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4 EDUARDO ANTUNES MARTINS MATERIAL CIRÚRGICO Pontos Chave 1. Definições de diérese, hemostasia e síntese; 2. Objetivos principais de cada etapa; 3. Apresentação de material cirúrgico geral; 4. Subsidiar a utilização e manuseio de material cirúrgico; 5. Exemplificação da dinâmica e estruturação em um centro cirúrgico (CC). 2 I Introdução e Conceitos Básicos - TO Neste capítulo discutiremos um pouco sobre os materiais cirúrgicos principais que são utilizados em operações gerais, com sua principal função e estrutura. Além disso, serão colocadas figuras ilustrativas dos sinais que podem ser utilizados no pedido de cada um deles para o instrumentador (esses gestos podem parecer confusos inicialmente, mas depois, com o tempo e experiência, tornam-se automáticos e agilizam a operação; a explicação de suas origens provavelmente se baseia no conceito de infecção de séculos passados, pensando no contágio pela fala do cirurgião). Existem três palavras que praticamente definem qualquer procedimento cirúrgico: diérese, hemostasia e síntese, nessa ordem na maior parte das vezes. Eles serão definidos a medida que forem expostos, mas são eles que definem a subdivisão dos equipamentos cirúrgicos e sua disposição na mesa específica do instrumentador (de Mayo, vista posteriormente). Também é importante definir que esses passos nem sempre ocorrem os três, como por exemplo em uma drenagem de abscesso em que ocorre apenas a diérese, enquanto outros apresentam novas etapas, comumente a exérese (retirada de algum material do paciente, como em uma gastrectomia subtotal). DIÉ RÉSÉ Proveniente do latim diarese e do grgo diaíresis, significa incisão, divisão, secção e separação, punção e divulsão. Também pode ser definido como o ato operatório de criação de uma solução de continuidade entre os tecidos (ou uma via de acesso). Em geral é a primeira etapa da operação, sendo comumente representada pelo bisturi e pelo corte de estruturas. O objetivo principal da diérese é proporcionar a abertura e exposição de determinada região que se deseja atingir, com preservação de planos anatômicos, da viabilidade tecidual e da homeostasia. Suas características básicas são: incisão proporcional ao procedimento; técnica adequada ao plano antômico; dissecção apropriada com hemostasia rigorosa; manipulação cuidadosa. Os equipamentos que são usados para isso são: busturis, tesouras, serras, ruginas e cisalhas. O procedimento de diérese não é somente cortar a região específica no momento em que o cirurgião observa a região. Assim como todo ato cirúrgico, ela apresenta etapas e um planejamento rigoroso, demandando técnica, habilidade, conhecimento e material necessário. Estratégia Cirúrgica Esse ponto ocorre antes do procedimento em si. Primeiramente deve haver a delimitação da diérese cutânea, que deve ser previamente traçada. Esse traço pode ser feito com: fios cirúrgicos, canetas apropriadas, escarificação da pele com a lâmina (desaconselhado, ou seja, não usar, pelo maior risco de contaminação) e no imaginário (também é desaconselhável). Figura 1 – Delimitação da diérese cutânea, por fio (A), caneta adequada (B), com azul de metileno (C) e escarificação (D). 3 Material Cirúrgico 4 Antes de se iniciar a diérese, deve-se isolar o local desejado. Isso é feito com a colocação de compressas nas laterais, com o intuito de evitar o contato direto com a pele e da absorção de sangue que possa advir das bordas da ferida. A pele deve estar seca e íntegra (ou o máximo possível, quando isso não for possível), sendo que necessita de uma boa fixação para um bom corte cirúrgico. Isso é obtido mediante uma lâmina correta e afiada (íntegra), uma fixação da pele com a outra mão (semelhante a uma garra) e o corte preciso e único da pele, descrito a seguir. Tática Cirúrgica O cirurgião sempre deve estar a direita do paciente (como regra geral), com as incisões sendo feitas em um ou mais tempos. Elas são feitas da esquerda para