares; (3) distribuição agrícola e alimentar; (4) comércio 
internacional; (5) consumidor e (6) indústria e serviço de apoio. 
Na figura 1, encontra-se um exemplo de um SAI do agronegócio brasileiro do 
milho, observa-se todos os setores interagindo entre si, começando com “Fornecedores 
de Insumos, Máquinas e Equipamentos” até o segmento mais próximo do consumidor 
final “Distribuição e Varejo Nacional e Internacional” 
 
 
2
 São definições muito próximas, o que diferencia são os aspectos dinâmicos associados ao agronegócio 
13 
 
 
 
Figura 1 - Sistema Agroindustrial do Milho no Brasil 
Fonte: Adaptado de SOUZA et al.(1998). 
 
2.2 Complexo agroindústrial 
 
Denomina-se complexo agroindustrial
3
 (CAI) ou agribusiness (agronegócio) o 
conjunto de atividades realizadas pela agropecuária e pelos setores diretamente a ela 
vinculados. Apresenta uma visão sistêmica da economia, como segmentos que 
fornecem insumos à agropecuária e segmentos que trabalham com a transformação 
industrial e distribuição dos produtos in natura ou transformados (BACHA, 2007). 
Dessa forma, tem como ponto de partida determinada matéria-prima de base 
(complexo de soja, complexo cana-de-açúcar, complexo café etc.), ou seja, é ditada pela 
matéria-prima que originou os diferentes processos industriais e comerciais que ela 
pode sofrer até se transformar em diferentes produtos finais. Portanto, formação de um 
complexo agroindustrial exige a participação de um conjunto de cadeias de produção, 
 
3
 Complexo agroindustrial pode se considerado como a definição limitada do agronegócio para 
determinada cultura; ex: “ Agronegócio da soja”. 
14 
cada uma delas associadas a um produto ou família de produtos (BATALHA, 2001). Na 
figura 2 observa-se um exemplo de complexo agroindustrial no Brasil. 
 
 
Figura 2 – Complexo Agroindustrial Citrícola Brasileiro 
Fonte: Adaptado de Paulilo (1999). 
 
2.3 Cadeia de produção agroindustrial 
 
As complexas cadeias dos agronegócios são compostas por empresas 
fornecedoras de insumos, dos produtores, das indústrias processadoras e seus insumos 
(embalagens, aditivos), dos distribuidores (atacadistas, varejistas, restaurantes) e 
prestadores de serviços (transportadoras, bancos, certificadoras, estocadores, 
financeiras, operadores logísticos) visando a satisfazer o consumidor final (NEVES, 
2005). 
Elas podem ser analisadas de uma escala macroeconômica (agregados 
econômicos) para uma escala microeconômica (unidades da base da economia), são 
consideradas como um sistema organizado de processo de fabricação e operações, ou 
15 
seja, cada operação só poderá ser executada quando a anterior estiver sendo concluída. 
Pode ser definida como conjugado de subsetores de produção que se relacionam com 
cumplicidade simultânea, são sucessões de operações de transformações dissociáveis, 
capazes de serem agregadas ou desagregadas de acordo com a necessidade da 
tecnologia e de resposta do mercado, são também consideradas como o conjunto de 
relações de comércio e financeiro, um fluxo de trocas de montante a jusante, ou seja, de 
fornecedor a cliente, assegurando as operações do sistema (ZUIN et al., 2006) 
Ela pode ser segmentada, em três macros segmentos: 
1) Comercialização – empresas em contato com o cliente final da cadeia de 
produção e que viabilizam o consumo e o comércio dos produtos finais (supermercados, 
mercearias, restaurantes, logística etc.); 
2) Industrialização – firmas responsáveis pela transformação de matérias-primas 
em produtos finais destinados ao consumidor (pode ser tanto uma família quanto outra 
firma); 
3) Produção de matérias-primas – Firmas que fornecem as matérias primas iniciais 
para que as outras empresas avancem no processo de produção do produto final 
(agricultura, pecuária, pesca etc.). 
Segundo Batalha (2001) as principais utilizações para o conceito de cadeia 
agroindustrial são: 
1) Cadeias de produção como ferramentas de análise e formulação de políticas 
públicas e privadas que busca identificar os elos fracos da cadeia de produção e 
incentivá-los através de uma política adequada, permite uma melhor coordenação entre 
os agentes envolvidos diretamente com as atividades da cadeia de produção. 
2) Na definição de uma cadeia sobre a ótica técnica-econômica, como soma de 
todas as operações de produção e comercialização que foram necessárias para passar de 
uma ou várias matérias primas de base a um produto final. 
3) A cadeia de produção como metodologia de análise da estratégia das firmas 
pode ser analisada como estratégia de maximização de lucro trabalhando nas duas 
pontas da cadeia (venda do produto – custo de produção), também são considerados os 
aspectos ambientais de sobrevivência da firma no meio concorrencial. É preciso 
observar às diversificações dentro dos setores as atividades existentes [as relações 
16 
comerciais diretas (clientes e fornecedores); relações comerciais indiretas (fluxo de 
compra e venda dos clientes e fornecedores); as relações tecnológicas (elemento base da 
construção da cadeia)]. Outra estratégia seria a penetração em uma cadeia de produção 
na qual a empresa está ausente, essa estratégia deve permitir-lhe influenciar a dinâmica 
concorrencial da cadeia de produção com objetivo de conseguir vantagens competitivas 
(uma das estratégias seria obter controle da cadeia de produção). 
4) A cadeia de produção como espaço de análise das inovações tecnológicas tem 
como objetivo dinamizar a concorrência no interior de uma cadeia de produção, as 
operações técnicas podem ser classificadas segundo seu conteúdo tecnológico como: 
tecnologia de base (operações necessárias a atividade, porém sem impacto competitivo 
importante); tecnologias chaves (determinadas do ponto de vista concorrencial, estão 
associadas às operações chaves); tecnologias emergentes (ligadas a tecnologias 
importantes da evolução do sistema). 
 Na figura 3, encontra-se um exemplo em disposição de duas cadeias de produção 
agroindustrial (CPA), observa-se a segmentação em 3 setores (Produção de matérias-
primas, Industrialização e Comercialização) cada qual exigindo determinadasoperações; dependendo do segmento, as operações podem interagir de forma 
complementar (operações 7 e 10) para suprir determinada demanda de matéria-
prima/serviços.
 
