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FUNDAMENTOS HISTÓTICOS TEÓRICOS METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL III A disciplina FUNDAMENTOS HISTÓTICOS TEÓRICOS METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL III, tem como objetivos concluir o debate sobre o Movimento de Reconceituação do Serviço Social brasileiro, tendo como foco a vertente denominada por José Paulo Netto de “Perspectiva de Intenção de Ruptura”, que marca a aproximação do Serviço Social brasileiro com a tradição marxista. Analisaremos o contexto sócio-econômico-político que marca o final da década de 70 e o inicio da década de 80, que marca o final do processo ditatorial e o início da abertura política. É neste contexto que se dá a aproximação de alguns assistentes sociais coma teoria marxista. Abordaremos a experiência da equipe da PUC de Belo Horizonte, conhecida como “Método BH”, as contribuições de Ana Quiroga, Miriam Limoeiro, em seguida as contribuições de Marilda Iamamoto, Vicente de Paula Faleiros e José Paulo Netto. Por último veremos como referencial teórico marxista se torna hegemônico no Serviço Social brasileiro, através das Diretrizes Curriculares e do Novo Código de Ética da Profissão. AULA 1 - O CONTEXTO SÓCIO-ECONÔMICO POLÍTICO EM QUE OCORRE O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL A conjuntura sócio-histórica política e ideológica do final da década de 70 e início da década de 80, no qual verificamos a erosão da ditadura e o início do processo de democratização, e suas influências na aproximação do Serviço Social ao referencial teórico marxista. ====================================== AULA 2 - O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL O movimento de reconceituação do Serviço Social brasileiro, e a emergência da a vertente de intenção de ruptura. Três momentos da intenção de ruptura segundo José Paulo Netto. ( Silva 71 a 90 e José Paulo Netto). ============== AULA 3 - A EXPERIÊNCIA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BELO HORIZONTE: O “MÉTODO BH” A experiência de da PUC de Belo Horizonte: o "Método BH". Fundamentação teórica e a contribuição dos principais autores, proposta metodológica, interrupção da experiências, limites e avanços da proposta. ============= AULA 4 - A INFLUÊNCIA DO MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO LATINO AMERICANO As contribuições de Vicente de Paula Faleiros para análise do atuação profissional no Estado e nas instituições, a partir do referencial marxista. ============= AULA 5 - A CONSOLIDAÇÃO DA PERSPECTIVA DE INTENÇÃO DE RUPTURA NO BRASIL O amadurecimento da perspectiva de intenção de ruptura e as contribuições de Marilda Iamamoto e Raul de Carvalho: a análise da inserção do Serviço Social nas relações de produção capitalista no Brasil. ========== AULA 6 - AS PRINCIPAIS CATEGORIAS DA ANÁLISE MARXISTA As principais categorias da análise marxista sobre a sociedade capitalista: modo de produção capitalista, capital, trabalho, lucro, mais-valia, classes sociais, alienação, consciência social e consciência de classe, questão social. =========== AULA 7 - AS CONTRIBUIÇÕES DE JOSÉ PAULO NETTO para a análise do Movimento de Reconceituação do Serviço Social brasileiro As contribuições de José Paulo Netto para a análise do Serviço Social na perspectiva marxista. ============= AULA 8 - A FASE DO ESPRAIAMENTO DA PERSPECTIVA DE INTENÇÃO DE RUPTURA O III Congresso Brasileiro de Assistência Social e a hegemonia da perspectiva marxista no Serviço Social. As novas diretrizes curriculares para a formação profissional. =========== AULA 9 - A HEGEMONIA DO MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO NO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO O NOVO CÓDIGO DE ÉTICA E O PROJETO POLÍTICO DA PROFISSÃO. ============ AULA 10 - BALANÇO CRÍTICO SOBRE A VERTENTE DE INTENÇÃO DE RUPTURA E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL BALANÇO CRÍTICO SOBRE A VERTENTE DE INTENÇÃO DE RUPTURA NA PERSPECTIVA DE JOSÉ PAULO NETTO. ====== Introdução Para compreendermos em que cenário se gesta e desenvolve a produção do Serviço Social brasileiro, é preciso recorrer à história do desenvolvimento sócio-econômico-político brasileiro, compreendendo suas transformações, e como elas refletem no modo de pensar e agir dos assistentes sociais. Abordaremos o período relativo ao desenvolvimento da industrialização e do capitalismo no Brasil, e como o Serviço Social vai ser forjado para atender as necessidades desse modelo de desenvolvimento. Finalmente, apresentaremos o cenário e as variáveis que permitiram o surgimento do Movimento de Reconceituação do Serviço Social brasileiro, com suas faces conservadoras e inovadoras, que resultaram na aproximação e posterior incorporação do referencial teórico marxista . AULA 1 O CONTEXTO SÓCIO-ECONOMICO-POLITICO EM QUE OCORRE O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL A CONTRA REVOLUÇÃO Nesta aula, analisaremos o período da década de 60 e 70 no Brasil, quando vivemos sob uma ditadura militar, que José Paulo Netto denomina de “autocracia burguesa”. A emergência da ditadura brasileira inscreve-se num panorama internacional, no qual uma sucessão de golpes de Estado constituía-se como cenário para uma alteração na divisão internacional capitalista, sob a hegemonia norte-americana, patrocinando uma contra-revolução que visava à manutenção do sistema capitalista em escala planetária, numa disputa com os países socialistas. Essa contra-revolução tinha como finalidades: Adequar os padrões de desenvolvimento nacionais e continentais/regionais, ao novo quadro de internacionalização do capital (globalização). Enfraquecer e imobilizar os protagonistas sociopolíticos que resistiam a esta reinserção mais subalterna no sistema capitalista (países opositores, de viés comunista e socialista). Dinamizar, em todos os continentes, forças aliadas contra a revolução e o socialismo. A CONTRA REVOLUÇÃO Como consequência dessa estratégia, verificamos, a partir da segunda metade da década de 60, os seguintes resultados: A afirmação de um padrão de desenvolvimento econômico associado subalternamente aos interesses imperialistas, com uma integração mais dependente ao sistema capitalista. A articulação de estruturas políticas comprometidas com a exclusão dos protagonistas de projetos nacional-populares e democráticos. Um discurso oficial com uma prática policial-militar anticomunista. DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA No Brasil, o desenvolvimento capitalista foi implantado e se desenvolveu sem desvincular-se de formas tradicionais (oligarquia rural), modernizando-as e integrando-as em sua dinâmica, em patamares mais complexos, funcionais e integrados (modernização e industrialização da agropecuária, através de maquinários, insumos industrializados: fertilizantes, inseticidas etc.). Outro aspecto a considerar é que as forças populares foram recorrentemente excluídas dos processos de decisão política, por dispositivos sinuosos ou de coerção aberta. Destaca-se nesse sentido as estratégias de relacionamento (aproximação, diálogo, controle, concessões, manipulação, cooptação) de Getúlio Vargas com as organizações dos trabalhadores (sindicatos e associações), que o consagram como populista. Um fato novo no país foi o surgimento de amplas camadas trabalhadoras urbanas e rurais no cenário político, além de segmentos pequeno-burgueses (camadas intelectuais) e parcelas da Igreja Católica e das Forças Armadas, com posicionamento crítico e divergente, que poderiam ter como desdobramentos um reordenamento político- social capaz de gerar uma situação pré-revolucionária, a partir das articulações do movimento operário e sindical. No Brasil, verifica-se um desenvolvimento tardio do capitalismo em relação aos países europeus enorte-americanos. A industrialização pesada passa a acontecer somente a partir de 1956, implicando em num novo padrão de acumulação capitalista. As lutas contra a exploração imperialista e latifundiária, acrescidas das reivindicações de participação cívico-política ampliada, apontavam para uma ampla reestruturação do padrão de desenvolvimento econômico e uma profunda democratização da sociedade e do Estado, que poderia criar uma nova hegemonia e garantir a implementação de políticas democráticas e populares, tornando-se capazes de assumir o poder e redimensionar o Estado. Estava em jogo não só a luta pelo capitalismo ou socialismo, mas a reprodução do desenvolvimento associado, dependente e excludente, ou um processo profundo de reformas democráticas e nacionais, antimperialistas e antilatifundiaristas, numa perspectiva de revolução social. Nesse sentido, o movimento cívico-militar de abril de 64, configurou-se como um pacto contra-revolucionário, portanto reacionário, conservador da ordem burguesa que estava em andamento. A resultante é um Estado que estrutura um sistema de poder muito definido, no qual se unem os monopólios imperialistas e a oligarquia financeira nacional. http://estacio.webaula.com.br/cursos/gon187/docs/04FH_aula01_doc01.pdf ============ A RENOVAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL SOB A AUTOCRACIA BURGUESA Do ponto de vista profissional, modificam-se muitas demandas práticas e sua inserção nas estruturas organizacional-institucional, que alteram as condições do exercício profissional. A reprodução da categoria profissional, a formação de seus quadros técnicos viu-se profundamente redimensionada, bem como os padrões de organização da categoria. Seus referenciais teórico-culturais e ideológicos sofreram alterações significativas. A renovação do Serviço Social no Brasil, mesmo que não possa