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completo paulaFUNDAMENTOS HISTÓTICOS TEÓRICOS METODOLÓGICOS

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FUNDAMENTOS HISTÓTICOS TEÓRICOS METODOLÓGICOS 
DO SERVIÇO SOCIAL III 
 
A disciplina FUNDAMENTOS HISTÓTICOS TEÓRICOS METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL III, tem como 
objetivos concluir o debate sobre o Movimento de Reconceituação do Serviço Social brasileiro, tendo como 
foco a vertente denominada por José Paulo Netto de “Perspectiva de Intenção de Ruptura”, que marca a 
aproximação do Serviço Social brasileiro com a tradição marxista. 
Analisaremos o contexto sócio-econômico-político que marca o final da década de 70 e o inicio da década 
de 80, que marca o final do processo ditatorial e o início da abertura política. É neste contexto que se dá a 
aproximação de alguns assistentes sociais coma teoria marxista. 
Abordaremos a experiência da equipe da PUC de Belo Horizonte, conhecida como “Método BH”, as 
contribuições de Ana Quiroga, Miriam Limoeiro, em seguida as contribuições de Marilda Iamamoto, 
Vicente de Paula Faleiros e José Paulo Netto. Por último veremos como referencial teórico marxista se 
torna hegemônico no Serviço Social brasileiro, através das Diretrizes Curriculares e do Novo Código de Ética 
da Profissão. 
AULA 1 - O CONTEXTO SÓCIO-ECONÔMICO POLÍTICO EM QUE OCORRE O MOVIMENTO DE 
RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL 
A conjuntura sócio-histórica política e ideológica do final da década de 70 e início da década de 80, no qual 
verificamos a erosão da ditadura e o início do processo de democratização, e suas influências na 
aproximação do Serviço Social ao referencial teórico marxista. 
====================================== 
AULA 2 - O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL 
O movimento de reconceituação do Serviço Social brasileiro, e a emergência da a vertente de intenção de 
ruptura. Três momentos da intenção de ruptura segundo José Paulo Netto. ( Silva 71 a 90 e José Paulo 
Netto). 
============== 
AULA 3 - A EXPERIÊNCIA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BELO HORIZONTE: 
O “MÉTODO BH” 
 A experiência de da PUC de Belo Horizonte: o "Método BH". Fundamentação teórica e a contribuição dos 
principais autores, proposta metodológica, interrupção da experiências, limites e avanços da proposta. 
============= 
AULA 4 - A INFLUÊNCIA DO MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO LATINO AMERICANO 
As contribuições de Vicente de Paula Faleiros para análise do atuação profissional no Estado e nas 
instituições, a partir do referencial marxista. 
============= 
AULA 5 - A CONSOLIDAÇÃO DA PERSPECTIVA DE INTENÇÃO DE RUPTURA NO BRASIL 
O amadurecimento da perspectiva de intenção de ruptura e as contribuições de Marilda Iamamoto e Raul 
de Carvalho: a análise da inserção do Serviço Social nas relações de produção capitalista no Brasil. 
========== 
AULA 6 - AS PRINCIPAIS CATEGORIAS DA ANÁLISE MARXISTA 
As principais categorias da análise marxista sobre a sociedade capitalista: modo de produção capitalista, 
capital, trabalho, lucro, mais-valia, classes sociais, alienação, consciência social e consciência de classe, 
questão social. 
=========== 
AULA 7 - AS CONTRIBUIÇÕES DE JOSÉ PAULO NETTO 
para a análise do Movimento de Reconceituação do Serviço Social brasileiro 
As contribuições de José Paulo Netto para a análise do Serviço Social na perspectiva marxista. 
============= 
AULA 8 - A FASE DO ESPRAIAMENTO DA PERSPECTIVA DE INTENÇÃO DE RUPTURA 
O III Congresso Brasileiro de Assistência Social e a hegemonia da perspectiva marxista no Serviço Social. As 
novas diretrizes curriculares para a formação profissional. 
=========== 
AULA 9 - A HEGEMONIA DO MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO NO SERVIÇO SOCIAL 
BRASILEIRO 
O NOVO CÓDIGO DE ÉTICA E O PROJETO POLÍTICO DA PROFISSÃO. 
============ 
AULA 10 - BALANÇO CRÍTICO SOBRE A VERTENTE DE INTENÇÃO DE RUPTURA E DESAFIOS 
CONTEMPORÂNEOS PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL 
BALANÇO CRÍTICO SOBRE A VERTENTE DE INTENÇÃO DE RUPTURA NA PERSPECTIVA DE 
JOSÉ PAULO NETTO. 
====== 
 
 
 
Introdução 
Para compreendermos em que cenário se gesta e desenvolve a produção do Serviço Social brasileiro, é 
preciso recorrer à história do desenvolvimento sócio-econômico-político brasileiro, compreendendo suas 
transformações, e como elas refletem no modo de pensar e agir dos assistentes sociais. Abordaremos o 
período relativo ao desenvolvimento da industrialização e do capitalismo no Brasil, e como o Serviço Social 
vai ser forjado para atender as necessidades desse modelo de desenvolvimento. Finalmente, 
apresentaremos o cenário e as variáveis que permitiram o surgimento do Movimento de Reconceituação 
do Serviço Social brasileiro, com suas faces conservadoras e inovadoras, que resultaram na aproximação e 
posterior incorporação do referencial teórico marxista . 
AULA 1 
O CONTEXTO SÓCIO-ECONOMICO-POLITICO EM QUE OCORRE O MOVIMENTO DE 
RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL 
 
A CONTRA REVOLUÇÃO 
Nesta aula, analisaremos o período da década de 60 e 70 no Brasil, quando vivemos sob uma ditadura 
militar, que José Paulo Netto denomina de “autocracia burguesa”. 
A emergência da ditadura brasileira inscreve-se num panorama internacional, no qual uma sucessão de 
golpes de Estado constituía-se como cenário para uma alteração na divisão internacional capitalista, sob a 
hegemonia norte-americana, patrocinando uma contra-revolução que visava à manutenção do sistema 
capitalista em escala planetária, numa disputa com os países socialistas. 
Essa contra-revolução tinha como finalidades: 
Adequar os padrões de desenvolvimento nacionais e continentais/regionais, ao novo quadro de 
internacionalização do capital (globalização). Enfraquecer e imobilizar os protagonistas sociopolíticos que 
resistiam a esta reinserção mais subalterna no sistema capitalista (países opositores, de viés comunista e 
socialista). Dinamizar, em todos os continentes, forças aliadas contra a revolução e o socialismo. 
A CONTRA REVOLUÇÃO 
Como consequência dessa estratégia, verificamos, a partir da segunda metade da década de 60, os 
seguintes resultados: 
 A afirmação de um padrão de desenvolvimento econômico associado subalternamente aos 
interesses imperialistas, com uma integração mais dependente ao sistema capitalista. 
 A articulação de estruturas políticas comprometidas com a exclusão dos protagonistas de projetos 
nacional-populares e democráticos. 
 Um discurso oficial com uma prática policial-militar anticomunista. 
DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA 
No Brasil, o desenvolvimento capitalista foi implantado e se desenvolveu sem desvincular-se de formas 
tradicionais (oligarquia rural), modernizando-as e integrando-as em sua dinâmica, em patamares mais 
complexos, funcionais e integrados (modernização e industrialização da agropecuária, através de 
maquinários, insumos industrializados: fertilizantes, inseticidas etc.). Outro aspecto a considerar é que as 
forças populares foram recorrentemente excluídas dos processos de decisão política, por dispositivos 
sinuosos ou de coerção aberta. Destaca-se nesse sentido as estratégias de relacionamento (aproximação, 
diálogo, controle, concessões, manipulação, cooptação) de Getúlio Vargas com as organizações dos 
trabalhadores (sindicatos e associações), que o consagram como populista. Um fato novo no país foi o 
surgimento de amplas camadas trabalhadoras urbanas e rurais no cenário político, além de segmentos 
pequeno-burgueses (camadas intelectuais) e parcelas da Igreja Católica e das Forças Armadas, com 
posicionamento crítico e divergente, que poderiam ter como desdobramentos um reordenamento político-
social capaz de gerar uma situação pré-revolucionária, a partir das articulações do movimento operário e 
sindical. No Brasil, verifica-se um desenvolvimento tardio do capitalismo em relação aos países europeus enorte-americanos. A industrialização pesada passa a acontecer somente a partir de 1956, implicando em 
num novo padrão de acumulação capitalista. As lutas contra a exploração imperialista e latifundiária, 
acrescidas das reivindicações de participação cívico-política ampliada, apontavam para uma ampla 
reestruturação do padrão de desenvolvimento econômico e uma profunda democratização da sociedade e 
do Estado, que poderia criar uma nova hegemonia e garantir a implementação de políticas democráticas e 
populares, tornando-se capazes de assumir o poder e redimensionar o Estado. Estava em jogo não só a luta 
pelo capitalismo ou socialismo, mas a reprodução do desenvolvimento associado, dependente e 
excludente, ou um processo profundo de reformas democráticas e nacionais, antimperialistas e 
antilatifundiaristas, numa perspectiva de revolução social. Nesse sentido, o movimento cívico-militar de 
abril de 64, configurou-se como um pacto contra-revolucionário, portanto reacionário, conservador da 
ordem burguesa que estava em andamento. A resultante é um Estado que estrutura um sistema de poder 
muito definido, no qual se unem os monopólios imperialistas e a oligarquia financeira nacional. 
http://estacio.webaula.com.br/cursos/gon187/docs/04FH_aula01_doc01.pdf 
============ 
A RENOVAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL SOB A AUTOCRACIA BURGUESA 
Do ponto de vista profissional, modificam-se muitas demandas práticas e sua inserção nas estruturas 
organizacional-institucional, que alteram as condições do exercício profissional. A reprodução da categoria 
profissional, a formação de seus quadros técnicos viu-se profundamente redimensionada, bem como os 
padrões de organização da categoria. Seus referenciais teórico-culturais e ideológicos sofreram alterações 
significativas. 
A renovação do Serviço Social no Brasil, mesmo que não possa ser reduzido às peculiaridades e 
características do ciclo ditatorial, é impensável sem a referência à sua dinâmica e crise. Até o final da 
década de 60, e entrando pelos anos 70, no discurso e na ação governamental, há um claro componente de 
valorização e reforço do que caracterizamos como Serviço Social tradicional, entendido como prática 
empirista, paliativa e burocratizada dos profissionais, orientada por uma ética liberal-burguesa, que 
consiste na correção de resultados psicossociais considerados negativos ou indesejáveis à ordenação 
capitalista.O desenvolvimento das forças produtivas é acompanhado do aumento e complexificação das 
expressões da questão social. Para enfrentá-las e administrar as políticas sociais do Estado ditatorial, foram 
necessárias a criação de cargos na estrutura sócio-ocupacional a serem preenchidos por assistentes sociais, 
quer nos aparelhos burocrático-administrativos do Estado, quer no âmbito das empresas. 
A criação de um mercado nacional de trabalho para os assistentes sociais tem início em meados dos anos 
quarenta, quase uma década depois da fundação das primeiras escolas de Serviço Social, no bojo do 
processo de desenvolvimento de grandes instituições sociais implementadas por Getúlio Vargas, durante o 
período chamado de “Estado Novo”. 
Nos anos 50 e na entrada dos anos 60, esse mercado se expande com a industrialização pesada. Trata-se, 
porém de um mercado de trabalho emergente e ainda em processo de consolidação, e com relações 
trabalhistas carentes de uma institucionalização plena, exceto nas organizações governamentais, onde elas 
se desenvolveram primeiramente. 
A produção teórica do Serviço Social brasileiro recebe inicialmente forte influência das escolas européias 
de formação de profissionais, vinculadas à Igreja Católica. Num segundo período, vincula-se à perspectiva 
norte-americana, baseada no Positivismo e no Funcionalismo, adequando-se às novas exigências 
profissionais, decorrentes de sua inserção nos órgãos estatais e nas empresas.O Estado, tradicional, grande 
empregador dos assistentes sociais, reformula a partir de 1966-1967, as estruturas onde se inseriam 
aqueles profissionais, através de uma série de reformas que, atingindo primeiramente o sistema 
previdenciário, haveria de alterar posteriormente todo o conjunto de instituições e aparatos 
governamentais, através dos quais se interfere na questão social. 
Essa reformulação foi tanto organizacional quanto funcional, acarretando numa diferenciação e 
especialização das próprias atividades dos assistentes sociais, decorrentes do elenco mais amplo das 
políticas sociais, e das próprias sequelas do modelo econômico, promovida aquela reformulação em escala 
nacional e sob a ótica centralizadora do Estado de Segurança Nacional. 
A nova inserção dos assistentes sociais nos chamados serviços públicos foi ampliada para todo o território 
nacional, provocando uma extensão quantitativa da demanda de quadros técnicos de Serviço Social. 
Até meados da década de sessenta, o mercado para os assistentes sociais era complementado 
efetivamente no setor privado pelas obras sociais filantrópicas que, embora funcionando com o apoio do 
Estado, não estavam diretamente ligados às agências oficiais. Mas o mercado nacional de trabalho para os 
assistentes sociais foi dinamizado nos anos sessenta pelas médias e grandes empresas monopolistas e 
estatais.( EMBRATEL, FURNAS, Rede Ferroviária Federal, Correios, Petrobras, Eletrobrás, etc). Para mais 
informações, clique aqui. 
http://estaciodocente.webaula.com.br/cursos/gon187/docs/04FH_aula01_doc02.pdf 
========= 
A EROSÃO DO SERVIÇO SOCIAL TRADICIONAL NO BRASIL 
Segundo NETTO, a autocracia burguesa provocou um processo de erosão do Serviço Social “Tradicional”, 
colocando novas demandas de intervenção sobre a questão social, que ampliaram o mercado de trabalho, 
com a introdução da abordagem comunitária como outro processo profissional, além das abordagens 
individual e grupal. 
 