Figura 3 – Sistema de Produção Composta por duas Cadeias de Produção 
Agroindustriais. 
Fonte: Adaptado de Batalha (1995). 
17 
2.4 Gestão de cadeias de suprimentos 
 
Segundo Zuin et al. (2006) as principal diferença entre cadeia de produção e 
cadeia de suprimentos, é que a primeira define somente as atividades envolvidas no 
processo de fabricação, e a segunda, além de englobar o primeiro conceito, amplia o 
conceito também para as atividades relacionadas à logística das unidades produtivas. As 
principais ideias sobre cadeia de suprimentos são: 
1) É responsável por todo o esforço envolvido na produção e distribuição do 
produto final, do fornecedor do fornecedor ao cliente do cliente. Esse esforço é 
assegurado pelo planejamento, compras, fabricação e distribuição, além de abranger a 
gestão de fornecimento, a demanda, a compra de matérias-primas e de produtos 
intermediários, a fabricação e montagem, a gestão de estoques, a distribuição através de 
vários canais e a entrega ao cliente; 
2) Conjunto de todas as atividades envolvidas com a movimentação de bens, desde 
as matérias-primas até o usuário final. Incluindo compras e aquisições, programação da 
produção, ordem de fabricação, inventário, transporte, armazenamento e serviços ao 
cliente. 
Dessa forma, com a necessidade de dar respostas mais rápidas e dinâmicas às 
oportunidades de negócios tona-se necessário a coordenação entre as atividades de 
produção e de distribuição desenvolvidas nas empresas ao longo de uma cadeia de 
produção. A gestão desse conjunto de etapas chama se de gestão de cadeias e 
suprimentos, a eficiência ao longo do canal de distribuição pode ser melhorada pelo 
compartilhamento de informação e do planejamento conjunto entre seus diversos 
agentes, com integração de todas as atividades da cadeia mediante melhoria nos 
relacionamentos entres seus diversos elos ou agentes, construindo vantagens 
competitivas sustentáveis (BATALHA, 2001; ZUIN et al., 2006). 
A busca dessa sintonia é exatamente o que a gestão de cadeias e suprimentos 
tem como objetivo. A grande questão enfrentada pelos varejos, indústrias e prestadores 
de serviços é como construir essa sintonia, aumentando a competitividade de toda a 
cadeia. A base conceitual da gestão de cadeias e suprimentos é composta por três 
elementos relacionados: a sua estrutura (elos envolvidos), os componentes de gestão 
18 
[planejamento e controle (estrutura de produtos); estrutura do trabalho (método de 
gestão); estrutura organizacional (estrutura de poder de liderança); estrutura de 
instalações para o fluxo de produtos (estrutura de riscos e recompensas); estrutura de 
instalações para o fluxo de informações (cultura e atitude)] e os processos de negócios 
(administração do relacionamento com clientes; administração do serviço ao cliente; 
administração da demanda; atendimento dos pedidos; administração do fluxo de 
produção; suprimentos; desenvolvimento e comercialização de produtos; canais de 
devolução) (BATALHA, 2001). 
 
 
Figura 4 – Exemplo de Gestão de Cadeias e Suprimentos 
 
Fonte: Elaborado pelos autores 
 
 
 
 
 
 
19 
3. IMPERFEIÇÕES DE MERCADO E INTEGRAÇÃO 
 
Segundo Vian e Pitelli (2005), as imperfeições de mercado são responsáveis por 
mudanças estruturais no comportamento das empresas/firmas. Podem-se encontrar 
características de mercado que define a maneira e a forma que uma empresa/firma deve 
atuar. Dependendo da estrutura/características de mercado (demanda, oferta, estrutura, 
conduta e desempenho) e da estrutura de produção (preços, custos, receitas, lucros), esse 
mercado pode ser de concorrência perfeita (número pulverizado de empresa/firma,), 
monopólios (uma só empresa/firma), oligopólios (poucas empresa/firma) e concorrência 
monopolística (empresa/firma atua no mercado diferenciando produtos). 
Dentro de cada uma dessas abordagens encontra-se o sistema de comercialização 
dos produtos agropecuários que são afetados por essas características de mercado, esse 
sistema é diferente para cada produto/empresa/firma/elo/cadeia, pois são as mudanças 
institucionais, tecnológicas e de hábitos de consumo que podem mudar o 
comportamento competitivo. Dessa forma, para analisar o desempenho dos mercados 
agropecuários é importante conhecer sua estrutura através de modelos econômicos que 
explicam seu comportamento (AGUIAR, 2000). 
Uma teoria que explica o processo de estratégias das firmas para otimizar a 
utilização dos recursos e buscar competitividade, é a economia dos custos de transações. 
Os custos de transações são custos associados à coleta de informações e 
estabelecimentos de contratos, ou seja, a empresa/firma poderia se organizar na busca 
de redução de custos (COASE, 1937). 
Através desse processo, surgem ferramentas e mudanças estruturais que 
auxiliam as empresas na tomadas de decisões, como viabilidade de diferentes formas de 
contratos entre empresas/firmas, bolsa de mercadorias e futuros, associações, 
cooperativas, integrações verticais e horizontais, diversificação na produção, escala de 
produção e diferenciação de produto (BLAIR, 1983; AGUIAR, 2000; MARQUES e 
MELLO, 1999). 
Uma das estratégias bastante utilizada pelas empresas/firmas agropecuárias é o 
processo de integração. No agronegócio é comum verificar empresa/firma com maior 
poder de barganha, mais organizada e com maior poder de mercado, ditar o 
20 
comportamento de uma determinada cadeia. Esse processo está diretamente relacionado 
com o custo de transação, ou seja, quando o custo de transação excede o preço recebido 
pelo produtor/vendedor, existe uma grande possibilidade de se integrar vertical ou 
horizontalmente com as outras empresas (BLAIR, 1983). 
Segundo Frei (2003) integração vertical é a execução de vários processos dos 
elos da cadeia por uma só empresa para estratégia competitiva da mesma. Os tipos de 
integração vertical podem ser: Parcial (realiza parte de uma atividade, mas depende de 
outro elo); quase-integração (contratos de longo prazo); integração a montante (a 
empresa realiza atividade que antes era do fornecedor); e integração vertical a jusante (a 
empresa realiza atividade que antes era do cliente). 
No caso de uma integração horizontal se estabelece quando é viável implantar 
cooperativas para aumentar o poder de barganha e redução de custos para os produtores; 
para clusters ou arranjos produtivos locais elos da cadeia com produtos similares na 
mesma região; nos investimento entre o setor produtivo e o de infra-estrutura de 
transporte e em parcerias de produção de empresas diferentes (ROSA, 2004). 
Ao estudar os conceitos do agronegócio é preciso entender todo o processo de 
sua formação como a evolução da agropecuária, modernização dos meios de produção, 
tecnologia e mudanças conjunturais e a partir daí entender as principais abordagens que 
auxiliam na sua análise. Esse conhecimento é importante para o desenvolvimento de 
estratégias e metodologias que auxiliam na tomada de decisões em cada elo da cadeia, 
na harmonia/sinergia de sua estrutura e nos elementos externos que afetam diretamente 
sua competitividade. 
 