direita, de distal para proximal e, quando o paciente está em declive, de baixo para cima (impedir que o sangue atrapalhe a visualização da incisão). O bisturi deve ser colocado praticamente de modo perpendicular à pele do paciente, com uma leve inclinação após a entrada para que a superfície de corte fique com maior contato no local desejado para diérese. O corte deve ser limpo, preciso, fixo e em um único tempo, com retirada também ~ perpendicular. Isso cria uma abertura reta e lisa, facilitando a operação e, principalmente, o pós-operatório. Figura 3 – Técnica para diérese e cortes, em perfil, provocados pelo bisturi (apenas o A está correto). Materiais Bisturis É o principal material dessa fase do ato operatório. Suas qualidades essenciais já forma descritas no texto. Existem três tipos de bisturis: bisturi de Chassaignac (com lâmina incorporada ao corpo), bisturi com ponta romba e bisturi atual (o único utilizado realmente nos dias atuais). Esse novo bisturi permite que as lâminas sejam renovadas quando estão danificadas, além de permitir maior maleabilidade durante o ato cirúrgico. Figura 2 – Isolamento da área desejada para exérese. 4 I Introdução e Conceitos Básicos - TO Existem muitos modelos de bisturis, com diferenciação enorme em lâminas e cabos. Geralmente os cabos longos são utilizados em operações abdominais e torácicas, além daqueles com certa angulação são mais práticos ainda. Os cabos mais utilizados são os de número 3, 4 e 7, podendo ser mais longos (3L e 4L) ou angulados (3LA). As lâminas compatíveis com os números 3 e 7 vão de 10 a 15, enquanto as compatíveis com o cabo 4 vão de 20 a 25. Figura 4 – Principais cabos (3, 4 e 7) e lâminas (10 a 15 e 20 a 25). A colocação da lâmina no bisturi deve ser feita com os maiores cuidados para prevenir um acidente pessoal ou mesmo com pessoas próximas. Por essa razão essa alocação NUNCA deve ser feita com as mãos, utilizando-se sempre uma pinça para apoio. A maneira de realizar isso é demonstrada na Figura 5. Figura 5 – Maneira de colocar e retirar a lâmina do bisturi. A manipulação do bisturi é bastante diversificada, mas prima-se sua utilização como um lápis. Outra maneira que está correta é a forma de “extrema precisão”, em que o polegar e o indicador seguram a lâmina, semelhante ao jeito anterior. Maneiras desaconselhadas (alguns autores ainda dizem erradas) são: arco de violino, faca ou flutuante (pelo meio do cabo). Figura 6 – Maneiras de manipulação do bisturi. Como lápis (A), de extrema precisão (B), como arco de violino (C), faca (D) e flutuante (E), sendo apenas a A e B estritamente corretas. 5 Material Cirúrgico 4 Figura 7 – Sinal de indica bisturi (A), maneira de entrega-lo ao cirurgião (B) e maneira de segurá-lo após a entrega (C). Tesouras Suas funções primárias são: cortar, dissecar, desbridar e divulsionar os tecidos orgânicos, com alguns tipos específicos desenhados para cortar fios cirúrgicos, gaze, borracha, plástico, etc.A tesoura apresenta diversas estruturas em sua formação, mas uma das principais é sua ponta ou vértice. Com relação à essa estrutura, podemos ter uma tesoura romba, semi-aguda e aguda, e segundo sua forma, curvas ou retas. Figura 8 – Subdivisão de tesouras. Temos divisão segundo sua ponta em romba (A), semi-aguda (B) e aguda (C), e segundo suas hastes (retas e curvas). Essa subdivisão é importante principalmente para a função das tesouras. As curvas apresentam a peculiaridade de poderem cortar de maneira reta (no terço mais proximal e mais distal) ou de forma curva (quando toda a tesoura é utilizada para o corte). De qualquer maneira, em hipótese alguma as tesouras de dissecção podem ser usadas para cortar gaze, materiais de prótese, etc, pois seu fio é muito delicado para isso (deve-se usar uma tesoura específica). Em caso de necessidade, dá-se a preferência da secção pela parte mais proximal, pois as pontas são delicadas e específicas para tecidos muito delicados. Em geral, diz-se que as tesouras retas são usadas pelos cirurgiões para secção de estruturas em geral, enquanto as retas são manejadas pelo auxiliar, no intuito de secção de fios cirúrgicos. 