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Apostila 2 Bimestre - Filosofia , Etica e Direitos Humanos - udc

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1 
Marketing Estratégico 
MARKETING ESTRATÉGICO 
 
GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
 
 
 
 
 
1 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DINÂMICA DAS CATARATAS Núcleo de Educação a Distância 
 
Filosofia, Ética e Direitos Humanos 
SCHUCK, Prof.º Me.José Fernando 
Foz do Iguaçu - PR 2014. 
59.p 
 
Graduação - EaD 
 
CDU: 179.1 
 
NEAD – Núcleo de Educação a Distância 
Av. Bartolomeu de Gusmão, 1324 - Centro – CEP: 85.852-130 
Foz do Iguaçu – Paraná / ead.udc.br / 3574-6900 
 
 
 
 
2 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
APRESENTAÇÃO 
 
 Prezado (a) Acadêmico (a), 
 
Bem-vindo(a) à Graduação na modalidade a distância, ofertado pelo Centro 
Universitário Dinâmica das Cataratas – UDC. Sabemos que o seu percurso de 
aprendizagem necessita ser acompanhado e orientado, para que você obtenha 
sucesso nos estudos e construa um conhecimento relevante à sua formação 
profissional e acadêmica. 
Preparamos este material didático, possibilitando, assim, guiá-lo no autoestudo da 
disciplina e na realização das atividades. Além disso, você conta com o ambiente 
virtual de aprendizagem como espaço de estudo e de participação ativa no curso. 
Nele você encontra as orientações para realizar atividades e avaliações on-line, 
além de recursos que vão enriquecer a proposta deste material didático, tais como 
links para sites da Internet, vídeos gravados pelo professor e outros por ele 
sugeridos, textos, animações, ilustrações, dentre outras mídias. 
Lembre-se, no entanto, de que você deve se organizar para criar sua própria 
autonomia de estudo. Isso inclui o planejamento do seu tempo de dedicação ao 
estudo individual e de participação colaborativa no ambiente virtual. 
Este material é o seu livro-texto e apoio importante no percurso de aprendizagem! 
 
Bom estudo! 
Direção UDC On-line 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
SUMÁRIO 
 
 
APRESENTAÇÃO ...................................................................................................... 1 
UNIDADE III – ÉTICA E CIDADANIA ......................................................................... 4 
3.1 O QUE É ÉTICA .................................................................................................... 4 
3.2 CONCEPÇÕES ÉTICAS ....................................................................................... 8 
3.3 A ÉTICA E A RESPONSABILIDADE SOCIAL .................................................... 12 
3.4 A CIDADANIA ..................................................................................................... 15 
3.5 CIDADANIA: A JUSTIÇA, OS VALORES E AS LEIS .......................................... 17 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 22 
 
 
 
 
 
 
4 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
 
UNIDADE III – ÉTICA E CIDADANIA 
 
 
 
“Fragilidade da vida”, por Alexandre Schuck 
 
3.1 O QUE É ÉTICA 
 
Levar vantagem em tudo; satisfação e realização pessoal a qualquer 
preço; buscar saber de nossos direitos e reivindicá-los sem em 
contrapartida cumprir com deveres; ser esperto para não ficar para trás; 
competitividade x responsabilidade social... Estes jargões e situações 
estão presentes em nosso dia a dia e nos levam a refletir sobre questões 
éticas. 
 
Ouvimos muito: “esta pessoa ou aquela empresa não tem ética”, o que isto 
significa? 
 
Afinal, o que é ética? 
 
Geralmente quando se diz que “tal pessoa não tem ética” entendemos que 
de alguma forma a pessoa em questão não segue os valores e costumes 
 
 
 
 
5 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
comumente aceitos na prática social, ou seja, ela não respeita aquilo que nossa 
sociedade determinou como sendo correto. Mas o que de fato pode ocorrer é que 
esta pessoa não respeita os limites determinados socialmente por não acreditar na 
eficácia deles ou por não visualizar qualquer benefício em respeitá-los. Os valores 
existem, eles são socialmente construídos, e podem – mas nem sempre é o que 
efetivamente ocorre – direcionar nosso modo de agir e garantir que nossas ações 
sejam benéficas para o convívio social. 
Os valores, porém, não são os mesmos desde sempre, sua construção é 
contínua, eles são frequentemente modificados ou necessitam de constante 
reafirmação para não perderem sua função e sentido. Alguns valores simplesmente 
caem em desuso ou desaparecem. Em nosso tempo este processo se dá de forma 
muito rápida. Uma nova realidade desafia constantemente nossa capacidade de 
adaptação a novas situações e valores. 
Experimentamos um processo de transformação tão voraz que parece diluir 
todo e qualquer valor na lógica imediatista do mercado. Tudo se vende tudo se 
compra as coisas, e o próprio ser humano, viram simplesmente “mercadorias”. É 
justamente por vivermos numa sociedade que experimenta uma profunda crise de 
valores que as reflexões sobre ética se fazem urgentes. A sustentabilidade de uma 
sociedade depende do seu código de valores, ou seja, depende de suas relações 
éticas. 
A ética é precisamente a reflexão sobre os valores que fundamentam nossas 
ações, sobre o que posso ou não posso fazer, devo ou não devo fazer. Falar em 
ética é falar em escolhas e responsabilidade. Se há um destino já traçado, fica difícil 
falar em ética, pois se as coisas estão determinadas elas independem de nossas 
escolhas. Se não há espaço para exercermos alguma escolha sobre o curso dos 
acontecimentos e sobre o curso de nossas próprias vidas, então não temos 
responsabilidade nem culpa sobre aquilo que ocorre. 
A ética pressupõe uma capacidade humana de escolher, de determinar em 
alguma medida as ações que constroem nossa realidade. 
A ética é muitas vezes confundida com a moral. A moral é um conjunto de 
práticas, costumes e normas assumidos culturalmente por uma sociedade. São as 
normas sociais praticadas pelos indivíduos e grupos em uma sociedade. Estas 
normas nem sempre podem ser sustentadas eticamente, ou seja, elas são 
praticadas sem necessariamente oferecer uma fundamentação racional. Já a ética 
 