Ainda que o universo teórico-ideológico do Desenvolvimento de Comunidades fosse acrítico e 
profundamente mistificador dos processos sociais reais, e que não supusesse uma ruptura com os 
pressupostos gerais do tradicionalismo, ele abria uma fenda nas preocupações basicamente micro-sociais, 
individuais, predominantes no Serviço Social Tradicional. Outra consequência, igualmente expressiva, era a 
inserção do assistente social em equipes multiprofissionais, nas quais, dado o caráter relativamente novo 
destas experiências entre nós, o seu estatuto não estava definido previamente como subalterno, 
relacionando o assistente social com aparelhos administrativos e decisórios do Estado, situando-o ao 
mesmo tempo em face das novas exigências de alocação e gestão de recursos e de circuitos explicitamente 
políticos.” 
O II Congresso Brasileiro de Serviço Social, realizado no Rio de Janeiro em 1961, significou não apenas a 
descoberta do desenvolvimentismo, mas efetivamente a intervenção profissional inscrita no 
Desenvolvimento de Comunidade, como a área do Serviço Social a receber dinamização preferencial e mais 
compatível com o conjunto de demandas da sociedade brasileira. São, portanto, elementos determinantes 
para detectar a erosão do Serviço Social tradicional: 
- O RECONHECIMENTO DE QUE A PROFISSÃO, ou se sintoniza com as solicitações de uma sociedade em 
mudança e em crescimento, ou se arrisca a ver seu exercício relegado a um segundo plano; 
- LEVANTA-SE A NECESSIDADE DE APERFEIÇOAR o aparelhamento conceitual do Serviço Social, e de elevar 
o padrão técnico, científico e cultural de profissionais desse campo de atividades, com o reconhecimento 
da insuficiência da formação profissional; 
- A REIVINDICAÇÃO DE FUNÇÕES não apenas executivas, mas também na programação e implementação 
de projetos de desenvolvimento. 
- O AMADURECIMENTO DE SETORES DA CATEGORIA profissional na sua relação com outrosprotagonistas 
(equipes multiprofissionais, grupos da população politicamente organizados, núcleos administrativos e 
políticos do Estado). 
- O DESGARRAMENTO DE SEGMENTOS DA Igreja Católica, em face de seu conservantismo tradicional e o 
surgimento de católicos progressistas, e mesmo de uma esquerda católica, com ativa militância cívica e 
política. 
- O DESENVOLVIMENTO E EXPANSÃO do movimento estudantil, que faz seu ingresso nas escolas de 
Serviço Social. 
 - A ELABORAÇÃO DE REFERENCIAL TEÓRICO nacional, próprio, de parte significativa das ciências sociais do 
período, permeado e repleto de dimensões críticas e de valorização da cultura nacional-popular. Ocorre, 
no início dos anos 60, um duplo movimento de desprestígio do Serviço Social tradicional e a crescente 
valorização da intervenção no plano comunitário, nos quais era possível identificar três vertentes: 
- UMA CORRENTE QUE EXTRAPOLA para o Desenvolvimento de Comunidades os procedimentos e as 
representações tradicionais, apenas alterando o âmbito da sua intervenção; 
- OUTRA CORRENTE, QUE PENSA o Desenvolvimento de Comunidade numa perspectiva macrossocietária, 
supondo mudanças socioeconômicas estruturais, no bojo da sociedade capitalista; 
- E POR ÚLTIMO, UMA VERTENTE QUE pensa o Desenvolvimento de Comunidade como um instrumento 
de transformação social substantiva, conectado à libertação social das classes e camadas subalternas. 
A crise do Serviço Social tradicional foi um fenômeno internacional em praticamente todos os países latino-
americanos, onde a profissão encontrou um nível de significativo de inserção na estrutura sócio-
ocupacional, e alcançou sua legitimação social. O pano de fundo de tais núcleos é dado pelo esgotamento 
de um padrão de desenvolvimento capitalista- o das ondas longas de crescimento, na década de 60. 
O tensionamento das estruturas sociais do mundo capitalista gestou um quadro favorável para a 
mobilização das classes sociais subalternas em defesa dos seus interesses imediatos. Registram-se amplos 
movimentos para direcionar as cargas de desaceleração do crescimento econômico, mediante as lutas dos 
trabalhadores e as táticas de reordenamento dos recursos das políticas sociais dos Estados burgueses. Em 
tais movimentos, o conteúdo das demandas econômicas entrecruza com demandas sociais e culturais: 
começam a emergir reivindicações diferenciadas por categorias específicas, relacionadas à ambiência social 
e natural, a direitos emergentes etc. Esses movimentos põem em questão a racionalidade do Estado 
burguês e suas instituições, e nas suas expressões mais radicais, negam a ordem burguesa e seu estilo de 
vida. Recolocam em pauta as contradições da cidadania fundada na propriedade (lógica capitalista) e 
redimensionam a atividade política , multiplicando seus sujeitos e seus espaços de luta. 
As instituições e organizações governamentais e o elenco de políticas do Welfare State (Estado de Bem 
Estar Social) são colocadas em xeque. Seu universo ideal, centralizado nos valores da integração na 
sociedade aberta, sua aparente neutralidade política, formalizada tecnicamente, é recusada. Sua eficácia 
enquanto intervenção estatal é negada. 
EROSÃO DO SERVIÇO SOCIAL TRADICIONAL NA AMÉRICA LATINA 
Essa efervescente contestação surge no meio profissional com base na convergência de três vetores:O 
chamado Movimento de Reconceituação do Serviço Social é parte do processo de erosão do Serviço Social 
tradicional. É no marco da Reconceituação que pela primeira vez, de forma aberta, o Serviço Social vai 
recorrer à tradição marxista. 
 A revisão crítica que se processa na fronteira das ciências sociais, levando à impugnação do 
funcionalismo, do quantitavismo e da superficialidade que impregnavam as ciências sociais e as instituições 
de Serviço Social. 
 O deslocamento sociopolítico de outras instituições, cujas vinculações com o Serviço Social eram 
notórias: as Igrejas, a católica em especial, nas discussões operadas na América Latina, com novas 
interpretações teológicas (Teologia da Libertação), que justificavam posturas anticapitalistas e anti-
burguesas, provocando um reposicionamento político-social, durante o pontificado de João XXIII. 
 O movimento estudantil, que impulsiona um movimento de contestação global, que penetra e se 
reproduz na categoria profissional, nas escolas de formação.. 
Para saber mais sobre os tópicos estudados nesta aula, pesquise na internet sites, vídeos e artigos 
relacionados ao conteúdo visto. 
Assista aos filmes: 
“Prá frente Brasil”, de Roberto Farias, 1983, sobre a tortura e anos da ditadura no Brasil. 
“Eles não usam black –tie”, de Leon Hirzman, 1981, que apresenta uma discussão sobre ideologia, baseado 
na peça teatral de Gian Francesco Guarnieri. 
Nesta aula, você: 
Relacionou o surgimento e crescimento do Serviço Social brasileiro ao modelo de desenvolvimento 
econômico-político e social capitalista vigente no país. 
Compreendeu os motivos que levaram à crise da ditadura brasileira, e possibilitaram o surgimento do 
Movimento de Reconceituação do Serviço Social brasileiro. 
 