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
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5. Características gerais dos principais setores agrícolas e pecuários no Brasil 
Daniel Henrique Dario Capitani, Daniel Y. SonodaA agropecuária, historicamente, sempre desempenhou um papel de destaque na 
economia brasileira. Nas últimas décadas, muitas culturas produzidas no país obtiveram 
significativo aumento de produtividade e ganhos de escala, de acordo com dados do 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2010). Outro ponto a salientar foi 
a abertura econômica no início da década de 1990, e o impulso dado a diferentes setores 
da economia brasileira, após um início de década conturbado politicamente e 
economicamente. 
 A globalização forçou que muitos setores reduzissem seus custos, seja através de 
investimentos em novas tecnologias, seja em reestruturação dos procedimentos 
gerenciais adotados. Além disso, possibilitou que o comércio mundial se elevasse, com 
quedas de barreiras tarifárias entre países, principalmente no setor industrial. Em suma, 
25 
incentivou que os países investissem nos setores com maior vantagem competitiva, e 
que gerassem superávits no saldo da balança comercial, e consequentemente, maiores 
divisas. 
 Entretanto, muitos países se mostraram resistentes à redução de barreiras 
tarifárias na agricultura, sobretudo países desenvolvidos, como EUA, Japão e União 
Européia, com a alegação de que a persistência de barreiras se dá com o intuito de 
garantir a segurança alimentar de sua população e sustentar práticas ambientalmente 
corretas no campo. 
 Contudo, mesmo com algumas restrições ao comércio mundial de commodities o 
Brasil se destacou neste período. Ganhos de produtividade, redução de custos, maior 
independência de produtores e desenvolvimento de uma agroindústria integrada, 
impulsionaram o setor, mesmo com a redução de suportes do governo e elevadas taxas 
de juros, oriundas de uma política fiscal rígida, que por sua vez, desestimulava a 
aquisição de empréstimos ao mesmo tempo em que expunha os produtores a maiores 
riscos de preços
4
. 
 De acordo com dados da Food and Agricultural Organization - FAO (2008), as 
exportações brasileiras de produtos agrícolas ganharam destaque no mercado mundial, 
sobretudo pelo baixo custo de produção, se comparados a outros países, e devido a 
menores oscilações de preços, dado um aumento no consumo interno e situação 
macroeconômica estável. 
 O choque positivo nas exportações estimularam o aumento da produção agrícola 
brasileira, a qual foi superior a 100% entre 1990 e 2005 (IBGE, 2005). Algumas 
culturas se consolidaram como carro-chefe do agronegócio brasileiro, como a cana-de-
açúcar, e outras tiveram um aumento expressivo, devido tanto ao aumento do comércio 
internacional, quanto ao maior consumo interno, como o caso da carne de frango. 
 