ser reduzido às peculiaridades e características do ciclo ditatorial, é impensável sem a referência à sua dinâmica e crise. Até o final da década de 60, e entrando pelos anos 70, no discurso e na ação governamental, há um claro componente de valorização e reforço do que caracterizamos como Serviço Social tradicional, entendido como prática empirista, paliativa e burocratizada dos profissionais, orientada por uma ética liberal-burguesa, que consiste na correção de resultados psicossociais considerados negativos ou indesejáveis à ordenação capitalista.O desenvolvimento das forças produtivas é acompanhado do aumento e complexificação das expressões da questão social. Para enfrentá-las e administrar as políticas sociais do Estado ditatorial, foram necessárias a criação de cargos na estrutura sócio-ocupacional a serem preenchidos por assistentes sociais, quer nos aparelhos burocrático-administrativos do Estado, quer no âmbito das empresas. A criação de um mercado nacional de trabalho para os assistentes sociais tem início em meados dos anos quarenta, quase uma década depois da fundação das primeiras escolas de Serviço Social, no bojo do processo de desenvolvimento de grandes instituições sociais implementadas por Getúlio Vargas, durante o período chamado de “Estado Novo”. Nos anos 50 e na entrada dos anos 60, esse mercado se expande com a industrialização pesada. Trata-se, porém de um mercado de trabalho emergente e ainda em processo de consolidação, e com relações trabalhistas carentes de uma institucionalização plena, exceto nas organizações governamentais, onde elas se desenvolveram primeiramente. A produção teórica do Serviço Social brasileiro recebe inicialmente forte influência das escolas européias de formação de profissionais, vinculadas à Igreja Católica. Num segundo período, vincula-se à perspectiva norte-americana, baseada no Positivismo e no Funcionalismo, adequando-se às novas exigências profissionais, decorrentes de sua inserção nos órgãos estatais e nas empresas.O Estado, tradicional, grande empregador dos assistentes sociais, reformula a partir de 1966-1967, as estruturas onde se inseriam aqueles profissionais, através de uma série de reformas que, atingindo primeiramente o sistema previdenciário, haveria de alterar posteriormente todo o conjunto de instituições e aparatos governamentais, através dos quais se interfere na questão social. Essa reformulação foi tanto organizacional quanto funcional, acarretando numa diferenciação e especialização das próprias atividades dos assistentes sociais, decorrentes do elenco mais amplo das políticas sociais, e das próprias sequelas do modelo econômico, promovida aquela reformulação em escala nacional e sob a ótica centralizadora do Estado de Segurança Nacional. A nova inserção dos assistentes sociais nos chamados serviços públicos foi ampliada para todo o território nacional, provocando uma extensão quantitativa da demanda de quadros técnicos de Serviço Social. Até meados da década de sessenta, o mercado para os assistentes sociais era complementado efetivamente no setor privado pelas obras sociais filantrópicas que, embora funcionando com o apoio do Estado, não estavam diretamente ligados às agências oficiais. Mas o mercado nacional de trabalho para os assistentes sociais foi dinamizado nos anos sessenta pelas médias e grandes empresas monopolistas e estatais.( EMBRATEL, FURNAS, Rede Ferroviária Federal, Correios, Petrobras, Eletrobrás, etc). Para mais informações, clique aqui. http://estaciodocente.webaula.com.br/cursos/gon187/docs/04FH_aula01_doc02.pdf ========= A EROSÃO DO SERVIÇO SOCIAL TRADICIONAL NO BRASIL Segundo NETTO, a autocracia burguesa provocou um processo de erosão do Serviço Social “Tradicional”, colocando novas demandas de intervenção sobre a questão social, que ampliaram o mercado de trabalho, com a introdução da abordagem comunitária como outro processo profissional, além das abordagens individual e grupal. Ainda que o universo teórico-ideológico do Desenvolvimento de Comunidades fosse acrítico e profundamente mistificador dos processos sociais reais, e que não supusesse uma ruptura com os pressupostos gerais do tradicionalismo, ele abria uma fenda nas preocupações basicamente micro-sociais, individuais, predominantes no Serviço Social Tradicional. Outra consequência, igualmente expressiva, era a inserção do assistente social em equipes multiprofissionais, nas quais, dado o caráter relativamente novo destas experiências entre nós, o seu estatuto não estava definido previamente como subalterno, relacionando o assistente social com aparelhos administrativos e decisórios do Estado, situando-o ao mesmo tempo em face das novas exigências de alocação e gestão de recursos e de circuitos explicitamente políticos.” O II Congresso Brasileiro de Serviço Social, realizado no Rio de Janeiro em 1961, significou não apenas a descoberta do desenvolvimentismo, mas efetivamente a intervenção profissional inscrita no Desenvolvimento de Comunidade, como a área do Serviço Social a receber dinamização preferencial e mais compatível com o conjunto de demandas da sociedade brasileira. São, portanto, elementos determinantes para detectar a erosão do Serviço Social tradicional: - O RECONHECIMENTO DE QUE A PROFISSÃO, ou se sintoniza com as solicitações de uma sociedade em mudança e em crescimento, ou se arrisca a ver seu exercício relegado a um segundo plano; - LEVANTA-SE A NECESSIDADE DE APERFEIÇOAR o aparelhamento conceitual do Serviço Social, e de elevar o padrão técnico, científico e cultural de profissionais desse campo de atividades, com o reconhecimento da insuficiência da formação profissional; - A REIVINDICAÇÃO DE FUNÇÕES não apenas executivas, mas também na programação e implementação de projetos de desenvolvimento. - O AMADURECIMENTO DE SETORES DA CATEGORIA profissional na sua relação com outrosprotagonistas (equipes multiprofissionais, grupos da população politicamente organizados, núcleos administrativos e políticos do Estado). - O DESGARRAMENTO DE SEGMENTOS DA Igreja Católica, em face de seu conservantismo tradicional e o surgimento de católicos progressistas, e mesmo de uma esquerda católica, com ativa militância cívica e política. - O DESENVOLVIMENTO E EXPANSÃO do movimento estudantil, que faz seu ingresso nas escolas de Serviço Social. - A ELABORAÇÃO DE REFERENCIAL TEÓRICO nacional, próprio, de parte significativa das ciências sociais do período, permeado e repleto de dimensões críticas e de valorização da cultura nacional-popular. Ocorre, no início dos anos 60, um duplo movimento de desprestígio do Serviço Social tradicional e a crescente valorização da intervenção no plano comunitário, nos quais era possível identificar três vertentes: - UMA CORRENTE QUE EXTRAPOLA para o Desenvolvimento de Comunidades os procedimentos e as representações tradicionais, apenas alterando o âmbito da sua intervenção; - OUTRA CORRENTE, QUE PENSA o Desenvolvimento de Comunidade numa perspectiva macrossocietária, supondo mudanças socioeconômicas estruturais, no bojo da sociedade capitalista; - E POR ÚLTIMO, UMA VERTENTE QUE pensa o Desenvolvimento de Comunidade como um instrumento de transformação social substantiva, conectado à libertação social das classes e camadas subalternas. A crise do Serviço Social tradicional foi um fenômeno internacional em praticamente todos os países latino- americanos, onde a profissão encontrou um nível de significativo de inserção na estrutura sócio- ocupacional, e alcançou sua legitimação social. O pano de fundo de tais núcleos é dado pelo esgotamento de um padrão de desenvolvimento capitalista- o das ondas longas de crescimento, na década de 60. O tensionamento das estruturas sociais do mundo capitalista gestou um quadro favorável para a mobilização das classes sociais subalternas em defesa dos seus interesses imediatos. Registram-se amplos movimentos para direcionar as cargas de desaceleração do crescimento econômico, mediante as lutas dos trabalhadores e as táticas de reordenamento dos recursos das políticas sociais dos Estados burgueses. Em tais movimentos, o conteúdo das demandas econômicas entrecruza com demandas sociais e culturais: começam a emergir reivindicações diferenciadas por categorias específicas, relacionadas à ambiência social e natural, a direitos emergentes etc. Esses movimentos põem em questão a racionalidade do Estado burguês e suas instituições, e nas suas expressões mais radicais, negam a ordem burguesa e seu estilo de vida. Recolocam em pauta as contradições da cidadania fundada na propriedade (lógica capitalista) e redimensionam a atividade política , multiplicando seus sujeitos e seus espaços de luta. As instituições e organizações governamentais e o elenco de políticas do Welfare State (Estado de Bem Estar Social) são colocadas em xeque. Seu universo ideal, centralizado nos valores da integração na sociedade aberta, sua aparente neutralidade política, formalizada tecnicamente, é recusada. Sua eficácia enquanto intervenção estatal é negada. EROSÃO DO SERVIÇO SOCIAL TRADICIONAL NA AMÉRICA LATINA Essa efervescente contestação surge no meio profissional com base na convergência de três vetores:O chamado Movimento de Reconceituação do Serviço Social é parte do processo de erosão do Serviço Social tradicional. É no marco da Reconceituação que pela primeira vez, de forma aberta, o Serviço Social vai recorrer à tradição marxista. A revisão crítica que se processa na fronteira das ciências sociais, levando à impugnação do funcionalismo, do quantitavismo e da superficialidade que impregnavam as ciências sociais e as instituições de Serviço Social. O deslocamento sociopolítico de outras