AULA 2 - O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO 
BRASIL 
 
INTRODUÇÃO 
Nesta aula iremos abordar o “Movimento de Reconceituação do Serviço Social brasileiro”, iniciado na 
década de 1970. Este movimento foi realizado por assistentes sociais brasileiros, que buscaram elaborar 
novas propostas de atuação para o Serviço Social, visando contribuir para a atualização da profissão e dos 
profissionais, frente aos novos desafios e transformações ocorridas na sociedade brasileira. A primeira 
vertente foi a Modernizadora, que ao aproprirar-se do referencial Positivista, afastou-se dos referenciais 
tradicionais do Serviço Social, desvinculando-se da doutrina da Igreja Católica, e das influências do Serviço 
Social Europeu, provocando um processo de laicização da profissão ( tornar-se laico, leiga, não baseada na 
religião). Tem como referencial teórico-metodológico o Funcionalismo, e a preocupação de seus principais 
formuladores era adequar a profissão ás novas exigências do mercado de trabalho em franca ampliação. A 
segunda vertente foi denominada de Renovação do Conservadorismo, e constituiu-se em um esforço de 
produzir uma nova corrente teórico-metodológica que continuasse a ter como foco a pessoa, os sujeitos, 
resistindo em parte à visão Modernizadora Funcionalista e à vertente inspirada no marxismo. Desenvolveu 
o referencial teórico-metodológico da Fenomenologia, aplicada ao Serviço Social. A terceira vertente foi a 
de Intenção de Ruptura, que caracterizou-se por uma perspectiva crítica em relação à sociedade capitalista 
e ao Serviço Social tradicional. Esta vertente foi fundamentada numa aproximação ao referencial teórico 
marxista, que após seu amadurecimento e consolidação, tornou-se predominante ( hegemônica) no 
Serviço Social brasileiro, a partir de meados da década de 80. 
Nesta aula iremos abordar o “Movimento de Reconceituação do Serviço Social brasileiro”, iniciado na 
década de 1970. Este movimento foi realizado por assistentes sociais brasileiros, que buscaram elaborar 
novas propostas de atuação para o Serviço Social, visando contribuir para a atualização da profissão e dos 
profissionais, frente aos novos desafios e transformações ocorridas na sociedade brasileira. 
 
A PRIMEIRA VERTENTE FOI A MODERNIZADORA 
Que ao apropriar-se do referencial Positivista, afastou-se dos referenciais tradicionais do Serviço Social, 
desvinculando-se da doutrina da Igreja Católica, e das influências do Serviço Social Europeu, provocando 
um processo de laicização da profissão. Tem como referencial teórico-metodológico o Funcionalismo, e a 
preocupação de seus principais formuladores era adequar a profissão ás novas exigências do mercado de 
trabalhoem franca ampliação. 
 
A SEGUNDA VERTENTE FOI A MODERNIZAÇAO DO CONSERVADORISMO 
E constituiu-se em um esforço de produzir uma nova corrente teórico-metodológica que continuasse a ter 
como foco a pessoa, os sujeitos, resistindo em parte à visão Modernizadora Funcionalista e à vertente 
inspirada no marxismo. Desenvolveu o referencial teórico-metodológico da Fenomenologia, aplicada ao 
Serviço Social. 
 
A TERCEIRA AVERTENTE FOI A INTENÇÃO DE RUPTURA 
Que caracterizou-se por uma perspectiva crítica em relação à sociedade capitalista e ao Serviço Social 
tradicional. Esta vertente foi fundamentada numa aproximação ao referencial teórico marxista, que após 
seu amadurecimento e consolidação, tornou-se predominante ( hegemônica) no Serviço Social brasileiro, a 
partir de meados da década de 80. 
 
MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL 
O chamado Movimento de Reconceituação do Serviço Social é parte do processo de erosão do Serviço 
Social tradicional. É a partir dele que, pela primeira vez, de forma aberta, o Serviço Social vai recorrer à 
tradição marxista. Em seu primeiro momento, utilizou-se de manuais de divulgação sobre o marxismo, de 
qualidade muito discutível, por vezes com versões deformadas pelo neo-positivismo. Ele se desenvolveu 
num contexto de: 
 
RECUSA À IMPORTAÇÃO DE TEORIAS 
Como resposta num primeiro momento, ao hegemonismo, do Serviço Social norte-americano. 
CONFUSÃO IDEOLÓGICA E AS INQUIETUDES DA ESQUERDA CRISTÃ 
Associadas as novas gerações revolucionárias não tradicionais, sobre a base teórica do marxismo mais 
dogmático. 
 
ATIVISMO POLÍTICO 
Que obscureceu as fronteiras entre a profissão e o militantismo, com a consequente minimização do papel 
da teoria. 
 
AS DIREÇÕES DA RENOVAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL 
É importante ressaltar que é no movimento de Reconceituação e seus desdobramentos, que se definem de 
forma mais clara, e se confrontam, diversas tendências voltadas à fundamentação teórico metodológica do 
Serviço Social. Em seus primeiros momentos, num contexto de ditadura militar e de impossibilidade de 
contestação política, vai priorizar um projeto tecnocrático-modernizador, do qual os Seminários de Araxá e 
Teresópolis são as melhores expressões. 
Já o tronco latino-americano do movimento, sobretudo no Cone Sul, assume claramente uma perspectiva 
crítica de contestação política, propondo a transformação social. Ao final da década de 70, o pensamento 
de autores latino americanos orienta a produção brasileira, divulgada pelo CBCISS. Essa situação vai se 
modificando aos poucos, com o desenvolvimento do debate e da produção intelectual do Serviço Social 
brasileiro, que resulta na explicitação de três vertentes. 
 
A VERTENTE MODERNIZADORA 
Seu marco é o Seminário de Teorização do Serviço Social, promovido pelo CBCISS, em Araxá, Minas Gerais, 
em 1967, e se desdobra no Seminário de Teresópolis, no Rio de Janeiro, em 1970. 
A problemática do desenvolvimento se colocava como um dilema central da vida brasileira desde a década 
anterior, a partir das qual foram promovidos diversos projetos em colaboração com governos dos países 
capitalistas centrais e agências internacionais, dentre as quais destacam-se a ONU e o CEPAL, com uma 
proposta de assessoria técnica com o suporte das Ciências Sociais . 
 
A VERTENTE MODERNIZADORA 
Trata-se do primeiro bloco de proposições teórico-metodológicas do Movimento de Reconceituação, 
caracterizado pela incorporação de abordagens: 
 
FUNCIONALISTAS 
ESTRUTURALISTAS 
SISTÊMICAS (MATRIZ POSITIVA) 
Essas abordagens são voltadas a uma modernização conservadora e à melhoria do sistema, pela mediação 
do desenvolvimento social, e pelo enfrentamento da marginalidade e da pobreza, na perspectiva de 
integração da sociedade. 
 
A VERTENTE MODERNIZADORA 
“Como prática institucionalizada, o Serviço Social se caracteriza pela ação junto a indivíduos com 
desajustamentos familiares e sociais. Tais desajustamentos muitas vezes decorrem de estruturas sociais 
inadequadas.(...) Constatando que esse tipo de ação compreende dimensões corretivas, preventivas e 
promocionais, entendendo que estas últimas definem a inserção do Serviço Social no processo de 
desenvolvimento, tomado este em sentido lato, isto é, aquele que eleva à plena utilização dos recursos 
naturais e humanos e, consequentemente, a uma realização integral do homem. Destaca-se quanto a 
promoção humana, a importância do processo de conscientização como ponto de partida para 
fundamentação ideológica do desenvolvimento global”( CBCISS, 1986, p. 24 e 26). 
Os recursos para alcançar estes objetivos são buscados na modernização tecnológica e em processos e 
relacionamentos interpessoais. Estas opções configuram um projeto renovador tecnocrático fundado na 
busca da eficiência e da eficácia, e devem nortear a produção do conhecimento e a intervenção 
profissional. 
A tensão de fundo que se coloca é o deslocamento dos traços históricos da prática profissional, cuja 
característica era a atuação junto a indivíduos com desajustamentos familiares e sociais, para uma nova 
atuação que considera o processo de desenvolvimento global da sociedade, foi equacionada com uma 
proposta de inclusão de um novo rol de ações, voltadas para o planejamento social e de políticas sociais, 
sem excluir as que já eram desenvolvidas. 
“As exigências do processo de desenvolvimento mundial vêm impondo ao Serviço Social, sobretudo em 
países ou regiões subdesenvolvidas, o desempenho de novos papéis, donde a urgência de romper com o 
condicionamento de sua atuação ao uso exclusivo dos processos de Caso, Grupo e Comunidade, e rever 
seus elementos constitutivos, elaborando novos métodos e processos.” ( CBCISS, 1986: 26) 
 
NO SEMINÁRIO DE TERESÓPOLIS, EM JANEIRO DE 1970, foi discutida a Metodologia do Serviço Social 
frente à realidade brasileira, preparado por um grupo de assistentes sociais, dentre os quais destacam-se 
José Lucena Dantas, Suely Gomes da Costa e Tecla Machado Soeiro. No Documento de Teresópolis, o 
“moderno” trinfa sobre o “tradicional”, com uma proposta de instrumentação programática. 
“Partindo da prática profissional do Serviço Social como um modo organizado e sistematizado de prestação 
de serviços, a questão da metodologia de ação constitui a parte central e atual da Teoria Geral do Serviço 
Social, a definição de um modelo de prática do Serviço Social adequado à problemática social brasileira 
depende grandemente, da solução do seu problema metodológico” (DANTAS, 1978:66). 
 