 
 
 
6 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
são os princípios, os conceitos que dão sustentação às escolhas morais. A ética diz 
respeito às reflexões sobre os costumes e práticas morais. 
Muitos filósofos tentaram estabelecer uma “receita” ética universal, o que 
significa estabelecer um conjunto de valores e condutas, ou mesmo um mecanismo 
que possa direcionar de modo claro e imperativo todo agir considerado moralmente 
correto, porém, isso nunca se mostrou viável na prática. As práticas mudam 
conforme a época e a conveniência e, neste processo, os padrões de valores são 
alterados. 
Não houve nenhuma concepção considerada como modelo ético que não 
tenha sido historicamente construída e que não tenha sido de alguma forma alterada 
com as mudanças culturais e sociais. Muitos desses valores foram estabelecidos de 
acordo com crenças e preceitos religiosos. Se lançarmos um olhar genealógico 
sobre a origem de nossos valores, veremos que grande parte deles surgiu ou foi 
alterada de acordo com as mudanças no âmbitoreligioso. 
Se examinarmos as bases de nossos princípios éticos, verificaremos que 
nossa prática moral se sustenta numa postura de parcialidade. Dispensamos um 
tratamento diferenciado aos que estimamos; respeitamos aqueles que temos por 
“iguais” ou “superiores”. Tudo que nos é mais próximo passa a ser merecedor de 
maior estima, merece um tratamento mais atento e cuidadoso. Esta capacidade 
empática é praticamente uma tendência natural, pois parece sempre mais fácil agir 
moralmente na relação com os indivíduos e grupos com os quais nos identificamos 
de alguma forma. 
Gostamos de acreditar em princípios, nos sentimos seguros com esta 
crença. Esperamos, principalmente, que os outros observem tais princípios. Usamos 
a máscara da moralidade porque ela passa confiança aos que se relacionam 
conosco. Estaremos condenados a uma imoralidade que tentamos continuamente 
disfarçar com nosso discurso ético? 
Talvez por trás de nossas ações mais veladas se esconda um fundo de 
imoralidade, talvez seja realmente o interesse que sustenta muitas de nossas 
condutas morais. Isso é capaz de anular qualquer reflexão ou postura ética? Não é o 
caso, pois necessitamos, para a própria construção e manutenção das relações 
sociais, de parâmetros de ação que permitam estabelecer relações de confiança. Os 
valores prezados por indivíduos e grupos constituem o amálgama capaz de unir 
qualquer sociedade. 
 
 
 
 
7 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
Sem o estabelecimento de valores e limites, e sua consequente 
manutenção, não há sociedade que subsista. Portanto, mesmo que os valores sejam 
criados visando certas finalidades e interesses, são convenções necessárias que 
permitem o convívio social. 
O mais importante é manter o diálogo aberto, questionar os valores, tomar 
posição, estabelecer parâmetros para a ação, guiar-se pela baliza de limites que 
possam contribuir para o bem da vida em sociedade, e também para o bem da 
própria “comunidade da vida” (a natureza e seus ecossistemas) que tem sido tão 
afetada pela falta de cuidado com o planeta. Sobre a origem da ética e da postura 
moral, o filósofo inglês John Gray faz considerações bastante interessantes. Leia e 
reflita sobre o texto complementar abaixo: 
 
Pode ser que Sócrates não fosse o racionalista inquiridor que Platão 
o fez ser. Ele pode ter sido um sofista divertido que via a filosofia 
como um esporte, um jogo que ninguém leva a sério – e muito 
menos ele. No entanto, sob a influência de Sócrates, a ética deixou 
de ser a arte de viver bem num mundo perigoso – como tinha sido 
em Homero. Tornou-se a busca de um bem maior que nada pode 
destruir um valor excepcionalmente potente que derrota todos os 
outros e protege da tragédia os que vivem de acordo com ele. 
No mundo grego onde eram cantados os cantos de Homero, tornava-
se como pressuposto que a vida de todo mundo era governada pelo 
destino e pelo acaso. Para Homero, a vida humana é uma sucessão 
de contingências: todas as coisas boas são vulneráveis à fortuna. 
Sócrates não podia aceitar essa visão trágica arcaica. Ele acreditava 
que a virtude e a felicidade eram uma e mesma coisa: nada pode 
causar dano a um homem realmente bom. Então ele reimaginou o 
bom para torná-lo indestrutível. Além dos bens da vida humana – 
saúde, beleza, prazer, amizade, a vida mesma –, havia um Bem que 
ultrapassava todos os outros. Em Platão, isso se tornou a ideia de 
Forma do Bem, a fusão mística de todos os valores num todo 
espiritual harmonioso – uma ideia mais tarde absorvida na 
concepção cristã de Deus. Mas veio de Sócrates a ideia de que a 
ética está preocupada com um tipo de valor além da contingência; 
que pode de algum modo, prevalecer sobre qualquer tipo de perda 
ou infortúnio. Foi ele quem inventou a “moralidade”. 
Pensamos a moralidade como um conjunto de leis ou regras a que 
todos têm de obedecer e como um tipo especial de valor que tem 
precedência sobre todos os outros. A moralidade consiste nesses 
preconceitos que herdamos parcialmente do cristianismo e 
parcialmente da filosofia grega clássica. No mundo de Homero, há 
havia moralidade. É certo que havia ideias de certo e errado. Mas 
não havia nenhuma ideia de um conjunto de regras que todos devem 
seguir, ou de um tipo especial, superpotente, de valor que superava 
todos os outros. A ética tratava de virtudes como coragem e 
sabedoria; mas mesmo o mais bravo e mais sábio dos homens 
experimenta a derrota ou ruína. Preferimos basear nossas vidas – 
em público, pelo menos – na presunção de que a “moralidade” vence 
 