instituições, cujas vinculações com o Serviço Social eram notórias: as Igrejas, a católica em especial, nas discussões operadas na América Latina, com novas interpretações teológicas (Teologia da Libertação), que justificavam posturas anticapitalistas e anti- burguesas, provocando um reposicionamento político-social, durante o pontificado de João XXIII. O movimento estudantil, que impulsiona um movimento de contestação global, que penetra e se reproduz na categoria profissional, nas escolas de formação.. Para saber mais sobre os tópicos estudados nesta aula, pesquise na internet sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Assista aos filmes: “Prá frente Brasil”, de Roberto Farias, 1983, sobre a tortura e anos da ditadura no Brasil. “Eles não usam black –tie”, de Leon Hirzman, 1981, que apresenta uma discussão sobre ideologia, baseado na peça teatral de Gian Francesco Guarnieri. Nesta aula, você: Relacionou o surgimento e crescimento do Serviço Social brasileiro ao modelo de desenvolvimento econômico-político e social capitalista vigente no país. Compreendeu os motivos que levaram à crise da ditadura brasileira, e possibilitaram o surgimento do Movimento de Reconceituação do Serviço Social brasileiro. AULA 2 - O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL INTRODUÇÃO Nesta aula iremos abordar o “Movimento de Reconceituação do Serviço Social brasileiro”, iniciado na década de 1970. Este movimento foi realizado por assistentes sociais brasileiros, que buscaram elaborar novas propostas de atuação para o Serviço Social, visando contribuir para a atualização da profissão e dos profissionais, frente aos novos desafios e transformações ocorridas na sociedade brasileira. A primeira vertente foi a Modernizadora, que ao aproprirar-se do referencial Positivista, afastou-se dos referenciais tradicionais do Serviço Social, desvinculando-se da doutrina da Igreja Católica, e das influências do Serviço Social Europeu, provocando um processo de laicização da profissão ( tornar-se laico, leiga, não baseada na religião). Tem como referencial teórico-metodológico o Funcionalismo, e a preocupação de seus principais formuladores era adequar a profissão ás novas exigências do mercado de trabalho em franca ampliação. A segunda vertente foi denominada de Renovação do Conservadorismo, e constituiu-se em um esforço de produzir uma nova corrente teórico-metodológica que continuasse a ter como foco a pessoa, os sujeitos, resistindo em parte à visão Modernizadora Funcionalista e à vertente inspirada no marxismo. Desenvolveu o referencial teórico-metodológico da Fenomenologia, aplicada ao Serviço Social. A terceira vertente foi a de Intenção de Ruptura, que caracterizou-se por uma perspectiva crítica em relação à sociedade capitalista e ao Serviço Social tradicional. Esta vertente foi fundamentada numa aproximação ao referencial teórico marxista, que após seu amadurecimento e consolidação, tornou-se predominante ( hegemônica) no Serviço Social brasileiro, a partir de meados da década de 80. Nesta aula iremos abordar o “Movimento de Reconceituação do Serviço Social brasileiro”, iniciado na década de 1970. Este movimento foi realizado por assistentes sociais brasileiros, que buscaram elaborar novas propostas de atuação para o Serviço Social, visando contribuir para a atualização da profissão e dos profissionais, frente aos novos desafios e transformações ocorridas na sociedade brasileira. A PRIMEIRA VERTENTE FOI A MODERNIZADORA Que ao apropriar-se do referencial Positivista, afastou-se dos referenciais tradicionais do Serviço Social, desvinculando-se da doutrina da Igreja Católica, e das influências do Serviço Social Europeu, provocando um processo de laicização da profissão. Tem como referencial teórico-metodológico o Funcionalismo, e a preocupação de seus principais formuladores era adequar a profissão ás novas exigências do mercado de trabalhoem franca ampliação. A SEGUNDA VERTENTE FOI A MODERNIZAÇAO DO CONSERVADORISMO E constituiu-se em um esforço de produzir uma nova corrente teórico-metodológica que continuasse a ter como foco a pessoa, os sujeitos, resistindo em parte à visão Modernizadora Funcionalista e à vertente inspirada no marxismo. Desenvolveu o referencial teórico-metodológico da Fenomenologia, aplicada ao Serviço Social. A TERCEIRA AVERTENTE FOI A INTENÇÃO DE RUPTURA Que caracterizou-se por uma perspectiva crítica em relação à sociedade capitalista e ao Serviço Social tradicional. Esta vertente foi fundamentada numa aproximação ao referencial teórico marxista, que após seu amadurecimento e consolidação, tornou-se predominante ( hegemônica) no Serviço Social brasileiro, a partir de meados da década de 80. MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL O chamado Movimento de Reconceituação do Serviço Social é parte do processo de erosão do Serviço Social tradicional. É a partir dele que, pela primeira vez, de forma aberta, o Serviço Social vai recorrer à tradição marxista. Em seu primeiro momento, utilizou-se de manuais de divulgação sobre o marxismo, de qualidade muito discutível, por vezes com versões deformadas pelo neo-positivismo. Ele se desenvolveu num contexto de: RECUSA À IMPORTAÇÃO DE TEORIAS Como resposta num primeiro momento, ao hegemonismo, do Serviço Social norte-americano. CONFUSÃO IDEOLÓGICA E AS INQUIETUDES DA ESQUERDA CRISTÃ Associadas as novas gerações revolucionárias não tradicionais, sobre a base teórica do marxismo mais dogmático. ATIVISMO POLÍTICO Que obscureceu as fronteiras entre a profissão e o militantismo, com a consequente minimização do papel da teoria. AS DIREÇÕES DA RENOVAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL É importante ressaltar que é no movimento de Reconceituação e seus desdobramentos, que se definem de forma mais clara, e se confrontam, diversas tendências voltadas à fundamentação teórico metodológica do Serviço Social. Em seus primeiros momentos, num contexto de ditadura militar e de impossibilidade de contestação política, vai priorizar um projeto tecnocrático-modernizador, do qual os Seminários de Araxá e Teresópolis são as melhores expressões. Já o tronco latino-americano do movimento, sobretudo no Cone Sul, assume claramente uma perspectiva crítica de contestação política, propondo a transformação social. Ao final da década de 70, o pensamento de autores latino americanos orienta a produção brasileira, divulgada pelo CBCISS. Essa situação vai se modificando aos poucos, com o desenvolvimento do debate e da produção intelectual do Serviço Social brasileiro, que resulta na explicitação de três vertentes. A VERTENTE MODERNIZADORA Seu marco é o Seminário de Teorização do Serviço Social, promovido pelo CBCISS, em Araxá, Minas Gerais, em 1967, e se desdobra no Seminário de Teresópolis, no Rio de Janeiro, em 1970. A problemática do desenvolvimento se colocava como um dilema central da vida brasileira desde a década anterior, a partir das qual foram promovidos diversos projetos em colaboração com governos dos países capitalistas centrais e agências internacionais, dentre as quais destacam-se a ONU e o CEPAL, com uma proposta de assessoria técnica com o suporte das Ciências Sociais . A VERTENTE MODERNIZADORA Trata-se do primeiro bloco de proposições teórico-metodológicas do Movimento de Reconceituação, caracterizado pela incorporação de abordagens: FUNCIONALISTAS ESTRUTURALISTAS SISTÊMICAS (MATRIZ POSITIVA) Essas abordagens são voltadas a uma modernização conservadora e à melhoria do sistema, pela mediação do desenvolvimento social, e pelo enfrentamento da marginalidade e da pobreza, na perspectiva de integração da sociedade. A VERTENTE MODERNIZADORA “Como prática institucionalizada, o Serviço Social se caracteriza pela ação junto a indivíduos com desajustamentos familiares e sociais. Tais desajustamentos muitas vezes decorrem de estruturas sociais inadequadas.(...) Constatando que esse tipo de ação compreende dimensões corretivas, preventivas e promocionais, entendendo que estas últimas definem a inserção do Serviço Social no processo de desenvolvimento, tomado este em sentido lato, isto é, aquele que eleva à plena utilização dos recursos naturais e humanos e, consequentemente, a uma realização integral do homem. Destaca-se quanto a promoção humana, a importância do processo de conscientização como ponto de partida para fundamentação ideológica do desenvolvimento global”( CBCISS, 1986, p. 24 e 26). Os recursos para alcançar estes objetivos são buscados na modernização tecnológica e em processos e relacionamentos interpessoais. Estas opções configuram um projeto renovador tecnocrático fundado na busca da eficiência e da eficácia, e devem nortear a produção do conhecimento e a intervenção profissional. A tensão de fundo que se coloca é o deslocamento dos traços históricos da prática profissional, cuja característica era a atuação junto a indivíduos com desajustamentos familiares e sociais, para uma nova atuação que considera o processo de desenvolvimento global da sociedade, foi equacionada com uma proposta de inclusão de um novo rol de ações, voltadas para o planejamento social e de políticas sociais, sem excluir as que já eram desenvolvidas. “As exigências do processo de desenvolvimento mundial vêm impondo ao Serviço Social, sobretudo em países ou regiões subdesenvolvidas, o desempenho de novos papéis, donde a urgência de romper com o condicionamento de sua atuação ao uso exclusivo dos processos de Caso, Grupo e Comunidade, e rever seus elementos constitutivos, elaborando novos métodos e processos.” ( CBCISS, 1986: 26) NO SEMINÁRIO DE TERESÓPOLIS, EM JANEIRO DE 1970, foi discutida a Metodologia do Serviço Social