4
 Pois com a redução de suporte gorvernamental, muitos setores em que o governo garantia um preço 
mínimo, passaram a concorrer diretamente com preços de mercados, muitas vezes influenciados pelos 
preços das commodities no mercado internacional. 
26 
 O Brasil ocupa atualmente posições de destaque na produção mundial de cana-
de-açúcar, carne bovina, carne de frango, carne suína, laranja, café, soja, milho, 
algodão, leite, arroz e frutas tropicais, além do setor florestal (para produção de papel e 
celulose) e bio-energético (como os bio-combustíveis etanol e biodiesel), sendo um dos 
maiores produtores agrícolas do mundo, atrás de China, União Européia e EUA (FAO, 
2008). 
 Em termos de comércio internacional, o país se destaca na exportação das 
seguintes commodities: açúcar, etanol, carne bovina, carne de frango, carne suína, suco 
de laranja, café, soja, algodão e frutas tropicais, ficando aquém apenas dos EUA e 
União Européia. 
 Vale salientar que a taxa de crescimento da produção e exportação agrícola 
brasileira tem permanecido acima da média mundial nas últimas décadas, e a 
expectativa é de que a participação brasileira aumente ainda mais no cenário 
internacional, por diversas razões. 
 A primeira se dá pela gradual queda de barreiras tarifárias e sanitárias de países 
desenvolvidos, que necessitam reduzir o dispêndio com o protecionismo local, além de 
perder recentes “batalhas” na Organização Mundial do Comércio - OMC, a partir de 
pedidos de retaliações por parte de países que alegam desvios de comércio decorrentes 
do protecionismo de alguns países e blocos econômicos. 
 Segundo, devido ao fato do Brasil possuir áreas agricultáveis ainda não 
aproveitadas, em áreas que hoje já foram incorporadas aos cinturões produtivos das 
regiões de fronteiras agrícolas. 
 O terceiro ponto se refere ao avanço tecnológico, mecanização no campo, 
capitalização dos produtores e maior integração com a indústria e desenvolvimento de 
variedades adaptadas a condições climáticas diversas, assim como ocorreu com a 
expansão da soja no Centro-Oeste, a partir do meio da década de 1990. Por fim, espera-
se um crescimento considerável na economia brasileira nos próximos anos, de acordo 
com estimativas do Fundo Monetário Internacional - FMI, e Banco Central do Brasil - 
BACEN, e consequentemente, um aumento no consumo e demanda por alimentos 
27 
processados, o que deve impulsionar a agropecuária local, ao mesmo tempo em que 
investirá em qualidade e produtos diferenciados, abrindo oportunidades de exportação 
destes produtos agregados a outros mercados, hoje abertos apenas às commodities in-
natura, ou seja, ao produto bruto. 
 O agronegócio brasileiro desempenha, historicamente, importante papel 
desenvolvimentista em todas as regiões do país, cada qual com suas particularidades e 
características próprias. As áreas de fronteiras agrícolas estabelecidas ao longo do 
último século se destacam no cenário nacional, como a região Sul, na produção de 
grãos, suínos, aves e pecuária de corte, a região Centro-Oeste, na produção de grãos e 
pecuária, e recentemente suínos e aves, a região Nordeste, com a tecnificada produção 
de frutas no semi-árido, além da cana-de-açúcar no litoral, e a região Sudeste, com 
diversas culturas, entre elas a cana-de-açúcar, pecuária em geral, café, citricultura e 
grãos. 
 
6. ETAPAS DOS PRINCIPAIS SISTEMAS DE PRODUÇÃO 
AGROPECUÁRIOS
5
 
 
Respeitanto as peculiaridades de cada sistema agronômico de produção, 
pretende-se apresentar algumas características comuns de cultivo para familiarizar o 
leitor da ordem em que os eventos agrícolas ocorrem. Primeiramente, deve-se ter em 
mente que as etapas básicas das atividades agrícolas, em geral, se referem ao preparo do 
solo, plantio, manejo da cultura, colheita e pós colheita (secagem ou acondicionamento 
e armazenamento), até a comercialização das commodities, conforme figura 1. 
 
5
 Este tópico objetiva apenas dar a noção básica ao leitor sobre as principais etapas nos processos 
produtivos agrícolas e pecuários das principais commodities produzidas no Brasil. Para maior 
detalhamento, consultar trabalhos mencionados nas referências desta apostila, ou materiais específicos 
presentes em diversas bases de artigos, livros e teses da literatura nacional e internacional. 
28 
 
Figura 4 - Fluxograma generalizado dos sistemas produtivos agrícolas 
Fonte: Dados da pesquisa. 
 
Obviamente, cada cultura apresenta características peculiares a elas próprias, 
podendo haver etapas intermediárias adicionais às apresentadas
6
, ou mesmo diferenças 
quanto ao tipo de atividade, como por exemplo, se a cultura é sazonal (grãos), semi 
perene (cana de açúcar), perene (laranja). No caso de culturas perenes e semi perenes, 
adicionam-se ao processo a reforma da área cultivada após o término do ciclo ótimo de 
produção da cultura, a abertura de covas antes do plantio de mudas, entre outros. 
 Em relaçãoao preparo do solo, pode-se considerar o plantio convencional, ou o 
plantio direto. No primeiro, há maior movimentação de solo (uso de grades e arados), 
enquanto no segundo, a implantação de novo ciclo da cultura é feito em solo pouco ou 
não-revolvido, e protegido por cobertura morta proveniente de restos culturais ou 
cobertura vegetal cultivadas para esta finalidade. 
 No plantio de grãos, em geral
7
, utiliza-se a semeadora-adubadora, implemento 
que realiza a semeadura e a adubação no sulco de plantio numa mesma operação, 
tomando cuidado para não deixar a semente em contato direto com o fertilizante. 
 