 
 
 
8 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
no final. No entanto não acreditamos nisso realmente. No fundo, 
sabemos que nada pode nos tornar à prova do destino e do acaso. 
Nisso, estamos mais próximos dos gregos arcaicos, pré-socráticos, 
do que da filosofia grega clássica. (GRAY, John. Cachorros de palha: 
reflexões sobre humanos e outros animais. Tradução de Maria Lúcia 
de Oliveira. Rio de Janeiro: Record, 2007, pp. 122 – 123). 
 
 
John Gray: Filósofo inglês contemporâneo que tem escrito textos com 
análises críticas sobre a condição do homem na atualidade, envolvendo 
aspectos biológicos, socioculturais, políticos e morais, além de refletir 
sobre como a globalização e a tecnologia têm afetado as sociedades. 
 
 
Vídeo: Ética e a vida que “vale a pena ser vivida”: 
Parte 1:http://www.youtube.com/watch?v=D8_NICu4mq0 
Parte 2:http://www.youtube.com/watch?v=LQhv8QGMY0M 
 
3.2 CONCEPÇÕES ÉTICAS 
 
A ética é um modo de reflexão surgido na Grécia no século V a. C. Os 
gregos, ao refletirem sobre o destino e sobre a capacidade humana de mudar o 
curso dos acontecimentos, iniciam a reflexão de caráter ético; reflexão que avalia o 
modo de agir e as consequências advindas das escolhas que fazemos. 
Para os gregos a ética também está relacionada ao agir virtuoso, neste 
sentido, quase todas as concepções éticas a partir de Sócrates – considerado “pai 
da ética” – elogiam o agir racional e avaliam mal o agir pelas paixões (impulsos e 
desejos). O homem ético seria aquele que conhece o bem e age de acordo com ele, 
atuando de forma justa e equilibrada. Esta perspectiva está de acordo com as 
abordagens éticas de Sócrates, Platão e Aristóteles. 
Após o período grego clássico, que constituiu o período entre o século VII e 
V a.C., em que os gregos alcançaram grande desenvolvimento artístico, intelectual e 
político, os hedonistas (do grego hedoné, “prazer”), também chamados de 
epicuristas, pois seguia a filosofia do filósofo grego Epicuro, identificaram o agir 
virtuoso como aquele que produz prazer e evita a dor. Sobre esta concepção ética, 
Maria Lúcia de Arruda Aranha faz um paralelo com a atualidade: 
 
 
 
 
 
9 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
Em sentido bem genérico, podemos dizer que a civilização 
contemporânea é hedonista por identificar a felicidade com a 
aquisição de bens de consumo: ter uma bela casa, carro, muitas 
roupas, boa comida, múltiplas experiências sexuais. E, também, pela 
incapacidade de tolerar qualquer desconforto, seja uma simples dor 
de cabeça ou o enfrentamento sereno das doenças e da morte 
(ARANHA, Maria L. A. Temas de filosofia. 2. ed. São Paulo: 
Moderna, 2001). 
 
Já na Idade Média as perspectivas éticas estavam subordinadas às 
determinações cristãs católicas. Neste período, era considerado ético, o homem 
“temente a Deus”. Somente na modernidade a ética buscou novamente afastar-se 
da religião num processo que a tornou mais secularizada. 
Com o iluminismo há uma ênfase na autonomia do indivíduo que, através dapretendida autonomia da racionalidade, pode conduzir seu agir moral visando à 
realização de ideais éticos. Immanuel Kant (século XVIII), filósofo alemão de 
influência iluminista, tentou elaborar um modelo ético de validade universal. 
Para Kant, somente a razão pode servir de instrumento indicativo para o agir 
moral. A própria razão seria capaz de revelar a necessidade de um agir ético 
imperativo, ou seja, a razão é capaz de conhecer e impor a necessidade de uma 
conduta moral determinada. 
Ele afirma que deveríamos agir de tal 
maneira que o modelo de nossa ação pudesse 
ser considerado um padrão universal de 
conduta, deste modo, deveríamos sempre agir 
como gostaríamos que todos agissem. Este 
modo de determinar a ação ética é um pouco 
formal e abstrato, mas Kant confia que somente 
assim poderíamos alcançar uma universalidade 
ética mediada pela razão. 
No século XIX, o filósofo alemão 
Friedrich Nietzsche realizou uma crítica radical à 
pretensão de universalidade moral. Para 
Nietzsche, os valores são todos originários do próprio homem, não são leis naturais 
nem reveladas por uma divindade. 
Para o filósofo, os valores cristãos se perpetuaram no íntimo da cultura 
ocidental tornando a existência humana culpada e doentia, já que trazem a ideia de 
 