frente à realidade brasileira, preparado por um grupo de assistentes sociais, dentre os quais destacam-se José Lucena Dantas, Suely Gomes da Costa e Tecla Machado Soeiro. No Documento de Teresópolis, o “moderno” trinfa sobre o “tradicional”, com uma proposta de instrumentação programática. “Partindo da prática profissional do Serviço Social como um modo organizado e sistematizado de prestação de serviços, a questão da metodologia de ação constitui a parte central e atual da Teoria Geral do Serviço Social, a definição de um modelo de prática do Serviço Social adequado à problemática social brasileira depende grandemente, da solução do seu problema metodológico” (DANTAS, 1978:66). Segundo NETTO, as formulações propostas no Documento de Teresópolis apontam para a requalificação do assistente social, definindo um perfil sociotécnico da profissão, sua inscrição no mundo acadêmico, mantendo uma visão de integração ao modelo de desenvolvimento em curso, e por isso mesmo, foi considerada uma “modernização conservadora”, de matriz teórica Funcionalista, conduzida em sintonia com as diretrizes do Estado ditatorial, cujo modelo de desenvolvimento voltava-se para garantir os benefícios ao grande capital. DEPOIS DE ARAXÁ E TERESÓPOLIS VIERAM os Seminários realizados no Rio de Janeiro, no Centro de Estudos da Arquidiocese do Rio de Janeiro - Sumaré, em 1978 e no Colégio Coração de Jesus, Alto da Boa Vista em 1984. Com menor impacto e expressão sobre a categoria profissional. A VERTENTE DA REATUALIZAÇÃO DO CONSERVADORISMO 1- Perspectiva assumida por profissionais que resistem ao processo de laicização da profissão, e que repudia a visão positivista trazida pela perspectiva modernizadora, bem, como a influência do pensamento crítico dialético. O núcleo temático dessa perspectiva é a tematização do Serviço Social como interveniente, dinamizador e integrador do processo de desenvolvimento. 2- A construção dessa perspectiva recebe apoio do CBCISS. Os profissionaisligados à esse órgão promovem cursos de Aperfeiçoamento para Docentes de Serviço Social articulados pela ABESS. O profissional que serve de referência como intelectual de ponta dessa perspectiva é José Lucena Dantas. Segundo ele, a prática profissional precisava se desenvolver com cientificidade, O método profissional se constitui a partir de duas categorias básicas: o diagnóstico e a intervenção planejada, tendo como foco a instrumentalidade técnico-profissional. O objeto de intervenção do assistente social são as situações problemas advindas do processo de desenvolvimento. 3- Segundo Netto, a concepção científica da prática profissional defendida por Lucena é “efetivamente reduzida ao estabelecimento de conexões superficiais entre dados empíricos da vida social e à intervenção metódica sobre eles; uma pauta interventiva cujo andamento pode ser objeto de acompanhamento, vigilância e avaliação por parte das hierarquias institucional-organizacionais de corte tecnoburocrático. As formulações de Araxá e Teresópolis eram contemporâneas de preocupações e vivências expressivas que compunham os debates teóricos, culturais e políticos do contexto brasileiro. Nos documentos produzidos nos encontros de Sumaré ( 1978) e Alto da Boa Vista ( 1984), é perceptível um movimento de abertura a referências distintas do caldo conservador, provocando o deslocamento da perspectiva modernizadora. 4-A formulação da “Reatualização do conservadorismo”, está expressa na tese de Anna Augusta de Almeida(1978). Destaca-se a dimensão da subjetividade, com uma demanda fortemente psicologizante de ajuda psicossocial. Há nessa argumentação uma dissolução das determinações de classe nos processos societários, promovendo o regresso ao que há mais tradicional e consagrado na herança conservadora da profissão. Desloca o foco da “explicação dos fatos” para a “compreensão do sujeito” como ser no mundo e sobre o mundo. A perspectiva Fenomenológica emerge como metodologia dialógica, apropriando-se também da visão de pessoa e comunidade de E. Mounier(1936) dirige-se ao vivido humano, aos sujeitos em suas vivências, colocando para o Serviço Social a tarefa de “ auxiliar na abertura desse sujeito singular, em relação aos outros , ao mundo de pessoas” ( ALMEIDA, 1980, p. 114). 5- “A tendência atual do Serviço Social é a de considerar o homem em seu todo, holisticamente, ou em sua totalidade do mundo da vida” (CAPALBO, 1984:25) “Nossas preocupações fundamentais estão apoiadas em critérios a partir da compreensão do homem e do mundo, orientada numa hermenêutica da realidade pela teoria, personalista do conhecimento, por uma fenomenologia existencial e por uma ética cristã motivante.” (ALMEIDA, 1978:11) 6- O Serviço Social é posto como uma intervenção que se inscreve rigorosamente nas fronteiras da ajuda psicossocial voltada para projetos humanos e sociais na sua situação humana, histórica e concreta. Destacam-se as contribuições de Creusa Capalbo, Telma Donzelli e Ana Augusta de Almeida. A VERTENTE DE INTENÇÃO DE RUPTURA Esquematicamente é possível apontar no processo de construção da perspectiva de intenção de ruptura três momentos diferenciados: o da sua emersão (1972 a 1975), o da sua consolidação acadêmica ( década de 80), e do seu espraiamento (meados da década de 80) sobre a categoria profissional. ESSA PERSPECTIVA NASCE NUM CONTEXTO DE: 1- precarização das condições de trabalho dos profissionais (aviltamento dos salários e aproximação das condições de vida dos usuários); 2- nova composição da categoria profissional ( inserção de pessoas oriundas das camadas médias e proletarização); 3- clima de efervescência nas universidades em diante da crise da ditadura; 4- redemocratização da sociedade brasileira com protagonismo do movimento operário e sindical; 5- influência dos profissionais da Universidade Católica do Chile, por ocasião do Congresso de Caracas(1969). http://estacio.webaula.com.br/cursos/gon187/docs/04FH_aula02_doc01.pdf =================== Para saber mais sobre os tópicos estudados nesta aula, pesquise na internet sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Se ainda tiver alguma dúvida, fale com seu professor online utilizando os recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem. Nesta aula, você: Conheceu as distintas propostas teórico-metodológicas elaboradas durante o Movimento de Reconceituação do Serviço Social brasileiro. Identificou o período no qual foram elaboradas, os principais formuladores de cada vertente, o referencial teórico- metodológico que os orientou . Identificou as distintas fases da perspectiva de Intenção de Ruptura, segundo a análise de José Paulo Netto ================== AULA 3 - A EXPERIÊNCIA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BELO HORIZONTE: O “MÉTODO BH” INTRODUÇÃO Nesta aula, iremos abordar a vertente de “Intenção de Ruptura” do Movimento de Reconceituação do Serviço Social brasileiro. Este movimento foi realizado por assistentes sociais que buscaram elaborar novas propostas de atuação para o Serviço Social, frente às transformações sociais e os novos desafios presentes na sociedade brasileira. Segundo José Paulo Netto, a experiência de Belo Horizonte caracterizou-se como o momento de “emersão”, de surgimento de uma perspectiva crítica, baseada numa primeira aproximação ao referencial teórico marxista, ainda que de maneira considerada insipiente e limitada. Esta vertente foi fundamentada numa proposta de revisão crítica dos fundamentos do Serviço Social e de experimentação metodológica, buscando constituir-se numa alternativa ao metodologismo presente na perspectiva Modernizadora. Esses profissionais elaboram uma crítica ao tradicionalismo e propõem uma formulação abrangente e uma arquitetura ímpar, com alternativas nos seguintes planos: - no plano teórico- metodológico - no plano da concepção e da intervenção profissional - no plano da formação Iremos destacar as contribuições de Leila Lima Santos e Ana Maria Quiroga, e apresentar a construção metodológica elaborada pela equipe da Universidade Católica de BH. Nesta aula, iremos abordar a vertente de “Intenção de Ruptura” do Movimento de Reconceituação do Serviço Social brasileiro. Esse movimento foi realizado por assistentes sociais que buscaram elaborar novas propostas de atuação para o Serviço Social, frente às transformações sociais e os novos desafios presentes na sociedade brasileira. Segundo José Paulo Netto, a experiência de Belo Horizonte caracterizou-se como o momento de “emersão”, de surgimento de uma perspectiva crítica, baseada numa primeira aproximação ao referencial teórico marxista, ainda que de maneira considerada insipiente e limitada. Essa vertente foi fundamentada numa proposta de revisão crítica dos fundamentos do Serviço Social e de experimentação metodológica, buscando constituir-se numa alternativa ao metodologismo presente na perspectiva Modernizadora. Esses profissionais elaboram uma crítica ao tradicionalismo e propõem uma formulação abrangente e uma arquitetura ímpar, com alternativas nos seguintes planos: 1- no plano teórico-metodológico; 2- no plano da concepção e da intervenção profissional; 3- no plano da formação. Iremos destacar as contribuições de Leila Lima Santos e Ana Maria Quiroga e apresentar a construção metodológica elaborada pela equipe da Universidade Católica de BH. PREMISSA Esquematicamente, é possível apontar três momentos diferenciados no processo de construção da perspectiva de intenção de ruptura. Momentos esses, inseridos nos marcadores abaixo: 1-Emersão (1972 A 1975) - Nesta aula, abordaremos o primeiro momento: da emersão, que ocorre entre os anos de 1972 a 1975, a partir de um grupo de jovens profissionais da PUC de Belo Horizonte, cuja produçãoficou conhecida como “O Método Belo Horizonte”. 