6
 Como por exemplo, o caso do arroz irrigado, cuja irrigação é realizada após o manejo, alagando-se a 
área cultivada, e posteriormente, drenando-se esta área alagada para a colheita do ceral. 
7
 Como o caso das culturas graneleiras, como soja, milho, arroz e trigo. 
29 
 Já na etapa de manejo, se dá o controle preventivo, cultural, mecânico e químico. 
O método preventivo pode ser feito através do uso de sementes de boa procedência. 
Como controle cultural, o espaçamento deve ser adequado de maneira a favorecer o 
fechamento e sombreamento do solo, aplicação de adubo em linha, adubação de 
cobertura e rotação de cultura. O controle mecânico é a capina da área, que pode ser 
feita manualmente ou através de cultivadores, arados e grades. O controle químico é o 
mais utilizado atualmente por produtores e se dá pela aplicação de herbicidas para 
combate de plantas daninhas. Além disso, a aplicação de fungicidas (combate a doenças 
fúngicas) e pesticidas (combate a insetos e ácaros) são realizadas, costumeiramente, 
nesta etapa. 
 No que se refere a colheita, esta constitui uma importante etapa no processo 
produtivo agrícola. A colheita deve ser realizada no momento exato em que a planta 
atinge o estágio fenológico ideal, para que não haja perdas quantitativas e/ou 
qualitativas. Terminada a colheita, a produção deve ser transportada para os locais de 
beneficamento e armazenagem, a fim de que passem por processo de pós colheita, 
limpeza, secagem (grãos) ou seleção e embalagem (frutas), depois sejam armazenadas 
ou comercializadas. 
 Conforme mencionado, outras atividades podem ser consideradas, dependendo 
do tipo de cultura. No caso do café, existe ainda a etapa de preparo, após a colheita, 
onde haverá a separação das impurezas, a maturação dos frutos, a eliminação da casca e 
secagem do fruto. Na citricultura e viticultura, existe ainda a etapa de beneficiamento da 
fruta que não irá para mesa, transformando as mesmas em sucos concentrados ou 
vinhos, respectivamente. Já o caso da orizicultura em sistema irrigado, há o alagamento 
das áreas de lavoura após o manejo e a drenagem anterior à colheita. No caso da 
triticultura, cotonicultura e cana de açúcar, verifica-se a necessidade da aplicação de 
maturadores. Na cotonicultura, ainda, existe a etapa de aplicação de desfolhantes, 
dessecantes e maturadores dias antes da colheita, além da destruição dos restos vegetais 
após a colheita (a fim de se evitar a proliferação de pragas e doenças). 
 Ao considerar as principais atividades de criação animal no Brasil, ressaltam-se 
as etapas do processo anteriores ao início do ciclo produtivo, principalmente no que se 
refere ao confinamento. Estas atividades vão desde o cruzamento de espécies 
30 
selecionadas até o fornecimento de matrizes para produção. Outras etapas referentes à 
pecuária são o período de acompanhamento do crescimento dos animais e manejo, que 
se referem à alimentação dos mesmos, vacinação, estrutura física, ventilação e 
temperatura do local, entre outros. Após o ciclo de crescimento e abate, sucedido pela 
comercialização, deve-se ater à limpeza e desinfecção do local, até o período de 
produção do novo ciclo. Estas características são peculiares, principalmente, à 
suinocultura, avicultura e bovinocultura leiteira. Para maior elucidação, observa-se na 
figura 2, o fluxograma de produção da suinocultura. 
 
 
Figura 5 - Fluxograma do sistema produtivo de suínos 
Fonte: Dados da pesquisa. 
 
 No caso de confinamento de bovinos para corte, adiciona-se ainda a etapa de 
adaptação e separação de lotes homogêneos por baia, respeitando-se o peso, raça e sexo 
dos bovinos. Além disso, novas etapas de pesagem dos animais são incluídas no 
processo. Já no caso do confinamento de bovinos leiteiros, incluem-se as etapas de 
ordenha e armazenagem do leite em condições apropriadas. No caso da ordenha, os 
animais são submetidos em média (à ordenha) duas vezes por dia, o que explica o fato 
do cuidado com o deslocamento mínimo dos animais ao longo do dia, evitando-se 
estresse do animal e otimizando o tempo para extração do leite . 
31 
7. DESCRIÇÃO DOS SETORES 
 
 
6.1 Dados gerais da produção de café 
 
O café, produto de grande importância para agricultura brasileira, sobretudo no 
século XIX, é atualmente um dos itens mais tradicionais da pauta de exportação do 
agronegócio brasileiro. O Brasil se apresenta como o principal produtor mundial, com 
34,5 milhões de sacas em 2009
8
 (equivalente a 2,4 milhões de toneladas). Atualmente, a 
produção brasileira correspondente a aproximadamente 30% do volume total mundial 
produzido, sendo que seus principais concorrentes no mercado mundial estão muito 
aquém desse percentual de participação. Apesar disso, de acordo com dados fornecidos 
anualmente pelo IBGE, a produção de café brasileira decresceu a um patamar próximo 
de 30% na última década, onde chegou a alcançar entre 1998 a 2001, patamares de 
produção acima de 3,2 milhões de toneladas. 
 É necessário salientar, entretanto, que o consumo de café no Brasil também está 
entre os maiores do mundo, atrás somente dos EUA. Atualmente o Brasil consume 
cerca de metade de sua produção, com o restante sendo destinados à exportação ou 
estocagem. Entretanto, destaca-se que este consumo interno tem crescido a uma taxa 
média de 4% ao ano, desde a última década, em detrimento a 1,5% ao ano na média 
 
8
 Contudo, deve-se prestar atenção ao fato de que a cafeicultura apresenta uma alteração significativa de 
produção de um ano para outro, em decorrência da bi anualidade da cultura. 
32 
mundial. Segundo relatório da FIESP (2008), este avanço tem sido obtido graças à 
consolidação dos mercados de cafés gourmet e especiais no país, algo já recorrente há 
algum tempo em países desenvolvidos e que se destacam pelo alto consumo per capita 
de café, como a Alemanha, França e Itália, e EUA. 
 Com uma área cultivada acima de 2,3 milhões de hectares em 2009, o café é a 5ª 
cultura agrícola em uso de terras no Brasil, situando-se atrás apenas das culturas da soja, 
milho, cana-de-açúcar e arroz. Mais da metade da produção está concentrada no Estado 
de Minas Gerais. Além deste, São Paulo, Paraná, Espírito Santo e Bahia são os outros 
Estados com alguma representatividade do cultivo de café, sendo os três primeiros, 
historicamente tradicionais produtores de café, e o quarto, produtor recente e que vem 
ganhando espaço na cultura cafeeira desde a década de 1990. Outro ponto importante a 
se ressaltar é que a cultura do café gerou um valor de produção de aproximadamente R$ 
8 bilhões ao ano nas últimas safras, o que ratifica sua importância econômica como um 
dos produtos agrícolas que mais geram divisas ao país, impactando positivamente no 
saldo da balança comercial do país. 
 De acordo com o último Censo Agropecuário Brasileiro, realizado pelo IBGE 
(2007), a cultura cafeeira se dá em um total de 200.859 estabelecimentos produtores 
espalhados pelo país, com mais de 1,5 milhõesde hectares de área colhida F
9
F. Na Tabela 
1 pode-se observar que poucos são os estabelecimentos com mais de 500 hectares, ou 
seja, grandes propriedades, embora o café seja uma cultura com alta produtividade por 
hectare o que já classifica propriedades com 100 hectares como grandes. Se considerar 
os tais estabelecimentos com mais de 100 hectares, estes correspondem a 0,76% do 
total, porém correspondem a aproximadamente 21% da área colhida, 25,8% da 
produção, e 26,3% do valor da produção gerado pelo setor. 
 