 
 
 
10 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
pecado e assumem a vida terrena como um estado decaído que adquire significado 
somente como meio de preparação para uma vida após a morte. 
Para restaurar ou criar valores que afirmem a existência terrena é preciso 
resgatar as forças vitais e instintivas que foram subjugadas por uma razão 
moralizante que, desde Sócrates e da perpetuação dos valores cristãos, tem 
impedido os homens de viverem plenamente as possibilidades terrenas. 
Sobre a posição de Nietzsche em relação aos valores morais, Scarlett Marton 
observa: 
 
A noção nietzschiana de valor opera uma subversão crítica: ela põe 
de imediato a questão do valor dos valores e esta, ao ser colocado, 
levanta a pergunta pela criação dos valores. Se até agora não se pôs 
em causa o valor dos valores ‘bem’ e ‘mal’, é porque se supôs que 
existiram desde sempre; instituídos num além, encontravam 
legitimidade num mundo supras sensível. No entanto, uma vez 
questionados, revelam-se apenas ‘humanos, demasiado humanos’; 
em algum momento e em algum lugar, simplesmente foram criados. 
(MARTON, Scarlett. Nietzsche, a transvaloração dos valores. São 
Paulo: Moderna, 2006, p. 43). 
 
Para analisar o valor de nossa moral, Nietzsche 
vai opor dois universos espirituais: o dos senhores e o 
dos escravos. Nossa moral tem sido de escravos. 
Desejamos um ideal de convivência sem conflitos, em 
que se pensa que viveremos em felicidade. Queremos 
viver em paz como num rebanho. O escravo é 
ressentido: o mundo o faz sofrer, alimenta esperanças 
numa vida futura sem luta nem sofrimento. 
Sempre existiu outra perspectiva moral, outro 
modo de encarar a existência, esta é a moral dos 
“senhores”, que ele acredita redescobrir analisando a vida grega antes da 
“decadência” platônica. Era uma vida que não fugia ao conflito. Segundo Nietzsche, 
um grego do bom período, não conhecia felicidade sem luta nem vitória. Sua vida 
era uma expressão da vontade de potência. A afirmação de si substituía as virtudes 
cristãs. O homem devia buscar realizar a sua potência através da afirmação e não 
da negação de sua vontade. 
No início do século XX, Sigmund Freud levanta a hipótese de que o 
inconsciente encobre toda uma vida de impulsos e desejos que influenciam 
 
 
 
 
11 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
decisivamente em nossas escolhas morais. Esses impulsos estão na base do modo 
de se conduzir no mundo. Freud entende que o id (instância pulsional) é 
pressionado pelas determinações do superego (regras e padrões sociais) de tal 
forma que provocam desequilíbrio no homem. São o id e o superego, e não o ego (a 
racionalidade), a possuírem maior peso em nossas escolhas. 
O corpo e os desejos, por meio do inconsciente, atuam sobre nossa 
capacidade decisória de modo a não permitir que nos conduzamos por meio de uma 
“pura racionalidade”. Segundo Freud, o sujeito concreto não pode viver de forma 
equilibrada se reprimir constantemente seus impulsos, a repressão constante do agir 
espontâneo pode produzir formas doentias de comportamento. Entender, aceitar, 
recusar conscientemente ou sublimar, são meios indicados por Freud para lidar com 
os impulsos de forma saudável. 
Na segunda metade do século XX, o filósofo alemão Jürgen Habermas 
propôs um modelo ético inspirado na proposta iluminista de Kant. Para Habermas, a 
ética deve ser erigida através de um processo de diálogo contínuo. Kant baseava 
suas determinações morais em uma razão reflexiva em que o indivíduo decide 
sozinho, por meio da reflexão, o que deve ser considerado uma ação ideal. 
Habermas propõe uma ética que vai além da reflexão solitária, pois defende que é 
preciso expor os nossos valores éticos ao diálogo, à interação com os outros 
indivíduos. Nisto, ou convenço o outro de minha posição ou me deixo convencer. 
Para Habermas a ética do discurso se baseia na capacidade racional de 
apresentar e debater valores e de se chegar a um consenso por meio do diálogo. É 
uma ética processual, pois pode, a todo o momento, ser repensada e alterada se 
isso se fizer necessário. A esta proposta ética Habermas dá o nome de ética do 
discurso. 
Karl-OtthoApel, um filósofo que acompanha Habermas na perspectiva da 
ética do discurso distingue três esferas éticas diferentes: a microesfera, que trata de 
estabelecer valores em esferas menores, como a família, a empresa, ou uma sala 
de aula; a mesosfera, que trata de questões um pouco mais amplas, como as que 
dizem respeito às leis de um país, por exemplo; e a microesfera que se refere a um 
âmbito de discussão em que estão situadas questões de interesse global como, por 
exemplo, a destruição ambiental, a ameaça nuclear e os direitos humanos. 
Em um mundo globalizado e dinâmico, fica cada vez mais urgente a 
necessidade de estabelecer valores que permitam uma relação respeitosa entre 
 
 
 
 
12 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
diferentes realidades e culturas. Sobre isso, Apel observa: “A civilização técnico-
científica confrontou todos os povos, raças e culturas, sem consideração de suas 
tradições morais grupalmente específicas e culturalmente relativas, com uma 
problemática ética comum a todos. 
Pela primeira vez, na história da espécie humana, os homens foram 
praticamente colocados ante a tarefa de assumir a responsabilidade solidária pelos 
efeitos de suas ações em medida planetária”. A questão é: como estabelecer 
relações humanas confiáveis e ecologicamente responsáveis enquanto a lógica de 
mercado se impõe com seu consumismo e devastação dos recursos naturais para 
transformá-los em mercadorias? Evitar o colapso ambiental e humano depende 
diretamente de nossa capacidade de estabelecer novos valores que não mais 
considerem a vida como simples mercadoria. 
 