2-Consolidação acadêmica (década de 80) – 3-Espraiamento sobre a categoria profissional – PADRÃO INTERVENCIONISTA E CAPITALISMO É fundamental destacar que o padrão intervencionista do Estado brasileiro, adotado no pós-30, se intensifica durante o modelo de desenvolvimento assumido na ditadura militar. Padrão intervencionista - Além da intervenção na área social, com ampliação de programas e do aparato institucional, o Estado passa a controlar profundamente a relação capital-trabalho. Controla os sindicatos e institui políticas salariais, transformando-se num grande empresário, que passa a assumir e dinamizar os setores estratégicos da economia que não davam retorno lucrativo imediato à iniciativa privada, mas que eram indispensáveis ao desenvolvimento industrial do país. O modelo de desenvolvimento econômico capitalista é sustentado pelo regime militar através da ideologia da integração e do desenvolvimento, pautada pela repressão aberta da sociedade brasileira, com a institucionalização da tortura como método de interrogatório e controle político, criando-se a cultura do medo, a imposição do silêncio e a sobrevivência das organizações de oposição na clandestinidade. Leia mais! http://estacio.webaula.com.br/cursos/gon187/docs/04FH_aula03_doc01.pdf ANÁLISE DOS MOMENTOS DA DITADURA O contexto da ditadura militar pode ser analisado em seus momentos distintos: 1964 a 1968 – O período de 1964 a 1968 – Foi o período de formulação de novos mecanismos de controle social e reforma constitucional, e de definição das bases do Estado de Segurança Nacional. No final desse período, verifica-se a sua grande crise em 1967, que precede a fase mais repressora da ditadura. 1968 a 1974 – O período 1968 a 1974 – Em 1968, quando o governo militar institui o Ato Institucional nº5 (AI-5), suprimindo todas as liberdades, instaurando a censura, a perseguição política, tortura aos que faziam críticas e oposição ao regime em curso. 1974 a 1985 – De 1974 a 1985 – Período da distensão política, de queda do regime militar e transição para a democracia. No governo João Batista Figueiredo (1979 – 1985), tem início uma política de liberação, planejada e controlada, denominada de “transição para a democracia”. Nessa conjuntura, o movimento por direitos humanos é vitorioso em 1979, conquistando uma anistia política parcial, permitindo o retorno de todos os exilados políticos ao país, e a recuperação dos direitos de todas as lideranças cassadas. REAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL No conjunto das contradições geradas no interior da sociedade, devido a uma insatisfação crescente com o regime militar, a rearticulação da sociedade civil continuava avançando, propiciando a emergência de um amplo movimento popular, configurado na aliança entre as Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, ligadas à Igreja Católica e inspiradas na Teologia da Libertação, os grupos associativos seculares e o novo movimento sindical emergente, consubstanciando-se essa aliança tanto no campo como nas áreas urbanas. A pressão dos movimentos sociais populares, nessa conjuntura, coloca de forma cada vez mais explícita, novas demandas para a prática do Serviço Social, na busca de apoio ao seu esforço de organização e no sentido de repassar os serviços e programas, considerando suas reais necessidades, inclusive de sobrevivência material, numa perspectiva crítica, que possa contribuir para a luta organizativa desses movimentos. Destacam-se ainda o “Movimento contra a Carestia” (alto custo de vida), que mobilizava a população dos grandes centros urbanos, e as greves operárias no período 1978 a 1982, a organização do Partido dos Trabalhadores e o surgimento de centrais sindicais nacionais CUT e CGT. CRIAÇÃO DA ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL E O MÉTODO BÁSICO A elaboração da equipe da Escola de Serviço Social da universidade católica de Minas Gerais vai se dar permeada por esse contexto político de contestação. Segundo NETTO, em Belo Horizonte, que incidem as idéias avançadas do Padre Henrique de Lima Vaz, sobre militantes e quadros da Juventude Universitária Católica (JUC), e muitos transitaram para a Ação Popular (movimento de esquerda), e na capital mineira tinham contatos com grupos da Política Operária- POLOP. Simultaneamente, ocorreram as greves em Contagem, no período de abril e outubro de 1968, refletindo no quadro político organizacional da região. Aliados às pressões sociais, a equipe de BH é permeável às influências acadêmicas profissionais estrangeiras, mais especificamente, do grupo da Escola de Serviço Social da Universidade Católica do Chile, que conheceram por ocasião do Congresso de Caracas (1969), onde apresentaram o “Método Básico”. É nesse cenário que a equipe, liderada por Leila Lima Santos e Ana Maria Quiroga, elabora, em 1972, uma produção intelectual que procura romper com o tradicionalismo no plano teórico-metodológico, no plano da concepção e da intervenção profissionais e no plano da formação. RESULTADOS DA ANÁLISE DO GRUPO BH Foram elaborados três documentos, no período de 1971 a 1974, cujo principal valor foi o de propiciar uma maior aproximação de professores e estudantes à realidade concreta dos setores sociais mais explorados dessa região do país: trabalhadores, mineiros e lavradores. Netto (1994, p.279) ressalta dois elementos centrais na análise da sociedade brasileira feita pelo grupo de BH: 1-A referência à teoria extraída da tradição marxista, das classes sociais e suas lutas. 2-A influência das teses da Teoria da Dependência: “Acreditamos que a Teoria da Dependência constitui-se em um dos subsídios básicos a serem considerados para a análise e a interpretação da realidade brasileira”. (Santos, 1985:38) Nesta aula, você: A fase da emersão da perspectiva de Intenção de Ruptura com o conservadorismo no Serviço Social brasileiro. Os principais formuladores da experiência de BH (Ana Quiroga, Leila Lima Santos) e material produzido; A proposta metodológica e a experimentação prática nos projetos de extensão. AULA 4 - A INFLUÊNCIA DO MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO LATINO AMERICANO Introdução O conteúdo desta aula irá abordar o Movimento de Reconceituação do Serviço Social Latino-americano, e sua influência no Movimento brasileiro. Este movimento foi protagonizado pelo Centro Latino-americano de Trabajo Social – CELATS, bem como pelos debates sobre a Teoria da Dependência promovidos pelo CEPAL. Trata-se de um esforço de elaboração de uma nova análise sobre o modelo de desenvolvimento da América Latina, que busca tornar-se independente das Teorias desenvolvidas pelos grandes centros europeus e norte-americanos. Destacam-se além das contribuições de assistentes sociais latino- americanos, as contribuições de dois assistentes sociais brasileiros: Leila Lima Santos e Vicente de Paula Faleiros, que trabalharam fora do país neste período, assumindo cargos de direção no CELATS e o cargo de professor pesquisador na Universidade do Chile. ====================== O conteúdo desta aula irá abordar o Movimento de Reconceituação do Serviço Social Latino-americano, e sua influência no Movimento brasileiro. Este movimento foi protagonizado pelo Centro Latino-americano de Trabajo Social – CELATS, bem como pelos debates sobre a Teoria da Dependência promovidos pelo CEPAL. Trata-se de um esforço de elaboração de uma nova análise sobre o modelo de desenvolvimento da América Latina, que busca tornar-se independente das Teorias desenvolvidas pelos grandes centros europeus e norte-americanos. Destacam-se além das contribuições de assistentes sociais latino-americanos, as contribuições de dois assistentes sociais brasileiros: Leila Lima Santos e Vicente de Paula Faleiros, que trabalharam fora dopaís neste período, assumindo cargos de direção no CELATS e o cargo de professor pesquisador na Universidade do Chile. ===================== ANÁLISE SOBRE O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO LATINO AMERICANO Nossa análise sobre o Movimento de Reconceituação Latino Americano será feita com base nas produções de Vicente de Paula Faleiros, Leila lima Santos e CELATS. Inicialmente queremos apontar que a América latina não pode ser considerada um bloco homogêneo. Apesar das semelhanças, existem processos sócio-econômicos peculiares, cuja diversidade se expressa entre outros aspectos, pelas diferentes formas de colonização e, posteriormente, de conexão com a divisão internacional das relações capitalistas. Este modelo vai sendo imposto a cada país em etapas históricas definidas e com traços distintos. O Serviço Social se desenvolve na mesma época na maioria desses países. Os referenciais teóricos, as modalidades de ação e intervenção se transformam e se diversificam, em função das transformações nessas sociedades, sob o signo do modo de produção capitalista. O Serviço Social alcançou níveis de articulação supranacional, elaborando novas estratégias, que colocam em cheque diferentes concepções sobre a prática profissional, e que resultam no Movimento de Reconceituação Latino Americano. BREVE ANÁLISE DO CENÁRIO LATINO AMERICANO NO QUAL SE DESENVOLVE O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO Breve análise do cenário latino americano no qual se desenvolve o movimento de reconceituação Ouro / prata / cana / fumo / cobre / salitre / madeira Até o séc. XIX as metrópoles eram Portugal e Espanha, cuja predominância foi substituída pelo imperialismo inglês, que passou a dominar o comércio internacional e o capital financeiro. “O modelo da Teoria da Dependência, concebe a história da América Latina, segundo as relações de dominação e de dependência entre as metrópoles internacionais (Espanha, Portugal, Inglaterra, Estados Unidos, etc.), e os países latino-americanos, no contexto do capitalismo internacional. Essa dominação faz de nossas economias centros periféricos e satélites dos centros internacionais que se aproveitaram para se desenvolverem a partir do excedente econômico produzido nos países subdesenvolvidos. Desenvolvimento de uns é subdesenvolvimento de outros, numa relação complexa, externa e internamente.” (FALEIROS, 1993, p. 16) LEI DE HOOKE GENERALIZADA Dos séc. XVI ao XIX, a assistência social consistia na proteção parcial aos velhos, crianças, doente e aos pobres, com base nas Leis das Índias (1500-1542), e na atribuição de favores em troca de lealdade das classes dominadas.