 
 
9
 Nota: o último censo agropecuário foi divulgado em 2006, sendo seus dados, portanto, referentes a 
2006. Ao longo do relatório será observado que os dados de produção, área colhida e valor da produção 
deste censo não será igual ao apresentado na última safra, em decorrência da defasagem de três anos-
safras entre os mesmos. Porém, é importante a ilustração dos dados do censo para se entender o perfil das 
propriedades rurais produtoras das diferentes commodities que aqui serão apresentadas. 
33 
Tabela 1 - Características gerais dos estabelecimentos cafeeiros no Brasil 
Tamanho da propriedade Estabelecimentos Produção (ton) Valor da produção (mil R$) Área colhida (ha)
Produtor sem propriedade 22.400 0 1 80.497
Maior de 0 a menos de 1 ha 35.971 44.879 119.636 37.611
De 1 a menos de 2 ha 32.804 68.799 206.172 52.669
De 2 a menos de 5 ha 60.689 253.417 823.779 222.224
De 5 a menos de 10 ha 24.324 220.911 917.728 192.373
De 10 a menos de 20 ha 13.028 230.533 881.588 199.747
De 20 a menos de 50 ha 7.726 336.521 1.427.560 259.477
De 50 a menos de 100 ha 2.395 247.112 1.045.238 178.674
De 100 a menos de 200 ha 1.057 218.022 830.236 157.535
De 200 a menos de 500 ha 415 198.383 828.189 123.092
De 500 ha e mais 50 71.142 276.013 43.186
Total 200.859 1.889.719 7.356.140 1.547.085
 
Fonte: IBGE, 2007 
 
Mesmo com grande representatividade dos estabelecimentos com mais de 100 
hectares sobre a área colhida, produção e valor da produção, o potencial da cadeia se 
encontra em médios produtores, inseridos entre as faixas de 10 a 100 hectares, os quais 
representam pouco mais de 11% dos estabelecimentos, e cerca de 45% do valor de 
produção do setor. 
 É necessário observar, entretanto, que parte da produção está pulverizada de 
maneira semelhante entre os estratos de propriedades com mais de 2 hectares, ou seja, 
ao analisar-se qualquer projeto de investimento ou mapeamento deste mercado, deve-se 
considerar pequenos, médios e grandes produtores com a mesma atenção. 
 Detalhando um pouco mais as características do setor cafeeiro no Brasil, e 
analisando a participação das principais regiões produtoras, vê-se que Minas Gerais tem 
uma grande importância no cenário nacional. A produção mineira representou em 2009, 
50% da área colhida e produção, além de mais de 50% do valor de produção do café no 
Brasil, o que reforça o importante papel deste Estado nesta cultura. Vale ressaltar que a 
maior parte da produção mineira se dá com o café arábica, reconhecido pela melhor 
qualidade, e consequentemente, pelo maior valor de mercado. 
 Além de Minas Gerais, o Espírito Santo mostra força neste setor, com cerca de 
25% da produção em 2009, e 22% da área plantada. Diferentemente de Minas Gerais, a 
produção capixaba é basicamente de café conilon, o qual não tem o mesmo valor de 
mercado que o café arábica. 
34 
 Outros Estados que possuem alguma representatividade na cultura cafeeira são 
São Paulo com 7,6%, Bahia com 7%, e Paraná com 3,6% aproximadamente da 
produção e área cultivada. 
 Tanto para Minas Gerais, quanto para São Paulo, a grande representatividade do 
perfil de produtores está na faixa onde os estabelecimentos possuem de 20 a 500 
hectares, caracterizando o perfil de médio a grande produtor, declinando em maior parte 
aos médios produtores, com até 100 hectares. Entretanto, Paraná e Espírito Santo 
concentram sua produção em estabelecimentos pequenos, com até 10 hectares, enquanto 
na Bahia, Estado que tem absorvido grande parte das novas áreas cafeeiras do Brasil, o 
perfil é de grande produtor, com mais de 100 hectares, indicando que por ser uma área 
nova, tem recebido investimento de produtores mais capitalizados. 
 Analisando as grandes regiões produtoras de café no país, Minas Gerais e 
Espírito Santo, deve-se atentar a algumas micro-regiões geográficas que se destacam na 
produção. 
 Em Minas Gerais três áreas destoam das demais, na ordem: o sul do Estado, 
sobretudo nas proximidades dos municípios de Varginha, São Sebastião do Paraíso, 
Guaxupé, Alfenas, Poços de Caldas, Passos, Piuí e Oliveira; o Triângulo Mineiro, 
incluindo Patrocínio, Araxá, Patos de Minas, Ituiutaba e Uberlândia; e o sudeste do 
Estado, próximos à divisa com Espírito Santo, onde se localizam Caratinga, Manhuaçu, 
Ponte Nova, São Lourenço e Viçosa. 
 No Espírito Santo, a maior parte da produção está situada nas micro-regiões dos 
municípios de Alegre e Afonso Cláudio, próximos à divisa com o sudeste de Minas 
Gerais. 
 Em suma, o desempenho da economia cafeeira brasileira tem se mantido em 
patamar elevado em parte pelo aumento do consumo doméstico acima da média 
mundial e pela diversificação desta demanda, e em outra, pelas conquistas de novos 
mercados no comércio mundial. Além disso, deve-se ressaltar a integração das ações do 
governo, produtores, cooperativas e indústrias, quanto às inovações produtivas, 
certificação da qualidade e programas de incentivo ao consumo, que sustentaram o setor 
ao cenário atual. 
 