 
3.3 A ÉTICA E A RESPONSABILIDADE SOCIAL 
 
Um dos mais importantes dilemas éticos atuais está relacionado a uma 
polarização esmagadora em torno da noção de valor econômico. No mundo 
capitalista há o risco de todas as demais considerações de valor acabar sucumbindo 
à lógica de mercado. Neste sentido, quando o econômico se torna absoluto, a 
prática moral torna-se prisioneira dos fins estabelecidos pelo mercado. 
Segundo esta lógica, a única posição louvávelé daquele que atinge um 
patamar econômico elevado: pessoas bem-sucedidas são aquelas que ganham 
muito dinheiro; empresas “vencedoras” são as que obtêm grande lucratividade. 
Outros meios de avaliação sobre o sucesso ou o fracasso pessoal ou coletivo são 
desconsiderados tais como: a satisfação pessoal e coletiva; o orgulho por algo bem 
feito; as vivências enriquecedoras que não geram lucro; e as trajetórias, por mais 
significativas que sejam, acabam sendo desprezadas se não conduzirem ao patamar 
de elevadas cifras monetárias. 
Em um mundo capitalista competitivo, o estabelecimento de um padrão 
único de sucesso atrelado à realização econômica somente pode produzir uma 
sociedade de indivíduos que, por não valorizarem outras conquistas e vivências, 
acabam por cair em frustração. Quantas pessoas já não tiveram saudade de uma 
 
 
 
 
13 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
situação em que não tinham tanto dinheiro, mas que ainda assim, tiveram vivências 
satisfatórias? 
Quantos não trabalham em empresas “líderes de mercado” ganhando 
salários elevados sem, contudo, estarem satisfeitos com seu modo de vida? A maior 
riqueza provavelmente não está relacionada ao processo de acúmulo monetário, 
mas ancorada numa vivência diversificada de experiências e realizações que podem 
enriquecer como seres humanos e, ao mesmo tempo, acrescentar algo significativo 
à coletividade da qual fazemos parte. 
Existem outras implicações éticas importantes em tempos de dominação 
capitalista. O capitalismo enquanto estado de livre competição por bens materiais 
nos coloca diante de alguns dilemas morais: Não haveria quase que uma 
contradição entre a busca por lucratividade e uma postura ética e virtuosa? Ou seja, 
se a maximização da lucratividade constitui a meta central, a preocupação com uma 
condução ética das relações e negócios não prejudicaria esta lucratividade 
impedindo a maximização de lucros? 
O capitalismo como forma de livre competição não incentiva o egoísmo e o 
desinteresse por aqueles que não contribuem de alguma forma para nossa obtenção 
de lucro? Há como manter o valor da pessoa humana, ou da própria vida em geral, 
num ambiente em que os valores mais apreciados estão relacionados a bens 
materiais? 
Em relação a estas questões, João Mattar, em Filosofia e Ética na 
Administração, observa o seguinte: 
 
Um sistema que assume a competição e a maximização de lucros 
como seus fundamentos básicos, e não coloca como seu 
fundamento básico a alimentação decente de sua população, não 
merece credibilidade. É claro que um país capitalista pode ser bem- 
sucedido em fornecer saúde, educação e alimentação em níveis 
mínimos de decência para sua população, como o são muitos, mas 
isso não significa que o fundamento teórico desse movimento seja 
ético, mesmo porque outros países também capitalistas não 
conseguem atingir esse mínimo de decência. (MATTAR, João. 
Filosofia e Ética na Administração, 2010, p. 315). 
 
Em meio a este dilema, encontra-se profissionais da área administrativa, 
pressionado a maximizar lucros e, ao mesmo tempo, cobrado socialmente por uma 
postura ética condizente com padrões morais elevados. Observamos, infelizmente, 
que profissionais que não buscam a lucratividade a todo custo, e que mantêm uma 
 
 
 