(...) As instituições de assistência estavam sob os auspícios da Igreja Católica e prestavam ajuda material e espiritual aos seus sócios, em vida e na hora da morte, garantindo-lhes um lugar no cemitério da irmandade. As irmandades se discriminavam por classe social: dos escravos, comerciantes, senhores. Com a revolução industrial, não só os países da América Latina, mas também as metrópoles são impactadas por uma nova divisão internacional do trabalho: as colônias eram fornecedoras de mão de obra e matéria prima para os países dominantes, que lucravam com a exploração dos países latinos. Nos grandes centros dominantes, aceitava-se como “fato natural” a exploração das colônias ou dos países dependentes. “Alguns países, como os de industrialização precoce, começam com as indústrias substituidoras de importação, que surgiram com a desarticulação momentânea do mercado mundial provocada pela primeira Guerra Mundial e posteriormente pela crise de 1929. Outros países adquirem características industriais na etapa de expansão e integração econômica, basicamente depois da Segunda Guerra Mundial. Por outro lado, temos países com pequena diversificação industrial e baseados numa estrutura agro- exportadora.(...) O quadro estrutural do que se chama “subdesenvolvimento latino-americano”, e que se materializano modelo urbano-industrial, se caracteriza na década de 1940 por: 1) baixo nível salarial por habitante; 2) população predominantemente rural; 3) alta proporção de população economicamente ativa ocupada no setor agrícola; 4) predomínio da agricultura e baixa participação da indústria no produto nacional; 5) fortes disparidades setoriais de produtividade; 6) baixa densidade de capital por pessoa.” (CELATS, 1980, p. 83-84) No séc. XX prosseguiu na América Latina a exploração capitalista dos excedentes econômicos, sobretudo com a exploração de diversas riquezas minerais e a apropriação das indústrias, por meio de trusts e conglomerados internacionais. Um traço marcante da história política da América Latina foram os governos ditatoriais, e a incidência de governos populistas, que mantinham o diálogo com organizações populares, atendendo parcialmente suas reclamações e as reivindicações, buscando controlar o movimento crítico e reivindicatório. Após a Segunda Guerra Mundial, ocorre uma mudança na correlação de forças entre os países dominantes, com a ascensão dos Estados Unidos como grande líder econômico e político. Assistiu-se então, a uma modificação do processo de industrialização dos países dependentes. O Serviço Social foi implantado na América Latina no período entre 1925 e 1936, com a criação de Escolas de Serviço Social, segundo o modelo europeu, organizadas em torno do binômio trabalho e saúde da mão- de-obra. Neste período, todo o ensino do Serviço Social era baseado no modelo europeu: Currículo com predomínio do ensino de disciplinas vinculadas à saúde, e com ênfase também na legislação social. O Serviço Social via-se ligado às instituições do Estado e às instituições religiosas que começaram a empregar os profissionais formados nas Escolas recém-fundadas por religiosas católicas, belgas e francesas. Igreja, Estado e empresariado foram constituindo-se nos campos de trabalho do assistente social. Para dominar melhor, os Estados Unidos instituíram, por meio de organismos internacionais, certos mecanismos de ajuda e “cooperação”, que culminaram com a Aliança para o Progresso. O Serviço Social latino-americano passou a importar teorias e métodos americanos de caso, grupo e comunidades, cuja fundamentação teórica estava pautada no Positivismo e no Funcionalismo, que buscavam atender ás necessidades de conter os problemas sociais oriundos do modo de produção capitalista. A Metodologia de Desenvolvimento de Comunidades começou a se estruturar na América Latina na década de 50. No Congresso Panamericano de San José da Costa Rica, em 1961, fala-se do Serviço Social como instrumento para acelerar a consecução de mudanças equilibradas (sic), e como agente de integração. SEGUNDO FALEIROS: “Os três métodos do Serviço Social (caso, grupo e comunidade) em 1961 já estavam claramente definidos, somando-se a eles a administração e planificação. Estes métodos são elaborações teóricas nascidas no próprio seio do capitalismo, como resultado de uma concepção ideológica conservadora da sociedade e de estratégias de controle das classes dominadas pelas classes dominantes.” (FALEIROS, 1993, p. 19-25) Ao analisar as condições em que se começa a elaborar a perspectiva crítica no Serviço Social Latino Americano, verificamos a semelhança entre os países deste continente, a partir dos processos de tomada de consciência e organização das classes oprimidas, o contato com outras correntes teóricas de inspiração marxista, como o cenário onde surge o pensamento crítico entre segmentos da categoria profissional. “As lutas sociais e as crises internacionais levaram os oprimidos a levantar sua voz, a manifestar sua força e modificou-se a relação do Estado latino-americano e as classes sociais. O desenvolvimentismo serviu de interpelação dos indivíduoscomo sujeitos de um processo grandioso, de uma nova racionalidade. O serviço Social situa-se nesta estratégia como mediador do processo de crescimento geral , em projetos de interesse comum, de integração “Estado-Povo”. Mas os mecanismos de sujeição e manipulação não foram suficientes para dobrar ou aniquilar as forças populares das classes dominadas. (...) As classes dominadas também interpelam os indivíduos como revolucionários na formação de uma nova hegemonia. O Serviço Social, num momento histórico determinado, também se vinculou a esse processo. (...) Assim o Serviço Social é permeado pela luta ideológica, que foi sendo politizada cada vez mais pela confrontação que se foi processando nos próprios aparelhos de Estado.” (FALEIROS, 1993, p. 31-32) A partir dos anos 60, verifica-se a crise do modelo de crescimento capitalista, o decréscimo da longa onda expansiva do pós-guerra, tanto a nível mundial como latino-americano. Essa crise pode ser expressa em alguns traços mais notórios, tais como: MONOPOLIZAÇÃO DA ECONOMIA – Monopolização da economia pelo capital estrangeiro, integrado com setores dominantes nacionais , principalmente através da concentração industrial de alta tecnologia nos setores de ponta (indústria automobilística e metal-mecânica), gerando paralelamente um setor semi- artesanal não estruturado funcionalmente à economia. ACUMULAÇÃO PRIVADA – Acumulação privada de capital para setores minoritários da população. RUPTURA DA ESTRUTURA AGRÁRIA – Ruptura da estrutura agrária com violentos processos de migração rural-urbana e crescimento das cidades. DESEQUILIBRIO ENTRE OS SETORES – Desequilíbrio entre os setores produtivos com uma expansão desproporcional do setor terciário. EXCLUSÃO DE GRANDES MASSAS POPULACIONAIS – Exclusão de grandes massas populacionais do mercado de trabalho direto, acompanhada de um forte incremento demográfico. RECENTE INTERVENÇÃO DO ESTADO – Recente intervenção do estado no processo de desenvolvimento urbano industrial. (CELATS, 1980, p. 84-85) O processo de industrialização e a desarticulação da economia agrária, provocou desequilíbrios regionais e rural-urbanos, provocando concentração da população, sem uma inserção completa na estrutura produtiva. O crescimento dos grandes centros urbanos em torno das indústrias, tem como consequências uma enorme concentração populacional, sem a infra-estrutura adequada, faltam: moradias, saneamento, escolas, postos de saúde. Proliferam nas grandes cidades as favelas, e a questão social assume proporções gigantescas. A classe trabalhadora enfrentou, no decorrer deste processo, condições objetivas de pauperismo, seus salários não cobriam suas necessidades básicas, e tão pouco encontravam condições dignas de trabalho. Simultaneamente, verificamos uma situação de extrema miséria entre a população camponesa, que vai buscar oportunidades nos grandes centros urbanos, e que encontra dificuldades para se inserir no mercado de trabalho das indústrias. SEGUNDO LEILA LIMA SANTOS: “É consenso aceitar-se que a concentração urbana historicamente favoreceu, na América latina, assim como em outros continentes, o fortalecimento dos setores sociais majoritários. (...) A sociedade, por sua própria dinâmica, gera os “problemas sociais” e os afetados pressionam os grupos que os produziram, a fim de obter respostas e satisfações mínimas frente a esses problemas. Muitas vezes, as pressões dos setores populares estão voltadas para conseguir determinadas reivindicações e níveis de participação, visto que , objetivamente sentem-se excluídos do jogo de interesses políticos vigentes: em suas origens registram-se lutas pela democratização do Estado. Começam a surgir as leis sociais que