35 
 
Figura 5 - Sistema Agroindustrial do Café no Brasil 
Fonte: Adaptado de SAES, M. S. S. et al. (1998). 
 
Bibliografia Recomendada 
 
CAMARGO. F.T. de. Crescimento e maturação do fruto do café (Coffea arabica L.) 
em sistema arborizado e em monocultivo. 2007. 42 p. Dissertação (Mestrado em 
Fitotecnia) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São 
Paulo, Piracicaba, 2007. 
 
CARVALHO, G.R. Avaliação de sistemas de produção de café na região sul de 
Minas Gerais: um modelo de análise de decisão. 2002. 68 p. Dissertação (Mestrado em 
Economia Aplicada) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade 
de São Paulo, Piracicaba, 2002. 
 
JESUS. J. de. Atributos do solo e da nutrição do cafeeiro em sistema agroflorestal e em 
monocultivo. 2008. 147 p. Tese (Doutorado em Fitotecnia) - Escola Superior de 
Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2008. 
 
MALAVOLTA, E. Nutrição mineral e adubação do cafeeiro: colheitas econômicas 
máximas. São Paulo: Agronômica Ceres, 1993. 210 p. 
SAES, M. S. S.; JAYO, M.; NAKAZONE, D.; SILVEIRA, R. L. F. Competitividade no 
Agribusiness Brasileiro: Competitividade do Sistema Agroindustrial do Café. São 
Paulo. PENSA/FIA/FEA/USP. 1998. 
 
36 
 
 
6.2 Dados gerais da produção de cana-de-açúcar 
 
 A cana-de-açúcar é um dos cultivos mais tradicionais do Brasil, desde os tempos 
de colônia e segue, atualmente, com um lugar de destaque entre os produtos agrícolas 
brasileiro, sendo o Brasil o maior produtor mundial deste produto, seguido da Índia. 
 A cultura ocupou cerca de 9,6 milhões de hectares em 2009, o que a coloca 
como 3ª cultura mais cultivada no Brasil, atrás apenas da soja e do milho. Além disso, 
nos últimos quinze anos, as exportações brasileiras do complexo sucroalcooleiro (açúcar 
e álcool) foram significativamente expandidas. Resultado disso é o tamanho do valor 
desta produção, acima dos R$25 bilhões, resultado da colheita de 690 milhões de 
toneladas no referido ano-safra. 
 Esta expansão da produção canavieira é refletida ao se analisar os números dovolume de produção acumulado ano a ano. Na última década, a produção cresceu a um 
patamar médio de 7% ao ano, e um acumulado de 80% neste período (IBGE, 2010). 
 Para melhor compreender o complexo sucroalcooleiro, é necessário analisar 
separadamente o açúcar, o álcool e a capacidade de co-geração de energia, os quais são 
37 
os principais produtos derivados da atividade canavieira, e que possuem características 
absolutamente distintas, embora seus problemas, desafios e potenciais sejam 
relacionados. 
 De acordo com o censo agropecuário de 2006 (IBGE, 2007), existem quase 200 
mil estabelecimentos produtores de cana-de-açúcar no Brasil. Embora a maior parte dos 
estabelecimentos produtores esteja na faixa entre 5 a 100 hectares, as poucas centenas 
de produtores com mais de 2.500 hectares representam algo em torno de 55% da 
quantidade produzida, e 50% da área colhida e valor da produção, mostrando uma alta 
concentração deste setor. Ao se considerar propriedades com mais de 100 hectares, algo 
em torno de 10% do total de estabelecimentos produtores, esta proporção salta para 
mais de 90% no volume, tanto para área colhida como para valor da produção, 
reiterando ainda mais a concentração do setor. 
Tabela 2 - Características gerais dos estabelecimentos canavieiros no Brasil 
Tamanho da propriedade Estabelecimentos Produção (ton) Valor da produção (mil R$) Área colhida (ha)
Produtor sem propriedade 2.089 63.254 4.556 2.257
Mais de 0 a menos de 0,1 ha 1.960 11.758 1.613 290
De 0,1 a menos de 0,2 ha 791 6.893 747 179
De 0,2 a menos de 0,5 ha 1.842 24.710 1.907 700
De 0,5 a menos de 1 ha 3.535 83.580 6.395 2.142
De 1 a menos de 2 ha 9.088 305.508 26.047 9.155
De 2 a menos de 3 ha 9.530 1.289.826 70.018 23.588
De 3 a menos de 4 ha 9.086 517.243 32.395 13.005
De 4 a menos de 5 ha 8.562 459.532 34.387 12.686
De 5 a menos de 10 ha 32.322 3.187.672 202.187 73.578
De 10 a menos de 20 ha 40.244 5.209.346 373.268 108.874
De 20 a menos de 50 ha 38.758 12.225.604 928.558 233.475
De 50 a menos de 100 ha 15.309 14.161.678 973.294 244.118
De 100 a menos de 200 ha 9.236 22.371.677 1.181.260 354.313
De 200 a menos de 500 ha 6.511 34.368.260 2.114.708 554.237
De 500 a menos de 1000 ha 2.187 30.062.974 1.415.162 447.425
De 1000 a menos de 2500 ha 1.126 46.392.606 2.212.252 657.213
De 2500 ha e mais 669 213.423.037 10.127.367 2.840.416
Total 192.845 384.165.158 19.706.121 5.577.651
 