 
14 
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL 
 
PÓS-GRADUAÇÃO 
FILOSOFIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
postura ética não hipócrita, acabam tendo algumas desvantagens num mercado tão 
competitivo. 
Cabe observar, porém, que se o critério de sucesso não ficar simplesmente 
restrito à realização econômica, podemos ter profissionais mais completos, que 
assumem um comportamento ético por acreditarem que a lucratividade a qualquer 
preço tem um custo que não vale a pena ser pago: o custo da dignidade. 
Profissionais assim se destacam por sua capacidade de agregar atitudes e vivências 
positivas. Os colaboradores que convivem com tais profissionais, sentem-se 
valorizados como pessoas. Cria-se um círculo virtuoso de satisfação que beneficia o 
próprio administrador, a equipe, os clientes e a comunidade na qual estão inseridos. 
A primeira grande responsabilidade social das empresas começa com o 
cuidado dispensado a seus colaboradores. Uma empresa socialmente responsável 
preocupa-se primeiramente com o bem-estar e a dignidade daqueles que compõe 
seu quadro funcional. Além de afetarem significativamente a vida daqueles que 
compõem os quadros da empresa, qualquer tomada de decisão e qualquer nível de 
atuação da empresa acaba por gerar efeitos em indivíduos, grupos sociais e na 
própria natureza. 
Difícil é determinar a medida exata do impacto gerado por uma empresa na 
vida das pessoas. Num mundo globalizado, por exemplo, uma empresa que gera 
empregos na China pode gerar desemprego em outras partes do mundo. Por isso, 
numa dimensão global, fica difícil medir os efeitos causados pela atuação de cada 
empresa, o que não as isenta de sua responsabilidade social e moral pelas 
consequências causadas por seu modo de atuação no mundo. 
As empresas assumem culturas que se perpetuam. Algumas desenvolvem 
códigos de ética internos e também determinam qual seu papel e sua missão. Mas 
são, principalmente, os comportamentos assumidos e a importância que dedica a 
determinadas questões que demonstram claramente os valores que norteiam a 
empresa. 
O compromisso com seu público interno e externo tem de ser real e efetivo. 
Não há como mascarar o tempo inteiro uma responsabilidade social que de fato não 
existe. Um compromisso social que aparece somente em campanhas publicitárias já 
denuncia a falta de compromisso ético de uma empresa. A responsabilidade social 
inicia com a coerência entre discurso e ação, com respeito ao público interno e 
externo, ao meio ambiente, e com uma atuação responsável na comunidade. 
 
 
 
 
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3.4 A CIDADANIA 
 
O conceito de cidadão, do qual provém o termo cidadania, é originário da 
Grécia Antiga. Naquele contexto ser cidadão representava uma conquista, era um 
título que proporcionava o acesso à participação política, significava também ser 
portador de direitos e deveres. O cidadão participava das decisões públicas e 
políticas, tinha um papel fundamental no desenvolvimento social e, pode-se dizer 
que o destino da cidade (polis) dependia totalmente da participação dos cidadãos 
que decidiam e atuavam politicamente. 
É bom observar que em Atenas, berço da democracia, apenas uma parcela 
da população era portadora da cidadania, para tal, era necessário ser homem, livre, 
proprietário de terras e ter nascido em Atenas. A cidadania estava restrita ao espaço 
geográfico da cidade, ao se afastar dela o cidadão ficava privado de seus direitos 
políticos. 
Com o fim da democracia grega o conceito de cidadão como participante 
ativo da vida pública ficou prejudicado. Do período que vai da antiguidade grega até 
a modernidade, a participação nas questões públicas foi sempre restrita, e a 
população, durante vários séculos, esteve submetida à vontade de grupos 
oligárquicos, imperadores, senhores feudais e reis que ocupavam o poder político 
quase sempre de forma absoluta. 
A preocupação com a cidadania e participação política tornou-se importante 
tema de reflexão somente a partir dos filósofos contratualistas. Segundo os 
contratualistas, os cidadãos podem ser vistos como pessoas que se associam para 
defender o direito à vida, à liberdade e à propriedade; são membros racionais de um 
Estado e representam os interesses individuais e também da classe a que 
pertencem;estes direitos só se tornam concretos se houver a participação efetiva 
dos cidadãos. 
 
Vídeo: Cidadania 
http://www.youtube.com/watch?v=JAvnKzqDsc4 
 
Cidadania e participação política: A cidadania diz respeito à forma como nos 
posicionamos e agimos perante o poder político e os outros cidadãos. A partir da 
retomada dos ideais democráticos na modernidade torna-se cada vez maior o 
 
 
 
 
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espaço de atuação do cidadão, isto é o que verifica, principalmente nos discursos 
políticos e nas constituições modernas. 
É preciso lembrar que, sem os governados, não haveria governo, só há 
poder político porque homens e mulheres concretos, os cidadãos, reconhecem ou se 
submetem ao poder instituído. Num ambiente democrático espera-se que haja 
participação efetiva dos cidadãos nas decisões e ações públicas e não apenas uma 
submissão cega aos poderes instituídos por meio do voto. 
Os regimes democráticos são os que mais garantem direitos e também os 
que mais exigem participação política dos cidadãos. Trata-se de um regime político 
nascido na Grécia Antiga e que se desenvolveu até predominar no Ocidente. As 
democracias atuais não são diretas como a grega, mas representativas. 
A democracia institui a autoridade através de eleições, o voto parece ser o 
único meio de participação democrática mais efetiva. Assim, a maioria dos cidadãos 
se ocupa com o debate e participação política apenas em época de eleições. A 
democracia representativa moderna não realiza os ideais de participação política 
plena tais como os gregos antigos propuseram, pois, os representantes eleitos não 
costumam manter um canal de acesso ao eleitor que permita à população participar 
efetivamente de suas decisões. 
A grande maioria dos cidadãos não costuma cobrar uma participação mais 
eficaz dos representantes eleitos. Consultas populares e prestação de contas não 
são uma constante. 
A vida dos seres humanos e a espera social possuem duas dimensões: a 
esfera privada – em que são indivíduos com interesses e necessidades particulares 
– e a esfera pública – em que são cidadãos, eleitores, profissionais, membros de 
instituições com interesses comuns a um grupo ou a um povo. Os interesses 
públicos e privados nem sempre são conciliáveis, e grande parte dos problemas 
sociais e políticos são decorrentes desta tensão ou falta de delimitação entre o 
público e o privado. 
Infelizmente observamos constantemente indivíduos e grupos que fazem 
uso dos órgãos e espaços públicos como se estes fossem privados, adquirindo 
vantagens para si e para o grupo a que pertencem. Estes desmandos do poder e 
das instituições públicas não ocorrem apenas de forma ilegal por meio da corrupção, 
há vários casos em que os interesses privados tiram vantagens que estão 
amparadas em lei, como por exemplo, as aposentadorias especiais, as gratificações 
 