6 I Introdução e Conceitos Básicos - TO Além de sua utilização para diérese por secção, as tesouras são usadas para dissecção e divulsão de estruturas (em especial as curvas). Figura 11 – Processos de dissecção (A e B), divulsão (D e E) e corte correto de aponeurose © A utilização correta da tesoura cirúrgica é igualmente importante quanto um correto corte feito pelo bisturi. Os dedos que DEVEM ser inseridos nas argolas são o polegar (apenas falange distal) e o indicador (até o início da falange média), com o anular apoiando e o indicador dando fixação e direção na lateral. Uma variação da pegada é a reversa, em geral utilizada por auxiliares. Figura 12 – Usos possíveis da tesoura, como habitual (A), para mão esquerda (B) e inverso (C, voltado ao cirurgião). As tesouras podem ser divididas de acordo com sua função, em: dissecção, específicas para determinados órgãos, fortes, para secção de bandagens e outros materiais e retirada de pontos. Figura 9 – Maneiras distintas de secção em uma tesoura curva. Figura 10 – Maneira correta de manuseio da tesoura. 7 Material Cirúrgico 4 Tesouras para Dissecção As principais são a de Metzenbaum (reta ou curva, mais delgada e com tamanhos variando de 14 a 26 cm, servindo para cortes de tecidos mais delicados) e a de Mayo (reta ou curva, com pontas rombas ou semi-agudas, variando de 14 a 22 cm, mais “encorpada” e mais específica para corte de tecidos resistentes, como aponeuroses). Dentre os outros tipos de tesouras, podemos citar: I. Mayo-Stille e Mayo-Harrington; Figura 14 – Mayo-Stille reta. Figura 13 – Diferenciação das tesouras de dissecção de Mayo (superior) e de Metzenbaum. 8 I Introdução e Conceitos Básicos - TO Figura 15 – Mayo-Harrington reta. II. Format padrão ou standart; III. Boyd; IV. Deaver; V. Lahey; VI. Joseph; VII. Kelly; VIII. Sistrunk; IX. Stevens. Figura 16 – A- padrão curva; B- Boyd curva; C- Joseph reta; D- Joseph curva. Tesouras Específicas Desenhadas para operações e ações bem específicas, geralmente não usadas fora desse contexto. São as principais: Baliu – uso ginecológico; Potts e Dietrich (cirurgia vascular); Com cateterização mono ou bipolar. 9 Material Cirúrgico 4 Figura 17 – Tesouras específicas de Baliu (A), Dietrich e Potts (B) e Metzenbaum com cauterização (C). Tesouras Fortes As tesouras fortes são usadas para incisão de tecidos rígidos, resistentes e espessos, bem como para cortar bandagens. São eles: Doyen; Ferguson; Lister; Mayo-Noble; Reynolds; Para fios de aço. Figura 18 – Tesouras fortes, de Lister (A) e para fios de aço (B). Tesoura para Retirada de Pontos Cirúrgicos Utilizam-se as: Spencer; Littauer; O’Brien. 10 I Introdução e Conceitos Básicos - TO Figura 19 – Tesoura para retirada de pontos (de Spencer). Figura 20 – Solicitação de tesoura reta (A e B) e curva (C e D), assim como a maneira de entrega-la. INSTRUMÉNTOS AUXILIARÉS Durante diversos períodos de uma operação são necessários uma grande gama de instrumentos que não servem para diérese, hemostasia ou síntese, sendo usados para auxiliar algum desses processos (em geral a diérese). Esses “produtos” são chamados de instrumentos auxiliares, servindo principalmente para uma correta exposição do campo cirúrgico. Alguns são aplicados nos próprios campos (como a pinça de Backau) e outros nas estruturas do indivíduo (como as pinças de dissecção). Pinças de Dissecção São pinças tipo mola (chamadas também de pinças elástico), semelhantes a hashis da cultura oriental, com a parte interior preensora apresentando marcações estriadas ou serrilhadas (com ou sem dentes em sua região mais distal). Aquelas pinças que não apresentam o dente são chamadas de pinças anatômicas ou pinças de dissecção, servindo para estruturas muito delicadas (vasos, nervos, paredes viscerais). Já se a pinça apresentar o dente ela é 11 Material Cirúrgico 4 chamada de pinça dente de