Fonte: IBGE, 2007 
 
Mesmo assim, é necessário considerar que este grupo (acima de 100 hectares) 
corresponde a quase 20 mil estabelecimentos produtores, o que acarreta em um 
considerável mercado potencial para investimento em novas tecnologias, maquinários e 
insumos agrícolas em geral. Ainda, salienta-se que a participação das usinas 
processadoras de açúcar e álcool na produção da cana-de-açúcar, arrendamento de terras 
38 
e relações contratuais com os produtores, abre um nicho de oportunidade ainda maior, 
na medida em que se negocia com grupos capitalizados. 
 Ao se analisar os principais Estados brasileiros produtores de cana-de-açúcar, 
nota-se que o Estado de São Paulo concentra mais de 60% do volume produzido e valor 
gerado, com Minas Gerais, Paraná, Alagoas e Pernambuco representando cada um, 
respectivamente, em torno de 8,5%, 8%, 4% e 3% da produção nacional. 
 É necessário frisar, entretanto, que as características dos estabelecimentos 
produtores em todos os principais Estados na cultura canavieira, apresentam 
comportamento semelhante ao cenário observado nacionalmente, ou seja, em todos os 
Estados, destacam-se os grandes produtores, sobretudo aqueles com mais de 2.500 
hectares. 
 A produção paulista é presente na maior parte do interior do Estado, situada 
acima do Trópico de Capricórnio. São três as meso-regiões predominantes: Ribeirão 
Preto no norte e nordeste, Piracicaba no centro, e Araçatuba no noroeste e oeste 
paulista. Detalhando as principais micro-regiões produtoras pode-se apontar como 
destaque no primeiro grupo: Ribeirão Preto, Jaboticabal, São Joaquim da Barra, São 
José do Rio Preto, Catanduva e Barretos; no segundo grupo: Piracicaba, Limeira, 
Araraquara, São João da Boa Vista; e no terceiro grupo: Araçatuba, Bauru, Jaú, Lins, 
Birigui, Assis, Presidente Prudente, Adamantina e Ourinhos. 
 A produção mineira é encontrada nas áreas próximas à região de Ribeirão Preto, 
sobretudo no Triângulo Mineiro, em Uberaba, Uberlândia, e Frutal, com crescimento 
cada vez acentuado em direção ao sul de Goiás. 
 Já a produção paranaense é encontrada no norte daquele Estado, circundando as 
áreas que fazem divisa com sudoeste e oeste de São Paulo, onde se localizam Cornélio 
Procópio, Londrina, Paranavaí, Astorga e Cianorte. 
 Nos Estados de Alagoas e Pernambuco, o cultivo da cana é muito próxima ao 
litoral, com destaque à região de São Miguel dos Campos, Maceió e Mata Alagoana, 
todos em Alagoas. 
 Os Estados do Centro-Sul, especialmente São Paulo e Paraná possuem vantagem 
na produção tanto de etanol quanto de açúcar, estando então mais propensos a 
receberem maiores investimentos, em decorrência do grande aumento da demanda por 
39 
etanol, e da pressão no mercado internacional por combustíveis alternativos aos de 
origem fóssil, ous seja, de origem vegetal. Contudo, nota-se desde então, uma rápida 
expansão desta produção pelo Triângulo Mineiro, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato 
Grosso, os quais devem aumentar sua participação sobre o montante total produzido em 
escala nacional. 
 Conclui-se que este é um setor de expressiva representatividade ao agronegócio 
brasileiro, ainda mais ao se considerar a tendência de maior expansão da cultura 
canavieira em antigas áreas de pastagens ou em substituição a outras culturas nos 
Estados mencionados. 
 Um ponto importante a se considerar se dá em relação ao fato de que a partir de 
2013, será erradicada de vez a queima da cana-de-açúcar no Estado de São Paulo, o que 
levará com que produtores de tradicionais regiões onde a colheita mecanizada é inviável 
na maioria das áreas (como Piracicaba-SP) adotem tecnologias eficientes para colheita 
da “cana verde”, que não seja manual, dado à expressiva queda de produtividade do 
trabalhador no corte desta cana, abrindo potencial de mercado para desenvolvimento 
decolhedoras menores, mais leves e adaptadas a maior declividade, ou mesmo, a uma 
maior expansão às áreas de cana-de-açúcar no Centro-Oeste brasileiro. 
 
 
Figura 5 - Sistema Agroindustrial da Cana-de-açúcar no Brasil 
Fonte: Adaptado de WAACK, R. S. et al. (1998). 
40 
Bibliografia recomendada 
 
ALVES, L.R.A. Transmissão de preços entre produtos do setor sucroalcooleiro do 
Estado de São Paulo. 2002. 107 p. Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada) - 
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, 
Piracicaba, 2002. 
 
CARUSO, R.C. Análise da oferta e demanda de açúcar no Estado de São Paulo. 
2002. 79 p. Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada) – Escola Superior de 
Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2002. 
 
MARQUES, P.V.; SONODA, D. Y. ; ZILIO, L. B. ; XAVIER, C. E. O. Custos de 
Produção de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Etanol no Brasil - safra 2007/2008. 
PECEGE/ESALQ/USP, Piracicaba, 2009. 194 p. 
 
RIPOLI. C; VILLANOVA, N.A. Colheita mecanizada da cana-de-açúcar: novos 
desafios. Stab Açúcar, Álcool e Subprodutos, Piracicaba, 11(1):28-31, set./out. 1992. 
WAACK, R. S.; NEVES, M. F.; MORAES, S.; MARINO, M. K.; SZASZ, A. H. 
Competitividade no Agribusiness Brasileiro: Competitividade do Sistema 
Agroindustrial da Cana-de-Açúcar. São Paulo. PENSA/FIA/FEA/USP. 1998. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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