 
 
 
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generosas e o tratamento diferenciado perante a lei para pessoas que ocupam 
funções públicas. Podemos designar tais fatos como uma espécie de “corrupção 
legal”, pois se ampara na legalidade para obter vantagens e privilégios. 
O interesse pelas questões públicas, o que constitui a própria ideia de 
cidadania, tem sido relegado o segundo plano. Tratamos cada vez mais de cuidar de 
nossos interesses privados buscando algum benefício pessoal imediatista sem uma 
preocupação real com um futuro mais promissor para a coletividade. 
Não confiamos mais em nossos representantes e líderes, fator que abala a 
esperança em uma transformação social alicerçada em ações políticas significativas. 
Atuar em conjunto e visando o bem da coletividade parece cada vez mais um ideal 
utópico num mundo em que o individualismo e suas demandas ocupam a ordem do 
dia. 
Com relação a esta temática, a filósofa Hannah Arendt apontou para o 
problema, bastante evidente na cultura atual, de falta de interesse pela ação política, 
o que põe em risco e compromete a liberdade humana. A vida humana passa a ser 
apenas uma busca pela sobrevivência, em uma cultura de consumo e desperdício. A 
questão do exercício da cidadania deve impor-se como prioridade em uma 
sociedade que se pretende justa e participativa. 
 
Hannah Arendt: Filósofa alemã do século XX defendia um conceito de 
pluralismo político, ou seja, a possibilidade de uma liberdade e igualdade 
política estendida aos mais diversos segmentos sociais. 
 
 
3.5 CIDADANIA: A JUSTIÇA, OS VALORES E AS LEIS 
 
Uma prática cidadã implica a busca de realização de um mundo mais justo. 
Independente de como conceituamos o termo “justiça”, esperamos que de alguma 
forma ela venha a tornar-se efetiva. Para Aristóteles, a justiça diz respeito à 
obediência às leis da polis e ao bom relacionamento com os cidadãos. Aristóteles 
formulou a teoria da justiça da “equidade”. 
A noção de equidade permite adaptar a justiça aos casos particulares. A 
justiça equitativa permite dar a cada um o que lhe é devido, levando-se em 
consideração: seus dotes naturais, sua dignidade, as funções que desempenha e o 
 
 
 
 
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grau hierárquico que ocupa na sociedade. Através desta noção aristotélica de 
equidade, é possível uma justificação da desigualdade, já que os desiguais não 
recebem o mesmo tratamento por terem méritos diferentes. 
De certa forma é esta receita de justiça distributiva que na prática tem 
ocorrido. Mas isto, que se perpetuou na prática, seria a justiça que os cidadãos 
entendem como ideal? Para os que se acreditam merecedores de um tratamento 
diferenciado este modelo será defendido com “unhas e dentes”. 
Outro filósofo, Arthur Schopenhauer, entendia que a noção de justiça deriva 
da noção de injustiça, ou seja, costumamos chamar de justiça: ou a reparação de 
uma injustiça cometida ou o impedimento de que uma injustiça ocorra, não havendo 
assim qualquer ato de justiça que não seja precedido por uma ideia ou prática de 
injustiça. Para Schopenhauer, vários indivíduos coexistem, e devido ao egoísmo 
existente em cada um, a vontade ultrapassa os limites de sua afirmação até negar a 
própria vontade manifestada por outro indivíduo. Schopenhauer diz: 
 
A vontade do primeiro irrompe no domínio em que se afirma a 
vontade de outro: ela destrói ou fere o corpo do outro, ou reduz 
forças desse corpo ao seu próprio serviço [...]. Esta invasão no 
domínio onde a vontade é afirmada por outrem é conhecida sob o 
nome de injustiça. [...] A injustiça manifesta-se ainda em todo o ato 
que tem como efeito submeter outrem ao nosso jugo, reduzi-lo à 
escravatura, em toda usurpação dos bens de outro [...] 
(SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e 
representação, § 62, 2001). 
 
Em geral, a injustiça ocorre por duas formas: pela violência ou pela astúcia. 
“Prejudicar um homem é obrigá-lo a servir já não a sua própria vontade, mas a 
minha, a agir segundo o meu querer e não o seu” (idem). Se uso a violência, é com 
a força que chego aos meus fins; se uso astúcia, faço uso de minha razão e 
inteligência para apresentar à vontade dos outros motivos ilusórios (mentiras), de tal 
modo que no momento em que ele pensa seguir a sua própria vontade, ele segue a 
minha. 
Se tomarmos o critério de Schopenhauer, a injustiça é o que existe 
primariamente e só podemos entender a justiça como meio de estabelecer limites 
entre uma vontade individual e a vontade de outro(s) indivíduo(s). Para 
Schopenhauer, se a fraude, a impostura, a falcatrua inspira tamanhodesprezo, é 
porque os homens acreditam que franqueza e lealdade permitem a continuidade do 
vínculo social entre os cidadãos. 
 