Segundo NETTO, as formulações propostas no Documento de Teresópolis apontam para a requalificação 
do assistente social, definindo um perfil sociotécnico da profissão, sua inscrição no mundo acadêmico, 
mantendo uma visão de integração ao modelo de desenvolvimento em curso, e por isso mesmo, foi 
considerada uma “modernização conservadora”, de matriz teórica Funcionalista, conduzida em sintonia 
com as diretrizes do Estado ditatorial, cujo modelo de desenvolvimento voltava-se para garantir os 
benefícios ao grande capital. 
 
DEPOIS DE ARAXÁ E TERESÓPOLIS VIERAM os Seminários realizados no Rio de Janeiro, no Centro de 
Estudos da Arquidiocese do Rio de Janeiro - Sumaré, em 1978 e no Colégio Coração de Jesus, Alto da Boa 
Vista em 1984. Com menor impacto e expressão sobre a categoria profissional. 
 
A VERTENTE DA REATUALIZAÇÃO DO CONSERVADORISMO 
1- Perspectiva assumida por profissionais que resistem ao processo de laicização da profissão, e que 
repudia a visão positivista trazida pela perspectiva modernizadora, bem, como a influência do pensamento 
crítico dialético. O núcleo temático dessa perspectiva é a tematização do Serviço Social como 
interveniente, dinamizador e integrador do processo de desenvolvimento. 
 
2- A construção dessa perspectiva recebe apoio do CBCISS. Os profissionaisligados à esse órgão 
promovem cursos de Aperfeiçoamento para Docentes de Serviço Social articulados pela ABESS. O 
profissional que serve de referência como intelectual de ponta dessa perspectiva é José Lucena Dantas. 
Segundo ele, a prática profissional precisava se desenvolver com cientificidade, O método profissional se 
constitui a partir de duas categorias básicas: o diagnóstico e a intervenção planejada, tendo como foco a 
instrumentalidade técnico-profissional. O objeto de intervenção do assistente social são as situações 
problemas advindas do processo de desenvolvimento. 
 
3- Segundo Netto, a concepção científica da prática profissional defendida por Lucena é “efetivamente 
reduzida ao estabelecimento de conexões superficiais entre dados empíricos da vida social e à intervenção 
metódica sobre eles; uma pauta interventiva cujo andamento pode ser objeto de acompanhamento, 
vigilância e avaliação por parte das hierarquias institucional-organizacionais de corte tecnoburocrático. 
As formulações de Araxá e Teresópolis eram contemporâneas de preocupações e vivências expressivas que 
compunham os debates teóricos, culturais e políticos do contexto brasileiro. Nos documentos produzidos 
nos encontros de Sumaré ( 1978) e Alto da Boa Vista ( 1984), é perceptível um movimento de abertura a 
referências distintas do caldo conservador, provocando o deslocamento da perspectiva modernizadora. 
 
4-A formulação da “Reatualização do conservadorismo”, está expressa na tese de Anna Augusta de 
Almeida(1978). Destaca-se a dimensão da subjetividade, com uma demanda fortemente psicologizante de 
ajuda psicossocial. Há nessa argumentação uma dissolução das determinações de classe nos processos 
societários, promovendo o regresso ao que há mais tradicional e consagrado na herança conservadora da 
profissão. Desloca o foco da “explicação dos fatos” para a “compreensão do sujeito” como ser no mundo e 
sobre o mundo. 
A perspectiva Fenomenológica emerge como metodologia dialógica, apropriando-se também da visão de 
pessoa e comunidade de E. Mounier(1936) dirige-se ao vivido humano, aos sujeitos em suas vivências, 
colocando para o Serviço Social a tarefa de “ auxiliar na abertura desse sujeito singular, em relação aos 
outros , ao mundo de pessoas” ( ALMEIDA, 1980, p. 114). 
 
5- “A tendência atual do Serviço Social é a de considerar o homem em seu todo, holisticamente, ou em 
sua totalidade do mundo da vida” (CAPALBO, 1984:25) 
“Nossas preocupações fundamentais estão apoiadas em critérios a partir da compreensão do homem e do 
mundo, orientada numa hermenêutica da realidade pela teoria, personalista do conhecimento, por uma 
fenomenologia existencial e por uma ética cristã motivante.” (ALMEIDA, 1978:11) 
 
6- O Serviço Social é posto como uma intervenção que se inscreve rigorosamente nas fronteiras da ajuda 
psicossocial voltada para projetos humanos e sociais na sua situação humana, histórica e concreta. 
Destacam-se as contribuições de Creusa Capalbo, Telma Donzelli e Ana Augusta de Almeida. 
 
A VERTENTE DE INTENÇÃO DE RUPTURA 
Esquematicamente é possível apontar no processo de construção da perspectiva de intenção de ruptura 
três momentos diferenciados: o da sua emersão (1972 a 1975), o da sua consolidação acadêmica ( década 
de 80), e do seu espraiamento (meados da década de 80) sobre a categoria profissional. 
 
 
ESSA PERSPECTIVA NASCE NUM CONTEXTO DE: 
1- precarização das condições de trabalho dos profissionais (aviltamento dos salários e aproximação das 
condições de vida dos usuários); 
2- nova composição da categoria profissional ( inserção de pessoas oriundas das camadas médias e 
proletarização); 
3- clima de efervescência nas universidades em diante da crise da ditadura; 
4- redemocratização da sociedade brasileira com protagonismo do movimento operário e sindical; 
5- influência dos profissionais da Universidade Católica do Chile, por ocasião do Congresso de 
Caracas(1969). 
http://estacio.webaula.com.br/cursos/gon187/docs/04FH_aula02_doc01.pdf 
=================== 
Para saber mais sobre os tópicos estudados nesta aula, pesquise na internet sites, vídeos e artigos 
relacionados ao conteúdo visto. Se ainda tiver alguma dúvida, fale com seu professor online utilizando os 
recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem. 
 
Nesta aula, você: 
Conheceu as distintas propostas teórico-metodológicas elaboradas durante o Movimento de 
Reconceituação do Serviço Social brasileiro. 
Identificou o período no qual foram elaboradas, os principais formuladores de cada vertente, o 
referencial teórico- metodológico que os orientou . 
Identificou as distintas fases da perspectiva de Intenção de Ruptura, segundo a análise de José Paulo 
Netto 
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AULA 3 - A EXPERIÊNCIA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BELO HORIZONTE: 
O “MÉTODO BH” 
 
INTRODUÇÃO 
Nesta aula, iremos abordar a vertente de “Intenção de Ruptura” do Movimento de Reconceituação do 
Serviço Social brasileiro. Este movimento foi realizado por assistentes sociais que buscaram elaborar novas 
propostas de atuação para o Serviço Social, frente às transformações sociais e os novos desafios presentes 
na sociedade brasileira. Segundo José Paulo Netto, a experiência de Belo Horizonte caracterizou-se como o 
momento de “emersão”, de surgimento de uma perspectiva crítica, baseada numa primeira aproximação 
ao referencial teórico marxista, ainda que de maneira considerada insipiente e limitada. Esta vertente foi 
fundamentada numa proposta de revisão crítica dos fundamentos do Serviço Social e de experimentação 
metodológica, buscando constituir-se numa alternativa ao metodologismo presente na perspectiva 
Modernizadora. Esses profissionais elaboram uma crítica ao tradicionalismo e propõem uma formulação 
abrangente e uma arquitetura ímpar, com alternativas nos seguintes planos: - no plano teórico-
metodológico - no plano da concepção e da intervenção profissional - no plano da formação Iremos 
destacar as contribuições de Leila Lima Santos e Ana Maria Quiroga, e apresentar a construção 
metodológica elaborada pela equipe da Universidade Católica de BH. 
 
Nesta aula, iremos abordar a vertente de “Intenção de Ruptura” do Movimento de Reconceituação do 
Serviço Social brasileiro. Esse movimento foi realizado por assistentes sociais que buscaram elaborar novas 
propostas de atuação para o Serviço Social, frente às transformações sociais e os novos desafios presentes 
na sociedade brasileira. 
 
Segundo José Paulo Netto, a experiência de Belo Horizonte caracterizou-se como o momento de 
“emersão”, de surgimento de uma perspectiva crítica, baseada numa primeira aproximação ao referencial 
teórico marxista, ainda que de maneira considerada insipiente e limitada. Essa vertente foi fundamentada 
numa proposta de revisão crítica dos fundamentos do Serviço Social e de experimentação metodológica, 
buscando constituir-se numa alternativa ao metodologismo presente na perspectiva Modernizadora. 
 
Esses profissionais elaboram uma crítica ao tradicionalismo e propõem uma formulação abrangente e uma 
arquitetura ímpar, com alternativas nos seguintes planos: 
1- no plano teórico-metodológico; 
2- no plano da concepção e da intervenção profissional; 
3- no plano da formação. 
 