tratam de regulamentar essa situação problemática, de lhe encontrar uma resposta. Neste processo, Igreja e Estado desempenham um papel fundamental na América Latina, pois começam a reconhecer, sob diferentes formas, as emergências e formação dos setores proletários, e a necessidade de lhes formular respostas para alguns de seus problemas.” (SANTOS, 1993, p. 180) O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA AMÉRICA LATINA O estágio de desenvolvimento capitalista a nível mundial e na América Latina, levou a novas relações entre as classes sociais, e a um novo papel do Estado, que passa a assumir a racionalização e institucionalização do trabalho social, a necessidade de uma formação especializada dos agentes sociais, através da criação de centros de formação. A partir da década de 30, e com maior incidência na década de 50, que são criadas as Escolas de Serviço Social, visando atender às demandas do Estado por profissionais. Os Estados latino- americanos formulam políticas sociais no campo da habitação, da saúde, da ação comunitária, articuladas a uma visão global de desenvolvimento econômico e social. http://estacio.webaula.com.br/cursos/gon187/docs/04FH_aula04_doc01.pdf Em síntese, o Movimento de Reconceitualização do Serviço Social Latino Americano pode ser caracterizado por alguns traços comuns: Análise das realidades nacionais e latino-americanas, com base na Teoria da Dependência, que buscou uma interpretação própria para os desequilíbrios promovidos pelo modelo de desenvolvimento capitalista; Incorporação de análises sócio-econômicas no referencial da profissão, visando compreender melhor a realidade latino- americana; Esforço de criação de uma teoria do Serviço Social Latino- Americano. Uma nova abordagem do método científico em oposição ao metodologismo predominante no Serviço Social Tradicional. introdução de novas técnicas, adequadas aos novos objetivos traçados pelo Serviço Social: conscientização, mobilização, participação e organização popular. Ênfase no estudo da teoria do conhecimento dentro de uma concepção dialética materialista, e a partir de uma reflexão sobre o alcance transformador da prática profissional e da prática social em geral; Incorporação da dimensão política na prática profissional. Defesa de princípios libertadores pelos assistentes sociais. ===== A contribuição mais importante no que diz respeito ao desenvolvimento de um instrumental didático para instrumentalizar a prática profissional com base no referencial proposto pelo Movimento de Reconceituação Latino-americano vem da Universidade Católica do Chile (1971), que elabora a técnica do Taller, um tipo de trabalho grupal, uma oficina de trabalho teórico e prático. “O Taller é uma instância teórico-prática, multidisciplinar, em que um grupo educativo, integrado por professores e alunos, problematizam um aspecto da realidade social, procurando sua conexão estrutural com uma problemática mais ampla, com o objetivo de definir formas de transformação dessa problemática e de sua conexão estrutural. Dentro do Taller se utilizam integralmente todas as técnicas suscetíveis de emprego pelo assistente social: investigação, planificação, administração, modelos de intervenção, e se recorre ao concurso de todos os especialistas das outras disciplinas que tenham relação com o problema.” (CELATS, 1980, p. 108). É importante destacar a difusão e a significação do Taller, para responder às demandas de sua realidade, como o projeto histórico de transformação dos grupos dominados. Trabalha-se numa linha de massas e de questionamento crítico do trabalho institucional, obtendo-se uma incorporação dialética entre teoria e prática, e propiciando uma nova imagem do Serviço Social. São apontados pelo CELATS (1980, p. 110) algumas experiências realizadas por diversas universidades : “Podem ser consideradas como novas contribuições à didática da reconceitualização, as experiências desenvolvidas pela Escuela General Roca, Argentina, 1973;Escola de Belo Horizonte, Brasil, 1974; Cervantes, México, 1973; Universidad Externado, Colombia, 1974; Escuela de Trabajo Social, El Salvador, 1974; Rodrigo Facio, Costa Rica, 1974: Universidad Autónoma, Honduras, 1974. É indiscutivelmente no marco da atividade acadêmica que se estrutura a crítica, que se estimula a consciência da renovação e se depuram as bases da nova doutrina do Serviço Social, com base num projeto latino-americano .” AS CONTRIBUIÇÕES DO CELATS – CENTRO LATINO-AMERICANO DE SERVIÇO SOCIAL O CELATS surgiu na América Latina, como resultado das ações do Instituto de Solidariedad Internacional de la Fundacion Konrad Adenauer, para atender as necessidades de pesquisa e ensino , voltados para o desenvolvimento de análises teóricas, metodológicas dos setores populares da América Latina. Ele constituiu-se como um organismo de cooperação técnica internacional, sediado em Lima, Perú, ligado desde sua fundação, em 1975, à Associação Latino Americana de Escolas de Serviço Social- ALAESS. Entre seus objetivos estão: A ampliação do trabalho acadêmico, de modo sistemático e permanente, superando as instâncias dos seminários nacionais e internacionais. A criação de novas modalidades de trabalho, voltadas para a pesquisa em Serviço Social. Implantação de uma dinâmica de trabalho regional, latino-americano. Reformulação das bases teóricas do Serviço Social. PROPOSTAS, POSSIBILIDADES E PROJETOS LIGADOS À COMUNICAÇÃO EM SAÚDE Pode-se inferir sua função estratégica para a gestão do SUS quando a Informação em Saúde: 1- A história do CELATS é narrada por Leila Lima Santos em fases, que podem ser retratadas da seguinte maneira: 2- Fase da criação e instalação: montagem do centro e elaboração do plano de trabalho trienal; 3- b) Fase de Institucionalização: busca de reconhecimento jurídico-formal e luta por reconhecimento e legitimação a nível continental; 4- c) Fase de fortalecimento: aumento da capacidade de atendimento do CELATS, redimensionamento de sua programação e dinâmica de atuação, sem contudo conseguir atender a todas as demandas que lhe eram feitas pelos países. Faltava ao CELATS bases nacionais capazes de responder ao aumento das demandas das escolas de Serviço Social e entidades representativas dos diversos países. 5- “A primeira programação trienal do CELATS permitiu um levantamento de necessidades expostas e por em execução no continente, uma atividade programática regular que compreendesse exercícios de investigação, capacitação, apoio a experiências de campo, e produção de materiais editoriais, dirigidas para canalizar as inquietações dos assistentes sociais, tanto no campo teórico, como no avanço de uma vigorosa consciência política, por parte do profissional.” (SANTOS, 1993,p. 197) 2 - Entre diversas produções, destaca-se a edição da revista semestral Acción Crítica, como meio de divulgação de seus estudos e pesquisas. Em seu primeiro volume, registra-se o trabalho da profª Beatriz de la Vega, presidente da ALAESS, intitulado “A situação da América Latina e o Serviço Social”, apresentado no XVIII Congresso Internacional de Escolas de Serviço Social , em Porto Rico, com ênfase nos processos de transformação propostos pelo Movimento de Reconceituação. Outro artigo publicado pela revista foi, “Metodologismo: produto de uma época”, de Leila Lima Santos e Roberto Rodrigues, no qual os autores analisam os esforços de superação da prática conservadora, com base na análise da experiência da Escola de Serviço Social da Universidade Católica de Minas Gerais, Brasil, conhecido como o “ Método BH”. 3- Juan Mojica Martinez, em seu trabalho “Processo Histórico e Serviço Social na América Latina”, aborda temas como a modernização, o desenvolvimentismo dos anos 50, e a consciência política dos profissionais dessa disciplina. Boris Lima, considerado um dos mais importantes autores da escola latino-americana, passa em revista as diversas modalidades de intervenção do Estado através de políticas sociais. No artigo “Reflexões sobre Política Social” estuda a gênese do Serviço Social, e demonstra como esse conjunto de políticas pode servir aos propósitos de dominação das classes hegemônicas. 4- Encerrando seu artigo sobre o CELATS, onde ocupou cargo de direção por vários anos, a assistente social brasileira Leila Lima Santos apresenta sua visão sobre o papel do CELATS naquela época: “No momento atual, o CELATS procura contribuir para a pesquisa de alternativas concretas para as áreas e campos de trabalho onde é desempenhado; é por isso que suas investigações e seu programa de capacitação contínua vêm se aproximando mais concretamente para a atenção dos setores, dentro dos quais se move a grande massa de assistentes sociais. Impõe-se pois, uma tarefa de contribuição ao processo social, não somente sob o ângulo da clarificação do papel ideológico de nossa profissão, como também através da produção criativa, renovadora e potenciadora de alternativas concretas para as necessidades dos assistentes sociais. Somente na medida em que consigamos gerar alternativas de investigação e de formação realmente eficientes para o conjunto dos profissionais da América Latina, é que o CELATS estará contribuindo para o avanço e desenvolvimento de nossa profissão, e para isto é indispensável que a nossa categoria contribua com a criatividade e o fortalecimento, que permitam o restabelecimento das bases democráticas na maioria dos países da América Latina, condição indispensável para o exercício pleno dos princípios e concepções que orientam os programas do Centro.” 