 
 
 
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Quem gostaria de permanecer convivendo com pessoas em quem não pode 
confiar? É o respeito pelo outro, e a boa-fé nas relações, que podem manter os 
vínculos sociais entre os cidadãos, sem práticas leais a sociedade não subsiste, 
desmorona. As relações baseadas no respeito mútuo e nas ações equilibradas não 
podem ser pautadas apenas no que dizem as leis. Temos inúmeros exemplos ao 
longo da história de que nem sempre o que consta em lei pode ser considerado 
como prática justa. 
A lei concede privilégios e proporciona brechas para ações que 
racionalmente não se sustentam. Afirmar que a justiça se estabelece por meio da lei 
é uma falácia. A lei petrifica o juízo, ela impõe e, ao fazê-lo de forma imperativa, 
imobiliza a capacidade do homem de ponderar sobre o que é bom ou ruim, ou entre 
o que é benéfico ou maléfico para si e para os outros. A lei imobiliza o senso moral e 
mobiliza facilmente, pelo medo, ao cumprimento cego dos deveres. 
Henry Thoreau, em A desobediência civil afirma: “A lei jamais tornou os 
homens sequer um pouco mais justos. O respeito reverente pela lei tem levado até 
mesmo os bem-intencionados a agir quotidianamente como mensageiros da 
injustiça”. 
Henry Thoureau: Pensador e ativista americano do século XIX 
defendia uma vida mais simples em proximidade com a natureza. 
Também defendia a desobediência civil como forma de oposição legítima 
frente a um estado injusto. 
 
Atentos aos nossos direitos e acessando os mecanismos da “justiça oficial”, 
podemos angariar as mais diversas vantagens com o aval das normas estabelecidas 
em lei e, ao fazê-lo, somos levados a acreditar que agimos de forma justa pelo 
simples fato de estarmos amparados na lei. Assim, cada nova causa e cada novo 
processo podem trazer consigo, de forma explícita ou velada, intenções maliciosas 
de tirar o máximo proveito, até o limite do código de leis. 
A lei não ensina os homens a desenvolverem um senso de justiça, apenas 
os condiciona dentro de certos limites. Uma vez que o mecanismo coercitivo e 
punitivo da lei não se faz presente, aquele que se via restringido por tal mecanismo 
impeditivo, vê-se livre para poder adquirir vantagens que antes o castigo iminente 
impedia. É o risco de ser pego, e não o princípio oculto por trás da norma, que 
impede muitos indivíduos de cometerem delitos. 
 
 
 
 
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A lei não ensina a decidir pelo justo, apenas nos condiciona a fazê-lo. Na 
ausência de fatores condicionantes, muitos percebem um caminho livre para a 
realização de delitos, pois o único impedimento era o mecanismo punitivo e não um 
senso moral fundamentado em valores. 
A lei, mais do que um mecanismo constitutivo de um projeto de construção 
da justiça, funciona como um dispositivo paliativo para a incapacidade de erigir 
valores que, por si só, sejam capazes de orientar nossas ações. Ela sempre tem 
conduzido os homens pela coação e pelo medo. É mais um remédio do que um 
tônico social. 
A lei pode suplantar facilmente sentimentos e valores morais, pois ela 
petrifica o exercício reflexivo que avalia nossas relações com a coletividade. 
Munidos de uma obstinada busca por interesses individuais, própria de nosso 
tempo, fazemos o possível para usufruir das benesses da lei. Neste estado de 
coisas, o dano ao outro e à coletividade acaba sendo apenas um efeito colateral e 
não um limitador a ser considerado. 
Valores vêm sendo progressivamente diluídos pelo avanço maciço da lógica 
de mercado que faz “tudo ter um preço”. Sobre isso, o filósofo Immanuel Kant 
observa que nem tudo é negociável, assim como nem tudo deve valer como 
mercadoria: “Tudo tem ou bem um preço, ou bem uma dignidade. Podemos 
substituir o que tem um preço por seu equivalente; em contrapartida, o que não tem 
preço e, pois, não tem equivalente é o que possui uma dignidade”. 
Aquilo que tem preço pode ser trocado, vendido, negociado, já aquilo que é 
maior de idade valor, não tem preço, portanto não tem equivalente e não pode ser 
negociado. Na lógica de mercado, contudo, o sujeito crítico (aquele que avalia e 
valora) perdeu seu espaço. Nesta lógica os valores perdem sua significância a tal 
ponto de serem facilmente negociáveis. 
Assim, na medida em que a lei permite, negocio qualquer coisa: meu tempo, 
minha energia, meu corpo, minhas ideias, meus conhecimentos, meus ideais e 
valores. E o faço com a regulamentação da lei. A própria lei está alinhada com a 
lógica de mercado, ela se dobra diante do poder econômico. Os tribunais 
frequentemente demonstram que as vantagens da lei são maiores na medida em 
que se pode pagar por elas. 
É certo que para muitos a lei não é a única referência do que é justo e para 
outros tantos os valores que prezam ainda estão acima da lógica de mercado. Mas 
 
 
 
 
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numa sociedade em que tudo é consumível e em que ao mesmo tempo se auto 
consome, a luta pela edificação de valores para além das leis e do mercado passou 
a ser uma luta quase heroica por uma causa aparentemente perdida. Mas são estas 
as causas que mais merecem o nosso respeito. 
 
 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
 
 
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