Iremos destacar as contribuições de Leila Lima Santos e Ana Maria Quiroga e apresentar a construção 
metodológica elaborada pela equipe da Universidade Católica de BH. 
 
PREMISSA 
Esquematicamente, é possível apontar três momentos diferenciados no processo de construção da 
perspectiva de intenção de ruptura. Momentos esses, inseridos nos marcadores abaixo: 
 
1-Emersão (1972 A 1975) - Nesta aula, abordaremos o primeiro momento: da emersão, que ocorre entre 
os anos de 1972 a 1975, a partir de um grupo de jovens profissionais da PUC de Belo Horizonte, cuja 
produçãoficou conhecida como “O Método Belo Horizonte”. 
 
2-Consolidação acadêmica (década de 80) – 
3-Espraiamento sobre a categoria profissional – 
 
PADRÃO INTERVENCIONISTA E CAPITALISMO 
É fundamental destacar que o padrão intervencionista do Estado brasileiro, adotado no pós-30, se 
intensifica durante o modelo de desenvolvimento assumido na ditadura militar. 
Padrão intervencionista - Além da intervenção na área social, com ampliação de programas e do aparato 
institucional, o Estado passa a controlar profundamente a relação capital-trabalho. Controla os 
sindicatos e institui políticas salariais, transformando-se num grande empresário, que passa a assumir e 
dinamizar os setores estratégicos da economia que não davam retorno lucrativo imediato à iniciativa 
privada, mas que eram indispensáveis ao desenvolvimento industrial do país. 
 
O modelo de desenvolvimento econômico capitalista é sustentado pelo regime militar através da ideologia 
da integração e do desenvolvimento, pautada pela repressão aberta da sociedade brasileira, com a 
institucionalização da tortura como método de interrogatório e controle político, criando-se a cultura do 
medo, a imposição do silêncio e a sobrevivência das organizações de oposição na clandestinidade. Leia 
mais! 
http://estacio.webaula.com.br/cursos/gon187/docs/04FH_aula03_doc01.pdf 
 
ANÁLISE DOS MOMENTOS DA DITADURA 
O contexto da ditadura militar pode ser analisado em seus momentos distintos: 
 
1964 a 1968 – O período de 1964 a 1968 – Foi o período de formulação de novos mecanismos de controle 
social e reforma constitucional, e de definição das bases do Estado de Segurança Nacional. No final desse 
período, verifica-se a sua grande crise em 1967, que precede a fase mais repressora da ditadura. 
 
1968 a 1974 – O período 1968 a 1974 – Em 1968, quando o governo militar institui o Ato Institucional nº5 
(AI-5), suprimindo todas as liberdades, instaurando a censura, a perseguição política, tortura aos que 
faziam críticas e oposição ao regime em curso. 
1974 a 1985 – De 1974 a 1985 – Período da distensão política, de queda do regime militar e transição para 
a democracia. No governo João Batista Figueiredo (1979 – 1985), tem início uma política de liberação, 
planejada e controlada, denominada de “transição para a democracia”. Nessa conjuntura, o movimento 
por direitos humanos é vitorioso em 1979, conquistando uma anistia política parcial, permitindo o retorno 
de todos os exilados políticos ao país, e a recuperação dos direitos de todas as lideranças cassadas. 
 
REAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL 
No conjunto das contradições geradas no interior da sociedade, devido a uma insatisfação crescente com o 
regime militar, a rearticulação da sociedade civil continuava avançando, propiciando a emergência de um 
amplo movimento popular, configurado na aliança entre as Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, ligadas à 
Igreja Católica e inspiradas na Teologia da Libertação, os grupos associativos seculares e o novo movimento 
sindical emergente, consubstanciando-se essa aliança tanto no campo como nas áreas urbanas. 
A pressão dos movimentos sociais populares, nessa conjuntura, coloca de forma cada vez mais explícita, 
novas demandas para a prática do Serviço Social, na busca de apoio ao seu esforço de organização e no 
sentido de repassar os serviços e programas, considerando suas reais necessidades, inclusive de 
sobrevivência material, numa perspectiva crítica, que possa contribuir para a luta organizativa desses 
movimentos. Destacam-se ainda o “Movimento contra a Carestia” (alto custo de vida), que mobilizava a 
população dos grandes centros urbanos, e as greves operárias no período 1978 a 1982, a organização do 
Partido dos Trabalhadores e o surgimento de centrais sindicais nacionais CUT e CGT. 
 
CRIAÇÃO DA ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL E O MÉTODO BÁSICO 
A elaboração da equipe da Escola de Serviço Social da universidade católica de Minas Gerais vai se dar 
permeada por esse contexto político de contestação. 
Segundo NETTO, em Belo Horizonte, que incidem as idéias avançadas do Padre Henrique de Lima Vaz, 
sobre militantes e quadros da Juventude Universitária Católica (JUC), e muitos transitaram para a Ação 
Popular (movimento de esquerda), e na capital mineira tinham contatos com grupos da Política Operária- 
POLOP. Simultaneamente, ocorreram as greves em Contagem, no período de abril e outubro de 1968, 
refletindo no quadro político organizacional da região. 
 
Aliados às pressões sociais, a equipe de BH é permeável às influências acadêmicas profissionais 
estrangeiras, mais especificamente, do grupo da Escola de Serviço Social da Universidade Católica do Chile, 
que conheceram por ocasião do Congresso de Caracas (1969), onde apresentaram o “Método Básico”. 
É nesse cenário que a equipe, liderada por Leila Lima Santos e Ana Maria Quiroga, elabora, em 1972, uma 
produção intelectual que procura romper com o tradicionalismo no plano teórico-metodológico, no plano 
da concepção e da intervenção profissionais e no plano da formação. 
 
RESULTADOS DA ANÁLISE DO GRUPO BH 
Foram elaborados três documentos, no período de 1971 a 1974, cujo principal valor foi o de propiciar uma 
maior aproximação de professores e estudantes à realidade concreta dos setores sociais mais explorados 
dessa região do país: trabalhadores, mineiros e lavradores. 
Netto (1994, p.279) ressalta dois elementos centrais na análise da sociedade brasileira feita pelo grupo de 
BH: 1-A referência à teoria extraída da tradição marxista, das classes sociais e suas lutas. 2-A influência das 
teses da Teoria da Dependência: “Acreditamos que a Teoria da Dependência constitui-se em um dos 
subsídios básicos a serem considerados para a análise e a interpretação da realidade brasileira”. (Santos, 
1985:38) 
Nesta aula, você: 
 A fase da emersão da perspectiva de Intenção de Ruptura com o conservadorismo no Serviço Social 
brasileiro. 
 Os principais formuladores da experiência de BH (Ana Quiroga, Leila Lima Santos) e material produzido; 
 A proposta metodológica e a experimentação prática nos projetos de extensão. 
AULA 4 - A INFLUÊNCIA DO MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO LATINO 
AMERICANO 
Introdução 
O conteúdo desta aula irá abordar o Movimento de Reconceituação do Serviço Social Latino-americano, e 
sua influência no Movimento brasileiro. Este movimento foi protagonizado pelo Centro Latino-americano 
de Trabajo Social – CELATS, bem como pelos debates sobre a Teoria da Dependência promovidos pelo 
CEPAL. Trata-se de um esforço de elaboração de uma nova análise sobre o modelo de desenvolvimento da 
América Latina, que busca tornar-se independente das Teorias desenvolvidas pelos grandes centros 
europeus e norte-americanos. Destacam-se além das contribuições de assistentes sociais latino-
americanos, as contribuições de dois assistentes sociais brasileiros: Leila Lima Santos e Vicente de Paula 
Faleiros, que trabalharam fora do país neste período, assumindo cargos de direção no CELATS e o cargo de 
professor pesquisador na Universidade do Chile. 
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O conteúdo desta aula irá abordar o Movimento de Reconceituação do Serviço Social Latino-americano, e 
sua influência no Movimento brasileiro. Este movimento foi protagonizado pelo Centro Latino-americano 
de Trabajo Social – CELATS, bem como pelos debates sobre a Teoria da Dependência promovidos pelo 
CEPAL. 
Trata-se de um esforço de elaboração de uma nova análise sobre o modelo de desenvolvimento da 
América Latina, que busca tornar-se independente das Teorias desenvolvidas pelos grandes centros 
europeus e norte-americanos. 
Destacam-se além das contribuições de assistentes sociais latino-americanos, as contribuições de dois 
assistentes sociais brasileiros: Leila Lima Santos e Vicente de Paula Faleiros, que trabalharam fora dopaís 
neste período, assumindo cargos de direção no CELATS e o cargo de professor pesquisador na Universidade 
do Chile. 
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ANÁLISE SOBRE O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO LATINO AMERICANO 
Nossa análise sobre o Movimento de Reconceituação Latino Americano será feita com base nas produções 
de Vicente de Paula Faleiros, Leila lima Santos e CELATS. 
 
Inicialmente queremos apontar que a América latina não pode ser considerada um bloco homogêneo. 
Apesar das semelhanças, existem processos sócio-econômicos peculiares, cuja diversidade se expressa 
entre outros aspectos, pelas diferentes formas de colonização e, posteriormente, de conexão com a divisão 
internacional das relações capitalistas. Este modelo vai sendo imposto a cada país em etapas históricas 
definidas e com traços distintos. 
 
O Serviço Social se desenvolve na mesma época na maioria desses países. Os referenciais teóricos, as 
modalidades de ação e intervenção se transformam e se diversificam, em função das transformações 
nessas sociedades, sob o signo do modo de produção capitalista. O Serviço Social alcançou níveis de 
articulação supranacional, elaborando novas estratégias, que colocam em cheque diferentes concepções 
sobre a prática profissional, e que resultam no Movimento de Reconceituação Latino Americano. 
 