rato, sendo indicada para manipular tecidos mais resistente, como pele (não usar anatômica pelo risco grande de isquemia), aponeuroses. Figura 21 – Dois principais tipos de pinças, a anatômica (A) e dente de rato (B). Outros tipos secundários de pinças são: Adson (trauma tecidual mínimo); Adson-Brown; Cushing (áreas profundas sem muita exposição); De Backey (aplicação de preensão em tecidos delicados, cirurgia vascular); Graef, Lucae, Nelson, Potts0Smith; Mayo-Russa (pressão tecidual o mais atraumaticamente possível). Figura 22 – Pinças secundárias: Adson (A), Adson com dentes (B), Adson-Brown (C), Cushing (D), De Backey (E), Lucae (F), Mayo-Russa (G) e Nelson (H). 12 I Introdução e Conceitos Básicos - TO Todas essas pinças (em especial as anatômicas) podem apresentar um recobrimento distal de vídio, para deixar a preensão ainda mais atraumática. Em geral a pinça de preensão é manuseada como um lápis, na mão esquerda (pois é um instrumento auxiliar). Outras formas de manuseio não são recomendadas (somente em situações muito especiais). Figura 23 – Formas de manuseio da pinça, habitual (A), sem apoio (B) e espalmada (C). Figura 24 – Forma correta de pedir uma pinça de dissecção. Em A temos o sinal de pinça anatômica e em B o de dente de rato. Tentacânula É um instrumento de 15 cm de comprimento, com múltiplas aplicações. Uma de suas extremidades apresenta fenestrações que são boas para um cote de “freios”da língua e do lábio (essa estrutura é inserida no meio da peça). Na outra extremidade temos uma ponta com dois lados, um côncavo e outro convexo. O primeiro é utilizado para realização de incisões retilíneas, enquanto o convexo é muito utilizado em operações sobre unhas. 13 Material Cirúrgico 4 Figura 25 – Tentacânula, face côncava (A) e convexa (B). Estiletes Em geral utilizados para operações específicas, sendo os principais o biolivar, ginecológico, otológico e o histológico. Afastadores São essenciais para uma correta exposição do campo. São divididos em afastadores da parede ou do centeúdo intracavitário; em manuais (ou dinâmicos) e auto-estáticos (autofixantes). Afastadores Mecânicos de Parede O mais frequente de todos são os de Farabeuf, que são afastadores de mão com hastes de comprimento e largura variáveis. Outros afastadores desse tipo que são usados: Gillies, Guthrie, Langenbeck, Volkman, Rollet ou de Blair- Rollet. Figura 27 – Afastadores de superfície secundários: Gillies (A), Senn-Muller (B), Langenback (C), Volkman com garra aguda (D), Volkman com quatro garras (E). Figura 26 – Afastador de Farabeuf. 14 I Introdução e Conceitos Básicos - TO Figura 28 – Maneira correta de pedir o afastadore de Farabeuf, assim como entrega-lo (C). Afastadores Mecânicos de Cavidade Os principais são o Deaver, Doyen, Harrington, Sick (afastador de fígado) e lâminas flexíveis ou maleáveis. Figura 30 – Sinal correto para o afastador de Doyen (A) e como entrega-lo (B). Afastadores de Superfície Auto-Estáticos Os principais são: Gelpi, Mayo-Adams, Weitlaner, sendo que não são muito utilizados. Afastadores Auto-Estáticos de Cavidade Os mais utilizados são: Balfour (operações abdominais, podendo separar conjuntamente a parede inferior da superior com a inserção de uma lâmina de Doyen), Gosset (afastamento de laterais do abdome), Finochetto (cirurgias torácicas). Figura 29 – Principais afastadores de cavidade, Deaver (A), Doyen (B), lâmina de Doyen e lâmina flexível (D) 15 Material Cirúrgico 4 Figura 31 - Afastadores de Balfour (A), Gosset pequeno (B), Gosset grande (C) e Finocheto (D). Figura 32 – Gestos para afastador de cavidade (A, B e C) e maneira correta de entrega-lo (D). Afastadores Especiais Geralmente utilizados para grandes operações abdominais, sendo os principais: Kirschner, Smith e Bookwalter. 