5- Destacamos também as contribuições de Vicente de Paula Faleiros ao Movimento de Reconceituação do Serviço Social Latino Americano. Este assistente social brasileiro, que trabalhou desde agosto de 1970, na Escola de Serviço Social da Universidade Católica de Valparaiso, no Chile, onde sistematizou as transformações da realidade chilena e do Serviço Social, em vários artigos e publicações, dentre os quais destacamos “Trabajo Social, ideologia e Método”. Faleiros participou da comissão reorganizadora da Escola de Serviço Social de Valparaiso, numa nova dinâmica de alianças e transformação social, dentro do projeto de construção de uma sociedade socialista. Nesta aula, você: O cenário do Serviço Social Latino Americano e suas influências no Movimento de reconceituação brasileiro. O papel do CELATS na construção do referencial teórico para a superação do Serviço Social conservador. As contribuições de Leila Lima Santos e Vicente de Paula Faleiros para o Movimento de Reconceituação Latino-Americano e brasileiro. AULA 5 - A CONSOLIDAÇÃO DA PERSPECTIVA DE INTENÇÃO DE RUPTURA NO BRASIL O amadurecimento da perspectiva de intenção de ruptura e as contribuições de Marilda Iamamoto e Raul de Carvalho: a análise da inserção do Serviço Social nas relações de produção capitalista no Brasil. INTRODUÇÃO O trabalho de Marilda Iamamoto e Raul de Carvalho, apresentado no livro “Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica”, em 1979, tornou-se uma referência para os cursos de Serviço Social brasileiro, desde sua primeira edição. Trata-se de uma obra que, de maneira consistente e aprofundada, incorpora o referencial teórico do materialismo histórico-dialético, do marxismo, na análise do Serviço Social sobre a sociedade capitalista brasileira, e sobre o papel do Serviço Social neste modo de produção, na realidade particular do Brasil. Este trabalho é resultado de um projeto de pesquisa vinculado ao CELATS sobre a História do Serviço Social na América Latina, explicitando as articulações entre a gestação e desenvolvimento da profissão de Serviço Social,e a dinâmica dos processos econômicos, sociais e políticos. O fio condutor de todo o trabalho é a compreensão da profissão como instituição componente da organização da sociedade capitalista, inserida em um conjunto amplo de condições e relações sociais que lhe atribuem um significado, e nas quais ela se torna necessária. ========== O trabalho de Marilda Iamamoto e Raul de Carvalho, apresentado no livro “Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica”, em 1979, tornou-se uma referência para os cursos de Serviço Social brasileiro, desde sua primeira edição. Trata-se de uma obra que, de maneira consistente e aprofundada, incorpora o referencial teórico do materialismo histórico-dialético, do marxismo, na análise do Serviço Social sobre a sociedade capitalista brasileira, e sobre o papel do Serviço Social neste modo de produção, na realidade particular do Brasil. Este trabalho é resultado de um projeto de pesquisa vinculado ao CELATS sobre a História do Serviço Social na América Latina, explicitando as articulações entre a gestação e desenvolvimento da profissão de Serviço Social, e a dinâmica dos processos econômicos, sociais e políticos. O fio condutor de todo o trabalho é a compreensão da profissão como instituição componente da organização da sociedade capitalista, inserida em um conjunto amplo de condições e relações sociais que lhe atribuem um significado, e nas quais ela se torna necessária. ANÁLISE DO SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DE APROFUNDAMENTO DO CAPITALISMO NA SOCIEDADE BRASILEIRA. Visando superar as análises das correntes teóricas conservadoras a respeito do surgimento e do papel do Serviço Social, IAMAMOTO e CARVALHO buscaram identificar qual o significado social dessa profissão e de suas práticas, a partir da análise do processo de reprodução das relações sociais na sociedade capitalista, com base no referencial marxista. Como ponto de partida dessa análise, a hipótese é que a profissão só existe em condições e relações sociais historicamente determinadas, concretas, particulares, permeada por contradições. “O Serviço Social só pode afirmar-se como prática institucionalizada e legitimada na sociedade, ao responder a necessidades sociais derivadas da prática histórica das classes sociais, na produção e reprodução dos meios de vida e de trabalho de forma socialmente determinada.”(IAMAMOTO, 2011, P.20) O modo de produção interfere, de forma determinante, no modo de organização de uma sociedade em todos os aspectos: políticos, econômicos, sociais, legais, ideológicos. Ele cria, destrói e reconstrói instituições, leis, classes sociais. Para compreendermos isso, basta nos lembrarmos dos modos de produção escravista, feudal, e de como a sociedade estava organizada em cada um deles. Isso porque: “Ao produzirem os meios de vida, os homens produzem sua vida material. O modo de produzir os meios de vida refere-se não só à reprodução física dos indivíduos, mas à reprodução de um determinado modo de vida. A produção da própria vida no trabalho, e da alheia na procriação, dá-se numa dupla relação natural e social; social no sentido de que compreende a cooperação de muitos indivíduos. Portanto, determinado modo de produzir supõe também, determinado modo de cooperação entre os agentes envolvidos, determinadas relações sociais estabelecidas no ato de produzir, as quais envolvem o cotidiano da vida em sociedade. O grau de desenvolvimento da divisão social do trabalho expressa o grau de desenvolvimento das forças produtivas sociais do trabalho.(...) Assim é que, a cada fase da divisão do trabalho, corresponde uma forma de propriedade ou, a cada estágio do desenvolvimento das forças produtivas do trabalho social, corresponde uma forma de apropriação do trabalho” (IAMAMOTO, 2011, p.21) Com base nesse referencial, é que a autora procura interpretar como, a partir do modo de produção capitalista, se dão as relações de produção, as relações entre as classes sociais, as relações de dominação, a produção da desigualdade, que vai demandar uma profissão para mediar suas contradições, em busca de manter a ordem deste modo de produção: o Serviço Social. O surgimento desta profissão é analisado a partir do antagonismo de duas classes sociais: a classe trabalhadora (o proletariado) e a burguesia. Isto porque, no capitalismo, a burguesia explora e se apropria do produto do trabalho do proletariado, acumulando muita riqueza, a partir do pagamento cada vez mais baixo aos trabalhadores, e de diversos mecanismos para aumentar a produtividade e o lucro. O aumento da pobreza entre os trabalhadores, muda radicalmente a visão anterior de caridade e filantropia, que era destinada aos órfãos, idosos e desvalidos, já que os trabalhadores seriam responsáveis por sua sobrevivência e de sua família, a partir de seu trabalho e de seu salário. A promessa de uma sociedade justa, conforme propunha a Revolução Francesa, cujo lema era “igualdade, liberdade fraternidade”, em oposição às sociedades baseadas nos modos de produção escravocratas e feudal, cai por terra, e as novas formas de exploração dos trabalhadoras são denunciadas, e as contradições do novo modo de produção vem à tona. É com o desenvolvimento da sociedade capitalista burguesa e suas contradições, que surge a “questão social”, e para enfrentá-la, uma nova profissão, o Serviço Social, inserida na lógica desse sistema. Segundo IAMAMOTO, 2011, p. 23 “O Serviço Social surge como um dos mecanismos utilizados pelas classes dominantes como meio de exercício de seu poder na sociedade, instrumento esse que deve modificar-se constantemente, em função das características diferenciadas da luta de classes e ou das formas como são percebidas as sequelas derivadas do aprofundamento do capitalismo. Estas sequelas se manifestam, também por uma série de comportamentos desviantes, que desafiam a Ordem. Em face do crescimento da miséria relativa de contingentes importantes da classe trabalhadora urbana, o Serviço Social aparece como uma das alternativas às ações caritativas tradicionais, dispersas e sem solução de continuidade, a partir da busca de uma nova racionalidade no enfrentamento da questão social”. A autora busca demonstrar que o Serviço Social é demandado pelo sistema capitalista e por seus representantes no Estado, como uma atividade auxiliar e subsidiária, para o exercício do controle social e para auxiliar na difusão da ideologia dominante entre a classe trabalhadora. Porém, também é demandado pela classe trabalhadora para ser o mediador nas relações com o Estado, com o empresariado e as instituições sociais, para a obtenção de serviços, benefícios, direitos. Ao ser o responsável por gerenciar o acesso aos serviços, o assistente social passa a ocupar um lugar estratégico, de mediação de interesses, muitas vezes opostos. “Atua ainda, pela mediação dos serviços sociais, na criação de condições favorecedoras da reprodução da força de trabalho. Sendo o exercício profissional polarizado pela luta de classes, o Serviço Social também participa do processo social, reproduzindo as contradições próprias da sociedade capitalista, ao mesmo tempo e pelas mesmas atividades pelas quais é chamado a reforçar as condições de dominação. Se de um lado, o profissional é solicitado a responder às exigências do capital, de outro, participa, ainda que subordinadamente, de respostas às necessidades legítimas de sobrevivência da classe trabalhadora. Procura-se pois, apreender o movimento contraditório da prática profissional no jogo das forças sociais presentes na sociedade.”(IAMAMOTO, 2011, p. 28) A prática profissional é permeada por interesses contraditórios: o das instituições empregadoras
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