BREVE ANÁLISE DO CENÁRIO LATINO AMERICANO NO QUAL SE DESENVOLVE O 
MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO 
Breve análise do cenário latino americano no qual se desenvolve o movimento de reconceituação 
Ouro / prata / cana / fumo / cobre / salitre / madeira 
Até o séc. XIX as metrópoles eram Portugal e Espanha, cuja predominância foi substituída pelo 
imperialismo inglês, que passou a dominar o comércio internacional e o capital financeiro. 
 
“O modelo da Teoria da Dependência, concebe a história da América Latina, segundo as relações de 
dominação e de dependência entre as metrópoles internacionais (Espanha, Portugal, Inglaterra, Estados 
Unidos, etc.), e os países latino-americanos, no contexto do capitalismo internacional. Essa dominação faz 
de nossas economias centros periféricos e satélites dos centros internacionais que se aproveitaram para se 
desenvolverem a partir do excedente econômico produzido nos países subdesenvolvidos. Desenvolvimento 
de uns é subdesenvolvimento de outros, numa relação complexa, externa e internamente.” (FALEIROS, 
1993, p. 16) 
 
LEI DE HOOKE GENERALIZADA 
Dos séc. XVI ao XIX, a assistência social consistia na proteção parcial aos velhos, crianças, doente e aos 
pobres, com base nas Leis das Índias (1500-1542), e na atribuição de favores em troca de lealdade das 
classes dominadas.(...) As instituições de assistência estavam sob os auspícios da Igreja Católica e 
prestavam ajuda material e espiritual aos seus sócios, em vida e na hora da morte, garantindo-lhes um 
lugar no cemitério da irmandade. As irmandades se discriminavam por classe social: dos escravos, 
comerciantes, senhores. 
 
Com a revolução industrial, não só os países da América Latina, mas também as metrópoles são impactadas 
por uma nova divisão internacional do trabalho: as colônias eram fornecedoras de mão de obra e matéria 
prima para os países dominantes, que lucravam com a exploração dos países latinos. Nos grandes centros 
dominantes, aceitava-se como “fato natural” a exploração das colônias ou dos países dependentes. 
 
“Alguns países, como os de industrialização precoce, começam com as indústrias substituidoras de 
importação, que surgiram com a desarticulação momentânea do mercado mundial provocada pela 
primeira Guerra Mundial e posteriormente pela crise de 1929. Outros países adquirem características 
industriais na etapa de expansão e integração econômica, basicamente depois da Segunda Guerra Mundial. 
Por outro lado, temos países com pequena diversificação industrial e baseados numa estrutura agro-
exportadora.(...) O quadro estrutural do que se chama “subdesenvolvimento latino-americano”, e que se 
materializano modelo urbano-industrial, se caracteriza na década de 1940 por: 1) baixo nível salarial por 
habitante; 2) população predominantemente rural; 3) alta proporção de população economicamente ativa 
ocupada no setor agrícola; 4) predomínio da agricultura e baixa participação da indústria no produto 
nacional; 5) fortes disparidades setoriais de produtividade; 6) baixa densidade de capital por pessoa.” 
(CELATS, 1980, p. 83-84) 
No séc. XX prosseguiu na América Latina a exploração capitalista dos excedentes econômicos, sobretudo 
com a exploração de diversas riquezas minerais e a apropriação das indústrias, por meio de trusts e 
conglomerados internacionais. 
 
Um traço marcante da história política da América Latina foram os governos ditatoriais, e a incidência de 
governos populistas, que mantinham o diálogo com organizações populares, atendendo parcialmente suas 
reclamações e as reivindicações, buscando controlar o movimento crítico e reivindicatório. 
 
Após a Segunda Guerra Mundial, ocorre uma mudança na correlação de forças entre os países dominantes, 
com a ascensão dos Estados Unidos como grande líder econômico e político. Assistiu-se então, a uma 
modificação do processo de industrialização dos países dependentes. 
 
O Serviço Social foi implantado na América Latina no período entre 1925 e 1936, com a criação de Escolas 
de Serviço Social, segundo o modelo europeu, organizadas em torno do binômio trabalho e saúde da mão-
de-obra. Neste período, todo o ensino do Serviço Social era baseado no modelo europeu: 
 
Currículo com predomínio do ensino de disciplinas vinculadas à saúde, e com ênfase também na legislação 
social. 
 
O Serviço Social via-se ligado às instituições do Estado e às instituições religiosas que começaram a 
empregar os profissionais formados nas Escolas recém-fundadas por religiosas católicas, belgas e francesas. 
Igreja, Estado e empresariado foram constituindo-se nos campos de trabalho do assistente social. 
 
Para dominar melhor, os Estados Unidos instituíram, por meio de organismos internacionais, certos 
mecanismos de ajuda e “cooperação”, que culminaram com a Aliança para o Progresso. O Serviço Social 
latino-americano passou a importar teorias e métodos americanos de caso, grupo e comunidades, cuja 
fundamentação teórica estava pautada no Positivismo e no Funcionalismo, que buscavam atender ás 
necessidades de conter os problemas sociais oriundos do modo de produção capitalista. 
 
A Metodologia de Desenvolvimento de Comunidades começou a se estruturar na América Latina na década 
de 50. No Congresso Panamericano de San José da Costa Rica, em 1961, fala-se do Serviço Social como 
instrumento para acelerar a consecução de mudanças equilibradas (sic), e como agente de integração. 
 
SEGUNDO FALEIROS: “Os três métodos do Serviço Social (caso, grupo e comunidade) em 1961 já 
estavam claramente definidos, somando-se a eles a administração e planificação. Estes métodos são 
elaborações teóricas nascidas no próprio seio do capitalismo, como resultado de uma concepção ideológica 
conservadora da sociedade e de estratégias de controle das classes dominadas pelas classes dominantes.” 
(FALEIROS, 1993, p. 19-25) 
 
Ao analisar as condições em que se começa a elaborar a perspectiva crítica no Serviço Social Latino 
Americano, verificamos a semelhança entre os países deste continente, a partir dos processos de tomada 
de consciência e organização das classes oprimidas, o contato com outras correntes teóricas de inspiração 
marxista, como o cenário onde surge o pensamento crítico entre segmentos da categoria profissional. 
 
“As lutas sociais e as crises internacionais levaram os oprimidos a levantar sua voz, a manifestar sua força e 
modificou-se a relação do Estado latino-americano e as classes sociais. O desenvolvimentismo serviu de 
interpelação dos indivíduoscomo sujeitos de um processo grandioso, de uma nova racionalidade. O serviço 
Social situa-se nesta estratégia como mediador do processo de crescimento geral , em projetos de 
interesse comum, de integração “Estado-Povo”. 
 Mas os mecanismos de sujeição e manipulação não foram suficientes para dobrar ou aniquilar as forças 
populares das classes dominadas. (...) As classes dominadas também interpelam os indivíduos como 
revolucionários na formação de uma nova hegemonia. O Serviço Social, num momento histórico 
determinado, também se vinculou a esse processo. (...) Assim o Serviço Social é permeado pela luta 
ideológica, que foi sendo politizada cada vez mais pela confrontação que se foi processando nos próprios 
aparelhos de Estado.” (FALEIROS, 1993, p. 31-32) 
 
A partir dos anos 60, verifica-se a crise do modelo de crescimento capitalista, o decréscimo da longa onda 
expansiva do pós-guerra, tanto a nível mundial como latino-americano. Essa crise pode ser expressa em 
alguns traços mais notórios, tais como: 
 
MONOPOLIZAÇÃO DA ECONOMIA – Monopolização da economia pelo capital estrangeiro, integrado 
com setores dominantes nacionais , principalmente através da concentração industrial de alta tecnologia 
nos setores de ponta (indústria automobilística e metal-mecânica), gerando paralelamente um setor semi-
artesanal não estruturado funcionalmente à economia. 
 
ACUMULAÇÃO PRIVADA – Acumulação privada de capital para setores minoritários da população. 
 
RUPTURA DA ESTRUTURA AGRÁRIA – Ruptura da estrutura agrária com violentos processos de 
migração rural-urbana e crescimento das cidades. 
 
DESEQUILIBRIO ENTRE OS SETORES – Desequilíbrio entre os setores produtivos com uma expansão 
desproporcional do setor terciário. 
 
EXCLUSÃO DE GRANDES MASSAS POPULACIONAIS – Exclusão de grandes massas populacionais 
do mercado de trabalho direto, acompanhada de um forte incremento demográfico. 
 
RECENTE INTERVENÇÃO DO ESTADO – Recente intervenção do estado no processo de 
desenvolvimento urbano industrial. 
(CELATS, 1980, p. 84-85) 
 
O processo de industrialização e a desarticulação da economia agrária, provocou desequilíbrios regionais e 
rural-urbanos, provocando concentração da população, sem uma inserção completa na estrutura 
produtiva. O crescimento dos grandes centros urbanos em torno das indústrias, tem como consequências 
uma enorme concentração populacional, sem a infra-estrutura adequada, faltam: moradias, saneamento, 
escolas, postos de saúde. Proliferam nas grandes cidades as favelas, e a questão social assume proporções 
gigantescas. 
 
 A classe trabalhadora enfrentou, no decorrer deste processo, condições objetivas de pauperismo, seus 
salários não cobriam suas necessidades básicas, e tão pouco encontravam condições dignas de trabalho. 
Simultaneamente, verificamos uma situação de extrema miséria entre a população camponesa, que vai 
buscar oportunidades nos grandes centros urbanos, e que encontra dificuldades para se inserir no mercado 
de trabalho das indústrias. 
 