16 I Introdução e Conceitos Básicos - TO HÉMOSTASIA Hemostasia, proveniente do grego haimóstasis, representa o conjunto de ações destinadas a prevenir ou parar uma hemorragia. Todos os pontos aqui citados são de extrema importância para operação, mas talvez essa parte seja a mais relevante, já que uma falha pode cursar com o óbito do paciente. Para uma melhor compreensão da dinâmica hemostática é interessante classificarmos os tipos de hemostasia. Tipos de Hemostasia A hemostasia pode se dividir em temporária (redução do fluxo temporariamente) ou definitiva (de modo definitivo, pelo menos em teoria) assim como em preventiva (a fim de não ocorrer) ou corretiva (já ocorreu e deseja-se parar). Serão descritos agora as técnicas específicas para cada uma delas. Hemostasia Temporária Compressão É definida como a manobra em que se performa certo grau de pressão sobre o local da hemorragia (feita normalmente pelo primeiro auxiliar). Isso pode ser feito com seu próprio dedo (como na manobra de Pringle, em que se comprime o pedículo hepático) ou com uma gaze. De qualquer maneira, a fundamentação teórica baseia-se na criação de um coágulo temporário que fecha a hemorragia (além de certo colabamento do vaso). Os gazes e compressas também podem ser usados para enxugar o campo cirúrgico, com a finalidade de melhorar a exposição do campo. Devem ser usados materiais secos, sendo dispensados após estarem com 2/3 de seu corpo encharcado. Deve haver um controle bem rigoroso com a quantidade de gazes utilizados, tanto por uma questão econômica como pelo perigo de deixar algum corpo estranho no paciente. Existem ainda certos tipos de gazes, chamadas de gazes dissectoras, utilizadas para dissecção romba (enroladas e pequenas). Pinçamento de Vaso Sangrante Utiliza-se uma pinça hemostática para pinçamento do vaso. A técnica e o material usado serão exemplificados mais tarde. Clampeamento de Tronco Vascular Em geral utiliza-se para vasos de calibre grosso, sendo aplicadas pinças hemostáticas atraumáticas ou clampes tipo bulldog que visam manter um determinado local do vaso sem sangue (pelo menos fluxo). Também podem ser utilizados finas alças de tecido elástico atraumático, denominados vessel-loop. Garrote ou Torniquete Em geral não é utilizado no procedimento, apenas antes dele (em uma emergência, por exemplo). Deve-se prender um material elástico ou uma faixa na raiz do membro que se deseja garrotear, com função de pressionar os vasos contra uma estrutura óssea, limitando seu fluxo. Outros matérias (agora mais usados no CC) são o manguito (insuflar em 50 a 70 mmHg acima da pressão sistólica no MMSS, e de 90 a 100 no MMII) faixas de Esmarch. De qualquer maneira, essa repressão ao fluxo sanguíneo deve ser de no máximo 60 minutos, com liberação de 10 a 30 minutos (intervalo). Tabela 1 – Subdivisão dos tipos de hemostasia. 17 Material Cirúrgico 4 Posicionamentos Algumas posições específicas em que o paciente fica auxiliam a diminuição ou até a parada na hemorragia ( como a de Trendelanberg, que diminui a hemorragia em MMII). Essas posições são extensamente discutidas no próximo capítulo. Hemostasia Medicamentosa Pode ser obtida pelo uso local de vasoconstritores, como adrenalina, ou pela administração endovenosa de hipotensores, tipo nitroprussiato de Na. Hemostasia Definitiva Os métodos mais utilizados atualmente são: ligadura de vasos, clampeamento, cauterização, obstrução ou coagulação tópicas e tamponamento compressivo. Ligadura Geralmente esse tipo de procedimento é feito de forma preventiva, com utilização de fio cirúrgico. Processa- se da seguinte forma: disseca-se adequadamente o vaso desejado; passa-se um fio cirúrgico sob o vaso com o auxílio de uma ppinça hemostática curva; dá-se o nó nas duas extremidades (com dois fios distintos) e de forma que cada nó fique distante um do outro (para possibilidade de juntar após o procedimento) e corta-se o vaso entre esses dois fios. Caso o vaso seja muito grande, pode-se colocar outro fio de modo preventivo. Figura 33 – Passos para ligadura de vaso com fio cirúrgico. 18 I Introdução e Conceitos Básicos - TO Figura 34 – Gestos (A e C) para pedir fio cirúrgico e maneira de entrega-lo (B). Clipe É uma maneira alternativa a ligadura (que tambémpode ser feita com pinças, ao invés de fios cirúrgicos). Esse material dá mais agilidade à operação, sendo muito importantes para campos operatórios exíguos. Tamponamento por Compressas Utilizadas quando o sangramento é muito intenso, sendo umedecidas em soro fisiológico estéril e frio. Em alguns casos deve-se aplicar compressas e continuar a cirurgia após 24 a 48 horas, tempo suficiente para diminuição/parada da hemorragia. Figura 35 – Maneira de solicitação de gaze individual (A e C) e gaze montada (D, E e F). 19 Material Cirúrgico 4 Pinças Hemostáticas Essas pinças são de preensão contínua, sendo manuseadas da mesma forma que tesouras. Suas garras devem conter obrigatoriamente ranhuras que propiciam a preensão de vasos sanguíneos sangrantes (além de classifica-las e diferenciá-las). Os principais tipos de pinças são: Kelly: serrilhado transversal em 2/3 da garra, com 13 a 15 cm de comprimento; Crile: serrilhado transversal em toda garra, com 14 a 16 cm de comprimento; Mixter: pontas anguladas (semelhante a um “J”), serrilhado transversal na metade superior da garra, de 18 a 35 cm (a menor também é chamada de baby mixter); Kocher: inicialmente idealizadas para hemostasia, mas por serem muito traumáticas são utilizadas como clampe grosseiro de tecidos fibrosos. Elas apresentam serrilhado por toda ponta, com dentes associados; Outras: Adson, Halsted, Hartmann-Halsted, Schnidt. Figura 36 – Principais pinças hemostáticas usadas: Kelly curva (A), Crile reta (B), Halsted (C), Hartmann-Halsted (D), Schidnt (E) e Mixter (F). As pinças hemostáticas por excelência são na realidade as curvas, sendo que as retas são utilizadas somente para função de reparo. Em alguns casos, até mesmo as pinças hemostáticas menores e mais delicadas 20 I Introdução e Conceitos Básicos - TO podem lesionar o vaso (especialmente aqueles muito pequenos). Nesses casos utiliza-se um ecapamento das garras, com material semelhante ao usado no vessel-loop. Figura 37 – Maneira principal de solicitação de pinça curva (A), reta (B) e sua entrega (C). Geralmente as pinças curvas podem ser pedidas de outras maneiras (D e E). Clampes Vasculares Utilizados para uma oclusão temporária da luz do vaso. Os principais (diferenciados pela conformidade do serrilhado) são os: De Backey, Cooley, Potts e o serrilhado duplo cruzado. Figura 38 – Diferenciação de clampes vasculares ao lado (Cooley, A, Castañeda, B, serrilhado duplo cruzado, C, e De Backey, D), assim como pinça Kocher curva (acima, B). 21 Material Cirúrgico 4 Bulldogs São pequenos clampes muito úteis para o manuseio de vasos de pequeno calibre. Os principais são os De Backey, Dietrich, Glover e Wood. Figura 39 – Clampes Bulldogs De Backey (A) e Dietrich (B). Figura 40 – Clampes vasculares De Backey (A, B e C) e de Satinsky (D). Clampes Gastrointestinais São utilizados nas técnicas de ressecção de segmentos do TGI para evitar o manuseio de secreções. Podem ser divididos em traumáticos e atraumáticos. Os clampes atraumáticos são: Allen, Brunner, Doyen, Kocher, Péan e Schudder. Já os clampes traumáticos utilizados é o de Payr, utilizado nas ressecções gástricas subtotais. Figura 41 – Camples de Doyen (A e B) e de Kocher (D e C). 22 I Introdução e Conceitos Básicos - TO Outras Pinças de Preensão Utilizados na manipulação de tecidos e vísceras assim como na instrumentação do campo. Os principais na manutenção de estruturas relacionadas ao campo são: Foerster (pinça coração) e Collin, ambos para passagem da gaze com material antimicrobiano (alguns as chamam de pinças de pintura); e a pinça Backau (para fixação das pontas do campo). Figura 42 – Pinça Foerster coração (acima) e Backau (dir). Outras pinças que merecem menção são: Allis, Babcock, Duval. Figura 43 – Pinças: Allis (A), Babcock (B), Duval-Collin (D), Collin (C), Duval-Collin com vídia (E) e Foerster (F). 