SEGUNDO LEILA LIMA SANTOS: 
“É consenso aceitar-se que a concentração urbana historicamente favoreceu, na América latina, assim 
como em outros continentes, o fortalecimento dos setores sociais majoritários. (...) A sociedade, por sua 
própria dinâmica, gera os “problemas sociais” e os afetados pressionam os grupos que os produziram, a fim 
de obter respostas e satisfações mínimas frente a esses problemas. Muitas vezes, as pressões dos setores 
populares estão voltadas para conseguir determinadas reivindicações e níveis de participação, visto que , 
objetivamente sentem-se excluídos do jogo de interesses políticos vigentes: em suas origens registram-se 
lutas pela democratização do Estado. Começam a surgir as leis sociais que tratam de regulamentar essa 
situação problemática, de lhe encontrar uma resposta. Neste processo, Igreja e Estado desempenham um 
papel fundamental na América Latina, pois começam a reconhecer, sob diferentes formas, as emergências 
e formação dos setores proletários, e a necessidade de lhes formular respostas para alguns de seus 
problemas.” (SANTOS, 1993, p. 180) 
 
O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA AMÉRICA LATINA 
O estágio de desenvolvimento capitalista a nível mundial e na América Latina, levou a novas relações entre 
as classes sociais, e a um novo papel do Estado, que passa a assumir a racionalização e institucionalização 
do trabalho social, a necessidade de uma formação especializada dos agentes sociais, através da criação de 
centros de formação. A partir da década de 30, e com maior incidência na década de 50, que são criadas as 
Escolas de Serviço Social, visando atender às demandas do Estado por profissionais. Os Estados latino-
americanos formulam políticas sociais no campo da habitação, da saúde, da ação comunitária, articuladas a 
uma visão global de desenvolvimento econômico e social. 
http://estacio.webaula.com.br/cursos/gon187/docs/04FH_aula04_doc01.pdf 
 
Em síntese, o Movimento de Reconceitualização do Serviço Social Latino Americano pode 
ser caracterizado por alguns traços comuns: 
 
 Análise das realidades nacionais e latino-americanas, com base na Teoria da Dependência, que 
buscou uma interpretação própria para os desequilíbrios promovidos pelo modelo de desenvolvimento 
capitalista; 
 Incorporação de análises 
 sócio-econômicas no referencial da profissão, visando compreender melhor a realidade latino-
americana; 
 Esforço de criação de uma teoria do Serviço Social Latino- Americano. 
 Uma nova abordagem do método científico em oposição ao metodologismo predominante no 
Serviço Social Tradicional. 
 introdução de novas técnicas, adequadas aos novos objetivos traçados pelo Serviço Social: 
conscientização, mobilização, participação e organização popular. 
 Ênfase no estudo da teoria do conhecimento dentro de uma concepção dialética materialista, e a 
partir de uma reflexão sobre o alcance transformador da prática profissional e da prática social em geral; 
 Incorporação da dimensão política na prática profissional. 
 Defesa de princípios libertadores pelos assistentes sociais. 
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A contribuição mais importante no que diz respeito ao desenvolvimento de um instrumental didático para 
instrumentalizar a prática profissional com base no referencial proposto pelo Movimento de 
Reconceituação Latino-americano vem da Universidade Católica do Chile (1971), que elabora a técnica do 
Taller, um tipo de trabalho grupal, uma oficina de trabalho teórico e prático. 
 
“O Taller é uma instância teórico-prática, multidisciplinar, em que um grupo educativo, integrado por 
professores e alunos, problematizam um aspecto da realidade social, procurando sua conexão estrutural 
com uma problemática mais ampla, com o objetivo de definir formas de transformação dessa problemática 
e de sua conexão estrutural. 
Dentro do Taller se utilizam integralmente todas as técnicas suscetíveis de emprego pelo assistente social: 
investigação, planificação, administração, modelos de intervenção, e se recorre ao concurso de todos os 
especialistas das outras disciplinas que tenham relação com o problema.” (CELATS, 1980, p. 108). 
 
É importante destacar a difusão e a significação do Taller, para responder às demandas de sua realidade, 
como o projeto histórico de transformação dos grupos dominados. Trabalha-se numa linha de massas e de 
questionamento crítico do trabalho institucional, obtendo-se uma incorporação dialética entre teoria e 
prática, e propiciando uma nova imagem do Serviço Social. 
São apontados pelo CELATS (1980, p. 110) algumas experiências realizadas por diversas universidades : 
 
“Podem ser consideradas como novas contribuições à didática da reconceitualização, as experiências 
desenvolvidas pela Escuela General Roca, Argentina, 1973;Escola de Belo Horizonte, Brasil, 1974; 
Cervantes, México, 1973; Universidad Externado, Colombia, 1974; Escuela de Trabajo Social, El Salvador, 
1974; Rodrigo Facio, Costa Rica, 1974: Universidad Autónoma, Honduras, 1974. 
É indiscutivelmente no marco da atividade acadêmica que se estrutura a crítica, que se estimula a 
consciência da renovação e se depuram as bases da nova doutrina do Serviço Social, com base num projeto 
latino-americano .” 
 
AS CONTRIBUIÇÕES DO CELATS – CENTRO LATINO-AMERICANO DE SERVIÇO SOCIAL 
O CELATS surgiu na América Latina, como resultado das ações do Instituto de Solidariedad Internacional 
de la Fundacion Konrad Adenauer, para atender as necessidades de pesquisa e ensino , voltados para o 
desenvolvimento de análises teóricas, metodológicas dos setores populares da América Latina. Ele 
constituiu-se como um organismo de cooperação técnica internacional, sediado em Lima, Perú, ligado 
desde sua fundação, em 1975, à Associação Latino Americana de Escolas de Serviço Social- ALAESS. Entre 
seus objetivos estão: 
 A ampliação do trabalho acadêmico, de modo sistemático e permanente, superando as instâncias 
dos seminários nacionais e internacionais. 
 A criação de novas modalidades de trabalho, voltadas para a pesquisa em Serviço Social. 
 Implantação de uma dinâmica de trabalho regional, latino-americano. 
 Reformulação das bases teóricas do Serviço Social. 
 
PROPOSTAS, POSSIBILIDADES E PROJETOS LIGADOS À COMUNICAÇÃO EM SAÚDE 
Pode-se inferir sua função estratégica para a gestão do SUS quando a Informação em Saúde: 
 
1- A história do CELATS é narrada por Leila Lima Santos em fases, que podem ser retratadas da seguinte 
maneira: 
 
2- Fase da criação e instalação: montagem do centro e elaboração do plano de trabalho trienal; 
 
3- b) Fase de Institucionalização: busca de reconhecimento jurídico-formal e luta por reconhecimento e 
legitimação a nível continental; 
 
4- c) Fase de fortalecimento: aumento da capacidade de atendimento do CELATS, redimensionamento de sua 
programação e dinâmica de atuação, sem contudo conseguir atender a todas as demandas que lhe eram 
feitas pelos países. Faltava ao CELATS bases nacionais capazes de responder ao aumento das demandas das 
escolas de Serviço Social e entidades representativas dos diversos países. 
 
5- “A primeira programação trienal do CELATS permitiu um levantamento de necessidades expostas e por em 
execução no continente, uma atividade programática regular que compreendesse exercícios de 
investigação, capacitação, apoio a experiências de campo, e produção de materiais editoriais, dirigidas para 
canalizar as inquietações dos assistentes sociais, tanto no campo teórico, como no avanço de uma vigorosa 
consciência política, por parte do profissional.” (SANTOS, 1993,p. 197) 
 
2 - Entre diversas produções, destaca-se a edição da revista semestral Acción Crítica, como meio de 
divulgação de seus estudos e pesquisas. Em seu primeiro volume, registra-se o trabalho da profª Beatriz de 
la Vega, presidente da ALAESS, intitulado “A situação da América Latina e o Serviço Social”, apresentado no 
XVIII Congresso Internacional de Escolas de Serviço Social , em Porto Rico, com ênfase nos processos de 
transformação propostos pelo Movimento de Reconceituação. 
 
Outro artigo publicado pela revista foi, “Metodologismo: produto de uma época”, de Leila Lima Santos e 
Roberto Rodrigues, no qual os autores analisam os esforços de superação da prática conservadora, com 
base na análise da experiência da Escola de Serviço Social da Universidade Católica de Minas Gerais, Brasil, 
conhecido como o “ Método BH”. 
 
3- Juan Mojica Martinez, em seu trabalho “Processo Histórico e Serviço Social na América Latina”, aborda 
temas como a modernização, o desenvolvimentismo dos anos 50, e a consciência política dos profissionais 
dessa disciplina. 
 
Boris Lima, considerado um dos mais importantes autores da escola latino-americana, passa em revista as 
diversas modalidades de intervenção do Estado através de políticas sociais. No artigo “Reflexões sobre 
Política Social” estuda a gênese do Serviço Social, e demonstra como esse conjunto de políticas pode servir 
aos propósitos de dominação das classes hegemônicas. 
 
4- Encerrando seu artigo sobre o CELATS, onde ocupou cargo de direção por vários anos, a assistente social 
brasileira Leila Lima Santos apresenta sua visão sobre o papel do CELATS naquela época: 
 
“No momento atual, o CELATS procura contribuir para a pesquisa de alternativas concretas para as áreas e 
campos de trabalho onde é desempenhado; é por isso que suas investigações e seu programa de 
capacitação contínua vêm se aproximando mais concretamente para a atenção dos setores, dentro dos 
quais se move a grande massa de assistentes sociais. 
Impõe-se pois, uma tarefa de contribuição ao processo social, não somente sob o ângulo da clarificação do 
papel ideológico de nossa profissão, como também através da produção criativa, renovadora e 
potenciadora de alternativas concretas para as necessidades dos assistentes sociais. Somente na medida 
em que consigamos gerar alternativas de investigação e de formação realmente eficientes para o conjunto 
dos profissionais da América Latina, é que o CELATS estará contribuindo para o avanço e desenvolvimento 
de nossa profissão, e para isto é indispensável que a nossa categoria contribua com a criatividade e o 
fortalecimento, que permitam o restabelecimento das bases democráticas na maioria dos países da 
América Latina, condição indispensável para o exercício pleno dos princípios e concepções que orientam os 
programas do Centro.” 
 