23 Material Cirúrgico 4 Figura 44 – Solicitação (A) e entrega (B) de pinça Allis. SI NTÉSÉ É o conjunto de manobras destinadas à reconstituição anatômica e/ou funcional de um tecido ou órgão, consistindo etapa obrigatória na maioria dos procedimentos cirúrgicos. As bordas das feridas devem sempre estar justapostas e a melhor forma de síntese (vista posteriormente) deve ser considerada de acordo com a estratégia cirúrgica escolhida. Existem alguns tipos de síntese: Síntese imediata (realizada sempre que possível, com síntese total da ferida); Síntese tardia: síntese parcial, dividida em: o Cicatrização por segunda intenção ou secundária: quando se dá naturalmente; o Cicatrização por terceira intenção ou primária retardada: por aproximação de bordas após melhora inicial. Esse procedimento quase sempre é realizado com fios cirúrgicos, com ou sem utilização de prótese, ou ainda com a utilização de fitas adesivas ou colantes, sem o emprego de suturas (ver em capítulos posteriores). Existem condições que são imprescindíveis para realização de uma boa síntese, dentre elas: assepsia e anti- sepsia; bordas regulares; hemostasia; uso de material apropriado; e técnica adequada. Instrumentos O equipamento para realização dessa etapa cirúrgica é o porta agulha. Ele é semelhante a uma tesoura (sua utilização se faz da mesma maneira), retos e apropriados para rotação em seu próprio eixo. Podem ser delicados, semi-delicados ou fortes (robustos), sendo a escolha baseada no tipo de sutura e agulha. Seu tamanho varia com o local em que se quer realizar a síntese, com grande número de variações disponíveis. O principal deles é o porta agulha Mayo-Hegar, com ou sem ponta de vídia. Figura 45 – Porta agulha Mayo-Hegar, sem (A) e com ponta de vídia (B). 24 I Introdução e Conceitos Básicos - TO Figura 46 – Sinais de solicitação de porta agulha reparado (A e B) e sua entrega (C). Existem muitos outros subtipos de porta agulhas, mas que fogem do escopo desse capítulo, em que apresenta apenas os PRINCIPAIS instrumentos cirúrgicos. MÉSA CIRU RGICA É rotina a montagem da mesa cirúrgica, observando-se regras para a distribuição dos instrumentais cirúrgicos: o material de diérese permanece no canto inferior esquerdo; o de síntese no canto superior esquerdo; o material de hemostasia e preensão no meio da mesa, inferiormente, sendo os afastadores no canto superior, conforme ilustra a figura abaixo. O instrumental cirúrgico é previamente esterilizado por técnicas pré-estabelecidas. A montagem da mesa é feita pelo auxiliar e pelo instrumentador que deverão fazê-la de uma forma a amenizar o trabalho do cirurgião tornando-o mais agradável e prático, para que este possa se concentrar totalmente no ato a ser executado. A mesa poderá ser montada tanto dadireita para a esquerda quanto vice-versa dependendo da posição do cirurgião. Figura 47 – Disposição comumente usada para mesa de Mayo. 1 – diérese; 2 – hemostasia; 3 – síntese e exérese; - 4 – auxiliar. O 2 pode ser trocado pelo 3 em certos casos. QUÉSTO ÉS 1) Defina diérese, hemostasia e síntese e diga qual sua relação com procedimento cirúrgicos em geral. 2) Discuta sobre os objetivos da diérese/hemostasia/síntese e como ocorre (desde seu planejamento até sua execução). 25 Material Cirúrgico 4 3) Quais são os principais equipamentos utilizados na diérese/hemostasia/síntese, quais suas variações principais e suas funções. 4) Discuta e defina os sinais para os equipamentos na diérese/hemostasia/síntese e como eles devem ser manuseados. 5) Quais são os subtipos, e como ocorrem, da hemostasia; 6) Defina, discuta, intercolerrelacione e exemplifique os materiais usados como instrumentais auxiliares, conquanto sua utilização, função, definição e subtipo. 7) Discuta sobre a estruturação de mesa de Mayo e suas finalidades. REFERÊNCIAS 1. Goffi FS. Técnica cirúrgica: bases anatômicas, fisiopatológicas e técnicas da cirurgia. 4ª ed. Rio de Janeiro: Atheneu; 2001. 2. Marques, Ruy Garcia. Técnica operatória e cirurgia experimental. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
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