5- Destacamos também as contribuições de Vicente de Paula Faleiros ao Movimento de Reconceituação 
do Serviço Social Latino Americano. Este assistente social brasileiro, que trabalhou desde agosto de 1970, 
na Escola de Serviço Social da Universidade Católica de Valparaiso, no Chile, onde sistematizou as 
transformações da realidade chilena e do Serviço Social, em vários artigos e publicações, dentre os quais 
destacamos “Trabajo Social, ideologia e Método”. 
 
Faleiros participou da comissão reorganizadora da Escola de Serviço Social de Valparaiso, numa nova 
dinâmica de alianças e transformação social, dentro do projeto de construção de uma sociedade socialista. 
 
 
Nesta aula, você: 
O cenário do Serviço Social Latino Americano e suas influências no Movimento de reconceituação 
brasileiro. 
O papel do CELATS na construção do referencial teórico para a superação do Serviço Social conservador. 
As contribuições de Leila Lima Santos e Vicente de Paula Faleiros para o Movimento de Reconceituação 
Latino-Americano e brasileiro. 
 
AULA 5 - A CONSOLIDAÇÃO DA PERSPECTIVA DE INTENÇÃO DE RUPTURA NO 
BRASIL 
O amadurecimento da perspectiva de intenção de ruptura e as contribuições de Marilda Iamamoto e Raul 
de Carvalho: a análise da inserção do Serviço Social nas relações de produção capitalista no Brasil. 
INTRODUÇÃO 
O trabalho de Marilda Iamamoto e Raul de Carvalho, apresentado no livro “Relações Sociais e Serviço 
Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica”, em 1979, tornou-se uma referência 
para os cursos de Serviço Social brasileiro, desde sua primeira edição. Trata-se de uma obra que, de 
maneira consistente e aprofundada, incorpora o referencial teórico do materialismo histórico-dialético, do 
marxismo, na análise do Serviço Social sobre a sociedade capitalista brasileira, e sobre o papel do Serviço 
Social neste modo de produção, na realidade particular do Brasil. Este trabalho é resultado de um projeto 
de pesquisa vinculado ao CELATS sobre a História do Serviço Social na América Latina, explicitando as 
articulações entre a gestação e desenvolvimento da profissão de Serviço Social,e a dinâmica dos processos 
econômicos, sociais e políticos. O fio condutor de todo o trabalho é a compreensão da profissão como 
instituição componente da organização da sociedade capitalista, inserida em um conjunto amplo de 
condições e relações sociais que lhe atribuem um significado, e nas quais ela se torna necessária. 
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O trabalho de Marilda Iamamoto e Raul de Carvalho, apresentado no livro “Relações Sociais e Serviço 
Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica”, em 1979, tornou-se uma referência 
para os cursos de Serviço Social brasileiro, desde sua primeira edição. Trata-se de uma obra que, de 
maneira consistente e aprofundada, incorpora o referencial teórico do materialismo histórico-dialético, do 
marxismo, na análise do Serviço Social sobre a sociedade capitalista brasileira, e sobre o papel do Serviço 
Social neste modo de produção, na realidade particular do Brasil. 
Este trabalho é resultado de um projeto de pesquisa vinculado ao CELATS sobre a História do Serviço Social 
na América Latina, explicitando as articulações entre a gestação e desenvolvimento da profissão de Serviço 
Social, e a dinâmica dos processos econômicos, sociais e políticos. 
O fio condutor de todo o trabalho é a compreensão da profissão como instituição componente da 
organização da sociedade capitalista, inserida em um conjunto amplo de condições e relações sociais que 
lhe atribuem um significado, e nas quais ela se torna necessária. 
ANÁLISE DO SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DE APROFUNDAMENTO 
DO CAPITALISMO NA SOCIEDADE BRASILEIRA. 
Visando superar as análises das correntes teóricas conservadoras a respeito do surgimento e do papel do 
Serviço Social, IAMAMOTO e CARVALHO buscaram identificar qual o significado social dessa profissão e de 
suas práticas, a partir da análise do processo de reprodução das relações sociais na sociedade capitalista, 
com base no referencial marxista. 
 
Como ponto de partida dessa análise, a hipótese é que a profissão só existe em condições e relações sociais 
historicamente determinadas, concretas, particulares, permeada por contradições. 
“O Serviço Social só pode afirmar-se como prática institucionalizada e legitimada na sociedade, ao 
responder a necessidades sociais derivadas da prática histórica das classes sociais, na produção e 
reprodução dos meios de vida e de trabalho de forma socialmente determinada.”(IAMAMOTO, 2011, P.20) 
O modo de produção interfere, de forma determinante, no modo de organização de uma sociedade em 
todos os aspectos: políticos, econômicos, sociais, legais, ideológicos. Ele cria, destrói e reconstrói 
instituições, leis, classes sociais. Para compreendermos isso, basta nos lembrarmos dos modos de 
produção escravista, feudal, e de como a sociedade estava organizada em cada um deles. Isso porque: 
 
“Ao produzirem os meios de vida, os homens produzem sua vida material. O modo de produzir os meios de 
vida refere-se não só à reprodução física dos indivíduos, mas à reprodução de um determinado modo de 
vida. A produção da própria vida no trabalho, e da alheia na procriação, dá-se numa dupla relação natural e 
social; social no sentido de que compreende a cooperação de muitos indivíduos. 
Portanto, determinado modo de produzir supõe também, determinado modo de cooperação entre os 
agentes envolvidos, determinadas relações sociais estabelecidas no ato de produzir, as quais envolvem o 
cotidiano da vida em sociedade. 
O grau de desenvolvimento da divisão social do trabalho expressa o grau de desenvolvimento das forças 
produtivas sociais do trabalho.(...) Assim é que, a cada fase da divisão do trabalho, corresponde uma forma 
de propriedade ou, a cada estágio do desenvolvimento das forças produtivas do trabalho social, 
corresponde uma forma de apropriação do trabalho” (IAMAMOTO, 2011, p.21) 
Com base nesse referencial, é que a autora procura interpretar como, a partir do modo de produção 
capitalista, se dão as relações de produção, as relações entre as classes sociais, as relações de dominação, a 
produção da desigualdade, que vai demandar uma profissão para mediar suas contradições, em busca de 
manter a ordem deste modo de produção: o Serviço Social. 
O surgimento desta profissão é analisado a partir do antagonismo de duas classes sociais: a classe 
trabalhadora (o proletariado) e a burguesia. Isto porque, no capitalismo, a burguesia explora e se apropria 
do produto do trabalho do proletariado, acumulando muita riqueza, a partir do pagamento cada vez mais 
baixo aos trabalhadores, e de diversos mecanismos para aumentar a produtividade e o lucro. 
O aumento da pobreza entre os trabalhadores, muda radicalmente a visão anterior de caridade e 
filantropia, que era destinada aos órfãos, idosos e desvalidos, já que os trabalhadores seriam responsáveis 
por sua sobrevivência e de sua família, a partir de seu trabalho e de seu salário. 
A promessa de uma sociedade justa, conforme propunha a Revolução Francesa, cujo lema era “igualdade, 
liberdade fraternidade”, em oposição às sociedades baseadas nos modos de produção escravocratas e 
feudal, cai por terra, e as novas formas de exploração dos trabalhadoras são denunciadas, e as 
contradições do novo modo de produção vem à tona. 
É com o desenvolvimento da sociedade capitalista burguesa e suas contradições, que surge a “questão 
social”, e para enfrentá-la, uma nova profissão, o Serviço Social, inserida na lógica desse sistema. 
Segundo IAMAMOTO, 2011, p. 23 
“O Serviço Social surge como um dos mecanismos utilizados pelas classes dominantes como meio de 
exercício de seu poder na sociedade, instrumento esse que deve modificar-se constantemente, em função 
das características diferenciadas da luta de classes e ou das formas como são percebidas as sequelas 
derivadas do aprofundamento do capitalismo. Estas sequelas se manifestam, também por uma série de 
comportamentos desviantes, que desafiam a Ordem. 
Em face do crescimento da miséria relativa de contingentes importantes da classe trabalhadora urbana, o 
Serviço Social aparece como uma das alternativas às ações caritativas tradicionais, dispersas e sem solução 
de continuidade, a partir da busca de uma nova racionalidade no enfrentamento da questão social”. 
A autora busca demonstrar que o Serviço Social é demandado pelo sistema capitalista e por seus 
representantes no Estado, como uma atividade auxiliar e subsidiária, para o exercício do controle social e 
para auxiliar na difusão da ideologia dominante entre a classe trabalhadora. 
Porém, também é demandado pela classe trabalhadora para ser o mediador nas relações com o Estado, 
com o empresariado e as instituições sociais, para a obtenção de serviços, benefícios, direitos. 
Ao ser o responsável por gerenciar o acesso aos serviços, o assistente social passa a ocupar um lugar 
estratégico, de mediação de interesses, muitas vezes opostos. 
“Atua ainda, pela mediação dos serviços sociais, na criação de condições favorecedoras da reprodução da 
força de trabalho. Sendo o exercício profissional polarizado pela luta de classes, o Serviço Social também 
participa do processo social, reproduzindo as contradições próprias da sociedade capitalista, ao mesmo 
tempo e pelas mesmas atividades pelas quais é chamado a reforçar as condições de dominação. 
Se de um lado, o profissional é solicitado a responder às exigências do capital, de outro, participa, ainda 
que subordinadamente, de respostas às necessidades legítimas de sobrevivência da classe trabalhadora. 
Procura-se pois, apreender o movimento contraditório da prática profissional no jogo das forças sociais 
presentes na sociedade.”(IAMAMOTO, 2011, p. 28) 
A prática profissional é permeada por interesses contraditórios: o das instituições empregadoras

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